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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15998: In Memoriam (253): António dos Santos Mano (Larinho, Torre de Moncorvo, 1943 - Estrada Missirá-Enxalé, 1966), fur mil op esp, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67) (Armando Gonçalves / Júlio Martins Pereira / Henrique Matos / João Crisóstomo)


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca >  CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) > O meio, o furriel de transmissões, à direita de costas, o capitão Pires e à esquerda o fur mil op esp António dos Santos Mano, que irá morrer em 6/10/1966, na sequência de uma mina  A/C, na estrada Missirá-Enxale.


Foto: © João Crisóstomo  (2015) Todos os direitos reservados.  




Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > Estrada Enxalé-Missirá > Sítio do Mato Cão > 6 de outubro de 1966 > Cratera povocada por uma mina A/C cuja explosão provocou a morte do soldado Manuel Pacheco Pereira Junior, da CCaç 1439 [Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67]. Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3 kg) ficaram no cemitério de Bambadinca, talhão militar, fileira 2, campa 1, Guiné-Bissau.

 Henrique Matos reviu a sua versão inicial em relação o que ocorreu nesse dia 6/10/66:

(i)  a primeirra mina, na coluna Missirá-Enxalé, [ comandada pelo af ml Luís Zagallo],  causou a morte do Fur Mano [, decepou-lhe  a perna,  acabando por morrer por falta de assistência];

(ii) há uma  2.ª min,  na coluna que foi em socorro,  a partir do Enxalé,  comandada pelo [alf mil João] Crisóstomo, tendo neste caso causado a morte do Manuel Pacheco;

(iii) "foram os únicos mortos e, se a memória não me falha, não houve feridos com muita gravidade".

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados.



Adicionar lAntónio dos Santos Mano (194-1966).
Foto de João Crisóstomo [c. 1965/66]

1. Do nosso leitor Armando Gonçalves, professor do Agrupamento Escolar dr. Ramiro Salgado, de Torre de Moncorvo:


Data: 20 de abril de 2016 às 13:26

Assunto: Furriel Miliciano António dos Santos Mano


Sr. Luís Graça


Sou professor da Escola dr. Ramiro Salgado, de Torre de Moncorvo e pretendemos fazer uma homenagem aos soldados mortos no Ultramar. Pelo facto todas as informações são importantes. Tenho estado em contacto como sr. Carlos Vinhal, José Casimiro Carvalho e, principalmente, Manuel Augusto Reis.

Desta feita, procuro saber informações de António dos Santos Mano, verifiquei que há camaradas dessa companhia [, a CCAÇ 1439].

Nasceu no Larinho, a 25 de junho de 1943;

Filho de Manuel dos Santos Mano e de Clementina do Nascimento Ferreira;

Posto: Furriel Miliciano Atirador Operações Especiais 01595964;

BII 19 (Batalhão Independente de Infantaria 19-Funchal)

Companhia de Caçadores 1439 / Batalhão de Caçadores 1888

Embarque a 2 de agosto de 1965;

Causa da morte: combate.

Faleceu em Enxalé, província da Guiné, pelas 7 horas e 30 minutos do dia 6 de outubro de 1966

Local de sepultura: freguesia natural


Precisava de saber das suas funções, qual a sua área de ação e em que circunstâncias se deu a sua morte.


Grato pela atenção,

Armando Manuel Lopes Gonçalves

Telemóvel (...) 966844876


2. Nota do editor:

O Mano era fur mil op esp. Temos dois postes sobre as circunstâncias em que morreu... Aliás, temos duas versões, de camaradas que lhe estavam próximos: José Martins Pereira, nosso grã-tabanqueiro nº 635 (,  natural de Paredes, vive em Campo, Valongo), e que era  sold trms, da CCAÇ 1439, estando destacado em Missirá, com o Gr Com do alf mil Luís Zagallo, de que fazia parte o fur mil op esp Mano (*).   Outra versão é do Henrique Matos, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 52 (qu estava no Enxalé) (**).

Segundo o portal  Ultramar Terraweb, o António dos Santos Manos é dos um 29 mortos, na guerra colonial, naturais do concelho de Torrre de Moncorvo.  Vamos naturalmente ajudar o professor Armando Gonçalves, os seus alunos e a sua escola a fazer a justa homenagem, 50 anos depois, a este nosso bravo camarada que deu o melhor de si, a sua vida, morrendo aos 23 anos, em circunstâncias que imaginanos horrorosas: com a perna decepada, esvaiu-se em sangue, sem assistência médica... (***).

O João Crisóstomo (que vive em Nova Iorque desde 1975) acaba de nos mandar um depoimento sobre esse dia fatídico para a sua  antiga companhia,  CCAÇ 1439 [Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67], ... Nesse dia, na 2ª mina, ele perdeu um dos seus homens, o Manuel Pacheco Pereira Junior, quando iam em socorro do Gr Comb do Luís Zagallo. É dele a única que temos com o infortunado camarada António dos Santos Mano. Esperemos por outros contributos dos nossos leitores, camaradas nomeadamente desse tempo e dessa companhia.



Algarve > Faro > Julho de 2015 > "Vilma e eu encontramo-nos [,da esquerda parta a direita,] 

com o Chico, Henrique Matos, Teixeira e Viegas".



[Recorde-se que o Henrique Matos, açoriano a viver no Algarve, foi alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68),e que o José António Viegas, algarvio, foi fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68). Os três são membros da nossa Tabanca Grande. Nesse mesma nao e mês o o novaiorquino João Crisóstomo e a sua esposa Vilma foram à Madeira. O João teve ocasião de estar com o pessoal da CCAÇ 1439, "uma companhia toda madeirense (com exceção dos graduados e especialistas; o Antonino Freitas era o único alferes madeirense)"]

Foto: © João Crisóstomo  (2015) Todos os direitos reservados.  




Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca (1955)  > Escala 1/50 mil  >  Estrada Missirá-Enxalé > Local provável do rebentamento da mina A/C que provocou a morte , em 6/10/1966, do fu rmil op esp Mano, a cerca de 800 metros a sul do cruzamento para Canturé e Finete, antes do Mato Cão, na margem direita do Rio Geba Estreito. A sede do batalhão era em Bambadinca. A CCAÇ  1439 estava em Enxalé, com destacamentos em Missirá (a nordeste do Enxalé) e em Porto Gole (a oeste de Enxalé)  junto ao R Geba. Em frente ao Enxalé, na margem, esquerda o R Geba ficava o Xime.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016).

3. Resposta imedidata,  de hoje, de João Crisóstomo, a partir de Nova Iorque onde reside desde 1975:


Caro Luís Graça, Armando e demais camaradas,

Não poderei ajudar muito, já que não tenho muita confiança na minha memória; de vez em quando verifico ter as coisas baralhadas, pois a minha memória por vezes parece lembrar duma maneira e verifico que outros dão um relato diferente do que me parece lembrar. Mas, dentro do que posso, aqui vai o que relembro.

Aqui envio uma foto ( a única que tenho em que sou capaz de identificar sem qualquer dúvida o furriel Mano). Não sou capaz de lembrar o nome do “operação” nem a data, mas recordo-me bem das circunstâncias: andávamos no mato e o Capitão Pires, comandante da CCAÇ 1439 (, de costas, no canto direito da foto; era ele mesmo que estava a comandar esta operação no mato), a certa altura concluiu que estávamos "perdidos",l  sem saber para onde seguir, pois os próprios !"guias" discutiam e não davam com o caminho. 

Foi talvez mesmo a única vez que me lembro que eu vi o nosso Capitão Pires "desnorteado". Mandou parar a coluna e chamou o furriel de comunicações para contactar os “bombardeiros” [, T 6,] para ver se conseguíamos deles a nossa posição e a direção a seguir. E eu resolvi tirar a foto ao furriel de transmissões, quando este tentava montar o rádio de transmissões ; ( já não me recordo do nome dele, mas talvez alguém o reconheça e identifique; só sei que,assim me disseram,ele continuou na tropa depois da companhia ter voltado a Portugal): o furriel Mano é o segundo do lado esquerdo da foto.

Posso confirmar o que o Henrique diz, como a versão, segunda a minha memória, mais de acordo com o que aconteceu: "Em relação às minas de 6/10/66 em Mato Cão, aqui vai um resumo: a 1.ª na coluna Missirá-Enxalé causou a morte do Fur Mano; a 2.ª na coluna que foi em socorro a partir do Enxalé comandada pelo Crisóstomo, tendo neste caso causado a morte do Manuel Pacheco. Foram os únicos mortos e se a memória não falha, não houve feridos com muita gravidade. Também lá fui de seguida como já relatei anteriormente."

Não me recordo dos detalhes da morte do furriel Mano, a não ser pelo que me contaram e que é mais ou menos o que está descrito. Devo esclarecer/confirmar o desenrolar cronológico do acontecido de que o primeiro a sofrer a mina foi a coluna do Zagalo; a companhia, sob o comando do Capitão Pires tinha acabado de chegar do mato; a “malta” estava toda estafada e o capitão Pires depois de saber que o Zagalo tinha sofrido uma mina, com baixas - não sabíamos detalhes - e precisava de ajuda,  disse-me, sabendo bem que estávamos todos estafados, para juntar todos os que tinham ficado no quartel (pessoal de serviços) e “pedir” voluntários para ir em socorro de Zagalo.

Eu juntei o primeiro,  o meu pelotão,  e disse-lhes que antes de falar com o resto da companhia queria saber primeiro com quantos eu podia contar do meu pelotão. E todos sem excepçao se prontificaram a ir comigo…

Um dos soldados do meu pelotão era o Manuel (o único açoreano da companhia); sofremos uma mina e na altura até pensamos que tinhamos tido sorte, pois “não tinha havido baixas”. Só demos pela falta do Manuel Açoreano, quando de manhã no rol de chamada o Manuel não respondeu e começamos a perguntar se alguém sabia onde ele estava. Foi nesse momento que alguém disse que a ultima vez que tinha visto o Manuel ele estava no Unimog que ia na coluna de socorro ao Zagalo e era o Unimog  que tinha ido pelos ares quando a mina rebentou. Conforme descrito e confirmado depois, ele havia sido "literalmenet pulverizado por uma mina" .

E sem querer estar a ensinar o Padre nosso ao vigário, pois é natural que até tenha sido isso a primeira coisa que fizeram: com certeza que há-de haver, nos arquivos das Forças Armadas, informação de todos os que foram vítimas das guerras ultramarinas… e informação de nomes completos, datas , unidades a que pertenciam etc. Com esses dados será depois muito mais fácil encontrar quem possa dar mais detalhes sobre esses nossos camaradas, cuja memória em boa hora vocês se propõem lembrar e honrar.

Se alguém me quiser contactar por favor usem o email e mandem-me o vosso contacto telefónico que eu terei muito gosto em lhes ligar; eu sei que para voçês ligarem para mim fica caro ( quando vou a Portugal tenho de estar sempre com cuidado ao ligar para fora…) mas por outro lado custa-me muito pouco ligar daqui dos USA para a Europa. Portanto, se quiserem,  e eu terei muito gosto, deem-me os vossos contactos telefônicos, eu sou pouco de “facebooks” e coisas assim. Quando tenho tempo (ainda ando sempre envolvido em coisas que me exigem muito tempo, basta fazer o Googgle com o meu nome e podem verificar o que digo) ainda vejo alguns blogues, como é o caso do nosso Luis Graça e camaradas da Guiné.  Mas fora disso,... só mesmo o telefone e email.

Entretanto, deixem-me dizer que foi uma surpresa muito gratificante saber da vossa iniciativa. E por isso é com admiração, direi mesmo gratidão,  que a todos envio um grande abraço.

João Crisóstomo
Alferes Miliciano, CCAÇ 1439

 ________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2830: Aqueles que nem no caixão regressaram (4): O Açoriano, da CCAÇ 1439, desintegrado por uma mina (Henrique Matos)

(...) No dia 6 de Outubro de 1966 numa coluna [da CCAÇ 1439] que saiu do Enxalé para reabastecimento de Missirá (sorte minha, porque não foi a minha vez de a comandar) e no fatídico lugar de Mato Cão, o soldado Manuel Pacheco Pereira Júnior, mais conhecido pelo Açoriano pois era o único natural dos Açores naquela companhia que era de madeirenses, foi literalmenet pulverizado por uma mina A/C.

Quando digo pulverizado é o termo que melhor descreve a situação, pois sou um dos que andou à procura de restos do corpo e apenas encontrámos pequenos fragmentos de ossos com que fizemos um embrulho que pesava poucos quilos. Tem a sua campa em Bambadinca, como se pode ver na relação do Marques Lopes. A G3 dele nunca mais se viu, pensando-se que terá voado para o Geba que passa a não muitos metros de distância. (...)

(...) Mas a tragédia não acaba aqui. A coluna foi descarregar a Missirá e regressou a abrir, isto é, o mais depressa que podia andar e sem picar. Então muito próximo do mesmo local outra mina A/C tirou a vida ao fur mil ranger António dos Santos Mano, que vinha ao lado do condutor mas com uma perna para o lado de fora do assento. E foi isso que lhe causou a morte, pois a perna foi decepada e não houve forma de o salvar. Nessa noite foi preciso acalmar muita gente no Enxalé,  pois a companhia, [a CCAÇ 1439,] só tinha tido uma baixa até essa ocasião e já ia a caminho de 15 meses de comissão. (...)



[Júlio Martins Pereira, sold trms, CCAÇ 1439, Enxalé, Missirá e Porto Giole, 1965/67, foto à esquerda]

(...) De Bambadinca fomos para o Enxalé e daqui uns foram para Missirá e outros para Porto Gole. Eu fui para Missirá, no pelotão comandado pelo já falecido alferes [Luís] Zagallo. Na ocasião a morada no continente do alf Zagallo era na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa. 

No dia 6 de outubro de 1966, por volta das 7 horas da manhã, íamos nós de Missirá a caminho do Enxalé em coluna com um jipe e um unimogue, íamos buscar alimentos e outros produtos pró pessoal. Depois de passar o cruzamento que dava para Finete, aproximadamente, 800 metros à frente havia uma poça d’água. O jipe que ia na frente desviou-se, nesse jipe ia o motorista, o alf Zagallo, o enfermeiro e mais dois soldados. A seguir ia o unimogue que não se desviou da poça d’água e aí rebentou a mina. Na frente, no unimogue, ia o furriel Mano, de pé, do lado esquerdo do condutor e ao lado deste mais 2 ou 3 soldados, na parte de trás. Nos bancos laterais onde eu ia, iam os bancos completos.

Rebentada a mina, eis que alguns de nós tal como eu, encontrámo-nos dentro daquela cratera, cheia de lodo e gasóleo. Nós, sem armas, os mais conscientes ainda conseguímos gatinhar para encontrar armas para nos defendermos de qualquer eventualidade, no meio de toda aquela gritaria, todos aqueles berros, os choros, todos aqueles, mortos e feridos... Apesar de tudo só ouvimos lá longe uma rajada de costureirinha, a querer dizer-nos algo sobre o que nos tinha acontecido...

Como não houve mais nenhuma reação, demos início à procura e recolha dos nossos mortos e feridos. Estes encontravam-se espalhados, quer no capim encharcado de cacimbo (orvalho noturno), quer nos destroços do unimogue que ficou virado em sentido contrário e retirado da cratera.

Ainda hoje me lembro de ter retirado um camarada nosso, pegá-lo por baixo dos braços e encostá-lo ao taipal para que outros o pusessem no chão. Era preciso retirá-los daquele sofrimento e acalmá-los e procurar todos os outros.

Entretanto o jipe onde ia o alf Zagallo volta para trá. Passado aquele tempo de possível reação [do IN ], entretanto, eu já tinha ido procurar os meus/nossos companheiros, quando fui ter com o alf Zagalo, e lhe disse onde estavam alguns dos nossos mortos e feridos, incluindo o furriel Mano, todo esventrado, esfacelado, só a carne dava sinais porque ainda estava quente. 

A partir daqui começamos a recolher os restos dos mortos, e a pô-los no fundo do jipe, por cima os feridos mais graves, a estes amarrámos ligaduras do enfermeiro para que não caíssem com o andamento do jipe, que ia transformado num autêntico carro de horrores.

Iniciada a marcha de retorno, esta na direção de Finete, fui eu, então a pé, desde o local da mina até Finete. A correr, sozinho com a arma em bandoleira para pedir socorro, uma vez aí, no cimo daquela grande bolanha, frente a Bambadinca. 

O comandante das tropas aí aquarteladas [, em Finete], depois de me ouvir, mandou 4 soldados [africanos] acompanharem-me até Bambadinca [, sede do batalhão,], para pedir socorro, mas ao mesmo tempo começam a emitir mensagens para o interior da bolanha no sentido de avisarem, a muita população que ali estava a trabalhar, que tinha rebentado uma mina ali perto. E estes, em debandada, encaminham-se para o rio Geba para fugirem para Bambadinca a bordo. Claro, das canoas, aí tive de pedir que retirassem cinco elementos da população para que eu e os meus quatro camaradas que me acompanhavam pudéssemos chegar ao batalhão que aí estava aquartelado [, em Bambadinca].

Dali fui pedir apoio a Bissau para virem os helicópteros, e também à minha companhia, CCAÇ 1439. Prá companhia fui eu que fiz o ponto da situação. Ali, o comando do batalhão fornece-me um rádio para que eu pudesse comunicar com os helicópteros e as respetivas frequências para uma boa comunicação.

Entretanto quando eu e os 4 soldados pretos iniciámos a marcha de regresso a Finete em plena bolanha e já com o roncar dos helicópteros, e eu a sintonizá-los no meu rádio, eis que ouço um forte rebentamento e logo peço aos pilotos dos hélios que se possível passassem pela zona de Mato Cão, pois que o rebentamento ouvido instantes atrás podia ter a ver com a CCAÇ 1439 que vinha em nosso socorro. 

Infelizmente veio logo a seguir a confirmação dos pilotos dos hélios, que era verdade, a CCAÇ 1439 tinha tido no dia 6 de outubro de 1966 duas minas, as duas não muito longe uma da outra... Aí em Finete ainda consegui falar com os pilotos dos hélios, aquando das evacuações da 1ª mina, a quem pedi que comunicassem a Bissau a pedir evacuação rápida para o pessoal que estava em Mato Cão, na 2ª mina.

A quantidade de soldados mortos e feridos não sei ao certo, só procurando nos arquivos do BII 19, no Funchal. Digo eu, ou então o capitão, comandante da companhia, ou o alf Freitas ou o alf [João] Crisóstomo, ou o 1º [sargento] da secretaria ou o [1º cabo ] cripto, tantos, tantos outros que podem confirmar tudo isto. (...)


(***) Último poste da série > 12 de abril de  2016 > Guiné 63/74 - P15966: In Memoriam (252): Júlio Rafael Moreira Assis (1948-2016), ex-Soldado Radiotelegrafista da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (Benjamim Durães)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12474: Tabanca Grande (415): Júlio Martins Pereira, ex-sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67): condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, pela sua ação em 6/10/1966, na sequência de mina A/C na estrada Missirá-Enxalé


Crachá da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67). Divisa: "Bravos, Avante!"



Cruz de guerra de 4ª classe, com que foi condecorado o nosso camarada Júlio Martins Pereira (vd., lista do portal UTW - Utramar Terraweb > Condecorações atribuídas por feitos em campanha, Guiné 1963/743. Segundo esta preciosa fonte de informação, mais de mil e cem combatentes dos 3 ramos das forças armadas portuguesas receberam condecorações por feitos em campanha, no TO da Guiné: cruz de guerra, valor militar ou torre e espada).





Averbamentos na caderneta militar do Júlio Martins Pereira, pp. 20/21


Fotos: © Júlio Martins Pereira (2013). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da apresentação do novo membro da Tabanca Grande, nº 635, Júlio Martins Pereira, sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) (*)


 As minhas lembranças na Guiné.1965/1967...Agora são recordações, mas naquelas datas foram sofrimentos e muitas saudades de quem cá deixei e muitas coisas mais que por aí se passaram.
Ver, por exemplo,  colegas meus morrerem, como vós camaradas deveis saber.

Sim,  é verdade que fui condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, no dia 10 de junho de 1968, na Avenida dos Aliados, no Porto. É também verdade que fui várias vezes convidado pelo governo português para estar presente nas cerimónias comemorativas do Dia de Portugal.

Poderão ainda confirmar aquilo que vou descrever que é verdade e porque está escrito na minha caderneta militar, não pedi nada a ninguém, podem consultar os arquivos. O que fiz está feito, deram-me ordem de prisão por eu ter dito que tomasse o café e que lhe soubesse  merda, aqui no Enxalé. Deram-me ordem de prisão porque eu lhes disse que não havia direito eles já terem comido e nós estarmos à espera.

Aqui, em Missirá, mas eu nunca estive na prisão nem da primeira vez nem da segunda, todo o pelotão estava formado, em sentido e de marmita na mão, quando eles já tinham comido, debaixo da tabanca na nossa frente. Foi preciso eu tomar a atitude de mandar destroçar, batendo com o pé no chão, três vezes. Mas só aí alguém lhes perguntou quem foi que tinha mandado destroçar... Foi quando me vieram pedir os meus dados e nos mandaram formar novamente. Foram então novamente prá sombra da tabanca e só depois mandaram o cozinheiro servir-nos a dita refeição...

Não, eu não pedi para ser condecorado, eu não era filho de gente dita rica, chique, eu lutei por mim e pelos meus camaradas, porque quando eu dei a primeira resposta do café, foi porque eu tinha estado de serviço durante a noite, ao posto de rádio, que ficava nas traseiras do quarto do alf Luís Zagallo. Essa frase foi para o camarada que me veio substituir, de manhã, o Clidónio, este vive em Campo, Valongo, [é hoje meu vizinho].

Lutei por aquilo em que eu acredito, mas que muita coisa foi uma má imagem para Portugal, isso foi. Tantas coisas se fizeram e algumas pessoas ainda foram contempladas, mas, enfim, a vida é assim mesmo, e dos mortos já não devemos falar. Mas eu passei muitas noites no Enaxalé, de serviço ao posto de rádio e também a servir de..., dum que se dizia senhor e, que quando lhe dava na cabeça, já depois de bem bebido, depois de fazer aqueles ditos coquetéis com todo o género de bebidas e mais algumas, incluindo a famosa pasta 444 que era de pôr na cara, a altas horas da noite, mandava chamar o motorista e eu era incumbido de comunicar com Porto Gole,  informando que um certo senhor ia lá tomar um uísque... 

Àquela hora da noite, o jipe lá arrancava, povoação adiante,  saía fora da porta d'armas do Enxalé e, mais adiante, o piso era bastante bom, já dava para fazer algumas travessuras.

Júlio Martins Pereira

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 16 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12456: Tabanca Grande (415): Júlio Martins Pereiratabanqueiro nº 635

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12460: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): a festinha do João e da Vilma Crisóstomo... De Nova Iorque a caminho da Eslovénia onde o casal vai passar as festas do Natal e Ano Novo


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 1 > Um casal feliz, "just married"... de passagem por Portugal (3 dias), a caminho da França (de 3ª feira, 17,  a sábado, dia 19)... Destino final a Estónia, pátria da Vilma, onde os dois passarão o Natal e o Ano Novo.


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 2 > Desta vez não foram os 300 convivas de há 3 ou 4 anos, mas mesmo assim o João (e a Vilma) conseguiu juntar uns cento e muitos de parentes e amigos. (Este ano ele limitou-se a pôr um anúncio no jornal regionalista Badaladas).

Nesta foto, vê-se um pormenor da foto de grupo. Das 15h da tarde até às 18h passou muito gente pelo recinto de festas da Associação de Desenvolvimento de Paradas, uma terra da freguesia de A dos Cunhados onde há trabalho, emprego, bem-estar, fé e confiança no futuro. O antigo Casal das Paradas é o lugar das Paradas onde os sinais de desenvolvimento, ligados ao "boom" da  horticultura forçada (estufas), são por demais evidentes...


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 3 > Aqui sabe-se receber... à boa maneira portuguesa do oeste estremenho.


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 4 > O camarada de armas do João Crisóstomo, que veio do norte com a esposa para lhe dar um abraço de parabéns... Há quase 50 anos que não se viam...  Trata-se do Júlio Martins Pereira, soldado de transmissões da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), que entrou ontem,  pela porta grande, para o nosso blogue...


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 5 > Uma família, ou melhor duas, que deu à Igreja Católica, 5 padres e 8 freiras... É obra!... Na foto, o João Crisóstomo com o padre Crispim, de 80 anos, ainda hoje a exercer funções como capelão de um lar de terceira idade em Torres Vedras. Franciscano, o padre Crispim fez questão de dizer que "um padre nunca se reforma"... [Foi colega e é amigo do nosso camarada Horácio Fernandes, ex-capelão militar (em Catió e Bambadinca, 1967/69), nascido em Ribamar, no concelho vizinho da Lourinhã].


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 6 > O casal João e Vilma Crisóstomo com alguns dos "amigos do Oeste" que fizeram questão de comparecer à sua festinha (que será badalada no jornal da região, "O Badaladas"): da esquerda para a direita, Luís Graça, Alice, João, Dina Silva, Jaime Silva, São (esposa do Eduardo, o primeiro da fila de trás, a contar da esquerda)...


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 7 > Em primeiro plano, o Eduardo Jorge Ferreira, assinando os "versinhos" acabados de dizer aos amigos João e Vilma pelo Luís Graça, em nome dos "amigos do Oeste"... De pé, de perfil, a Alice.


Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras > 15 de outubro de 2013 > Convívio do casal João & Vilma Crisóstomo com os parentes das famílias Crisóstomo & Crispim, bem com com os camaradas da Guiné > Foto nº 8 > "Dois amigos do Oeste", o Joaquim Pinto de Carvalho (que veio também acompanhado da esposa, a Céu) e o Eduardo (que é vizinho da família do João, em A-dos-Cunhados, mas que faz questão de me relembrar que é tão lourinhanense como eu, tendo nascido no Vimeiro...).




Vídeo (2' 23''). Alojado no You Tube > Nhabijoes

Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras. 15out2013. Tarde de convívios dos parentes das famílias Crisóstomo e Crispim e dos amigos e camaradas do João Crisóstomo, recém casado com a eslovena Vilma Kracun. O casal vive em Nova Iorque, e passou pela terra natal do João, a caminho da Eslovénia onde vai passar as festas do Natal e Ano Novo.. Intervenção  de Luís Graça, quwe disse uns versos (8 quadras populares), de homenagem ao casal... em nome dos  "amigos do Oeste".

Letra: Luís Graça

1
João Crisóstomo, eh pá!,
E Vilma Kracun, oh priga!...
Uma de lá, outro de cá,
Um rapaz e uma rapariga.

2
Formam os dois um belo par,
Esloveno-português,
Acabaram de casar,
Ela, doce, ele, cortês.

3
Dois mundos a separá-los,
Ela no velho [Europa], ele no no novo [América],
Vem agora abençoá-los,
Com amor, o nosso povo.

4
É o João um senhor,
Que faz o culto da amizade,
E amanhã comendador
Da Ordem da Liberdade.

5
Mordomo de profissão,
Portugal nunca esquece,
No verde e rubro coração
Onde a Pátria não esmorece.

6
Fez a guerra, coisa má
Lá nas terras da Guiné,
Finete e Missirá, 
Porto Gole e Enxalé,

7
Animador libertário,
Foi de causas defensor,
Do Cônsul Humanitário [Aristides Sousa Mendes]
A Foz Côa e a Timor.

8
P’ra um casal, lindo como este,
P’rá Vilma e p’ró João,
Dos amigos do Oeste
Vai um grande… xicoração!

Paradas, A-dos-Cunhados, 
15/12/2013

Os amigos do Oeste…Luís Graça & Alice, Eduardo Jorge Ferreira & São, Jaime Silva & Dina, Joaquim Pinto Carvalho & Céu… a que se associaram o Júlio Martins Pereira & esposa (Recarei, Paredes) e demais presentes, amigos e parentes das famílias Crisóstomo & Crispim.

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12297: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (77): Dois antigos camaradas da mesma unidade (CCAÇ 12), mas de épocas diferentes, sem grande tempo para se encontrarem em Lisboa, partem sábado, no mesmo avião, para Luanda, onde vão em trabalho...

Guiné 63/74 - P12456: Tabanca Grande (415): Júlio Martins Pereira, sold trms, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67), grã-tabanqueiro nº 635



Vídeo (1' 28''). Alojado em You Tube > Nhabijoes

Associação de Desenvolvimento de Paradas, Paradas, A dos Cunhados, Torres Vedras >  15 de outubro de 2013 >  Tarde de convívio dos parentes das famílias Crisóstomo e Crispim e dos amigos e camaradas do João Crisóstomo, recém casado com a eslovena Vilma Kracun. O casal vive em Nova Iorque e está de passagem na terra natal do João, em viagem até à Eslovénia onde vão passar as festas de Natal e Ano Novo. 

Intervenção do Júlio Martins Pereira, natural de Paredes, e ex-soldado de transmissões da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), uma companhia madeirense em que o João Crisóstomo foi alferes miliciano, tal como o falecido ator Luís Zagallo. Nesta alocução, o Júlio refere as duas minas A/C em que, no dia 6 de outubro de 1966, na estrada Enxalé-Missirá, cairam dois grupos de combate da CCAÇ 1439, um que vinha de Missirá, comandado pel alf mil Zagallo, e outro que vinha em seu socorro, do Enxalé, comandado pelo alf mil Crisóstomo.

A este convívio, de que se dará mais logo o devido relato, comparaceram alguns camaradas de armas do João Crisóstomo, e amigos do blogue: para além do Júlio Martins Pereira, o Eduardo Jorge Ferreira (que é natural de Vimeiro, mas mora em A-dos-Cunhados), o Joaquim Pinto Carvalho, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e eu próprio mais as nossas companheiras... (LG)

Vídeo: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Conheci ontem, à tarde, o Júlio Martins Pereira, que vive em Campo, Valongo, e é natural de Paredes.

 Veio, com a esposa,  propositadamente do norte, fazendo 600 quilómetros (ida e volta)  para dar um abraço ao seu antigo camarada de armas, o João Crisóstomo. Soube da notícia através do nosso blogue, que ele acompanha. Achei um gesto muito bonito. Reparem: são quase 50 anos depois!... E depois da Guiné nunca mais se tinham encontrado!... Espantosamente nasceram nasceram no mesmo dia, mês e ano, 22 de junho de 1944.

O Júlio Martins Pereira tem um pequeno blogue, com dois postes, singelamente intitulado  A Minha Vida. Desse blogue autorizou-me a transcrever o texto a seguir que vai servir de apresentação do novo membro, da Tabanca Grande, nº 635. Bem hajas, Júlio! (*) (LG)




Guiné > Zona leste > CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) > O sold trms Júlio Martins Pereiram, natural de Paredes.


Foto: © Mário Gaspar (2012). Todos os direitos reservados.




Guiné > Mapa geral da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Pormenor: localidades da margem direita do Rio Geba por onde andou a CCAÇ 1439, e aqui assinaladas a zul: Porto Gole (destacamento), Enxalé (sede), Missirá (destacamento)... Mas também por onde passou, na margem esquerda (aquartelamentos  assinalados a verde:  Xime e Bambadinca). Finete, em frente a Bambadinca, na margem direita do rio Geba, era um destacamento de milícias, no regulado do Cuor. A 1ª mina aqui referida, no texto a seguir, é accionada no percurso Missirá-Enxalé; a segunda é no troço inverso,  Enxalé-Missirá, no sítio do Mato Cão. (As duas versões, a do Júlio Martins Pereira, sold trmns da CCAÇ 1439, e a do Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52,  não exatamente coincidentes) (**).

À época a que se referem os acontecimentos (6 de outubro de 1966), estava em Bambadinca a CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (em Bambadinca, entre maio e novembro de 1966, indo depois para Fá Mandinga). Em novembro de 1966, a CCS/BCAÇ 1888 (que estava em Fá Mandinga desde maio de 1966) vem para Bambadinca  até  janeiro de 1968. O BCAÇ 1888 é substituído pelo BART 1904, em fevereiro de 1968, e este por sua vez pelo BCAÇ 2852, em outubro de 1968...

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).

2. Apresentação do novo membro da Tabanca Grande, nº 635:

Eu, Júlio Martins Pereira, soldado de transmissões nº 26523/65, fui de Lisboa para a Madeira a bordo do paquete Funchal  para o BII 19. Mas, como a companhia, a CCAÇ 1439,  já tinha partido para a Guiné,  eu e mais uns quatro soldados tivemos de aguardar por novo barco que nos levasse para Bissau para aí nos juntarmos ao resto do pessoal que,  naquela ocasião, em setembro de 1965,  já se encontrava em Bambadinca.

Uma vez aí chegados na LDM, depois de permanecermos uma noite, em pleno Rio Geba,  a meio do mesmo, entre os aquartelamentos do Enxalé de um lado e do outro o do Xime, ali consegui ver a força do famoso macaréu, aquela grande onda de água que de manhã nos acordou e que colocou novamente o barco a flutuar, e para assim podermos chegar ao nosso destino.

Aqui chegados ao batalhão, em Bambadinca,  e depois de realizadas algumas operações prós lados do Xime,  a mim foi-me atribuída a função de sempre acompanhar o comandante na árdua tarefa de transmitir e receber informações para o bom desenrolar das operações em curso, quer de terra quer do ar. 

De Bambadinca fomos para o Enxalé e daqui uns foram para Missirá e outros para Porto Gole. Eu fui para Missirá, no pelotão comandado pelo já falecido alferes [Luís] Zagallo. Na ocasião a morada no continente do alf Zagallo era na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa. 

No dia 6 de outubro de 1966, por volta das 7 horas da manhã,  íamos nós de Missirá a caminho do Enxalé em coluna com um jipe e um unimogue, íamos buscar alimentos e outros produtos pró pessoal. Depois de passar o cruzamento que dava para Finete, aproximadamente, 800 metros à frente havia uma poça d’água. O jipe que ia na frente desviou-se, nesse jipe ia o motorista, o alf Zagallo, o enfermeiro e mais dois soldados. A  seguir ia o unimogue que não se desviou da poça d’água e ai rebentou a mina. Na frente,  no unimogue,  ia o furriel  Mano, de pé,  do lado esquerdo do condutor e ao lado deste mais 2 ou 3 soldados, na parte de trás. Nos bancos laterais onde eu ia, iam os bancos completos.

Rebentada a mina, eis que alguns de nós tal como eu, encontrámo-nos dentro daquela cratera,  cheia de lodo e gasóleo.  Nós,  sem armas, os mais conscientes ainda conseguímos  gatinhar para encontrar armas para nos defendermos de qualquer eventualidade, no meio de toda aquela gritaria, todos aqueles berros,  os choros, todos aqueles, mortos e feridos... Apesar de tudo só ouvimos lá longe uma rajada de costureirinha, a querer dizer-nos algo sobre o que nos tinha acontecido...

Como não houve mais nenhuma reação, demos início à procura e recolha dos nossos mortos e feridos. Estes encontravam-se espalhados, quer no capaim encharcado de cacimbo (orvalho noturno),  quer nos destroços do unimogue que ficou virado em sentido contrário e retirado da cratera.

Ainda hoje me lembro de ter retirado um camarada nosso,  pegá-lo por baixo dos braços e encostá-lo ao taipal para que outros o pusessem no chão. Era preciso retirá-los daquele sofrimento e acalmá-los e procurar todos os outros. Entretanto o jipe onde ia o alf Zagallo  volta para trá. Passado aquele tempo de possível reação [do IN ], entretanto, eu já tinha ido procurar os meus/nossos companheiros, quando fui ter com o alf  Zagalo, e lhe disse onde estavam alguns dos nossos mortos e feridos, incluindo o furriel Mano,  todo esventrado, esfacelado,  só a carne dava sinais porque ainda estava quente. A partir daqui começamos a recolher os restos dos mortos, e a pô-los no fundo do jipe, por cima os feridos mais graves, a estes amarrámos ligaduras do enfermeiro para que não caíssem com o andamento do jipe, que  ia transformado num autêntico carro de horrores.

Iniciada a marcha de retorno, esta na direção de Finete, fui eu, então a pé, desde o local da mina até Finete. A correr, sozinho com a arma em bandoleira para pedir socorro, uma vez aí, no cimo daquela grande bolanha, frente a Bambadinca. O comandante das tropas aí aquarteladas, depois de me ouvir, mandou 4 soldados [africanos] acompanharem-me até Bambadinca, para pedir socorro, mas ao mesmo tempo começam a imitir mensagens para o interior da bolanha no sentido de avisarem, a muita população que ali estavam a trabalhar,  que tinha rebentado uma mina ali perto. E estes,  em debandada,  encaminham-se para o rio Geba para fugirem para Bambadinca a bordo. Claro,  das canoas,  aí tive de pedir que retirassem cincio elementos da população para que eu e os meus quatro  camaradas que me acompanhavam pudéssemos chegar ao batalhão que aí estava aquartelado [, em Bambadinca]. 

Dali fui pedir apoio a Bissau para virem os helicópteros, e também à minha companhia CCAÇ 1439. Prá companhia fui eu que fiz o ponto da situação. Ali, o comando do batalhão fornece-me um rádio para que eu pudesse comunicar com os helicópteros e as respetivas frequências para uma boa comunicação.

Entretanto quando eu e os 4 soldados pretos iniciámos a marcha de regresso a Finete em plena bolanha e já com o roncar dos helicópteros e eu a sintonizá-los no meu rádio, eis que ouço um forte rebentamento e logo peço aos pilotos dos hélios que se possível passassem pela zona de Mato Cão, pois que o rebentamento ouvido instantes atrás podia ter a ver com a  CCAÇ 1439 que vinha em nosso socorro. Infelizmente veio logo a seguir a confirmação dos pilotos dos hélios,  que era verdade, a CCAÇ 1439 tinha tido no dia 6 de outubro de 1966 duas minas,  as duas não muito longe uma da outra... Aí em Finete ainda consegui falar com os pilotos dos Hélios, aquando das evacuações da 1ª mina,  a quem pedi que comunicassem a Bissau a pedir evacuação rápida para o pessoal que estava em Mato Cão,  na 2ª mina.

A quantidade de soldados mortos e feridos não sei ao certo, só procurando nos arquivos do BII 19, no Funchal. Digo eu, ou então o capitão, comandante da companhia, ou o alf Freitas ou o alf Crisóstomo, ou o 1º  da secretaria ou o cripto, tantos, tantos outros que podem confirmar tudo isto.

Júlio Martins Pereira



Guiné >Zona Leste> Sector L1 > Bambadinca > Estrada Enxalé-Missirá > Sítio do Mato Cão > 6 de Outubro de 1966 > Cratera povocada por uma mina A/C cuja explosão provocou a morte do Soldado Manuel Pacheco Pereira Junior, da CCaç 1439. Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3kg) ficaram no Cemitério de Bambadinca, Talhão Militar, Fileira 2, Campa 1, Guiné-Bissau. No regresso de Missirá, a mesma coluna accionou outra mina A/C que decepou a perna do fur mil op esp António dos Santos Mano, acabando por morrer por falta de assistência.(**)

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Enxalé > CCAÇ 1439 > Set de 1966 > Na messe: 1 - Cap Mil Pires, Cmdt da Companhia [CCAÇ 1439]; 2 - Alf Mil Sousa; 3 - Alf Mil Zagalo; 4 - Médico do Batalhão; 5 - Eu [, Alf Mil Henrique Matos, Cmdt Pel Caç NaT 52]; 6 - Alf Mil Marchand, Cmdt do Pel Caç Nat 54; 7 - Fur Mil Antunes, falecido em combate; 8 e 9 - Fur Mil Monteiro e Altino, do meu Pelotão [Pel Caç Nat 52]. Foto do Fur Mil Viegas, do Pel Caç Nat 54. Cortesia e legenda do Henrique Matos

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2010). Todos os direitos reservados.

3. Ficha de unidade:

CCAÇ 1439: Mobilizada pelo BII 19, partiu para o CTIG em 2/8/1965 e regressou a 18/4/1967. Esteve em Xime, Bambadinca, Enxalé (com destacamentos em Porto Gole e Missirá) e Fá Mandinga. Comandante: cap mil  inf Amândio Manuel Pires.

(...) No dia 6 de Outubro de 1966 numa coluna [da CCAÇ 1439] que saiu do Enxalé para reabastecimento de Missirá (sorte minha, porque não foi a minha vez de a comandar) e no fatídico lugar de Mato Cão, o soldado Manuel Pacheco Pereira Júnior, mais conhecido pelo Açoriano pois era o único natural dos Açores naquela companhia que era de madeirenses, foi literalmenet pulverizado por uma mina A/C.

Quando digo pulverizado é o termo que melhor descreve a situação, pois sou um dos que andou à procura de restos do corpo e apenas encontrámos pequenos fragmentos de ossos com que fizemos um embrulho que pesava poucos quilos. Tem a sua campa em Bambadinca, como se pode ver na relação do Marques Lopes
A G3 dele nunca mais se viu, pensando-se que terá voado para o Geba que passa a não muitos metros de distância. (...)

(...) Mas a tragédia não acaba aqui. A coluna foi descarregar a Missirá e regressou a abrir, isto é, o mais depressa que podia andar e sem picar. Então muito próximo do mesmo local outra mina A/C tirou a vida ao Fur Mil Ranger António dos Santos Mano, que vinha ao lado do condutor mas com uma perna para o lado de fora do assento. E foi isso que lhe causou a morte, pois a perna foi decepada e não houve forma de o salvar. Nessa noite foi preciso acalmar muita gente no Enxalé pois a companhia, [a CCAÇ 1439,] só tinha tido uma baixa até essa ocasião e já ia a caminho de 15 meses de comissão. (...)