quarta-feira, 30 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8016: Memórias de Mansabá (23): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - A minha estadia em Mansabá

1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 30 de Março de 2011:

Resolvi embora com atraso dar os parabéns aos aniversariantes do Blogue, não desfazendo, uma atenção ao Carlos Vinhal, num pequeno texto alusivo a Mansabá que ele tanto adorou, mando duas peças de caça mas têm que as matar primeiro, eu não fui capaz.

Muitas felicidades e que para o próximo cá estejamos para mais umas trincas.

Um Abraço
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (1)

A MINHA ESTADIA EM MANSABÁ


 Vista aérea de Mansabá
Foto de Carlos Vinhal

Em 1969 estava eu na minha segunda comissão na Guiné. Tinha-me oferecido por estar à bica para ser nomeado para Moçambique e estar convencido que a duração da comissão ainda era de 18 meses, mais uma vez fruto da minha outra Especialidade de Mecânico, devido ao desempenho na comissão anterior, tinha sido colocado no Pelotão de Manutenção Auto que pertencia à CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas).
Estava nesta situação havia cerca de um mês e meio, inopinadamente no 29 de Maio a uma sexta-feira fui ler a Ordem de Serviço antes de sair do Quartel como militar que se preze deve fazer, qual não foi o meu espanto, ao ler que eu sem ninguém me ter dito “água vai”, tinha sido transferido para a CCP 122.
Como simplório que sempre fui, não perguntei nada a ninguém do porquê desta transferência, uma vez que quando para lá fui estava a contar que podia ser colocado de início numa Companhia operacional.

Alguns elementos da CCP 122 onde eu aterrei, militares muito aguerridos

No sábado dia 30 de Maio de 1969 fui logo a caminho de Mansabá, não foi obra do acaso que fui colocado no Pelotão que passados estes anos todos não me lembro, até porque informalmente, só estive na CCP 122 pouco mais de um mês, fui “chutado para a (CCP 123) nesta altura a CCP 122 estava em Mansabá que pertencia ao COP 6 a fazer segurança a colunas auto entre Mansoa e Mansabá e vice-versa, fazia segurança à construção na Estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim.
A CCP 122, quando fui para lá estava a ser comandada por um tenente, e vinha com uma série de êxitos de resultados das operações semanais que vinha realizando, fazendo muitas baixas, capturas de guerrilheiros e muito material de guerra.

Pessoal e Material capturados pela CCP 122 na operação “Titão” no Morés em 24 de Abril de 1969 (Foto H BCP 12)

A segurança às colunas requeria alguma atenção, pelo menos nos pontos mais críticos propícios a emboscadas, constava que faziam buracos no alcatrão, colocavam minas anticarro e tapavam com bosta de vaca para disfarçar.
O tempo de espera em Mansoa era ocupado com uns jogos de matraquilhos

Mesa de Matrecos

No trajecto fazia-me impressão como é que estava no meio do nada, um minúsculo acampamento em Cútia, quantos ataques terão sofrido?
Havia também um ponto crítico chamado de a Serração.
Em Mansabá dormia numa camarata cuja parede era arejada por buracos quadrados, os catres estavam equipados com uns colchões muito velhos e sujos.
Um belo dia num sábado em Bissau estava em casa depois de ter tomado banho, estava à mesa e apareceram-me uns bichinhos achatados a passear sobre os meus sobrolhos, fiquei mais que encavacado, foi uma “chatice”, só depois associei o caso aos colchões velhos.

A Caserna esburacada dos “chatos” em Mansabá (Foto H BCP 12)

Uma noite saímos do aquartelamento e fomos emboscar num ponto alto para o lado esquerdo da estrada em construção no sentido de Farim, quando o dia começou a clarear começou toda fauna a mexer, galinhas de mato e toda a passarada a esvoaçar de árvore em árvore, a fazer-se ouvir nos seus trinados próprios, até que oiço por cima da minha cabeça um som característico de uma perdiz, som que eu já conhecia desde criança, ao mesmo tempo que estava encantado com aquilo tudo, olho para cima e vejo uma perdiz bem grande pousada num galho da pequena árvore onde eu estava por baixo, quando a ave resolveu fazer as necessidades para cima de mim, aí veio ao cimo aquele sentido animalesco de predador e de lhe apontar a arma e manter o dedo no gatilho, mas como estava emboscado, tive de fazer um grande esforço para não puxar o gatilho, numa emboscada tem se manter o silêncio absoluto.
Foi uma experiência porque desconhecia que as perdizes pousavam sobre as árvores, no Alentejo nunca tinha visto.

Uma perdiz e uma galinha-do-mato


Largada de Pára-quedistas na Guiné (Foto Álbum de memórias do BCP 12)

Um dia que não me lembro a data resolveram ir de avião para Mansabá e saltar, existia lá uma boa zona de lançamento, eu como não fui com eles, também fui de avião DO 27 mas não saltei.

Uma DO 27 a levantar voo

Quando ia para aterrar vi uma grade acácia de flores vermelhas, que tomei como ponto de referência, sempre que voei na Guiné ia atento aquele tipo de acácia e até cheguei a enviar sementes para cá, que não chegaram ao destino.

Uma acácia rubra igual à que existia em Mansabá

Durante o mês de Junho a Companhia continuou com o ritmo operacional de uma operação por semana, Mansabá tinha uma coisa boa que era uma água levezinha como não bebi na Guiné em lado nenhum, cheguei a levar água para Bissau em garrafões de 10 litros, nunca mais esqueci Mansabá por ter sido a minha primeira experiência na Guiné da guerra a sério, mesmo nas duas operações em que tomei parte, apesar de não ter dado um único tiro, fizeram-se prisioneiros, apanhou-se muito material de guerra, queimaram-se cubatas e destruiu-se arroz, mas presenciei situações que me recuso a transcrever e que me marcaram, vi como a guerra transforma os seres humanos em “bichos” perdendo a vertente humana, a partir daí pela maneira como fui lançado para a situação, ia sempre que era nomeado, mas não se pode dizer que me sentisse muito feliz por lá andar.

A minha estadia em Mansabá não chegou a um mês, porque fui para lá no dia 30 de Maio e no dia 28 de Junho já estava a caminho de Teixeira Pinto, gostei de ter conhecido Mansabá comparada com outros buracos por onde andei era um oásis, passei lá pela estrada quatro anos depois, indo do K3 (Farim) para Bissalanca em 2 de Junho de 1973, regressando de Guidage da Operação “Mamute doido”, da estrada observei que tinha aumentado muito em casernas novas.

Um Abraço do
Dâmaso de Azeitão
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Notas de CV:

- O meu muito obrigado ao camarada António Dâmaso por este seu trabalho dedicado a Mansabá. Bela prenda.

(*) Vd .poste de 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (11): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

Guiné 63/74 - P8015: Convívios (303): 31.º Encontro da Associação Amizade do BART 645 - Águia Negras (Guiné, 1964/66), dia 30 de Abril em Montemor-o-Velho (Rogério Cardoso)




1. Mensagem de Rogério Cardoso  (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 30 de Março de 2011:

Caro amigo Carlos
Com os meus cumprimentos, solicito por favor, que seja publicado no blogue, o anuncio do nosso 31º Encontro, com o seguinte programa:




31.º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO AMIZADE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS

LOCAL:  MONTEMOR-O-VELHO

DATA : 30 DE ABRIL DE 2011

RESTAURANTE PATINHOS, Ladeira dos Caídos - Estrada Nacional Coimbra - Figueira da Foz (junto a Montemor)

10,00 h - Concentração junto à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, perto do Tribunal de Montemor

11,00 h - Missa de sufrágio por todos os companheiros falecidos.

12,30 h - Saida em caravana para o Restaurante Patinhos (2km)

13,30 h - Almoço com diversas entradas, sopa, peixe, carne, sobremesas (mesas de queijos, doces e frutos), bolo aniversário e espumante.

Vinhos, sumos, café e digestivos.

No final do almoço iremos ter musica ao vivo para o chamado PÉ DE DANÇA.

A inscrição terá lugar até 23 de Abril para Rogério Cardoso, telemóvel 939 339 340.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7990: Convívios (218): Encontro do pessoal da CCS e da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, dias 21 e 28 de Maio de 2010 na Mealhada (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P8014: A minha CCAÇ 12 (15): Op Safira Única, 21 de Janeiro de 1970: Ir à Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperar 15 elementos da população, destruir dois acampamentos e aprisionar um guerrilheiro "em férias" (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Evolução de forças da CCAÇ 12 (1969/71), na região do Xime, presumivelmente em finais de 1969...  Em primeiro plano, os Fur Mil At Inf Arlindo Roda (3º Gr Comb) e Tony Levezinho (2º Gr Comb)... Repare-se no potencial de fogo, só deste grupo de combate: os dois municiadores de bazuca (uma 8.9) traziam um "pack" de seis granadas cada um, ou seja, um total de 12, mais uma granada no tubo transportado pelo apontador... Mas nesta operação, elas irão voltar todas à arrecadação...


Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados




A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça


(7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN, na região de Poindom/ Ponta do Inglês, destruídos 2 acampamentos  e capturado o guerrilheiro Festa Na Lona, oriundo de uma unidade combatente... do Gabu.


Na última operação (*), o IN mostrara-se particularmente agressivo, reagindo à acção das NT durante mais de meia-hora. E o guia-prisioneiro Jomel Nanquitande tentara despistar-nos com manobras de diversão. A frustração era profunda, sobretudo entre os soldados africanos da CCAÇ 12. Mas foi imediatamente compensada pelo êxito espectacular da operação seguinte, uma semana depois.


Sabia-se que na Ponta do Inglês o IN controlava um importante aglomerado populacional que cultivava a bolanha do Poindom. Segundo as informações do prisioneiro Jomel Nanquitande, a população não estava armada, sendo a segurança aos trabalhos agrícolas feita por um grupo que todos os dias se deslocava do Baio (onde há um acampamento com 50 homens armados), fazendo a cambança do Rio Buruntoni (, afluente do Rio Corubal), em canoa.


Em face destes elementos, foi decidido fazer uma batida cuidadosa à área da Ponta do Inglês (ou Gã Garnes, como o PAIGC lhe chamava), a fim de:  (i) aniquilar os grupos IN eventualmente detectados, (ii) aprisionar a população que nela vivesse e (iii) destruir todos os meios de vida existentes (Op Safira Única, 2 dias, região de Xime – Gundagué Beafada – Ponta do Inglês).


O conceito da operação era executar a progressão e batida com o Dest A (CCAÇ 12, a 3 Gr Comb reforçados) e o Dest B (CART 2520, unidade de quadrícula do Xime, a 2 Gr Comb),  apoiando-se mutuamente, sobretudo a partir de Gundagué Beafada.






Guiné > Zona Leste > Região do Xime (margem direita do Rio Corubal) > Foz do Corubal, tendo à direita a Ponta do Inglês, de triste memória para muitos de nós... Mais acima, na margem esquerda, Ganjauará, perto de Gampará, de triste memória para o Vitor Tavares e os seus  camaradas da CCP 121/BCP 12 (Mapa de Fulacunda, Escala 1/50000). 
(Detalhes)


Desenrolar da acção:


(i) Em 20 de Janeiro de 1970, pelas 23.30h, a Artilharia do Xime executa uma concentração de 4 tiros sobre a Ponta do Inglês, na margem direita do Rio Corubal (Fulacunda 8I2-95).


(ii) Ao amanhecer, pelas 5h30, saem os 2 Destacamentos do Xime, apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos da Ponta do Inglês, usados pelo IN.


(iii) Por volta das 15.30h, já nas proximidades do objectivo (Xime 2B8), foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.


(iv) Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou: (a)  que ia recolher vinho de palma, (b) que a tabanca ficava próxima, (c) que não havia elementos armados e (d) que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha do Poindom.


(v) Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças, andrajosos e aterrorizados. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia balanta, estar alí a passar férias (sic) e pertencer a uma unidade combatente do Gabu (Nova Lamego). Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos.


Foto à direita: Uma pistola de origem soviética, Tokarev m/1933, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ...


Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues,  transmontano, comandante do 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12, que a tomou como ronco... Não sei (mas ele pode-nos dizê-lo, já que é membro da nossa Tabanca Grande), se a conseguiu trazer para a Metrópole e legalizá-la...


Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (Para saber mais, ver o que diz o nosso especialista em armamento, Luís Dias, sobre esta pistola soviética).


(vi) Havia 2 tabancas (ou melhor: barracas), cada uma com 4-5 moranças, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidão e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidões existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.


Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, à excepção das que ficaram armadilhadas (a 1ª e a última, no primeiro acampamento). A localização do acampamento era em Xime 2A5-93.


Mais notável, os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro...


(vii) A retirada fez-se igualmente a corta-mato em direcção de Gundagué Beafada, tendo-se chegado ao Xime pelas 18.30h do dia 21. 


(viii) Os prisioneiros ficaram às ordens do comando e CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Lembro-me particularmente do ar aterrorizado das crianças, nuas, ao ouvir o ronco de uma GMC... Eram miúdos nascidos no mato. Já não recordo de qual terá sido o seu destino: como era usual, eram entregues à autoridade administrativa local e acabavam por ser integrados  nalguma tabanca mais próxima, com gente da sua etnia (balantas ou beafadas). Todos os anos era o mesmo drama, com esta pobre gente que trazíamos do mato, na altura da época seca, e para qual não havia, no quartel de Bambadinca, as condições mínimas de acolhimento... (Vd., a este propósito,  as memórias do alferes capelão Arsénio Puim, que pertenceu à CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).


(ix) Durante a noite, a Artilharia fez fogo de concentração sobre os acampamentos IN do Baio/Buruntoni e Ponta Varela/Poindom.
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Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 24-25.
Guiné 68/70: História do Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. Bambadinca: BCAÇ 2852. 1970. Cap. II. 131-132.
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I e II Séries
Diário de um Tuga (notas pessoais de L.G.)
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Nota do editor:


(*) Vd. poste de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7957: A minha CCAÇ 12 (14): Op Borboleta Destemida, 14 de Janeiro de 1970: a ferro a fogo no Poindon/Ponta Varela ou... como nunca confiar num guia-prisioneiro (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8013: Parabéns a você (233): Rosa Serra, ex-Alf Enf Pára-quedista (BCP 12, 1969); António Graça de Abreu, ex-Alf Mil (CAOP1, 1972/74) e Benjamim Durães, ex-Fur Mil (CCS/BART 2917, 1970/72) (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ(S)!!!

30 DE MARÇO DE 2011

ROSA SERRA

ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU

BENJAMIM DURÃES


1. Estamos hoje a comemorar o aniversário destes três camaradas que fecham este mês de Março.

A Tertúlia e os Editores vêm aqui formular os seus melhores votos de que estes nossos amigos tenham um feliz dia junto das respectivas famílias e que contem muitos anos sempre com óptima saúde.

Seguem-se os postais de aniversário, como sempre, de autoria do nosso camarada e colaborador permanente Miguel Pessoa.
Rosa Serra foi Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969.


António Graça de Abreu foi Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74.


Bejamim Durães foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72.
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Notas de CV:

Vd. postes de:

25 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6469: Tabanca Grande (223): Rosa Serra, ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6068: Parabéns a você (95): António Graça de Abreu, "sínico mas não cínico", 63 anos, ex-Alf Mil, CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar, 1972/74)

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6066: Parabéns a você (94): Benjamim Durães, ex-Fur Mil Op Esp e Rec Info, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72 (Os editores)

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8007: Parabéns a você (232): Agradecimento (Carlos Vinhal)

terça-feira, 29 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8012: O Nosso Livro de Visitas (110): João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil Engenharia, que esteve 4 meses em Bambadinca e a maior parte do tempo no Saltinho, cujo aquartelamento ajudou a construir, ao tempo da CCAÇ 2406 (1968/70)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Saltinho > CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) > Foto provavelmente do 2º semestre de 1969, por ocasião de coluna logística Bambadinca - Saltinho. Na foto, o Arlindo Roda, Fur Mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados

Telefonou-me ontem  o  João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil de Engenharia, que estava em Bambadinca na altura do desastre no Cheche (Fevereiro de 1969) e da Op Lança Afiada (Março de 1969), portanto ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70).

Esteve 4 meses em Bambadinca, antes de ir para o Saltinho, onde ajudou a construir o quartel novo, ao tempo da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70, que pertenciam ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca). 

Aliás, dessa companhia (que também esteve no Olossato) era o ex-Alf Mil António Dias, camarada que pertence à nossa Tabanca Grande.  A CCAÇ 2406 era comandada pelo Cap Inf Diamantino Ribeiro André. Infelizmente temos menos de meia dúzia de referências a esta companhia. O Carvalho, que passou mais tempo da sua comissão no Saltinho costuma alinhar nos convívios anuais desta subunidade. Do seu tempo, lembra-se bem do Beja Santos e do Ten Cor Manuel Maria Pimentel Basto, o comandante do BCAÇ 2852, substituído depois por Jovelinmo Pamplona Corte Real. (Fico na dúvida se ele não se queria referir antes ao António Pimentel, o nosso Pimentel da Tabanca de Matosinhos, que pertencia ao BCAÇ 2851).

Do Beja Santos, lembra-se como figura lendária, enquanto operacional, mas também das vezes que ia à Engenharia, junto ao Rio Geba, "fanar-lhe" uns saquitos de cimento para Missirá...  Também passou opor Nova Lamego e por Bafatá. Aqui conheceu o Cor Hélio Felgas e o nosso Fernando Gouveia (do Comando de Agrupamento nº 2957). Como, de resto, também conheceu o malogrado actor de teatro, Carlos Miguel (Fininho), que era Fur Mil do CAgr anterior, o 1980.

Tem 66 anos, está reformado, mora em Chelas (telefone fixo: 218 372 001), dedica-se aos filhos e aos netos.  Foi desenhador técnico na Janz - Contadores de Energia, e inclusive fez parte dos órgãos de gestão do sindicato dos desenhadores técnicos. Acompanha o nosso blogue desde há anos, e divulga-o com grande entusiasmo,  mas nunca lhe ocorreu registar-se como membro. A escrita "não é o seu forte". Aceitou,  no entanto, o meu convite para ingressar na Tabanca Grande, depois de mandar as duas fotos da praxe e contar mais algumas peripécias desse tempo, como por exemplo a morte, a sua lado, de um cabo (?) da CCÇ 2406 que, ao introduzir uma bala na câmara da G3, disparou acidentamente  a arma e ficou com os miolos à mostra... Isto ter-se-á passado na estrada Saltinho-Xitole, em data que ele não conseguiu precisar. Não tenho ideia de nos termos encontrado (ou convivido) em Bambadinca nem no Saltinho (onde no entanto a CCAÇ 12 foi algumas vezes, em colunas logísticas, e eu pelo menos uma vez, levando materiais de engenharia e armamento, além dos preciosos géneros alimentícios). Tem em seu poder a planta do destacamento de engenharia de Bambadinca.
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Nota do editor:

ÚIltimo poste da série < 25 de Março de 2011 >Guiné 63/74 - P8000: O Nosso Livro de Visitas (109): José Oliveira, filho do nosso camarada Luís Nunes Oliveira da CCAÇ 1501/BCAÇ 1877 (Guiné, 1966/67)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8011: Memória dos lugares (150): O Porto do Portojo ou "a vida em fotos, olhar à minha volta e tentar perceber... ” (Jorge Teixeira / Vasco da Gama)

1. Um dos hobbies do nosso Camarada Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, foi a criação e desenvolvimento de um blogue que titulou com “A Vida em Fotos - Olhar à minha volta e tentar perceber o que me rodeia”, que é de consulta obrigatória para todos aqueles que gostam da cidade do Porto. O blogue é acompanhado por vários amigos e camaradas nossos, entre eles o "régulo de Buarcos" ou melhor o “Grande Tigre de Cumbijã”, conhecido entre nós como Vasco da Gama, que vai apreciando e comentando a obra soberbamente desenvolvida pelo Portojo e de que damos hoje aqui conta, através da cópia de um dos últimos trabalhos (o nº 67).

67 - Do Hotel do Louvre a Metralhadoras 3

Uma promessa feita ao meu camarigo Vasco da Gama, levou-me à Rua do Rosário para lhe "mostrar" a casa onde viveu nos seus tempos de estudante. E aproveitando a pedalada, dei uma "volta ao quarteirão. Comecemos por referir que a rua tomou o nome do tio de Almeida Garrett, Domingos do Rosário, aqui foi morador e proprietário tendo provavelmente doado uns terrenos para a abertura da rua.



Na esquina com D. Manuel II fica o degradado edifício do antigo Hotel do Louvre. Já referido em notas anteriores, mas nunca é demais falar dele. Faz precisamente este mês 139 anos que D. Pedro V aqui se hospedou. Albergou o Cine Clube do Porto, a Sede do velhinho Salgueiros, o Orfeão Lusitano, a sede do MUD assaltada pela Pide em 1948, o Clube de Campismo do Porto. Uma pena a situação em que se encontra e logo numa zona altamente visitada.


Quási no início encontra-se o palacete que foi dos Albuquerques - desconheço quem teriam sido -também doadores de uns terrenos na zona. Hoje é um centro comercial, bem conservado.


Em frente encontra-se uma verdadeira obra de arte de arquitectura. Na minha opinião, claro.


A par de construções recentes, vêm-se obras arquitectónicas de outrora onde a pedra, o ferro forjado e o azulejo imperam.


Cumprindo a promessa, cá está o 150 de cama, mesa e roupa lavada, do camarigo Vasco. O prédio está bem conservado e quem disse o contrário enganou-te.
Vizinhos próximos são o novo Hotel Das Arts...
... e a Escola de Comércio do Porto, cuja fachada em azulejo é espectacular.


Para os saudosos e principalmente para quem trabalhou na Têxtil, relembro o edifício da famosa Caixa da Têxtil, na esquina de Miguel Bombarda, onde outro camarigo, o David Guimarães, passou parte da sua vida.


Olhando para trás, bem ao fundo, vemos uma das colinas de Vila Nova de Gaia.



Voltando à esquerda, ou por Miguel Bombarda ou pelo Breyner, vamos dar à Maternidade Júlio Dinis. No Largo com o seu nome, que já foi Largo dos Ingleses e do Campo Pequeno, o Chafariz de 1894. Foi território Inglês, incluindo Cemitério e Igreja. Os terrenos foram litigados com a Colegiada de S. Martinho de Cedofeita.



A Maternidade Júlio Dinis foi construída de raiz por Saul Domingos Esteves sendo o risco do arquitecto francês George Epiaux, em terrenos que pertenciam a Alfredo Castro vendidos ao Estado. Foi seu impulsionador o Dr. Alfredo Magalhães. Inaugurada em 1939 esteve dependente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Desde essa data sofreu várias alterações, reformas e aumentos, tendo por isso os seus jardins, que eram magníficos, sido diminuídos na sua superfície.
Por fim, também recordo este Hospital onde nasci - por isso sou de Massarelos - e fui operado duas vezes. Logo, sinto um carinho especial por esta casa.
O seu sítio http://www.mjd.min-saude.pt/Frame.htm é um dos mais perfeitos e completos que conheço.



Desconhece-se a origem desta Fonte, mas presume-se ser do séc. XVIII e terá pertencido ao primitivo dono dos terrenos, um súbdito o inglês.


Trânsito difícil pela Rua da Maternidade. Não esqueci o antigo Conservatório de Música, mesmo pegado aos espaços da Maternidade. Terá direito a uma crónica especial.



Esqueçamos os ingleses que foram donos deste pedaço e siga-se pela Rua do Pombal, que afinal já não o é, pois agora chama-se Adolfo Casais Monteiro. Não sei a origem da designação antiga mas a da actual refere a C.M.P. que é uma homenagem ao escritor e professor universitário. Nasceu no Porto em 4 de Julho de 1908 e morreu em S. Paulo em 23 de Julho de 1972. Não tinha programada a volta a este quarteirão. 


Mas como o caminho se faz caminhando, lembrei-me de ter lido em tempos no http://www.portoantigo.org/2010/01/o-velodromo-maria-amelia.html que por aqui existiu um velódromo. E fui tentar procurá-lo. Vi uma senhora à janela, já entradota na idade e perguntei-lhe se o conhecia. Expliquei-lhe que era um local onde a rapaziada de há 100 anos, talvez menos, andava de bicicleta. Olha, diz-me ela, no meu tempo foi no Palácio (ali a dois passos) que aprendi e andava de bicicleta. Recuei uns anos e também me vi por lá a dar ao pedal.


Quási toda a estrutura do Velódromo continua lá. Foi-lhe dado o nome de D. Amélia em homenagem à Rainha, esposa de D. Carlos, a quem os terrenos pertenciam e que os doou ao Velo Clube do Porto. Ou terá sido Real Velo Clube? Para o caso não interessa nada. Claro que não o vi, pois faz parte dos jardins fechados do Museu Nacional Soares dos Reis. Foi inaugurado em 1895 mas a história do ciclismo português está ligado a ele, até porque o primeiro clube de ciclismo nasceu no Porto.

Esta era a entrada para o Velódromo. Nada a refere, mas não tenho dúvidas, pois é a única abertura para as traseiras do Museu.

Por casualidade (?), no muro que se projecta até à Rua D. Manuel II, existem estes nichos, milagrosamente formatados para cartazes de publicidade. Serviriam antigamente para o mesmo efeito, por exemplo, anunciando as corridas?O velódromo. A foto "saquei-a" do blogue Porto Antigo, atrás referido.


Para completar a volta ao quarteirão, entramos na Rua D. Manuel II, cujo Palácio das Carrancas, hoje Museu Nacional Soares dos Reis se destaca do lado esquerdo.

Este edifício começou a ser construído em finais do séc. XVIII para residência e fábrica de ourivesaria dos Carrancas, apelido de uma família abastada cá do burgo, os Morais e Castro. Foi quartel-general de Soult aquando das invasões francesas e depois de Wellington após a expulsão dos saqueadores. Durante as Lutas Liberais foi local de acolhimento de D. Pedro IV; adquirido aos descendestes da família em 1861, por D. Pedro V por 300 contos de réis para residência real durante as suas visitas ao Porto. Li que D. Manuel II ainda o utilizou numa das raras visitas ao Porto, já exilado. Daí o nome da Rua em sua homenagem.


Passou a chamar-se Paço Real. Após a instauração da República e porque o Paço Real era propriedade privada do rei, esteve encerrado até 1932, data do falecimento de D. Manuel II. Este legou-o à Santa Casa da Misericórdia do Porto. Passou para o Estado em 1939 para aí instalar o espólio do Museu Municipal do Porto e do ex-Museu Portuense de Pinturas e Estampas, fundado em 1833 onde tinha nascido o primeiro museu de arte em Portugal. A foto é de Arnaldo Soares do princípio do séc. XX


Do outro lado da Rua D. Manuel II, um monumental edifício cheio de história. Em 1838, poucos anos após o levantamento do cerco miguelista (1829/1932), a Câmara do Porto evoca a vitória liberal determinando que a Rua dos Quartéis, - já tinha tido outros nomes e hoje de D. Manuel II - passasse a ostentar a designação de Rua do Triunfo. Aqui existiam desde o séc. XVII - presume-se que o seja apenas por causa do portão de entrada - um conjunto de edifícios destinados a aquartelamento militar. O governo Miguelista estabeleceu aqui o R.I.9 passando posteriormente para o antigo R.I.6. Há quem escreva que só existiu o R.I.6. Mas também não sei quem, quando e como foi recuperado o edifício actual, na medida em que dos antigos pouco sobreviveu. Actualmente o edifício alberga serviços do Hospital de Santo António.

É já no séc. XX que passa para Metralhadoras 3 e posteriormente, nos anos 60, derivado à Guerra do Ultramar, passa a albergar o CICA 3, se não estou em erro. O emblema primitivo continua gravado no granito.


A seguir ao Quartel, eram os terrenos do primitivo Horto das Virtudes, fornecedores reais, que se estendiam, desde meados do séc. XIX, até Miragaia. Para a abertura de novas ruas, foi sendo retalhado. Posteriormente passou para o Moreira da Silva, de Campanhã. A fachada em vidro era enorme e junto à entrada, ostentava uma pêra gigante gravada na pedra.

Desse Horto, resta para o portuense visitar, o bonito Jardim das Virtudes que vai desde as traseiras da Cooperativa Árvore até um magnífico miradouro sobre Miragaia. A não perder 
uma visita.

Finalmente, paz e sossego no Jardim do Carregal.
Mas isso fica para outra vez.

Os textos, principalmente os históricos foram pesquisados em vários sítios, alguns referidos.

Mas não se pode esquecer o http://www.portoxxi.com/.

Uma curiosidade sobre a Rua D. Manuel II. Logo após o 25 de Abril de 1974, foi proposto na reunião camarária que a Rua mudasse o seu nome para Estaline. Chumbada a proposta, energúmenos resolveram pichar as placas da Rua com o nome do ditador soviético.

2. Este poste regista o seguinte comentário do Vasco Augusto Rodrigues da Gama, com data de 22 de Março de 2011:

Se eu já não necessito que me abanem muito para me saltar uma lágrima, com estes miminhos do Jorge Portojo estou todo derretido.

Tantas e tantas alegrias que eu passei na rua do Rosário nº 150... foram os melhores anos da minha vida, embora sobre a nossa geração pairasse o pesadelo da guerra colonial.

Reconheço todos os nomes que referes no teu trabalho e vi com outros olhos pormenores e minúcias que só mestre Portojo é capaz de referir. Mas, como aluno atrevido e reguila que sou, ousarei apontar ao mestre falta imperdoável, pois não refere, nem ao de leve, as tascas da rua do Rosário. Mesmo em frente a minha casa situava-se o Freitas, casa pouco concorrida pois o dono tinha pouca paciência, e ao fundo da rua havia duas tascas sempre cheias de malta.

À esquerda o sr. Domingos careca, sempre a ralhar com o filho e com a mulher, mas tinha um vinho da Meda que fazia um sucesso, mas que às vezes obrigava a sestas prolongadas, com falhas às aulas, mas recuperávamos a tempo de ir ao cinema, normalmente ao Carlos Alberto, com sessão dupla e barulheira infernal quando havia coboiadas.

Do outro lado da rua era o famoso Zé dos Bragas, onde eu aboletava mais amiúde, pois a cozinha era mais variada e o barulho não era tanto. Esteve à frente do estabelecimento um senhor que tinha vindo do Brasil, o sr. Avelino. Uma das empregadas era a Laura e a outra a Glória. Dava-lhes cabo da paciência, pois quando havia frango era certo e sabido que eu pedia: " por favor serve-me pito"!

Um dia um camarada meu Jorge Paiva de seu nome, pediu "frango à minha moda" (pito) a uma delas, que de imediato foi fazer queixa ao sr. Avelino. O homem mandou o Paiva para a rua e quando ele se desculpou comigo, pois era assim que pedia o repasto ouviu a resposta: Mas o Vasquinho pode dizer e o senhor é um mal-educado...

Aqui bebia uma garrafa de Campelo, "fresquinho dá gosto bebê-lo"! Lembram-se? Temos que nos encontrar para te contar uma história da rua do Rosário, quando a rua ainda tinha os trilhos do eléctrico.Obrigado Jorge por estes momento e desculpa lá se embalei...

Um abraço amigo

3. Respondeu assim o Jorge Portojo.

Caro Vasco:

O teu comentário passaria a poste se tivesse fotos das casas que já não existem. Pelo menos não as encontrei e sabes como sou bom olheiro para essas coisas. Algumas Residenciais e cafés-botecos é o que se vê agora e onde normalmente nem o bagaço é razoável. Não se pode ter tudo, meu amigo.

Um abraço
Lamento, caro amigo

4. Resta acrescentar o link para o blogue: http://portojofotos.blogspot.com/
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:




Guiné 63/74 - P8010: Memória dos lugares (149): O Pel Mort 2106, do Fur Mil Lopes, que esteve em Bambadinca (1969/70) (Vítor Raposeiro / Gabriel Gonçalves / Arlindo Roda / Humberto Reis)


 Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Aquartelamento de Bambadinca >  Finais de 1970 > Pessoal do Pelotão de Morteiro 2106 festejando a peluda, uma vez terminada a sua comissão... Um dos furriéis deste pelotão era o Lopes, natural de Angola. Lembro-me dele e o Humberto Reis também. Era mais velho três meses do que nós. O que é feito dele?  Era um bom camarada, conforme testemunha aqui o Humberto Reis:

" (...)  Neste destacamento [da Ponte do Rio Udunduma] estava permanente um Grupo de Combate da CCAÇ 12, que vivia em buracos como as toupeiras (rodava todas as semanas). Ou melhor dizendo: eram três apartamentos subterrâneos tipo T Zero...



"Com este destacamento passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais (operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiram assobiar e não os que viviam no bem bom dentro dos arames farpados e que nunca sentiram o medo de levar um tiro).


"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer ). Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o Fur Mil do Pel Mort [2106] com uma esquadra, o Lopes que era natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).


"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim 2 Km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços,  fechou a mala e foi embora" (HR).


Foto: © Vitor Raposeiro (2010). Todos os direitos  reservados





 Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Aquartelamento de Bambadinca > 22 de Março de 1971 > CCS do BART 2917 (1970/72) e CCAÇ 12 (1969/71) > Álbum fotográfico de Gabriel Gonçalves (ex-1º Cabo Cripto,  CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) > Foto nº 6 > "Na foto, estou eu acompanhado do cripto da companhia do Xime (não me lembro do nome), junto dos memoriais da nossa companhia, a CCaç 12 [CAÇ 2590], e do Pel Mort 2106" (GG)"... Estes memoriais foram, entretanto, destruídos a seguir à independência.

Foto: © Gabriel Gonçalves (2008). Todos os direitos Direitos reservados





Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca &gt >  1970 > O Fur Mil At Inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12, e o Fur Mil Lopes, do Pel Mort 2106 (1969/70), algures num destacamento (talvez Nhabijões), junto do Mort 81. 

Este Pel Mort 2106 teve equipas nos seguintes aquartelamentos e destacamentos: Xitole, Mansambo, Saltinho, Ponte dos Fulas, Nhabijões, Enxalé, Xime, Missirá, Taibatá e Fá. Foi rendido em Dezembro de 1970 pelo Pel Mort 2268, por ter terminado a sua comissão. 

Infelizmente, a história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) não traz a composição das subunidades adidas... Mas deste Pel Mort costumam, no entanto, aparecer alguns elementos nos convívios anuais do pessoal de Bambadinca desta época (1968/71).

De acordo com os elementos apurados pelo nosso camarada Benjamim Durães sobre as unidades sediadas em Bambadinca, o Pel Mort 2106 esteve em Bambadinca entre Março de 1969 e Dezembro de 1970. Foi antecedido pelo Pel Mort 1192 (Mai 67 / Mar-69) e pelo Pel Mort 1028  (Set-65 Fá Mandinga; Nov-66 Bambadinca Mai-67). Sucedeu-lhe o Pel Mort 2268 (Dez 70 / Set 72) e, por  fim, o Pel Mort 4575/72  (Jul 72 / Abr 74). 

Uma dúvida que tenho, é a de saber se Bambadinca chegou a ter artilharia pesada, e nomeadamente obuses 14, no final da guerra... Há fotos com carcaças carcomidas de obuses, que podem muito ter vindo das zonas fronteiriças do leste, a caminho de Bissau, e que poderão ter ficado por ali... aguardando embarque. (LG)

Foto: © Arlindo Roda (201o). Todos os direitos  reservados

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Nota do editor

Último poste da série > 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8009: Memória dos lugares (148): Enxalé, a desilusão... Onde está a arquitectura colonial ? (Henrique Matos)

Guiné 63/74 - P8009: Memória dos lugares (148): Enxalé, a desilusão... Onde está a arquitectura colonial ? (Henrique Matos)

1. Mensagem de Henrique Matos, (ex-Alf Mil, 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52 Enxalé, 1966/68), com data de 22 de Março de 2011:

Meu caro Luís
Estava para pôr isto nos comentários, mas como vou juntar duas fotos não sei se é possível, por isso aqui vai por email.

Estive a conferenciar com a D. Helena  [, Pereira Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, ]para esclarecer as fotos do Beja Santos. A casa dos pais dela, onde ficava o Comando da Companhia e a messe de graduados, foi bombardeada depois da independência e desapareceu. Isto mesmo ela confirmou quando lá esteve em 1989. A casa que aparece neste post era do empregado e no nosso tempo servia de dormitório de graduados.

Entretanto a D. Helena mandou-me algumas fotos do seu tempo. Escolhi as duas em anexo: a tal casa dos pais que já não existe e a entrada para o Enxalé.
As restantes são de carácter pessoal.
Se isto servir para alguma coisa estás à vontade.

Aquele abraço
Henrique



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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

15 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7949: Memória dos lugares (147): Enxalé, a desilusão... Onde está a arquitectura colonial ? (Henrique Matos / João Crisóstomo)
e
5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

Guiné 63/74 - P8008: Notas de leitura (221): A Luta pela Independência, por Dalila Cabrita Mateus (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Nada mau como dissertação de mestrado, imensos dados da maior importância, entrevistas com revelações nunca antes publicadas. Esclarecedor da torrente de utopias e do entusiasmo desses dirigentes africanos que julgavam estar à altura de uma tarefa gigantesca. Falaram em geração da utopia, reuniram-se em Lisboa, ainda nos anos 40, depois da guerra, e foram a correr atrás dos ventos da descolonização. É o estudo desse percurso, a maioria deles andou por estas ruas de Lisboa, até por quartos alugados. O prédio da Casa dos Estudantes do Império ainda lá está, no Arco do Cego.

Um abraço do
Mário


À volta da formação da elite fundadora do PAIGC (1)

Beja Santos

“A Luta pela Independência, a formação das elites fundadoras da FRELIMO, MPLA e PAIGC” foi o primeiro trabalho de investigação de Dalila Cabrita Mateus (Editorial Inquérito, 1999). Com base numa dissertação de mestrado, este trabalho de investigação discorre sobre as lutas pela independência das ex-colónias portuguesas, entra na questão de fundo das opções ideológicas e modelos económicos e sociais adoptados por tais movimentos e procura equacionar os diferentes factores que conduziram tais opções a insucessos.

A autora, foi das primeiras investigadoras a trabalhar os então recém-disponibilizados arquivos da PIDE, estrutura a sua investigação na seguinte linha de análise: espinha dorsal da chamada missão civilizadora portuguesa; constituição das elites urbanas e crioulas dos três principais movimentos independentistas; ambiente em que se formaram as elites africanas em Portugal, sobretudo em torno de A Casa dos Estudantes do Império (CEI) e na órbita do PCP; natureza dos apoios externos à luta independentista; da utopia ao colapso da pequena burguesia independentista. Obviamente que esta recensão procurará, no essencial, dirigir-se à questão guineense.

1945 foi o ano em que, praticamente, se iniciaram as actividades da CEI, que irá ter um papel destacado na formação das elites políticas que fundaram a FRELIMO, o LMPA e o PAIGC. Ao tempo, já está em marcha a missão civilizadora que tem a sua pedra de toque no Acto Colonial, onde se afirmava ser “da essência orgânica da Nação Portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar populações indígenas que neles se compreendam”. Questão matricial era a doutrina da superioridade racial dos colonizadores, como proferiu Salazar em 1933: “Devemos organizar cada vez mais eficazmente e melhor a protecção das raças inferiores”. E como acrescentará em 1957: “Nós cremos que há raças, decadentes ou atrasadas, como se quiser, em relação às quais perfilhamos o dever de chamá-las à civilização”.

Embora estes conceitos tenham vindo a ser posteriormente amaciados nas exposições do ditador, ele nunca as retirou da sua perspectiva teórica. O regime lançou as bases do desenvolvimento, dentro da lógica do aproveitamento dos recursos a pensar na economia da metrópole e na transferência de mão-de-obra da Metrópole para as colónias. Em torno desse processo colonizador havia que encontrar cidadania e estatuto para os chamados não-civilizados. Na década de 50, a esmagadora maioria dos africanos continuava a ser considerada não-civilizada. A autora documenta com a evolução do ensino oficial nas colónias, postula com a evolução do ensino missionário católico e como este acabou inevitavelmente por entrar em conflito com a missionação das igrejas protestantes.

Está perfeitamente documentado o papel de Amílcar Cabral, nos anos 50 do MPLA e PAIGC. Os dirigentes da corrente independentista circulavam no meio de elites crioulas e o PAIGC, como é por demais sabido, assentou nas elites crioulas da Guiné e Cabo-Verde. Foi em Bissau, no número 16-A da Rua Dr. Vieira Machado (na casa onde morava Aristides Pereira), que se realizou, em Setembro de 1956, a reunião onde participaram Amílcar e Luís Cabral, Aristides Pereira, Júlio Almeida, Fernando Fortes e Elysé Turpin. Seguiu-se a mobilização orientada para as camadas urbanas. Em 1958, o partido criava a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, organização sindical clandestina. Estima-se que em 1959, ano do massacre do Pidjiquiti, havia meia centena de membros activos, mas quase todos em Bissau. Com o desenvolvimento da luta, a origem social dos militantes do PAIGC modificar-se-á e em 1962-1963 assentará profundamente no campesinato do interior. Os principais dirigentes são cabo-verdianos e estes serão sempre uma percentagem insignificante dos combatentes.

A CEI é o ponto de encontro destes jovens que vêm à procura de habilitação superior. A casa [CEI – Casa dos Estudantes do Império] surgira ligada à Mocidade Portuguesa, fora patrocinada pelo Ministro das Colónias e pelo Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa. Situava-se no Arco do Cego, no nº 23 da Avenida Duque d’Ávila. Está lá hoje uma lápide a lembrar a sua existência, bem mal tratada por sinal.

Surgem publicações e Amílcar Cabral, com o pseudónimo de Arlindo António, irá aqui publicar um dos seus primeiros textos de reflexão política. Dalila Mateus descreve o funcionamento da CEI bem como doutras organizações, como é o caso do Centro de Estudos Africanos, o Clube Marítimo Africano e a Casa de África. As influências político-orgânicas radicaram na projecção do PCP, pólo de atracção destes líderes africanos.

Como recorda a autora, o PCP foi praticamente a única força oposicionista organizada no seio da juventude universitária. Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, Mário de Andrade e Vasco Cabral fizeram parte do MUD juvenil. Nesses anos 50 um número importante destes dirigentes começa a participar junto de entidades satélites dos soviéticos, na Europa de Leste. Depois, na perfeita clandestinidade, fundam organizações unitárias como o Movimento Democrático das Colónias Portuguesas, o Movimento Anticolonialista, que evoluirá para a FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência das Colónias Portuguesas) e depois a CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas).

Debruçando-se sobre as influências político-culturais destes estudantes africanos, revela-se que eles liam Gorki, Ehremburg, Cholokov, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol, Fernando Amora, José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, entre tantos outros. Aliás, a autora entrevistou alguns desses dirigentes e verificou que o leque de leituras era extensivo aos franceses e norte-americanos. O grosso das fugas começa no início da década de 60, vão engrossar os quadros dirigentes dos movimentos de libertação, muitas vezes graças à colaboração dos quadros comunistas portugueses.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7960: Notas de leitura (220): Comício, um grande poema em defesa do ultramar, por Couto Viana (Mário Beja Santos)