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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7683: Memória dos lugares (126): Os meus camaradas da CCAÇ 6, em Bedanda (Dezembro de 1971 / Março de 1972) (Mário Bravo, ex-Alf Mil Med)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, entre os furriéis da companhia... Boa disposição, boa música, bom uísque (a garrafa mais pequena era de Old Parr, uísque velho)... Os nomes  dos furriéis já se varreram da memória do nosso camarigo... O Mário Bravo não terá estado mais do que 4 meses em Bedanda (enter Dezembro de 1971 e Março de 1972, com algumas saídas, pelo meio, até Guileje, Gadamael e Cacine)...  A CCAÇ 6 era então comandada pelo jovem Cap Cav Carlos Ayala Botto, futuro ajudante de campo do Gen Spínola.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, tendo a seu lado o Alf Mil Borges, açoriano... 




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo, ao meio, ladeado pelos Alf Mil Borges (à sua direita) e o Figueiras (à sua esquerda)



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  O Alf Mil Médico  Mário Bravo posando num monumental bagabaga (com cerca de 5 metros de altura)...



1. Mais fotos enviadas pelo  nosso camarada Mário Bravo (ou Mário Silva Bravo), ex-Alf Mil Med, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72), hoje cirurgião, ortopedista, reformado,  vivendo no Porto. Depois de sair de Bedanda, em Março de 1972, o Mário Bravo foi colocado no Serviço de Estomatologia do HM 241, em Bissau, onde aprendeu a tratar dos nossos dentinhos... Um belo dia quem se sentou na cadeira do médico dentista foi o Spínola... É uma história que ele vai contar dentro de dias... (LG).



Fotos: © Mário Bravo (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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Nota de L.G.:

Último poste da série 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7675: Memória dos lugares (125): Aldeia Fomosa (hoje, Quebo): em busca de fotos do Cherno Rachide, que morreu em 1973 (Pepito / Vasco da Gama)




(*) Vd. postes anteriores, recentes, relativos ao Mário Bravo [, foto acima,] e à sua passgem pela CCAÇ 6, Bedanda (1971/72) (sobre Bendanda temos já cerca de 4 dezenas de referências; e sobre a CCAÇ 6, cerca de duzenas e meia).



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7342: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (3): Formiga baga-baga (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 25 de Novembro de 2010:

Caros Luís, Vinhal, Briote e M. Ribeiro:


Recebam um grande abraço, também de amizade e consideração.


Em anexo, e dando continuidade aos postes n.ºs 7012 e 7138, aqui vai o trabalho sobre o 3.º item (a formiga “baga-baga”).


Claro que fica ao vosso critério (sempre por mim bem aceite) o publicar ou não este trabalho.


Rui Silva


2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã – Olossato – Mansoa 1965/67)

(I) Paludismo (P7012)
(II) Matacanha (P7138)
(III) Formiga “baga-baga”
(IV) Abelhas
(V) Lepra
(VI) Doença do sono


Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa, imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:

As quatro primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo). As duas últimas (Lepra e Doença do sono), embora as constatássemos – houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


FORMIGA BAGA-BAGA - III

Julgo que a descrição exacta é:

BAGA-BAGA: - Montículo de terra endurecida que abriga uma comunidade de térmitas (Cupim). Pode atingir até cerca de 8 metros de altura.

TÉRMITAS (Cupim): espécie de formiga esbranquiçada e de contornos e cabeça avermelhados que vive numa comunidade, aos milhares, uma comunidade organizada com Rei, Rainha, operárias e soldados, e que constrói o baga-baga com a secreção de saliva misturada principalmente com pó de terra fazendo daquela obra de engenharia (arejamento, climatização e arrumação) o seu habitáculo.

Isto porque havia quem dissesse que a formiga baga-baga é que deu o nome ao montículo e outros que diziam que o baga-baga (montículo daquela formiga) é que deu nome à formiga.

Aconteceu então, numa operação de golpe-de-mão à casa-de-mato inimiga de Biambe, o meu primeiro encontro com estas “más companhias” e quando já tinha algumas semanas de Guiné e de mato.
Dá-se uma emboscada aquando do regresso, o que já se contava e como era habitual, e então valha-nos, mais uma vez, um baga-baga.

“Entretido” aos tiros, só depois me apercebi das alfinetadas que estava a levar nas mãos e braços, e já pelas pernas acima.”Mas o que é isto?” Qual é a minha surpresa, vejo umas formigas avermelhadas a ferrarem-me por todo o lado.

Comecei a sacudi-las sem por a cabeça fora do baga-baga, isto é fora de uma eventual boa pontaria inimiga. À sacudidela elas não saíam e então, verifiquei, para desespero meu, que elas estavam encastradas na minha carne. Com o empenho que elas actuavam parecia que até faziam o pino. Só puxando-as é que elas saíam, sem que no entanto a cabeça deixasse de ficar agarrada através de uns tentáculos enterrados. Lembrei-me das abelhas - nas abelhas o abdómen fica ligado ao ferrão - nestas ficam, não um ferrão, mas umas pinças (ou cornos) com a cabeça agarrada.

Os baga-bagas eram os nossos abrigos predilectos. Ainda bem que existiam. Parecia que tinham sido feitos para aquele tipo de guerra – a guerra de guerrilha. Altos, espessos quanto baste, duros como cimento, e a espaços mais ou menos regulares. Em qualquer operação no mato, principalmente em zona laranjo/vermelha, era constante um olhar prévio em redor para ver onde havia um baga-baga que nos acudisse.

Havia zonas em que existiam mais, julgo que em terrenos mais secos. Nas bolanhas não havia. Certamente que a água das chuvas e das marés que as inundavam, não propiciavam tais obras de engenharia. Ali para os lados de Biambi, Maqué, Iracunda, Morés, Cansambo, etc. aqueles montículos eram mesmo aos montes.

Aquela dor aguda e penetrante em cada ferroada passava no entanto alguns segundos depois. Perguntei-me porquê elas aparecerem naquele baga-baga e não em muitos outros onde me tinha protegido em situações embaraçosas como aquela. Disseram-me, depois, que aquelas formigas constroem o baga-baga mas que depois o abandonam, julga-se quando já não têm condições de habitabilidade, ou acaba aquela geração, ou ainda por predadores e parasitas mais fortes. Seja como for, verifiquei que grande parte dos baga-bagas não tinham aquelas formigas, afinal as legítimas proprietárias, mas sim eram habitados agora por toda a espécie de insectos: grandes, pequenos, com asas, sem asas, aranhas, moscas, moscões, etc., etc. Parasitagem,  afinal.

Apesar das dezenas de ferroadas que se levava, e as marcas eram bem visíveis, o que era certo, pelo que me apercebesse, não havia doença ou alergia subsequente. Afinal aquele Cupim que não gostava que usássemos a sua casa, ainda que para defesa do toutiço, teria uma história bem curiosa do que é uma comunidade, ainda que a nível de pequenos insectos, em que há uma entreajuda impressionante, que constrói com uma preciosa engenharia de habitabilidade e sustentabilidade um território, em que tem as suas operárias, os seus soldados defensores de todo o reino, um rei e uma rainha, esta a fecundar a um ritmo impressionante (cerca de 1000 ovos por dia) aumentando continuamente a prole, qual fábrica de trabalho em série. Afinal aquele torrão de terra, e que jeito dava muitas vezes, tinha muito que contar sobre a mãe natureza. Escondia uma comunidade laboriosa unida e homogénea em que cada um tinha uma missão religiosa a cumprir. Afinal uma lição para muitos…

Havia também por lá umas formigas pretas,  de grande cabeça e com um comprimento de 1 centímetro ou mais, não faltando quem se queixasse delas; embora também as visse por perto não me lembro de ser mordido por elas, já dos Cupins…

Ao clicar no ícone seguinte, pode-se ver um pequeno filme do Youtube  que mostra umas formigas pretas a dominarem os Cupins. No entanto não me parece que sejam as formigas pretas de que a malta se queixava.

Ainda através do ícone se pode ver um outro filme (Cidade das formigas) onde se pode ver que,  ao despejar cimento no estado de líquido pelas aberturas do formigueiro, aquele percorre todo o labirinto e uma vez solidificado mostra todo o habitáculo das formigas. De algum modo, embora ressalvando as proporções, o cupinzeiro (baga-baga) que víamos na Guiné, tem uma arquitectura semelhante.


Numa certa altura do ano, já no Olossato e julgo que tinha a ver com o tempo das chuvas, reparamos a páginas tantas, e já de noite, que as lâmpadas da iluminação à volta do quartel, alimentadas pelo gerador eléctrico, estavam rodeadas de milhares de insectos voadores. Logo também invadiram a nossa messe rodeando as lâmpadas ali acesas. Uma coisa nunca vista. Logo apagamos as luzes e os insectos voadores desapareceram, para num ápice voltarem a rodear as lâmpadas logo estas reacendidas, em voos frenéticos e repetidos em direção à origem da luz.

Chegamos a apagar a iluminação e a incendiar papeis julgando que as formigas se queimavam, desaparecendo assim, mas, qual o nosso espanto, as formigas envolveram as chamas. Aproximavam-se da chama para logo se afastarem ligeiramente (devido ao grande calor, suponho) para logo fazerem nova investida. O calor só era problema quando elas se queimavam (?). Uma coisa impressionante. Mas eles insistiam, insistiam sempre, ao encontro da luz.

Ao ler a história dos Cupins e sabendo que estes numa fase da sua metamorfose possuem asas (ver na figura abaixo, Como funcionam os Cupins-Ciclo de vida) em que o Cupim passa por uma fase da sua vida em que tem asas e a que se dá o nome de Alado) admito que esses vastos enxames em volta de tudo que fosse luz seriam os Cupins na fase de alados. De uma formiga tratava-se certamente. Mas, de tipos de formigas e outros insectos, cobras e passarada na Guiné haviam aos montes.





Fonte: www.mundoestranho.abril.com.br

- Montanha viva

- Ninho é cheio de túneis, tem andares embaixo da terra e pode durar oitenta anos.

CONSTRUÇÃO FIRME
O tamanho do cupinzeiro depende da população da colónia, mas, em média, atinge 60cm de altura. Ele é feito de terra, areia, saliva e excrementos dos próprios cupins. A construção é tão sólida na parte externa que alguns cupinzeiros se mantêm por até 80 anos!


LABIRINTO INTERNO
Por fora, um cupinzeiro do tipo montículo parece um monte de terra ressecada, sem vida. Dentro, porém, ele tem vários túneis e câmaras interligados por onde circulam milhões de cupins. As câmaras têm diversos usos, de depósito de alimento a berçário para ovos.


EM CAMADAS
O cupinzeiro é erguido por compartimentos e ganha “andar por andar”. O ninho cresce tanto para cima como para baixo da terra – cerca de 25% do tamanho total do cupinzeiro pode ser subterrâneo -. Os andares mais novos são mais húmidos e não tão sólidos.


CAMAROTE VIP
Entre as milhares de câmaras, uma se destaca: a câmara real. Nela vivem a rainha e o rei da colónia, responsáveis pela fundação do ninho e pela multiplicação dos cupins. O casal real vive, em média, de 15 a 20 anos e pode ser substituído por outros pares secundários.


ENTRADA VIGIADA
O acesso ao ninho é feito por túneis subterrãneos que desembocam no solo. É por eles que os cupins operários saem para colectar comida. Nessas missões, são protegidos de inimigos, como formigas e vêspas, pelos cupins soldados que fazem uma “escolta”.


Um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, indica que os verdadeiros reis da savana africana não são os leões, mas sim os cupins. Segundo o pesquisador Robert Pringle, a rede de colónias criadas pelas colónias do insecto influencia mais a população de animais que os grandes predadores ou os gigantes da região, como os elefantes e as girafas. As informações são da Agência Fapesp.

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Segundo a pesquisa, a acção do cupim contribui enormemente para a produtividade do solo, que acaba por estimular a produção vegetal e, por consequência, animal. Os cientistas afirmam que a distribuição dos cupinzeiros por uma área maior maximiza a produtividade de todo o ecossistema.

“Não são os predadores carismáticos – como leões e leopardos – que exercem os maiores controles em populações. Em muitos aspectos, são os pequenos personagens que controlam o cenário. No caso da savana, aparentemente os cupins têm uma tremenda influência e são fundamentais para o funcionamento do ecossistema”, diz Robert Pringle.

Os pesquisadores estudaram cupinzeiros na região do Quénia Central. Eles observaram que essas estruturas tinham cerca de 10m de diâmetro, com distâncias entre 60 e 100m entre eles. Cada um abriga milhões de insectos e muitas vezes são centenários. Os cientistas se surpreenderam ao observar um grande número de lagartos próximos aos cupinzeiros, o que levou à quantificação da produtividade ecológica da área. Eles chegaram à conclusão que cada comunidade de insectos dava suporte a densas agregações de flora e de fauna. As plantas cresciam mais rapidamente quando próximas a essas estruturas e as populações de animais, assim como a taxa de reprodução, eram menores quando ficavam longe dos cupinzeiros.

Imagens feitas por satélite confirmaram as observações. Segundo os pesquisadores, essas imagens mostravam que cada cupinzeiro ficava no meio de uma “explosão de produtividade floral”. Além disso, essas “explosões” parecem divididas organizadamente, com cada uma como se fosse uma casa em um tabuleiro de xadrez.


Os cientistas pretendem agora estudar qual é exactamente a contribuição dos cupins a essa produtividade. Eles acreditam que os insectos – que muitas vezes são vistos como pragas na agricultura – distribuem nutrientes, como fósforo e nitrogênio, que beneficiam a fertilidade do solo.

Segue: Abelhas - IV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7138: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (2): Matacanha (Rui Silva)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3537: Histórias engraçadas (António Matos) (5): Formigas baga-baga...e um capitão em apuros. (António Matos)


Os Baga-Baga que também serviam de abrigos


Não tendo ainda dado uma vistoria exaustiva ao blogue (faço incursões pontuais quando o assunto me toca mais de perto ou se a curiosidade do tema a isso me leva) já notei referências ao Baga-Baga.
Na convicção de que este tipo de informação interessa como peça da imensa reportagem que aqui estamos a fazer, junto um texto, também ele "apimentado" com uma peripécia da altura, para mais agradável "digestão".

O Alferes Matos em cima de um pequeno monte de baga-baga.

Uma constante no cenário da Guiné é a existência de formações tipo arenoso mas duma consistência à prova de bala, formado pelas formigas.
À semelhança das abelhas, também aquela espécie de formiga (baga-baga) trabalha "em manada" e comandadas pela formiga mestra.
São verdadeiros exércitos deste animal estupidamente feroz (a avaliar pelas dentadas onde deixavam parte da carcaça espetada na vítima - falo do que sei!) que constroem estes formigueiros enquanto o diabo esfrega um olho pelo que, aquando da construção das estradas, a engenharia começava pela destruição desses ninhos.
Porém, não raras eram as vezes em que a estrada acabava de ser construída e já despontavam essas pragas destruidoras!
Mas não há bela sem senão e essas mesmas edificações serviram amiudadas vezes de abrigo pela sua resistência à fogachada quando nos encontrávamos debaixo de fogo.

O Alferes Matos na canal bazooca.

Um capitão em apuros

Por curiosidade vos conto que uma noite, numa progressão em direcção a Ponta Matar, com um luar altamente comprometedor, tivemos que parar durante escassos segundos para consultar a carta e eis senão quando, o capitão entra em desvairado desatino começando a despir-se sob o olhar atónito de toda a gajada.

O seu guarda-costas, o corneteiro, de seu nome Reis, foi imediatamente incumbido de o ajudar sem no entanto saber muito bem o que se estava a passar.
Finalmente percebeu-se que o capitão tinha parado exactamente em cima do trilho das amigas formigas que seguiam em bichinha pirilau à sua vida.
Escusado será dizer que o acontecido poder-nos-ia ter sido fatal tal o chavascal que estava a ser feito mesmo nas barbas do IN.

Resolvida a questão, com o capitão repleto de ferrões espetados desde os pés às virilhas, quisemos pensar que o IN foi compincha e bastou-lhe o gozo da situação para não nos atacar.
Uma vez fora da zona complicada, houve lugar ao humor ainda que os inchaços e as comichões do capitão tivessem sido de alguma gravidade e a requerer cuidados médicos.

António Matos

ex-Alf Mil da CCaç 2790

Bula 1970/72

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Notas de vb:

19 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3482: Histórias engraçadas (António Matos) (4): Quando os serviços de oficial de dia passaram a ser feitos pelos oficiais da CCS...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Construção a todo o redor do aquartelamento, de uma paliçada em blocos, bermas de terra e encimada por bidões cheios de terra.

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Um secular poilão...

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Um das famosas construções das formigas bagabaga .


Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70)> Nova escola para os nativos, criada durante aquele período alto das construções.

Texto e fotos: © Raul Albino (2006). Direitos reservados.

Terceira parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (1). Por lapso, este texto só agora chegou ao conhecimento do editor do blogue. As nossas desculpas ao seu autor e aos demais tertulianos. (LG)


Obras no Quartel de Có


Texto adequado à recente promoção, feita pelos nossos tertulianos, do Bagabaga, ao estatuto de monumento nacional na Guiné.

Uma das nossas muitas actividades, quando se estava de serviço ao aquartelamento, consistia em efectuar a construção de novas instalações ou reparação das já existentes. Pode-se dizer que a meio da nossa estadia em Có, o aquartelamento já estava irreconhecível pela quantidade de melhoramentos que era visível. Em termos de segurança, a nova imagem do quartel não tinha nada a ver com as pobres instalações que tínhamos à chegada. É evidente que todo o esforço que aí desenvolvemos saiu do corpo dos bravos rapazes que compunham a nossa companhia.

Consegui seleccionar algumas fotos desse período obreiro, mas a grande maioria das obras não foram fotografadas ou eu não consegui encontrar essas fotografias no caso de existirem.

Temos de reconhecer que o Capitão Vargas Cardoso [, comandante da CCAÇ 2402,], na sua capacidade e afã de construir e reconstruir, se assemelhava em muito às formigas obreiras que abundavam por toda a Guiné. Dado que na Guiné, pelo menos nas zonas por onde a companhia passou, praticamente não existia pedra, as construções eram basicamente feitas de blocos feitos de barro e palha.

O mais alto expoente deste tipo de construção estava precisamente na enorme capacidade construtiva das curiosas formigas que por lá abundavam, conhecidas pelo nome de Bagabaga.

As poucas verdadeiras protecções que os militares tinham no mato para se protegerem do tiroteio, eram as enormes árvores de troncos largos de madeira rija como podem verificar na figura em cima . Nessa fotografia, o tronco da árvore - um poilão - não é completamente visível, mas dá para ver a proporção do tronco em relação ao tamanho do militar, neste caso o Cabo Oliveira que brinca com um macaquinho que retirou da gaiola que está por cima da sua cabeça.

A outra protecção era precisamente os morros de bagabaga construídos habilmente pelas formigas do mesmo nome, que chegavam a atingir mais de três metros de altura. A figura, em cima, é, também neste caso, bastante elucidativa. Creio que este exemplar já ultrapassa os três metros, mas os nativos contavam da existência de morros de altura superior ao da fotografia.

Não se conseguia destruir facilmente aquelas estruturas, nem mesmo com uma granada de lança-roquetes. Por várias vezes se tentou destrui-las com petardos de trotil, mas as mossas eram sempre periféricas, a estrutura principal mantinha-se de pé. Só introduzindo os petardos no seu interior se obtinham resultados aceitáveis, no entanto como não existiam normalmente brocas perfuradoras no local, podem imaginar o problema que não era tentar semelhante façanha.

As formigas possuíam uma cabeça enorme comparada com o resto do corpo. Com a boca amassavam o barro vermelho, que abundava por todo o lado, qual autêntica betoneira de argamassa, começando a levantar os montes que constituíam a habitação para as suas colónias, percorridos por infindáveis túneis até ao seu interior. Como viram no meu texto, chamei-lhes curiosas formigas e não simpáticas formigas por uma razão muito simples.

Cheguei a perder a paciência com elas, porque em dado momento apercebemo-nos de que elas estavam a minar as nossas instalações feitas à base de barro. Começavam por construir os seus célebres túneis e a partir daí a degradação das paredes era rapidíssima. Pensei então, armado em esperto, que tinha descoberto a solução para o seu aniquilamento. Injectava gasolina para o interior dos túneis e lançava-lhe um fósforo.

Qual não foi o meu espanto quando, tentando analisar a resultado da operação, verifiquei que, mais rapidamente que a propagação do fogo no interior dos túneis, elas conseguiam selar as ramificações só sendo afectados pelo fogo pequenos ramais da superfície. É claro que desisti, reconhecendo a superioridade das formigas na sua capacidade de sobrevivência.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores >

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

(2) Sobre o bagabaga, vd. os posts:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

14 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1368: Concurso O Melhor Bagabaga (4): Có (1969) (João Varanda)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1368: Concurso O Melhor Bagabaga (4): Có (1969) (João Varanda)





João Varanda, em Có, de pé e sentado num enorme bagabaga (ou termiteira) (duas primeiras fotos) e num postod e vigia, localizado num poilão (terceiro e última foto)...

O João Varanda, residente em Coimbra, foi furriel miliciano na açoriana CCAÇ 2636, que esteve na região do Cacheu: Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70) e depois mudou-se para a zona leste (Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71) (1).

Estas fotos foram seleccionadas pelo editor do blogue para o Concurso O Melhor Bagabaga

Fotos: © João Varanda (2005). Direitos reservados.

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Notas de L.G.:

(1) Sobre a história da CCAÇ 2636(Có, 1969/71), vd posts do João Varanda:

22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIII: Notícias da açoreana CCAÇ 2636 (Bafatá, Contuboel, Saré Bacar, Pirada)

15 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCI: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (1): De Santa Margarida ao Cupilom... (João Varanda)

16 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCIII: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (2): "Periquito vai no mato, que a velhice vai p'ra Bissau"... (João Varanda)

26 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXIV: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (3): O espírito de grupo (João Varanda)

26 Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCXV: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (4): A acção psicossocial (João Varanda)

19 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXIX: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto (João Varanda)

19 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine (João Varanda)

(2) Vd. posts anteriores:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

14 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

Guiné > Zona Leste > Fajonquito > 1964 > Um poilão...

Guiné > Zona Leste > Fajonquito > 1964 > Um bagabaga...

O Tino Neves manda-nos duas fotos tiradas em Fajonquito, no já distante ano de 1964... Nas duas aparece o seu irmão (que presumimos ter feito a sua comissão militar na Guiné nessa época).

Trata-se de dois monumentos nacionais da Guiné, diz ele: Um bagaga (1) e um poilão.
Fajonquito pertencia ainda à Zona Leste (hoje, região de Bafatá): fica a meio caminho entre Contuboel e a fronteira (norte) com o Senegal: vd carta de Colina do Norte.

Fotos: © Tino Neves (2006). Direitos reservados (2).

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores sobre o Concurso O Melhor Bagabaga:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Entrada do restaurante Lusófono, junto ao Aeroporto de Bissau, onde existe "esta maravilha, um bagabaga". Na foto, o David mais o filho do Dr. Vilar, psiquiatra, que foi alferes miliciano médico do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Mais uma foto para o concurso de O Melhor Babagaga (1)...

Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.

O David J. Guimarães, que trabalha no Porto e reside em Espinho, é um dos tertulianos da primeira hora, creio que o nº 2, a seguir ao Sousa de Castro, que é o nº 1... Como não existem privilégios nem postos nesta tertúlia, a antiguidade não é um posto, logo não conta: ninguém se vai pôr em bicos de pé só por ser mais antigo... Bom, mas a verdade é que o David já pertence à velhice (2) ...

Foi, além disso, um incansável alimentador da nosso primeiro blogue, em textos e fotografias (3). As suas fotografias, os seus apontamentos, ajudaram-me a preencher inúmeras falhas de memória em relação à Guiné do meu tempo, desde Bissau a Bafatá, do Xime ao Xitole... Recordo-me a alegria com que recebi dele as primerias fotos de Xitole, Bambadinca, Bafatá, Bissau....

Em 2001, ele voltou lá, ao local do crime... Sobre essa viagem disse-me ele, o meu camarada do Xitole e de Bambadinca:

"Ora aí vai mais um pedaço daquilo que está lá, na nossa Guiné. Digo nossa porque afinal está no coração. Quanto ao resto, é deles e com todo o direito. E que eles tenham inteligência para não deixarem o país capitular. Pouco falta e é pena...

(...) "Envio-te esses testemunhos. Creio que todos reconhecerão a 5ª Rep, o antigo Café Bento: acho importante essa fotografia. Todos se lembrarão do Pelicano e da Marginal; da casa Gouveia, que é agora o Ministério da Economia; do Forte da Amura e do quartel-general, lá em cima, na zona de Santa Luzia...Enfim, é a Guiné.

"Muito gostaria, dado o ficheiro ser grande, de ter a certeza de que o recebeste em boas condições. Mata saudades que, afinal, é das coisas que vale a pena matar"...

Comentei eu: Grande filósofo, grande sábio, o meu amigo David! Mas voltando a citá-lo: "Ninguém de sã espírito entenderá como um combatente gostará assim tanto dos locais onde sentiu a morte tão perto, o matraquear da metralhadora, o troar do obus, a metralha das armas ligeiras, os gritos de horror... Afinal a vida até por isso valerá a pena, não sei!"...E com esta é que ele me matou e me obrigou a manter o blogue até hoje, aberto à circulação de ideias, sentimentos, estórias, emoções, memórias:

"Sabes, Luís, ninguém entenderá como milhares de Portugueses hoje têm saudades daquilo lá. E vale a pena, podendo, ires lá, digo eu... Para um dia dormires descansado. E se tiveres que chorar chora, porque agora temos liberdade para isso e faz-nos bem. Não, não é feio um homem chorar: feio foram outras coisas, mas isso já é política... Abraço. David".

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post anterior, de 7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

(2) Vd. post de 29 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1) (Luís Graça)

(3) Vd. alguns dos posts dos primeiros meses do nosso blogue:

11 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XVII: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (4)(Luís Graça / David Guimarães)

17 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XX: "Foi você que pediu uma kalash?" (David Guimarães)

3 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLI: A região do Xitole, por onde andou o Nino... (David Guimarães)

5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLIV: A estória da cabra do mato e do prémio Governador Geral (David Guimarães)

23 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXV: Minas e armadilhas (David Guimarães)

10 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: 'Com minas e armadilhas, só te enganas um vez' (David Guimarães)

Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

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Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1969 > Um bagabaga nas imediações de Bambadinca. No topo vê-se o Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


O bagabaga era(é) um dos fenómenos naturais de África, em geral, e da Guiné, em particular, que faziam (fazem) as delícias dos nossos fotógrafos amadores... No nosso tempo, não havia militar que se prezasse que não mandasse para casa uma foto, de pé, garbosamente, - qual Teixeira Pinto, estatuado! - em cima de um bagabaga, uma elevação de terreno que está para a formiga como os Himalaias estão para nós...

Até eu, que era avesso a tirar fotografias e a escrever aerogramas, não escapei à fatal atracção que exercia o bagabaga. Bateram-me uma chapa em cima de um babaga, em pose triunfal, como o caçador colonial de antanho em cima dum mastodonte de um elefante acabado de abater...
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (que é um monumento vivo da lusofonia!), bagabaga (assim que se escreve, sem hífen) é um substantivo, masculino, que significa: (i) térmite; (ii) termiteiro... Trata-se de um vocábulo crioulo que aparece por volta de 1899, e que é de uso escrito e oral entre os lusófonos, em especial Guiné-Bissau e Cabo-Verde.
O temo térmite é a designação comum aos insectos da ordem dos isópetros, de que há cerca de 2200 espécies reconhecidas, e que são particularmente abundantes nos trópicos. São animais sociais, alimentando-se de madeira e outros materiais vegetais, e construindo ninhos, bem visíveis, de estrutura piramidal (termiteiros ou termiteiras). Os bagabagas são, pois, aglomerados de terra e outros resíduos, edificados pelastérmites e que constituem o seu ninho. São muiyto resistentes, mas infelizmente tal como a floresta tropical não resistem aos bulldozers...
Temos a obrigação de ajudar os guineenses a preservar estes monumentos vivos da natureza... Este pequeno concurso (fotográfico) é uma forma de sensibilizar os nossos tertulianos e demais visitantes para o património (natural e edificado) da Guiné-Bissau... Nós, ex-combatentes, quer portugueses, quer do PAIGC, temos um enorme respeito pelo bagabaga: ele fazia parte do nosso cenário de guerra... Hoje deve ser um símbolo da paz e da biodiversidade...
Amigos & camaradas da Guiné: mandem fotos de bagabagas (tenho mais alguns, que vou publicando...), façam os vossos comentários e... votem nos vossos favoritos. Os critérios de apreciação são os vossos: forma, altura, volume, beleza, qualidade da fotografia, etc.