Mostrar mensagens com a etiqueta Barro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Barro. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14975: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (IX Parte): Mais dois lugares è mesa; Bomba em Farim e Rumo a Barro

1. Parte IX de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 2 de Agosto de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - IX

Mais 2 lugares à mesa

Regressado de uma saída qualquer, com o estômago roído de saudades de um frango assado com batata frita, pediu ao Alegre que o largasse no Portugal. Viu-os cá fora sentados na esplanada a observarem a Praça cheia de movimento àquela hora. Estavam ainda nos cumprimentos e o “Carlos Morais” a chegar, acompanhado pela jovem.

A “Helena”, deslumbrante, já mais ambientada com o calor, perturbava. Todos repararam, uns a disfarçarem mais que os outros, que vinha de acordo com as noites quentes, um vistoso vestido claro, de seda ou do género, a cair-lhe muito bem, seguro nos ombros brancos, o decote em vê, o sutiã cor de carne a espreitar lá de dentro. E a brancura da pele, rara por aqueles lados, um ou outro talvez até já nem se lembrasse que havia mulheres com aquela cor.
Dentro da sala de jantar, alguma cerimónia nos lugares, nada de admirar, era a primeira vez que os 4 tinham companhia. Fico aqui, o Carlos com a mão numa cadeira. Em frente deles, a Helena tinha o Vilaça de um lado, e do outro o Gião com os olhos minúsculos dentro dos óculos da cor e da grossura do fundo de uma garrafa de champanhe. Ficaram de pé, à espera que o Vilaça chegasse a cadeira da senhora para a mesa, depois sentaram-se todos, devagar, os cuidados com as cadeiras, guardanapos nos colos, as cerimónias todas.

Quando ainda eram quatro, não tinham sentido qualquer necessidade de marcar os lugares, iam-se sentando à medida que iam chegando. A entrada em cena de uma senhora obrigou-os a alterar os procedimentos. Não que tivessem tido necessidade de fazer uma reunião para o efeito, apenas concordaram que a presença da “Helena” alterava tudo, obrigava-os a cuidados que antes não eram necessários. Cada um senta-se onde lhe der na gana, desde que nós fiquemos com os olhos virados para a rua, não é? E atenção à língua!
Passaram a ser seis. Nos primeiros tempos as cadeiras estiveram sempre ocupadas, coincidências, claro. Quando algum falhava apareciam outros, uns conhecidos e outros nem tanto, grandes cumprimentos como se tivessem andado todos na mesma turma, perguntas e mais perguntas, o pessoal sentado a levantar-lhes os olhos, os conhecidos não sabiam donde a perguntar-lhes está ocupada?
No fim do jantar saíam para a praceta, conversavam ainda um bocado antes de cada um seguir aos seus destinos.

“Passou mais uma semana sem que tivesse recebido notícias tuas. Começo a ficar preocupada com o teu silêncio. Espero ainda receber carta até terça-feira de manhã mas já não tenho grandes esperanças de que isso venha a acontecer e vejo que terei de esperar mais uma semana inteirinha que me parecerá interminável.”

No quarto tentava pôr as cartas em dia, depois de amanhã era dia de S. Avião, a correspondência mais importante a apertar, queria saber datas de férias. Férias? Ainda nem pensara como descalçar a bota, o que fui arranjar! 

************

Bomba em Farim

Uma das mulheres do Camará à porta de armas, que o marido, não dava dinheiro há manga1 de tempo, tinha que pagar arroz, ele não dá dinheiro, nosso alfero! E porque vens falar comigo, eu não sou teu marido, fala com o Tomás!
Mas, nosso alfero, ele não vai a nossa casa, meninos não têm que comer, eu não tem que dar!
Como te chamas, qual é teu nome? Binta? Nome lindo, e quantos pesos bó2 precisa?

Um dia normal, igual a tantos outros. Aplicação militar de manhã, banho, carreira de tiro, almoço, uma sorna a seguir. Lá para as quatro, frente a Brá, exercícios com as equipas, progressão das parelhas por lances, projécteis nos troncos das palmeiras quando mostravam o quico, eles outra vez aos ziguezagues, granadas ofensivas para cima, reunir as equipas para o regresso. No caminho em direcção ao aquartelamento, alguns mais descontraídos, já relaxados, a conversa a alargar-se, uma granada ofensiva para cima, para lhes lembrar que nas guerras não há descansos. E nove deles para o hospital, dar trabalho ao pessoal de enfermagem, para retirar um a um, os pequenos estilhaços e areias que lhes tinham calhado em sorte.
À noite, crosse até à entrada de Bissau, pelas margens da estrada, a cantarem, eu vi a BB na avenida marginal, a andar de lambreta, mas que lasca bestial, toda nua, nua, nua, toda nua, volta à rotunda, para trás até Brá, eu vi a BB3.
Para o quarto de banho, para o chuveiro, para onde há-de ser? E depois, tens alguma ideia? Ideias, Vilaça, não me fales em ideias, às vezes são tantas que até atrapalham.

Um dia, curso terminado nem há uma semana, tinha tido uma que, passados meses, ainda o moía. Fora até uma carreira de tiro que tinham improvisado, uns quilómetros para lá da base aérea. Pegara na G3, um cunhete ainda fechado, sozinho, jeep na esgalha, como de costume. Mirara os alvos, garrafas de cerveja, de uísque, latas e mais latas, umas pelo chão, outras penduradas nos arames, umas atrás das outras. Do cunhete sobrara a caixa de madeira, pisava cápsulas, pelo chão mais de cinco mil de certeza, as que tinha gasto mais as que por lá tinham ficado de sessões anteriores. Depois, mais calmo, com o final da tarde a aproximar-se, sentara-se no jeep, arma com o cano a deitar fumo no banco de trás, ouvidos a zunirem, de regresso a Brá, uma brisa a dar-lhes. Arma no quarteleiro, para limpeza completa.
No dia seguinte, acordara com a voz esganiçada do Sany, capitão Saraiva quer falar com nosso alfero.
Encontrou o capitão no gabinete às voltas com o relatório do final do curso. Os bons dias que dera não tiveram resposta, se calhar não ouviu, embrulhado com a papelada, nada que fosse da especialidade do Saraiva.
Viu-o levantar-se, o olhar de poucos amigos, e o que ele tinha para lhe dizer.
Uma G3 na mão, o capitão disparou, quem foi o asno que fez esta merda? Olhou para a arma, era a sua! Um pequeno lanho na ponta do cano, sem tapa chamas.
Não foi um asno, fui eu, a arma é a minha, não, não há dúvida, é mesmo a minha, admitiu depois de ter passado os dedos pela racha.
Ora bem, os olhos do capitão, como é que o alferes quer resolver isto? Vou pagar, tem que ser, olhos nos olhos.
Pagar vai, isso está fora de dúvidas, agora vamos ver como quer pagar, não é?
Aqui há sempre alternativas, responde o capitão. A expulsão ou um par de chapadas, a escolha é sua! Chapadas, expulsão?
A expulsão é pública, sabia-o bem, já a fizera a um cabo. Os grupos formados em sentido, o clarim, o cabo em frente, a tremer todo, saco de objectos pessoais no chão, escolta ao lado, a nota de expulsão em voz alta, o chefe de equipa a arrancar de uma vez o crachá, os distintivos, o lenço, a entrega da guia de marcha para o QG, a escolta a conduzi-lo à porta de armas, esta a fechar-se, tudo seguido.
O par de chapadas devia ser em privado, mas mesmo assim, chapadas? Na cara?
Quem lhe costumava dar umas chapadas era o pai, há uns bons anos já. Depois, que se lembre, só lhe foram aos focinhos nas aulas de boxe, claro.
Não, não sabia o que fazer, as alternativas não eram fantásticas. Vou pensar, meu capitão.
Aqui e agora, alferes. Ficamos os dois, à espera, até se decidir.
Ao lembrar-se como tudo terminara saiu-lhe uma gargalhada. O Saraiva a passar-lhe algodão e água oxigenada, o nariz a ferver, um abraço e o convite para jantar no Grande Hotel.
Ideias, Vilaça, não me fales em ideias!

Ao sair do banho, tinha visitas, o capitão Rubim passava os olhos pelos títulos arrumados na estante.
Há bocado, em Farim, num batuque com muita gente, a tabanca em peso e alguns militares nossos também, um gajo qualquer lançou para o meio deles um saco com granadas de mão, defensivas e ofensivas, à mistura com pregos, bocados de metal, garrafas, eu sei lá que mais. Acabou o batuque, foi tudo pelos ares!

Tabanca de Farim morucunda

O Dakota aterrou lá de noite, com os faróis das viaturas a iluminar o campo. O hospital está a abarrotar, vai por lá um pandemónio.
Tem o dia de amanhã para preparar o seu grupo. Vai até àqueles lados, uns dias.
____________

Notas:
1 - Crioulo: muito
2 - Crioulo: você
3 - Brigitte Bardot, actriz francesa muito famosa na altura.
4 - A PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar na Torre do Tombo, escrevia que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças. Foi detida uma meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir alguns militares. Para o fazer teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC. (AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).

************

Rumo a Barro

A caminho de Bula, atravessaram o Rio Mansoa em João Landim, meteram-se outra vez a subir até embarcarem em S. Vicente, Cacheu acima, numa LDM5. Sentados no convés, a dormitarem, um marinheiro de ordenança a perguntar, quem é o comandante do grupo, ah aquele ali, é alferes, tenente ou quê, cumprimento militar para o alferes, de quico em cima dos olhos, a passar pelas brasas.
O marujo, cheio de maneiras, como se estivesse num Hilton, o senhor comandante tem muito gosto em convidar o senhor alferes para almoçar.
Uma pequena sala de refeições, mesa redonda para os dois, pão e manteiga na mesa, grumete a servi-los, de travessa na mão, um luxo! Não havia dúvida, o pessoal da marinha tratava-se bem.

Pés na margem, Unimogs à espera, todo o pessoal em cima das viaturas a caminho de Barro.
Toilas, Alferes Toilas, é assim que sou conhecido aqui. Mas, espera aí, já te conheço, porra, estive contigo em Buba, lembras-te? Não? Duma vez em que andamos perdidos a noite toda, naquele tarrafo6, lodo por todo o lado, nem conseguimos entrar, não te lembras?
Estava a ver que não te lembravas! Como vai isto? Por aqui, até agora, tudo ok. Em Bigene é que as coisas têm estado mais para o aquecido. A PIDE está lá, prenderam lá uns gajos, aquilo está tudo minado, os turras estão infiltrados em todo o lado, pá!

O Sargento Valente alojou o grupo num sítio precário como era tudo ali. Uma rua e pouco mais, algumas casas de tijolos e cimento, um comerciante libanês que vendia tudo e a tabanca atrás.
Aproveitou para dar uma volta pela pequena povoação com o Alferes Toilas. Este, enquanto ia partindo mantenhas7 com pessoal que se cruzava, aproveitava para perguntar se tinham visto pessoal novo a chegar nestes dias. Não, alfero, cá tem8 chegado, o negro descalço. Atenção Mané, vê lá, se pessoal novo chegar avisa alferes, correcto?

Povoação de Barro. 
Foto: © Coronel A. Marques Lopes. Com a devida vénia.

Na manhã do dia seguinte, ao nascer do sol, despedira-se do Toilas. Vamos dar uma volta por aí. Arrancaram para Bigene, pouco mais de uma dúzia de quilómetros a pé, pelas margens da picada.


Tudo calmo. Bigene à vista, um Barro um pouco maior. Foram entrando, espaçados, em coluna por um, como era hábito, com os nativos a olharem para eles.
Capitão Rosas, baixo, atarracado, para o forte, a caminho dos 40. Boa ideia terem vindo, os gajos ontem estiveram aqui. Umas morteiradas e rajadas de metralhadora. E depois rajadas também de dentro. Uma hora e tal que durou esta merda!
Sim, de dentro também! Sei lá como entraram, entraram, como quer que saiba?
Não, felizmente, dois feridos ligeiros só, nada de grave, com estilhaços de uma morteirada para além daquela casa, ali. Tinha lá um pelotão alojado!
A PIDE está cá, parece que um gajo de Farim está a falar, temos metido uns gajos dentro.

Os gajos, ah, senhor capitão, a comer à vossa mesa, ah? Agora sente-se capitão Rosas, sente-se, se não cai... o pide, camisa de caqui de cor indefinida, cabelo a cheirar a Panténe, a entrar no posto de comando da Companhia, Venha comigo, o capitão para o alferes recém-chegado, vamos ali fazer uma visita, com este senhor. Venha, venha daí, vamos conversando!

Uma casa ampla, flores em vasos à entrada, pequena horta nas traseiras.
"Panténe" a abrir o portão, o capitão com o alferes atrás, duas ou três escadas.
Uma senhora de trinta e poucos, graciosa, cabo-verdiana, mão na porta, surpreendida com as visitas. Meu marido está no banho, vou-lhe dizer, voz de medo, o pide, desconfiado, a olhar para o capitão. Nós entramos, com a sua licença, minha senhora.
Mas ele está no banho, eu vou chamá-lo, não demora!
Uma sala espaçosa, mesa, as cadeiras, mais duas grandes para a preguiça, motivos africanos, estatuetas de pau-preto, coisas assim. Bons momentos devem escorrer aqui, os dois, as tardes a irem-se na calmaria, a imaginação a falar com ele.
O administrador do posto de Bigene, algemado com as mãos atrás, cabelo ainda a escorrer, um equívoco, senhor agente, só pode ser, a mão do pide nele.
Deixa apertar a camisa, Sony, tira as sandálias, calça o sapato, a senhora ajoelhada, aos soluços, lágrimas pela cara abaixo.
Bem boa, ah, mesmo no ponto, não digam que não marchava já, cá fora o capitão, gorduroso, os olhos pequeninos.
Que merda! Mão na cara, a limpar os perdigotos. Um cheiro a uísque, uísque estragado, azedo.
____________

Nota
8 - Não

(Continua)
____________

Nota do editor

Poste anterior da série de 30 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14951: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VIII Parte): "Hotel Portugal"; "Um guia" e "Artigo 4.º do RDM"

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 11 de Fevereiro de 2014:

Meu caro Luís Graça.
Camarada.
De baraço ao pescoço, quero pedir-te desculpa por só agora retomar a série "furriel enfermeiro, ribatejano e fadista".
Qualquer explicação poderia suar a falso, pelo que não a apresentarei. Mas para sossego de todos que sobre a ausência se interrogam, direi que nada de grave se passou, felizmente. Outras escritas por cumprir por mim chamaram.
Aqui tens o 13º episódio da saga. Depois do relato da saída do comandante César Cardoso da Silva, era inevitável falar do homem que o substituiu.

Um abraço para ti, para os nossos editores e todos os restantes camaradas.
Armando Pires


FURRIEL ENFERMEIRO, RIBATEJANO E FADISTA

12 - Chegou Polidoro, o terrível

(...) Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de sair do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada: - Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.

“in armando pires, P4778”

Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre.

À primeira, eu vi o Polidoro assim.
Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão.

O tenente coronel João Polidoro Monteiro chegou a Bissorã nos primeiros dias de Outubro de 1969, para comandar o BCAÇ 2861 em substituição do tenente coronel César Cardoso da Silva. Seguramente, pelas razões que, sucintamente, relato no meu P12333, alguém em Bissau deve ter dito a Polidoro Monteiro, “vá ali comandar aqueles gajos e meta-os na ordem".
Se foi esta a ordem, se era este o efeito pretendido, então não podiam ter escolhido melhor. Como se diz na gíria do futebol, Polidoro fez uma entrada a pés juntos, uma entrada a matar.
Ao advertir-nos que vinha farto de guerra, fez-nos sorrir. Sabíamos da sua proveniência do comando da Guarda Fiscal, em Moçambique.

 A frase seguinte do seu discurso de apresentação foi para avisar que não permitiria a nenhum militar que andasse mal uniformizado dentro do quartel e, em particular, pela vila de Bissorã. O aviso preocupou a todos. Mas o novo comandante não mandaria destroçar sem nos transmitir a informação que nos deixou incrédulos. Iria mandar realizar um exercício de defesa de Bissorã.
Seria um simulacro de ataque inimigo, em que todos e cada um realizariam tarefas precisas e pelo comando pré-determinadas, por forma a garantir adequada protecção da população e das instalações militares.

Ainda mal refeitos da surpreendente determinação já o exercício se iniciava com um toque a rebate no sino da igreja, que teve como efeito, por entre sorrisos mal contidos, ver o padeiro correr em defesa da padaria, os artilheiros a mergulharem no espaldão de morteiros, eu na enfermaria, sentinela alerta, à espera do que desse e viesse, e, entre especialistas vários, até o pessoal das oficinas, de G3 na mão, em defesa, quiçá, das viaturas.

Ai Polidoro, Polidoro, o que tu foste arranjar. Acordaste o leão.
Três dias depois do divertido exercício, mais propriamente a 8 de Outubro, pelas 21h10, o IN flagelou a vila de Bissorã, com particular intensidade a tabanca da Outra Banda, habitada pela etnia balanta. Foram ali incendiadas várias moranças, roubaram gado, causaram vários feridos entre a população, e, mais grave do ponto de vista militar, tendo chegado ao perímetro do arame farpado, os guerrilheiros entraram num abrigo de onde tinham fugido os dois milícias ali em serviço, levando com eles a metralhadora Breda M37 que lá ficara.

O comandante Polidoro foi rápido na resposta a esta acção. Chamou o cap. mil. João Abreu, comandante da companhia independente CCAÇ 2444, e ordenou-lhe que fosse colocado um pelotão em permanência no alto da Outra Banda, assim conhecida por ficar “do lado de lá” do Rio Armada. Era de lá que, preferencialmente, PAIGC flagelava Bissorã e assaltava as moranças.
Vila e tabanca apenas ficavam unidas por uma estreita ponte em madeira, que passava sobre o rio.

Numa tosca casa de piso térreo que lá havia, mesmo no lugar de onde partia a estrada para Binar, acomodaram-se os homens da 2444 que abriram extensas valas defensivas, em zig-zag, ao longo do arame farpado, a partir das quais reagiriam ao fogo inimigo. Não demoraram muito as obras. Uns escassos cinco dias a partir da ordem dada pelo comandante.
Foi “inaugurado” aquele destacamento a 14 de Outubro, precisamente o dia escolhido pelo inimigo para voltar a flagelar Bissorã, mas desta vez vindo o fogo do lado da estrada do Barro.

Foto 1 - Bissorã, 1970 – O destacamento da Outra Banda. A protecção à casa já foi levada a cabo pelos homens da CCAÇ 13, à qual pertencia o fur. mil. Adriano, que se vê em primeiro plano. 
Foto © cedida pelo Fur Mil Carlos Fortunato

O Comandante Polidoro Monteiro levou mais tempo a reagir ao ataque que o In levou a cabo a partir da estrada do Barro. Foi mesmo preciso que lá voltasse uma e outra vez, que a CCAÇ 2444 fosse rendida pela CCAÇ 13, que acabara de se formar, para tomar uma decisão.
Comandava a 13 o cap. mil. Aberto Durão.

Com este a seu lado, o comandante Polidoro chamou o Furriel Miliciano Carlos Fortunato, especialista de armas pesadas mas que em Bolama fez um curso suplementar de minas e armadilhas, por ser tido como um rapaz calmo e sereno, e incumbiu-o, num lugar que indiciava ser aquele onde os guerrilheiros instalavam as suas armas pesadas, de montar um dispositivo capaz de eliminar a ameaça.

O Fortunato (trato-o assim por ser aquele que preside à Associação Ajuda Amiga, da qual também faço parte), levou das oficinas auto meia dúzia de bidons do gasóleo, carregou-os com dinamite, acabou de os encher com tudo o que pudesse transformar-se em armas mortíferas, uniu-os por um fio condutor que vinha enterrado até à casa do gerador, onde foi ligado a um dínamo de manivela.
O In atacava, dava-se à manivela, os bidons explodiam e pronto.

Mas um mês depois de montada a armadilha, o furriel Fortunato voltou a ser chamado, desta vez para a “desarmadilhar”. Das razões da ordem ele não cuidou de saber. Mas, comentando o caso, é sua ideia que alguém, fosse em Bissau fosse na administração da vila, não terá gostado do plano, não terá gostado do local onde ele foi executado, por ser área agrícola, zona de cultivo das populações.
Resultado, depois de tomadas todas as providências, o furriel Fortunado deu à manivela e BUM!!! Naquele lugar não ficou terra firme para instalar morteiros inimigos, nem terra capaz de semear o que quer que fosse.

Foto 2 - Bissorã, 1970 – Em dia de festa popular, e chegado de uma deslocação ao sector, o ten. cor. Polidoro Monteiro , à direita, com o alf. capelão Augusto Baptista.

Um oficial de parada. Muitos o qualificaram assim.
Falta de jeito ou feitio, o certo é que o comandante tinha uma especial queda para “chatear” a malta. A farda era o seu alvo preferencial.

Por muito estranho que pareça, esse foi também o discurso de abertura que levou às três companhias operacionais do batalhão, a CCAÇ 2464, em Binar, a 2466, em Encheia, e a 2465, no Bissum, quando a elas se foi apresentar.
Em Bissorã, foi com particular mau estar que foi recebida punição do Furriel Miliciano do PelRec Aviz Pires, por andar sem boina.

E o voleibol, o seu desporto favorito?
Sete da manhã. Sem aviso mandava acordar um grupo de oficiais e sargentos por ele escolhido:
- O senhor comandante manda dizer que já está lá em cima no campo à espera. E que ninguém chegasse depois das 7 e 30.
- Filipe, já aí veio o motorista dele acordar a malta.
- Que horas são?
- Sete.
- Ó Pires, não gozes, deixa-me dormir.
- Ok! Vou andando que não estou para aturar o gajo.

Pouco passava das 7h30 quando ao campo chegou o Filipe, levado pelo motorista do comandante, que o fora buscar ao quarto.
- Olhe lá, ó senhor furriel, julga que está nalguma colónia de férias?

Deixemos ficar no olvido o azar que o Dr. Oliveira lhe tinha quando, àquela hora da noite em que ele achava já não ser recomendável andar na rua, o comandante o chamava para a mesa do bridge. E no entanto, este homem empertigado lá no alto dos seus galões, era, nas horas vagas, um tipo afável no trato, um bom conversador.

Foto 3 - Bissorã,1970 – Numa recepção oferecida pela comunidade local, eu à conversa com o ten. cor. Polidoro Monteiro. À esquerda, o comandante da CCAÇ13, cap. mil. Alberto Durão.


Carta ao tenente coronel João Polidoro Monteiro

Meu Comandante
Não sei se aí, no lugar onde se encontra, tem acesso à internet, e se, caso afirmativo, é seu hábito ler o blog do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
O Luís é aquele rapaz furriel miliciano da CCAÇ 12, que o meu comandante conheceu em Bambadinca, quando para lá foi, depois de nos comandar a nós, comandar o BART 2917, onde, deixe-me que lhe diga, o senhor granjeou, entre aqueles que dele faziam parte, grande estima e consideração, como homem e como militar.
Eu escrevo no blog do Luís, acervo maior da nossa memória sobre a guerra e o nosso dia a dia na Guiné, e nele escrevi sobre si. Não quero, se se der o caso de me ler, que pense tratar-se de um qualquer ajuste de contas (cobardia de que não sou capaz) ou que fosse minha intenção beliscar a sua imagem de militar responsável e competente. 
No local onde escrevo ninguém muda a sua condição humana depois de morto. Somos o que somos, escrevemos o que fomos, conscientes de que não escrevemos para nós, mas para assegurar que no futuro ninguém nos acusará de não termos dito ao que fomos, porque fomos e o que fizemos. 
Interpretei na escrita o sentimento que o senhor deixou em nós, homens do BCAÇ 2861. “O homem é o homem e as suas circunstâncias”, escreveu Ortega y Gasset. Não me tomo de filósofo nem tão pouco de psicólogo capaz de ler o comportamento humano. Mas quero que saiba que muitos de nós (não posso dizer todos) sempre esteve presente, como se quiséssemos “desculpabilizá-lo”, o lugar de onde vinha e o que lá fazia, e o que de nós, e sobre nós, ainda que de forma injusta e deturpada, deve ter ouvido em Bissau. 

Meu Comandante
O senhor não foi “pera doce”. Manteve as tropas em exagerado sentido. Não granjeou particulares simpatias. Ouvindo um e todos, desculpe que lhe diga mas não deixou saudades. Mas é certo que também ninguém esqueceu aqueles momentos em que, para defender os seus homens dos ataques “exteriores”, até os tomates lhe subiam à garganta. E eu que o diga, quando em Bissau me que quiseram fazer a folha porque pedira uma evacuação urgente para o 1.º Cabo Catarré, na altura a fazer de barman no bar de sargentos, o qual ao meter cervejas no congelador deixou que uma garrafa caísse sobre as demais, provocando uma “explosão” de vidros, indo um deles, minúsculo, cravar-se-lhe na íris.
Ao vê-lo na enfermaria pensei, “eu aqui não toco, se isto não for tirado rapidamente ficas sem olho, vais para Bissau num fósforo”. 
Ainda estou a ver o ar estupefacto da enfermeira paraquedista, ao ver caminhar para o DO um militar com um enorme penso num olho e eu a dizerr, “é este”
Quando de Bissau chegou a ordem para averiguar os factos, saberá o meu comandante que todos ouviram os seus gritos lá dentro do gabinete.
- Se o vidro se espetasse no olho do cu dos gajos, já havia pressa.

Ainda hoje não sei com quem o meu comandante falou, ou o que falou, sei que dias depois me tranquilizou o Dr. Oliveira dizendo-me, “está tudo resolvido”.
Não podia haver maior ironia.
O meu comandante a evitar uma possível punição ao homem a quem, poucos dias depois de ter chegado a Bissorã, chamou ao seu gabinete para lhe dizer: 
- Sei que andas aí armado em vivaço, mas olha que te dou uma porrada.

Coisas que lhe sopraram aos ouvidos mas que nós, eu e o senhor, por respeito a terceiros envolvidos, mantemos em silêncio. Além de que o tempo se encarregou de dar outro e melhor rumo ao nosso relacionamento, não podendo eu esquecer o apreço que mostrou pelo trabalho da minha equipa, nem a conversa que comigo teve, no seu gabinete, pouco tempo antes de nos separarmos.
- “O primeiro sargento Portugal já tem indicações para tratar do processo da entrega da medalha de Comportamento Exemplar a que tens direito. (nota: Medalha de Cobre – A conceder aos sargentos e praças que completem 3 anos de serviço efectivo e que nunca tenham sofrido qualquer punição disciplinar ou criminal – mantendo-se na actualização feita pelo dec 566/71). Enquanto o processo não fica concluído, tens já aqui a barreta indicativa, juntamente com a barreta da Medalha das Campanhas, que passas desde já a usar no teu uniforme".

E usei, sim senhor, usei e com cagança, sendo elas bem visíveis na fotografia militar com que me identificam lá no blog do Luís Graça. Mas olhe, também deixe que lhe diga, ainda bem que o primeiro Portugal teve mais que fazer do que dar andamento ao processo e eu, chegado a Chaves, muita vontade de me meter a caminho de casa.
Aqui para nós, tendo em vista o que fui e fiz “fora das horas de serviço”, comportamento exemplar era um bocado exagerado. 
Já vai longa esta carta. 
Termino dizendo-lhe que lamentei não ter estado presente naquele nosso almoço de confraternização, realizado na Pateira de Fermentelos, em 1991, porque foi o único a que o meu comandante foi, e, depois disso, não mais o vi. 
Tinha sido uma boa oportunidade para falarmos sobre o que agora lhe escrevo. Mas quem sabe, ninguém sabe, se um dia não nos encontraremos “por aí”, com tempo e oportunidade para pôr a conversa em dia, e eu dizer-lhe, à minha maneira, “olhe que o senhor também foi um bom sacana”. 
Um abraço do Armando Aires 
ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11879 Os nossos enfermeiros (10): Tenho uma dívida de gratidão para com o fur mil enf Moita, da CART 1745, que tratou do corpo do meu infeliz 1º cabo enf Louro, o João Batista da Silva, o Louro, natural de Louro, Vila Nova de Famalicão, morto em combate em 21/9/1968, em Talicó, Sambuiá (Adriano Moreira)

Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > Pormenor onumento erigido à memória do 1º cabo enf João Batista da Silva, o Louro,  e que foi destruído a seguir à independência.

Fotos (e legenda): © Afonso M.F. Sousa (2006). Todos os direitos reservados.

1. Comentário do Adriano Moreiro (nome de guerra, Admor), com data de hoje, ao poste P11869

Agora digo eu: Porra Armando, Porra Luís!

Depois do Armando atirar aos olhos de toda a gente o nosso prestimoso e insignificante papel de enfermeiros e até de médicos nestas situações, ainda vem o Luís atirar-me aos olhos com o antigo poste do meu camarada Afonso Sousa e com o monumento lapidar do meu melhor e infeliz cabo enfermeiro,  morto numa emboscada em Talicó, Sambuiá [, vd. carta de Binta],  pelos guerrilheiros do PAIGC,  passado cerca de mês e meio de termos chegado à Guiné.

Sabem o que eu vejo naquele monumento erigido à sua memória? A cabeça do Louro,  só presa ao corpo pela cervical, quase decepada.

Sabem como o nosso malogrado camarada se chamava? JOÃO BAPTISTA da Silva [, de alcunha, Louro]

Só não acabo aqui o meu comentário, porque tenho uma dívida de gratidão muito grande em relação ao corpo de enfermeiros da CART 1745.(**)

O meu camarada Fur Enf Moita viu como eu estava e só me disse estas palavras:
─ Moreira vai para o bar ou para onde quiseres, eu e os meus enfermeiros vamos tratar do Louro e, quando ele estiver pronto,  eu mando-te chamar,  a ti e aos teus enfermeiros

E realmente assim se cumpriu. Foi uma autêntica escritura. Ainda bem que eu não tive de fazer o mesmo por mais ningúem.

Eu depois volto. (***)

Um grande abraço para todos.

Adriano Moreira
ex-fur mil enf, 
CART 2412, 
Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 
1968/70
 ________________

Notas do editor:

(*) O João Batista da Silva era natural de Gandra, Louro, Vila Nova de Famalicão; 1º cabo enf, CART 2412, foi morto em combate em 21/9/1968. Está sepultado no cemitério da sau freguesia natal, Louro, concelho de Vila Nova de Famalicão.

(**) Unidades que passaram por Barro (nota de A. Marques Lopes)

(...) Companhia de Artilharia n.° 2412

Divisa: "Sempre Diferentes"

Partida: Embarque em 11 de Agosto de 1968; desembarque em 16 de Agosto de 1968;
Regresso: Embarque em de 4 de Maio de 1970

Síntese da Actividade Operacional

Em 28 de Agosto de 1968, seguiu para Bigene, a fim de efectuar o treino operacional com a CART 1745, sob orientação do COP 3 e seguidamente actuar nesta zona de acção em operações realizadas nas regiões de Talicó [, carta de Binta,]  e Farajanto [, carta de Bigene], entre outras.

Em 14 de Outubro de 1968, rendendo a CART 1648, assumiu a responsabilidade do subsector de Binta, com um pelotão destacado em Guidage, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3. Em 17 de Outubro de 1968, a sede do subsector passou para Guidaje, ficando então com dois pelotões destacados em Binta, sendo a subunidade especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá; a partir de 8 de Fevereiro de 1969, após troca de sectores, passou à dependência do BCAÇ 1932.

Em 9 de Março de 1969, por troca com a CCaç 3, assumiu a responsabilidade do subsector de Barro, ainda com um pelotão em Binta em reforço da guarnição local até finais de Abril, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932, mas agora orientada para a contrapenetração nos corredores de Canja e Sano; em 1 de Agosto de 1969, após novo reajustamento das zonas de acção dos sectores, passou à dependência do BCAV 2876 até 7 de Fevereiro de 1970, data em que o subsector de Barro foi incluído na zona de acção do COP 3.

Após deslocamento de dois pelotões para Bissau, em 17 de Abril de 1970, a fim de substituírem, transitoriamente, a CART 2411 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, foi rendida no subsector de Barro pela CCAÇ 2725 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso. (...)

(***) Último poste da série > 24 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11866: Os nossos enfermeiros (9): No caso dos furriéis enfermeiros iam para a Escola do Serviço de Saúde Militar, em Campo de Ourique, tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária (Adriano Moreira, ex-fur mil enf , CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10451: (Ex)citações (196): Um funeral balanta, em Barro, no tempo da CART 2412 (1968/70) (Adriano Moreira)

1. Comentário do Adriano Moreira (Admor) ao poste P10442:

[O Moreira foi Fur Mil Enf da CART 2412, Bigene, GuidajeBarro, 1968/70, e está inscrito na Tabanca Grande desde 30 de maio de 2012; foto atual à direita]


O único enterro em que fui chamado a participar ou convidado aconteceu em Barro.

Um homem grande,  de etnia balanta,  que se chamava Fonseca, meu cliente certo da enfermaria,  fez questão ou a sua família que eu assistisse ao seu funeral.

Assim, quando cheguei à tabanca,  na casa onde ele morava estava o Fonseca sentado numa poltrona de veludo vermelho, bastante coçado,  e com duas ou três notas enroladas e metidas nos lábios.

Quando foi a enterrar ao lado da sua casa,  foi precisamente num buraco aberto na vertical e na mesma posição de sentado em que estava na poltrona, que devia de servir para estas situações.

Não sei se a sua posição respeitava alguma orientação, mas como os balantas eram animistas acho que não devia ter qualquer sentido obrigatório, como Meca para os muçulmanos.

Fiquei bastante surpreendido com estas situações, mas não fiz quaisquer perguntas, nem na altura nem depois, o que realmente foi pena, pois poderia agora estar mais elucidado sobre o assunto.

Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira



Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968 > Espaldão do morteiro 81, guarnecido por dois Jagudis, de etnia balanta.

Foto: © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.

_____________

Nota do editor:

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9854: Convívios (424): Encontro do pessoal da CART 2412, dia 19 de Maio de 2012 em Vizela (Jorge Teixeira)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70), com data de 1 de Maio de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Um pedido para te dar trabalho, ou hoje não fosse o teu dia, o do trabalhador.

Com um abraço (para dar graxa!) apelo à tua complacência para a possibilidade de ser publicado no blogue da Tabanca alguma coisa que se aproveite daquilo que abaixo se diz e está publicado no blogue da CART 2412.

Obrigado pela atenção e consideração
Um abraço
cumprim/jteix


Encontro/convívio da CART 2412

 Dia 19 de Maio de 2012, em Vizela

  "SEMPRE DIFERENTES"


____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9839: Convívios (344): 18º Encontro do Pessoal de Bambadinca, 1968/71, em 26 de Maio na cidade do Porto (Manuel Monteiro Valente, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12, 1969/71)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9112: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (3): A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate

1. Terceiro episódio de "Porto de Abrigo", as memórias passadas a escrito pelo nosso camarada Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66.


PORTO DE ABRIGO - III

A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate

Bissorã era uma vila já com bastante população em que havia alguns estabelecimentos comerciais, muito deles já abandonados, mas ainda assim com um ou outro em funcionamento (os pertencentes a libaneses), perdi a sensação de tremendo isolamento que me tinha acompanhado durante a permanência em Fulacunda, tendo em vista que a vila tinha ligações por estrada, com Mansoa, Barro, Olossato e Mansabá, para esta última através do assustadora mata do Morés, considerado um refugio do IN, daqui a que desde que fosse assegurada a necessária desminagem e segurança se fizessem colunas. Ficamos durante alguns meses em conjunto com a Companhia 1419 e aparte os patrulhamentos e observações nas tabancas limítrofes, apenas têm relevância no plano militar dois acontecimentos que vieram abalar o contingente: em primeiro lugar junto à pista de aterragem rebentou uma mina antipessoal que provocou a amputação do querido amigo Lageira – 1.º Sargento da 1419. À posteriori o 2.º Sarg Sarrico por descuido deixou rebentar no bolso do camuflado uma granada de fósforo que o queimou e estropiou bastante. Vim encontrá-lo com sofrimento tremendo já no Hospital da Estrela onde foi horrivelmente tratado, quando da minha evacuação por ter sido atingido a tiro, e já fortemente estropiado. O Sarrico veio a falecer depois com uma cirrose hepática.

As condições em Bissorã já eram mais aceitáveis, sendo que inclusive tomávamos refeições de boa qualidade num estabelecimento do exterior, e um grupo de furriéis, em que me incluía, alugou uma casa também no exterior do quartel para pernoitar e repousar. Era realizado sistematicamente pela população um tradicional mercado ao ar livre. Existiam dentro da vila, em tabancas separadas e nos arredores, diversos grupos e sub-grupos étnicos, nomeadamente fulas, mandingas, biafadas, alguns balantas e um curiosíssimo sub-grupo, os saracolés que teciam e produziam os panos azuis, que as mulheres dos diversos grupos usavam a servir de saias. Havia alguns artesãos habilidosíssímos que criavam em pau-santo belas peças das quais adquiri alguns exemplares que hoje possuo, mas o artigo para mim mais interessante é um corta papeis em feitio de punhal manufacturado a partir do bronze do invólucro das balas e do alumínio das caixas de outra munição que não me lembro já hoje e que de certeza utilizei tendo em linha de conta que andei dezenas de vezes aos tiros com todo o tipo de armamento. Junto à casa do administrador de Posto chamou-me a atenção uma viçosa horta que produzia permanentemente durante todo a ano alfaces, tomate etc. Aqui não há os períodos de inverno ou verão, basta regar todos os dias como verifiquei ser feito por elementos da população, não sei contratados como. Também aqui me chamou a atenção um enorme monte de mancarra, (amendoim) que veio depois a ser transportado para Bissau (Casa Gouveia - Sucursal local do Grupo CUF) e com o monopólio da exportação de todo o amendoim da Guiné para Portugal..

A casa do Administrador.

A tasca do senhor Maximiano. A nossa messe em Bissorã

Rua com duas bombas de gasolina à direita


Terminado este período de aparente acalmia, mais uma vez nos deslocamos em viatura pela estrada para ficarmos localizados em Mansoa, ainda nos deslocamos algumas vezes a Bissorã com colunas de abastecimentos.

A igreja católica vista de frente.

A mesquita com os seus crescentes nos minaretes

Nesta vila onde pensávamos terminar a nossa comissão de serviço com menos tensão, veio a ser a zona de maior desgaste e com momentos mais angustiantes e onde sofremos os mais dramáticos e terríveis acidentes de guerra e onde viemos a ter as mais traumáticos situações e tropelias. Por aqui passava a estrada alcatroada que vinha de 10Km, (andava em construção – atribulada é certo - o pessoal de Engenharia envolvido era frequentemente atacado – também várias vezes fizemos a segurança aos mesmos e entramos em combate com o IN desfazendo as ferozes emboscadas feitas à estrada, que estava planeada para servir de ligação entre Bissau e Bafatà. Era também já uma vila com vida própria com alguns comerciantes, principalmente libaneses e raros portugueses um posto de Correios, onde algumas vezes telefonei para casa, a sede do Os Balantas, clube de futebol onde existia uma ampla esplanada e um cinema ao ar livre. Tinha também um administrador que aqui residia com a esposa e que eram assíduos frequentadores do cinema, o único inconveniente é que todos os filmes pareciam ser de guerra, porquanto milhares e milhares de melgas que pejavam o chão no fim de cada sessão, voavam permanentemente na frente do projector parecendo no ecrã uma enfiada de balas tracejantes.

O centro com o café e esplanada.

A Estação dos Correios

Quartel de Mansoa visto do cimo do depósito da água

O quartel era já de grande dimensão porquanto era aqui o comando de um vasto sector. Aqui chegados e instalados, veio, depois de algumas incursões dolorosas no mato sob o Comando (digamos que nos acompanhou) o verdadeiro comandante era já o Rui Ferreira, o Cap. Capador, um ineficaz que só atrapalhava, convenhamos que saía mudo escondia-se por todo o buraco que aparecia e regressava calado sendo que foi neste período que tivemos os mais duros contactos com o inimigo e tivemos diversos feridos. Foi a companhia desmembrada, sendo que ao nosso pelotão/grupo foram destinadas as funções de guarnições em destacamentos avançados, (mais uma vez o isolamento e a solidão), e que eram Braia, um bunker na estrada a caminho de Bissorã, nada existia para além do bunker e o arame farpado a toda a volta e onde foi colocada a primeira a Secção comandada pelo sensato, responsável e corajoso, José Monteiro, e Cutia em que existia dentro da cerca de arame farpado algumas moranças e onde exceptuando o refeitório tudo o resto eram abrigos debaixo de terra e cibes onde dormíamos e que ficava na estrada a caminho de Mansabá. Aqui fui colocado com o Ameixa e o resto do pelotão e onde mais tarde se veio juntar um alferes em substituição do Rui, que entretanto tinha sido ferido em combate em operação durante o tempo que permanecemos como companhia de intervenção em Mansoa.

O fortim para defesa da ponte. No chão, feito com garrafas de cerveja enterradas, pode ler-se: “Piratas do Oio 1420″.

Vista parcial da tabanca, dentro do arame farpado, e do Destacamento, onde se vê a bandeira na Porta de Armas.

Perdidos na memória do tempo os nomes dos diversos locais onde sofremos cruéis emboscadas, e procuramos e atacamos acampamentos e casas de mato do IN, apenas me marcam profundamente aquelas onde viemos a sofrer mortos e feridos.

Inscrição na parede de uma caserna.

Choveu copiosamente no percurso para o assalto a uma casa de mato, só participei nela porque ali ia o meu extraordinário grupo e era comandado pelo grande Rui, fui de chinela de praia porque nesse mesmo dia o meu Camarada Carolino (o enfermeiro da companhia) me tinha extraído uma unha arreliadoramente encravada, no meio da aterradora escuridão tropecei no fio de um fornilho que felizmente, eventualmente por causa da chuva, só rebentou o detonador o que não diminui o ânimo do pessoal, não sei exprimir o que senti. Chegamos de madrugada e ao sermos alvejados irrompemos pela casa de mato provocando a sua destruição pondo o IN em fuga desesperada com feridos e capturando diversas armas; no regresso dois elementos já longe do local dedicavam-se à pesca, obrigamo-los a acompanhar-nos para o Quartel, nunca soube de mais nada. Em nova incursão para a mesma zona somos recebidos a partir da berma de uma pequena mata por imensa metralha, no afã de desalojar o IN e porque seguia como de costume no inicio da coluna, avançámos o mais abrigado possíveis naquele sentido, pedindo eu aos dois bazukeiros, o Feijões e o Antunes, que se aproximassem da minha linha de fogo para melhor alvejarem o IN, assim fizerem o que resultou no desalojar dos mesmos mas, como ainda hoje me dói e me faz amiúde sonhar com o acontecimento, na morte de Antunes com um tiro na carótida. Foi dramática a evacuação daquele camarada transportado, aos nossos ombros, em maca improvisada até um local que o helicóptero pudesse pousar.
Pouco tempo após este acontecimento, vim de férias a Portugal, tendo regressado a Mansoa no mesmo dia que era inaugurada a primeira ponte sobre o Tejo. Acho graça a esta coincidência, para um revoltado permanente sem saber porquê.

Durante o período de férias recebi em casa, carta do meu amigo Rui onde me transmitia que uma secção do 4.º Pelotão tinha sofrido uma tremenda emboscada em que uma bazookada tinha atingido a viatura que se dirigia o destacamento da ponte de Uaque para levar a alimentação tendo morrido o 2.º Sargento Monteiro e havido diversos feridos de entre eles o mais grave era o nosso amigo Raimundo (o puto) entre a malta que era a vedeta futebolística da companhia e que faz o favor de ser um meu grande amigo. Era oriundo de uma família de pescadores da Costa da Caparica onde ainda hoje reside já em local diferente. Ficou e está completamente estropiado numa das pernas e num dos braços além do estropiamento ainda ficou amputado de parte dos dedos. Poucos dias passados e ainda de férias recebo nova carta do Rui que me comunica que o nosso pelotão tinha sofrido uma emboscada vindo o nosso amigo Augusto Palhais a ser atingido e ia ser evacuado para a metrópole. Fui visitá-lo ao Hospital onde constatei que tinha sido atingido por uma bala que lhe tirou uma vista. Este jovem, o único casado e já com um filho era a responsabilidade e ponderação que muito nos fazia falta e nos ajudava, está também entre os amigos, quase a generalidade, que se reúnem periodicamente para confraternizar. Originário de Mira – Aveiro ali se radicou.

Vindo de Cutia em trânsito por Mansoa com destino ao Hospital de Bissau para ser observado pelo facto de ter dado uma violenta queda que me provocava fortes dores no peito e tive a alegria de encontrar já recuperado o meu amigo Rui que aguardava transporte para se juntar a nós, em quem notei imediatamente um sentimento de revolta e inconformismo. Então não é que, por que o Comandante do 4.º Pelotão que se encontrava ausente para Bissau e estando aquele grupo para sair com a missão de avançar para o mato para o desalojamento e eliminação de alguns focos referenciados, o Comando de Batalhão, o tinha indigitado para comandar aquele grupo ao que ele reagiu acabando no fim praticamente por ser coagido a aceitar a missão; de imediato abandonei a ideia de ir para o hospital e lhe transmiti: se vais eu também vou, assim já seremos dois a aguentar o barco! Oh diabo, voaram mosquitos por cordas; não penses nisso, nem em sonhos, se for preciso proíbo-te de ires porque sou teu superior, era um poço de humanidade e brincalhão este Rui, depois de acesa discussão com este teimoso lá verificou que não merecia a pena insistir, pelo que lá nos juntámos aos camaradas do 4º. Pelotão. Depois de diversas peripécias no atravessamento de imensas bolanhas aproximamo-nos de uma tabanca isolada na extremidade de uma pequena mata, indo como de costume na frente da coluna, avistei em fuga em elemento, pelo que impetuosa e impensadamente me lancei em sua perseguição, vindo a ser gravemente ferido quando um grupo, emboscado estrategicamente, disparou diversas rajadas de metralhadora atingindo-me duas balas que me provocaram perfuração intestinal e o esmagamento de diversos ossos da bacia que me condenaram ao estropiado que hoje sou. Felizmente não houve mais feridos, porquanto vinham ligeiramente mais atrasados e puderam abrigar-se e eliminar aquela frente de fogo.

Fui em pouco tempo evacuado de helicóptero para Bissau, vindo ao fim de 15 dias para o HMP e posteriormente para a semi-clausura do Anexo vindo a terminar no DI no largo da Graça, locais de onde guardo a mais confrangedora das recordações. E assim termina a saga africana deste anónimo labrego.

No dia 10 de Junho de 1968, ainda andava em bolandas pelas instalações hospitalares donde só saí em Março de 1972, fui condecorado com a Cruz de Guerra, assunto que não pretendia aludir mas que devido a um facto acontecido me obriga a abordar e que anexo no fim.

(Continua)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2011> Guiné 63/74 - P9097: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (2): A nossa estada em Fulacunda

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4973: Tabanca Grande (175): Carlos Sousa, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 1801, Ingoré/Bissum-Naga/S. Domingos/Cacheu/Antotinha, 1967/69



1. Carlos Fernando da Conceição Sousa, ex-Alf Mil de Operações Especiais/RANGER (quando veio da Guiné foi promovido a tenente), da CCAÇ 1801 - Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69.

Camaradas,

Apresento-me como novo Camarada nesta “nossa” Tabanca Grande, chamo-me Carlos Fernando da Conceição Sousa, fui Alferes Miliciano de Operações Especiais/RANGER (quando vim da Guiné fui promovido a tenente), na CCAÇ 1801, e estive em: Ingoré, Barro (em operação), Ponta do Inglês (em operação), Bissum-Naga, S. Domingos, Elia (em operação), Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré).



Envio a minha foto actual e outra onde estou com o General Spínola. Foi no dia 31 de Dezembro de 1968, quando eu e os meus soldados estávamos a jogar futebol, um helicóptero pousou ali no meio do campo.



Os jogos, para que as equipas se distinguissem, faziam-se com uns de camisola contra outros em tronco nu.
Como se pode ver na foto eu jogava na equipa dos tronco nu.

O Gen. Spínola caminhava para próximo de onde estavam os nativos, onde foi dar-lhes umas palavras.
Hoje queria que publicassem esta minha primeira mensagem:

16 de Setembro de 2009, acabei de ver na RTP1 um programa onde se mostrou a dramática situação de jovens que nasceram em Portugal e que não são considerados portugueses. Fiquei abismado com o que vi!

Mais abismado fico quando sabemos que aconteceu um 25 de Abril que nós saudamos (eu já tinha 30 anos quando aconteceu), que é o dia da Liberdade!

Combati na Guiné por uma Pátria que então estava definida como multirracial, e as terras de além-mar eram conhecidas e tratadas como províncias ultramarinas. No norte da Guiné, entre S. Domingos e Ingoré, a população desde felupes, a balantas, passando por fulas e mandingas, era maioritária nossa amiga. No destacamento de Antotinha, a 6 km do porto de S. Vicente, no rio Geba, havia cerca de cem balantas armados em auto-defesa que defendiam mais de 3000 pessoas, pois que, como os próprios nativos diziam, tinham que se defender dos bandidos.

Na altura todos lhes dissemos que eles eram portugueses ultramarinos. Alguns deles ficaram extremamente felizes quando obtiveram bilhete de identidade de cidadão português. Não há revolução que possa colocar por terra todas as expectativas que tínhamos alimentado nas populações.

Não venho aqui levantar a validade histórica dos movimentos de libertação, que terão libertado populações do jugo português para os entregar a oligarquias corruptas e prepotentes. É claro que temos a vantagem de conhecer a evolução (ou involução?) que se deu. Hoje sinto que a minha missão era nobre – proteger um povo de falsos libertadores.

Mas o que quero hoje reflectir é sobre os jovens apátridas nascidos em Portugal.

Os pais deles foram de algum modo induzidos na ideia de que eram portugueses. Muitos deles tiveram que procurar refúgio fora da terra onde nasceram e vieram para Portugal, como terra mítica idealizada como justa e civilizada. Nós deveríamos tê-los mantido como portugueses, tal como sempre lhe dissemos que eram. Mas não; deixámo-los esquecidos, assobiando para o ar, sem que houvesse um governante que lhes fizesse justiça e aos filhos daqueles que enganámos.

Reforço a ideia de que a vinda para Portugal era, para muitos, a única saída. Lembremo-nos dos fuzilamentos que os libertadores fizeram com aqueles que tinham colaborado com os portugueses – e os que connosco colaboraram eram muitos milhares.

Façamos barulho para que imediatamente se legalizem os filhos de africanos portugueses até ao 25 de Abril. Acabemos com mais esta vergonha nacional.

Um abraço para todos os Camaradas da Tabanca Grande,

Carlos Sousa
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1801

Foto: © Carlos Sousa (2009). Direitos reservados.
Emblema: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

2. Comentários de MR

Amigo e Camarada Carlos Sousa, bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Muito obrigado por aceitares o convite para integrares esta grande Tertúlia Bloguista, cuja "formatura" é composta por cerca de 350 ex-Combatentes da Guiné, que pouco a pouco, mas decidida e inabalavelmente, aqui vão prestando os seus fabulosos depoimentos, contribuindo para a tão necessária e desejada catarse da guerra que a nossa geração viveu Além-mar, no Ultramar africano.

São histórias/memórias de morte, sangue, dor e sofrimento, umas… e outras… de pequenas e grandes coisas do dia-a-dia, que íamos cortando no velho calendário, contadas, quase todas elas, no presente do indicativo.

Fazêmo-lo consciente e patrioticamente, não por impulsos masoquistas, ou maquiavelistas, mas como testemunhos escritos e fotográficos, para as gerações presentes e vindoiras.

Ficamos à espera que nos contes histórias sobre a comissão e actividade operacional da tua CCAÇ 1801 e de ti na Guiné. Tudo será bem-vindo (textos, documentos e fotos), para ampliar este nosso espólio virtual.

No lado esquerdo da página inicial do blogue, tens tudo o que é importante saber sobre o blogue: O que nós (não) somos e as normas de conduta a seguir pelos tertulianos. São simples e normais regras de boa cidadania, que se resumem ao respeito mútuo inter-bloguista e a aceitação das diferenças de conceitos e opiniões.

Quanto à tua CCAÇ 1801, apenas existe no blogue um pequena referência, com data de 14 de Outubro de 2008, no poste: Guiné 63/74 - P3312: Unidades que passaram por Sedengal (José Martins), da autoria do nosso camarada José Martins, que foi Fur Mil Trms da CCAÇ 5, que muito colabora com o pessoal no blogue através de valiosos trabalhos de pesquisa sobre as diversas unidades que passaram pela Guiné, que só a sua carolice lhe permite concretizar, e que é a seguinte:

«CCaç 1801 [mobilizada no BC 10 – Chaves - embarque em 26 de Outubro de 1967 e regresso em 20 de Agosto de 1969], regressa a Ingoré para reforçar o BCaç 1894, para actuação nas operações realizadas, e depois integrado no dispositiva de manobra do BCaç 1913 [mobilizada no RI 15 – Tomar - embarque em 27 de Setembro de 1967 e regresso em 16 de Maio de 1969], quando em 23 de Abril de 1968 assume a responsabilidade do subsector de Ingoré, destacando um pelotão para Sedengal.»

Todos ficamos à espera da tua melhor colaboração e, entretanto, recebe de toda a tertúlia “atabancada” um abraço de boas-vindas.

Nota: O nosso Camarada Carlos Sousa, é licenciado em Engenharia Mecânica. É professor no I.S.E.P. (instituto Superior de Engenharia do Porto). Reformou-se muito recentemente, como Chefe do Departamento de Formação do C.A.T.I.M. (Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica) da cidade do Porto.

Magalhães Ribeiro
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4812: Contributo sobre a CCAÇ 4942/72 (António J. Sampaio) (2): "Os primeiros dias"

1. Mensagem de António Sampaio, ex-Alf Mil na CCAÇ 15 e Cap Mil na CCAÇ 4942/72, Barro, 1973/74, com data de 6 de Agosto de 2009:

Caro Camarada

Envio hoje mais uma página para a história da 4942/72 que eu conheci.

Se acharem que não deve ser publicada não publiquem. Em consciência devo estas recordações aos camaradas dessa Companhia com quem convivi.

Gostava que estas linhas, fizessem acordar outros que também com eles viveram.

Enquanto me permitirem, darei conta de figuras como o Rui (cabo da arrecadação e o melhor apontador de morteiro - por instinto que conheci), o Prioste (mecânico que chegou a chefe de mecânicos da Fiat no Funchal – segundo creio), o Mosca (melhor pescador que conheci – à granada ofensiva), o Silva das transmissões (que nos ia matando numa crise de total descontrolo – era dos forcados de Vila Franca de Xira) e de muitos outros que recordo como parceiros de bons e maus momentos.

Se me quiser juntar à lista agradeço, e se a puder editar também por apelidos então era ronco mesmo.

Um abraço e até um dia destes ao café se andar cá por Leça
António Sampaio


Contributo sobre a CCAÇ 4942/72

2.ª Parte (*)

“Os primeiros dias”

O ambiente era totalmente irreal para uma situação de guerra e se de facto o 25 de Abril já tinha ocorrido, não é menos verdade que se continuava a fazer operações. E se os contactos não tinham a violência a que todos estávamos habituados, não tinham simplesmente deixado de acontecer.

Não foi fácil a alguém, com a formação militar a que tinha sido sujeito desde os 10 anos de idade, perceber o que ali se passava.

Ainda hoje não tenho a certeza absoluta do que se passou. Penso conhecer alguma da verdade mas tenho igual certeza de não a conhecer toda.

Continuo no entanto firmemente convencido de que não há maus soldados, somente podem ser mais ou menos difíceis. Pode haver, isso sim, comandos melhores ou piores, ou mais ou menos adaptados ao pessoal que comandavam.

Foi talvez uma falta grave nunca se ter feito essa avaliação. Quantas vidas se teriam poupado?

Passado este aparte.

Tentou o Alf Lima explicar a situação e o melindre e dificuldade operacional que representava, pois nem garantia a segurança das instalações e do pessoal.

Como o fim da tarde ocorreu sem demora, informaram-me que era hora de jantar e que estavam à espera que o Alf Lima desse autorização.

Com o respeito que sempre lhe reconheci e que se transformou em amizade, séria, perguntou-me se podia autorizar o inicio da refeição e se eu próprio não queria jantar também. O que de facto aconteceu.

Primeiro choque – numa unidade em que estavam 1 capitão e 3 alferes, os alferes não tinham autorização de se sentar à mesa com o capitão. Mesas separadas e poucas conversas era a norma, como fui informado.

Convidei o alferes Lima para me acompanhar e perguntei pelos outros alferes. Só um estava presente e foi-me nessa altura apresentado, à civil. O outro encontrava-se destacado em Ingoré como fui informado. Mas, enfim, já fomos 3 à mesa e nunca mais deixou de ser assim. Felizmente!!!!!!!!!!!!!!!!!

A classe de sargentos, também fazia segregação. O 1.º Sargento sentava-se sozinho à mesa (o exemplo vinha de cima), mas para mostrar a incongruência da situação, passada a refeição sentava-se à mesa da lerpa, onde profissionalmente limpava o furriel mecânico que ali deixava tudo o que lá ganhava. Enfim...

Uma noite de descanso refez as forças para enfrentar o desafio.

Sempre dormi bem, até bem demais (ainda em Mansoa, na CCAÇ 15, durante um alto, adormeci no trilho e só fui acordado por um fiel balanta, caso contrário se calhar ficava numa situação difícil.

Recolhidas as informações que quiseram dar-me e feita a analise da situação, confirmei a ideia inicial de que estava num buraco.

A análise às fichas do pessoal indicava uma Companhia que parecia mais um depósito disciplinar do que uma unidade operacional. Castigos em cima de castigos era o que se via mais nas notas de assento. Não podia ser verdade. Admitia dois ex-desertores, alguns ex-refractários, algumas porradas no CTIG, mas tantas?

Tinha de haver alguma razão para isso. Urgia descobrir qual e rapidamente senão corria o risco de ainda piorar a situação.

Apresentei-me a uma Companhia devidamente formada antes de almoço e após curta apresentação, seguida por muita desconfiança, pareceu-me que o primeiro passo para a normalização da situação, estava dado.

Nessa tarde os camaradas alferes refizeram as escalas de vigilância e reforços dos postos da breda e dos 81, que por incrível que pareça não eram guarnecidos desde a crise.

Houve que normalizar o rancho, as messes e os bares.

Parece mentira? Foi o que me pareceu a mim também na altura.

Havia ranchos diferentes para oficiais e sargentos e praças.

Havia messe de oficiais, outra de sargentos e o refeitório das praças. De notar que havia a mesa do capitão e a dos alferes. Nos sargentos o 1.º comia em mesa separada dos furriéis.

No bar, uma tabanca a servir para o efeito, havia separação idêntica à da messe, não sendo os alferes convidados a co-habitar com o capitão. (não sei se na lerpa o senhor não estaria presente pois o 1.º precisava de ganhar a vida e ganhava...)

Tudo isto tinha sido determinado superiormente!!!

Para abreviar...

O maior escândalo rebentou quando sugeri que se fizesse um torneio de futebol entre os 3 GCOMBs, encarregando-me eu de tentar pôr de pé uns joguinhos de volei (onde me sentia mais à vontade, pois nunca fui de futebóis) em que eu também participava num campo que com voluntários improvisámos na placa do heliporto. Jogar ao lado de soldados não era considerado conveniente num passado próximo e criou grande expectativa.

Como não podia deixar de ser, ajudou a quebrar a barreira de gelo e a começar aquilo que se tornou numa sã camaradagem, confiança e respeito, entre todos.

Passado poucos dias, comovi-me quando pedi um grupo de voluntários para uma missão e a Companhia em peso deu um passo em frente.

ESTAVAMOS TODOS NO MESMO BARCO. COMEÇAVAMOS A SER UMA FAMÍLIA.
__________

Nota de CV:

(*) Primeira parte do "Contributo sobre a CCAÇ 4942/72, integrado no poste de apresentação do nosso camarada António Sampaio de 9 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4662: Tabanca Grande (159): António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e Cap Mil da CCAÇ 4942/72 (Guiné, 1973/74)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4724: Controvérsias (32): Ainda e sempre os Cabos Milicianos (Jorge Teixeira)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (*), ex-Fur Mil Art da CART 2412, Bigene, Guidage, Barro, 1968/70, com data de 15 de Julho de 2009:

Caro Carlos Vinhal
Camarada

Os meus respeitosos cumprimentos.

Ainda a propósito dos milicianos, neste caso os ditos cabos, deixo um texto à vossa consideração para ser publicado ou não, se acharem que tem interesse.

Fica à vossa atenção.
Um abraço



2. Camaradas

Vamos voltar aos milicianos... e não só. Parece que, como sempre, a coisa está a descambar.

O que iniciamente foi posto em causa, foi o porquê da existência, e sua invenção, de um posto no Exército com a designação de CABOS MILICIANOS e não saber se os bons eram os milicianos, ou os maus os permanentes no quadro, ou vice-versa, até porque a medalha tem duas faces e os bons e os maus estão nos... três lados, ou já se esqueceram que também havia o lado chamado IN?

Por este andar qualquer dia chega-se à conclusão que afinal quem fez a guerra foram os marcianos e a culpa foi dos lunáticos.

Mas voltemos aos cabos milicianos que foi assim que começou a polémica. Não há dúvida nenhuma que fomos roubados, ou alguém tem dúvidas? Senão vejamos:

Os cadetes do COM frequentaram o Curso de Oficiais Milicianos e foram promovídos a Aspirantes a Ofícial Miliciano (classe de Ofíciais)

Os instruendos do CSM frequentaram o Curso de Sargentos Milicianos e foram promovídos a Cabos Milicianos (classe de Praças)

Ah, mas estes são diferentes porque são cabos milicianos. Então, e os outros não eram todos milicianos?

Foi algum inteligente da altura, como alguns que há agora, que teve esta brilhante ideia para poupar uns cobres e cair nas boas graças do Salazar.

Normalmente um cabo miliciano era formado, de base, em 6 meses. Os atiradores eram colocados em unidades de recrutamento e eram, eles, chefiados pelos aspirantes do mesmo curso, que ministravam uma, duas, três ou mais recrutas, conforme eram ou não mobilizados.

Alguns eram colocados a fazer serviços administrativos, como foi o meu caso que fui colocado na "Torre de Controle" do GACA3 (o quartel tem partes do aeroclube local e as casernas são nos hangares) a dar os pareceres para o "Amparo de Pais". Também mandei ou ajudei a mandar alguns para casa mais cedo. Livraram-se da guerra?

Todos faziamos serviços à unidade como se de Sargentos se tratasse, mas éramos cabos para todos os efeitos, e pagos como tal, e aqui é que está o "busílis da questã" (como diz o meu primo d'aldeia).

Já agora, estive de Sargento de Dia à unidade no Natal 67. Foi para me habituar.
As outras especialidades que não atiradores, tinham também o seu tempo de treino devido ao estágio especial.

Mas não se pense que os atiradores ficavam por aqui. Aquando da mobilização tinhamos mais três meses ou de Minas e Armadilhas, ou de Operações Especiais (no duro, não era brincadeira, então quando era no inverno em Lamego, era a habituação ao clima da Guiné).

Alguns conseguiam safar-se das especializações e voltavam às recrutas aos soldados.

Com isto já se passou quase um ano de tropa, e o graveto continua na mesma.

Bom!!! (diz o professor Marcelo) agora, aspirantes e mais uma vez os cabos milicianos estavam prontos para formar a companhia para ir p'ra guerra. Têm 5 meses para isso.

Com a ajuda de altos cargos, diga-se patentes? Especialistas habituados à guerra de guerrilha? NÃO!!! Nem por lá se viam. O aspirante e os cabos que dizem ser milicianos que se desenrasquem, que a isso manda a tropa.

Nem o capitão que também era miliciano, sabia que existiam cabos milicianos, foi preciso o sargento da Companhia chamar-lhe à atenção.
- Oh meu Capitão, olhe que aqueles rapazes com umas divisas esquisitas são cabos, mas chamam-se cabos milicianos.
- No meu tempo não havia nada disso, eram Cabos e Prontos.
- Pois, o meu Capitão já é antigo.
- Antigo não, só sai da tropa há 10 anitos, ainda estou aqui p'rás curvas.
- Pois, mas passe a chamar a esses cabos: Oh nosso Cabo Miliciano... (só para não haver chatices)
- Está bem, mas podia-se poupar nas palavras e na saliva. Complicados!!!

Também não admirava, milicianos? Cabos milicianos? Então e os outros cabos não são? Até parecem milícias, ou pertencemos à milicia?

A Companhia está pronta, passaram-se 16 meses e até aqui o pilim continuava na mesma.

Não é, nosso Cabo Miliciano.

Já se fez o desfile da despedida e há que embarcar, rumo não se sabe a quê.
Antes do desfile e só no dia do desfile fomos promovidos (**), ou por outra trocamos as divisas de cabo miliciano pelas de furriel, e os aspirantes fizeram a mesma coisa para alferes, lógico, sem cerimónias, presidentes ou primeiros-ministros, até porque à época não compareciam nestas manifestações.

Agora sim estava tudo direitinho, apesar de na Caderneta Militar dizer que tinha condições para ser promovido a "Furriel Milº", 10 meses antes, ou seja e sito: "Escola de Recrutas, por equivalência a dois períodos completos de instrução básica", o que quer dizer que inventaram mais um cabo miliciano, e esqueceram-se do furriel.

Agora digam lá se fomos ou não, como se diz: roubados, enganados, vigarizados por um espertinho Salazarento?

Mas a vigarice não fica por aqui, não acabou. Já estou há 6 meses na Guiné.
Na mesma caderneta diz que tinha condições para ser promovido a 2º Sargento Miliciano, (mais um das milicias) e volto a sitar: "Escola de Recrutas, por equivalência a seis meses de serviço consecutivo em Unidade Operacional".

Ora isto também ficou esquecido e nunca se verificou nem mesmo quando passei à peluda passados 15 meses.

Nunca e era tão simples, era só virar as divisas ao contrário. Os carcanhóis é que seriam diferentes, o que era uma chatice, porque iria estragar o orçamento aos gandulos, agora já na era Marcelistas/Salazaristas.

Finalmente passam 21 meses (aí tivemos alguma sorte, outros fizeram 24 ou mais) chega o descanso do guerreiro, e o miliciano que outrora tinha sido cabo, vai deixar de o ser. Agora...feitas as contas deveria ser:

- Instruendo do CSM durante - 6 meses
- Fur Mil - 16 meses
- 2.º Srgt Mil - 15 meses

...mas foram:

- Instruendo - 6 meses, sem cheta
- 1.º Cabo Mil - 10 meses
- Fur Mil - 21 meses

Total de Tropa - 37 meses (16 na Metrópole e 21 na Guiné)... e ainda se queixam, os de agora, coitadinhos, de fazerem 6 meses lá fora como voluntários, heróis a ganhar bem e na maior.

FUI ROUBADO!!!

Isto não era só comigo, passava-se com a generalidade dos ditos cabos milicianos, mais mês, menos mês.

Resta-nos a consolação que, no presente, emendar os erros do passado está fora de questão, ou a gente não estivesse já habituda a isso e muito mais, basta ver a consideração, e principalmente o respeito, que os governos e os políticos têm por nós.

Apesar de tudo, tal como diz o meu amigo,(o outro Jorge Teixeira, o Portojo) bons foram os tempos de amizade e camaradagem que passámos em Espinho no GACA3, como CABOS MILICIANOS, eramos uns Senhores.

Por essa razão ainda agora nos encontramos às segundas Quartas-feiras do mês no café Progresso no Porto para continuar essa amizade e camaradagem. Falta o Canhão... e não só, paciência, só aparece quem quer e quem pode, temos o Bioxene que também é maluco, mas há mais... malucos, claro.

Bando dos Furriéis, assim se chama, a tertúlia/conspiração no café. Designação utilizada muito antes do outro, um tal AB, chamar bando a tudo e a todos. Não tem arame pode aparecer quem quiser. E não se esqueçam da Barreta (tinha que falar nela).

Um abraço a todos os Tertulianos
cumprimento
teix-veterano de guerra
ex-Furriel Mil Art
CART 2412 68/70
Bigene-Guidage-Barro
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)

(**) Na data de embarque fui graduado em Furriel Miliciano e só em 21 de Outubro de 1971, exactamente ao fim de 18 meses de tropa, fui efectivamente promovido.

Vd. último poste da série de 3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4631: Controvérsias (24): Os Milicianos, combatentes de primeira, cidadãos de segunda (Vasco da Gama)