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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13877: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (10): (i) O poeta, cidadão do mundo; (ii) Caminha; e (iii) A minha mãe (Tavares Moreira, n. 1938, Bubaque)





Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", Edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A obra é editada em dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU, grupo esse cuja história remonta à I República: foi criado em 1924, (*)



1. Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: 

(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido; 

 e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo]. [, foto à esquerda, em Bissau, em finais de 1973, trabalhando nesta edição; era então ten art].

Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos; será editado mais tarde, em Oeiras, 1987, com o título "Batuque - Poemas Africanos", ) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que o Albano Matos nos facultou mandou,. Temos também a autorização, como coeditor literrário,  para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia que está fora do mercado livreiro.
.

2. Do poeta, hoje divulgado,  Tavares Moreira, só sabemos que é natural dos Bijagós e que, em 1973, era  locutor da Emissora Nacional em Bissau.

Sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida (, funcionário do BNU,) quem contactou e selecionou os poetas "civis",  tendo cabido ao Albano de Matos a tarefa de incluir os poetas "militares".

Os três poemas de Tavares Moreira vêm nas  pp. 18/20 desta antologia.  Um deles teve uma menção honrosa nos jogos florais da UDIB, 1972.

Presumo que seja a mesma pessoa, com página no Facebook, de seu nome completo Joaquim Fernandes Tavares Moreira que se apresenta nestes termos:

(i) natural de Bubaque, Bijagós;

(ii) andou na escola Liceu Gil Eanes/Liceu Honório Barreto, turma de 1958;

(iii) rabalhou como locutor na empresa RDP (anterior: Radiodifusão Portuguesa e RTP);

(iv) vive em Lisboa,

"Nasceu a 10 de Junho de 1938. Naturalidade — Bubaque. Arquipélago dos Bijagós a que Camões chamou Arquipélago das Dórcades. Bubaque é a sede administrativa do Arquipélago. Vigora o regime de matriarcado que teve o seu expoente máximo em a Raínha Okinka Pampa."

A Tabanca Grande já lhe pediu amizade... (LG).






sábado, 25 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13798: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (9): o 'making of' do livrinho (Parte II)

Capa



B. O CADERNO DE POESIAS «POILÃO» (*) (Continuação)

por Albano Mendes de Matos


[ Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, como tenente, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [, foto à direita, como 2º srgt].


Procurei o Valdemar Rocha (Unidade de Transmissões), Armando Lopes (GA 7), Joaquim Lopes (QG-CTIG) e o Carlos Ramos, que logo concordaram com a ideia e os dois primeiros entregaram-me poemas. O Valdemar entregou-me, também, poemas do Jales de Oliveira.

Planeei «POILÃO». Sem jeito para desenho, rascunhei, a esferográfica, o esboço de um poilão (árvore típica da Guiné) estilizado, que tenho, porque quase todos os rascunhos foram perdidos quando vinham, da Guiné, num caixote que foi arrombado no cais de Santa Apolónia e pilhadas algumas coisas. Os poemas de «POILÃO» salvaram-se porque os touxe numa pasta.

De 2 comissões em Angola, trouxe muitos apontamentos e fotos que me serviram para publicar o caderno de contos «O Jangadeiro», o livro «Meninos da Mucanda» e diversas publicações em jornais e revistas, além de um livro «Por Angola – Etnografia e Guerra», que está a ser teminado.

 


Esboço, feito a esferográfica, para capa de «POILÃO» e paginação, de Albano Mendes de Matos.


Uma noite, ao sair de um café, com Valdemar Rocha, onde nos encontrámos para falar do «POILÃO», encontrei o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, funcionário do BNU e dirigente do Clube Desportivo e Cultural do Pessoal do BNU, que conhecia da UDIB, União Desportiva Internacional de Bissau.

É aqui que entra o Aguinaldo, nas aventuras de «POILÃO» Contei-lhe que estava a organizar o caderno, com poemas de militares, e que seria interessante incluir alguns guineenses e caboverdianos. Achou a ideia interessante. Como eu não conhecia pessoalmente os «poetas» locais, pedi ao Aguinaldo para falar com alguns e pedir-lhes originais, se tivessem interesse em colaborar. Depois, o Aguinaldo apresentou-me alguns no Clube Desportivo e Cultural do BNU. E assim surgiram os poemas.

Foi numa ida para o Clube do BNU que vi o Pascoal D’Artagnan, filho de um italiano e de uma mulher Balanta, subgrupo mansoanca daquela etnia, que só conhecia de nome. Pareceu-me muito tímido.

Entreguei os originais ao Aguinaldo para ler, que devolveu. Escrevi um prefácio, para «POILÃO», cujo original também se perdeu no Cais de Santa Apolónia.

Num econtro com o Aguinaldo e o Valdemar Rocha, eu propus que não fosse incluído o meu prefácio em «POILÃO», e que o Aguinaldo devia de fazer uma introdução, como aconteceu. Eu dactilografei o caderno em «stencil», dei o papel, imprimi e agrafei a capa, com a ajuda de colegas militares. O Grupo Desportivo e Cultural do BNU ofereceu a capa para «POILÃO».

Um alferes miliciano da Unidade de Tarnsmissões desenhou a capa para «POILÃO» a pedido de Valdemar Rocha.

O segundo caderno seria um trabalho meu, com o título de «BATUQUE», já preparado, que foi publicado mais tarde em edição artesanal restrita [Oeiras. 1987]. O terceiro seria com poemas de Pascoal D’Artagnan.

Eu propus o seguinte;

- Que seria o Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino a publicar «POILÃO».  O dinheiro obtido com a venda de «POILÃO» seria doado à Leprosaria da Cumura.

«POILÃO» foi apresentado após distribuição de prémios de uns Jogos Florais, na Associação Comercial da Guiné, organizados pelo Grupo Desportivo e Cultural do Pessoal do Banco Nacional Ultramarino, e posto à venda sem preço. Os preços oscilaram entre 20$00 e 100$00. Cerca de 300 exemplares foram vendidos num dia e 400 exemplares, uma segunda edição, também num só dia.

Não foram publicados mais cadernos de poesias, porque eu vim de férias, aconteceu a revolta das Caldas da Rainha ], 16 de Março,] e, a seguir, o 25 de Abril. Estava tudo em ebulição.

Agostinho de Azevedo, chefe de redacção de «Voz da Guiné», refere a publicação de «POILÃO» no jornal de 28-02-1974.






___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 24 de outubro de  DE 2014 > Guiné 63/74 - P13796: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (8): Respondo a algumas perguntas: (i) o poeta Pascoal D' Artagnan, que era filho de mãe balanta e pai italiano; e (ii) o 'making of' do livrinho (Parte I)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13796: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (8): Respondo a algumas perguntas: (i) o poeta Pascoal D' Artagnan, que era filho de mãe balanta e pai italiano; e (ii) o 'making of' do livrinho (Parte I)




Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", Edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A editada é de  dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU, grupo esse cuja história remonta à I República: foi criado em 1924,

Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos; será editado mais tarde, em Oeiras, 1987, com o título "Batuque - Poemas Africanos", ) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.



A. RESPONDENDO À PERGUNTAS DO EDITOR

[ Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, como tenente, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [, foto à esquerda, Bissau, c. 1973].

Mensagem de 29 de setembro último:

Caro Luís: Enviei mensagem pela sapo.mail, mas não tenho indicação de que tivesse seguido. (...). Vão, também, em anexos: respostas ás perguntas, que pude dar (com os anos passados, há coisas que falham), um registo de como surge «POILÃO», já repetido, e «BATUQUE», o meu caderno de poesias que seria o nº 2. O nº 3 seria do Pascoal D'Artagnan.. Grande abraço.

Em primeiro lugar, vou responder a algumas perguntas relacionadas com  o «POILÃO». (*)

1 – O editor foi, por minha proposta, depois de o caderno estar já alinhavado, o Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino, que ofereceu a capa.

Foi coordenador o Albano Mendes de Matos em conjugação com o Aguinaldo de Almeida.

2  – Nem todos os poemas eram inéditos. Foram pedidos, pelo menos, 3 poemas a cada autor. Foram solicitados pessoalmente por Albano Mendes de Matos, aos militares, e por Aguinaldo de Almeida, alguns com a presença de Albano Mendes de Matos, aos guineenses e caboverdianos.

3- O Valdemar Rocha entregou, também, os poemas de Jales de Oliveira. Conheci o guineense Baticã Ferreira, médico, na Sociedade da Língua Portuguesa, que lhe publicou uma colectânea de poesia, e incluí um poema seu em «POILÃO»

4 – Só me encontrei uma vez com Pascoal D’Artagnan, junto da sede do Grupo Desportivo e Cultural do BNU, na companhia de Aguinaldo de Almeida. Pareceu-me muito tímido. Falámos sobre a publicação de um caderno com poemas do Pascoal D’Artagnan.

5 – Segundo informação do Aguinaldo, o Pascoal D’Artagnan trabalhava nas oficinas navais da Marinha, nas proximidades do cais «Pindjiguiti» e da alfândega. Foi também o Aguinaldo que me informou de que o D’Artagnan era simpatizante do PAIGC, bem como alguns guineenses com os quais contactei. 

6  – Pascoal D’Artagnan era euro-africano, filho de pai italiano e de mãe Balanta. Nada sei das viagens do Pascoal [no interior da Guiné].  Pode afirmar-se que foi o único poeta da sua geração. Na antologia de poetas da Guiné, «Mantenhas para quem luta! – A nova poesia da Guiné-Bissau», publicada em 1977, não consta o Pascoal D’Artagnan.

7 – Não sei onde estudou Pascoal D’Artagnan.

8 – Jogos Florais da UDIB - 1972:  1º Prémio «Solidão», de Valdemar Rocha, pag. 26 de «POILÃO»; 3º Prémio «Mãos», de Pascoal D’Artagnan, pag 9 de «POILÃO». Desconhece-se a a composição e identificação do júri. (**)


B. O CADERNO DE POESIAS «POILÃO» (**)

por Albano Mendes de Matos


Colocado no GA 7 - CTIG, em Dezembro de 1972, em comissão militar, fui em diligência para a 4ª Repartição do QG-CTIG, a fim de organizar Companhias de Milícias, com guineenses voluntários, que tivessem feito o serviço militar, para defesa das aldeias. Como o chefe de contabilidade do Conselho Administrativo do QG-CTIG terminara a comissão sem ser substituído, fui indicado para o substituir, em Maio de 1973.

De vez em quando, especialmente nos dias festivos, o pessoal do CA (oficiais, sargentos e praças, reunia-se nas respectivas instalações para umas brincadeiras, como festivais da canção, arremedos de teatro, etc, com material da Secção Foto-Cine que estava ao lado.

Soube, pelo jornal «Voz da Guiné», que na Guiné havia pessoas a escreverem poesia, devido a Jogos Florais que a UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau) organizara, nos finais de 1972.

Creio que na noite de Natal de 1973, propus fazermos uma sessão de poesia em que cada militar faria poesias para ler ou recitar ou ler poesias de poetas, porque lera no jornal «Voz da Guiné» um escrito em que o chefe da redacção, alferes miliciano, Agostinho de Azevedo, que, depois, foi director do 
«Correio da Manhã, falava de poesia.








Foi nesta altura que imaginei fazer os Cadernos de Poesia «POILÃO» apenas com colaboradores militares, com três ou mais poemas de cada colaborador, e respondi ao chefe de redacção do jornal «Voz da Guiné», com um escrito, só publicado em 02-02-1974.







O poema «Vida», de Joaquim Lopes, escrito para uma sessão no CA-QG-CTIG, incluído no artigo de «Voz da Guiné»:



VIDA


Vida,
Tu nasces nas raízes que consomes
Dás origem a crises e fomes,
Tu és um dom de que se fala,
Dás pobreza a muita alma,
Tu és a desgraça e a sorte
De muitos que te pedem a morte,
Tú és o princípio e o fim do mundo,
Quantos não pensam em ti a fundo.
Vida,
Tu és o tempo no espaço,
De muito viver de cansaço,
Tu és a perfeição dos imperfeitos,
Dominas a paz pelos direitos,
Tu és a força dos seres
Aos quais impões deveres,
Tu és tudo na existência,
Tens poder e resistência.
Vida,
Tu és o signo da verdade
De ricos a viver em felicidade,
Tu és uma paz de alma,
De comodistas a viver na calma,
Tu és a morte obscura
De egoista a pedir luxúria,
Tú és o despertar louco
De ricos a viver por pouco.

(Continua)

_________________

Notas do editor:

(*) Vd., poste de 27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11

Comentário de LG:

(...) Talvez o Albano de Matos nos possa dar mais informações sobre o "making of" desta coltãnea de poesia, "Poilão"...

Por exemplo, quem foi, na realidade, o "editor literário", o coordenador ? Foi o Albano de Matos ou o Aguinaldo Ferreira ? Ou foram ambos ?

Como foram obtidos os originais ? Houve um contacto pessoal com os autores ? Todos os poemas eram inéditos ?

O Albano terá conhecido pessoalmente o Pascoal d'Artagnan, presumo, que trabalhava nas "oficinas navais", em Bissau... Pertenciam à Marinha ?

Ele já seria, em 1973, simpatizante ou mesmo militante do PAIGC ? Qual a sua origem étnica ? Balanta, manjaco, papel, mandinga ?

Sabemos apenas que nasceu em Farim.. Mas viajou pelo país: Catió, Safim, Ilha das Galinhas... O que é que ele faz na Ilha das Galinhas, em 1967 ?

Pelo que eu li dele, ainda muito pouco, parece-me um poeta com fôlego, e na linha da tradição oral africana... com influência talvez do angolano Viriato da Cruz...

Ele deveria ser um autodidata... não ? (...)



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13771: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (7): Quem seria a Maria Caela, cuja ascensão e queda o poeta Mário Lima cantou ? (António Medina / Amadeu Lopes da Silva)



Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).

Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição (, 700 exemplares, policopiados, a stencil, ) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido:  e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo].




Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Cais de Pidjiguiti


Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Quem terá sido a Maria Caela, do poema  "Retrato de Maria Caela", do poeta Mário Lima ? Quem terá  sido essa mulher fatal, que destrolou corações, seguramente caboverdiana, e da ilha da Boavista, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ? E que percorreu a Guiné, de lés a lés ? E que viveu na opulência antes de cair na miséria ?  


(i) Resposta de nosso camarada Antonio C. Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA] [foto atual à direita]

8 de outubro de 2014


Olá,  Luis.


Continuo tentando procurar saber de Maria Caela, contactando ex-colegas do BNU, amigos intimos do Mario Lima, sem nada de palpável até agora. Haja paciência.
Em anexo mais alguma informacao do nosso Mario, caso queiras dar informações sobre ele.
Saúde e um abraço.

Medina


(ii) Nova mensagem do Antonio C. Medina, com data de 20/10/2014 (**)




Hello,  camarada e amigo Luís Graça:

Dando continuidade as minhas pesquisas sobre quem terá sido Maria Caela em que o poeta caboverdeano Mário Lima se inspirou, acabo de receber uma informação de colega e amigo que aproveito para remeter para teu conhecimento. Continuarei olvidando esforços para satisfazer a tua curiosidade e nãp só, a minha também.

Saúde e boa semana.

AMedina


(iii) Mail enviado pelo António Medina ao seu amigo Amadeu Lopes da Silva: 

Data:  9 out 2014 16:49:22 -0400
Assunto: : Retrato de Maria Caela


Olá,  camarada e amigo:

Deves ter conhecido o Mário Lima que foi empregado do BNU e irmão do Hermes e do Ângelo, naturais da Boavista.

Mário Lima,  além de outras qualidades,  se mostrou também como poeta, publicando alguns dos seus versos num pequeno livro, "Poilão",  em 1973/74. Entre eles o "Retrato de Maria Caela"  que penso se tratar de uma criola morena da Boavista que chegara a Bissau aquando da sua estadia na Guiné, ou então talvez se tratar de algum amor imaginaário ou platónico que sustentava (?).

Gostaria de saber se de facto existiu a tal Maria Caela, se por mero acaso na tua viveência tivesses ouvido falar desse nome, ou se se trata de alguma morna que o tempo levou, etc.
Desculpa este inconveniente.
Um abraço
AMedina


(iv) Resposta do Amadeu Lopes da Silva, com data de 19 do corrente, e que o António Medina fez o favor de chegar até nós [, Obrigado, amigo Amadeu]:

Boa tarde Amigo e votos para que estejas bem de saúde.

Finalmente posso afirmar-te que a Maria Caela existiu e seria da geração de Maria Barba. Portanto o que o Mário terá cantado em versos são passagens que lhe foram transmitidas pelos seus pais,ou quem sabe de, em crianca, ter ouvido falar dela.

De andanca em andanca,o que me agradou, depois de falar com alguma gente, nomeadamente com a irmã do Mário (, a Zinha, ),acabei por falar, por recomendação dela, Zinha, com Nhu Vão (Serapião) ,homem dos seus mais que 90 anos que me disse ser familia dos Limas e que se lembra de em pequeno ter cantado modinhas (mornas) ligadas à Maria Caela, mas nunca se preocupou em saber de quem se tratava.

Logo.  e por deducão,ligada à idade desse Sr. (Nhu Vão),acho que o Mário cantava,  nos seus versos,uma figura da cultura da Boa Vista.

Contudo, Nhu Vão ficou de colher mais informacões que, ao me serem passadas, não deixarei de as deixar chegar ao teu conhecimento.

Abraço

______________








Poema do Mário Lima, funcionário do BN, natural da Boavista,  Cabo Verde,  já falecido, um dos ozbe poetas que figuram nesta antologia (pp. 15/17). Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ? (LG)



(**) Último poste da série > 9 de outubro de 2014 >  Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)



Aguinaldo Almeida (já falecido), quadro do BNU de Bissau e autor da introdução, que a seguir se publica, nos Cadernos de Poesia "Poilão", editado pela secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau.




Fotos: © Albano de Matos (2014). Todos os direitos reservados



Albano Mendes de Matos
1. Mensagem,  de 7 do corrente, do Albano de Matos


Caro Luís,

Só agora vi que o nome do Aguinaldo não está correto. É Aguinaldo Almeida.

O Aguinaldo esteve na minha casa no verão de 1974, quando vim da Guiné, de férias, depois, perdi-lhe o rasto. Ele estava cá, de férias.

Envio a foto do Aguinaldo e o original da Introdução do POILÃO, que ele assinou.
Abraço.




Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).

Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição (, 700 exemplares, policopiados, a stencil, ) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido(segundo informação que nos acaba de dar o nosso grã-tabanqueiro António Medina); e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente  art,  GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74;  foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo].


2. Mensagem que enviei há dias, em 7 deo corrente,  ao nosso camarada da diáspora António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau,  de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA]:

Assunto: Colega do BNU, em Bissau, Mário Lima, poeta

António: Como vai essa saúde ? E a disposição ? Viste o poste sobre o teu aniversário ?

Outra coisa: ainda te tembras do Mário Lima, teu colega  do BNU e patrício ? Escrevia poesia e está nesta antologia, organizada pela vossa casa de pessoal, em dezembro de 1973... E de uma tal Maria Caela ? Tens alguma pista sobre esta mulher ?... Vê aqui (*).

Manda notícias. Um abraço fraterno. Luís Graça
António Medina



3. Resposta do António Medina, na volta do correiro, 
8 de Outubro de 2014 às 00:22

Meu caro Luis:

Antes de mais os meus cumprimentos e agradecimentos pelos teus votos de Feliz Aniversário no Blogue e que tomei conhecimento naquele mesmo dia. Infelizmente tinha acabado de falecer no Rio de Janeiro um meu irmão, vitima de doenca, que me transtornou um pouco.

O Senhor Mário Lima foi de facto meu colega no BNU em Bissau, na altura desempenhando as funções de Chefe de Servicos. Funcionário muito competente, era amigo e respeitava os seus subalternos, procurando e contribuindo para que todos os mais jovens tivessem boa aprendizagem do sistema bancário, o que fez com que a Filial de Bissau fosse conhecida como Campo de Treino, para posteriormente serem transferidos para outras paragens.

Mário Lima.
Foto: Cortesia de RTC

Óptimo tocador de violão, algumas vezes aos sábados não se importou que o visitassemos para se ouvir o seu dedilhar pelas cordas bem afinadas do seu instrumento, interpretando mornas e coladeiras.

O Mário Lima na cidade da Praia, depois da Independência, foi um dos negociadores que ajudou a implementar o Banco de Cabo Verde, foi um dos seus Directores em exercicio até se reformar. Faleceu a 7 de Janeiro deste ano corrente de 2014, vítima de doença prolongada.

Maria Caela (*), nome que vive no meu subconsciente até agora, imagino se tratar de alguma morena criola, dengosa, da Boa Vista donde Mário Lima também era natural e que por qualquer razão lhe mereceu os versos. Assim como existe uma outra morna de nome Maria Barba (Bárbara), também da Boa Vista, pessoa esta já de certa idade que ainda conheci em Bissau (**). Entretanto te prometo olvidar meus esforcos no sentido de obter informações sobre a Maria Caela.


Guiné > Bissau > c. 1965/66 > Um edifício que faz parte das memórias e do imaginário de juventude de alguns dos nossos camaradas de armas, como o Virgínio Briote.


Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados


Já agora aproveito para  prestar,  a tíulo póstumo,  uma pequena homenagem a Aguinaldo Almeida colega e bom amigo. Impulsionador de várias actividades entre empregados do BNU, lecionando em horas extras alunos que precisavam de melhor preparação académica para um futuro melhor, preparando Ralies Auto, etc, ainda me lembro da apresentação da peça teatral "A Hora de Todos",  na Associação Comercial de Bissau, que bastante agradou os assistentes.

Por agora é tudo.
Um abraco do colega e camarada
AMedina


3. Recorde da  imprensa caboverdiana sobre o Mário Lima, que nos mandou o António Medina:

A Semana > 21 de dezembro de 2007

Notícias > Mário Lima prepara livro sobre a banca

21 Dezembro 2007

O escritor Mário Lima tem em preparação um livro sobre a história da banca em Cabo Verde. Quadro do Banco Nacional Ultramarino durante 21 anos, o autor decidiu juntar duas das suas paixões: a literatura e o mundo das finanças.

A obra, em fase de revisão, abordará a génese e aspectos vários da história e evolução das instituições bancárias do país.

Mário Lima, natural da Boa Vista, foi durante 21 anos quadro do BNU, sendo que parte do período que passou na instituição foi vivido na Guiné Bissau onde também colaborou em alguns jornais. Viveu também em São Tomé e Príncipe antes de retornar a Cabo Verde.

Em São Vicente, onde estudou o secundário, foi fundador da Academia Cultivar, de onde saíram alguns dos criadores do jornal Certeza: Nuno de Miranda, Arnaldo França e Tomaz Martins.

Ensaios, crónicas e crítica literária fazem parte da sua produção intelectual, onde se destaca também um conto - O Emigrante - vencedor de uma menção honrosa.

Membro fundador da Associação de Escritores Cabo-Verdianos, Mário Lima tem se dedicado, desde há muitos anos, à poesia e, em Março deste ano, publica finalmente o seu primeiro livro: Minhas Aguarelas no Espaço e No tempo traz poemas inspirados pelas vivências e observações do quotidiano. A obra será em breve secundada pela publicação do seu novo livro, desta feita de cariz histórico/científico.

(Reproduzido aqui com a devida vénia)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?

(**) Ver aqui a letra desta morna, a que o Bana, o "rei da morna",  deu a sua voz inconfundível. A melodia parece ser do final do séc. XIX, enquanto a  letra original seria  da cantora Maria Bárbara,,, É um tocante diálogo - podia ser um fado de despedida! -  entre o tenente Serra, e a Maria Bárbara, a quem ele pede para cantar mais uma morna, na sua festa de despedida, a caminho de Lisboa (***)...

Maria Barba [Bárbara] | Bana [Adriano Gonçalves mais conhecido por Bana (Mindelo, Cabo Verde, 1932 – Loures,   2013]


Maria Bárbara, canta mais uma morna,
Senhor Tenente um' ca podê cantà màs,
Maria Bárbara, canta mais uma morna
Senhor Tenente um' ca podê cantà màs.

Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'
Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'

Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs
Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs

Maria Bárbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti,
Maria Bárbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti.

Maria Barbara, canta mais uma morna,
SenhorTenente um' ca podê cantà màs,
Maria Barbara canta mais uma morna,
Senhor Tenente um' ca podê cantà màs

Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto
Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto

Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'
Um' ti ta bai nha caminho pa manga
Pa matança di cafanhot'

Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs 
Senhor Tenente Serra kuand' bôcê bà pa Lisboa
Ca bôcê s'quècé di nôs

Maria Bárbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti,
Maria Barbara, eu não hei-de esquecer,
Eu não hei-de esquecer principalmente de ti...


[ Letra recuperada por LG, a partir daqui:

http://www.cifraclub.com.br/bana/maria-barbara/  ]

(***) Eis a história desta morna (e dos seus protagonistas):

 A Semana > Opinião > Otília Leitão > Postal de Lisboa, 20 Março 2008

(...) Clarisse [Pinheiro, a viver em Portugal] fala com emoção de sua “mãe Bárbara” ou da “Maria Barba”, a autora da morna com o seu nome, que a voz do grande Bana imortalizou. É uma das mais belas e mágicas músicas que eu, como muitas outras pessoas que conheço, interiorizei como uma grande paixão do oficial de cavalaria e engenheiro civil, Serra, obrigado a partir para Lisboa. Afinal, era uma desgarrada de despedida e saudade porque o amor era pela Victória, sua amiga, de quem o Tenente que habitava numa rocha, teve duas filhas que vivem actualmente na América. (...)

Os protagonistas que deram alma a esta morna cantada também por outras vozes da modernidade, já morreram. Ele em Lisboa. Ela, no dizer de Clarisse, uma “moça bonita” da Boa Vista que tinha a particularidade de ser “tão expressiva na alegria como na tristeza”, morreu, na Guiné-Bissau, ao fim de 34 anos, em 1974, no raiar da Independência. (...)

(...) Desde criança, Maria Bárbara cantava tão bem que era habitual vê-la em cima de uma cadeira, de vestido domingueiro, animando festas e convívios, conta Clarice. “Eu era ainda bébé, nem tinha dentes, quando a minha mãe veio cantar ao Palácio de Cristal no Porto, e foi recebida e cumprimentada por Craveiro Lopes” (****), diz a filha reportando-se a 1940 quando Maria Barba, em representação da colónia de Cabo Verde, participou na grande Exposição do Mundo Português. Pese embora a insistência de alguns empresários para que a sua mãe ficasse em Portugal, ela escolheu regressar à Boa Vista. Pouco depois parte para a Guiné.

Por causa da letra de “Maria Barba” - a morna mais antiga que faz uma referência a Lisboa e a primeira que foi gravada na sua versão integral e a duas vozes (Luís de Matos e Maria Alice) no CD “Lisboa nos Cantares Cabo-verdianos” - não resisti a uma provocação: “Oh Clarisse! Quantas paixões silenciosas, por diversos motivos, não existiram?!”. Mas Clarisse foi convicta: “Não! Ele era casado com a Victória! Essa era a sua paixão!” e sorriu. É seguramente uma Morna de despedida e saudade de alguém muito estimado, mas que tem uma postura típica do período colonial em que Lisboa, a cidade que Hans Christian Andersen já em 1866 considerava “luminosa e bela”. Era o "Eldorado", de onde se esperava que viesse a salvação de todos os males do arquipélago.

 Clarisse Pinheiro desmistifica a minha ilusão doce e diz-me que Maria Barba quer satisfazer o pedido do Tenente Serra em cantar mais nessa festa de despedida. Contudo tem uma tarefa a cumprir: ”Tinha que ir fazer uma matança de gafanhotos”, uma praga que afectava as culturas e que obrigava a que cada família cedesse uma pessoa para o fazer. Como o pai já tinha falecido e a mãe era “fraca” ela era a representante da família.

Testemunhos de vários artistas boavistenses, como António “Sancha” Neves e Noel Fortes, referem a existência de várias versões desta Morna do final do século passado, da qual a Maria Barba aproveitou a melodia para improvisar. A versão do grupo Djalunca da Boa Vista parece ser a mais fiel à letra original (...).

Clarisse Pinheiro que ouviu muitas vezes sua mãe cantar, disse que Bana se encontrou com Maria Barba na Guiné, onde ouviu pela primeira vez na rádio a sua morna. “Não há registo, não há direitos de autor, nunca foi reposta essa verdade”, observa a filha mais nova de Maria Barba que apenas conheceu Bana em Portugal, num espectáculo na FIL, movida por esse «ânimu»s que lhe fora transmitido pela mãe. No entanto, explicou, foi um cumprimento fugaz e banal, esfumando-se a expectativa de qualquer eventual reconhecimento, disse.

Clarisse nasceu em Santa Catarina, Santiago, em 1932, de um parto solitário executado pela sua própria “mãe Barba” e testemunhado pela sua irmã Aldônça, então com dois anos. Divergências entre o casal, ligadas ao facto da sua mãe, ainda menor, ter sido raptada pelo marido e de um casamento mal visto pela família, fizeram Maria Bárbara regressar à Boa Vista, dias depois, de barco. Ainda em 1940 e porque a crise da segunda guerra mundial se fazia sentir no aumento do custo de vida, as três, aconselhadas por um tio escrivão, rumaram à Guiné num barco de Manito Bento que, antes de chegar ao destino, se perdeu pela Gâmbia. (..)

Tinha 16 anos quando sua irmã, que vivia em Bafatá, casou com um bisneto do governador Honório Barreto, e viveu na Guiné-Bissau até 1980. Geria uma farmácia do seu companheiro que conheceu na pele as perseguições da PIDE (polícia política do regime colonial). Actualmente, Fernando Lima, com 80 anos, é apenas seu amigo. Ali conheceu Amilcar Cabral, entre outras destacadas personalidades que recorriam aos seus serviços. “O pai de Aristides Pereira (primeiro presidente de Cabo Verde independente) era padre e baptizou os meus filhos”, recorda. Clarisse, não conhece Cabo Verde. Apenas aqui voltou em 1957, aos 25 anos para descobrir no Tarrafal, seu pai, que entretanto já tinha onze filhos... Nunca mais voltou e as suas referências reportam-se essencialmente à Guiné-Bissau. Não resistindo à continuada degradação da sua vida, num período pós-revolucionário, fixou-se em Portugal onde estão também dois filhos e quatro netos, sem que alguma vez se tenha desligado desta triologia feminina: a mãe e as duas irmãs. (..,)

 [Excertos reproduzidos com a devida vénia]

(****) Lapso: deve ter sido o Òscar Carmona, por ocasião da Exposição Colonial, inaugurada no Palácio de Cristal, em junho de 1934... O Craveiro Lopes foi o presidente da República, do regime do Estado Novo, que se lhe seguiu, depois da sua morte em 1951...

A Maria Bárbra, que teve a primeira filha, em 1930, e ainda era menor quando casou, terá nascido nos primeiros anos da República, em meados da década de 1910... Morreu em 1974, com cerca de 60 anos... Em 1934, quando veio ao Palácio de Cristal, deveria ter 20 anos,,,Viveu 34 anos na Guiné, para onde foi viver em 1940... Mas antes disso ainda esteve, "em representação da colónia de Cabo Verde", na Exposição do Mundo Português (que decorreu en Lisboa, entre 23 de Junho e 2 de Dezembro de 1940).

O António Medina diz que ainda a conheceu, em Bissau, já com uma "certa idade", ou seja,  precocemente envelhecida... Esta história da festa de despedida do tenente e engenheiro Serra ter-se-á passado no final dos anos 20...

Há divergência entre a letra original e letra cantada pelo Bana... Ela não diz que o pai é malandro, mas, sim, que já morreu... E como a mãe, era fraca, ela tinha de ir, por ordem da polícia, matar gafanhotos, como representante da família, pelo que não podia ficar a cantar na festa de despedida do senhor tenente:

(...) Amim’ ti ta bai nhâ camin pâ Manga
Nhâ mãe ê fráca, nhâ pai ê môrte
Amim’‘m câ tem q’êm raspondê pa mim,oi,oi (...)

E o tenente responde:

Maria Barba, canta mais uma Morna,
Porque eu falarei com o vosso cabo-chefe,
Maria Barba, canta mais uma Morna,
Se tu fores presa, responderei por ti.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?






(...) "A história do Banco Nacional Ultramarino, fundado em 1864, está também indiscutivelmente ligada ao último século da presença portuguesa nos antigos territórios ultramarinos portugueses. E foi assim que também na Guiné, o BNU marcou a sua presença.

"De harmonia com o contrato de 30 de Novembro de 1901, celebrado entre o Estado e o Banco Nacional Ultramarino, este ficava obrigado, entre outras ações, a estabelecer no prazo máximo de seis meses agências na Ilha do Príncipe, Bolama, Cabinda, Inhambane, Quelimane e Macau.

"O Banco teria ainda de exercer gratuitamente as funções de Tesoureiro do Estado no Ultramar, nas localidades onde tivesse instalado filiais ou agências.

"Foi assim, como consequência deste contrato que o Banco abriu a primeira Agência em Bolama, em 1902, com apenas dois empregados e o gerente – o Sr. João Baltazar Moreira Júnior." (...)

Texto e fotos: Cortesia de Gabinete do Património Histórico da CGD, Miguel Costa, Junho de 2013  

PS - Recorde-se aqui que, dos nossos camaradas que combateram na Guiné e que fazem parte da Tabanca Grande, há pelo menos um que, depois do regresso à vida civil, foi funcionário do BNU na filial de Bissau, até  1974. Referimo-nos ao caboverdiano António Medina, hoje a viver nos Estados Unidos da América.




Elementos gráficos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924). Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan, que é o maior parte desta antologia da poesia guineense, a primeira que se publicou, em língua portuguesa (segundo o nosso camarada Albano de Matos).


O nosso camarada Albano de Matos.
 Foto atual
1. Do poeta, hoje divulgado, Mário Lima, caboverdiano, bancário, não temos mais referrências. Sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida  quem contactou e selecionou os poetas "civis". Ao Albano de Matos coube a tarefa de incluir os poetas "militares". Talvez o António Medina nos possa dizer algum mais sobre o seu ex-.colega de trabalho e patrício Mário Lima.

Como já o dissémos,  esta antologia, deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, funcionário do BNU; e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos [, hoje ten cor art ref, esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [Foto atual, acima]].

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que ele nos mandou,.

Temos também a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia, de que se fizeram, policopiados, a stencil,  apenas 700 exemplares, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. O editor literário é o Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.







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Dois poemas de Mário Lima, funcionário do BN, natural de Cabo Verdem pp. 15/17. Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?