
O «Campo de Ourique»
Carlos Dias Rodrigues de seu nome era um alfacinha de gema. Cenógrafo na vida civil foi na “675” 1º Cabo – Auto.
Opinioso e de palavra fácil percebia-se que se sentia melhor junto de Sargentos e Oficiais de que junto dos seus «pares».
Era metódico e cuidadoso na sua especialidade e, sempre que podia, questionava as ordens e... não deixava de "dar troco" ao seu furriel das «viaturas»...
O «Campo de Ourique» não tinha complexos de inferioridade...
Durante a fase mais complicada da vida da Companhia em termos operacionais «apanhou» com um mini-estilhaço de granada que o fez cliente assíduo do Posto de Socorros.
Queixava-se da cabeça e tantas queixas fez que a sua «crónica» dor de cabeça nem sempre foi levada muito a sério.
Pelo menos com a «seriedade» que o «Campo de Ourique» julgava que merecia. Julgamos que o «mini-estilhaçado» nunca foi localizado!
Depois na 2ª. Fase da Companhia – regresso das populações e melhorias do aquartelamento – foi sempre colaborante embora com pecadilho de anunciar «super-produções» que...demoraram o seu tempo a realizar.
Mas finalmente fez obra e foi o grande responsável pelo embelezamento da “Avenida Capitão de Binta”, com uma gigantesca “estrela” feita com garrafas de cerveja... Garrafas vazias, está claro...

Com estilhaço ou sem ele... esteve ligado a um dos momentos mais conseguidos de uma das festas realizadas em Lisboa.
Ligado ao teatro – recordamos que era cenógrafo – conseguiu bilhetes para a malta da “675” que, nesse ano, depois do almoço, foi assistir a uma peça que era protagonizada por Jacinto Ramos e Irene Cruz.

Foi um momento muito bonito que ficámos a dever ao...Campo de Ourique.
Depois os anos passaram e... o «Campo de Ourique» foi sempre aparecendo mas percebia-se que já não era o mesmo.
Num dos últimos convívios ficámos ao pé dele. Conversámos muito e ouvimos da sua boca um testemunho impressionante.
Tinha um filho apanhado pela droga. Estava a fazer uma «autêntica Via Sacra» pelos locais onde se vendia e consumia droga para tentar perceber o que tinha levado o seu filho para aquela «zona da vida»... tão perto da morte.
Confessou-me que já tinha ido vezes sem conta ao Casal Ventoso e não conseguia perceber a opção de vida... dos drogados.
Era um homem amargurado. Muito amargurado.
Desconhecemos como acabou o drama que o atormentava.
Julgamos que... não acabou bem.
Um homem da cidade, da grande cidade, refugiou-se nos últimos anos da sua vida na Madeira. Na Ilha de Porto Santo...
Onde veio a falecer em 18 de Outubro de 2005.
Recordamos com respeito o «Campo de Ourique».
Carregou penas bem pesadas. Que a terra lhe seja leve.
Em tempo:
Telefonou-me ontem o Tavares. O ex-Alferes Belmiro Tavares, da CCaç. 675. Havia boas notícias do filho do “Campo de Ourique”.
O rapaz estava curado. Tinha casado e era um homem novo.
Caro Carlos estejas onde estiveres aqui fica a boa nova e, por favor, descansa em paz.
Os teus amigos( ainda por cá…) podem agora ,de novo, recordar-te com um sorriso .
Algures no tempo… a tua gigantesca “estrela” da Avenida Capitão de Binta brilha agora de novo na noite do Norte da Guiné “Estrela” feita com garrafas de cerveja... Garrafas vazias, está claro...mas com a tua marca de cenógrafo, de homem das artes, de artista, de sonhador!.
Boa noite, Carlos.
Um abraço Amigo,
JERO
Fur Mil da CCAÇ 675
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
1 comentário:
Caro José E. Oliveira
Tenho lido com bastante interesse as diversas histórias que já enviaste mas relativamente a esta, até pela envolvência que se reveste com problemas actuais, não podia deixar de intervir, lamentando "as guerras perdidas" de boa parte desta juventude , mas congratulando-me por esta vitória conseguida.
É verdadeiramente notável o que relatas sobre o esforço de pesquisa desse pai no sentido de tentar perceber o processo de desenvolvimento de degradação de quem se enreda nos meios da droga.
Um abraço
Hélder S.
Enviar um comentário