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domingo, 19 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14491: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (12): Um blogue de desvairadas e bravas gentes...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  Dois "cavaleiros", o J. L. Vacas de Carvalho (Lisboa) e o Ernestino Caniço (Tomar)... Ambos comandaram, no CTIG, o seu Pel Rec Daimler, sensivelmente na mesma altura, um no leste (Bambadinca, Pel Rec Daimler 2206, 1969/71), outro da região do Óio (Mansabá e Mansoa, Pel Rec Daimler 2208, 1970/72)...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > O nosso JERO, o "último monge de Alcobaça" e a filha do Manuel Joaquim, a Alexandra, reputada especialista em restauração artística (pintura mural) que nos honrou com a sua presença, acompanhando o pai e o "mano", o Zé Manel, o nosso "Adilan"


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > A Alexandra e o JERO... "Velhos" conhecidos do Mosteiro de Alcobaça e da paixão pelo património cultural...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  A Alexandra e o mano "Adilan", o "nha minino" do Manuel Joaquim, cuja história de vida é uma das mais fantásticas que cá contámos no nosso blogue...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  O Zé Manel e a "mana" Alexandra (de costas)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  Um homem feliz, o nosso coeditor Carlos Vinhal, a avaliar pelo seu sorriso aberto, aqui num "tête-a-tête" com a nossa camarada de armas, a Giselda Pessoa...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Da esquerda para a direita: (i) Vitor Caseiro (Leiria) (ex-fur mil da CCAÇ 4641, Mansoa e Ilondé, 1973/74); e (ii)  Jorge Picado (Ílhavo) (ex- cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Dois dos homens que "abriram" a guerra: o José Augusto Miranda Ribeiro (Condeixa) e o Joaquim Luís Mendes Gomes (Mafra / Berlim), o nosso poeta das "Baladas de Berlim"... Ambos são do tempo do caqui amarelo... Recorde-se que o José Augusto [Miranda] Ribeiro foi fur mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal, Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965)... O nosso poeta, J. L. Mendes Gomes, esse,  foi alf mil da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66),


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Ao centro, o Jorge Rosales, "régulo" da Tabanca da Linha, tendo à sua esquerda o seu solícito e competente "secretário", o Zé Dinis...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Dois guineenses de alma e coração:

(i) O cor inf ref, Rui Guerra Ribeiro, filho o intendente Guerra Ribeiro (no tempo de Spínola), e administrador  de Bafatá (o homem que construiu a piscina de Bafatá, a "princesa do Geba");
(ii)  e o António Estácio, escritor... [O seu livro mais recente é sobre Bolama, mas o editor pede-lhe 4 mil euros para o pôr cá fora)...

Ambos têm costela transmontana: o António Estácio, filho de transmontanos, nasceu em Bissau e estudou no Liceu Honório Barreto, tendo mais tarde tirado em Coimbra o curso de engenheiro técnico agrícola; o Rui Guerra Ribeiro foi levado com escassos meses para Guiné onde o pai fez a carreira de administrador, estudou na metrópole, da 4ª classe  ao 5º ano do liceu, voltou à Guiné, voltou a Portugal para fazer a academia militar, foi capitão da 15.ª CCmds, em Angola, onde foi ferido num braço; voltou à Guiné, para se recuperar; foi Ajudante de Campo do último Governador e Comandante-Chefe Bettencourt Rodrigues... Está convidado a integrar o nosso blogue e tem histórias para contar do dia, o 26 de abril, em que o MFA de Bissau tomou de assalto a fortaleza de Amura e destitui o Com-Chefe... (Diz ele que a história está mal contada e promete esclarecer alguns pontos do que se passou nesse dia...).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Da direita para a esquerda: (i)  Arménio Santos (Lisboa), bancário, dirigente sindicalista, deputado da Nação (pelo PSD) (, ex-fur mil de rec inf, Aldeia Formosa, 1968/70, entrou para a nossa Tabanca Grande em 5 de novembro de 2009, tendo por padrinho o Jorge Cabral); (i)  o António Manuel Garcez Costa (Lisboa) (que foi locutor no PFA - Programa das Forças Armadas); e  (iii)  Paulo Santiago (Águeda) (que não precisa de apresentações, é um dos "velhinhos" da Tabanca Grande)...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Foi um prazer enorme rever e abraçar o nosso veteraníssimo Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional, com estabelecimento em Guifões, Matosinhos)... Desde 2007 (Pombal), se não erro, que não vinha a um dos nossos encontros, por razões de agenda... É pai do nosso tabanqueiro Hugo Costa... (Espero que ele me mande algumas das fotos que tirou)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5482: Controvérsias (60): Ainda as afirmações de Lobo Antunes e os apoios sociais atribuídos aos ex-combatentes (Arménio Santos)

1. Mensagem de Arménio Santos* (ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal

Começo por pedir desculpa em só agora voltar a dar sinal de vida, depois da minha apresentação e entrada na nossa tertúlia.

Obrigado por me terem franqueado as portas e, como qualquer outro, tentarei dar o meu modesto contributo para alimentar a ideia feliz que tiveram em criar este blogue, como espaço aberto de partilha de memórias, de episódios e de experiências daqueles que viveram tempos na Guiné que não devem ser esquecidos, que não devemos esquecer, porque representam um marco importante da nossa vida e da nossa juventude.

Independentemente da nossa actual condição ou da leitura que façamos desses tempos, eu fiquei apanhado pela Guiné e especialmente pela nobreza das suas gentes. Há afectos que ficam e não se apagam. Por isso, custa-me ver esse País adiado e mergulhado em problemas e instabilidade que impedem a Paz e o seu arranque para os caminhos do desenvolvimento, sem o qual é impossível as pessoas terem esperança numa vida melhor e em Liberdade.

Dou esta minha opinião, naturalmente no escrupuloso respeito pelos assuntos internos da Guiné, onde, felizmente, tenho amigos. Nós também sofremos com o sofrimento daqueles de quem gostamos. E o povo da Guiné é um povo irmão, amigo, que tem sofrido e continua a ser vítima de situações que lhe furtam a esperança e o futuro a que tem direito.

Conheço bem as ESTÓRIAS CABRALIANAS, algumas circularam na Lusófona, para gáudio da malta. De facto, o Prof Jorge Cabral é simplesmente fantástico, é de um humanismo extraordinário, é uma pessoa cinco estrelas. Sei, por ele, que anualmente há um almoço de confraternização e uma deslocação à Guiné. Farei os possíveis para, se e quando isso acontecer, estar presente.

Permite-me, meu Caro Carlos Vinhal, uma palavra, embora atrasada, sobre um tema que acompanhei e foi objecto de algumas posições indignadas acerca das declarações do Lobo Antunes, relativamente ao comportamento das tropas portuguesas nas antigas colónias e especialmente em Angola.

Considero simplesmente deplorável que uma figura cimeira das letras nacionais e da nossa cultura se preste a produzir semelhantes invenções. Se fosse um livro de ficção, teria de ser encarado e tratado como fantasia e daí não passava. Era ficção, era fruto da imaginação, não era a realidade, ponto final. Mas sendo declarações produzidas em conferência de imprensa, e no estrangeiro, obviamente que o Senhor Lobo Antunes sabia que estava a faltar à verdade, sobre uma questão muito séria, que mexe com a dignidade das Forças Armadas Portuguesas e sobretudo com a dignidade de milhares de pessoas que passaram pelas suas fileiras em África.
Sinceramente, custa-me aceitar que tenham sido razões mercantis que motivaram semelhante insulto àqueles que tombaram ou que passaram por altos riscos e sacrifícios em terras africanas.

Os nossos intelectuais, deviam ser os cabouqueiros dos alicerces de novas ambições nacionais, deviam ser exemplo, deviam puxar pela nossa auto-estima e deviam ser agentes de causas capazes de mobilizarem esta secular Nação, com verdade. Infelizmente, alguns têm uma grandeza medíocre e rasteira. É triste!
Um forte Abraço e um Bom Natal para ti e para a tua Família. Votos de Boas Festas, também, para TODOS os residentes da Tabanca Grande.


2. Apoios sociais atribuídos aos ex-combatentes

Meu Caro Carlos Vinhal
Suponho que tu ou o Luís Graça em meados de Novembro, perguntaste, para um nosso compatriota emigrante, por dados relativos aos apoios sociais para os Antigos Combatentes. Embora sabendo que, provavelmente, estes elementos são do vosso conhecimento, mesmo assim permito-me enviá-los por poderem ser úteis a alguém.

Quais os ex-combatentes abrangidos pela Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro?

A Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro considera ex-combatentes:


- Ex-militares mobilizados entre 1961 e 1975, para os territórios de Angola, Guiné e Moçambique (artigo 1.º, n.º 2 alínea a);

- Ex-militares aprisionados ou capturados em combate durante as operações militares que ocorreram no Estado da Índia aquando da invasão deste território por forças da União Indiana ou que se encontrassem nesse território por ocasião desse evento (artigo 1.º, n.º 2 alínea b);

- Ex-militares que se encontrassem no território de Timor Leste entre o dia 25 de Abril de 1974 e a saída das Forças Armadas Portuguesas desse território (artigo 1.º, n.º 2 alínea c).

No entanto, o seu âmbito de aplicação pessoal abrange apenas os ex-combatentes subscritores da Caixa Geral de Aposentações ou beneficiários do regime de pensões do sistema público de Segurança Social.

Quais os ex-combatentes abrangidos pela Lei n.º 21/2004 de 5 de Junho?

A Lei n.º 21/2004, de 5 de Junho procedeu ao alargamento do âmbito de aplicação pessoal da Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro e abrange:


- Ex-combatentes que estejam abrangidos por sistemas de segurança social de Estados membros da União Europeia e demais Estados membros do espaço económico europeu, bem como pela legislação Suíça, ainda que não tenham sido beneficiários do sistema de segurança social nacional;

- Ex-combatentes que estejam abrangidos por sistemas de segurança social de Estados com os quais foram celebrados instrumentos internacionais (Convenção ou acordo sobre Segurança Social, designadamente Andorra, Argentina, Austrália, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Chile, Estados Unidos da América, Marrocos, Venezuela, Uruguai e Turquia) e que prevejam a totalização de períodos contributivos, desde que tenham sido beneficiários do sistema de Segurança Nacional, ainda que não se encontre preenchido o prazo de garantia para acesso a pensão;

- Ex-combatentes que não sejam subscritores da Caixa Geral de Aposentações nem beneficiários do regime de pensões do sistema público de Segurança Social, designadamente bancários, advogados e solicitadores, beneficiários de regimes privados de protecção social, de acordo com o preceituado no artigo 1.º, alínea c) da Lei n.º 21/2004 de 5 de Junho e da Portaria n.º 167/2005, de 1 de Fevereiro que aprovou o formulário de requerimento dos ex-combatentes supra mencionados.

Quais os ex-combatentes abrangidos pela Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro?

São abrangidos pela Lei n.º 3/2009, o Universo dos Antigos Combatentes definido através da Lei n.º 9/2002, de 11 de Fevereiro e na Lei n.º 21/2004, de 5 de Junho, e os que se encontram estipulados na alínea f) do artigo 2.º da Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro, ou seja, os Antigos Combatentes abrangidos pelo regime de protecção social dos bancários, beneficiários da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores e da Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Portuguesa de Rádio Marconi.

Como é calculado o complemento especial de pensão (CEP)?

O complemento especial de pensão é igual a 3,5% do valor da pensão social por cada ano de prestação do serviço militar ou duodécimo daquele valor por cada mês de serviço. Importa ainda referir que a contagem de tempo de serviço militar é feita tendo em atenção o número de anos e meses completos, não sendo por isso contabilizados os dias isolados. Compete à Segurança Social o cálculo e o pagamento do CEP.

Qual o montante anual do suplemento especial de pensão (SEP)?

O montante anual do SEP encontra-se previsto no artigo 8.º da Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro. É atribuído nos seguintes moldes:


- € 75 aos que tenham uma bonificação de tempo de serviço até 11 meses;
- € 100 aos que tenham uma bonificação de tempo de serviço entre 12 e 23 meses;
- € 150 aos que tenham uma bonificação de tempo de serviço igual ou superior a 24 meses.

Quando deverá ser pago o suplemento especial de pensão (SEP)?

O SEP é pago anualmente, no mês de Outubro, nos termos do n.º 5 do art. 8.º da Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro.

Um grande Abraço.

3. Uma palavra ainda para aqueles que me honraram com os seus comentários

Ao Luís Faria, um grande abraço e um muito obrigado pela tua apreciação à minha entrada na Comunidade Camariga.

Ao Mário Pinto, pelos vistos fomos vizinhos, no eixo Buba-Mampatá-Quebo. Tenho feito um grande esforço para me lembrar de ti mas, sinceramente, não me recordo. Agora dos Morcegos de Mampatá, recordo-me perfeitamente bem. Vocês foram uns heróis.
Um abraço para ti e espero encontrar-te numa iniciativa que o blogue promova.

Ao Manuel Maia, obrigado pelo teu comentário e, como já referi ao José Martins, podemo-nos encontrar no Parlamento se a tertúlia quiser. Partilho em absoluto da tua opinião que está por fazer justiça aos ex-combatentes. E a dois níveis, do meu ponto de vista, claro: em termos sociais, com uma justa compensação na reforma; e em termos de reconhecimento nacional, descomplexado, pelo serviço militar que fomos chamados a prestar em nome da Pátria. Um grande Abraço

Ao Anónimo**, veterano da guerra, ex-Fur Mil – Art.ª Bigene/Guidage-Barro

Meu Caro Amigo,
Agradeço o teu comentário e procuro sucintamente responder à tua questão. Eu estive na Guiné 25 meses sem me deixarem vir à Metrópole e, apesar da minha Especialidade, andei em muitas Operações onde vi alguns camaradas, africanos e europeus, ficarem pelo caminho sob fogo inimigo ou por minas.

Sei bem, como tu e todos nós, o que representou o destacamento dos soldados portugueses para as ex-colónias. Sei bem quão merecida e justa seria uma pensão condigna, correspondente ao tempo do serviço militar cumprido, àqueles que foram chamados a envergar a farda das Forças Armadas Portuguesas e rumaram ao então Ultramar ao serviço da Pátria.

Infelizmente há sempre um mas, para não decidir e para não resolver.
Penso que se o processo de descolonização não tivesse deixado as marcas políticas no País que então deixou, possivelmente esse problema teria sido encarado com outra abertura e naturalidade. Assim não aconteceu, este problema não foi bem resolvido desde o princípio, se calhar na altura também não era possível resolvê-lo de outra maneira e, entre outras vítimas, os ex-combatentes têm razões de queixa.
Um abraço e Feliz Natal

Ao Jorge Fontinha, Régua
Caro Companheiro, aquele abraço e oportunamente havemos de nos encontrar. De vez em quando vou aí à Casa do Douro ou a reuniões na Régua e em Vila Real com Companheiros nossos. Da próxima vez dou-te um sinal, para nos encontrarmos por aí.
Um forte abraço e Feliz Natal para ti e para a tua Família.

Ao José Marcelino Martins, a Assembleia da República é a Casa da Democracia e está aberta a todos os cidadãos, como não podia deixar de ser. Se houver interessados e se o Carlos Vinhal ou o Luís Graça quiserem preparar uma visita à Assembleia da República, terei imenso gosto em vos receber e acompanhar.
Um forte abraço.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5216: Tabanca Grande (185): Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70

(**) Trata-se do nosso camarada Jorge Teixeira, identificado como jteix veterano de guerra

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5447: Controvérsias (59): Deixem que cada um tenha a liberdade de criar a sua versão... (António Matos)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5216: Tabanca Grande (185): Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70

1. Mensagem de Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70, com data de 3 de Novembro de 2009:

Senhor Luís Graça
Permito-me enviar-lhe duas fotos e alguns dados relativos à minha condição de ex-combatente da Guiné, esperando que correspondam à V/praxe, e candidato a entrar no V/blogue.
A recomendação é do Prof. Jorge Cabral, da Universidade Lusófona.

Um abraço
Arménio Santos


Arménio Santos - Apresentação

Foi Furriel Miliciano, especializado em Informações e Acção Psicológica, destacado em Aldeia Formosa – Quebo, entre Outubro de 1968 e Novembro de 1970.

Esteve em rendição individual e, como responsável pelo SIM - Serviço de Informações Militares, trabalhou com os, então, Major Carlos Azeredo, Tenente Coronel Carlos Hipólito e os Majores Pezarat Correia e Mexia Leitão.

Fez a recruta na EPC – Santarém, em Julho de 1967 e a Especialidade em Reconhecimento e Informações no CISMI, em Tavira, Setembro de 1968.

Bancário, do BPA e do Millennium BCP, foi presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas.

Hoje é Deputado na Assembleia da República, pelo PSD, e Secretário-Geral dos TSD – Trabalhadores Social Democratas.

Reside em Oeiras.
Email: armeniosantosnaguine@gmail.com


Uma história

Aldeia Formosa era um aquartelamento onde se concentravam muitos efectivos militares. Primeiro era o COSAF – Comando Operacional do Sector de Aldeia Formosa e depois passou a sede de Batalhão, tinha várias unidades de milícias nativas e era placa giratória de tropas especiais envolvidas em operações na zona de GuilegeGadamaelSalancaur Sul.

Havia, portanto, muitos militares.

O rancho nem sempre era famoso. Pelo contrário. E quando havia oportunidade para fazer um churrasco, especialmente furtivo, para além de se variar do prato habitual, era uma oportunidade fantástica para confraternizar, esquecer os riscos e o isolamento em que se vivia e partilhar pedaços da vida pessoal e familiar de cada um.

Só que, o churrasco nem sempre era conseguido pelas melhores vias. Algumas vezes lá ia uma vitela, um porco ou um cabrito à “revelia” do dono. O que era furtado tinha outro gosto.

Num desses casos, o Cherno Rachid, o chefe religioso dos Fulas, cuja influência ultrapassava as fronteiras da Guiné-Bissau e era reconhecida desde a Gâmbia à Costa do Marfim, com quem eu trabalhava estreitamente mercê da minha função, e com o qual as tropas portuguesas tinham as melhores relações, mandou o Bubacar Jaló chamar-me que desejava falar comigo.

Pensei que se tratava de mais um dos muitos contactos que tínhamos sobre as actividades do IN ou sobre os problemas na Tabanca.

Quando cheguei percebi logo que o assunto teria de ser outro. O Cherno Rachid não estava sozinho, como era normal naqueles casos de trabalho, estava rodeado por um grupo de “Homens Grandes” e uma bajuda. Bastante bonita, por acaso.

Que assunto pretendia tratar o Cherno Rachid? Simplesmente que eu resolvesse o problema de um dos “Homens Grandes” presentes, que tinha ficado sem uma vitela no dia anterior e que tinha sido comida no quartel.

Que provas tinha o “Homem Grande”?

A bajuda foi a fonte da informação, ingenuamente. Era lavadeira do Delfim, que era dos lados de Matosinhos, a quem ele dera um enorme pedaço de vitela, para ela e para a família, e a quem se vangloriara da sua façanha.

A bajuda tentou dizer alguma coisa, mas os olhos do Cherno e dos outros mantiveram-na no silêncio, tal como eu também não a questionei. Ela estava ali porque o marido, um dos “Homens Grandes” presentes, também tinha comido do naco de carne que o Delfim deu à bajuda. Só que - e aqui é que está o problema - a vitela que o Delfim tinha desviado era, nem mais nem menos, do “Homem Grande” da sua lavadeira.

Postas as coisas neste pé, falei com o Delfim.

Não havia outra coisa a fazer senão remediar o que ele e os seus amigos fizeram. O Delfim não negou e pagaram o triplo do valor normal da vitela, para exemplo.
O Cherno Rachid esteve presente quando acompanhei o Delfim a sua casa, para ele entregar o dinheiro ao dono da vitela.

Esse sentido de justiça foi registado pelo chefe religioso, o Delfim não gostou de pagar aquilo que já considerava uma “conquista”, mas, por mais estranho que pareça, ficou amigo do “Homem Grande” a quem desviara a vitela e ainda mais amigo ficou da sua bajuda lavadeira.

Só a mim o Delfim passou a chamar-me o “turra branco”. Mas também por pouco tempo. Umas cervejas e a camaradagem trouxeram ao de cima os traços de amizade que só num ambiente daqueles são cimentados.


2. Comentário de CV:

Caro camarada Arménio Santos
Em nome da tertúlia e em particular dos editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, estou a receber-te na nossa caserna virtual.

Cumpriste as rigorosas formalidades para ingresso, as fotos da praxe e a jóia, uma pequena história para apresentação.

Dizes que és amigo do nosso camarada Jorge Cabral. Por si só essa qualidade acarreta uma grande responsabilidade. Se não conheces, aconselho-te a ler todas as (mais de cinquenta) Estórias Cabralianas de sua autoria, publicadas no nosso blogue, para teres a percepção do que foi o outro lado da guerra, coisa que poucos de nós ou ninguém conhecia, porque Jorge Cabral só há um. Quem tem um amigo assim, não precisa de muitos mais.

Deves ter reparado que por aqui, pela Tabanca Grande, andamos perfeitamente à vontade. Nada de senhores, você para aqui, doutor para acolá. Porquê? Porque somos verdadeiros camaradas, daqueles que pisaram o mesmo chão barrento, alagado e minado; que beberam a mesma água salobra; que comeram o mesmo peixe da bolanha; que transpiraram aquele suor pegajoso e foram mordidos por aquela imensidão de mosquitos. Que mais poderemos ter em comum? Aquela amizade que nos torna naquilo que define esta palavra só nossa, camarigos. O nosso camarada e amigo Mexia Alves inventou esta palavra para definir o laço que nos une em volta de um passado comum e inesquecível.

Suponho que saberás que o fim último do nosso Blogue é criar um espólio de histórias e fotografias da nossa experiência enquanto combatentes da Guiné. Trocamos ideias, concordantes ou não, respeitando as diferenças, sejam elas de opinião, religião, política e outras.

Respeitamos a soberania da Guiné-Bissau não interferindo de modo nenhum na sua política interna, desejando sempre o melhor para aquele povo irmão, tão sofredor.
Porque somos bem recebidos quando lá vamos, por gente comum e autoridades, desejamos a todos, que o país saia o mais rapidamente possível daquela situação.

Caro Arménio, a tua actividade não permitirá muito tempo disponível para colaborares connosco, mas faz um esforço e não deixes que outros contem as tuas histórias. É uma variante de serviço público, este blogue. Repara no número de visitas. Somos muitos e... bons.

Em nome da tertúlia e dos editores, envio-te um abraço de boas-vindas.

O teu camarada
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2009 > Guné 63/74 - P5188: Tabanca Grande (184): Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, CCAÇ 675 (Binta, 1964/65)