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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13513: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (1) (Carlos Cordeiro)




Começamos hoje a publicar um trabalho do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, na situação de Reforma, intitulado "Unidades Militares Mobilizadas nos Açores Para a Guerra no Ultramar (1961-1975) - Notas Para Uma Investigação.












(Continua)

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13144: Em busca de... (244): José Moreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 1438 (Buba e Quinhamel, 1965/67), procura os seus camaradas continentais

1. Mensagem de Luís Miguel Moreira, filho do ex-Fur Mil José Moreira da CCAÇ 1438 (Bissau, Buba e Quinhamel, 1965/67), com data de 12 de Maio de 2014:

Boa noite Sr. Luís,
Indicaram-me o vosso site através do facebook como um site onde poderia ver post sobre as várias companhias de caçadores que estiveram no ultramar mais precisamente na Guiné.
O meu pai esteve na Guiné entre 1965 e 1967 na Companhia 1438 ( Furriel Miliciano José Moreira) em que surgem dois posts no vosso site sobre sendo uma companhia açoriana e está correcto mas faziam parte da mesma muitos continentais da metrópole.
O que me leva a enviar este email é que eu gostava que o meu pai, e visto ter perdido o contacto com praticamente todos os seus companheiros de armas, conseguisse rever ex-companheiros de tropa da Guiné. Queria a V/ajuda se possível e caso tivessem contactos de membros dessa companhia (1438) me pudessem fornecer ou ajudar a encontrar elementos dessa companhia.
Sei que não será fácil pois o grande contingente era dos Açores mas como têm muitos conhecimentos decidi escrever-vos no sentido de me tentarem ajudar a realizar um dos sonhos do meu pai, rever ou falar com os seus companheiros de muita luta e sofrimento no ultramar.

Obrigado. melhores cumprimentos.
Luís Miguel Moreira
luis.miguelscp@gmail.com
(913810322)


2. Comentário de CV:

Caro amigo Luís Moreira
De facto vai ser difícil encontrar pessoal da "1438".
Numa pesquisa que fiz pela net não encontrei nada que nos pudesse ajudar. Fica a esperança de que alguém nos leia e lhe possa levar boas-novas.
Se me quiser mandar uma foto de seu pai, do tempo da Guiné, publicá-la-íamos aqui para ver se chama a atenção de algum dos seus camaradas.


Guião da CCAÇ 1438 / BII 17
(Com a devida vénia ao camarada Carlos Coutinho)


Sobre a CCAÇ 1438

- Formada no BII 17 - Angra do Heroísmo
- CMDT: Cap Inf Eugénio Batista Neves
- Partida: 18AGO65
- Regresso: 18ABR67

- Ficou inicialmente colocada em Bissau na dependência do BCAÇ 1857, tendo participado em várias operações.

- Em 15OUT65 foi colocada em Buba como subunidade de intervenção e reserva do BCAÇ 1861.
- Em 06OUT66 assumiu a responsabilidade do subsector de Quinhamel
- Em 31MAR67 foi rendida e seguiu para Bissau, onde se manteve até ao regresso.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13110: Em busca de... (243): Comandante José [Luis] Pombo [Rodrigues], dos antigos Transportes Aéreos Civis, que operavam no CTIG... (Rui Vieira Coelho, ex-alf médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10565: Convívios (478): I Encontro, nos Açores, do Pessoal da CCAÇ 3414 - BII17 - Ilha Terceira, levado a efeito no passado dia 25 de Agosto de 2012 (Joaquim Carlos Peixoto)

1. Em mensagem do dia 20 de Outubro de 2012, o nosso camarada Joaquim Carlos Peixoto (ex-Fur Mil Inf MA, CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73) enviou-nos uma reportagem do último Convívio do pessoal da sua Unidade, levada a efeito na Ilha Terceira no passado dia 25 de Agosto de 2012:


I CONVÍVIO DA CCAÇ 3414 NO BII 17

ANGRA DO HEROISMO – ILHA TERCEIRA 

No ano passado manifestei a alegria que tive ao conseguir organizar o primeiro convívio da minha Companhia a CCAÇ 3414. Foi muito difícil a organização porque os soldados eram na maioria do Arquipélago dos Açores e apenas os graduados e alguns soldados eram do Continente.
Ultrapassando todas as dificuldades, conseguimos que este nosso primeiro encontro, realizado em Coimbra, fosse um êxito embora só tenham aparecido os camaradas do Continente.

Fiz o relato deste encontro e o camarada José Câmara escreveu:

“O ano passado a minha CCAÇ 3327 teve o seu primeiro convívio em Coimbra. Depois de amanhã parto para os Açores para outro convívio no BII 17… Deixa-me sugerir que tentes a experiência nos Açores. Não será fácil, mas digo-te que valerá a pena.”

Seguindo o conselho do camarada J. Câmara, formamos uma equipa encarregue de organizar o convívio de 2012 nos Açores, mais precisamente em Angra do Heroísmo onde estava sediado o BII 17. Começaram-se a fazer os contactos, e desde logo se notou uma certa dificuldade na deslocação aos Açores (a crise…).

Então organizou-se um primeiro convívio em Setúbal. Quem pensava que este convívio não teria a mesma emoção que o do ano anterior, enganou-se. Apareceram outros camaradas que não tinham ido no ano anterior. Foi grande a alegria no reencontro com estes novos camaradas.

Aproximava-se o dia do Convívio nos Açores. Partimos para o aeroporto das Lages. Como iria decorrer o reencontro com os soldados que já não víamos há 39 anos? A emoção começou logo à chegada ao aeroporto. Alguns camaradas estavam à nossa espera. Desnecessário será dizer que ninguém se conhecia. Mas passado o primeiro impacto, começou-se logo a rever os velhos tempos passados na Guiné.

Chegou finalmente o dia do Convívio. Logo de manhã dirigimo-nos para o quartel, antigo BII 17 e actual Guarnição 1. Fomos recebidos pelo Comandante Coronel Araújo e pelo Subcomandante Coronel Silveira. Começaram aqui os abraços com aqueles que iam chegando. Claro que cada um tinha que se apresentar. A falta de cabelo, as barrigas e a idade dificultavam o reconhecimento. Pessoalmente, fiquei muito emocionado ao rever principalmente os soldados do meu pelotão. Com um deles tive grande dificuldade com a pronúncia.

Começou-se com uma homenagem aos camaradas mortos na Guiné. Foi um momento emocionante. Após depositar uma coroa de flores no monumento que imortaliza os militares mortos daquela unidade, quando o ex-alferes Gomes (em representação do Comandante de Companhia) usou da palavra para recordar o Parreira e o Ribeiro (mortos em combate), viram-se as lágrima a correr pela face de quase todos.

Deposição coroa de flores

Foi um momento verdadeiramente penoso.

Recordou que aquando da morte do Parreira no rebentamento duma mina, os soldados não deixaram que o corpo fosse abandonado e durante dois dias acompanhou-nos até chegar ao nosso quartel.

Foto da praxe

Percorremos toda a área do quartel; as gargalhadas e as conversas enchiam o ar de vida. E assim de conversa em conversa, lá fomos seguindo para a quinta onde nos esperava um “repasto” altamente rico e requintado.

"ANTES MORRER LIVRES QUE EM PAZ SUJEITOS"

O ambiente era alegre. Todos queriam fazer ouvir a sua voz. Os organizadores olhavam atentos para que nada faltasse. E tudo corresse pelo melhor. Até a RTP Açores nos acariciou com a sua presença, fazendo uma reportagem sobre este encontro.

RTP Açores 

No decorrer do almoço fomos surpreendidos por um grupo musical açoriano que abrilhantou o convívio com os seus cantares.

Grupo musical "Os Se7e da Vida Airada "

O Subcomandante Coronel Silveira, que nos acompanhou na visita ao quartel e durante o almoço, usou da palavra elogiando o trabalho prestado ao País e o espirito de camaradagem e solidariedade que nos une. No final, como prova da sua simpatia e simbolizando a gratidão por todos nós, ofereceu-nos uma pequena lembrança. Foi lida uma mensagem do ex-comante de Companhia, Capitão Ribeiro de Faria, explicando o motivo da sua ausência.

Finda a refeição houve uma “Largada de Touros”, mas poucos foram os que participaram, pois o respeito que tinham pela sua integridade física era maior que pegar “o touro pelos cornos”.

Assim se passou um dia inesquecível, ficando o entusiasmo e vontade que no próximo ano possamos desfrutar de outros momentos iguais. Quero agradecer ao Caldeira e à sua simpática esposa, assim como a todos quantos contribuíram e trabalharam para que encontro fosse uma realidade.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10502: Convívios (477): 13.º Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 3852, dia 27 de Outubro de 2012 em Vila do Conde (Manuel Carmelita)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10482: Álbum fotográfico do ex-1º cabo Manuel das Neves, o "Manuel da Canada", açoriano da ilha do Pico (CCAÇ 1438, 1965/67): Guileje: "Foi aqui que eu rezava todos os dias 3 e 4 terços, o helicóptero é que nos deixava cair a ração de combate, ele não podia parar"



Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel do Canadá > Foto nº 1 > O Manuel das Neves, açoriano,   no regresso de Cacine, depois de uma operação de seis dias na Mata do Cantanhez. Na mão direita, uma ração de combate (?). E apresenta-se descalço. Em primeiro plano, espingardas G-3 (julgo tratar-se da versão original com punho e fuste de madeira, usadas ainda em 1965,  no TO da Guiné) (LG).

Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 1 > Legenda manuscrita  no verso.


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 2 > Destacamento onde esteve o pelotão do Manuel da Canada e onde sofreu um  ataque ou flagelação... Topónimo ilegível [Nhacobá ?].


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 2 > Legenda manuscrita no verso


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 3 > Estrade de Guileje... Vejam-se as lianas atravessando a estrada, terraplanada, e aparentemente com bom piso...



Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel d
a Canada > Foto nº 3 > Legenda manuscrita no verso


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 4 > Tabanca de Guileje... No verso lê-se: "Foi  aqui que eu rezava todos os dias 3 e 4 terços, o helicóptero é que nos deixava cair a ração de combate, ele não podia parar".


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 4 > Legenda manuscrita no verso.



 Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 5 >  Bandeira nacional e galardão da companhia, com os nomes dos lugares, à esquerda, por onde o pessoal andou (mais de um dúzia) e possivelmente os nomes dos camaradas, à direita,  que morreram (cino ?) (*)... No verso, lê-se apenas a seguinte legenda: "Esta foto foi de todos os lugares [em] que nós [es]tivemos em combate".


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 5 > Legenda manuscrita no verso

Fotos: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]

1. A CCAÇ 1438 foi mobilizada pelo BII17 – Angra do Heroísmo, Açores. Chegou à Guiné no dia 18 de Agosto de 1965 e regressou a 18 de Abril de 1967.  Passou por Bissau, Buba, Cumbijã, Colibuía e, por  fim, Quinhamel. Em Outubro de 1966 estava em Quinhamel. Foi seu comandante o cap inf Eugénio Batptista Neves.

Não temos nenhum representante desta companhia, independente, na nossa Tabanca Grande. Estas fotos fazem parte do nosso arquivo desde 2007. Foram-nos disponibilizadas pela ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, no âmbito do projeto Núcleo Museológico Memória de Guiledge. O ficheiro onde estão contidas, de cerca de 2,5 GB, está na seguinte pasta:  Guiledje Visual > Acervo Visual Colonial > Guerra em Guiledje >  Fotos das Companhias > G- Manuel da Canada - C[CAÇ} 1438 (1965). São cinco ao todo, numeradas de 1 a 5, com legendas manuscritas no verso.

Não temos mais quaisquer elementos que nos permitam identificar este camarada, que se assina por "Manuel da Canada" [, e não do Canadá. como inicialmente pensei].  Só o Pepito nos pode explicar como é que estas fotos foram parar a Bissau, ao bairro do Quelelé... Na lista das 11 unidades que passaram por Guileje, elaborada por Nuno Rubim (Gráfico a seguir), não consta a CCAÇ 1438. Em 1966, a unidade de quadrícula era CCAÇ 1424, de que ele próprio. Nuno Rubim, foi comandante (o 2º de três). Esta companhia, que pertencia  ao BCAÇ 1858 (Bissau, Teixeira Pinto e Catió) passou por Bolama, Cachil, Guileje, Sangonhá e Bissau.

O nosso camarada Manuel da Canada assegura que esteve em Guileje. Não diz quando nem quanto tempo... (A CCAÇ 1438 sofreu pelo menos um morto em combate, em Guileje, em 9/10/1965)(*). Se ele nos estiver a ler, ele ou alguém da sua companhia, que nos esclareça. Já agora, teríamos todo o gosto em que o Manuel da Canada entrasse para a nossa Tabanca Grande. Pode contactar-nos através do nosso endereço de email: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com .

Desejamos-lhe muita saúde e longa vida.



Infografia: © Nuno Rubim (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

3. Correspondência recentemente trocada com o Pepito e o seu amigo açoriano Ernesto Ferreira:

(i) De Luís Graça para Pepito.

Pepito: Tens ideia de que te arranjou estas fotos ?... Esta companhia não esteve "oficialmente" em Guileje, mas teve lá pelo menos um morto em outubro de 65... Eram açorianos... Não tenho tido notícias do Nuno Rubim, estou preocupado, vou-lhe telefonar... Um abração (Por cá é feriado, o último 5 de outubro... Viva a República!)...

(ii) Do Pepito para L.G.:

Luís:  Estas fotos obtive-as quando fui aos Açores (ao Pico) e pedi a um colega e amigo meu de Agronomia que identificasse ex-militares que tivessem estado em Guiledje. Ele deu-me estas fotos com as legendas que conheces. Eu nunca estive com ele [, o Manuel do Canadá], mas quem o conhece é o tal amigo meu,  Ernesto Ferreira [...] que lá está.
abraços
pepito


(iii) Mensagem do engº agrónomo Ernesto Ferreira /que entretanto informara o Pepito de que o militar em questão já tinha falecido: "Caro amigo, tenho a comunicar-te que infelizmente esse amigo que me deu as fotos já faleceu há cerca de 5 anos de [doença][. Um abraço. Ernesto"):

Caro Luís Graça, não o conheço pessoalmente, mas teria muito gosto. Os amigos dos meus amigos, também meus serão, ainda mais sendo daqueles "do peito", como é caso!!!

Pois relembrando o Manuel da Canada (e não do Canadá), a cuja família informarei destas diligências e do vosso interesse, a seguir passo a descrever os seus dados:

Manuel Fernando Garcia das Neves, natural da freguesia da Candelária, Concelho da Madalena do Pico, Açores - Companhia 1438, 1.º pelotão, 1.º cabo n.º 415.
Aproveito para o informar que estes dados me foram facultados por outro ex-combatente da mesma companhia, por sinal meu compadre (o meu filho mais velho casou com a respetiva filha), cujos dados são: António Fernando de Oliveira Garcia, natural da freguesia da Criação Velha, Concelho da Madalena do Pico, Açores - Companhia 1438, 4.º pelotão, 1.º cabo n.º 416.
Anos- 1965 a 1967

Dado que o meu compadre estará disponível para mais alguma informação, não se coiba de me contactar.
Um abraço.
Ernesto Ferreira

(iv) De L.G, para Ernesto Ferreira: 

Meu caro engº Ernesto: 
Obrigado pelas fotos e pelas informações adicionais sobre o seu amigo e nosso camarada Manuel. Lamentamos a sua morte. E gostaríamos que a sua memória ficasse viva no nosso blogue. Seria também um homenagem aos restantes militares açorianos desta companhia, a CCAÇ 1438, de que não temos ninguém conhecido e registado. É possível saber o nome completo do Manuel da Canada ? Do seu posto, soldado, 1º cabo ? Naturalidade ?..

Fico-lhe muito grato. Luís Graça

(v) De L.G, para Ernesto Ferreira:

Meu caro Ernesto:

Aprecio muito essa franqueza e frontalidade, tipicas das gentes dos Açores!...  Temos, para já, um amigo em comum que é o Pepito. Aproveitando a sua amabilidade, peço-lhe que me explique a razão de ser do nome do Manuel Fernando... Manuel da Canada, e não do Canadá... Fui induzido em erro pelo estereótipo da emigração.. Muitos ex-militares açorianos, acabados de chegar da guerra do ultramar, emigraram para os States e para o Canadá...

Se a família nos autorizar, vamos fazer-lhe uma pequena homenagem do nosso blogue, que é um blogue de "partilha de memórias e de afetos"... É possível que eles tenham mais fotos, incluindo uma mais recente, antes do Manuel ter falecido... Já agora, em que ano terá ele nascido ?

Teríamos muito interesse, por outro lado, em acolher, no nosso blogue, o seu compadre e nosso camarada António Fernando... como um dos bravos da CCAÇ 1438... Será que ele tem um endereço de email para eu o poder contactar?

Um abração do Luís Graça
____________

Nota do editor:

(*) Identifiquei, através de pesquisa no nosso blogue, pelo menos 4 camaradas açorianos desta companhia, mortos em Combate, e que ficaram sepultados no cemitério de Bissau:

Manuel Correia Pedro, Soldado / CCaç 1438 / morto em 27.11.65, no Xitole, sa sequência de ferimentos em combate; era natural de Velas, S. Jorge, Açores / Cemitério de Bissau, Guiné;

Manuel Geraldo Teixeira, Soldado / CCaç 1438 / morto em 09.10.65, em Guileje, na sequência de ferimentos em combate; era natural de Santo Antão, Calheta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 1965, Guiné;

Manuel Silveira Reis, 1.º Cabo / CCaç 1438 / morto em 10.03.66, em Salancaur, na sequência de ferimentos em combate; era natural de Feteira, Horta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 277, Guiné;

Manuel Vieira Ferreira, Soldado / CCaç 1438 / morto em 11.03.66, em Salancaur, na sequência de ferimentos em combate; era natural da Praia da Vitória, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 276, Guiné.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10201: Um pouco da História da CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1971/73 (José Santos)

1. Mensagem do nosso camarada José Santos* (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1971/73), com data de 22 de Julho de 2012:

Caro Luís
Aqui te envio um pouco da História da CCAÇ 3326

Um abraço
José Santos




COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 3326

"OS SEMPRE OPERACIONAIS"

Ilha Terceira > Angra do Heroísmo > Monte Brasil > BII 17

Foto: © Carlos Vinhal (2006). Todos os direitos reservados

A Companhia de Caçadores N.º 3326 teve como Unidade mobilizadora o Batalhão de Infantaria Independente 17 (BII17), Angra do Heroísmo, Açores.

A sua concentração teve início a 7 de Setembro de 1970, sendo esta unidade oriunda das ilhas dos Açores.

Neste dia 7 de Setembro de 1970, começou a instrução operacional terminando a 24 do mesmo mês, e os seus homens foram considerados prontos a 20 de Outubro 1970.

A 13 de Novembro de 1970 estas tropas embarcaram no navio Funchal com destino ao Continente, concretamente ao Centro de Instrução Militar de Santa Margarida, dando-se o início do IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional).

A 21 de Janeiro de 1971, pelas 12 horas embarcando no navio Angra do Heroísmo este fez-se ao mar, com o destino da Guiné-Bissau.

Navio Angra do Heroísmo > Coa a devida vénia a Dicionário de Navios Portugueses

A 26 do mesmo mês chegou a Bissau pelas 6 horas da manhã, a seguir a Companhia iria para o Depósito de Adidos, e pelas 15 horas teve lugar a cerimónia de boas-vindas pelo Governador e Comandante-Chefe General Spínola.

A 11 de Fevereiro 1971 a Companhia chegaria a Buba de LDG, e de seguida partiria em coluna militar rumo a Mampatá aonde chegaria pelas 15 horas. A partir dessa altura iria substituir a Companhia de Artilharia N.º 2519, que tinha terminado a sua comissão de serviço.

Região de Tombali > Mampatá > Uma foto aérea de povoação e aquartelamento.

Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados .

A CCAÇ 3326 era comandada pelo Capitão Artª. Paula de Carvalho, oriundo da GNR.

Foi muito difícil a nossa missão, mas partimos para ela com o sentido de se fazer o melhor possível e tentar sair desta situação no longo período que se adivinha difícil, sem baixas de vulto.

Passaram-se períodos conturbados e a nossa acção daria frutos pelo desgaste que provocávamos ao IN.

Honrando a nossa divisa, "OS SEMPRE OPERACIONAIS", nunca nos deixámos levar por vencidos.

Tivemos unicamente um morto, não pela mão do inimigo mas por uma mina montada por nós, foi uma infelicidade este facto.

De registar a harmonia sempre reinante entre os elementos da Companhia e a população nativa, sendo a acção psicológica exercida uma constante para que desse o seu fruto, com a vontade evidenciada pelos naturais de quererem continuar a ser Portugueses.

Em junho de 1971, altura em que começavam a cair as primeiras chuvas, e a intensidade destas se fizeram sentir, principalmente as várias bolanhas nos itinerários, constituiu uma das muitas dificuldades sofridas por todos nós. A determinação e a vontade de vencer, mesmo com a roupa colada ao corpo pela chuva ou pela transpiração dos dias quentes de África era uma condicionante para cumprir o nosso dever porque uma das características do soldado Português era fazer o melhor em qualquer teatro de operações.

Depois de 18 meses neste inferno, Spínola retirou-nos deste local e fomos colocados em Quinhamel até ao final da comissão a 7 janeiro de 1973.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9705: Blogpoesia (185): Pelas estradas de Mampatá (José Santos)

sábado, 9 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10016: Convívios (450): Encontro do pessoal das CCAÇs 3326; 3327 e 3328, dia 21 de Julho de 2012 na Batalha (José da Câmara)

 


 1. Em mensagem do dia 8 de Junho de 2012, o nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), pediu-nos para publicitar o Encontro de saudade do pessoal das CCAÇs 3326; 3327 e 3328, a realizar no dia 21 de Julho de 2012, a partir das 10h30 da manhã Reguengo do Fetal, Batalha.





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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10010: Convívios (267): IV Encontro dos “Ilustres TSF” (Hélder Sousa)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)

Guiné > Região de Tombali > Mampatá (?) > CCAÇ 3326 (1971/73) > Ex-1º Cabo Enf José Santos

Foto: © José Santos (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de 14 do corrente, do novo membro da Tabanca Grande, José Santos, que mora em Algés, Oeiras:

Caro amigo Luís Graça, fui 1.º Cabo Enfermeiro da Companhia de Caçadores 3326, de Janeiro de 1971 a Janeiro de 1973 em Mampatá (Aldeia Formosa) e Quinhamel.

Tenho lido algumas descrições da tabanca, e em uma delas fui encontrar o meu colega Brum, rapaz do meu pelotão e que se encontra no Canadá, e a carta foi escrita pela sua filha.

Caro Luís, tenho dois episódios muito significativos para mim, que me ficarão para sempre na minha memória, e são para serem publicados na tabanca caso entendas ok.

O primeiro aconteceu em Mampatá, certo dia estando de serviço à enfermaria cerca das 3 horas da madrugada, foi solicitada a minha presença numa tabanca a fim de dar assistência a uma africana. Quando cheguei encontrei um panorama tremendo, a mulher deu à luz um casal de gémeos que ainda respiravam, e com o estetoscópio verifiquei seus batimentos cardíacos, mas as crianças acabariam por falecer cerca de uma hora depois. A mulher encontrava-se deitada em cima de uma esteira com todo o aparato inerente a uma gravidez.

A mulher teria 7 meses de gestação, mas abortou derivado a ter levado uma tareia do marido. Cuidei dela aplicando-lhe uma injecção de buscopan para as dores, uns comprimidos,  e ajudei a limpá-la pois ainda continha impurezas.

Dias depois de já se encontrar restabelecida, foi ter comigo à enfermaria levar-me uma galinha de mato pelo reconhecimento da forma como a tratei.

O segundo  episódio passou-se em Quinhamel, também uma rapariga apresentava a canela com um buracão, carne esponjosa, ulceração, com as moscas era horrível, levei cerca de 7 a 8 semanas a tratá-la mas ficaria curada.

A seguir a isto tudo, surgiu na enfermaria com uma galinha de mato e uma dúzia de ovos, pela ajuda prestada.

Estes dois casos deixaram em mim imenso orgulho, tanto pessoal como profissional na área da saúde e não só, aliás fui durante 40 anos técnico de farmácia, e um dos meus patrões era enfermeiro diplomado da Cruz Vermelha como seu filho e nora, e aprendi muito com estas pessoas.

Estando em Mampatá fui sempre eu que acompanhava os doentes ao Hospital de Bissau, o capitão não confiava essa missão ao furriel, e assim viajei muito entre a Aldeia Formosa e Bissau.

Amigo Luís Graça,  já nos conhecemos na livraria em Oeiras, e agora vou-te comunicar o seguinte: etou com ideias de ir exercer voluntariado para o Hospital de Cumura, fui convidado por um padre médico que exerce lá esse serviço, já falei pessoalmente com ele, de momento encontra-se cá em Lisboa a fim de recolher medicamentos e material necessário, porque a falta destes é evidente.

Para mim a nível sentimental e profissional é uma enorme alegria, e caso concretize tal acto será sem duvidas poder pôr ao serviço da saúde todos os meus conhecimentos adquiridos, e ajudar e contribuir para as melhoras desta gente tão desprotegida.

Os meus contactos são (...).
 
 Um abraço

Santos

2. Comentário de L.G.:

Deixa-me, camarada José Santos, dar-te as boas vindas em nome de todos os membros da Tabanca Grande que, com a tua entrada, passam a perfazer um total de 526.  Já nos encontrámos, de facto,  na Livraria-Galeria Municipal Verney, em Oeiras, há uns meses atrás. Esse primeiro encontro deu para nos apresentarmo-nos. Depois disso já temos falado (e continuaremos a falar) ao telefone.

Ficas formalmente apresentado aos amigos e camaradas da Guiné que fazem parte deste blogue. Conheces as nossas regras de convívio [, que consta da coluna do lado esquerdo do blogue,] e comprometes-te a colaborar connosco sempre que achares oportuno e necessário.

Para já ficam aqui as tuas primeiras fotos e histórias. Mais tarde falar-nos-á com mais detalhe da tua CCAÇ 3326, e dos sítios por onde andaste. Julgo que és o primeiro da tua companhia a figurar na nossa Tabanca Grande. Se não erro, só tenho uma ou duas referências à CCAÇ 3326.

Aproveito para acrescentar algo sobre esta subunidade (que, tanto quanto sei, era independente):

(i) Foi mobilizada pelo BII 17 (Angra do Heroísmo);
(ii) Partiu para o TO da Guiné em 21/1/1971 e regressou quse 24 meses depois, a 7/1/1973;
(iii) Esteve em Mampatá e Quinhamel;
(iv) Comandante: Cap Mil Art José Carlos de Paula Carvalho.

Seguiu para a Guiné, no mesmo navio, com a CCAÇ 3325 (Guileje e Nhacra), a CCAÇ 3327 (Brá, Bachile, Bassarel, Tite, Bissau), e ainda a CCAÇ 3328 (Bula, Ponta Augusto Barros e Bula). A CCAÇ 3325 era madeirense (BII 19, Funchal), e as restantes, açorianas (BII 17, Angra do Heroísmo). 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8771: Convívios (373): II Encontro do pessoal da CCAÇ 3327, ocorrido no dia 6 de Agosto de 2011 em Angra do Heroísmo (José Câmara)

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 8 de Setembro de 2011:

Caro amigo Carlos Vinhal e camaradas,
Um abraço para todos vós.

Na minha recente viagem de férias aos Açores, tive a alegria de assistir a mais um convívio da CCaç 3327.

Desta vez, o encontro teve lugar na casa mãe, o antigo BII17, cujo Comando amavelmente colocou, à nossa disposição, as instalações que todos nós bem conhecemos.

Este convívio que reuniu antigos camaradas, familiares e amigos vindos da Metrópole, de Massachusetts, da Califórnia, do Canadá e de várias ilhas dos Açores, realizou-se no passado dia 6 de Agosto. Toda a organização no terreno ficou a dever-se a um homem extraordinário e um militar exímio, o meu braço direito, o ex-1.º Cabo José Leonardo, da minha Secção. No tempo ficou a nossa amizade, no coração bem poderia dizer que somos irmãos.

Briosos militares perfilados em frente ao Comando do antigo BII 17

O segundo convívio da CCaç 3327 foi delineado desde o primeiro dia para ter alguma inovação em relação ao primeiro e que consistiu em chamar até nós os camaradas das CCaç irmãs 3326 (Mampatá) e 3328 (Bula). O objectivo foi muito bem alcançado e, entre ex-militares e acompanhantes, ultrapassámos em muito aquilo que era esperado. Sempre tivemos em conta as conjecturas da crise económica actual e a falta de continuidade territorial que obriga a gastos muito elevados. Nós, os organizadores, estamos satisfeitos e temos a certeza de que os nossos camaradas também.

Juntaram-se ao nosso convívio em representação do Comandante do antigo BII 17, agora Guarnição 1, o senhor Tenente Moreira e os Sargentos-Chefes Travanca e Chagas que tudo fizeram para que o convívio tivesse o brilho desejado, e ainda um representante da filial terceirense da Liga dos Combatentes.

Esta a única imagem que andou por terras do ultramar em altar na igreja de São João Baptista

A missa esteve a cargo do senhor Oficial Capelão Militar e teve lugar na Igreja de São João Baptista com sede na Fortaleza com o mesmo nome. De seguida, foi depositada uma coroa de flores no monumento que imortaliza os militares falecidos daquela Unidade militar.

Monumento de homenagem do BII 17 aos seus mortos

Desde sempre foi minha intenção fazer um resumo sobre este convívio. Mas não o vou fazer.

Felizmente, comprei o único diário que se publica na cidade da Horta, O Incentivo, com a data de 25 de Agosto. Para minha surpresa, nele vinha inserido um artigo de opinião sobre o nosso convívio. Senti um prazer desmedido ao ler o artigo escrito pelo João Avelar Ventura, natural da Ilha das Flores e a residir na Terceira, outro homem de grande envergadura cívica e militar. Um homem que sempre teve a coragem de deixar falar os seus sentimentos. Sinto orgulho de o ter tido na minha Secção, honra-me a sua amizade.

Os presentes da minha Secção e a partir da esquerda: Ventura, Magno, J.Câmara, Massa, Leonardes

Ao artigo de opinião que transcrevo com a devida vénia a O Incentivo e com a devida autorização do João Avelar Ventura apenas acrescento algumas fotos e respectivas legendas da minha autoria.


Os Nómadas

No passado dia 6 de Agosto comemorou-se, nas instalações do Castelo S. João Batista em Angra, o 2.º Convívio dos ex-combatentes da CCaç. 3327 (Os Nómadas) onde também se integrou ex - combatentes das CCAÇs. 3326 e 3328, foi rezada missa em homenagem àqueles que já faleceram, e dar graças aos que por cá andam. Nesta mesma data foi lembrado os 41 anos e um mês, que estes ex-jovem de todas as ilhas dos Açores deram entrada no BII 17, para cumprimento do serviço militar a que o Regime nos obrigava.

A partir da esquerda - Um bolo, 3 Companhias: Fur Mil Costa (CCaç 3328), Cap. R. Alves (CCaç3327) e Fur Mil J. Bendito (CCaç 3326) preparam-se para cortar o bolo comemorativo do convívio, enquanto o 1.º Cabo J. Sousa testemunha e as meninas preparam o champanhe.

Foi naquela bela Fortaleza que por fora nos parece um lindo conto de fadas, mas para quem teve que entrar no seu interior, mais parecia um início de um filme de terror.

Recordo com saudades a juventude que reinava nas centenas de jovens à espera que os portões se abrissem para entrarem no seu interior, tão escuro e tão frio, que mais parecia o túnel da morte ou para a escravidão às masmorras que ali existem, oficiais e sargentos, com semblante tão carregado, como as pedras que sustentavam as arcadas da muralha, um por um, lá iam gritando os nomes dos mancebos, para lhes aplicarem um número que seria a sua marca bem registada nas fileiras nacionais.

Ao sair para a parada, já de uniforme embora um pouco machucado, tinha já consciência que a hora de ser militar já tinha começado, lá no alto por cima das nossas cabeças, com letras bem marcantes: “ANTES MORRER LIVRE QUE EM PAZ SUJEITOS”; Esta coisa de sujeitos, sempre me acompanhou enquanto militar fui. Éramos sujeitos a várias humilhações, quer pessoais quer psicológicas, em que, nos obrigavam a acreditar que se ia para terras do Ultramar, para defender a nossa Pátria; nem que, os tais sujeitos que queriam a paz, tivessem que morrer...

O som do clarim era o toque da alvorada, todos a correr para a parada marchar; um dois!.. um dois!.. meia volta volver... era o som tão marcante que ainda pressinto ouvir, os berros dos aspirantes a chamarem, aqueles nomes tão bonitos...

O Alf Mil Magalhães e a esposa. Vieram de Brunhoso

Com o passar dos meses já era um militar completo, recruta e especialidade, já era um atirador pronto a jurar sob a Bandeira Nacional, que estávamos ao serviço da Pátria, nem que a morte lhes custasse.

Foi a Guiné o destino destas três Companhias Açorianas, com pessoal especializado em comunicações sargentos e oficiais, esses continentais, dois ou três sargentos dos Açores.

O Alf Mil Almeida e a esposa. Vieram do Porto

Santa Margarida foi o nosso primeiro destino, o gelo e o frio era constante, recordo que, para se tomar o nosso duche tinha que ser a correr que a água era tão gelada que cortava a pele, mas era só a dos soldados. A viagem para a Guiné demorou sete dias, metidos no porão do navio Angra do Heroísmo, mais de seiscentos militares, deitados numas prateleiras que mais pareciam caixotes para armazenamento de batatas, ou então, sardinhas enlatadas. Era assim, a mostra onde tinha chegado a baixeza dos responsáveis pelo governo de Portugal, que esses “tais sujeitos”, pessoas, militares, mártires pela Pátria passaram, mas que ainda alguns podem testemunhar!.. Lá chegamos à Guiné, o calor e a humidade era o já anunciado, mas foi um contraste muito marcante, como a cor dos seus habitantes, a sua cultura, as suas crenças.

José Câmara saudando os presentes

Bissau foi a mossa primeira paragem, só que fomos instalados em tendas de campanha no aquartelamento nos Adidos em Brá para recompor a viagem, ou para que outras Companhias fizessem as malas de regresso a casa, a seguir, cerca de dois meses ainda andamos a fazer guarda de atacadores e luvas brancas, no quartel General onde o Spínola estava muito bem instalado, de nada parecia que estivesse em guerra, a seguir lá nos mandaram subir o rio naquelas jangadas que só se sai pela rampa da frente entre todo o material que uma guerra sustenta, logo percebido que o filme para essa guerra havia começado.

A partir da esquerda: Fur Mil Fermento, Silva, Borges da Silva, Cap. Alves, Parreira (veio da Califórnia) Fur Mil Pinto e Fur Mil Cruz

A zona de Teixeira Pinto era-nos indicada, mas foi o mato o nosso destino, num buraco no meio da Mata dos Madeiros, os “bullbozers” a fazerem terraplanagem, onde foi o campo de concentração da minha Companhia. Teríamos de fazer a defesa, como também a construção de valas e abrigos, barracas que era a nossa tenda de campanha feita com troncos e palmeiras e todo os procedimentos de uma CCaç em plena operação de guerra.

O ladrar das hienas, os gemidos dos macacos confundia por vezes com o estrondo dos morteiros, ou as rajadas das MG, ou G3, ou então o estalar dos motores dos aviões bombardeiros.

O 4.º Grupo de Combate

Para nos aliviar um pouco deste cenário tão real, tínhamos uma grande fé no Sagrado Coração de Maria, esta Santa nos acompanhou toda a nossa estadia na Guiné, como Bissau, Mata dos Madeiros, Teixeira Pinto, Bassarel, Bolama, S João. e Tite. No nosso acampamento tinha uma capela também feita em palmeira, até a procissão das velas lá fizemos, quem nos salvou? Sempre ouvi dizer que a fé, é que nos salva.

Esta Santa regressou connosco só que, ficou um camarada nosso de a entregar no BII 17. Mais precisamente na Igreja de S. João Batista, só que esse camarada já faleceu e não temos qualquer pista do seu paradeiro, se alguem tiver uma pequena luz de onde se encontra esta imagem, seria mais das muitas graças por Ela concebida.

José Câmara com o Fur Mil Pinto. Indiscritível a emoção que senti quando toquei o estandarte da CCaç 3327. 

Uma pequena história para um dia contar.
Concebido e muito bem planeado foi os organizadores desse convívio, agradeço ao amigo José Câmara e Leonardo e todos aqueles que de qualquer forma ajudaram.

Fico um pouco triste, de nada ver nem ouvir, na comunicação social qualquer reportagem sobre estes eventos: mas se fosse Cristiano Ronaldo, José Mourinho, ou então alguns desses “tais Senhores” que nos puseram na bancarrota e que nos tem mentido estes anos todos, esses; que tem feito tantos e tão grandes sacrifícios por Portugal, esses sim; é que tem de ser bem badalados...

Não seria mais sensato mostrar à actual sociedade jovem, que há 30 , 40 ou 60 anos atrás, também havia juventude, só que; o cartão jovem que lhe era oferecido, tinha a finalidade de serem arrancados do seio das suas famílias, e, pela incúria dos governantes, ficaram famílias destroçadas, milhares de jovens a morte bateu à porta; milhares ficaram com deficiências gravíssimas; muitos milhares, regressaram mas com doenças graves, muitas psicológicas, na maioria traumas de guerra, esses ex-jovens, ficarão para a história de um País, na qual a recompensa para esses tais “SUJEITOS” de então não é mais que insignificante; medíocre; insustentável; uma autentica miséria!..

Para todos os ex-combatentes que em terras do Ultramar tiveram que passar lá alguns anos da sua juventude que lhe seja recompensado com muita saúde e anos de vida.

Para esses meus camaradas desta (Nómada C Caç 3327) que essa tal Santinha sem sabermos onde anda, nos continue sempre em nossa companhia.
João Ventura”

Na surpresa do dia, a encerrar o nosso convívio, as senhoras Fátima Ventura e Nazaré Vasconcelos, muito bem acompanhadas pelos presentes, entoaram o hino “13 de Maio”. Foi o abraço de despedida, sempre doloroso, num até pró ano. Será em Fátima se Deus quiser.

Resta agradecer a todos aqueles que, sem rosto, tudo fizeram para que o convívio fosse bem sucedido.

Um agradecimento especial aos Furriéis Victor Costa, Duarte e Adelino Santos da CCaç 3328 e ao Furriel José Bendito da CCaç 3326 pelos esforços feitos para que as suas companhias estivessem condignamente representadas neste convívio.

Também não esquecemos os nossos familiares e amigos que sempre estiveram ao nosso lado.

Um agradecimento muito especial para um grupo de seis familiares que quiseram homenagear um irmão falecido no Canadá, que tinha cumprido o seu serviço militar na Guiné. Só por isso teria valido a pena este convívio.

José Câmara
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8597: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (27): Algumas fotos de Tite

Vd. último poste da série de 6 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8740: Convívios (366): Tabanca de Guilamilo, 21 de Agosto de 2011: A arte de bem receber da Margarida e do Joaquim Peixoto (ex-Fur Mil, CCAÇ 3414, Saré Bacar e Bafatá, 1971/73)