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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11500: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (10): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte I) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)


 I Série: 18 de fevereiro de 2006: Guiné 63/74 - DLV [Poste 555]: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)...

Esta é já (ou pode vir a ser) uma das mais belas novelas sobre o amor em tempo de guerra (colonial)... Foi a minha reação, espontânea, sincera, quando o Virgínio Briote me mandou este texto para apreciação e publicação...

Descobri que ele que tinha um invulgar talento para a escrita.  "Que garra, que (con)tensão, que ritmo!"... E acrescentava: "É um privilégio, para mim e para os demais tertulianos, podermos ler esta tua mininovela em primeira mão"...

Devida à sua entensão (está entre o conto e a novela) vamos publicar o texto em duas partes. É seguramente um dos melhores postes publicados na I Série. Por isso merece ser revisitado e posto no montra da Tabanca Grande, por ocasião da celebração do nosso 9º aniversário !... Onze mil postes depois! (LG)

PS - Gil Duarte,  comando do CTIG, é  um  alter ego... Teresa, jovem estudante, 19 anos, de origem caboverdiana, não esconde a sua atração por Gil (e vice versa), mas  também não esconde as suas simpatias pelo PAIGC... Estamos em Bissau, em meados da década de 60.  Vasco e Benilde são os pais de Teresa (Tesa, na intimidade). Vieram da Praia. Ele, a trabalhar nos escritórios da Casa Gouveia. guarde-se pela Parte II (a publicar amanhã) para conhecer o fim (inesperado) destes amores e desamores em tempo de guerra.

Recorde-se, por seu turno,  que o Virgínio Briote, nosso coeditor (, jubilado pro razões de saúde, ) nasceu em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan/mai 1965); fez o 2º curso de Comandos do CTIG; comandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / set 1966);  regressou em Jan 1967; trabalhou numa multinacional da  indústria farmacêutica; é casado com a Maria Irene.


Teresa, amores e desamores
por Virgínio Briote


1. TERESA. TERESA SÓ!

Sempre em festa, a casa da Dora era uma animação quase todas as noites. Gente conhecida, quase todos da grande família caboverdiana da Guiné, amigas e amigos que chegavam, de Santo Antão, de Santiago, S. Vicente. Novidades, a loja que abriu, a Dona que morreu finalmente com 94, coisas assim. Duas estudantes repartiam-lhe as despesas, pagavam-lhe os quartos, mais alguns pesos para a manutenção da casa, os outros trocados, nunca o soube como os arranjavam, nem nunca quis saber.

A Dora era só um conhecimento, mais nada. Um dia, atacada com paludismo, viu o Gil entrar pela casa dentro, com médico, medicamentos e comida. A partir daí, o conhecido que aparecia às vezes, sempre sem avisar, passou a ser um amigo chegado, daqueles que estão sempre à beira, sem outro interesse que se visse. Amizade, só isso. Como se fossem irmãos muito chegados, a Dora confiava-lhe segredos, mesmo alguns que se calhar não devia, mandava-lhe recados para Brá, convidava-o para pequenos convívios com os amigos, quase todos caboverdianos de Bissau. Para aquela festa, tinha-lhe dito que o iria apresentar a uma pessoa de quem ele iria gostar.

Conheceram-se em Bissau numa pequena festa em casa da Dora. Viu-a logo, mal entrou. Uma caboverdiana linda, a pele morena clara, desenhada sobre o magro, à volta dos 20.

Trocaram as palavras do costume quando a Dora, olhar cúmplice para eles, os mostrou um ao outro.

Teresa. Teresa quê, que não ouvi? Teresa só. Olhos grandes, claros, esverdeados. Que bem que ficavam com aquela pele! Voz doce, ar curioso. Algo esquiva e desinteressada, virou-lhe logo as costas e cada um foi para seu lado. Ouviram músicas, mexeram os braços e as pernas, conversaram com este e aquele até se fazerem horas.

Quando descia as escadas, ela chamou-o, ar atrevido, pareceu-lhe até demais. Mas já vai, tão cedo, nem se despediu, os outros não nos deram oportunidade de falar um pouco mais, uma pena, não foi? Voltamo-nos a encontrar? Um dia, disse-lhe ela, vemo-nos por aí, não? Afinal, Bissau não é assim tão grande… Se é meu desejo? Saiu a desconversar, meio desconsolado.

Dias depois, sentado no Bento, viu-a passar. Os olhares dos outros chamaram-lhe a atenção. Todos se viraram, não era fácil passar despercebida. Parecia-lhe mais alta. Os olhos com um verde mais magnífico ainda, levemente sombreados, cabelo liso preto, a cobrir as orelhas, elegante com um vestido sem mangas, azul-escuro pintalgado de bolinhas branca, a balançar acima dos joelhos, sandália preta de meio tacão. Como se tivessem combinado, dirigiram-se um para o outro, cumprimentaram-se com alguma cerimónia.

Sentados, os olhares dos outros em cima, vamos andar, por aí fora? Meteram-se no carro, uma volta pelas ruas, por aí não, é a minha casa. Saíram da cidade, para os lados da Sacor, estacionaram de frente para o Sol, a desaparecer no Geba.

O rádio a passar Capri , c’est fini (1), ela a cantarolar baixo, até começar a falar. Quem és tu? Sou este que está aqui! Mas quem és tu, porque estás aqui? Como? Porque estás aqui comigo? Sabes lá, que resposta! Vamo-nos embora, então! A conversa assim, até encontrar o fio.

Esta guerra, os desencontros, as pessoas para um lado e para outro, muita gente deslocada das suas casas, todos a virem para Bissau, muita tropa também, demasiada até, onde é que isto vai parar. Assim, de um momento para o outro.

Depois mais suave, as origens, as famílias, os amigos, os interesses. Estava a concluir o 7º no liceu de Bissau, os pais eram de Cabo Verde, queria tirar Medicina em Lisboa, estava com As vinhas da Ira nas mãos, tinha acabado um livro de Hervé Bazin. Só ódio, queres que to empreste? Porquê, se é só ódio? Pode ser interessante para ti, como sabes que não gostas sem o ler? Vou trazê-lo. Ficou assim marcado o próximo encontro.

O que estava ali a fazer, perguntou-se. Como se tivesse adivinhado ela adiantou que gostava de olhar para ele. Que gostava de estar, de o conhecer. Mas quem és tu, fala!

A noite a cair como cai em África, noite num momento. Temos que ir, não é? Deixou-a à porta da Sé, junto à rua dela. O grupo dele saía na madrugada seguinte, para o norte.

No regresso procurou-a. Os olhos, grandes na mesma, pareciam de cor diferente, o rosto mais fechado, o que se passa, algum problema?

Uma semana, esperara este tempo todo, começou ela, parecia que tinha fogo. Porque não disseste nada, Gil Duarte? Saíste para o mato, não? Para onde foste? Para Norte, para o Oio, não? O que fizeram? A fama que vocês têm, Duarte!

Olha-me de frente, Duarte, assim não, olha-me nos olhos, assim! O que sou para ti, ora diz? Porque me foges com os olhos? Séria, os olhos a entrarem por ele dentro, porque andas atrás de mim? Duarte, não falas? Responde, porque não falas? Gosto que me contes tudo! Gil! Encostada a ele, tão baixo que mal a ouviu, vamos sentar-nos antes no jardim? Estamos mais á vontade, a mamã não está, se ela aparecer apresento-ta, qual é o mal?

Que gostava, mas agora não. E logo? Os papás ficam no varandim a apanhar o fresco, até ás 11, depois vão-se deitar. Gil, que é que te deu, não falas? Tens namorada na metrópole, todos vocês têm, sei muito bem, como é ela? A boniteza não é só na cara, sabias? Não gostas de mim? Então que estás aqui a fazer?


Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



Duarte, que estás aqui a fazer na Guiné, que estão vocês todos aqui a fazer, a desinquietar-nos? O que vocês fizeram na Associação Comercial (*), orgulhas-te disso? Que vergonha, entrarem sem serem convidados, estragarem a nossa festa! A causar-nos sofrimento, a matar pessoas, a ocupar a nossa terra, a impedir o nosso povo de ser livre, é isso?

Estás a olhar assim para mim, porquê? Achas que não temos cabeça para pensar, que só somos corpo para vocês gozarem? Porque nunca te vejo fardado, porque será, tens vergonha de vestir a farda? Aliás odeio fardas, nunca me esperes fardado à porta do liceu, ouviste?

Vens logo à noite? Quando os papás se vão deitar fico sempre um bocado à janela. Saiu dali atordoado, sem saber o que fazer. Uma mulher diferente!


2. NOS ANOS DA DORA

Do portão viu a Dora ao cimo das escadas. Ambiente animado, pessoal a dançar cá fora, para aí uma dúzia de pares, gente caboverdiana, colados uns aos outros, aquele jeito deles, os corpos no ritmo das mornas e coladeras.

Então, bem aparecido, zangado comigo? Porquê, Dora, a consciência pesa-te? Não lembro de nada, mas sempre pode ter acontecido alguma coisa de que me não tenha dado conta, não é?

Que não deve ter ocorrido nada, que se recorde, os olhos dele pelo baile, a Teresa a dançar, a um metro bem medido do parceiro caboverdiano, a saia do vestido bem acima dos joelhos, o decote a mostrar. Mal os olhos se cruzaram, ela encostou-se ao parceiro, a cara para o outro lado.

Que não, não havia problema nenhum, estivera fora, andava ocupado, aos fins dos dias não tinha vontade de sair, só isso, mais nada. Só isso, de certeza? Anda comigo, a Dora a levá-lo para o meio dos dançarinos, mexe o corpo assim, juntinho.

Passa-se alguma coisa contigo, Gil, alguma coisa que eu não saiba? O que é que tu não sabes, Dora? Porque andas tão afastado agora, tão cheio de cerimónias, anda aí qualquer coisa e tu não queres contar. Não sabes do que estou a falar, ora, estás a desconversar, especialidade tua.

Dora, estão a chamar-te, dali, olhos na Teresa, colada ao par.

Despediram-se da Dora, isso agora vai, olhar maroto para as mãos deles. Tinham dançado uma e outra vez até ao fim da noite, quase só os dois no fim, tão colados que os outros até reparavam. Desceram a rua de Santa Luzia, mãos entrelaçadas, a fazerem cócegas um ao outro, a rirem-se por ali abaixo.

Á porta dos pais dela, os rebentamentos que ouviam há horas soavam mais fortes. O que será? Jabadadas (2) , menina, chega-te para cá, para onde vais, Teresa? Tenho medo, não posso, encosta-te então, não te sentes mais abrigada assim, mas não é das explosões que tenho medo, então de que é?

Uma mão na perna, a subir, ai, aí não, Gil! Respirações atrapalhadas, afastados, um momento que não acabava, a olharem um para o outro, uma sirene bem perto, a Teresa lançada outra vez, os lábios a rasparem-se, o gosto da boca dela, a mão dele nos seios, aqui não, anda, não podemos ficar aqui, mão amarrada à dele, que malucos, que é que nós estamos a fazer, Gil?

Na espreguiçadeira onde se recostava a ler e a sonhar nas tardes quentes de Bissau, ansiosa, não sabia o que queria, a mão dele fazia-lhe comichão no joelho, ria-se das cócegas e do nervoso. A mão em cima da dele, parecia-lhe que a acalmava. As duas mãos juntas, a subirem por ela acima, não posso, Gil, tem cuidado, miminhos só, não me faças mais nada!

Não ando a fazer nada com ela, não pretendo nada da Teresa, só passar uns momentos entretido! Não sei é se me vou aguentar assim, não sei não! Se calhar é melhor ir procurar a Matilde. E a Clara, onde andará aquele amor? Ah, Clara, Clara!

Esta história com a Teresa pode dar chatices, pode trazer-te problemas! Como vai ser o próximo lance? O 14-04 com o pára-brisas no capô, vento na cara, a falar sozinho, até Brá.

3. QUE TERESA!

Naquele fim de tarde, quando descia a rua devagar em direcção à Sé, viu o pai da Teresa, de calção, a tratar da relva e das flores. Aliás, viram-se um ao outro ao mesmo tempo, que chatice, ele a desviar os olhos para as montras da Ultramarina, o pai mais demorado, endireitou-se, sacho na mão, se calhar é aquele o gajo que anda atrás da Tesa.

Acabada a missa da tarde, Teresa, véu dobrado na mão, braço na mãe, desceu as escadas. Iam começar a subida da rua para casa quando o viu. E agora, que faço?

A mãe conhece-o de vista, já o viu da janela mais que uma vez, está a par, uma tardinha perguntou-lhe até quem era. Sei lá, mãe, um militar qualquer, como hei-de saber, queres que lhe pergunte o nome, porque está a passar na rua? Que atrevida que estás, Tesa, julgas que tenho os olhos fechados? E se nós mudássemos a conversa, mãe?

Uns tempos mais tarde vira a Tesa a falar com aquele moço moreno, alto e magro, de farda amarela clara, junto a um jeep. Quando a viu voltar a correr, com a roupa do ténis, fizera-se desentendida, descera para o jardim, para a beira dela, calada com o livro na mão. Sentira-a ausente naqueles instantes, rodeara-a, falara-lhe da carta da tia de Santo Antão a dizer que vinha passar um mês com eles. A Tesa ausente, desinteressada, ah sim, quando?

Aliás, o Vasco já reparara, a nossa filha está diferente, claro meu amor, já tem 19 anos! Não é disso que eu estou a falar, Benilde, acho-a diferente, o comportamento dela! Porque dizes isso, nunca dei por nada! Vai para o quarto cedo, anda a pé às vezes à noite, já a vi junto à janela da sala mais que uma vez! Ora,  Vasco, sempre assim foi, são raparigas novas, aconteceu connosco, já não te lembras? Não, Benilde, cuidado, a Tesa é muito nova, abre-me esses olhos!

Tesa, e as tuas aulas como vão? Ora mãe, que te deu agora? Tentou evitar até não poder mais, a mãe Benilde a cercá-la, sim conheço-o, tem mal, mãe? Que não, filha, desde que me contes tudo, desde que tenhas cuidado, sabes como são, militares longe das famílias, saudosos das namoradas, estão aqui de passagem, só querem divertir-se, tu sabes bem o que aconteceu à Lurdes com aquele alferes dos comandos também, até a chegaste a avisar, já te esqueceste? Tinha sido assim, a conversa ficara neste ponto, um dia que calhe, eu apresento-to, pronto.

De braço dado com a mãe, mudou de passeio e subiram a rua, a mãe a beliscá-la, a olhar para as montras como quem não quer a coisa, até ficarem frente a frente. A mãe Benilde, o Gil Duarte, um amigo, as mãos estendidas.

Sentámo-nos no varandim, com sumo de laranja e ananás, feito na ocasião pela Mabilde, a nossa criada de Cabo Verde. Conversávamos e calavamo-nos ao mesmo tempo, até teve graça. Os meus estudos, as disciplinas de Física e Matemática, os meus professores, o ambiente que se vive em Lisboa, as tias, as irmãs do papá, que vivem lá em Benfica.

Foi pouco tempo, para aí 1 hora, a mamã a lamentar, que pena o teu pai não estar aqui para o conhecer, naqueles fins de tarde andava a tratar do jardim, depois ainda ia ao escritório, ficaria para mais tarde, também se estavam a fazer horas, o Gil a dizer que tinha que ir. A minha mãe portou-se impecável, um amor mesmo, desci com ele as escadas, ainda ficámos um pouco na brincadeira, a rirmo-nos. Combinámos encontrarmo-nos lá mais para a noitinha, quando todos estivessem deitados.

A mamã ficou muito bem impressionada contigo, sabes? Gostou de ti, acha-te simpático, é verdade, não te rias, tu simpático, vê lá! Que pareces atinado, muito correcto. Depende dos dias e dos momentos, também acho, agora simpático, como as aparências enganam, se ela te conhecesse melhor!

Gosto de estar contigo, nem sei bem porquê. E no entanto, há tanta coisa entre nós a separar-nos. O quê? Esta guerra, por exemplo!

Nem entendo como te envolveste assim, numa força tão agressiva, porque foste para lá? Porque é que toda a gente pergunta isso? Sei lá porquê, talvez o fascínio pela guerra, não sei! Soldados com as caras sujas, o sangue nas fardas rasgadas, as imagens da destruição, os heróis lavados com as fardas novas, os emblemas a reluzirem, os tambores a rufarem, o clarim a tocar aos mortos, o frio pela espinha, os jeeps, os camiões, as lagartas dos carros de assalto, o nó que sinto na garganta, não sei, Teresa, sei lá!

E não sentes uma ponta de remorso pelo que andas a fazer, não entendes a luta deste povo? É um assunto de que não queres falar? Nem sequer te interessa? E em ti, tens pensado na guerra em que andas envolvido, de arma na mão? Porque é que não fizeste como tantos outros, levar uma vida mais resguardada, mais sossegada, até no teu interesse? Tens pensado no futuro ou é também um assunto que não te interessa?

Claro que estamos a fazer tropelias, não o devíamos fazer, não é para isso que estamos aqui. Lutamos pelo gosto da luta. Gosto disto, desta adrenalina toda. O único problema é ficarmos mutilados, se morrermos, nem damos por ela. Mas odeio a guerra, esta ou qualquer outra. Aliás, não há dia nenhum que não combata contra a minha própria guerra. E não quero morrer, nem quero que os outros morram. Mas, por mim, não vamos perdê-la. Mas é um assunto pessoal, muito íntimo, Teresa. Para as outras conversas és íntimo comigo, porque é que esta é diferente, tens outras vidas de que não queres falar comigo? Para mim tens? Alguém te obriga a estar aqui comigo ou alguma vez te obriguei?

A consciência pesa-te aí dentro, no teu íntimo, Gil, e por mais que digas que não, estás traumatizado e mais, se pudesses, fugias daqui. As minhas aulas vão andando, obrigada, não desconverses!

Quando vai ser, não sabemos. Já estivemos mais longe. Eu era muito menina, andava para aí no 3º ano, quando tudo começou a sério. Até 63, tirando o caso do Pidjiguiti (3), ao que ouço dizer, era só conversa. Nem me lembro de alguma vez ter ouvido falar a sério em independência. Independência, só a vossa, com o rei Afonso Henriques, que bateu na mãe dele, aprendeste também? E também em 1640 e tal, outra vez Portugal a dizer aos reis de Espanha que mandassem na terra deles, não foi? A partir de 1963, a história aqui passou a escrever-se de outra forma. Foi pena, mas para trás, se formos a ver,  tem sido sempre assim, não se consegue quase nada a bem, é pena, mas é assim.

Não estava era à espera de vir a ter esta conversa contigo hoje. Sempre pensei que um dia viria a falar deste assunto com alguém que estivesse do outro lado, assim, tão frontalmente como estamos a fazer agora, mas nunca me ocorreu que viesse a ser contigo! Mas também é bom que assim seja, temos interesses comuns, interessamo-nos um pelo outro, somos capazes de ter uma conversa destas assim, sem recriminações, sem zangas, não achas? És capaz de me dizer, se estivesses deste lado, o que fazias, alistavas-te no partido?

Olha, Gil, acho que não vai ser já, vai demorar ainda uns anos, mas tenho a certeza que a nossa bandeira vai subir no mastro do palácio, lá em cima na praça, e quem sabe, nós os dois no meio do povo, a vê-la ao vento, diz lá, eras capaz de ir comigo?

O barulho dos ramos das árvores e um mocho ou uma coruja lá para trás, dos lados do cemitério, os dois sentados há que tempos, na espreguiçadeira que mal dava para um.

 (Continua)


© Virgínio Briote (2006)

_________________

Notas do autor:

(1) Canção romântica,  1965, de Hervé Villard

"Nous n'irons plus jamais, 
Où tu m'as dit je t'aime, 
Nous n'irons plus jamais, 
Comme les autres années, 
Nous n'irons plus jamais, 
Ce soir c'est plus la peine, 
Nous n'irons plus jamais, 
Comme les autres années. 
Capri, c'est fini, 
Et dire que c'était la ville, 
De mon premier amour, 
Capri, c'est fini, 
Je ne crois pas que j'y retournerai un jour" ...

(2) Rebentamentos das flagelações a Jabadá, aquartelamento das NT frente a Bissau.

(3) Greve dos estivadores no cais do Pidjiguiti, em 3 Agosto de 59, reprimida violentamente pela Polícia.

____________

Notas de L.G.

(*) Vd postes de:

13 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVII: O 'baile dos comandos' na Associação Comercial

" (...) Na esplanada do Bento, a 5ª Rep, como também era conhecida , bebia cerveja com mancarra, num grupo de 5 ou 6 comandos e páras. Um terá dito que naquela noite, na Associação Comercial de Bissau, havia o baile dos finalistas do Liceu. Outro lembrou-se de perguntar se alguém recebera convite. Eu não, tu não, aquele também não…Ninguém se lembrou de nós, como pode ser? Queres ir? (...)"

13 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)

"(...) Na manhã daquele dia para me descontrair tinha ido com alguns camaradas para Quinhamel, uma vez que estava com grandes projectos para aquela noite. Semanas antes tinha conhecido a Helena uma moça caboverdeana, que era o que se costuma dizer uma brasa e andava todo entusiasmado" (...).


(**) Último poste da série > 21 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11438: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (9): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XVII / XVIII / Fim): Final da comissão em Empada (set 69 / jan 70)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11062: Contraponto (Alberto Branquinho) (48): Cuando sali de Cuba...

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 9 de Novembro de 2012:

Olá, Carlos
Há tanto tempo!
Passou o Natal, passou o Ano Novo e, até, passou o Orçamento... quer dizer, está aí e só dentro de dias é que a gente o vai conhecer melhor (sem prazer em conhecê-lo!).

Lembrei-me de falar nesta que vai junta, sobre acção psicológica sobre o IN...
É sobre uma canção (que não é de protesto).

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (47)

Cuando Sali de Cuba (1965), na voz de Luis Aguile

"CUANDO SALI DE CUBA…"

Falávamos, há alguns dias, num grupo de amigos, da canção “Lily Marleen”, das várias versões que a letra teve (para além do original alemão) em inglês - inglês/inglês e inglês/americano (porque não havia entre eles nem há acordo ortográfico…) - e que era, languidamente, ouvida dos dois lados do campo de batalha.

Falou-se, então, também das emissões radiofónicas, que, já no fim da Segunda Grande Guerra, os americanos faziam para desmoralizar as tropas alemãs, onde incluíam essa canção (acção psicológica sobre o IN…), cantada por outra Marleen – Marlen Dietrich, actriz alemã… ao serviço por Hollywood.

Lembrei-me, então, que, no meu tempo de Guiné, se falava de um capitão que, quando o quartel era atacado, colocava no prato do gira-discos (dentro do abrigo?) uma canção cubana que os amplificadores de som, colocados junto ao arame farpado, difundiam para o exterior:

(…)
“Cuando salí de Cuba 
Dejé mi vida dejé mi amor 
Cuando salí de Cuba 
Dejé enterrado mi corazón.”
(…)

Alguém se recorda e pode confirmar?
Dão-se alvíssaras a quem encontrar onde e quem, porque convinha que fosse verdade para, também, termos a nossa história para a História.

Alberto Branquinho
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10653: Contraponto (Alberto Branquinho) (47): Momento de poesia com Augusto Gil e a "Jovem Lília Abandonada"

terça-feira, 8 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9870: Meu pai, meu velho, meu camarada (29): Luís Henriques (1920-2012): Você deixou o nosso ranchinho abandonado... (Luís Graça)



Vídeo (49''):  Luís Graça (2011). Alojado em You Tube > Nhabijoes

Luis Henriques (1920-2012):  Lourinhã, Atalaia, Lar e Centro de Dia de Nossa Senhora da Guia, 8 de outubro de 2011, precisamente seis meses antes de morrer (a 8 de abril de 2012)... Trauteando, aos 91 anos,  uma das suas canções favoritas, ligada à sua memória da tropa e e da sua comissão de serviço militar no ultramar, no Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941-1943).  Mesmo debilitado pela doença (crónica) de que sofria há 5 anos, ele arranjava forças para se mostrar feliz e agradecido pelas visitas que a família (filhos e netos) lhe faziam todas as semanas...

A canção chama-se "Ranchinho Abandonado". É uma canção brasileira, sertaneja, da dupla Raul Torres e João Pacífico, composta em 1939.  Estava na moda em Portugal, quando ele, em plena II Guerra Mundial, partiu como expedicionário para a Ilha de São Vicente, Cabo Verde, indo integrar o RI 23 (*)... Acompanhamento a violino, pelo neto João Graça que tinha o bom hábito de ir anotando, sempre que estava com o avô,  os seus ditos, anedotas e historietas... 


Letra > "Ranchinho Abandonado" (Música e letra: Raul Torres e João Pacífico, 1939).


Você deixou o nosso ranchinho abandonado,
Vive tão triste, o coitado,
Que dá pena até de ver.
Quando anoitece,
Bate a lua no caminho,
E eu lá dentro, tão sozinho,
Fico pensando em você.
Pego a viola p'ra esquecer a minha mágoa 
E os meus olhos, rasos d' água,
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade,
Hoje, eu não posso cantar. 

E o ranchinho continua aqui tristonho,
Acabou-se o antigo sonho,
Veio a tristeza morar.
Em seu lugar só restou essa viola 
Que a minha dor consola
Quando, às vezes, me vê chorar.

Pego a viola p'ra esquecer a minha mágoa,
E os meus olhos, rasos d' água,
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade,
Hoje, eu não posso cantar.



1. Meu pai, meu velho, meu camarada... Faz hoje um mês que nos deixaste... Os confrades da tua confraria da Nossa Senhora dos Anjos, na Lourinhã, mandaram-te rezar uma missa. Pela tua alma. Para que descanses em paz. Para que continues a sorrir-nos, com o teu sorriso lindo, lá da outra margem do rio invisível e intransponível que nos separa...

Tenho pena, mas não posso ir à tua missa, hoje, aí na Lourinhã... Estou a trabalhar a essa hora. Mas eu e o João (que está de férias,  na Índia) estaremos lá contigo, em espírito... Tens lá a Joana,e a Alice, as tuas filhas Graciete e Zairinha, e alguns dos teus netos, e demais família... A Béu, a tua caçoila,  também não poderá ir, está no Fundão, mas rezará por ti...

Temos muitas saudades tuas, pai. Este pequeno vídeo é uma forma de mitigar a nossa dor... Lembras-te ? Era uma das tuas canções favoritas. Estava na moda em Lisboa, quando partiste para Cabo Verde, em 1941... Sempre te a ouvi cantar pela vida fora... Você deixou o nosso ranchinho abandonado, /Vive tão triste o coitado / Que dá pena até de ver... Não, não é uma morna, é uma canção sertaneja, lá do Brasil... De João Aparício, o "poeta do sertão" que morreu em 1998, completamente esquecido...

Pois é, agora foi a tua vez de deixar o teu/nosso "ranchinho abandonado"... Sempre nos protegestes ao longo da tua vida, o melhor que sabias e podias... Agora é a nossa vez de experimentar esse estranho sentimento de orfandade que tu conheceste tão cedo, na tua vida, logo aos dois anos... Nunca soubeste, pela vida fora, o que era o doce amor de mãe... ("Quanto é doce quanto é bom / No mundo encontrar alguém / Que nos junte contra o peito / E a quem nós chamemos mãe"... cantava o poeta e músico Zeca Afonso),


  A tua, a minha avó, foi-se cedo desta vida, ceifada pela tuberculose, em 1922,  logo a seguir à epidemia da pneumónica (1918-19), de que me falavas tanto, embora ainda não fosses nascido quando foi o pico da pandemia. (Recordo-me de me dizeres que "quem se safou, era quem bebia aguardente"...).

Sabes, escrevi uma pequena nota biográfica sobre ti para o jornal da nossa terra, o "Alvorada"... Vou-ta reproduzir aqui, para os meus camaradas lerem, no blogue, de que tu eras (e continuarás a ser) membro... Eles estimavam-te e consideravam-te  como um "mais velho"...  Agora resta-nos o Armando Lopes, cabo verdiano, pai do Nelson Herbert, e que chegou a ser craque da bola na Guiné, com a alcunha de Búfalo Bil... Ainda esteve contigo no Mindelo, em 1943... É da tua idade,,, 

Publico também uma foto tua com a Maria da Graça, quando ainda estavas todo janota, aos 70 anos ... Sabes, estive este fim de semana no Lar, e pude dar-me conta de quanto ela sente a tua falta, mesmo que não já possa expressar as suas emoções... Ela sente a tua ausência, e fixou muita atentamente o artigo do jornal onde vem a vossa foto, de abril de 1991. 

Se não te importas,  nunca me despedirei de ti, vou falando contigo, à minha maneira. Assim como hoje... Entretanto, vamo-nos encontrando por aí e aqui, às vezes com uma lágrima furtiva ao canto do olho... LG

Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra


Luís Henriques, mais conhecido por Luís Sapateiro, ou simplesmente por Ti Luís:


(i) Nasceu na Lourinhã em 1920. Homem de fé, morreu no passado domingo de Páscoa, dia 8 de abril, na Atalaia, no Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, onde vivia desde 2008 com a esposa, Maria da Graça. Morreu em paz, consigo, com os seus descendentes (4 filhos, 12 netos, 5 bisnetos), com Deus e com o mundo. 

(ii) Tinha raízes, pelo lado do pai, Domingos Henriques, no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar (clã Maçarico). Sua mãe, Alvarina de Jesus, morreu jovem, em 1922, de tuberculose, fato que o marcou para toda a vida: a mãe nunca lhe pôde dar um beijo!... E nos seus três últimos dias de existência, em que eu tive o privilégio de o acompanhar no seu leito de morte, evocou o nome da mãe Alvarina, por mais de um vez. Tinha uma enorme afeição por ela.

(iii) Viveu nos primeiros anos de infância com a nova família do pai, que casou pela terceira vez. Ao todo teve uma dúzia de irmãos. Fez a instrução primária (na época quatro anos de escolaridade) na velha Escola Conde de Ferreira (demolida pelo camartelo camarário antes do 25 de abril), sob a direção Professor José António, que ainda conheci na minha infância, pai do meu conterrâneo e amigo Jorge Pedro.


(iv) O seu primeiro emprego foi como marçano, ou melhor, como “máquina registadora e de calcular”, na loja do fotógrafo e comerciante Manuel Lourenço da Luz, que veio da Praia da Vieira para a Lourinhã, na primeira ou segunda década do séc. XX, e que foi pai do fotógrafo António José da Luz (Foto Luz). A loja, na Rua Miguel Bombarda, vendia uma miscelânea de artigos fotográficos, vidraria, molduras, papelaria e bijuteria. O meu pai era muito rápido e fiável a fazer contas. [Vd. foto à esquerda, cortesia da bisneta do Manuel da Luz, a Ana Luz Pignatelli].

Terá trabalhado para o seu primeiro patrão, na Lourinhã e na Praia da Areia Branca, a troco apenas da alimentação e de algumas gorjetas, durante cerca de 4 anos. O meu pai tinha recordações muito nítidas da época balnear, na loja da praia. Além da fotografia, o negócio do Manuel da Luz incluía o comércio de equipamento para caça e pesca. À segunda feira, ia com o patrão para a caça de patos, perdizes e coelhos ao longo do rio Grande…

(v) Aos 13 anos, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco de Sousa (Fofa), músico e industrial de sapataria. Aprende o ofício de sapateiro. É criado com os seus primos António Francisco Sousa, Carlos Sousa e Milu (esta felizmente ainda viva; e todos eles com excelentes dotes musicais: o António tocava saxofone e fundou a primeira "banda de jazz" da terra, o conjunto Sol Do Ré Mi; o Carlos era um especialista em prata na banda da Lourinhã; e a Milú uma bela menina de coro).

(vi) Aos 20 anos assenta praça no RI 5, Caldas da Rainha. Em 1941 parte para Cabo Verde, como expedicionário, com o posto de 1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI 5. Tinha memórias muito vivas (incluindo registos fotográficos) dos difíceis tempos que passou no Mindelo, Ilha de São Vicente (26 meses, entre julho de 1941 e setembro de 1943; nos últimos 4 meses esteve hospitalizado, por problemas pulmonares, entre maio e agosto de 1943).

A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses, o António Correia Caxaria, o Boaventura Horta,  o Jaime Filipe, o  Leonardo, e outros - naturais da vila, da Atalaia, da Serra do Calvo... - que pertenciam à mesma unidade (RI 23, constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44) (*). 

Numa época de elevado analfabetismo, sacrificava os seus tempos livres escrevendo dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos ainda se lembrava dos números de tropa de alguns dos seus camaradas, e até das moradas para onde enviava as cartas. Em nome do Fortunato Borda d'Água, do Cercal, Azambuja, por exemplo, chegava a escrever 22 cartas por semana... O Fortunato  tinha duas namoradas, "uma que chorava ao pé da mãe dele, e outra que se ria, em plena rua"... O meu pai um dia teve que o ajudar a decidir-se:
- Ó Fortunato, afinal de quem é que tu gostas mais ? Com queres casar ? Da que se ri, na rua, ou da que chora no ombro da tua mãe ?...
- Ó Luís, claro que é da que chora...

(vii) A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que fizeram dezenas de milhares de mortos, tiveram impacto na sua consciência de bom português e bom cristão. O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro. Lembro-me de ele me dizer que um cabo ganhava na época  qualquer coisa como 130$00 por mês... De volta à metrópole, não terá mais do que 200$00 ou 300$00 no bolso. Para ele o dinheiro nunca foi fêmea...


(viii) Do Mindelo escreve à sua namorada, futura noiva e esposa, e minha mãe, Maria da Graça:

Maria, minha cachopa,
Não me sais do pensamento,
Tão logo eu saia da tropa,
Trataremos do casamento…


De regresso à Lourinhã, em setembro de 1943, vinha cheio de saudades… de comer uvas. "Vinte e seis meses sem comer uvas, sabes o que é ?", interpelava-me ele, nas nossas conversas sobre Cabo Verde, no Bar dos Cinco Paus, na Praia da Areia Branca...


 Faz sociedade com o seu irmão Domingos Severino, dois anos mais novo, meu padrinho de batismo, já falecido. Abrem a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda. Chegam a ter bastantes empregados. Na época ainda não havia produção industrial de calçado. 

Casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe, filha de camponeses, criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia da Areia Branca e da Lourinhã, desde tenra idade (9/10 anos). Como rapariga que era, naquela época, só tinha a 3ª classe, tirada numa professora particular, mas sabia muito bem ler, escrever e contar. Sei que houve lagosta na festa do casório, a que assistiram amigos e parentes. Na época, a festarola terá ficado por 800$00 (se a memória não me atraiçoa).

 A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. Até 1964, a Maria da Graça dará à luz  ainda mais três raparigas: Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel.


(ix) Continua a jogar futebol, como atleta amador, e ao mesmo tempo participa na vida associativa das diversas coletividades da sua terra, desde o Sporting Club Lourinhanense (SCL) até aos bombeiros, a banda de música e a misericórdia. É mordomo de festas (como a da Sra dos Anjos e de São Sebastião). Quando morreu, era de há muito o sócio nº 1 do SCL, coletividade que de resto sempre o acarinhou e o homenageou, tanto em vida como na morte. Foi treinador de gerações de miúdos, das camadas juvenis, sempre ao serviço do SCL. Comprava-lhes as sandes para o pequeno almoço e arranjava-lhes as botas e aos domingos percorria o distrito de Lisboa, nos torneios de futebol...

Era um bom lourinhanense, muito querido e estimado por toda a gente. Espirituoso, bem humorado, com jeito para o improviso poético, definia assim a sua terra:


Lourinhã, uma vila catita, 
bonita, sem vaidade,
tem montras como uma cidade. 
Mas também ninguém nos engana: 
ao fim de semana, 
sem sol, sem bola e sem missa, 
é uma terra de preguiça… 

Ou noutra variante, mais mordaz:

Lourinhã tem três entradas, 
três saídas, três igrejas, três ermidas,
três moinhos de vento 
e... ladrões em todo o tempo!

(x) Trabalhador por conta própria, deu trabalho a muita gente, numa época em que o emprego era escasso e mal remunerado… Viu muita gente (incluindo os seus empregados) partir para os EUA, o Canadá, a França, a Alemanha, nos anos 50 e 60... Tinha inúmeros clientes, quer da vila, quer das aldeias mais a norte do concelho (do Sobral a São Bartolomeu) e até fora do concelho (Bufarda, por exemplo).  Terá percorrido, na sua vida, muitas dezenas de milhares de quilómetros, de bicicleta,  levando e trazendo calçado dos seus “fregueses”, que muito o estimavam. Aos 90 anos ainda tinha um coração de atleta...

O seu negócio teve altos e baixos, e conheceu vários sócios  e vários locais.  A sua última oficina , onde esteve mais de 30 anos,  foi na Praça Cor António Maria Batista, nº 9, na Lourinhã  (junto ao beco que liga à Rua João Silva Marques). 

Daí também o seu desabafo, sob a forma de parlenda popular: 

À segunda, o trabalho abunda; 
à terça, dor de cabeça; 
à quarta, trabalho à farta; 
à quinta, dança a pelintra; 
à sexta,  o patrão é uma besta; 
ao sábado, o patrão arreliado… passa-se para o outro lado!

 (xi) Foi, além disso, um bom pai e um avô carinhoso. Tinha orgulho nos seus  filhos [, na foto, à esquerda, os dois mais velhos, Luís e Graciete, c. 1950], netos e bisnetos, os quais, por sua vez, tiveram a rara felicidade de estarem junto dele na hora, difícil, da sua partida deste mundo. 

Viveu pobre e morreu pobre. Morreu com dignidade, vítima de doença prolongada. Tinha 12 netos e 5 bisnetos.  Escreveu,por sugestão minha,  um diário (cerca de 500 páginas manuscritas) entre 2008 e 2011. 

Viveu os seus últimos quatro anos no  Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, onde encontrou uma segunda família. Em 30/10/2008 escrevia no seu diário: 

“(…) nesta nova família que nos arranjaram, fico triste pelos que se encontram piores do que eu. Não tenho culpa de ter nascido assim. Por tudo isto,  sou feliz, embora pobre, mas alegre, e gosto de conviver com todos. É esta a minha política: esquecer as minhas dores lembrando dos que se encontram  bem piores do que eu (…)”.  

(xii) Os seus familiares e amigos mais próximos lembrá-lo-ão sempre como um homem simples mas único, que irradiava alegria de viver e boa disposição. Não deixa “obra feita”, como sói dizer-se. Mas o seu exemplo de generosidade, bondade e otimismo perdura para além da morte. É o património (imaterial) que nos deixa. Para os seus filhos, netos e bisnetos, foi um privilégio tê-lo como pai e avô. Para eles, foi e será sempre o melhor pai e avô do mundo.


(xiii) Uma palavra muito especial de agradecimento é devida à direção do SCL e ao  Lar e Centro de Dia da Atalaia (na pessoa da sua diretora técnica dra. Ana Caetano, do médico dr. Rui Martins e dos demais profissionais - grandes profissionais, grandes mulheres! - que cuidaram do meu pai, até à sua morte,  com uma inexcedível competência, dedicação e humanidade). Mas também aos seus parentes, amigos, conterrâneos e vizinhos que se interessaram pelo seu estado de saúde e que o acompanharam até à sua última morada na terra. 

Por fim, um xicoração muito especial aos elementos do Coro Municipal da Lourinhã, Rui Mateus, Moura (grande companheiro do meu pai nas jogatanas de damas), Quim Zé e Ana Mateus que no cemitério cantaram para ele e para todos nós a famosa e sublime canção alpina  “Signore delle cime”, composta em 1958 pelo italiano Giuseppe de Marzi: 

Dio del cielo, Signore delle cime,
Un nostro amico hai chiesto alla montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo:
Su nel Paradiso, sul nel Paradiso
lascialo andare per le tue montagne.

Santa Maria, Signora della neve,
Copri col bianco soffice mantello,
Il nostro amico, nostro fratello,
Su nel paradiso, su nel paradiso
Lascia lo andare per le tue montagne.

Dio del cielo, l’alpino chè caduto,
Ora riposa nel cuor della montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo.
Una stell’alpina, una stell’alpina
Lascia cadere dalle tue montagne.



Lourinhã > Abril de 1991 > Maria da Graça (n. 1922) e Luís Henriques (1920-2012)




Portugal > Cadaval > Adão Lobo > 18 de junho de 1950 > Equipa de futebol do Sporting Clube Lourinhanense (SCL) no campo de jogos do Adão Lobo. O segundo da primeira fila, da esquerda para a direita, assinalado com um círculo a vermelho, é o meu pai, Luís Henriques, então com 29 anos... Esteve toda a vida ligada ao futebol, quer como jogador quer como dirigente e treinador de futebol das camadas mais jovens...

Esta foto foi tirada no dia em que o Benfica (seu clube do coração) ganhou a Taça Latina, disputada no Estádio Nacional do Jamor, um dos ícones do Estado Novo. Como dizem as crónicas da época, foi o primeiro feito internacional do S.L. Benfica, e pôs o país a vibrar de emoção: primeiro, o Benfica eliminou a Lázio nas meias-finais, por 3-0; depois empatou com o Bordéus, por 3-3,na final, em 11 de junho; e na finalíssima, uma semana depois, venceu os franceses por 2-1.

Esta foto é também uma homenagem à geração do meu pai para quem o futebol foi uma paixão... Aqui ficam os nomes dos jogadores do SCL, identificados um a um no dia em que o meu pai festejou os seus 90 anos (tinha uma memória de elefante!):

"De pé, da esquerda para a direita, o filho do Vitor Pedro, o Miranda (Alfaiate), o Jorge Tarofa (ou Jorge Serralheiro), o José Costa (que haveria de morrer em Angola), o José Miguel, o Américo Russo, o Manuel Swing, o António Serralheiro; na primeira fila, da esquerda para a direita, o Vitor Pedro, o Luís Henriques, o António Zé da Graça [, guarda-redes], o Manuel Dias (Néu), o Artur Borges, e o João Borges". E acrescenta o meu pai: "Perdemos 3 a 2. Nesse dia faltaram três ou quatro dos nossos melhores jogadores: o Gino (ou Higino), o Mário Pepe, o Manuel Ferrador, o António Costa"... 

Quase todos estes lourinhanenses já morreram, com uma exceção ou outra: o Jorge Tarofa, por exemplo, ainda está entre nós; o Jorge Borges, não tenho a certeza. 






Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Junho de 1943. Alguns internados do depósito dos convalescentes. Entre eles, estou também eu, sentado, lendo [o livro ] Os Bastidores da Grande Guerra. Luís Henriques , 1º Cabo nº 188/41, 1º Batalhão Expedicionário, R.I. nº 5. S. Vicente. C. Verde" [ O meu pai é o primeiro da 1ª primeira fila, do lado direito, assinalado com um círculo a vermelho; esteve internado cerca de 4 meses, já no final da comissão, por doença de pulmões; a morbimortalidade entre os expedicionárias era elevada; o livro em, questão podia o ser de Adolfo Coelho, Nos bastidores da grande guerra, documentário, editado em 1934, em Lisboa, pela Livaria Clássica Editora].


Texto, fotos e legendas: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados


Uma versão mais curta deste texto foi publicado no jornal Alvorada, [Lourinhã,] nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26. E pode ser lida aqui também, no blogue A Nossa Quinta de Candoz.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9744: Meu pai, meu velho, meu camarada (28): O RI 23, (re)constituído na Ilha de S. Vicente (agosto de 1941/dezembro de 1944): a unidade a que pertenceram Luís Henriques, Ângelo Ferreira Sousa, Porfírio Dias e Armando Lopes (José Martins)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9564: O PIFAS, de saudosa memória (5): Quando o Autocarro do Amor fazia escala na Guiné (Augusto Silva Santos)

O PIFAS de Augusto Silva Santos


1. Mensagem de Augusto Silva Santos*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 4 de Março de 2012:

Olá Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Na sequência da solicitação do Luís Graça sobre o assunto em epígrafe, venho por este meio dar o meu pequeno contributo para este tema, no qual também junto uma foto do meu "PIFAS", velhinho de 40 anos. É algo, entre outras coisas, que guardo quase religiosamente, a maior parte pelas boas recordações que me trazem.

Foi um programa radiofónico que me marcou muito na altura da minha passagem pela Guiné. Era a nossa grande companhia no dia-a-dia que, de alguma forma, ajudava a passar melhor o tempo e a matar saudades através dos muitos temas que passavam.

Infelizmente não me recordo muito bem dos nomes dessas canções ou de quem as cantava, mas lembro-me por exemplo de uma muito engraçada que ainda hoje (embora raramente) se ouve passar nas rádios locais, que salvo erro começava assim: "Era o autocarro do amor". Julgo que não é este o título, mas era assim que era conhecida.

Também me lembro que na altura se ouvia alguma música africana, nomeadamente de Cabo Verde, na parte dos discos pedidos. A esse propósito, também me recordo de algumas passagens com certo humor aquando das solicitações, como por exemplo estando na altura muito em voga as músicas do Gianni Morandi, de alguém solicitar a passagem da canção "Non son degno di te", como "Não sou digno di bo".

Pesquisa CV: Capa do single "O Autocarro do Amor" interpretado por "Os Taras" e Montenegro

Um Grande Abraço
Augusto Silva Santos
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8256: Controvérsias (122): Exemplar de Bilhete Postal da Guiné, edição da Casa Mendes - Bissau (Augusto Silva Santos)

Vd. último poste da série de 5 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9563: O PIFAS, de saudosa memória (4): Discos pedidos: Para o Mamadu Djaló que firma no Catió, a canção de Gianni Morandi 'Não sou digno di bó'... (Luís Borrega / Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P9563: O PIFAS, de saudosa memória (4): Discos pedidos: Para o Mamadu Djaló que firma no Catió, a canção de Gianni Morandi 'Não sou digno di bó'... (Luís Borrega / Joaquim Mexia Alves)

1. Comentário do Luís Borrega, ao poste P9558 (*)

Camaradas

Ainda me lembro do seguinte:

Numa programa de Discos Pedidos do PFA, foi mais ou menos isto:

Boa noite!
Aqui Programa das Forças Armadas...
Discos pedidos... 
Vamos dedicar a Mamadu Djaló que firma no Catió, a canção de Gianni Morandi "Não sou digno di bó "

... E depois tocou o disco (*)...

Abraço
Luís Borrega


2. Comentário de L.G.:

Já há uns bons atrás o Joaquim Mexia Alves se tinha lembrado dessa frase célebre que corria a toda a hora, no programa dos discos pedidos (vd. Poste P1322, de 27 de novembro de 2006):


(...) Li agora o último poste do Jorge Cabral e à conta da música e do crioulo, lembrei-me da célebre frase que corria na Guiné, dita na rádio (qual rádio?), no programa de discos pedidos, e que era assim, mais coisa menos coisa:
- Para Mamadu Djaló qui firma no Catió, Gianni Morandi canta Cá sou degno di bó!!!
Lembremo-nos que era uma célebre música desse cantor italiano, Gianni Morandi [n. 1944], do ano de 1964, e que tinha por título Non sono degno di te [Não sou digno de ti]. (...).

Também o Jorge Portojo se lembra de ouvir o Não sou digno di bó, lá em Catió, no Bar do Libanês, o que só vem  comprovar a fama e a longevidade quer do Gianni Morandi quer do Mamadu Djaló...

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Notas do editor:


(**) Gianni Morandi (n. 1944, Monghidoro,Emilia-Romagna, província de Bolonha, norte de Itália) (Vd. sítio oficial do cantor; mas também a Wikipédia).

 
Letra e música: Non son degno di te (Ver vídeo, aqui, no You Tube, com legendas em português)... A canção ganhou o Primeiro Prémio do Festival delle Rose, 1964...

O vídeo começa com um  militar de carreira,  já de idade madura, de bigodinho à moda dos anos 50/60, e acentuadas entradas na testa, a recordar o seu grande amor dos verdes anos, não correspondido... com Gianni Morandi, vestido de magala, aos 20 anos, fazendo serenata à janela da pequena... Um sucesso estrondoso nos anos 60, e um dos discos mais pedidos no PIFAS... ainda no início dos anos 70 (nesse ano, Gianni Morandi, representou a Itália no Festival da Eurovisão)... Recorde-se aqui o bel ragazzo, destroça-corações...

NON SON DEGNO DI TE
Migliacci-Zambrini

Non son degno di te
non ti merito più
ma
al mondo non esiste nessuno
che non ha sbagliato una volta

E va bene così
me ne vado da te
ma
quando la sera tu resterai sola
ricorda qualcuno che amava te.


Sui monti di pietra può nascere un fiore
in me questa sera è nato l’amore per te 

E va bene così
me ne vado da te
ma
al mondo no non esiste nessuno
che non ha sbagliato una volta
amor!

Non son degno di te
non ti merito più
ma quando la sera tu resterai sola
ricorda qualcuno che amava te
amore amor
amore amor.


Tradução livre (LG):

Não sou digno de ti,
não te mereço mais,
mas,
no mundo não existe
quem não tenha errado uma vez!


E está bem assim,

deixo-te,
mas,
quando à noite estiveres sozinha,
lembra-te de alguém que te amava.
Num monte de pedras pode crescer uma flor,

em mim, esta noite,   nasceu o amor por ti.

E está bem assim,
deixo-te,
mas,
no mundo, não, não existe ninguém, amor,

que não tenha errado uma vez!

Não sou digno de ti,

não te mereço mais,
mas, quando à noite estiveres sozinha,

lembra-te de alguém que te amava,
meu amor,

meu amor!

domingo, 27 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9104: Agenda cultural (172): Fado, Património Cultural Imaterial da Humanidade





III Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine > Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 >    Fado da Guiné > Vídeo: 2 m e 19 s > Alojado no You Tube > Nhabijoes > Letra do Joaquim Mexias Alves. Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera) (com a devida vénia). Acompanhamento: J. L. Vacas de Carvalho e David Guimarães (violas). Julgo que foi a estreia absoluta mundial deste fado... As condições de execução e gravação não foram seguramente as melhores, mas o que conta(va) é(era) a atitude dos nossos artistas... (LG)

Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.





1. No dia em que foi aprovada a candidatura portuguesa do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, a nossa Tabanca Grande (onde há muita gente, amigos e camaradas da Guiné,  que gosta do Fado, que o escreve, que o sente, que o canta, que o toca e até que o estuda), associamo-nos, com regozijo, a essa grande honra mas também grande responsabilidade que nos é conferida pela UNESCO... E a melhor maneira é relembrar (e divulgar, mais uma vez) aqui o Fado da Guiné, criado e interpretado pelo nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (*)... Mas também apelar à preservação e divulgação de letras de fado e outras canções que, de Bissau a Bajocunda, de Varela a Madina do Boé, se cantavam nos nossos aquartelamentos e destacamentos...


Sobre Fado e Fado da Guiné, temos já cerca de duas dezenas referências no nosso blogue, referentes nomeadamente a recolhas de letras de fados que eram  cantados no nosso tempo, no TO da Guiné (**)... Um dos primeiro postes do nosso blogue, I Série (em 11 de Maio de 2004), foi de resto dedicado ao famoso Cancioneiro do Niassa onde há diversas adaptações de fados conhecidos...

Como então escrevi, vários poetas e versejadores, de maior ou menor talento, pertencentes aos três ramos das forças armadas, contribuiram anonimamente, na região do Niassa, no TO de Moçambique,  para aquilo a que depois se veio a chamar o Cancioneiro do Niassa, e que passaram na então Rádio Metangula (em 1968/69).  As letras eram acompanhadas por melodias em voga na época, incluindo tangos, baladas e fados, tradicionais ou não, ainda hoje facilmente reconhecíveis (por ex., A Casa da Marquinhas, de Alfredo Marceneiro, ou a Júlia Florista, da Amália).

O seu interesse não é apenas literário mas também  documental, socioantropológico... Temos procurado também, no nosso blogue, (re)construir o Cancioneiro da Guiné, de que este fado do Joaquim Mexias é já uma peça emblemática. (LG)
Fado da Guiné


Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)

Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Bojador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,

18 de Agosto de 2007
 ________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves) 



(**) Último poste da série > 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9098: Agenda Cultural (171): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (9): Rescaldo da sessão do dia 23 de Novembro de 2011 (Carlos Cordeiro)

domingo, 30 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8963: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (III e última parte) (Luís Dias)


Guiné > Zona leste > Setor de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 3491 (1971/74) > Em primeiro plano, o Gen Spínola e o Cap Mil Pires, comandante da CCAÇ 3491, na inaguração do Quartel do Dulombi, em 27 de Abril de 1972. Em 2º plano, o Alf Mil Dias.

Foto (e legenda): © Luís Dias (2011).  Todos os direitos reservados. 



1. Continuação do texto de Luís Dias (*):


As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (III e última parte)

por Luís Dias

ANO DE 1973



10 CC – “Rubber bullets”, um tema interessante sobre uma revolta numa cadeia e a repressão a surgir feita de balas de borracha, foi o segundo single desta banda que se lançara na música com este nome em 1972, embora os seus principais membros viessem de outros grupos, nomeadamente, dos Mindbenders. O seu maior êxito iria surgir em 1975, com o tema “I´m not in love”.


ALICE COOPER – “No more Mr. nice guy” e “Billion dollar babies” são temas da evolução desta banda que foram sucessos.


AMERICA – “Don´t cross the river” foi mais um bela canção deste grupo vocal.


BILLY JOEL – “Piano man” é o primeiro sucesso deste cantor/compositor e pianista nova iorquino, retirado do álbum com o mesmo nome, saído também em 1973. Muitos outros grandes sucessos se seguiriam, mormente:”The entertainer”, “Just the way you are”, “The stranger”, “Honesty”, “You maybe right”, “It´s still rock´n´roll to me”, “This is the time”, “Uptown girl”, (de 1983, em cujo teledisco entrava a lindíssima super modelo Christie Brinkley, na altura esposa do cantor e que era famosa pelo anúncio ao Martini, em que entrava de patins num elevador, com uma bandeja com a bebida) “We didn´t start the fire”, “New York state of mind”, “Good night Saigon” e “River of dreams”. Billy Joel retirou-se da produção de álbuns em 1993, dedicando-se a concertos ao vivo. Produziu 13 álbuns de originais, 4 álbuns ao vivo, 11 colectâneas de êxitos e 59 singles.


BLACK SABBATH – “Sabbath bloody sabbath”. A banda continuava em grande estilo e este tema foi a grande música do seu trabalho com o mesmo nome. A partir deste álbum o sucesso manteve-se em termos de concertos ao vivo, mas os temas que foram saindo não tiveram o êxito dos temas dos álbuns produzidos até 1973. O grupo continuou a fazer originais até 1995, com mudanças constantes na composição dos membros da banda.


BOB DYLAN – “Knockin´on heaven´s door” é uma das músicas mais importantes deste fabuloso cantor e foi composta para o filme do realizador Sam Peckinpah, “Pat Garret & Billy The Kid”. Mais tarde, Eric Clapton teria um grande êxito com esta mesma composição.


BOB MARLEY – “I shot the sheriff”- Um grande tema e um grande êxito para o cantor jamaicano, um dos monstros da música Reggae. Morreu de cancro em 1981 e o seu enterro na Jamaica foi uma cerimónia digna de qualquer chefe de estado. “Lively up yourself”, “Get up, Stand up” e o fabuloso “No woman, no cry” são temas que ainda mexem com os amantes da boa música. Eric Clapton também pegou no tema “I shot the sheriff” e fez dele um sucesso.


COCKNEY REBEL –“Sebastian”: O tema mais conhecido desta banda, que em 1975 adoptaria o nome de Steve Harley & The Cockney Rebel. Praticando um Art Rock/Glam Rock, o grupo nunca atingiu grande fama, embora tivesse um grande núcleo de fãs na Grã-Bretanha.


ELTON JOHN – “Candle in the wind”, “Crocodile rock” e “Saturday night it´s all right for fighting”, com estes temas Elton continuava a sua ascensão para o estrelato e iriam consagrá-lo como um dos grandes compositores da música moderna.


EMERSON, LAKE & PALMER – “Still you turn me on” e “Jerusalem”, ambas do album “Brain salad surgery” do ano de 1973 foram os temas do momento para este grupo.


GENESIS – “I know what I like”, “Firth of fifth” e “The battle of epic forest”, foram os temas mais importantes do excepcional álbum “Selling England by the pound”, sendo que o primeiro tema era dos mais apreciados pelos fâs da banda e foi, sem dúvida, um grande sucesso comercial. Em 1974 sairia o álbum colocaria os Genesis como uma das mais importantes bandas da cena rock – o “The lamb lies down on Broadway” – em que se salienta as músicas “The lamb lies down on Broadway”, “Counting out time”, “The carpet crawlers” e “The lamia”.


Em 1975 a banda deu um concerto memorável no pavilhão de Cascais (em que tive o privilégio de estar presente) e regressou ao nosso país, em 1990, para um concerto no Estádio de Alvalade (em que também estive presente).


GENTLE GIANT –“In glass house” foi uma das mais populares canções desta banda inglesa de Progressive Rock/Jazz Rock/Symphonic Rock, que se iniciara em 1970, sendo que em 1973 lançaram o seu quinto trabalho. A banda nem sempre foi muito bem acolhida, embora os seus membros fossem excelentes músicos. Produziram 11 álbuns de originais, 5 ao vivo e 6 compilações.


JIM CROCE – “Which way are you going” é, do meu ponto de vista, uma das melhores músicas deste cantor/compositor, falecido num desastre de aviação nos Estados Unidos, neste mesmo ano. É também uma das músicas mais importantes da cena rock internacional.

“Which way are you going? Which side you will be on? Will you stand and watch, while all the seeds of hate are sown”


“Qual é o caminho por onde vais? De que lado é que tu estás? Ficas parado a olhar enquanto as sementes do ódio estão a germinar”.


“One hand on the bible, one hand on the gun”  (Uma mão na bíblia e a outra mão na arma).

“´Cause you love the baby, but you crucify the man” (Amas a criança, mas crucificas o homem).

JOHN LENNON –“Mind games”, de um dos mais prestigiados elementos dos “FAB FOUR”, ou seja dos Beatles, era o tema preferido do seu álbum com o mesmo nome. John Lennon, após a separação dos Beatles, inicia uma carreira a solo que obteve grandes êxitos, em especial com temas como: “Peace a chance”, “Instant kharma”, “Mind Games”, “Imagine”, “Bless you”, “What ever gets thru´the night”, “Just like starting over” e “Woman”. O músico viria a ser assassinado a tiro, pelo fanático Mark Chapman, com 4 tiros pelas costas, em 8 de Dezembro de 1980.


LED ZEPPELIN –“The song remains the same” é o tema principal do album deste super grupo de Blues Rock/Folk Rock/Hard Rock/Heavy Metal, saído neste ano.


A banda formou-se em 1968, em Inglaterra, com os músicos: Robert Plant (Vocalista), Jimmy Page (Guitarrista), John Paul Jones (Baixista/Teclista) e John Bonham (Baterista). A batida rítmica, o som da guitarra, o timbre do vocalista, tornaram-nos precursores do Hard Rock e Heavy Metal. É considerada a melhor banda dos anos 70 e uma das melhores de toda a história do rock. Venderam 300 milhões de discos em todo o mundo, sendo que 111,5 milhões deles o foram nos EUA. Se os Beatles influenciaram a década de 60, o mesmo se pode dizer dos Zeppelin na década de 70. A banda terminou em 1980, após a morte do seu baterista Bonham. Em 2007 os membros sobreviventes e o filho do falecido Bonham (Jason Bonham) reuniram-se para um concerto na O2 Arena, em Londres.


A discografia da banda consiste em 9 álbuns de estúdio, 3 álbuns ao vivo, 9 discos de compilações, 19 singles e 2 vídeos álbuns.


Os meus temas predilectos são: Álbum Led Zeppelin (1969): “Good times, bad times”, “Babe I´m gonna leave you”. Álbum Led Zeppelin II (1969): “Whole lotta love”, “Heartbreaker”. Álbum Led Zeppelin III (1970): “Immigrant song”, “Since I´ve loving you”. Álbum Led Zeppelin IV(1971):”Black dog”, “Rock´n´roll”, “Stairway to heaven”. Álbum Houses of the holy (1973): “The song remains the same”. Álbum Physical graffiti (1975): “Kashmir”. Álbum Presence (1976):”Nobody´s fault but mine”. Álbum In through the outdoor (1979): “In the evening”, “All my love”.


MIKE OLDFIELD –“Tubular bells” é uma obra musical deste excelente músico multi-instrumentista que tendo sido gravada no ano de 1972, apenas saiu em 1973, aquando do lançamento da editora Virgin Records.

Em 1983 o tema “Moonlight shadow” iria ser um êxito à escala mundial, mas irá ficar na história da música rock, essencialmente, pela obra “Tubular bells”.


PAUL McCARTNEY & THE WINGS –“My love”, "Band on the run” e “Live and let die” (música do filme de James Bond do mesmo ano), foram os temas mais importantes deste importante músico, o ex-baixista dos Beatles, no ano de 1973. Sir Paul é um dos maiores compositores da música rock, segundo as revistas da especialidade. Quer nos Beatles, quer com os Wings, quer a solo, Paul construiu algumas das mais belas composições da música moderna. Não nos esquecemos da fantástica música dos Beatles “Yesterday”, considerada a canção com mais diversas “covers” de todos os tempos e as que compôs a solo como: “Baby I´m amazed”, “Another day”, “Mary had a little lamb”, “My love”, “Live and let die” (usado como tema de um filme de James Bond), “Jet”, “Bando on the run”, “Silly love songs”, “Mull of Kintyre”,”Ebony and Ivory” (com Stevie Wonder),”Tug of war”, “Say say say” (com Michael Jackson), “Pipes of peace”, “No more lonely nights”, “We all stand together” e “Spies like us”.


PAUL SIMON – “Kodachrome” e “Take to the mardigras” são temas importantes da carreira a solo deste compositor/cantor.


PINK FLOYD – “The Great gig in the sky”, “Breathe”, “Time”, “Money”, e “Us and them”, 4 maravilhosos temas do mais importante álbum destes extraordinários músicos, “The Dark side of the moon”.

A banda de Progressive Rock/Psychedelic Rock, teve o seu início em 1965, fundada por: Roger Waters (guitarra baixo e voz), Richard Wright (teclista), Nick Mason (baterista) e Syd Barrett (guitarrista e voz). Em 1967 surgiu o seu primeiro álbum, “The piper at the gates of down”, onde se incluíam os singles, “Arnold Layne” e “See Emily Play”.

Devido a doença Syd é substituído em 1968 por David Gilmour, embora ainda tome parte no segundo álbum (a única vez que os Pink são 5 elementos), “A saucerful of secrets”, de 1968. Seguem-se os álbuns: “More” (1969”, “Ummagumma” (1969), “Atomic heart mother” (1970), “Meddle” (1971), “Obscured by the clouds” (1972), “The dark side of the moon” (1973), “Whish you were here” (1975), “Animals” (1977), “The wall” (1979). Nesta altura Rick Wright abandona a banda e na gravação do álbum “The Final cut” (1983), é substituído por Andy Bown (órgão) e Michael Kamen (piano).

Em 1985 Roger Waters, uma das figuras mais importantes da banda entra em litígio com os outros membros e abandona o grupo, que continuam a tocar usando o nome de Pink Floyd o que foi contrariado em tribunal por Waters, tendo no entanto a formação restante conseguido o acordo. Em 1987, Richard Wright retorna ao grupo e é lançado o álbum “A momentary lapse of reason”, seguindo-se em 1994 o álbum “Division bell”.


A banda Pink Foyd é uma das mais extraordinárias rock bands de todos os tempos, com 200 milhões de discos vendidos, influenciando muitos outros músicos. O álbum “the dark side of the moon” manteve-se no Top 100 de vendas por mais de uma década.Temas como: “If”, “Echoes”, “Atomic heart mother”, “Stay”, “The Great gig in the sky”, “Breathe”, “Time”, “Money”, e “Us and them”, “Shine on your crazy diamond”, “Whish you were here”, “Pigs on the wing 1”, “Another brick in the wall”, “Comfortably numb”, “Run like hell”, “Not now John”, “Learning to fly”, “The dogs of war”, “On the turning away”, “What do you want from me”, “Take it back”, “Coming back to life”, “High hopes”, “A great day for freedom” e “Keep talking” são conhecidos à escala mundial.


Tive a alegria de assistir ao 1º concerto dos Pink Floyd em Portugal (22 de Julho de 1994), com 60 000 pessoas (mais 60 000 no segundo, a 23/7), realizado no Estádio de Alvalade.


Em 2 de Julho de 2005, a banda reuniu-se novamente para um show no “Live 8”, em Londres, contando também com a presença de Roger Waters. Era a primeira vez em 24 anos que voltavam a tocar juntos. A banda tocou um conjunto de quatro canções consistindo em "Speak to Me/Breathe/Breathe (Reprise)", "Money", "Wish You Were Here" e "Comfortably Numb", com Gilmour e Waters dividindo os vocais. No final da performance Gilmour agradeceu "muito obrigado, boa noite" e começou a sair do palco. Waters chamou-o, e então a banda deu um abraço colectivo, que se tornou uma das imagens mais famosas do “Live 8”.


PROCOL HARUM – “A rum tale” – O último tema interessantes desta banda, integrado no álbum “Grand hotel”. O Grupo tocaria em Portugal em Fevereiro de 1973, no Pavilhão de Cascais.


QUEEN – “Keep yourself alive” tema do primeiro álbum de originais de uma banda que veria a ser líder no mercado comercial da música internacional, especialmente devido à voz forte e empenho visual do vocalista Freddie Mercury.


RICK WAKEMAN – “The six wives of Henry VIII” foi o primeiro disco de originais deste famoso teclista inglês, que tocou com os “Strawbs” e com os famosos “Yes”. O álbum seria muito bem recebido e originou que o músico continuasse a produzir discos a solo, entre os quais: “Journey to the centre of the Earth”; “The myths and legends of King Arthur and the knights of the round table”; “Lisztomania”; “No earthly connection”; “White rock” e “Criminal record”.



ROBERTA FLACK – “Killing me softly with his song”, ofereceu-lhe um “Grammy” no ano seguinte e foi das músicas mais ouvidas desta cantora de R&B/Soul/Jazz.


ROGER DALTREY – “Giving it all away” tema do primeiro trabalho a solo do vocalista da famosa banda “The Who”, que conseguiu algum êxito nas “Charts” internacionais.


ROGER McGUINN – “The water is wide” é um dos temas do primeiro registo a solo do guitarrista e vocalista dos “Byrds”, famosa banda norte-americana de Country Rock/Folk Rock dos anos 60.


ROLLING STONES – “Angie” foi um estrondoso “hit”, de uma das mais importantes bandas de Blues Rock, da cena musical internacional. O seu nome dispensa quaisquer apresentações, pois, a par dos Beatles, foram dos grupos mais conhecidos e com maior produção musical que se conhece. A discografia dos Rolling Stones, banda inglesa, consiste em vinte e nove álbuns de estúdio, dez álbuns ao vivo, trinta e uma compilações, dezasseis álbuns vídeo, cinquenta e sete videoclips e noventa e dois singles oficiais. ´

 O seu produto vendeu milhões de discos e os seus temas, tais como: “I can´t get no, satisfaction” (um hino da geração de 60), “Tell me”, “Carol”, “Time is on my side”, “Lady Jane”, “Mother´s little helper”,”She´s a rainbow”, “Sympathy for the devil”, “Street fighting man”, “Angie”, “Gimme shelter”, “Live wiht me”, “You can´t always get what you want”, “Midnight rambler”, “Brown sugar”, “Tumbling dice”, “It´s only rock´n´roll, but I like it”, “Honky tonk women”, “Fool to cry”, “Emotional rescue”, “Where the boys go”, “Start me up”, “Waiting on a friend”, “Undercover of the night”, “Harlem shuffle”, “Rock and a hard place”, “You got me rocking”, “Anybody seen my baby?”, “19th nervous breakdown”, “Let´s spend the night together”, “Ruby Tuesday”, “Paint it black”, “Under my thumb”, “Jumpin´jack flash”, “As tears go by”, “Out of time”, “Bitch”, “Rough justice”, serão para sempre lembrados no “Hall of rock music”.


STRAWBS – “Part of the union” foi o maior sucesso desta banda inglesa de Folk Rock. Canção de intervenção sobre as greves e o papel dos sindicatos.


STYX – “Lady” é um dos mais reconhecidos temas desta banda norte-americana, dos irmãos Panozzo e do seu principal vocalista Dennis DeYoung. O tema pertence ao seu segundo álbum – “Styx II” – e iria ser um grupo de muito sucesso, principalmente nos EUA, reconhecido pelos seus temas melódicos, pelas estruturas vocais e pela conceptualidade que aplicavam na maioria dos seus álbuns. Iniciada em 1972, a carreira dos Styx irá prolongar-se até 2005, embora com diversas alterações nos seus membros. Produziram 15 álbuns de estúdio, 6 álbuns ao vivo, 6 discos de compilações e 37 singles. Entre os seus temas mais famosos podemos incluir, para além de “Lady”: “Lorelei”, “Come sail away”, “Fooling yourself”, “Babe”, “Too much time on my hands”, “Rockin´the paradise”, “Mr. Roboto”, “Don´t let it end”, “Show me the way” e “Paradise”.


THREE DOG NIGHT – “Shambala” foi o sucesso deste ano para o grupo de “Pop Rock”/Blue Eyed Soul” de Los Angeles, que já era conhecido da cena rock desde 1968, em especial por interpretar músicas (“covers”) de outros músicos e que se tornaram grandes êxitos, pelas vozes deste famoso trio. Canções variadas como: “One”, “Mama told me not to come”, “Joy to the world”, “An old fashioned love song”, “Easy to be hard” (fantástica melodia do filme hair), “Black and white”, “Cyan”, “Celebrate” e “Seven separate fools”, são temas tornados interessantes pela interpretação dos TDN, que iriam continuar a produzir música até 1983.


T. REX – “20th century boy” e “Children of revolution” eram os temas na berra deste grupo de “Folk Rock”/”Glam Rock”, também conhecidos por Tyrannossaurus Rex. A banda movimentava-se envolta do seu vocalista Marc Bolan e terminou quando este morreu num acidente de carro em 1977. Outras músicas conhecidas eram: “Get it on”, “Ride a white swan”, “Hot love”, “Telegram Sam” e “Metal Guru”.



THE WHO –“Love reign on me”, “5.15” e “ReaL one” eram temas do duplo album conceptual “Quadrophenia” deste grande grupo inglês de estilos “Rock”/”Hard Rock”/”Art Rock”/”Proto Punk Rock”/”Psychedelic Rock” e a banda favorita dos grupos “Mods”. Os The Who já andavam na música desde 1965 e os seus concertos ao vivo era uma pedrada no charco, em especial com as “perfomances” do seu guitarrista, Pete Townsend a quebrar a guitarra e do baterista Keith Moon a partir também a bateria. Três dos seus principais álbuns foram utilizados para sonorizar filmes com o mesmo nome dos títulos dos álbuns: “Tommy” (não nos esquecemos das soberbas interpretações de Elton John no tema “Pinball wizzard” e de Tina Turner no “The acid queen”), “The kids are alright” e ”Quadrophenia”. Algumas das suas músicas inspiraram toda uma geração e eram perfeitas críticas sociais daqueles tempos: “Substitute”, “My generation”, “I´m a boy”, “Pictures of Lily”, “I can see for miles”, “Magical bus”, “The seeker”, “Summertime blues”, “I´m free”, “Baba o´Riley”, “The song is over”, “Behind blue eyes”, “Won´t get fooled again” (tema que viria a ser usado no genérico das séries CSI) e “Who are you”.


A banda era inicialmente formada por Roger Daltrey (Vocals), Pete Townsend (Guitarra), John Entwistle (Baixo) e Keith Moon (Bateria). Em Setembro de 1978 o baterista morre a dormir com uma “overdose” de um medicamento para combater o alcoolismo e é substituído pelo ex-baterista dos Small Faces e Faces, Kenney Jones. Kenney Jones deixa a banda em 1988, vindo a ser substituído por outros bateristas. Já em 2002, num hotel em Las Vegas, antes da Tour Americana, John Entwistle é encontrado morto no seu quarto, vítima de um enfarte causado por ingestão de cocaína.


A banda interveio nos famosos festivais de “Woodstock”, em 1969 e “The Isle of Wight”, em 1970 e foram os inspiradores de largas dezenas de rockers pelo mundo inteiro.


ZZ TOP – “La grange” é um dos excelentes temas da banda texana de Blues Rock/Hard Rock/Southern Rock, que lançara o seu primeiro álbum em 1971. O trio de barbudos são um grupo muito conceituado nos EUA, onde as suas músicas alcançaram os Top e temas como: “Sharp dressed man”, “Legs”, “Viva Las Vegas”,”Tube snake boogie”, “Gimme all your lovin´”, “Tush”, “Rough boy” e “Double back”, ainda hoje são canções muito estimadas pelos fãs. O grupo continuou a produzir álbuns de originais até 2003 e “Tours” até 2010.


Estas foram as músicas que, naqueles anos, foram a minha companhia ao longo da comissão. As músicas de intervenção ouvia-as com bastante à vontade na sede do batalhão, em Galomaro, sendo que, numa das vezes, o Comandante interpelou-me para me perguntar quem era o cantor, por acaso era o Zeca Afonso, e ele apenas referiu a sua excelente qualidade vocal, depois de lhe dizer o seu conhecido nome.

Não posso afirmar que tivesse uma música preferida pois elas são muitas e variadas, mas “Which way are you going?” de Jim Croce, era, indubitavelmente, um dos temas meus preferidos e apropriado ao que ali passávamos.


Um abraço, Luís Dias
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8950: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (Parte II) (Luís Dias)