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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18274: Memória dos lugares (374): Gadamael, c.1967/68, ao tempo da CART 1659, 'Zorba' (Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620, Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael   > CCAÇ 1620 > c. 1967/68 > Passeio de "sintex". (Ao tempo ainda não havia o "cais de Gadamael" onde, em 1973, descarregava o batelão BM3, que abastecia Gadamaele  Guileje... Recorde-se que o rio que banhava Gadamael Porto era o Sapo, afluente do Rio Cacine


Foto nº 1 A > Guiné > Região de Tombali > Gadamael  > CCAÇ 1620 > c. 1967/68 > Passeio de sintex. Pormenor. da esquerda para a direita, "eu, o fur at inf da minha companhia, de apelido Viegas,  que está a remar, mais dois militares da minha companhia, de que não me lembro o nome, e  sentado à popa, de bigode, o   2º sargento que respondia pela CART 1659, que estava em Gadamael. Íamos de Sangonhá a Gamadael, em coluna auto. Eu era furriel mecânico auto. Este é um momento de descontração, no rio [Sapo} que  banhava Gadamael... A estrada na altura era transitável de Cacine a Guileje, passando por Cameconde, Cacoca e Sangonhá. De Mejo para Buba é que não... A minha companhia esteve de agosto de 1967 a março de 1968 em Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, e que era rendido ao fim de um mês. Em Cacoca ocupávamos as instalações de um comerciante branco, oriundo da região de Aveiro, que se chamava Tonecas. Com a guerra, ele  abandonou Cacoca, e ficou só com o estabelecimento de Cacine. Conheci-o em Cacine. Negociava produtos (frutas, coconote, etc.) com tipos da Guiné-Conacri que iam lá de barco, e tinham salvo-condutos passados pela NT, eram também 'agentes duplos' que davam informações sobre o que se passava do lá da fronteira. Em Cacoca também havia intercâmbios deste género , os tipos da Guiné-Conacri iam lá visitar os parentes e vender e comprar produtos".

Foto (e legenda): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Sangonhá, nas proximidades da fronteira com a Guiné-Conacri, tendo a norte Gadamael e Ganturé, e a sul Cacoca e Cameconde  (e a sudoeste Cacine, vd. mapa de Cacine e mapa geral da província)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)




[Foto à direita: Manuel Cibrão Guimarães:
natural de Avintes, V. N. Gaia, vive em Rio Tinto, Gondomar]

1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do
álbum do nosso grã-tabanqueiro nº 766, Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, mec auto, da CCAÇ 1620 (Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68). (*)

Antes de ir para o Cachil (em março de 1968, e onde esteve até 1/7/1968), a CCAÇ 1620 tinha assumido, em 5 de janeiro de 1967, a responsabilidade do subsetor de Cameconde, rendendo, por troca, a CCAÇ 799 (Cacine e Cameconde, 1965/67), e passando a integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896. É nessa altura que a CCAÇ 1620 tem um pelotão destacado em Cacine.

Em 1 de agosto de 1967, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.

A foto que publicamos hoje, tirada em Gadamael, é do tempo em que a CCAÇ 1620 esteve em Sagonhá (agosto de  1967 / março de 1968). O Manuel Cibrão Guimarães passou, portanto,  sensivelmente o mesmo tempo (7 meses) erm dois sítios do regulado de Cacine: em Cacine e em Sangonhá.


22 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18238: Tabanca Grande (457): Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620 (Cameconde, Sangonhá, Cachil, Cacine, Cacoca, Gadamael, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 766.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.


Foto nº 1 > O jovem militar José Parente Dacosta


Foto nº 2 >  Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > O Dacosta (ou "Jacinto") junto ao monumento da CART 640 ("Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. [CART] 640 / RAP2. [Há uma outra foto, no nosso blogue, com um monumento semelhante, mas de Cacoca, "quartel ocupado e construído desde 24/6/1964 pela CART 640").


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > c. 1966 > "Benvindos a Sangonhá"


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 9 de junho de 1966 > "A nossa equipa de transmissões a plantar hortaliça para fazermos sopa. A água da duche era recuperada para regar. O chuveiro é o barril que podemos ver na foto com uma lata cheia de furos pendurada no barril para fazer de chuveiro. Assim íamos passando esses longos dias naquele quartel no meio do mato. Os tempos da nossa mocidade perdida."


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 24 de outubro de 1966 > Uma autometralhadora Daimler, ME-79-09.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 25 de janeiro de 1967 > Um grupo de militares, onde  está o nosso camarada José Pereira Dacosta, "Jacinto". A foto deve ser da autoria de outro camarada desta companhia, o Manuel de Sousa Correia Correia (,natural de Viana do Castelo, vive no Seixal).



Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > O José Parente Dacosta com o Manuel de Sousa Correia [?]-


Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 5 de março de 1967


Foto nº 9 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > Quartel de Guileje > 15 de maio de 1967.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) >  15 de maio de 1967 > Tabanca de Guileje onde vivia a população. Há um militar, ao centro, que parece ser um graduado (furriel ou alferes)...


Foto nº 11 > VIII Almoço convívio da CCAÇ 1477 em Tomar, em  5 de Agosto 2017: "a comemorar com familiares e amigos 50 anos de regresso a Portugal,  vindos da nossa antiga Província da Guiné Portuguesa".

Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em 18 do corrente, o José Parente Dacosta e Tabanca Grande celebraram 6 anos de amizade no Facebook!

Dois comentários a propósito do evento:

Tabanca Grande Luís Graça:

Um abraço festivo do editor, Luís Graça. Mas, camarada Dacosta, não vejo o teu nome na lista dos762 membros da Tabanca Grande, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... De qualquer modo, obrigado por seres amigo do Facebook da Tabanca Grande... Bom ano de 2018.

José Parente Dacosta:

Amigo,  jà faz 6 anos que faço parte do grupo (Tabanca Grande Luis Graça),  se o meu nome não figura na lista,  eu não tenho culpa...  Eu era 1° Cabo Operador Cripto da Companhia de Caçadores 1477, Guiné, Guileje, 1965/67... Guileje que  também tinha o nome  de "o corredor da morte"... Grande abraço e Feliz Natal.



A CCAÇ 1477 esteve seis meses e 20 dias em Guileje, de 3/12/1966 a 28/05/1967.

Infogravura: Carlos Guedes / Nuno Rubim / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Dacosta, ou melhor Zé Jacinto (como és conhecido entre os amigos e antigos camaradas):

Tens e não tens razão. Há o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça (desde janeiro de 2011, se não erro) e o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (desde 23 de abril de 2004). A Tabanca Grande Luís Graça, página do Facebook, tem mais de 2600 amigos. O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem 763 membros registados...

Tu és amigo do nosso Facebook, desde 18 de dezembro de 2011. Mas, por lapso teu e nosso, ainda não consta da lista alfabética, de A a Z, dos amigos e camaradas da Guiné que estão registados no Blogue... Vejo que és mais facebook...eiro do que blogueiro. Mas não faz mal. Vamos corrigir hoje o lapso e colocar-te sob o nosso poilão. no lugar nº 764. Passas a ser grã-tabanqueiro, de facto e de direito. E o teu nome passa a constar da lista alfabética da Tabanca Grande, na letra J, visível permanentemente na coluna do lado esquerdo. 

Os editores do blogue só precisam, entretanto, que nos arranges uma foto tua atual, tipo passe, e que lhes envies o teu endereço de email, para futuros contactos.

Sobre a Guiné, Sangonhá e Guileje, falam as tuas fotos e legendas, que eu fui recuperar da tua página do Facebook. Num próximo poste publico mais algumas. E tu próprio podes contactar-nos diretamente através dos seguintes emails:

Toda a correspondência para o nosso blogue (e Tabanca Grande) deve ser enviada para um ou mais dos seguintes endereços de e-mail dos nossos editores:

(i) Luís Graça:

luis.graca.prof@gmail.com ou luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

(ii) Carlos Vinhal:

carlos.vinhal@gmail.com

(iii) Eduardo Magalhães Ribeiro:

magalhaesribeiro04@gmail.com

Para os camaradas que querem saber mais sobre ti, aqui vai:

(i) o José Parente Dacosta. também conhecido por José Jacinto, trabalhou na empresa Automobiles Peugeot de agosto de 1969 a setembro de 2000; 

(ii) vive em Dijon, França; 

(iii) é natural da Covilhã, onde nasceu em 11 de setembro de 1943;

(iv)  tem página no Facebook;

(vi) esteve na Guiné, em Sangonhá e em Guileje, de 1965 a 1967. Em Sanginhá, em 1965/66 e Guileje, em 1967 (e da qual " infelizmente não tenho boas recordações", diz ele).

Só um pequeno reparo: Zé Jacinto, o quartel de Guileje não foi destruído pelo inimigo, foi abandonado em 22/5/1973, pelas NT, ocupado por escassas horas em 25/5/1973, portanto, três dias depois,  por 'Nino' Vieira e os seus homens, e  mais tarde destruído pela nossa Força Aérea.

Sê bem vindo à Tabanca Grande, ou seja, à comunidade constituída pelos membros formalmente registados no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné [https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/].

Temos algumas regras de "conívio", uma das quais é o tratamento por tu, como camaradas de armas que fomos (e continuamos a ser). As 10 regras fundamentais podem ser lidas aqui.
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Nota do editor:

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16164: Dossiê Guileje / Gadamael (27): Tenho cada vez mais a certeza de que andaram a gozar comigo - ou connosco - durante 13 anos (António J. Pereira da Costa, cor art ref (ex-alf art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael-Porto > c. 1967/68 > Vista aérea do destacamento, "uma espécie de fortim do faroeste", com um heliporto, uma pista de aviação, barracões e três poilões... Na altura  estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto, provavelmente tirada de uma aeronave DO 27, de autor desconhecido. Proveniência: Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Cortesia do nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014), cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) até à data da sua morte (, em Lisboa)

Foto: ©  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).




Guiné > Mapa da província > Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonha e Cacoca, as nossas posições mais próximas da fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968, por ordem de Spínola.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


1. Comentário de António José Pereira da Costa ao poste P16152 (*)

Cor art ref (ex-alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)

Olá,  Camaradas:

Considero que o abandono controlado de Sangonhá, Cacoca e, posteriormente, Ganturé, preparou o que viria a suceder em 1973. 

Sei, porque assisti à reunião, que o brigadeiro Spínola queria recuperar tropa da quadrícula para a intervenção e, por isso, contra a opinião do "meu capitão", determinou o abandono imediato de Sangonhá e Cacoca. Por fim, já em janeiro de 1969, Gandembel foi-o também e Mejo, onde chegou a haver uma companhia sediada, já o tinha sido. 

Podemos dizer que, em janeiro de 1969, a extremidade sul  da Guiné estava guarnecida por Cacine, Cameconde, Gadamael e Guileje o que é manifestamente pouco, até em termos de apoio mínimo. 

Tenho para mim que o controlo da estrada Cacine-Guileje era essencial para a manobra das NT, mas muito difícil de obter e manter. A superioridade do In em termos de apoio de fogo (artilharia) foi sendo cada vez maior (parece que com apoio topográfico e observação) e a possibilidade de cada uma das companhias actuar, com êxito, no seu sector, restringindo a passagem ao In era muito pequena. Além disso, o In não necessitava de residir na área, a não ser a sul de Cacine onde se estabelecera desde o início e ficou. 

A situação táctica tornou-se numa bomba-relógio que teria de explodir, mais tarde ou mais cedo.
Saliento que a capacidade de actuação do Comando do COP 5 era mínima, com três companhias dispersas, sem cavalaria (necessária para a movimentação das unidades) e sem qualquer unidade de intervenção que pudesse lançar no terreno numa acção mais elaborada. Podemos dizer que para além de boas(?) comunicações nada tinha que justificasse a sua existência. 

Já tenho pensado que alguém estava à espera de um "desenlace"...  Mas isto já é teoria da conspiração. 

Cacine era um bom local para desembarque de reabastecimento, especialmente material pesado, e juntamente com Gadamael concedia domínio sobre o rio e possibilidade de apoio de vária ordem.
Quanto à reunião de 15 de maio de 1973 só peca por tardia e eu não vejo como é que se poderia alterar de modo tão drástico e em tão curto espaço de tempo a FAP que operava na Guiné. A substituição das metralhadoras por canhões era elementar. Nunca supus que cada avião fosse tão mal armado, neste campo.

Sabemos que desde o começo se queria "embaratecer a guerra". Assim chegou-se, de facto a um pacto de silêncio em que a alta hierarquia das FA e "os políticos". Creio que aqueles não queriam levantar ondas junto daquelas. Já me referi ao facto de a nossa artilharia ser ceguinha e surda, respondendo a olhómetro às iniciativas do In. Já nesse tempo existiam radares contra-morteiro e referenciação pelo som e luz, só que...

E outro exemplo é o radar ANTPS-1D da BA 12, que repousava tranquilamente a 12 metros de altura. Já se perfilava então a possibilidade de sermos atacados com os tais MIG e nas condições que o António resume. Para lhes fazer frente nada melhor que três unidades AA da II GM. Pode não ser eficaz, mas é histórico.

Isto se não acontecer um ataque aéreo com qualquer teco-teco ou com um Antonov a largar bombas à mão, pela porta do fundo, sobre um pequeno quartel da periferia. Não se riam porque isto foi feito na Guiné... pelas NT. Nunca entendi aquela da contracção do dispositivo nem vejo quais as vantagens. Será que se esperava que se pudesse vir a expandi-lo? Boa táctica esta do encolher para, mais tarde, esticar...

Kandianfara era já nossa conhecida, em 1968, assim como o Porto de Camassó (no Quitafine), mas não era atacável por estar fora do TN [, território nacional]! Outra coisa que não entendo, mas aceito.

Já noutro lugar escrevi que não houve guerra e que Portugal nunca declarou guerra a nenhuma potência estrangeira e, por isso,  o Senegal e a República Guiné eram países contra os quais só "para gastos de casa" havia acusações. 

O emprego de tropa especial [, BCP 12,] naquele sector, "só depois da casa roubada", causa-me apreensão. Será que o comando empenhou todas as suas reservas e não tinha nenhuma para acorrer a uma nova situação? Ou estabeleceu prioridades e só actuou no Sul de pois de ter resolvido (?) o problema do Norte.

De qualquer modo parece que ficou provado que uma boa antecipação ou, no mínimo, uma resposta pronta, poderia ter resolvido os problemas no Sul, no Norte e no Leste. Assim, foi sempre que atamancada uma solução, com as consequências que se conhecem. 

Tenho cada vez mais a certeza de que andaram a gozar comigo - ou connosco - durante 13 anos (11, no caso da Guiné).  Mas felizmente houve o 25 de Abril, senão teríamos outra Índia. Pior e não é difícil ver porquê. Na Índia éramos prisioneiros de um exército regular de matriz britânica. Na Guiné éramos os colonialistas, salazaristas, imperialistas e lacaios de qualquer coisa que não me ocorre, o que era um problema, já que o nosso governo era relapso a aceitar os seus falhanços e adorava heróis mortos.

Um Ab e desculpem qualquer coisinha. (**)
António J. P. Costa
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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15226: (Ex)citações (296): O abandono de Sangonhá e Cacoca, pela CCAÇ 1621, foi a 29 de julho de 1968 (Mário Gaspar, ex-fur mil art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Guiné > Regão de Tombali > c. agosto de 1968 > Sangonhá destruída. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. Esta foto tem Direitos de Autor. Foi tirada com uma CANON

Foto (e legenda): © Mário Gspar (2015). Todos os direitos reservados (Edição:: L.G.).



Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael-Porto > c. 1967/68 >  Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação, na altura em que estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto provavelmente tirada de uma aeronave DO 27. (*)

Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual.  Cortesia de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).




1. Mensagem, com data de 6 do corrente, do Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Assunto - Abandono de Sangonhá e Cacoca

Camarada Carlos

Penso ser preferível indicares a data de 29JUL68, visto ser a data oficial da CCAÇ 1621.

Na História da CART 1659 pode-se ler somente:

“300 Indivíduos vindos de Sangonhá e Cacoca para Gadamael durante o mês de JUL68 onde construíram 44 moranças”. Não refere a data.

Não fica mal acrescentares as Histórias das Companhias 1620 e 1621 – paguei as cópias no AHM.


Julgo não ficar mal publicar-se este último texto e com a minha dúvida.

Tenho a certeza que no dia que abandonei a segurança foi o abandono de Sangonhá, Cacoca e a CART 1659 foi atacada.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar




Guiné > Mapa da província >  Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonha e Cacoca, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


2. O abandono de Sangonhá e Cacoca, pela CCAÇ 1621, foi em 29 de julho de 1968:

Caros camaradas

Para que o assunto fique esclarecido, em relação à extinção de Sangonhá e Cacoca, dou o meu parecer. A vista de avião da Região de Tombali - Sangonhá, deve ser de 1967/68. 

A CCAÇ 1620,  comandada pelo cap mil inf  Fernando António de Magalhães Oliveira foi rendida pela CCAÇ 1621, comandada por cap mil inf  Eduardo de Oliveira e Silva e cap graduado  art Artur Olímpio Sá Nunes, e foi esta Companhia, a CCAÇ 1621, a abandonar estes aquartelamentos, portanto em 29JUL1968, foi a retirada das forças estacionadas em Sangonhá e Cacoca e consequente extinção daquele Subsector.

Em 26JUL68 numa coluna de reabastecimentos, efectuada por elementos da CART 1659 a Guileje, rebentou uma mina A/C e tivemos um ferido grave e 7 feridos ligeiros e perdemos uma GMC. Não estive na mesma,  como é de calcular, montava a tal segurança.

Sucede que na História da Unidade da CCAÇ 1621 consta o abandono a 29JUL78 – é erro de certeza – e será 29JUL68.

Tenho dúvidas, julgo ter sido em 28JUL68, mas é para esquecer. Carlos,  podes não publicar esta parte.

Estive a comandar segurança – não sei bem quantos dias – enquanto 300 civis vindos de Sangonhá e Cacoca transferiram os seus haveres para Gadamael Porto, onde construíram 44 moranças. Os restantes civis foram para Cacine e não sei se seguiram alguns para Cameconde.

Na tal data, a data de 29JUL68, quando passava por mim a última viatura de Sangonhá, perguntei ao condutor se era mesmo a última, e era. Esperei por ordens de Gadamael para abandonar a segurança. O Radiotelegrafista estava junto e aguardava por ordens. Como não as recebesse,  chamei os amigos e camaradas Furriéis Milicianos e resolvemos – já que era eu que comandava o dispositivo de segurança – que regressássemos. Assim foi, mas desconfiado, resolvi dizer ao pessoal que ao chegarmos a Gadamael, e por brincadeira:
– Fazem um batimento com o pé esquerdo e corram!

Assim sucedeu, dei mais uns passos e o Radiotelegrafista acompanhou-me, tendo o Capitão, que não devia estar a ver bem me dissesse:
– Quem lhe deu ordens para abandonar a segurança? – Respondi:
– Fui eu, se era quem comandava!
– Vai chamar os homens e regressa à segurança!

Respondi que não o faria, tinha palavra e mandara os homens embora e para o banho e jantar. Então respondeu um Capitão que não era a mesma pessoa que conhecera, eu fui decerto o primeiro elemento da CART 1659 que ele, meu amigo, conheceu:
– Então vá sozinho!

Avancei e o Radiotelegrafista acompanhou-me,  pedindo que regressasse, eu sempre em frente e o meu camarada não me deixou, perguntando o que faríamos se surgisse o PAIGC. Sem querer tinha ao meu lado um elemento de ligação com Gadamael. Aproximou-se uma viatura com uns homens comandados por um camarada e amigo Furriel Miliciano que transmitiu ter o Capitão dito para eu regressar a Gadamael. Recusei dizendo que só recebia ordens pelo rádio. No cruzamento com o destacamento de Ganturé, o Alferes Miliciano que comandava o Grupo de Combate do nosso destacamento em Ganturé, diz-me para regressar. Continuei a andar, acompanhado pelo Radiotelegrafista, mais os homens de Gadamael e Ganturé.

Então recebo ordens para ir para as origens e assim fiz. Ao chegar a Gadamael, estava o Capitão que nada disse. Fui beber as minhas sete cervejas de seis decilitros fresquinhas, tomei banho e sentei-me para jantar.

Somos atacados com fúria e desandaram. Será que não passámos por eles? Acredito que sim.

Estávamos quase no final da comissão. O amigo Capitão devia estar noutra.

Mário Vitorino Gaspar

Furriel Miliciano, Atirador e Artilharia e MA
Gadamael Porto
CART 1659 – JAN67 a OUT68

PS - Voltei a comandar militares da CART 1659, pouco tempo depois da retirada, após escutarmos em Gadamael Porto, fortes e prolongados rebentamentos em Sangonhá: ainda hoje os tenho na memória, fomos a Sangonhá. O que vimos: restavam restos de paredes, um cão e também um gato. O cão por lá ficou, o gato depois de beber leite condensado com água, morreu em Gadamael. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. [Vd. foto acima].




Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > 1968 > Picada de Sangonhá para Cacine.

A CCAÇ 1621, que esteve antes em Cufar e Cachil, terminou a sua comissão em Sangonhá[, em 29 de julho de 1968, data do abandono  do aquartelamento e tabanca. Seis meses depois, os guerrilheiros do PAIGC foram, massacrados pela FAP,  em 6 de janeiro de 1969, quando atacavam Ganturé,  apartir da antiga pista de Sangonhá. Terá havido 36 mortos, e muitos feridos.


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 1968 > Mulheres de Sangonhá, ao tempo da CCAÇ 1621.



Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (1) . 


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (2).





Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (3): ao centro, o ex-fur mil Correia Pinto.

Depois de estar em Cufar e Cachil, a CCAÇ 1621 foi terminar a comissão em Sangonhá, que ficava a sul de Gadamael-Porto. O aquartelamento (e a tabanca) foram abandonados pelas NT em emados de 1968.

Estas fotos foram cedidas por antigos camaradas de armas ao Hugo Moura Ferreira, entre eles o ex-Fur Mil Correia Pinto. Foram-nos enviadas em julho de 2006, na sequência do convívio anual do pessoal da CCAÇ 1621, em 2 de julho de 2006.

O Hugo Moura Ferreira esteve na Guiné de novembro de 1966 a novembro de 1968, como alf mil inf, primeiro na CCAÇ 1621, em Cufar e Cachil (de novembro de 1966 a junho de 1967), e depois na CCAÇ 6, em Bedanda (de julho de 1967 a julho de 1968). O Hugo já não acompanhou a companhia, com destino a Sangonhá, por ter sido transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª Companhia de Caçadores) . A grande maioria do pessoal desta unidade era do Minho e Trás-os-Montes. O Hugo esteve pela primeira vez com eles, no convívio de 2 de julho de 2006  (***)..

Fotos (e legendas): © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

3. Fichas de unidade: As páginas 360 e 361 da Resenha Histórico Militar da Guiné das Companhias:

Companhia de Caçadores N.º 1620

Identificação CCAÇ 1620

Unidade Mobilizadora: RI 1 – Amadora

Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Fernando António de Magalhães Oliveira Divisa: -

Partida: Embarque em l2NOV66; desembarque em 18NOV66

Regresso: Embarque em 16AGO68

Síntese da Actividade Operacional

Em 18NOV66, substituiu a CCAÇ 762 nas suas funções de segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, na dependência do BCAÇ 1876, efectuando, simultaneamente, uma instrução de adaptação operacional na região de Nhacra, de 25NOV66 a Dez66.

Em 05JAN67, rendendo, por troca, a CCAÇ 799, assumiu a responsabilidade do subsector de Cameconde, com um pelotão destacado em Cacine, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

Em 01AGO67, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.

Em 20MAR68, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22MAR68 a 27ABR68.

Em 1JUL68, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso.

Observações: Tem História da Unidade (Caixa n.º70 2.ª Div./4.ª Sec. Do AHM)

Companhia de Caçadores N.º 1621

Identificação: CCAÇ 1621

Unidade Mobilizadora: RI 2 – Abrantes

Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Eduardo de Oliveira e Silva e Capitão Graduado Artur Olímpio de Sá Nunes

Divisa:

Partida: Embarque em 12NOV66; Desembarque em 17NOV66

Regresso: Embarque em 18AGO68.

Síntese da Actividade Operacional

Em 19NOV66, foi colocada em Cufar, a fim de efectuar a instrução de adaptação operacional com a CCAV 1484. Seguidamente assumiu, em 27NOV66, a responsabilidade do referido subsector de Cufar, em substituição daquela subunidade, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1858 e depois do BART 1913.

Em 09JUL67, por rotação com a CART 1687, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, no mesmo sector.

Em 20MAR68, por rotação com a CCAÇ 1620, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um Pelotão destacado em Cacoca, passando a integrar o dispositivo e manobra do BART 1896 e depois do BCAÇ 2834.

Em 29JUL68 (a) por retirada das forças estacionadas em Sangonhá e Cacoca e consequente extinção daquele subsector recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso

Observações: Tem História da Unidade (caixa n.º 74 – 2,ª Div/4.ª Sec do AHM)

(a) – Consta, por lapso,  "1978",  na História da Unidade.


_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de setembro de 2015> Guiné 63/74 - P15176: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (14): Uma "visita de solidariedade" à Escola Piloto do PAIGC, em Conacri, dos "amigos suecos" Göran Palm e Beril Malmström, em novembro de 1969... Aparentemente não há qualquer relação com o episódio de Sangonhá, em 6/1/1969

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15176: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (14): Uma "visita de solidariedade" à Escola Piloto do PAIGC, em Conacri, dos "amigos suecos" Göran Palm e Beril Malmström, em novembro de 1969... Aparentemente não há qualquer relação com o episódio de Sangonhá, em 6/1/1969


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá [, ou Sanconha], a sul de Gadamael-Porto > s/d > Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação, na altura em que estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto provavelmente tirada de uma aeronave DO 27, c. 1967/68.

Este destacamento, tal como o de Cacoca,  deverá ter sido abandonado pelas NT em meados  de 1968, na sequência de uma decisão do então brigadeiro Spínola, de maio/junho de 1968,  segundo o nosso grã-tabanqueiro António José Pereira da Costa.  Tratou-se de uma "retirada", ou de "retração do nosso dispostivo no terreno", por razões de optimização de defesa... Tal como aconteceu noutros pontos do território (de Mejo a Beli, de Ganturé à Ponta do Inglês)... o Pereira da Costa, na altura alf art QP da CART 1692 / BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) diz que Sangonhá era sede de companhia e Cacoca destacamento:

(...)  "Em 1968, Cacoca era um daqueles lugares onde parecia não haver guerra. Dependente da Companhia sediada em Sangonhá, era um destacamento de nível Gr Comb, resumindo-se a uma pequena tabanca com pouco mais de duzentos habitantes." (...)

O Mário Gaspar confirma que foi no início de julho de 1969. tendo a população sido levada para Gadamael. [O Mário Gaspar foi fur mil art  MA, CART 1659, Zorba, Gadamael e Ganturé, 1967/68, tendo terminado a sua comissão em outubro de 1968; conheceu bem Sangonhá].

Os acontecimentos referidos no poste P2574,  pelo nosso grã-tabanqueiro José Barros Rocha [, ex-al mil  da CART 2410, Os Dráculas (Gadamael, Junho de 1969 a Março de 1970)], ocorreram em 6 de janeiro de 1969, portanto meio ano depois do "abandono" de Sangonhá pelas NT.

Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: L.G.).


1.  No "Arquivo Amílcar Cabral", alojado no portal "Casa Comum",  há um documento, em português, datilografado, de 16 pp., datado de novembro de 1969, com uma intervenção, não assinada, mas que se presume seja do Amílcar Cabral ("Uma visita de solidariedade"), "por ocasião da visita da delegação da Suécia, constituída por Göran Palm e Bertil Malmstroem (sic), à Escola Piloto do PAIGC" em Conacri"...

Há também um resumo da intervenção,  oral,  dos suecos, não sabendo nós quem foi o intérprete: o Göran Palm (conhecido escritor e ativista político de esquerda, nascido em  Uppsala em 1931, Prémio Selma Lagerlöf em 1998) e o Bertil Malmstöm (jovem professor, ativista do Comité da África do Sul, de Uppsala) falam do que "viram" e "sentiram" na sua visita às "regiões libertadas"... Dizem que estiveram no sul e no leste... 

Em referência ao sul, fala-se de uma tabanca T... que não é identificada pelo autor do documento (que só pode ser o próprio Amílcar Cabral, pela qualidade e estilo da escrita)... Presume-se que ele, Amílcar Cabral,  não tenha querido identificar a tabanca por razões de segurança, já que o documento, com o logo do PAIGC, deveria ter um destino externo... 


Capa do relatório, de 16 pp., datilografadas,  com 
a "intervenção   proferida por ocasião  da visita 
da delegação da Suécia,   constituída por Göran 
Palm e Bertil Malmstroem [sic],  à Escola Piloto 
do PAIGC". 

O Amílcar Cabral é subtil (e sedutor...) quando fala da Suécia, dos amigos suecos, da história recente da Suécia e das contradições da sociedade sueca, que estava longe de ser, em 1969,  uma utópica sociedade sem classes... 

O Amílcar Cabral  trata estes dois suecos como velhos amigos ou conhecidos... O que eu não sei é a que título estavam lá eles, em novembro de 1969, em Conacri? Se era "uma delegação da Suécia",  estavam em representação de quem? Do governo sueco? Do partido social-democrata? De alguma associação de amizade?  A título pessoal? (***)

Nessa altura, e desde 14 de outubro de 1969, o Olof Palm (1927-1986) já era primeiro-ministro.

Outra questão: será que a "delegação sueca" terá feito algum documentário (em 8mm, por exemplo)? Por que razão Luís Cabral lhes chama "cineastas"? (*)

Repare-se na data do documento: novembro de 1969... A história de Sangonhá é de 6 de janeiro de 1969. Estes dois suecos estiveram 3 semanas entre o PAIGC, em outubro e novembro de 1969. Göran Palm dirá depois que foi recebido "principescamente" pelo PAIGC, entusiasmado com a perspetiva de vir a receber ajuda (com substancial expressão monetária...) por parte de um país da Europa ocidental, com o prestígio e o peso da Suécia. Para Amílcar Cabral, era muito importante diversificar os seus apoios internacionais, não ficando apenas dependente da Rússia, China, Cuba e outros países comunistas. Nessa altura, Göran Palm fez um relatório sobre as "necessidades humanitárias" do PAIGC. Não há referência a qualquer filme deste escritor e ativista, no livro de Tor Selltröm, "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (Uppsala: Nordiska Afrikainstitutet, 2008, tradução portuguesa)(**).

Os nossos leitores podem consultar e ler o supracitado documento do PAIGC, página a página,  aqui, no portal Casa Comum:

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04602.051
Título: Uma visita de solidariedade
Assunto: Intervenção proferida por ocasião da visita da delegação da Suécia, constituída por Göran Palm e Bertil Malmstroem, à Escola Piloto do PAIGC.
Data: Novembro de 1969
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos



2. Há também, no Arquivo Amílcar Cabral, uma foto de grupo, a preto e branco, disponível aqui [em formato normal]

Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 05247.000.101
Título: Lilica Boal, Aristides Pereira, Domingos Brito e Hugo dos Reis Borges com uma delegação estrangeira
Assunto: Maria da Luz Boal (Lilica Boal), Aristides Pereira, Domingos Brito, Hugo dos Reis Borges com uma delegação estrangeira, em Conakry [visita da delegação da Suécia, constituída por Göran Palm e Bertil Malmstroem, à Escola Piloto do PAIGC].
Data: c. 1969
Observações: Cfr. Amílcar Cabral, documento 04602.051.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias


Legenda de LG:

da esquerda para a direita, na foto acima, temos: Göran Palm, Maria da Luz Boal (Lilica Boal),  Bertil Malmström, Aristides Pereira, Domingos Brito, Hugo dos Reis Borges.
Ao fundo, vê-se parte de um automóvel ligeiro de passageiros, um Volkswagen, provavelmente o célebre "carocha" do Amílcar Cabral.

Recorde-se que a Lilica Boal (Maria da Luz Boal) era a mulher do dr. Manuel Boal - outro natural de Angola, que saiu em 1961 para se juntar aos movimentos nacionalistas, A Lilica Boal nasceu em Tarrafal, Santiago, Cabo Verde.
Era ela, a Lilica Boal, quem dirigia a Escola Piloto do PAIGC em Conacri, sendo também ela a responsável pelos conteúdos nos manuais escolares (, publicados na Suécia). (**)

___________________


(...) No seu livro “Crónica da Libertação”, Luís Cabral menciona o "Afrika Group" como aglutinador da solidariedade da sociedade civil sueca ao PAIGC, talvez referência sintética ao “Grupo de África” de Upsala e ao “Grupo de África” de Lund, que se distinguiram na sua ajuda e a enviar os seus mentores e intelectuais de visita às “áreas libertadas” … na República da Guiné-Conacri. E aquele corifeu escreve, na pag. 335: “Os cineastas Goran Palm e Bertil Malmstron apresentaram na Suécia o primeiro documentário cinematográfico sobre a nossa luta, como resultado de uma visita ao interior da Guiné”.

Esse documentário terá a ver com a peripécia de Sangonhá?


Dado que os cineastas eram o maior bem a preservar nessa temeridade que teve Sagonhá como "palco", o experiente e felino Nino Vieira (?) terá providenciado imediatamente a sua segurança. A primeira ameaça dos FIAT precedera mais de uma hora o lançamento das “bilhas” pela malta de Bissalanca.

Alguém já visionou esse documentário? Terá registado o aludido aparato bélico do PAIGC e os “destroços” da sua “conquista” de Sangonhá? (...) 

(**)  Sobre o papel e o estatuto do escritor Göran Palm,  no desenvolvimento das relações externas da Suécia com o PAIGC,  vd. (em especial pp. 74-76, 146, 163-164) SELLTRÖM, Tor - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Uppsala: Nordiska Afrikainstitutet, 2008. [Em português; tradução: Júlios Monteiros; revisão; António Lourenço e Dulce Aberg], 290 pp. [Disponível aqui, em formato pdf:  http://nai.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13987: A minha máquina fotográfica (1): (i) da velhíssima Kodak do meu pai à minha Canonet; (ii) da Filmarte (Lisboa) à Foto Íris (Bissau); e (iii) das minhas fotos importantes, a preto e branco (Mário Gaspar, ex-fur mil at art minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Foto 1 – A muito antiga Kodak do meu pai


Foto 2 – A Minha Canon – Canonet, comprada em Ganturé, a um alf mil da CCAÇ 728.

Fotos: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Texto, com data de 2 do corrente, do Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]



Sondagem: Máquinas (Fotográficas, Fotografia(s), há 50 anos Atrás...

por Mário Vitorino Gaspar


[, foto à esquerda, em Gadamael, no final da comissão]


Camaradas:

Queria adquirir uma Máquina Fotográfica para substituir a velhíssima Kodak do meu pai – que curiosamente fazia milagres, e sem quaisquer filtros – admirando-se o Fotógrafo que revelava os rolos da nitidez das fotos.

Tirei fantásticas imagens da natureza com a velhinha Kodak – ainda a possuo – e muito jovem tive esta paixão e recordo ainda uma a foto do Carnaval do Estoril; outra numa mesa repleta de copos e um maço de tabaco SG. E aquela de uma bateira do rio Tejo, embarcação usada pelos avieiros, os oriundos de Vieira de Leiria? Por último – e entre outras – a da chaminé da Fábrica do Cimento Tejo, com um fumo ténue (que foi bastante elogiada por fotógrafos amadores de Alhandra, devo-a ainda possuir). Hoje a cimenteira é a Cimpor. Devo ter escondido em qualquer canto a saborosa bateira do Tejo.

Mas sempre gostei das fotografias a preto e branco. Continuo a pensar o mesmo nos dias de hoje.

Quando parti para a Guiné, não levei a velhota Kodak, pensando comprar uma em Bissau – de preferência japonesa, trazida de Macau tal como como os relógios Seiko – que tinham muita procura. Não desembarquei em Bissau, indo logo com bagagem para uma LDM e Batelão BM­‑1. Ficámos espantados, visto julgarmos desembarcar na capital. Seria de esperar um desembarque em Bissau. Deram­‑nos uma maçã, um quarto de pão, uma laranja, um ovo e um destino incerto. Depois de encaixotados avançávamos por via fluvial estreita, o mato quase que nos tocava.

A compra da máquina fotográfica fora adiada. Entretanto em Ganturé comprei uma Canon – Canonet a um Alferes Miliciano de rendição individual da CCAÇ 798 que julgo chamar-se Santarém. O negócio foi efectuado como uma brincadeira. Pus uns patacões na minha mão bem fechada, e disse ao Camarada Alferes que lhe dava toda a "guita" escondida, em troca da dita máquina. Riu e aceitou o desafio. Respondi que nada estava resolvido porque tinha de pagar uma rodada para todos: 2 Alferes Milicianos (um era ele) e três Furriéis Milicianos. Ficou-ma a Canonet em 850 patacões [ pesos]. Possuía um erro de paralaxe, mas como verifiquei na prática o mesmo, não era problema.
A máquina fotográfica era mesmo uma dádiva divina – dos Oficiais e Sargentos – não me recordo de um Praça possuir esse luxo. Mas mesmo estes eram poucos os que as possuíam. Isto na CART 1659, penso não ser generalizado, até pela existência de inúmeras fotos espalhadas em todo o país que relatam a Guerra Colonial nas três frentes.

Enviava para a Metrópole, rolos e rolos para os Laboratórios Fotográficos da Filmarte, em Lisboa. Desapareceram-me dois rolos de 36 fotos cada, praticamente todos tirados no "corredor da morte" e julgo ter sido a PIDE, porque eram documentos que denunciavam uma guerra. Recebi dois rolos em branco. Em Outubro de 1995 vim a ver uma dessas fotos numa Exposição sobre a Guerra Colonial na Fundação Calouste Gulbenkian.

Comecei depois a mandar revelar as fotos em Bissau – Foto Íris ou Laboratórios Íris, em Bissau – não tinham a qualidade da Filmarte, em Lisboa. Sei da existência de Laboratórios improvisados por várias zonas da Guiné. Muita beleza existia naquela terra no "cu do mundo".

Para a Família – fotos enganadoras – calção de banho e sempre vestido para família ver que vivia num paraíso – como se dissesse "Cá tudo bem!"

Pelo Natal de 1967 uma foto tirada a abranger Gadamael Porto entre azevinhos e o emblema da CART 1659, surge escrito: – "Boas Festas e Ano Novo e Muito Feliz". O maravilhoso nascer e pôr de sol; os imponentes embondeiros; as bajudas e aquela mata mortífera que no inferno ampliava de multicores o belo.

A cultura; a diversidade de etnias, o enorme e sonoro batuque e a dança ritmada de mulheres e crianças. A música, sua nostalgia e o seu movimento rítmico, nasceu em África. A máquina fotográfica não cria movimento.

Mas a fotografia possui o dom de mostrar a cor, antes da seca da flor na floresta, é perpétua. A flor seca, a floresta se consome, arde e morre, não é perpétua. O que se passa com a pintura do pincel do artista e a escultura do cinzel, eternos

Em suma: Guiné é África, sinónimo da grandeza de Deus. Sem guerra, bem diferente seria. Iniciei um trabalho na fotografia, mas depois de me roubarem 2 rolos de 36 fotos na Filmarte, perdi o interesse, e foi pena…

Tinha muitas fotos, mas emprestei-as, mas nunca tive apetência pelos slides.


FOTOS IMPORTANTES


Foto 3 – Abandono de Sangonhá e Cacoca a 27 de Julho de 1968

Foto: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Existe o abandono de Sangonhá e Cacoca e portanto da População Civil a 27 de Julho de 1968. O Brigadeiro António Sebastião Ribeiro de Spínola, que desembarcara em Bissau a 20 de Maio de 1968,  dera ordens para o desmantelamento daquela zona, o que vinha prejudicar profundamente as defesas de Gadamael Porto e Ganturé.

Posteriormente em Gadamael Porto – na hora do almoço – fortes explosões vêm de Sangonhá. Após ter sido chamado ao Comando, chefiei um Grupo de Combate, constituído um Pelotão, Praças "U" e Caçadores Nativos para verificar o que se passara realmente. Fizemos uma batida no aquartelamento abandonado, picámos minuciosamente, existindo fortes possibi­lidades de estar tudo armadilhado, pensei até terem montado um campo de minas. Verificámos o estado em que o mesmo se encontrava. Tudo destruído. O PAIGC destruiu completamente Sangonhá. Mas esperava pior.

A CART 1659 estava no fim da comis­são.



Foto 4 – Apoiámos Guileje – e no Cruzamento de Guileje o PAIGC desandou

Fotos: © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


De 08 a 14 de Abril de 1968 a CART 1659 entrou na Operação Bola de Fogo – Implementação de um aquartelamento no "corredor da morte", "corredor de Guileje". A CART 1659 colaborou promovendo as descargas de todos os rea­bastecimentos e material destinados às forças empenhadas na operação e à montagem do novo aquartelamento. Procedeu ao transporte dos mesmos até Guileje e colaborou, com viaturas e respectivos condutores, em todas as colunas que, de Guileje, se efectuaram para o aquartelamento de Gandembel, cuja localização era impensável, visto estar localizado na fronteira. Estavam quase 24 horas debaixo de fogo.

A CART 1659 apoiou Guileje, quando chamada a colaborar, visto estes estarem a ser atacados em força e quando a Companhia chega ao Cruzamento de Guileje, o PAIGC desandou – deixando para trás – porta granadas metálicas de CAN S/R e granadas de Lança Granadas Foguete, armamento que não tiveram oportunidade de levar. Recolhemos todo o material de guerra e continuámos a segurança.

Entretanto sobrevoam três aviões. Mig ? Ainda hoje não sei…

O abandono de Sangonhá e Cacoca em 1968. A montagem do novo Aquartelamento de Gandembel – o Inferno de Gandembel – em pleno "corredor da morte" ou "corredor de Guileje" em 1968. Em 1969 a desactivação de Mejo e Ganturé, e o fim previsível de Gandembel – que deu os sinais claros da política errada de Spínola – deixou Guileje e Gadamael Porto sós.

Há quem esteja desarticulado de todos estes acontecimentos. O nosso Camarada Coutinho e Lima ordenou a retirada e com razão. Os meus agradecimentos pela atitude do Camarada.


Um Abraço

Mário Vitorino Gaspar
[Ex-Furriel Miliciano Atirador de Artilharia,
Especialidade de Minas e Armadilhas
CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

[Autor de O corredor da morte, edição de autor, Lisboa, 2014. Para adquirir a obra contactar:
mariovitorinogaspar@gmail.com ]


Fotos nºs 3 e 4 – Reservados todos os Direitos de Autor |
Registo no IGAC n.º 807/2014 | Depósito Legal: 368452/13 |
ISBN: 978-989-20-4220-6


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13056: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (12): O inferno de Ganturé, Sangonhá e Gadamael Porto... e as fotos para enganar a família


Guiné > Região de Tombali > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Ganturé, 1967 > Eu com bajuda...


Guiné > Região de Tombali Gadamael Porto > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Julho de 1968 > Eu, com duas mulheres oriundas de Sangonhá


Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Julho de 1968 > Foto para enganar a gamília... E saímos de Gadamael a 10 de outubro de 1968

Fotos (e legendas): © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados.



1. Texto enviado em 12 do corrente, pelo Mário Vitorino Gaspar [ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68; autor do livro "O corredor da morte", a ser lançado no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, no próximo dia 22 de maio. (Tem prefácio do dr. Afonso de Albuquerque, psiquiatra, e ex-alf mil médico, em Moçambique).


(i) Ganturé, até julho de 1967

Começámos a conhecer os hábitos daquelas gentes, acordando diariamente com o troar do pilão. Havia um refeitório para as praças, com mesas feitas de caixotes de munições e bancos improvisados, e uma Messe para um Alferes Miliciano, um 2º Sargento e dois Furriéis Milicianos. Nunca entendi, visto existir somente um Pelotão reforçado com uma Secção.

As primeiras avionetas começaram a aterrar em Gadamael Porto, em Ganturé não existia pista, e a ansiedade do correio começou por ser natural.

Tínhamos que ir à sede da Companhia buscar o correio.

Comecei ao fim de dois dias a fazer o estrangulamento do cordão lento com o detonador, com os dentes. Estava já “apanhado pelo clima”, como se costumava dizer.

As operações sucediam-se:  Guileje, Mejo, Sangonhá , Cacoca, Cameconde e Cacine.


Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Ganturé  > Eu, com bajuda de Ganturé em 1967


Visto a água ser salobra e imprópria para o consumo,  fiz a promessa ao fim de poucos dias depois de estar na Guiné, num dia muito quente, e não estando habituado àquelas altíssimas temperaturas, numa patrulha feita na fronteira da República da Guiné, depois de ingerir um líquido do charco, mesmo com pastilhas, que era mijo, ficar só a beber cerveja. Bebia ao pequeno almoço, ao almoço, ao jantar e nos intervalos, só cerveja.

Rebentamentos na área, e o matraquear do pilão vivia ali e depressa ficou a fazer parte das nossas vidas. Enquanto a grande parte das mulheres com as mamas escorrendo até à cintura batiam com o pilão com um toque cadenciado, juntando-se as bajudas, algumas com a mama firme, aproximávamo-nos destas últimas, procurando uma pequena oportunidade para lhes tocar no corpo. Éramos jovens. “Mim cá nega!”, respondiam. Visto Ganturé ser a sede do Regulado, Abibo Injassó era o régulo este era o elo de ligação entre a nossa CART e os informadores.

Entretanto sucede uma calamidade. Dez mortos e mais de duas dezenas de feridos graves, no dia 4 de julho de 1967.

(ii) Julho de 1968, um mau mês da CART 1659


Até 8 de julho de 1968, durante o abandono dos aquartelamentos de Sangonhá e Cacoca, comandei um Grupo de Combate na montagem de segurança. Ficaram de pé as paredes das habitações – se é que se podiam chamar àquilo casas – os abrigos e o arame farpado. Chapas de zinco e todo o material seguiram para Gadamael Porto, onde a população civil – por volta de 300 indivíduos – se instalaram em 44 moranças, com o apoio das nossas tropas.

Assim as tabancas de Gadamael Porto e Ganturé aumentaram, não só pelo abandono de Sangonhá e Cacoca como também motivado pelo número de apresentados, oriundos da República da Guiné. Juntaram-se à CART 1659 catorze caçadores nativos devido ao Reordenamento da Populações. Pode-se dizer que o processo terminou em 28 de julho.




Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) >  Gadamael Porto > Julho de 1968 > Eu de calções de banho como era hábito



Mas, após terminada a segurança, fomos para Gadamael Porto, sem picarmos visto ter havido movimento de tropas todo o dia. Dei ordens ao pessoal para irem ao banho. (…).

Bebi, como era hábito, as minhas sete cervejas de seis dl, tomei banho e fui jantar. Depois de termos comido aquela sopa que denominávamos de “sopa de 365 dias” – visto não existir outra durante o ano – e termos mastigado um peixinho da bolanha, esperando beber o café, de borras, ouvimos a primeira saída das armas pesadas. Era um flagelamento do PAIGC.

Corremos para as zonas que nos estavam atribuídas na defesa do aquartelamento. Eu como responsável do morteiro 60 e em calções de banho fui para o abrigo do mesmo e, a meio caminho, voltei para trás.


Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Gadamael Porto > Julho de 1968 > Eu, com uma criança de Sangonhá


Sentia que à minha volta caiam granadas, e que algo me tinha batido nas costas. Estava novamente na Messe e os rebentamentos não cessavam. Não sabia conscientemente o que pretendia fazer, e segurei a cafeteira de café, que não havia sido servido, e num copo de inox – uma inovação na CART 1659 – visto os nossos anteriores copos serem de vidro, recuperado de garrafas de cerveja. Sentia o barulho constante dos rebentamentos e cheguei ao abrigo. Encontravam-se 4 militares à minha espera. Pedi que me vissem se tinha ferimentos nas costas, e com um candeeiro improvisado – uma garrafa de 6 dl com uma gaze enfiada na carica – viram, depois de afastaram terra colada nas costas, que não tinha ferimentos. Perguntaram-me:
– Furriel, o que fazemos?... – Já havia analisado a situação, respondi:
–  Não podemos fazer nada. Com o morteiro 60 não atingimos a zona onde eles estão! Vamos beber café.

E começámos todos a beber o nosso café. Afinal tinha razão quando voltara atrás para buscar o café, e debaixo de fogo intenso Canhões Sem Recuo e Morteiros 82.

O nosso Morteiro 81 funcionou com eficácia, o que não impediu que de seguida flagelassem o aquartelamento de Gadamael Porto, também sem consequências, mas durante mais tempo. Mas ainda hoje me interrogo: “Porque fui buscar a cafeteira de café debaixo de fogo?”

Pergunto: O PAIGC já não estaria no local quando passámos?. Possivelmente preferiram o ataque a Gadamael Porto e Ganturé.


 As fotos que enviava – excluindo as que eram para os amigos – eram uma autêntica mentira. Para além de ter de matar para sobreviver, é evidente, era um mentiroso. Consegui inclusive enganar o meu pai, enganar a minha mãe foi complicado porque não acreditava que estivesse a passar férias em África.

Mário Vitorino Gaspar
Ex Furriel Miliciano nº 03163264, de Artilharia de G3
e Especialista de Minas e Armadilhas
CART 1659 - Zorba, 1967/68
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