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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26317: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (34): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte IV




Fotos nº 1A e 1 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  " (...) Depois de 7/8 meses a vermos o céu sempre igual e a atmosfera amarelada com as poeiras vindas do deserto, os primeiros pingos grossos de chuva eram celebrados com grande alívio por nós e contagiante alegria pela criançada que aproveitavam as poças de água para se refrescarem, brincarem e encharcarem os adultos incautos"…





Foto nº 2A, 2B e 2   > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > "(...) . Mesmo em cenário de guerra havia disposição para 'jogatanas' de futebol. Este campo foi construído durante período que vivi em Fulacunda. Havia ainda um outro campo térreo, que na época das chuvas ficava impraticável para futebol."... (Na foto 2B, o Jorge Pinto, é o do meio, o quarto a contar da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda)






Foto nº 3A  e 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Soldados construindo a capela cristã.... Claro, não podia faltar o "bioxene" aos carpinteiros, a trabalhar ao sol...



Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  O alf mil Jorge Pinto lendo a revista norte-americana "Time" (talvez esquecida por algum "velhinho" que tenha por ali passado: a revista é de  10 de maio de 1971).


Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Capa da revista "Tine, edição de MAY 10, 1971: "How to cope with Japan's business | Sony's Akio Morita"-|  (Como lidar com os negócios do Japão | Akio Morita da Sony. )
 
Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemcomplementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 6 dezenas de referências no blogue ] tem o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada. Pela qualidade técnica e estética bem como pelo interesse documental dos "slides" que tirou. 

Estamos a republicar, depois de reeditadas,algumas das suas melhores fotos (*).

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26296: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (33): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte III

Guiné 61/74 - P26316: Casos: a verdade sobre... (51): a terrível emboscada na estrada Ponte Caium-Piche, em 14/6/1973 (ex-sold cond auto, Florimundo Rocha, c. 1950-2024; ex-fur mill Ribeiro, natrural de Braga, CCAÇ 35446, Piche, 1972/74)



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > Dezembro de 2015 > O que resta do célebre memorial do 3º Gr Com da CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974)), dedicado aos seus mortos: "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas e Lestos (?). Guiné- 72/74" (***)...

O Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, natural de Valpaços, morreu aqui, vítima de uma armadilha que ele montava e desmontava com regularidade, na margem do rio... A trágica ocorrência foi no dia 19 de fevereiro de 1973...  O 1º cabo Torrão, e os soldados Gonçalves, Fernandes e Santos morreram numa emboscada entre a Ponte Caium e Piche, em 14 de junho de 1973).

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



A CCAÇ 3544 (Piche e Pontre Caium, 1972/74) pertencia 
ao BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74) (***)



Florimundo Rocha
(c. 1950-2024)
1. Morreu há dois meses o nosso camarada Florimundo Rocha (ex-sold cond auto, CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74, natural de Lagoa, membro da Tabanca Grande, desde 11/4/2011 [foto à direita, Ponte Caium, 1973] (*):

Ele era um dos sobreiventes dos ocupantes do Unimog 411 ("burrinho"), que ia à frente da pequena coluna  que foi emboscada em  14/6/73, a escassos quilómetros de Pixhe.  Ele era o condutor.

Em sua homenagem, voltamos aqui a reproduzir a reconstituição desse confronto com o IN, juntando a também a versão d0 fur mil Ribeiro (natural de Braga) que ia ao lado do condutor, e que foi gravemente ferido. (**)


I. O Rocha já não se lembra do número de viaturas que seguiam na coluna, nesse dia fatídico, de 14/6/1973.


Ele ia à frente a conduzir o seu Unimog 411, o “burrinho do mato”, que lhe estava distribuído. A seu lado, de pé, ia o Charlô (alcunha do Carlos Alberto Graça Gonçalves, natural de Lisboa, Alfama) . E atrás, sentados nos bancos, os restantes camaradas do pelotão que haveriam de morrer nesse dia e hora, numa curva da estrada para Piche, a escassos 3 quilómetros da sede da unidade, a CCAÇ 3546/BCAÇ 3883… A saber: o Torrão, o Fernandes e o Santos…

II. Também não pode precisar a hora exata, mas terá sido depois das 9 da manhã. "Foi seguramente da parte da manhã".

Antes de partirem para Piche, uns tinham jogado à bola, e outros (uma secção) tinham ido à lenha, como era habitual… Eram actividades que eles faziam pela fresca. Lembra-se que o Torrão nesse dia estava de serviço à lenha. Quanto ao futebol, costumavam jogar, de manhã, pela fresca. O Rocha não falhava um jogo, aliás veio continuar, depois da peluda, a jogar futebol, em clubes da 2ª e 3ª divisões, no Algarve. (Ele era naturaçl de Lagoa.)


III. Já não tem a certeza, mas atrás de si, devia vir uma Berliet, com restos de materiais de construção ou madeiras.


Também não se lembra se havia mais viaturas. Tem ideia que “malta de Buruntuma [CCAÇ 3544], ou de Camajabá [outro destacamento de Piche, CCAÇ 3546]” também vinha atrás, numa terceira viatura…

O "Wolkswagen" (alcunha de um camarada que ficará ferido) vinha atrás, numa outra viatura. O Rocha não o deixou vir com ele, no Unimog 411. Nessa altura as relações entre ambos não eram as melhores.

IV. A distância entre a primeira viatura (o Unimog 411) e a segunda (talvez a Berliet) deveria ser de “80 metros”. Ele, Rocha, não ia a mais de 70 km, que era o máximo que o “burrinho” dava, em estrada alcatroada.

O asfalto ia até à Ponte. Trabalho da Tecnil, cujas máquinas chegaram a ser atacadas e algumas incendiadas pelo PAIGC. As bermas estavam limpas, o capim cortado. Estamos no início da época das chuvas. E foi “na curva” que o Rocha começou a ver cabeças, de gente emboscada. “Eles tinham-se entrincheirado nos morros de terra deixados pelas máquinas da Tecnil”… Pelo número de efectivos (falava-se no fim “em mais de 200”), está visto que a emboscada “não era para eles”, mas sim para o pessoal de Piche.

V. Quando o 411, conduzido pelo Rocha, entrou na “zona de morte”, na curva, os primeiros tiros (ou roquetadas) furaram-lhe os pneus. A malta foi projectada. A viatura capotou. 

O Rocha ficou caído no lado direito da estrada. Os tipos do PAIGC estavam do lado esquerdo (da estrada Ponte Caiuu- Piche).  O fogachal foi tremendo. Ele ainda conseguiu proteger-se atrás da viatura que ficou a trabalhar, de pernas para o ar. Lembra-se de ter pegado em duas ou três G3, dos camaradas feridos, e de ter respondido ao fogo do IN.

VI. A emboscada poderá ter demorado “15 a 20 minutos”… O IN teve tempo para tudo: meio escondido, a uns 50 metros já da viatura sinistrada e dos camaradas feridos, viu uns gajos "brancos", “cubanos”, a falar espanhol, a saltar para a estrada… Já não pode precisar quantos eram, mas eram sobretudo “brancos”, poucos negros… Falavam em voz alta, e diziam qualquer coisa, em espanhol, como “condutor morto, condutor morto”… 

Completamente impotente, sem poder intervir, viu com os seus próprios olhos o espectáculo macabro, os tiros de misericórdia que acabaram com a vida dos camaradas moribundos, tiros na nuca ou na boca. Confirma o que já tínhamos dito antes: os corpos foram depois retalhados, por rajadas de Kalash…

VII. Ainda se lembra da chegada das chaimites de Piche, que fizeram fogo contra as forças inimigas, que ripostaram, já no final dos combates. Talvez meia hora depois do início da emboscada.

 Ainda se lembra, dos 3 ou 4 feridos que foram evacuados, de heli, em Piche. Houve alguém que sugeriu que ele aproveitasse a boleia e se fizesse maluco. Mas ele recusou. Nesse mesmo dia regressaria à Ponte Caium. Não se lembra de ter tido o conforto de nenhum superior hierárquico. Uma simples palavra, muito menos um louvor. Voltou para a ponte e dormiu, como “dormia todos os dias, como ainda hoje dorme” (sem pesadelos ?..., não me respondeu à pergunta)…





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium > Da esquerda para a direita: O 1º Cabo Pinto, e os soldados Ramos, Cristina (segurando granadas de morteiro 60), o "Wolkswagen#, o Fernandes, de pé (outro que morreu na emboscada de 14/6/1973) e o Silva ("que percorreu 18 km com um tiro no pé!")... Foto e legenda do Jacinto Cristina: falta identificar o condutor do Unimog 404.

Foto: © Jacinto Cristina (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


VIII. A única versão que até agora tínhamos desta emboscada, era a do Cristina (que ficou no destacamento e que, portanto, só pode contar o que lhe contaram os sobreviventes; ou do que se lembra dessas versões, e que já aqui resumimos, em tempos:

(...) “Em data que o Cristina já não pode precisar, a sua companhia sofreu uma violenta emboscada, entre Piche e Buruntuma, montada por um grupo ‘estimado em 400’ elementos IN (ou ‘turras, como a gente lhe chamava’)...Um RPG 7 atingiu a viatura da frente da coluna, que ia relativamente distanciada do grosso da coluna, e que explodiu...Houve de imediato 4 mortos: O Charlô e o Fernandes foram dois deles... Dos outros dois o Cristina já não se lembra.

(...) “Com as granadas de mão dos mortos, o 'Wolkswagen' conseguiu aguentar o ímpeto da emboscada, mas chegou a ter uma Kalash apontada à cabeça... Ninguém sabe como ele se safou... O Silva por sua vez levo um tiro no pé, fugiu, e mesmo ferido fez 18 km até ao aquartelamento”...


IX… E voltamos ao monumento erigido à memória dos mortos da Ponte Caium (vd. foto acima). A ideia, não há dúvida, “foi do Alexandre”, do Carlos Alexandre, o "Peniche". que tinham conhecimentos de moldes por trabalhar na construção naval, na sua terra, Peniche.

 Ele, Rocha, também deu uma ajuda. Mas não lhe perguntem datas nem pormenores. Disse-lhe que o Cristina já não se lembrava de nada e que o Alexandre estava furioso por causa da amnésia dos camaradas.

X. Disse-me, por outro lado, que a filha ia mandar-nos as fotos pedidas, para poder entrar na nossa Tabanca Grande.

 Sentiu-se muito bem em falar comigo e contar toda esta tragédia. Estava mais calmo do que da primeira vez, em que me falou desta tragédia, emocionadíssimo. É um homem simples e franco. Pu-lo à vontade, mas ainda não consegui que ele me tratasse por tu… “Muito obrigado, o senhor (sic) tem aqui uma casa às suas ordens, quando vier a Lagoa”…

XI. Da nossa conversa, à noite ao telefone (foi ele que me ligou), fiquei a saber que, em janeiro de 1973, tinha vindo de férias à Metrópole. 

Estava, de regresso, em Piche quando se deu a tragédia que matou o furriel Cardoso, já em 19 de fevereiro de 1973. Só depois dessa data é que foi para a ponte, para onde ninguém gostava de ir. E por lá ficou até ao fim da comissão.

XII. Mas logo a seguir, aconteceu outra tragédia: a morte do Silva, apontador de canhão sem recuo… 

Morreu na sua viatura quando tentaram levá-lo, moribundo, até ao helicóptero, foram pela estrada fora, sem picar, sem segurança. Tarde demais. Um estúpido acidente, que marcou muito o grupo.

XIII. Os furriéis só iam um de cada vez para ponte: o Cardoso, que foi vítima da explosão de uma armadiha; o Ribeiro, de Braga; o Barrroca, alentejano… No dia da embocada, estava o Ribeiro na ponte. Mais o Cristina, municiador, do morteiro “grande”, o 81…

O Rocha esclarece ainda que na foto de grupo [vd. poste P8029], não é o Santiago (que é da Covilhã), mas sim o Serra (que é de Barcelos), quem aparece à esquerda, de pé…

XIV. Nunca foi a um convívio do batalhão ou da companhia. Voltei a dar-lhe os contactos telefónicos do Jacinto Cristina. Tentara ligar para o fixo, mas ninguém atendeu. Em, contrapartida, já tinha falado com o Alexandre (ou o Alexandre com ele), o "Peniche"….

Sobre a ponte diz que era de boa construção, dos princípios dos anos 60. “Até se dizia que tinha sido construída pelo Amílcar Cabral”… Rectifiquei: o Cabral não era engenheiro de pontes, mas agrónomo… Não bate certo…

XV.  Outras memórias da ponte: O gen Spínola um dia aterrou lá, estavam a jogar futebol… Usavam todos barba e cabelo compridos. 

Não havia barbeiro. O Spínola deu uma piada qualquer, ia de heli para Buruntuma.

XVI. Despedi-me do Rocha, para o poupar, mas com a promessa de voltarmos a falar, com mais tempo e vagar. Percebo que lhe fazia bem. 

E que, por outro lado, só lhe interessa a verdade dos factos… Parece ter boa memória fotográfica.



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha >  A famosa equipa de futebol: 

"Em primeiro, ao centro, o Rocha, o dono da bola, à direita o José Alberto, à esquerda o Pinto [que o Jacinto Cristina voltou a reencontrar 38 anos depois]. 

"De pé, na segunda fila, à direita, o Barbeiro, o furriel Barroca, o Santiago que tem a fita na cabeça, e o furriel Ribeiro" (Legenda: Carlos Alexandre, Peniche).


Foto: © Florimundo Rocha (2011). Todos os direitos reservados .
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Reproduzimos a seguir o comentário do ex-fur mil Ribeiro, que vive hoje em Braga, e que pertencia ao 3º Gr Comb ("os Fantasmas do Leste") da CCAÇ 3546 (Piche e Ponte Caium, 1972/74), ao poste P8061 (****). 

É pena não haver mais versões,  que nos permitissem, por exemplo, confirmar a alegada participação de cubanos e a  crueldade dos tiros de misericórdia aos moribundos (cujos cadáveres terão sido depois retalhados com rajadas de Kalash, com requintes de selvageria) (*****).

A única informação de dispomos, do lado do exército, é a que é reproduzido pela CECA (2015):  não bate certo com as versões aqui apresentadas, que falam em quatro mortos (o 1º cabo Torrão, e os soldados Gonçalves, Fernandes e Santos), quatro feridos graves, evacuados para o HM 241 (o fur mil Ribeiro, mais o   Algés, o Silva e o Rolo), e um Unimog 411 destruído por LGFog RPG...

Além disso, os militares emboscados não podiam perfazer dois grupos de combate: só havia um destacado na Ponte Caium (er alguns militares tiveram que lá ficar para assegurar a sua defesa, como foi o caso do Jacinto Cristina, que era municiador de morteiro 81, e o Sobral, que era o apontador)...  

Segundo o testemunho reproduzido a seguir, do ex-fur mil Ribeiro (e que bate certo com a informação que me deu em tempo o Jacinto Cristina), o destacamento da Ponte Caium foi a Piche com um "seção reforçada", num Unimog 411 (e uma Berliet de Camabajá (carregada com materiais de construção). 

Fazer uma coluna destas, numa distância de mais de 20 km, com um "burrinho" e uma secção, era temerário... Dá impressão que alguém (o comando do BCAÇ 3833, ou o comandante da CCAC 3546) quis "branquear" a situação... 

"Acção - 14Jun73

Pelas 08h45, na região de Copiró 
 [e não Capiró] sector L4, na área de Piche, 2 GComb / CCaç 3546 foram emboscados por um grupo inimigo que causou às NT 3 mortos, 2 feridos graves e 14 feridos ligeiros na região de Copiró. 1 viatura "Unimog" das NT ficou danificada."


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pág. 302 (Com a devida vénia...).


3. Comentário do fur mil Ribeiro, 3º Gr Com / CCAÇ 3546 (****):

Caro amigo Florimundo Rocha, gostava de fazer algumas correcções ao teu comentário sobre a fatídica emboscada de 14/6/1973:

Ponto nº I:

(…) “O Rocha já se lembra do número de viaturas que seguiam na coluna, nesse dia fatídico, de 14/6/1973. Ele ia à frente a conduzir o seu Unimog 411, o ‘burrinho do mato’, que lhe estava distribuído. A seu lado, de pé, ia o Charlô (alcunha do Carlos Alberto Graça Gonçalves, natural de Lisboa. Alfama) . E atrás, sentados nos bancos, os restantes camaradas do pelotão que haveriam de morrer nesse dia e hora, numa curva da estrada para Piche, a escassos 3 quilómetros da sede da unidade, a CCAÇ 3546/BCAÇ 3883… A saber: o Torrão, o Fernandes e o Santos” (…) (FR).


Quem ia de pé ao teu lado era eu, furriel Ribeiro; atrás, sentados do lado esquerdo (da morte), ia o Fernandes, o Torrão, o Charlô e o Santos, todos estes camaradas morreram; e do lado direito ia o Rolo, o Algés, o Silva e não me lembro quem era o outro que falta.


Ponto nº III :

(…) “Já não tem a certeza, mas atrás de si, devia vir uma Berliet, com restos de materiais de construção ou madeiras. Também não se lembra se havia mais viaturas. Tem ideia que ‘malta de Buruntuma [CCAÇ 3544, ], ou de Camajabá [outro destacamento de Piche, CCAÇ 3546]’ também vinha atrás, numa terceira viatura… O 'Wolkswagen' (alcunha de um camarada que ficará ferido) vinha atrás, numa outra viatura. O Rocha não o deixou vir com ele. Nessa altura as relações entre ambos não eram as melhores” (…) (FR).


Nós fomos a Piche porque já não havia mantimentos, o alferes Afonso, do 1º pelotão, chegou à Ponte Caium e pediu-me para eu lhe disponibilizar uma secção e um Unimog para ir a Piche buscar alguns mantimentos. Não vinha ninguém de Buruntuma, apenas vinha uma Berliet de Camajabá.

Ponto nº IV:

(…) “A distância entre a primeira viatura (o 411) e a segunda (talvez a Berliet) deveria ser de ‘80 metros’. Ele, Rocha, não ia a mais de 70 km, que era o máximo que o ‘burrinho’ dava, em estrada alcatroada. O asfalto ia até à Ponte. Trabalho da Tecnil, cujas máquinas chegaram a ser atacadas e algumas incendiadas pelo PAIGC. As bermas estavam limpas, o capim cortado. Estamos no início da época das chuvas. E foi ‘na curva’ que o Rocha começou a ver cabeças, de gente emboscada. ‘Eles tinham-se entrincheirado nos morros de terra deixados pelas máquinas da Tecnil’… Pelo número de efectivos (falava-se no fim ‘em mais de 200’), está visto que a emboscada ‘não era para eles’, mas sim para o pessoal de Piche. (…) (FR).


A emboscada não era para nós mas sim para uma coluna de grande reabastecimento de munições para Buruntuma que, não se sabe porquê!, foi anulada em Nova Lamego.


Ponto nº V:

(…) “Quando o 411, conduzido pelo Rocha, entrou na ‘zona de morte’, na curva, os primeiros tiros (ou roquetadas) furaram-lhe os pneus. A malta foi projectada. A viatura capotou. O Rocha ficou caído no lado direito da estrada. Os tipos do PAIGC estavam do lado esquerdo. O fogachal foi tremendo. Ele ainda conseguiu proteger-se atrás da viatura que ficou a trabalhar, de pernas para o ar. Lembra-se de ter pegado em duas ou três G3, dos camaradas feridos, e de ter respondido ao fogo do IN. (…) (FR).


O nosso burrinho foi atingido com um RPG 7 na parte de trás do banco do condutor na chapa da carroçaria e com outro RPG 7 no gancho do reboque, foi isto que fez com que o Unimog saltasse, e o pessoal foi cuspido e perdemos as G3 mas tu apanhaste 2 ou 3 e uma delas era a minha, obrigado Rocha.

 Ponto VII:

(…) Ainda se lembra da chegada das chaimites de Piche, que fizeram fogo contra as forças inimigas, que ripostaram, já no final dos combates. Talvez meia hora depois do início da emboscada. Ainda se lembra, dos 3 ou 4 feridos que foram evacuados, de heli, em Piche. Houve alguém que sugeriu que ele aproveitasse a boleia e se fizesse maluco. Mas ele recusou. Nesse mesmo dia regressaria à Ponte Caium. Não se lembra de ter tido o conforto de nenhum superior hierárquico. Uma simples palavra, muito menos um louvor. Voltou para a ponte e dormiu, como ‘dormia todos os dias, como ainda hoje dorme’ (sem pesadelos ?..., não me respondeu à pergunta)… (FR).


Ó Rocha, não tiveste o meu conforto porque eu não to pude dar, visto eu ter sido evacuado para o hospital em Bissau, com o Algés, o Silva e o Rolo, e todos nós estávamos tão chocados como tu.


Ponto XIII:

(…) “Os furriéis só iam um de cada vez para ponte: o Cardoso, que foi vítima da explosão de uma armadiha; o Ribeiro, de Braga; o Barrroca, alentejano… No dia da embocada, estava o Ribeiro na ponte. Mais o Cristina, municiador, do morteiro ‘grande’,  o 81” (…) (FR).


Os Furriéis estavam sempre juntos na ponte, primeiro foi o furriel Cardoso que foi tomar conta da passagem do destacamento do 4º para o 3º pelotão; passada uma semana foi o pelotão com o furriel Barroca para a Ponte Caium e eu, furriel Ribeiro,  fui uma semana mais tarde porque fiquei a aprender a fazer e a ler […] (codificar e descodificar mensagens ). Estivemos sempre juntos e no dia da emboscada quem estava na Ponte Caium era o furriel Barroca.



4.  Comentário do editor:

Não temos aqté  agora (passados 13 anos!) qualquer contacto do Ribeiro (telemóvel, telefone, email...), a não ser este comentário. Dizem-nos que vive em Braga. Mas sabemos que é leitor do nosso blogue. 

Aproveitámos, na altura, em 2011,  para lhe agradecer os preciosos esclarecimentos adicionais que veio trazer sobre esta emboscada de que ele felizmente escapou, embora ferido com gravidade.

 Não é fácil "voltar ao passado" e reviver momentos terríveis como este. Mais um razão para o Ribeiro se juntar â nossa Tabanca Grande, composta na sua grande maioria por camaradas da Guiné, de diferentes épocas da guerra, de 1961 a 1974, e de diferentes lugares, de norte a sul, de leste a oeste... Continua  de pé o nosso convite,s e por acaso ele nos voltar a ler.
 




Guiné > Zona Leste >  Região de Gabu > Carta de Piche (1957) (escala 1/50 mil) > Local provável, assinalado a vermelho,  na zona de Copiró, da emboscada, levada a cabo por um forte dispositivoo do PAIGC, integrando "cubanos", a "três ou quatro quilómetros de Piche", a seguir a a um curva, do lado esquerdo da estrada (alcatroada) Ponte Caium-Piche, em 14 de junho de 1973. 

 O troço Ponte Caium-Buruntuma não estava alcatroado em 1974 (segundo o depoimento do Rocha). Repare-se que estamos perto da fronteira com a Guiné Conacri, na direcção sudeste (para onde terão retirado as forças do PAIGC, que seriam  c. de 200, segundo a versão do Rocha, um número de qualquer modo impossível de confirmar).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)

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Notas do editor:



Vd. também poste de 24 de março de 2010 > Guiné 64/74 - P6042: Tabanca Grande (209 ): Jacinto Cristina, natural de Ferreira do Alentejo, CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74): Foi soldado atirador, mas a guerra fê-lo padeiro...

(*****) Último poste da série > 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26230: Casos: a verdade sobre ... (50): António Lobato, sete anos prisioneiro de Amílcar Cabral e Sékou Touré / L' affaire Antonio Lobato, sept années prisionnier d' Amilcar Cabral et de Sékou Touré

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26315: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XIX: Mansabá: "Aqui também é Portugal"



Foto nº 1A e 1 >  Alunos, na  Avenida


Foto nº 2 > A Avenida (1)


Foto nº 3 > A Avenida (2)



Foto nº 4 e 4A > A entrada principal em Mansabá;  à esquerda o "Castelo"




Foto nº  5A, 5B e 5 > "Castelo" e obelisco; "Aqui também é Portugal"

Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885  (Mansoa)  > Mansabá >  Fotos do álbum do Padre José Torres Neves.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1, Mensagem do Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fez 1971, hoje médico, a residir em Tomar; fez amizade com o Zé Neves, e este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022; são cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados; uma coleção única, preciosa.

Data - sábado, 21/12/2024, 18:12
Assunto - Fotos do Padre Zé

Caros amigos

Cá vai a primeira série de um conjunto de cerca de 45 fotografias sobre Mansabá, onde eu e o amigo Carlos Vinhal estivemos sediados (não havia ar condicionado !!!).

Renovo os votos de Feliz Natal e Ótimo 2025.

Abraço,

Ernestino Caniço

2. Estas são as primeiras fotos, relativas a Mansabá, do álbum da Guiné do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, temdo sido um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971.

Quanto ao BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (divisa: "Nós Somos Capazes"), Sector Oeste, SO4, recorde-se que tinha como subunidades de quadrícula:

CCAÇ 2587 (Mansoa, Uaque, Rossum e Bindoro, Jugudul, Porto Gole e Bissá);
CCAÇ 2588 (Mansoa, Jugudul, Uaque, Rossum e Bindoro);
CCAÇ 2589 (Mansoa, Infandre, Braia e Cutia).

 Mansoa (sector O4) e Mansabá (Setor O3) faziam parte de um quadrilátero que tinha ainda como vértices Olossato  e Bissorã,

Sobre Mansabá    temos  cerca de 340 referências no nosso blogue.

Não sabemos as datas destas fotos. 

Pela Directiva n° 36/69 de 11Abr69, foi criado o COP 6, com o comando em Mansabá, porque" [... ] o ln tem exercido intensa pressão no Sector 03, com vista a impedir os trabalhos em curso na estrada Mansabá - Farim. Este Sector revela-se particularmente sensível, dada a sua proximidade em relação às áreas fulcrais de Morés, Canjambari e Sara. [... ]":
 
Em 230ut69 foi extinto o Sector Oeste 3; os Subsectores Olossato e Mansabá foram integrados, respectivamente, nos Sectores Oeste 1 (BCaç 2861) e Oeste 4 (BCaç 2885).

Em 11NOV70 foi o COP 6 reactivado com vista à construção e asfaltagem da estrada Mansabá-Farim, interrompida no final da época seca anterior.

O nosso coeditor Carlos Vinhal (que esteve em Mansabá, como fur mil art, Minas e Armadilhas, CART 2732, Mansabá (1970/72) pode-nos ajudar a melhorar estas legendas.

Guiné 61/74 - P26314: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (8)

Foto 59 > Julho de 1970 > "Pesca" com granada ofensiva no rio Olossato, para comermos qualquer coisa "fresca".
Foto 60 > Julho de 1970 > Continuação da "Pesca" com granada ofensiva no rio Olossato, para comermos qualquer coisa "fresca".
Foto 61 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira e o Alferes Capelão Baptista, que pertencia ao Batalhão de Bissorã. Já conhecia o padre Batista, porque ele estava "colocado" na igreja de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia e eu vivia no Candal. Como havia intercâmbio de actividades das duas igrejas já nos conhecíamos.
Foto 62 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira
Foto 63 > Julho de 1970 > João Moreira e Suleimane, que era comandante de secção da milícia do Olossato.
Foto 64 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira > Entrada do bar de oficiais e sargentos. Admirem os "sofás" feitos em "sumá-pau", das aduelas dos pipos que levavam a "água de Lisboa".
Foto 65 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira num baga-baga
Foto 66 > Julho de 1970 > Olossato > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 19 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26289: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (7)

Guiné 61/74 - P26313: In Memoriam (530): Florimundo Rocha (C. 1950 - 2024), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972/74)

IN MEMORIAM
FLORIMUNDO ROCHA († Lagoa, 22 de Outubro de 2024)
Ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972/74)


A funesta notícia do falecimento do nosso camarada Florimundo (Flor) Rocha chegou até nós através do nosso amigo Arménio Estorninho, que mora em Lagoa, tal como o Flor até ao seu falecimento.

O Flor inscreveu-se na tertúlia em 11 de Abril de 2011, por intermédio da sua filha Susana.
Era um dos sobreviventes da trágica emboscada a uma coluna auto, em 14 de Junho de 1973, no itinerário Ponte Caium-Piche.
Num contacto telefónico com o nosso editor Luís Graça, ele, que conduzia a primeira viatura, um Unimog 411 (burrito) que capotou ao entrar na zona de morte, contou os pormenores do acontecimento, tal como ainda se lembrava.
Consultar o poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74).

Embora atrasadas, aqui deixamos as nossas mais sentidas condolências à familia do nosso camarada e amigo Flor, na pessoa da sua filha Susana que o trouxe o seu pai até nós no longínquo ano de 2011.

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Nota do editor

Último post da série de 19 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 – P26291: In Memoriam (529): Comandante Almada Contreiras (1941-2024), um antigo camarada que conheceu as terras da Guiné, e um dos militares do 25 de Abr (José Saúde)

Guiné 61/74 - P26312: Convívios (1011): 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74), em Mora, no passado dia 25 de maio (António Duarte)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Bolo comemorativo dos 52 anos do regresso dos graduados de especialistas a segunda geração (1971/72)



Mora > Fluviário> 25 de maio de 2024 > 51º Convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > Em primeiro plano, de perfil, o ex-alf mil  at inf, José Sobral (hoje médico, vivendo em Coimbra), a cantar com o resto do pessoal  o hino da CCAÇ 12,  atuação  que termina com um bom manguito à moda do Bordalo, o genial criador do Zé Povinho.


No vídeo abaixo pode ver-se um grupo de "coralistas", entoando uma paródia de uma canção tradicional, que a Amália Rodrigues imortalizou ("Tiro-Liro-Liro") ("Cá em cima está o tiro-liro-liro, / cá em baixo está o tiro-liro-ló / Juntaram-se os dois à esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó"), transformada em cantiga de escárnio e maldizer, em que o visado seria o 2º comandante do BART 2917 (o então major art Anjos de Carvalho, conhecido na "caserna" como o "alma negra"; militarista, parecia estar ali deslocado na "Spinolândia"; gostava de comandar operações "by air", ou seja, através do PCV - Posto de Comando Volante, em DO-27; por sorte, acabou a comissão antes do aparecimentos dos Strela nos céus da Guiné)




Mora > Fluviário > 25 de maio de 2024 > 51º almoço-convívio  da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) > O hino da CCAÇ 12. (**)

Fotos e vídeo  (e legendas): © António Duarte (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Duarte, um histórico do nosso blogue para o qual entrou em 18/2/2006 (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1971/74; formou-se em economia; ex-quadro bancário; vive em Paço d'Arcos, Oeiras):

Data - 24/12/2024, 13:23

Assunto - 51º almoço-convívio da CCAÇ 12 (*)

Boa tarde,  Luís

Segue esta gracinha do último convívio feito, da nossa CCAÇ 12,  com gentes da segunda geração e eu da terceira (Bambadinca e Xime, 1971/74).(**)

Foi no passado dia 25 de maio, em Mora, organizado pelo Vitor Marques, Juntaram-se ainda dois ex-furriéis mil do Pelotão de Artilharía, de 10,5 cm, que coexistiram com a CCAÇ 12 no Xime no ano de 1973.

Grande Abraço para ti e restantes camaradas,
António Duarte

Cart 3493 e Ccaç 12 (de dez 71 a jan 74)


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Notas do editor:

(**) Vd. postes de:


31 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

30 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24353: Convívios (962): CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74): Coimbra, sede do núcleo local da Liga dos Combatentes, 27/5/2023: poucos mas bons, ao fim de 50 anos...

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26311: (In)citações (259): A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito pelos uns outros (Eduardo Estrela, Cacela Velha,. V. R. Sto António)

1. Mensagem do Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012 (foto à direita)


Data - terça, 24/12/2024, 22:57
Assunto - Espera contínua

São 22,28 e a emoção toma conta de mim. Não riam, eu sei que bem lá no fundo vocês aguardam tal como eu a chegada do momento da partilha .

Continuamos a ser as crianças agora mais adultos, que aguardam com algum alvoroço emocional a hora da troca.

Pela vida fora trocamos uns com os outros muita coisa . Felizmente e a maior parte amizade e amor. Mas há quem tenha um prazer mórbido em alterar a força da racionalidade e pretenda transformar o bom no mau .

Desde tempos imemoriais assim tem sido .

Eu acredito que havemos de conseguir transformar este mundo onde estamos num mundo melhor. Um mundo de solidariedade e de concórdia e onde a riqueza seja mais equitativamente distribuída.

A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito uns pelos outros.
 
A guerra transformou-nos em irracionais. A sua memória obriga-nos a ser tolerantes .

Abraço fraterno
Eduardo Estrela

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26221: (In)citações (258): Era ele... Todo inteiro (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P26310: Historiografia da presença portuguesa em África (458): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
A governação da província, nestes tempos, passa do contralmirante Teixeira da Silva para a governação interina de Joaquim da Graça Correia e Lança, o Boletim Official não deixa de ter um tom monótono de entradas e saídas, nomeações, assuntos da fazenda pública e alfândega e raramente dados que possam ser aproveitados para a investigação. O que aproveitei deste período foi a vinda em comissão extraordinária dos chefes do serviço de saúde a Bissau que existiu sobre a necessidade de derrubar o muro à volta da povoação, ele achava que a vila devia sair de Bissau e ir para Bandim, ali havia melhores ares e condições de salubridade, insiste na vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar e na má construção das casas existentes na vila, faz referência ao lazareto que estava no Ilhéu dos Pássaros, devia ser transferido para o Ilhéu do Rei e termino com a apresentação dos enviados do régulo Mamadi Paté, do Forreá, este fazia questão de reiterar os seus protestos de fidelidade ao rei, então D. Luís,. No próximo texto, far-se-á um cômputo dos acontecimentos de 1889, morre o monarca e o Infante D. Augusto.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15)


Mário Beja Santos

Há muito pouco mais a dizer sobre o ano de 1888, encontrei o relatório do Chefe de Serviço de Saúde em Bissau, datado de 12 de março desse ano, é assinado por Aristides Bernardo de Sousa, contém informações que reforçam outras já conhecidas, mas também há aspetos inovadores, como o leitor apurará. Um tanto à semelhança do documento lavrado por Damasceno Isaac Costa, ele apresenta a ilha de Bissau e a respetiva fortaleza, destaca a situação da vila e dá uma sugestão:
“Como em diferentes capitais e filas das nossas províncias ultramarinas, na instalação da vila não presidiu infelizmente o elemento mais essencial da higiene, a escolha do terreno, porque era a todos os respeitos preferível para sede da capital da província a aldeia de Bandim, ponto relativamente elevado e com vertentes para a praia que é completamente arenosa. Ainda não era tarde para se mudar a capital para a aldeia de Bandim e não seriam grandes os sacrifícios encarregados com a transferências das repartições públicas, dos quartéis, do hospital e de outros edifícios.
Os negociantes que de futuro quisessem estabelecer-se na Guiné preferiam prontamente a nova capital e muitos dos atuais encontrariam grande compensação na maior garantia da sua saúde.”


E o problema da higiene atormenta-o:
“São várias as causas que tornam insalubre a praça de Bissau. As medidas higiénicas não podem decerto modificar as condições meteóricas, mas removendo tudo quanto possa concorrer para poluir o solo e inquinar a atmosfera, podem aniquilar ou ao menos atenuar as causas da insalubridade. Cercada por um muro, a vila acha-se soterrada num vale e é dominada por alturas e com uma área de circunscrição incomportável com a sua população; de onde resulta a aglomeração dos seus habitantes.
As ruas são estreitas e na construção das casas não se observaram s mais rudimentares preceitos da higiene. O muro que cinge a população obsta à disseminação da população, ao desaperto das casas e à circulação do ar e da luz difusa. A permanência do muro é incompatível com eficaz saneamento geral. O principal e imprescindível empreendimento, referente à saúde pública, deve ser a demolição do muro, porque só assim desaparecerá o perigo da acumulação alargando-se o terreno e desafogando-se as ruas e as casas.”


O chefe do serviço de saúde aborda seguidamente o Ilhéu dos Pássaros onde tinham sido construídos três barracões para o isolamento dos doentes, ilhéu com 219 metros de comprimento e 33 de largura, refere a superfície lodosa, a natureza do terreno, os ventos, a composição dos barracões, observando que estes barracões podem comportar 18 leitos, são construções temporárias que não poderão durar mais de 1 ano, a bagabaga já estava a destruir a madeira. “Tendo, porém, visitado ultimamente os dois ilhéus que defrontam com a praça de Bissau, parece-me que é o ilhéu do Rei que deve ser escolhido para futuro lazareto permanente da Guiné, e para enfermarias isoladas, porque além de estar mais próximo da praça, tem bastante água potável e condições meteóricas mais constantes.”

Atenda-se a outros aspetos higiénicos da vila de Bissau e à enfâse que o relator põe:
“Tendo percorrido a vila mais de uma vez, observei que eram regulares as condições da limpeza pública nas ruas e nos domicílios. Não se pode conseguir muito mais da população indígena que geralmente não prima pelo asseio e está aferrada a conceitos velhos. Peço finalmente a atenção do ilustrado Governo da província para os melhoramentos que exige o Hospital de Bissau, cujo teto está bastante deteriorado e o sobrado também precisa de ser reparado. Além disso, o edifício em grande parte não está caiado por dentro, há muitos anos, apesar das repetidas instâncias do delegado de saúde. A farmácia precisa também de armação e de vidrame novos. Faltam também os mais indispensáveis artigos de mobília que convém prover-se tão importante edifício.
A existência das muralhas e dos fossos, circundando a praça; a vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar; a má construção das casas existentes na vila, são outros tantos fatores que se no estado ordinário prejudicam a salubridade da terra, muito mais agravantes são quando reina uma epidemia.
Muitas edificações precisam ser reparadas e convirá determinar que os pavimentos de todas as casas tenham certa e determinada altura do nível das ruas; que os pavimentos sejam argamassados ou assoalhados de madeira; que as portas e janelas sejam largas a fim de que o ar circule livremente. Depois de demolido o muro, será também conveniente ordenar-se que as futuras construções sejam feitas fora do recinto da atual praça.”


E terminam as referências a 1988 com uma notícia publicada em novembro e referente a Buba:
“No dia 19 de novembro estiveram nesta capital os grandes de Forreá, Bóbójintos e Saná, enviados por Mamadi Paté, régulo principal daquele território, os quais acompanhados de um intérprete vieram pedir uma audiência ao conselho governativo, que de bom grado lhe a concedeu. Na sessão do conselho desse dia disseram que: - Vinham encarregados pelo seu rei de significar ao governo provincial, como delegado de Sua Majestade El-Rei de Portugal a amizade que lhe dedicava e reiterar-lhe os seus protestos de fidelidade, por isso que só conhecia e respetiava a nossa bandeira à sombra da qual desejava viver e o nosso Governo de quem gostosamente recebia ordens e a quem somente queria estar sujeito, por cujos motivos solicitava do Governo lhe permitisse estreitar mais as suas relações de amizade com os portugueses, consentido a sua aproximação à praça de Buba pelo estabelecimento de três tabancas, sendo uma em cada um dos postos denominados Sambafim, Iaocunda e Cam-Ióbá, pelo que prometia prestar todo o auxílio que lhe for pedido pelo comando da praça, para onde fará convergir todos os seus produtos a fim de os permutar, demonstrando por esta forma o empenho que tem em estreitar as suas relações de amizade já referidas.”

Nada de relevante encontrei nos primeiros meses de 1889, aa partir de 4 de maio, e depois em 11 e 18, temos um relatório do serviço de saúde da vila de Bissau que merece referência, mais adiante se falará do estado de suspensão de garantias no presídio de Geba por insurreição do régulo de Ganadu, e teremos depois um documento do comando militar de Buba, bastante interessante.

Notícia do falecimento do Infante D. Augusto, Duque de Coimbra
Notícia do falecimento do rei D. Luís
Monumento a Nuno Tristão, Bissau, década de 1960
Uma imagem que vale por mil palavras
Ilhéu dos Pássaros, Guiné-Bissau

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26279: Historiografia da presença portuguesa em África (457): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14) (Mário Beja Santos)