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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15503: Notas de leitura (789): “Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa no Museu de Etnologia do Ultramar”, Edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2015:

Queridos amigos,
Recordam-se certamente das esculturas, panos e artigos de couro que se vendiam no mercado de Bandim e imediações, isto no caso de Bissau. Havia o ourives de Bafatá e seguramente outros em diferentes localidades. Os colecionadores e os museus disputam objetos escultóricos dos Bijagós e dos Nalus.
Numa visita que fiz ao Museu Metropolitano de Nova Iorque, nas salas reservadas à arte africana li um documentário de um Rockfeller que andara pela África Ocidental e que deixara escrita a sua apreciação sobre a escultura Nalu, considerou-a a mais genial de todas. Foi uma opinião, mas há que reconhecer que nestas esculturas vibra a inspiração e muitos séculos de artífices espantosos.
Fica aqui uma oportunidade para rever imagens dessa opulência.

Um abraço do
Mário


Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa

Beja Santos

Fernando Galhano é um nome importante na etnologia e etnografia guineense a par de António Carreira e Rogado Quintino, no período colonial. Este seu trabalho “Esculturas e objetos decorados da Guiné Portuguesa no Museu de Etnologia do Ultramar”, Edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971, atesta o esmero e o rigor do seu trabalho. Concentra-se essencialmente na arte Bijagó e Nalu porque foram sempre aquelas que deram provas de maior originalidade e criatividade.

Apesar dos seus particularismos culturais, os Bijagós dão provas de uma unidade cultural verificada há séculos. São dotados de uma exuberante fantasia. As suas esculturas são cobiçadas por colecionadores e museus de todo o mundo, ávidos por estas máscaras de pelicano e de hipopótamo que revelam um espírito muito livre e aberto. Estas máscaras de animais que podem ser uma cabeça de boi ou a cabeça de um peixe-serra, de um búfalo, as máscaras que representam cabeças de tubarão ou de porco, adornadas de fitas, tranças, ranjas, borlas e adornos são muitas vezes peças excecionais.

Escreve Fernando Galhano: “O boi, o tubarão e o tubarão-martelo, e também o hipopótamo, em corpo inteiro ou apenas numa das suas partes – cabeça ou barbatanas – entram com grande frequência na composição de vários objetos rituais e de uso corrente. Pegas de tampas, cabos de colheres, os bastões dos iniciados, certos chapéus de dança, são em muitos casos enriquecidos com figuras daqueles animais. É nos adornos de dança – de cabeça, costa e braços – que a fantasia deste povo mais francamente revela a sua exuberância e a sua liberdade de escolha de motivos”. O autor faz larga referência a outros elementos escultóricos que aparecem em colheres, taças, cabaças, fechaduras, bancos e machados cerimoniais, lanças-bastões e para demoradamente nas máscaras e adornos de cabeça para dança.

Vejamos alguns desenhos por ele apresentados, quanto à arte Bijagó.

Figura cultual, Ilha de Caraxe, Bijagó


Adorno de costas para dança do peixe-verga Ilha Formosa, Bijagó 

A cultura Nalu é muito antiga. Deslocados em tempos recuados, pela expansão do império Mandinga, da região do curso superior do Niger em que habitava, os Nalus já ocupavam no século XV, à data da chegada dos portugueses o território onde hoje se encontra. A sua cultura foi fortemente influenciada pela dos Bagas, outro povo que devido à pressão dos Mandingas foi forçado a tomar o caminho do litoral. A expressão mais conhecida e procurada pelos colecionadores é o Nhinte-kamachol, a representação da cabeça de uma ave, e a estilização da ave, na qual aparecem também traços de um rosto humano. Segundo os estudiosos esta ave será o pelicano, tida por ave mítica. E Fernando Galhano adianta: “O Nhinte-kamachol estava presente em todas as cerimónias relacionadas com a Simô, e presidia aos ritos da iniciação à puberdade dos rapazes. Nessa ocasião, são metidos chifres de gazela nos orifícios abertos no crânio da escultura entre as cerimónias, o Nhinte-kamachol fica guardado dentro de uma espécie de caixa circular feita de pauzinhos postos a prumo, ligados por duas cintas, do fundo da qual, junto às paredes, se erguem picos de porco-espinho. Mas há também outras máscaras Nalus de grande importância e veneração animista: o ‘Mrime, que dá boa sorte às casas e às colheitas, a máscara Numbé, que guarda a casa e combate os maus feitiços, a máscara Bandá, usada na cabeça dos dançarinos, e a máscara Koni que aprece encarnar os espíritos benfazejos".

Nhinte-kamachol


Fernando Galhano realça também os trabalhos dos Fulas e Mandingas na decoração do couro e no trabalho dos metais. As manifestações do trabalho em couro são as bainhas dos sabres e as almofadas. Os ourives trabalham ouro e a prata, pulseiras, colares, anéis, amuletos, etc. E recorda a bela olaria dos Balantas e dos Manjacos, bem como a panaria Manjaca oriunda dos teares de Cabo Verde. Para terminar, fala-nos dos Sônôs, disputados pelos grandes museus. Segundo o Teixeira da Mota, os Sônôs são constituídos por hastes de ferro de cerca de 1,2 metros de altura, com vários braços laterais terminando em esculturas de bronze, geralmente pequenas cabeças humanas. Eram os símbolos da realeza, sobretudo dos régulos Beafadas e eram também objeto de formas culto animista. O Nhinte-kamachol fascina-me pela singularidade dos perfis e pelo génio da escultura em madeira. São tão importantes para mim que pedi a um dos meus editores para o pôr na capa de um livro em que a minha heroína tinha vivido na Guiné entre os anos 1950 e 1960. Acho que ficou uma beleza
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15486: Notas de leitura (788): “Geração de 70”, por A. Santos Silva, Euedito, 2014 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15331: Os nossos seres, saberes e lazeres (125): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (2)

1. Relembrando o que nos dizia a certa altura da sua apresentação ao Blogue o nosso camarada Armando Ferreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete, 1973/74):  

[...]
Nasci em Alpiarça e aos dez anos parti para Lisboa, aí estudei em escola de artes e trabalhei, e muito mais tarde regresso para ter espaço físico na realização com o meu trabalho.
Tenho dois filhos e dois netos, e estou disposto a fazer seja o que for para que a minha família e as outras, terem direito ao país onde nasceram e receberam a sua própria cultura, TER A VIDA COM FELICIDADE.
Sou escultor de profissão, o meu trabalho está entre o Realismo e Expressionismo e tenho neste Portugal muitas esculturas urbanas, representando: feitos, heróis, individualidades, conjuntos escultóricos de grande dimensão, alegorias etc.
Trabalho em pedra e em bronze. Estou representado em vários países.
[...]


Publicação do segundo grupo de fotos enviadas enviadas ao Blogue*:

Ao Senhor Jesus dos Lavradores


 Homenagem a Passos Manuel


Homenagem Nacional a Maria Lamas



Homenagem à Juventude




José Saramago - Azinhaga


 Marcolino Nobre - Rio Maior

O Oprimido
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Notas do editor

(*) Poste anterior de 3 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (1)

Último poste da série de 4 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (1)

1. Dizia-nos a certa altura da sua apresentação ao Blogue o nosso camarada Armando Ferreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete, 1973/74):  

[...]
Nasci em Alpiarça e aos dez anos parti para Lisboa, aí estudei em escola de artes e trabalhei, e muito mais tarde regresso para ter espaço físico na realização com o meu trabalho.
Tenho dois filhos e dois netos, e estou disposto a fazer seja o que for para que a minha família e as outras, terem direito ao país onde nasceram e receberam a sua própria cultura, TER A VIDA COM FELICIDADE.
Sou escultor de profissão, o meu trabalho está entre o Realismo e Expressionismo e tenho neste Portugal muitas esculturas urbanas, representando: feitos, heróis, individualidades, conjuntos escultóricos de grande dimensão, alegorias etc.
Trabalho em pedra e em bronze. Estou representado em vários países.
[...]

O editor prometeu publicar as fotos recebidas, pequena amostra da arte deste nosso camarada. Este é o primeiro grupo, de dois, que recebemos.



Ao Ciclismo



Dr. Hermínio Paciência



Ao Povo de Alcanena




À Família Agrícola


À Liberdade - Estudo

À Liberdade




À Melhor Casta



À Solidariedade

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15317: Os nossos seres, saberes e lazeres (122): No meu tempo chamava-se Pão Por Deus, hoje chamam Halloween, não sei por alma de quem (Juvenal Amado)

terça-feira, 31 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10213: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (3): A arte nalu... em vias de extinção (António J. Perereira da Costa)


Trim-trim


Banda


Matumbó


Canoa inhominga


Guiné > Região de Tombali > Cacine > CART 1692/BART 1914, 1968/69 > Peças de arte nalu, da autoria do mestre Mussé, e que integram a coleção de arte popular da Guiné do nosso camarada António J. P. Costa, ao tempo alf art QP.


Fotos: © António J. Pereita da Costa (2012). Todos os direitos reservados










Guiné-Bissau  > Região de Tombali > Cacine > 2 cde março de 2008 > Visita no âmbito do Simpósio Interbnacional de Guiledge (1-7 de março de 2008) > Cacine vista de uma embarcação no rio... à esquerda o antigo posto de socorros no tempo da CART 1692... Ainda hoje a povoação, embora degradada, está coberto de magníficos poilões e cabaceiras.


Foto: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira da Costa [, cor art ref], que estava aqui, na secção das reservas, à espera dos nossos Passatempos de Verão (*):


Assunto - A arte popular da Guiné

Olá, Camarada:

Já levantei este tema e, agora que tudo parece perdido, julgo que devemos voltar a ele e divulgar.

É um tema que pode interessar aos ex-combatentes e aos coleccionadores.

Conheci, em Cacine, um único artesão da arte Nalu. Passava horas a esculpir numa madeira branca que se cortava com facilidade.

Era o Mussé que usava, na cabeça, um gorro de linha, julgo que fabricado pelos fulas. Entre a cabeça e o gorro colocava, com o fornilho para fora, um cachimbo artesanal, já muito usado.

Entre as ferramentas que usava,. lembro-me de uma haste limpa-para-brisas de Unimog, devidamente afiada.

Trabalhava sentado no chã, à beira-rio,  no sítio que a figura mostra, perto do posto de socorros civil (à esquerda da foto).

Um capitão que por ali tinha passado, tentou arranjar-lhe um aprendiz. O miúdo ficava ao pé dele, mas não me parece que aprendesse com o "Mestre".

Por mim, comprei algumas peças e não permiti que as pintasse. Costumava pintá-las "a Robbialac" talvez por já ter perdido o saber das pinturas ancestrais.

Comprei uma Banda que os dançarinos colocam na cabeça, com um dos bicos para frente. E um tambor - um Matumbó (em minatura) -, um pássaro da palmeira - um Trim-trim - e um par de canoas inhomingas, em miniatura.

Mas ele fazia outras coisas.

António Costa

2. Comentário de L.G.:

Poucos de nós conviveram com os nalus, durante a guerra colonial. Para quem quiser saber mais este povo, que habita o Cantanhez há cinco  séculos, recomenda-se um trabalho, já aqui publicado, do nosso amigo Pepito.

Recomendamos também os vídeos sobre os "donos do chão", disponíveis na página da AD - Acção para o Desenvolvimento,  no You Tube. São excertos de um filme que está a ser realizado por Pedro Mesquista, com apoio dos nossos amigos e parceiros da ONG AD - Bissau.

Os donos do chão nalu 2012

Cantanhez de Pedro Mesquita em 2010

[Pedro Mesquita, cineasta português, e a sua equipa têm estado a recolher imagens para um filme cujo título provisório é "Os Donos do Chão", e que precisa de apoios para a sua finalização. Restante ficha técnica: Argumento - José Marques; Edição - Micael Espinha/Roughcut; Produção - Pedro Mesquita, José Marques, Catarina Schwarz, Joana Roque de Pinho; Música - João Bernardo; Apoios : AD, IUCN].

De acordo com a lógica com que foi criado esta série Passatempos de Verão, esperamos mais contributos dos nossos leitores sobre este este tema: a arte popular da Guiné, em geral, e arte nalu, em particular.

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10196: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (2): O pangolim de cauda longa, do Cantanhez (António J. Pereira da Costa)