Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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segunda-feira, 28 de março de 2011
Guiné 63/74 - P8010: Memória dos lugares (149): O Pel Mort 2106, do Fur Mil Lopes, que esteve em Bambadinca (1969/70) (Vítor Raposeiro / Gabriel Gonçalves / Arlindo Roda / Humberto Reis)
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Aquartelamento de Bambadinca > Finais de 1970 > Pessoal do Pelotão de Morteiro 2106 festejando a peluda, uma vez terminada a sua comissão... Um dos furriéis deste pelotão era o Lopes, natural de Angola. Lembro-me dele e o Humberto Reis também. Era mais velho três meses do que nós. O que é feito dele? Era um bom camarada, conforme testemunha aqui o Humberto Reis:
" (...) Neste destacamento [da Ponte do Rio Udunduma] estava permanente um Grupo de Combate da CCAÇ 12, que vivia em buracos como as toupeiras (rodava todas as semanas). Ou melhor dizendo: eram três apartamentos subterrâneos tipo T Zero...
"Com este destacamento passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais (operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiram assobiar e não os que viviam no bem bom dentro dos arames farpados e que nunca sentiram o medo de levar um tiro).
"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer ). Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o Fur Mil do Pel Mort [2106] com uma esquadra, o Lopes que era natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).
"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim 2 Km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços, fechou a mala e foi embora" (HR).
Foto: © Vitor Raposeiro (2010). Todos os direitos reservados
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Aquartelamento de Bambadinca > 22 de Março de 1971 > CCS do BART 2917 (1970/72) e CCAÇ 12 (1969/71) > Álbum fotográfico de Gabriel Gonçalves (ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) > Foto nº 6 > "Na foto, estou eu acompanhado do cripto da companhia do Xime (não me lembro do nome), junto dos memoriais da nossa companhia, a CCaç 12 [CAÇ 2590], e do Pel Mort 2106" (GG)"... Estes memoriais foram, entretanto, destruídos a seguir à independência.
Foto: © Gabriel Gonçalves (2008). Todos os direitos Direitos reservados
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > > 1970 > O Fur Mil At Inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12, e o Fur Mil Lopes, do Pel Mort 2106 (1969/70), algures num destacamento (talvez Nhabijões), junto do Mort 81.
Este Pel Mort 2106 teve equipas nos seguintes aquartelamentos e destacamentos: Xitole, Mansambo, Saltinho, Ponte dos Fulas, Nhabijões, Enxalé, Xime, Missirá, Taibatá e Fá. Foi rendido em Dezembro de 1970 pelo Pel Mort 2268, por ter terminado a sua comissão.
Infelizmente, a história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) não traz a composição das subunidades adidas... Mas deste Pel Mort costumam, no entanto, aparecer alguns elementos nos convívios anuais do pessoal de Bambadinca desta época (1968/71).
De acordo com os elementos apurados pelo nosso camarada Benjamim Durães sobre as unidades sediadas em Bambadinca, o Pel Mort 2106 esteve em Bambadinca entre Março de 1969 e Dezembro de 1970. Foi antecedido pelo Pel Mort 1192 (Mai 67 / Mar-69) e pelo Pel Mort 1028 (Set-65 Fá Mandinga; Nov-66 Bambadinca Mai-67). Sucedeu-lhe o Pel Mort 2268 (Dez 70 / Set 72) e, por fim, o Pel Mort 4575/72 (Jul 72 / Abr 74).
Uma dúvida que tenho, é a de saber se Bambadinca chegou a ter artilharia pesada, e nomeadamente obuses 14, no final da guerra... Há fotos com carcaças carcomidas de obuses, que podem muito ter vindo das zonas fronteiriças do leste, a caminho de Bissau, e que poderão ter ficado por ali... aguardando embarque. (LG)
Foto: © Arlindo Roda (201o). Todos os direitos reservados
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Nota do editor
Último poste da série > 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8009: Memória dos lugares (148): Enxalé, a desilusão... Onde está a arquitectura colonial ? (Henrique Matos)
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quinta-feira, 6 de maio de 2010
Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
Guiné > Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (1969/71) > Janeiro de 1970, ainda no tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Coluna logística, no itinerário Bambadinca - Mansambo - Xitole. O troço entre Mansambo e Xitole esteve interdito durante cerca de um ano (desde Setembro de 1968).
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefem, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (*)
3. Visita a Xitole (**) em 16Nov70
- Verificou-se que, contra o que está determinado, o planeamento operacional é realizado pelo Comando do BART, o qual define as acções a realizar, os efectivos da força, os itinerários, etc.
É um sistema teórico há muito banido do TO da Guiné e sobre o qual têm incidido incisivas críticas. Deve ser dada plena iniciativa aos comandantes de Companhia, em ordem a responsabilizá-los pelo cumprimento da missão cometida.
- Não foram realizadas acções de reconhecimento na região de Seco Braima (***), assim como a sul das tabancas em 'autodefesas', o que não é admissível para uma subunidade já com alguns meses de permanência na Zona. Esta anomalia demonstra à evidência um muito precário controlo operacional do Comando do BART.
- O plano de defesa do Xitole constitui um documento teórico, mas destinado a satisfazer uma determinação superior do que a accionar um sistema dinâmico de defesa. Salienta-se a falta duma planta ou croquis da povoação e do quartel com as zonas de responsabilidade devidamente delimitadas, sectores de observação, etc. O dispositivo de defesa não englobava a povoação, o que se revela francamente inconveniente do ponto de vista propriamente de defesa e do ponto de vista psicológico, para as populações que nos compete defender.
- Foram-me apresentados vários problemas de natureza logística como o aluguer de aviões civis para transportar açúcar que faltou na Companhia. Sobre este assunto deve ser mandado levantar averiguações e reembolsada a Companhia da despesa feita com o o aluguer do avião, devendo tal encargo ser liquidado pelo CTIG. Também foi salientada a falta de cimento.
Estas anomalias deveriam ter sido detectadas e resolvidas pelo Comando do BART e não pelo Comando-Chefe.
4. Visitas às tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali (***) em 16Nov70
- A organização de defesa destas tabancas deverá ser melhorada. Não as considero em condições de poderem suportar um ataque em força durante o período de tempo necessário, em ordem a evitar o seu aniquilamento antes da intervenção das forças militares sediadas no Xitole.
Ressaltaram várias anomalias susceptíveis de serem sanadas no âmbito da defesa passiva. Nomeadamente a bertura de campos de tiro (capinação).
Nota-se também a ausência de exercícios de alarme, em ordem a automatizar e dinamizar a reacção das populações,
- As populações das tabancas de Cambesse e Tangali pediram a construção de escolas, o que se justifica plenamente face ao número de crianças em idade escolar.
Não se encontrava presente o Capitão Comandante da Companhia; todavia fiquei com boa impressão sobre o Comando desta Companhia, e nomeadamente sobre o Alferes que a estava a comandar interinamente. (pp. 2-3)
[Revisão / fixação de texto: L.G.]
Continua
Próximo ponto. 5. Visita Mansambo em 18Nov70
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior da série > 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
(**) De acordo com a história da unidade (BART 2917, Bambadinca, 1970/72), o Xitole era sede de posto administrativo (com o mesmo nome). Tinha três lojas comerciais. A sua economia baseava-se na exploração do coconote e da madeira. A guerra teve um enorme impacto negativo na actividade económica. A população rondava, no tempo do BART 2917, as 3 centenas. Unidade de quadrícula: CCAÇ 2616, com um destacamento na Ponte dos Fulas, no Rio Pulom (1 Gr Comb / CCAÇ 2616 + 1 Esq Pel Mort 2106, substituído em Dezembro de 1970 pelo Pel Mort 2268, por ter terminado a comissão).
(***) Seco Braima ou Darsalame, na foz do Rio Poulom, afluente do Rio Corubal...
(****) A sudeste de Xitole, na estrada Xitole-Saltinho, regulado do Corubal: eram tabancas em autodefesa, colaborantes com as NT. Sinchã Madiu tinha 120 habitantes, recenseados; Cambesse, 174; e Tangali, 146. Em Maio de 1971, Cambesse tinha uma 1 Esq (-) do Pel Mort 2268 e 1 secção da CCAÇ 2616, em reforço do sistema de autodefesa.
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