quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10480: In Memoriam (128): Laranjinha, Oliveira, Barreto, Monteiro e Soares, da CCS/BCAÇ 2912, vítimas de um manuscrito no dia 01OUT71 em Duas Fontes (António Tavares)

Manuscrito


1. Mensagem de António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 1 de Outubro de 2012:


PATRULHAMENTO AUTO POR TODAS AS A/D DA CCS/BCAÇ 2912 

O original deste “manuscrito” tem 41 anos.

Manuscrito que nada tem a ver com uma obra escrita à mão mas um assassinato escrito à mão.

Manuscrito que traduz uma das ordens dadas (1970/72) nas matas do leste do CTIGuiné.
Poderes incompetentes! Poder que receberam e foram ensinados, na Academia Militar, para praticá-lo bem.

Manuscrito que levou ao encontro da morte cinco jovens emboscados em Duas Fontes/Bangacia na noite de 01 de Outubro de 1971.

Manuscrito que no Hospital Militar 241 (Bissau) originou mais mortes dos quatro feridos graves evacuados na manhã de 02 de Outubro.

Manuscrito igual a outros anteriores em que só mudavam os nomes.

Manuscritos que levaram diariamente militares (só Praças e Furriéis) em patrulhamentos (nocturnos) auto às tabancas em A/D da CCS e no regresso traziam informações.

Recordo que certa noite numa das tabancas em A/D sentíamos e ouvíamos os rebentamentos e o Homem Grande da tabanca dizia-me:
- Vai embora… vai embora…

Chegados ao quartel confirmamos que tinha havido um ataque na ZA de Nova Lamego.

Manuscrito escrito antes ou depois de ter havido informações de que havia vestígios que o IN andava na zona de acção das nossas tropas nesse dia 01 de Outubro. Movimentação de indígenas (POP e Milícia) foram vistos dentro do quartel antes da partida da coluna auto.

Coluna auto pronta a partir (20h00) e retardada para integração do Capitão. Elemento que foi o último a subir para um dos Unimogs mas o primeiro a chegar ao quartel depois de ter ouvido o tiro (IN) de sinal de que as NT estavam debaixo da área de fogo do PAIGC. Estes (posicionados) só tiveram de aguardar as viaturas e fazer fogo, felizmente atabalhoado para as NT. Caso contrário o número de mortos seria maior.

O Oficial, a chorar e desarmado, chega ao quartel com a justificação de que vinha pedir auxílio. Entretanto (no local) os guerrilheiros do PAIGC matavam, feriam e tentavam levar um prisioneiro. Prisioneiro que foi arrastado e uns metros à frente morto (à queima-roupa) e encostado a um poilão. Sentado com as pernas e braços cruzados e uma bala na boca (a fazer de cigarro) assim o encontraram.

Tudo testemunhado e narrado por quem viu nas Duas Fontes/Bangacia e confirmado no quartel pelos camaradas que trataram dos corpos.

Manuscrito que marcou tragicamente a família do BCaç 2912 e a história da Guerra Colonial.
Manuscrito inserido na página 39 do Livro: “Guineíadas - Memórias de uma Comissão – BCaç 2912 CCS – X Encontro - Tavira”.

Os corpos de:

Alfredo Tomás LARANJINHA,
José Peralta OLIVEIRA,
Leonel José Conceição BARRETO,
José Guedes MONTEIRO e
Rogério António SOARES

depois de recolhidos em Duas Fontes/Bangacia e arranjados em Galomaro seguiram (coluna auto) para Bambandinca e acompanhados (por um camarada da CCS) até Bissau onde embarcaram no “Carvalho de Araújo” até Lisboa.  O mesmo “Carvalho Araújo” que os havia transportado há dezassete meses e uns dias ao chão do Teatro de Operações da Guiné

Foram sepultados nas suas terras. Paz às suas almas!

António Tavares
Foz do Douro, 01 Outubro 2012

OBS:
- Título do poste da responsabilidade do editor
- Uma chamada de atenção para o camarada António Tavares porque a sua caixa de correio devolve sistematicamente as nossas mensagens.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10464: In Memoriam (127): António Martins, ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 675 - Presente (José Eduardo Oliveira)

Guiné 63/74 - P10479: Os Soldados não morrem, apenas tombam no campo de honra (1) (José Martins)

Todos fomos INFANTES: 

Infantes na Idade; 
Infantes no Esforço; 
Infantes no Combate; 
Infantes na Nobreza, 

Somos soldados mal-amados, não só depois de mortos, mas ainda em vida!

Monumento de homenagem AO VALOR DO INFANTE, em Mafra


Os que caíram pela Pátria!

Os soldados não morrem, apenas tombam no campo da honra!

Por José Martins

Não tendo conhecimentos académicos em história para, com grau de fiabilidade, poder “divagar sobre o tema” não deixo, porém, de ter uma opinião própria, sabendo que o tema é polémico e que, muito provavelmente se irão levantar vozes divergentes.

A morte sempre existiu, até porque qualquer ser vivo não é eterno e, o ser humano, não é excepção à regra.

A cremação, tida nos tempos actuais como uma nova técnica/opção, já não é recente. Os Vikings honravam os seus guerreiros mortos, colocando-os num barco previamente preparado para, posto a navegar, ser atingidos com uma seta incendiária para que ardesse e ficasse, para sempre, no mar.

De forma diferente, tentando manter o corpo incorrupto para a eternidade, procedia-se à embalsamação, facto que nos recorda o antigo Egipto.

Combates, lutas e refregas sempre as houve, daí derivando feridos e mortos. É na Bíblia que nos é relatada aquele que é o primeiro incidente, no caso um fratricídio: “Caim disse a seu irmão Abel: Saiamos fora. E, quando estavam no campo, investiu Caim contra o seu irmão Abel, e matou-o (Génesis 4,8).

Para os portugueses, é a 24 de Junho de 1128 que a história regista a batalha de São Mamede, junto a Guimarães, altura em que o príncipe Afonso Henriques retira o governo do Condado a sua mãe, passando a usar o título de rei. É a primeira guerra civil portuguesa.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Esta atitude não foi pacífica, já que Afonso Henriques queria a independência do território, que viria a ser Portugal, do reino de Leão e Castela do seu primo Afonso VIII, que se intitulava Imperador da península, mas da parte não ocupada pelos mouros. Mouros esses que, como é óbvio, não deixavam de tentar provocar as forças cristãs, não só a obstar o seu avanço, mas obrigá-los a retrair, se possível. Porém, nova data se vai impor na história deste país, o dia 25 de Julho de 1139, quando nos campos do Baixo Alentejo se dá a Batalha de Ourique entre as forças de Afonso Henriques e de Ali ibn Yusuf, Emir Almorávida, em que a sorte das armas pendeu para o lado lusitano. Para mais a coincidência de, nesse dia, ser a festa de São Tiago, não só o Patrono escolhido para Portugal, mas também ser o santo conhecido como o “mata mouros”. Com esta batalha, Afonso I de Portugal firma-se como rei dos portugueses e, com o apoio da nobreza, é aclamado rei soberano.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Porém só a 5 de Outubro de 1143, pelo tratado de Zamora, assinado por Afonso VII, de Leão e Castela e Afonso I, de Portugal, se procede à separação dos reinos, até que pela Bula Manifestis Probatum, assinada em 23 de Maio de 1179, pelo Papa Alexandre III, confirma e reconhece a independência do país.

É neste período, da história do mundo ocidental, que vários reinos cristãos se colocavam à disposição do Papa, para irem libertar a Terra Santa ou combater, pela Fé Cristã, contra os Mouros. Numa dessas passagens por Portugal, acabado de ser reconhecido como reino independente, cruzados Flamengos, Normandos, Ingleses, Escoceses e Germanos, ajudaram o novo reino a expandir-se e a expandir a Fé que professavam e defendiam.

Pelas linhas anteriores, perpassa meio século da história nacional.

Quantas batalhas aconteceram neste período? Quantos soldados caíram no campo da honra? Quantos ficaram feridos e marcados para o resto das suas vidas, caso tenham sobrevivido aos ferimentos? Quantos prisioneiros foram restituídos à liberdade ou ficaram cativos e escravizados? Quantas famílias ficaram destroçadas? Não se sabe, não há registos. Mesmo que os houvesse, hoje, não passariam de estatísticas ou registos!

Hoje são factos. Apenas factos ou acontecimentos que servem, ou para fazer a “introdução” a qualquer artigo, com mais ou menos floreados, ou para exaltação patriótica, tão ao gosto dos governantes dos vários países, que olham para a história como justificação “lógica”, para imporem “as suas próprias lógicas”.

Os mortos foram chorados; os feridos foram curados dentro do possível; os estropiados, ocultados ou afastados; os prisioneiros, tentada a libertação ou, rapidamente, esquecidos; tudo em nome da nação, porque esta não se discute, porque a nação é eterna.

E de escaramuça em escaramuça, de combate em combate, de batalha em batalha, de guerra em guerra, o mundo avançou, os povos invadiram ou foram invadidos, escravizaram ou foram escravizados, as nações nasceram e pereceram, Portugal cresceu em território e em idade e, sempre, todo e qualquer crescimento arrasta atrás de si montes de problemas. Mas este crescimento teve problemas diversos, não só com Castela, mas também com os mouros, que originaram mais lutas, mais combates, mais batalhas, mais guerras, mais feridos, mais prisioneiros e mais mortos.

Nestes duzentos e tal anos reportados, quantos mortos originaram os combates travados? Onde ficaram? Onde os recolheram?

Em apenas dois “locais”, fundamentalmente: A nobreza, reis e cortesãos, em monumentais mausoléus, construídos em Catedrais ou nos seus palácios senhoriais; os soldados, o povo, na vala comum, no local da batalha, e depois de expostos ao saque.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Desde sempre e até aos dias de hoje, sempre houve politicas de alianças, não só para poder aumentar o potencial dos exércitos mas, sobretudo, para haver validação desses actos e, assim, validarem alianças. Em Aljubarrota, em Agosto de 1385, estiveram cerca de 300 arqueiros ingleses, assim como o invasor, os castelhanos, tinham nas suas hostes aragoneses, italianos e franceses.

Consolidado o reino europeu, os portugueses fazem-se ao desconhecido: o norte de África, armados com a Espada e a Cruz, querendo dilatar a Fé e o Império. E novo local de sepultura surgiu, para os expedicionários portugueses: o solo africano ou, para os mais influentes e nobres, o regresso à terra mãe, quando resgatados, como foi o que sucedeu a D. Fernando de Portugal, o Infante Santo, que seu sobrinho-neto D. Afonso V, o Africano, resgatou das muralhas de Fez, e o fez trasladar para a Sala do Fundador, no Mosteiro da Batalha.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

 Depois da expedição a Ceuta, em 1415, Portugal fez-se ao mar. Melhor, regressou ao mar, já que tinha havido algumas incursões/experiência a partir do reinado de D. Dinis. Por outras palavras e para enquadrar esta fase com o tema: os navegadores/soldados encontraram uma nova forma de “cair pela Pátria”: por doença, em combate ou por naufrágio, a sua sepultura era nas profundezas do oceano.

Partindo deste “rectângulo à beira mar plantado”, navegando sob a protecção da Cruz de Cristo transportada no velame das naus, começamos por Ceuta, no Norte de África, em Agosto de 1415. Cruzamos oceanos e encontramos ilhas e arquipélagos; cruzamos o Mar Atlântico até ás terras de Vera Cruz, o Brasil; vasculhamos as costas africanas, primeiro a ocidente e depois oriente; passamos o Bojador e dobramos o Cabo das Tormentas, subjugando o Bojador e passando além da dor; chegamos à almejada Índia e navegamos no Indico e no Pacifico, até às terras de Lorosa’e (Timor) e da Malásia; e por fim, em Agosto de 1578, voltámos ao início: ao Norte de África, às terras quentes do norte africano: Alcácer Quibir.

Desde Ceuta, foram 162 anos em que “deixámos” no mar ou, uns metros acima da rebentação das ondas dos continentes tocados, em covas aberta nas matas tropicais, muitos de nós que caíram ou tombaram no campo da honra. Também houve, neste espaço de tempo, mais um combate entre forças portuguesas. A Batalha de Alfarrobeira entre D. Afonso V, com uma força de 30.000 homens, e o seu tio D. Pedro, duque de Coimbra, com cerca de 6000 homens que, apesar de não conhecidas, deve ter provocado muitas mortes entre os combatentes de um lado e outro, entre eles o Duque de Coimbra.

Mas foi em Alcácer Quibir que o português encontrou mais uma nova forma de enterramento dos seus combatentes: do Rei ao Soldado, todos mas todos, foram enterrados na bruma da saudade ou do nevoeiro, nevoeiro esse que viria a cobrir o país por seis longas décadas. E esta forma de “enterramento”, sem corpos, foi tão forte que, um dos soberanos que governaram este país nesses anos de sombra, “inventou um corpo do Desejado” que teria tumba nos Jerónimos, para assim acalmar o espírito deste povo que, qual Fénix, renasce sempre das próprias cinzas.

Foram anos sombrios para o povo, que nestas ocasiões, é sempre o primeiro a ser oprimido. A rivalidade entre países, que mais não era que rivalidades entre as famílias coroadas, transformava-se em rivalidades entre povos, aguçando a cobiça e, porque não dizê-lo, o ódio que muitas vezes era “distribuído” ao povo todo, como de pão se tratasse. O império de além-mar, longo de anos e caro em vidas, foi alvo de invasões e de moeda de troca entre os grandes da época.

Quem era aquele povo, pequeno e louco, que ousara entrar mar adentro, rasgar ondas, desafiar o desconhecido e provar, prova suprema de loucura, que o mar não era plano?

Quem eram esses pigmeus para desdenhar dos cartógrafos que “diziam” que o mar tinha fim, tinha um limite que, para além do qual só existia sombra?

“Isto é claro - diziam os navegantes -, que, depois deste Cabo, não há aí gente nem povoação alguma; a terra não é menos arenosa que os desertos da Líbia, onde não há água, nem árvore, nem erva verde; e o mar é tão baixo que, a uma légua de terra, não há de fundo mais que uma braça. As correntes são tamanhas que navio que lá passe, jamais nunca poderá tornar. E, por certo, não foi a eles o seu conhecimento de pequena escuridão quando o não soubessem assentar nas cartas por que se regem todos os mares por onde gentes podem navegar". [Gomes Eanes de Zurara, in “Crónica dos Feitos da Guiné”, capítulo VIII (Porque razão não ousavam os navios passar além do Cabo Bojador)].

E não tinha sido um português que, ao serviço do seu país, queria dar a “volta ao mundo”? E que só não o fez, porque o seu soberano tinha outras prioridades? E não tinha sido esse povo, que na sua pequenez havia desafiado “tudo e todos”? E não era esse povo que estava agora na mó de baixo, porque estava subjugado?

Que estranho cruzamento de povos e culturas. Um que não se queria subjugado e continuava a querer manter, sob a sua bandeira, os territórios “cujo achamento tinham feito”; os outros, do qual até os primeiros se tinham tornado independentes, há séculos, se ufanava que de tinham terras em todos os continentes. O mundo quase esqueceu, ou esqueceu mesmo, que Portugal existia e que, apenas, se encontrava privado da sua independência e, portanto, há que tentar conquistar pelas armas aquelas terras, que além de terem sido regadas por sangue português eram alvo de inveja, como na altura se provou, e o que futuro havia de provar, por mais vezes nos trezentos e trinta e cinco anos seguintes.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Uma das primeiras atitudes a ter, por um invasor, é neutralizar as suas forças de defesa, pela extinção das mesmas ou o seu deslocamento para zonas estranhas aos seus elementos, de forma a ficarem “isoladas” e, portanto, a desmotiva-las a qualquer insurreição ou revolta. E isso tinha acontecido a Portugal. O seu exército havia “desaparecido” porque os seus elementos se tinham aliado ao invasor ou, porque aqueles que se opuseram foram sendo afastados ou tiveram de refugiar-se noutras terras.

A realidade não era brilhante. Portugal não tinha soldados nem armas, pelo que foi uma dura tarefa. Mais uma vez este povo enfrentou uma guerra tremenda, que durou até 1668, altura em que a diplomacia internacional, nomeadamente por parte da Inglaterra, França e Roma, conseguiram que fosse assinado o Tratado de Lisboa a 13 de Fevereiro de 1668, pondo fim a 28 anos de lutas entre Portugal e Espanha. Até a Holanda, que havia movido forte luta e ocupado parte do nosso império, quer no Brasil quer em África, mas cujas forças de ocupação foram desalojadas, se juntou à diplomacia internacional neste intento. É o velho ditado: “Se não os podes vencer, junta-te a eles”.

Apesar de haver grandes períodos em que, na história portuguesa, não se registam batalhas ou simples escaramuças, tal não quer dizer que não houvesse hostilidades, quer no reino quer nas suas possessões. Também não é intenção deste texto, nem seria local adequado, desenvolver as histórias da História, mas sim evocar o tema a que nos propusemos, “Os soldados não morrem, apenas tombam no campo da honra!”.

Nos anos de transição dos séculos XVIII para o XIX várias situações aconteceram e modificam a história, e de tal forma, que o período antecedido por estes factos, ficou na história como o Anterior Regime. A chegada de Napoleão Bonaparte ao poder em França e, as hostilidades sempre em aberto entre a França e a Inglaterra, a que se somou a derrota da esquadra francesa na Batalha de Trafalgar, em 21 de Outubro de 1805, ditaram que a França intentasse, contra a Inglaterra, o Bloqueio Continental, a que aderiram os países do Mar Báltico, e em que Portugal teria uma função muito importante, não só pela sua posição Ibérica mas, sobretudo, pela extensão dos seus territórios no Atlântico e no Índico. A intenção era não permitir a entrada dos navios ingleses nos portos dos países que aderissem ao bloqueio, asfixiando, assim, o poderio económico e comercial inglês.

A posição de Portugal era difícil. Tinha sido assinado, com a Inglaterra em 16 de Junho de 1373, o Tratado de Londres que, ao longo do tempo, veio sendo sempre revisto, ratificado e “contornado ao sabor dos interesses”. A indefinição de Portugal, ao tentar negociar com a Inglaterra secretamente, enquanto dava a entender à França a sua anuência, levou a que as tropas de Napoleão invadissem o nosso país, originando a retirada da Família Real e de muitos elementos da Corte, para o Brasil, em 27 de Novembro de 1807, ficando o governo do reino entregue a uma Junta Governativa do Reino, nomeada na véspera.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

As tropas francesas, comandadas pelo Coronel-General dos Hussardos Jean-Andoche Junot, entram pela zona de Castelo Branco, dirigem-se a Abrantes e seguem para Santarém, chegando a Lisboa em 28 de Novembro, mas a família real e a corte já se encontravam ao largo. Logo após a instalação das forças ocupantes ocorreram escaramuças, por parte da população de Lisboa e outras localidades, sempre reprimidas pelo invasor, com mais ou menos violência.

Esta invasão só termina, com a entrada em Portugal de uma força luso-britânica de cerca de 20.000 homens, sendo 6000 portugueses, sob o comando do General Artur Wellesley. Desembarcando junto à foz do Rio Mondego, dirige-se para Lisboa, recebendo reforços ao longo do percurso. Com a Convenção de Sintra, assinada em 30 de Agosto de 1808, é permitida a saída das tropas invasoras transportando, todo o que conseguiu saquear durante a sua permanência no país.

Para comandar uma segunda invasão a Portugal, é escolhido o Marechal Nicolas Jean de Dieu Suolt, cujas forças entram por Chaves em 12 de Março de 1809, seguem por Ruivães, Salamonde, Carvalho d’Este onde travam combate no dia 20, Braga e Porto, entrando na cidade em 29 de Março. Entretanto, entre o dia 18 de Abril e o dia 2 de Maio, há o combate pela defesa da Ponte de Amarante, onde os portugueses tiveram cerca de 1600 baixas entre mortos, feridos e prisioneiros.

A 12 de Maio Soult abandona o Porto dirigindo-se por Baltar, Guimarães onde se encontra com as forças comandadas por Loison, seguindo por Ruivães, Montalegre onde passa no dia 17 e retira-se para Ourense onde chega a 19 de Maio de 1809 e onde pode, finalmente, dar descanso às suas tropas. Mas Napoleão Bonaparte, o Grande Imperador, tinha uma obsessão louca por Portugal. Não só pelo apoio que estava a receber da Inglaterra, mas porque o povo enfrentou sempre, e de cabeça erguida, o invasor. Integrado nas tropas regulares ou actuando por sua conta e risco, em acções de sabotagem, pagando, muitas vezes, com a própria vida.

Por tudo isto e com o seu amor-próprio ferido, Napoleão tinha que lançar nova invasão deste pequeno reino. Nomeando o Marechal André Massena como comandante do exército invasor, confiou-lhe cerca de 65.000 homens, divididos por três corpos de exército, cargo que assume em Maio de 1810.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

Depois do cerco da praça espanhola de Ciudad Rodrigo, iniciado em 26 de Abril de 1810 e com o assalto final em 25 de Junho seguinte, a fortaleza só veio a cair no dia 9 de Julho, abrindo, assim, a entrada em Portugal. Em terras portuguesas, dá-se o Combate do Côa em 23 de Julho, sendo lançado o cerco da Praça de Almeida que durou até 28 de Agosto. Foi nesta praça que o invasor providenciou a alimentação do seu exército. Era normal o exército francês obter a sua alimentação pelo território por onde passava, mas em Portugal sempre houve o cuidado de contrariar este facto.

Massena deu ordem às suas tropas para avançar, em 15 de Setembro, fazendo-as seguir em direcção a Coimbra, mas as tropas comandadas por Arthur Wellesley estavam numa posição defensiva a norte desta cidade, na Serra do Buçaco, entre Penacova e Luso, onde se travou a Batalha do Buçaco, em 27 de Setembro de 1810, tendo as tropas invasoras cerca de 4500 baixas e as topas anglo-lusas sofreram 1252 baixas. Após a batalha as forças aliadas retrocedem em direcção a Coimbra, com o objectivo de depois atingirem posição nas Linhas de Torres Vedras.

Por onde passavam as tropas aliadas, iam aconselhando a população para retirarem, trazendo consigo o que lhes fosse possível transportar, destruindo tudo o que tivessem que abandonar e pudesse alimentar o inimigo, numa política de “terra queimada”. Os franceses contornaram por Norte, pela estrada de Mortágua e Mealhada. Ao passarem por Coimbra, os invasores encontraram bastantes víveres, mas devido ao saque desordenado, pouco lhes aproveitou.

Brigadeiro Jozé Maria das Neves Costa - Patrono do IGeoE
No ano de 1810, sob a orientação do engenheiro inglês Flether, trabalhou na construção das fortificações que constituem as Linhas de Torres Vedras.
© Foto: Instituto Geográfico do Exército

Entre Coimbra e as Linhas, ainda houve alguns combates significativos, entre a retaguarda dos aliados e a vanguarda francesa, em Pombal e Alenquer, até que a 11 de Outubro chegaram às Linhas de Torres Vedras, onde tiveram que parar, durante quatro semanas, aguardando uma hipotética ajuda em reforços.

Massena retrai as suas forças para Rio Maior e Santarém, enquanto envia um mensageiro a Napoleão, para pedir “ordens”. O mensageiro, o General Foy, foi escoltado à ida por um batalhão de infantaria e um esquadrão de cavalaria, com entre 500 a 750 elementos, mas no regresso foi escoltado por 1800 homens.

As tropas invasores passaram a retirar, tendo iniciada essa manobra na noite de 6 de Março, de acordo com a informação dada por um camponês, aos aliados. As tropas luso-britânicas vão no encalço do inimigo dando-se, em 11 de Março de 1811, o Combate da Redinha. A 22 desse mês, já o exército francês, em retirada, encontra-se entre e Guarda e Celorico. A 3 de Abril deu-se a Batalha do Sabugal e, a praça de Almeida que tinha ficado em poder dos franceses, é abandonada de 10 para 11 de Maio de 1811. As tropas invasoras seguem em direcção a Espanha.

(Continua)
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Nota de CV:

Esta é a primeira de três partes de um trabalho que o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), nos enviou em mensagem do dia 30 de Setembro de 2012

Guin é 63/74 - P10478: Tabanca Grande (364): Júlio Madaleno, tocador de guitarra, feicebuqueiro e agora grã-tabanqueiro, nº 582, ex-fur mil, CCAÇ 1685 (Fajonquito) e CCAÇ 2317 (Gandembel) (1967/69)

1. Mensagem de ontem, enviada pelo Júlio Madaleno [, foto atual à esquerda]:

Data: 3 de Outubro de 2012 19:27

Assunto: Ex-fur mil Júlio T S Madaleno,  Guiné 1967/69

Caro Luís Graça

Desde há 1 ano que intervenho no blogue mas parece-me que ainda estou despercebido, embora não ache que isso tenha grande importância.

Localizo uma minha primeira intervenção com uma referência vossa P9104, Agenda cultural (172) (*) e outra vossa, do Luís Graça para o GG (30/11/2011) (**).

Daí em diante faço umas visitas ao blogue e como tenho conta no facebook subscrevi a vossa da Tabanca e recebo as atualizações todas.

Quando o Idálio Reis apresentou o livro sobre Gandembel, intervi e ele até dialogou comigo por e-mail, pois que não nos víamos desde a Guiné. Também já descrevi o meu percurso militar nas CCAÇ 1685 e 2317 e uma tragédia cá, uns anos após a desmobilização, que me voltou a perturbar o sono.

Se for possível torna-me também tabanqueiro. Quero continuar ligado aos meus antigos camaradas de armas.

Um abraço do Júlio Madaleno, o tal que gosta de tocar guitarra,
______________

(*) Comentário de Júlio Madaleno, de 29 de novembro de 2011, ao poste P9104:

 (...) Dois dos [três] F [Fátima, futebol e fado], um respeito-o, outro causa-me ansiedade clubística. Quanto ao terceiro, amigos...ah quanto nos fazia reviver o que nos era querido e estava longe. Na altura tinha lá uma viola que nos ajudava nesses bocadinhos de nostalgia. Hoje sou intérprete de guitarra portuguesa. 

Só lamento não conseguir encontrar-me com rapaziada das 2 CCAÇ por onde passei, a 1685 e a 2317. 

Abraço a todos e viva o que os 3 F  ainda hoje simbolizam.


(**) O Júlio Madaleno deixou o seguinte comentário, com data de 10 de abril de 2012, ao poste P9726 (*):

Velhos companheiros:

Certamente não vos lembrais de mim porque fiz uma efémera passagem pela [CCAÇ] 2317 quando quis o destino que fosse substituir o fur mil Alves devido à infelicidade que o vitimou.

O meu nome é Júlio Madaleno e operei o tal morteiro 120 que lá foi colocado e estava instalado na parte de trás do abrigo da Browning. Pelas frequentes consultas que faço ao blogue estou informado do livro do amigo Idálio Reis e do almoço programado para 9 de junho [, data do convívio do pessoal da CCAÇ 2317, em Paredes ], onde vou tentar estar presente para rever antigos camaradas de armas.

Um grande abraço do ex-fur mil J M
juliomadaleno@gmail.com

(No Facebook,  identificável em foto com guitarra).

2. Comentário de L.G.:

Júlio:  Que a tua vontade seja cumprida: "Se for possível torna-me também tabanqueiro. Quero continuar ligado aos meus antigos camaradas de armas"...

Sê bem vindo, camarada, mais uma e outra vez!... Já há tempos, em 12 de agosto de 2009, nos apareceu aqui a filha, Lídia Gonçalves,  de um camarada teu, e nosso, que esteve contigo na CCAÇ 1685 (Os insaciáveis), nos anos de 1967/69. O seu nome era José Manuel Costa Gonçalves, 1º cabo mecânico auto rodas. É provável que não te lembres... Havia 150 homens numa companhia...

A outra (e última) referência que temos à tua antiga companhia, a CCAÇ 1685, reza assim: 

(...) CCaç 1685, comandada pelo Cap Inf Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do BCaç 1912, e mobilizada em Évora no RI 16: assumiu a responsabilidade do subsector de Fajonquito, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, e vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968. (...). 

Certo ? Confirmas ? Acontece que não temos  cá ninguém desta companhia, se não erro... Tu serás pois o primeiro e digno representante dos Insaciáveis. Quanto à CCAÇ 2317, já é mais familiar aos nossos leitores, devido ao seu heróico comportamento em Gandembel e em Balana, e ao livro do Idálio Reis.

O que é que te falta para cumprir as NEP do blogue ?... Manda uma ou mais fotos do antigamente e conta um pequena história... Precisamos de saber mais umas coisas sobre as tuas andanças pelo TO da Guiné.... Quanto à guitarra, um dia destes temos que ouvi-la!,,, 

Passas a ser o grã-tabanqueiro nº 582. Parabéns!

Guiné 63/74 - P10477: Parabéns a você (477): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont Metral da CART 2732 (Guiné, 1970/72)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10471: Parabéns a você (476): Carlos Prata, Coronel Reformado (Guiné, 1973/74) e Hélder Sousa, ex-Fur Mil (Guiné, 1970/72)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10476: (Ex)citações (197): Carta aberta a Tony Borié (Belmiro Tavares)

1. Em mensagem do dia 28 de Setembro de 2012, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos esta carta aberta destinada ao outro nosso camarada Tony Borié:


Lisboa, 28 de Setembro de 2012

Caro Tony Borié,
Depois de uns dias de férias no Centro-norte do país (a Troika não permite mais), eis-me de regresso às lides rotineiras. Apenas hoje tive oportunidade de ler o teu comentário (1) ao texto sobre o Engrácia, um digno soldado do meu pelotão. Obrigado!

Nunca escondi de ninguém que eu era rigoroso com os meus soldados; quer no cumprimento de horários, quer no seu comportamento individual, quer ainda no seu relacionamento com outros soldados ou com os seus superiores. Fui sempre muito exigente, mas eu dava o exemplo! Nunca ordenei aos meus subordinados que fizessem o que eu não fazia.

À primeira falta, eu, normalmente, não atuava a não ser que fosse muito grave; avisava e explicava pormenorizadamente as minhas razões; à segunda raramente não castigava. O oficial, comandante de homens, também deve ser, penso eu, um educador. Tenho a certeza que nunca fui injusto na aplicação de qualquer castigo – corporal ou não – porque na dúvida, não actuava disciplinarmente; sem dar a entender que me tinha apercebido que alguém teria prevaricado, eu conversava sobre determinada falta (a tal) e que deviam ter cautela com o seu comportamento. Eles logo entendiam que alguém teria pisado o risco.

Nunca castiguei um soldado “à ordem” – isso só podia acontecer in extremis – porque era um ferrete que o acompanharia durante toda a vida e prejudicava-o tremendamente, como bem sabes. O meu pelotão foi o único da gloriosa CCaç 675 que não teve problemas disciplinares graves até ao final da comissão.

Os meus homens tinham plena liberdade de me alertar, respeitosamente, se entendessem que eu não tinha agido corretamente; eu tinha de descalçar a bota. Um dia em pleno mato, na fase final de uma “batida”, mal eu subi para a viatura, um soldado que foi sempre muito frontal, mas educado, perfilou-se e pediu-me licença para me interpelar; eu respondi afirmativamente, e ele desabafou:
- Nós temos um alferes para nos comandar em qualquer situação; não queremos sair com qualquer outro oficial, a não ser que o nosso comandante esteja impedido de o fazer. Se tal voltar a acontecer, nós decidiremos se saímos ou não com outro, arriscando as consequências da nossa decisão.

Aceitei, respeitosamente, a “reprimenda” e de seguida, expliquei:
- O nosso alferes sentiu-se mal e eu aceitei sair com o seu pelotão por respeito aos seus soldados, pois não gosto que um pelotão vá para o mato sem alferes; não houve tempo para vos avisar que eu ia sair com outro pelotão e que vocês sairiam com outro oficial que não eu. Apenas exigi ao nosso alferes que teria de vos comandar nas viaturas para “recolher” aqui os que fizerem a “batida” pois não aceitava que o meu pelotão saísse do quartel, mesmo que apenas na coluna auto, sem um oficial.
- O problema é que nós fomos apanhados de surpresa, mas já está tudo esclarecido! - Comentou outro soldado.

Eu dava tudo pelos meus soldados e continuo a dar; mas sabia e sei ainda que o contrário, era também verdadeiro.
Um dia, em Bissau, fui informado que um cabo do meu pelotão estava na prisão, na companhia de adidos; fui logo de táxi para o quartel.

O 1.º Cabo A. F. Santos, encontrava-se dentro de uma cela… de porta aberta; mas um soldado com uma G3 na mão vigiava-o no seu cubículo. Ele era acusado de ter assaltado a cantina; ele negou perante mim ter sido o autor do assalto e isso bastava-me! Eu confiava nele!

De cabeça meio perdida procurei o capitão (um oficial do serviço geral) e transmiti-lhe que ele não podia manter o meu soldado na prisão. Se o assunto não fosse sério, a resposta do capitão até seria cómica:
- Ele não está preso! A porta da cela está aberta!

Perdi as estribeiras! Abri a boca e saíram asneiras em catadupa. Ele, porém, não teve coragem para agir disciplinarmente contra mim.

Quando lhe transmiti que eu só aceitava que o Santos fosse autor do assalto se ele confessasse, o capitão riu-se descaradamente. A sua resposta condizia perfeitamente com a sua mentalidade:
- São todos iguais! Roubam e negam, enquanto podem!

No dia seguinte - nem eu sei como - o verdadeiro assaltante foi detetado e não era o Santos. Desabafei de novo com o capitão… mas a asneira estava feita.

Um dia um soldado comunicou-me que o alferes X lhe deu uma bofetada.
- Porquê !?
- Eu estava a “massajar” uma preta, mas ele estava a fazer o mesmo com outra.
- Foi mesmo assim? - Perguntei.
- Foi tal e qual, meu alferes!

Falei com o outro oficial que me respondeu:
- Ele estava a apalpar uma preta!
- O mesmo que tu fazias! Ficas a saber que se voltares a agredir um soldado meu e acima de tudo sem motivo, ver-me-ei obrigado a agredir-te também.

Outra vez a companhia de Adidos. Eu estava na consulta externa – otorrino – e fazia serviço naquela companhia. Um 1º cabo da minha companhia perguntou-me:
- Oh meu alferes! No mato nós temos lençóis! Porque será que aqui não os temos?! - Fiquei surpreendido, mas era verdade!

O capitão já não estava na companhia. Perguntei ao 1.º Sargento se na companhia não havia lençóis para os praças. Ele respondeu que havia, mas que o capitão “mandou guardá-los porque os soldados não os merecem”.

Ordenei ao 1.º Sargento que preparasse tudo para distribuir lençóis imediatamente às praças que os quisessem.

No dia seguinte tive de aturar o capitão, mas pus termo à conversa como segue:
- O meu capitão deve exercer os seus poderes disciplinares, participe! E não se preocupe com o que possa acontecer-me! Não será difícil defender-me!

Isto já vai longo! Mas só mais uma pitada!

De maneira alguma levaria a mal o teu comentário! Eu exponho-me com a verdade dos factos! Nunca escondi o meu comportamento; passei a falar mais disto quando vi duas causídicas ficar assustadas, surpresas, de cabelos em pé por eu lhes ter declarado que castiguei corporalmente alguns soldados menos bem comportados. Mais um cheirinho: na CCaç 675 os soldados comiam razoavelmente bem. Talvez em nenhuma outra companhia “do mato”, os soldados comessem tão bem como os nossos. O cozinheiro deles era um profissional – era 2.º cozinheiro num hotel do Porto -; um soldado, pescador, em Peniche, cozinhava para oficiais e sargentos.

Quanto a matas, bolanhas, emboscadas e quejandos, os soldados da CCaç 675, não ”levavam“ mais que os oficiais e sargentos que sempre os acompanhavam; a dose era a mesma para todos.

A conversa é como a cerejas… é preciso travar às quatro… ou nunca mais acabo.

Na fase final da comissão, um alferes da CCaç 675 – a gloriosa – repreendeu asperamente um soldado que reagiu grosseira e insolentemente. O alferes agrediu-o, quanto a mim tarde de mais; o soldado ripostou e engalfinharam-se. Não foi necessária a minha intervenção. O alferes dominou a situação e aplicou-lhe um castigo tão severo… que me recuso a citá-lo.

Imaginei que ia haver complicações o que agravaria as circunstâncias. Cerca de meia hora mais tarde decidi dar uma volta pelo aquartelamento, para me antecipar a qualquer surpresa. Mais vale prevenir que remediar! Foi sempre – e ainda é – o meu lema.
Uns tantos soldados conversavam acaloradamente no refeitório, a briga era o tema.

A meia noite aproximava-se; abeirei-me do grupo e comentei:
- Tanta gente sem sono?! Eu também não tenho! Por isso ando por aqui!

Um dos meus soldados, ali presentes, perguntou-me:
- O meu alferes acha justo o que está a passar-se?
- Passa-se tanta coisa, por aqui, meu rapaz! A que te referes?

Era mesmo o que eu pensava! Tomei a iniciativa:
- Os soldados do meu pelotão não têm que meter o nariz naquilo que não lhes diz diretamente respeito. Assim sendo, o meu pessoal deve ir já para a cama.

Todos se dirigiram à caserna, mas o mesmo soldado comentou, meio zangado:
- Isto não podia acontecer! Temos de tomar uma atitude!
- Oh Pinela! Vem cá! Como é que tu tentas mostrar, agora tanta valentia e há dias na emboscada em “tal parte” escondeste-te atrás do teu medo e só não foste abatido porque o guerrilheiro tinha a espingarda em segurança e entretanto foi abatido. Vai deitar-te e não te metas onde não és chamado!

Sem resposta ele dirigiu-se à caserna.

De seguida, perguntei se havia ali mais alguém que não fosse do pelotão em causa. Três ou quatro levantaram-se e eu aconselhei-os a ir dormir, pois pretendia conversar apenas com os soldados mais diretamente ligados ao caso.

Conversei com cerca de dez praças; contei o que tinha acontecido e que eu presenciara; transmiti-lhes que comigo o soldado teria “levado” mais cedo mas que considerava o castigo exagerado. Contei tudo com tal minúcia que não deixei grande margem de manobra aos ouvintes. Consideraram que, na verdade, estavam decididos a agir erradamente, etc etc.
Convenci-os a ir dormir e que colocassem uma pedra sobre o assunto.

Solicitei, no entanto, a um cabo ali presente, que ficasse comigo mais um pouco. Sugeri-lhe determinada actuação, mas que não podia falhar. Juntos conversámos com o soldado castigado. A minha proposta foi cumprida… em rigoroso sigilo. E por aqui me fico. Transmiti-lhe que se algo corresse mal… eu assumia a responsabilidade. Quer o soldado castigado, quer o cabo por mim envolvido no assunto nunca compareceram nas nossas reuniões… por razões díspares; nunca descobri o paradeiro do cabo.

Creio que ficou demonstrado que o relacionamento com os meus soldados não era mau de todo. Bem ou mal não me arrependo do que fiz; a intenção era boa! Os meus soldados sempre mostraram que não ficaram zangados.

Se tiveres paciência, lê o meu texto, “ser ou não ser disciplinado” – está no blogue! (2) Não o cito aqui para não me repetir. É interessante, digo eu!
As minhas desculpas por tanta parra! Só mais um toque: há 46 anos, eu organizo as reuniões anuais da minha muito querida CCaç 675… e muitas minis pelo meio.

Há anos temos vindo a colocar lápides, nas sepulturas dos nossos mortos: os três que faleceram na Guiné cujos os corpos foram entregues às famílias a expensas nossa e 38 que faleceram depois da guerra.

A CCaç 675 foi ímpar e continua a sê-lo! Mais bofetada ou menos… valeu a pena!

Um grande abraço!

PS1 - Se vives em Lisboa ou na zona passa um dia pelo Hotel Dom Carlos Park e tomamos um copo. Fica na Av. Duque de Loulé, 121 – mesmo ao lado do Marquês!

PS2 - Creio que não pertences ao blogue… o teu nome não está na lista; e tratas-me por “você”. Aqui é “tu cá… tu lá…” como dizia a Cilinha S. P.
____________

Notas de CV:

(1) Comentário de Tony Borié no poste Guiné 63/74 - P10378: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (27): O "Engrácio" de 13 de Setembro de 2012

Caro Belmiro.
Gostei da história, é uma homenagem ao "Engrácio".
Não sei se, ao mencionar: "dei algumas bofetadas e pontapés aos meu soldados...", está a fazer uma confissão, ou se é um desabafo, pois como deve de saber, havia outras maneiras de colocar o pessoal no devido lugar, a violência, gera violência, e no caso já chegava aquela que sofriamos dos guerrilheiros. Esteve em 64/66, foi no meu tempo, e vejo que afinal não era só em Mansoa, que se batia nos soldados.
Pobres soldados, levavam em tudo, era no comer, no corpo, nas matas, nas bolanhas, enterrados na lama e na água, nas emboscadas, era difícil ser soldado.
Não leve a mal este comentário, pois isto é conversa entre combatentes, e longe de mim, ofender.
Um abraço e escreva mais.
Tony Borie

(2) Vd. poste de 17 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7001: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (3): A(s) Disciplina(s): Ser ou não ser... disciplinado, eis a questão

Vd. último poste da série de 28 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10451: (Ex)citações (196): Um funeral balanta, em Barro, no tempo da CART 2412 (1968/70) (Adriano Moreira)

Guiné 63/74 - P10475: Blogpoesia (306): S. T. T. L., Sit tibi terra levis!... Que a terra da tua Pátria, ao menos, te seja leve!.. (Luís Graça)


[Imagem à esquerda: Guernica, de Picasso, 1937. Óleo sobre tela, 349 cm × 776 cm. Museu Rainha Sofia, Madrid, Espanha... 

Imagem do domínio público: Cortesia da Wikipedia.]




S.T.T.L... Sit tibi terra levis!... Que a terra da tua Pátria,
ao menos, te seja leve!

por Luís Graça



1. Um dia até as pombas da paz do Picasso
repousarão no museu da guerra.

Em relicários,
de aço.
Mais as moscas,
regressadas dos campos de batalha,

que ficarão lá espetadas em alfinetes
nos respetivos mo(n)struários.

As moscas.
Exangues.

Cobertas de terra.
E a merda das moscas,

liofilizada,
como os grelos que comias na noite de Natal,
a merda agora elevada à categoria
de artefacto cultural.

Um dia ouviste um coronel, 

veterano,
dizer, sem rancor nem fel
(mas nunca viste isso escrito na Ordem de Serviço):
 Chiça!, sempre mais vale uma mosca na sopa
do que um míssil na cozinha.


A tua guerra foi tacanha.

Foi uma guerrinha,
de baixa intensidade,
assegura-te o escriba, submisso,
agora garboso historiador oficial.
Não viste mísseis a cruzar o Geba ou o Corubal,
mas milhões de insetos caíam-te na sopa.

Salgada,
da água da bolanha.
Fria.
Desconsolada.

A responder-lhe,
ao veterano,
seria com a célebre frase de um  general prussiano
(um general das guerras napoleónicas,

ainda por cima prussiano,
sempre é mais ovoestrelado 
do que um coronel do exército colonial):
– A guerra não é mais do que
a continuação da política de Estado
por outros meios. 

Fim de citação. 
Ponto final.
Siga a Marinha.
Até ao Terreiro do Paço. 

2. De megafone em punho,

o guia-mor do museu,
antigo combatente
maneta, 
o olhar baço, 
o peito ainda ardente, 
fala-te da arte e da ciência da guerra.
E da importância que é devida
aos detalhes
de barba.
Lá estava o aviso exposto na tua camarata:
– Mais vale perder um minuto na vida,
do que a vida num minuto.
Confessa, camarada,
que nunca chegaste a perceber
por que é que o soldado tem que ser tosquiado.
E ir ao encontro da deusa da morte... devidamente ataviado.

3. Faltou-te sempre a visão do todo,
que, para um estratega, 
bem escanhoado,
como o teu major de operações,
só podia ser maior do que a soma dos detalhes.
A única filosofia de vida,

de vida sem liberdade,que tu ouviste,
foi na tropa,
ao teu tenente de instrução da especialidade 

de atirador de armas pesadas de infantaria.
Começava em porcaria, 
e rimava com morte.
Era cínica e dissolvente,
como qualquer vulgar detergente
de cozinha:
- A merda é o adubo... da vida;
é fazendo merda, que tu aprendes;
e sobretudo nunca te esqueças
que é com a merda dos grandes,
que os pequenos se afogam.



À quinta feira, 
recordas-te ainda tão bem,
depois da feira do gado vacum, 
em Tavira,
fazia-nos, à malta do nosso pelotão,

rastejar na bosta,
enquanto ele gania como um cão
debaixo da janela da sua amada.  
É por isso que ainda hoje 
nem tu nem eu gostamos... de xarém.

4. Na tropa-do-um-dois-três-e-troca-o-passo

nunca soubeste
onde ficava o norte,

meu desgraçado!
Nem nunca soubeste pôr ao pescoço o baraço.
Nem fazer o nó à gravata.
Nem onde pôr a mão esquerda.
Nem o ombro arma,
a arma no ombro
ou o ombro na arma.

Nem fazer o pino.
Nem adivinhar a hora da sorte.
Nem sequer fazer um manguito de bravata.
Nem por isso te chumbaram,
coitado.

Depois um dia, no meio da guerra,

quiseram mandar-te para a psiquiatria,
o que era estranho,
porque o RDM,
em todo o seu articulado,
não previa a figura do inimputável 
nem a do cacimbado
(muito menos  a do psicopata... do major).
 Deem-lhe um valium dez,
metem-no numa camisa de forças. –
gritou o comandante das tropas em parada
ao médico, amável, 
ao enfermeiro, calado que nem um rato,
ao maqueiro, rapaz cortês:
– Sempre é mais cómodo e barato
do que embrulhá-lo em papel selado!

5. Prometeram-te depois um mundo melhor,

porém chato, chatíssimo,
com escudo de proteção 
e seguro contra todos os riscos;
não te disseram onde,
nem quando,
nem a que preço.
Descobriste que era tarde
e longe do planeta

e caríssimo.

 6. Ter a consciência limpa,

ó meu... sacana ?!
Para ti, é ter a memória com as baterias em baixo.

–   Por favor avisa-me, camarada,
quando elas estiverem a cinco por cento.
Quero fazer 'reset' das minhas memórias da Guiné.


Procuras, além disso, uma mão ?
– Direita, 
com cinco dedos,
disposta a ajudar
o meu pobre braço.
Esquerdo.
Decepado.
Dou alvíssaras,

estou disposto a pagar
com o American Express Card.
Golden, claro!


7. Morrer é 

quando tu chegas um beco sem saída
e não tens um kit de salvação.

Morrer em Nhabijões,
em Madina do Boé,
em Gandembel,
em Mampatá,
na Ponta do Inglês,
em Gadamael
ou em Missirá
... ou no Pilão, numa cena canalha,
tanto faz.
A morte não tem SPM.
E quem morre,  morre de vez,
quer mortalha,
e sobretudo quer que o deixem em paz!

8. A vida com a morte se (a)paga.
Há sempre moscas à espera
do teu cadáver,

mesmo seco e magro.
E jagudis.
E formigas bagabaga.

E um dia aziago.
E um primeiro sorja da CCS que te põe os pontos nos ii.
E um capelão que te fecha os olhos, 
com extrema unção e compaixão.
E um coveiro que te prega as tábuas do caixão.
– Não me perturbem o sono eterno! –,
podia ser o teu epitáfio,
ó tuga dum carago!

9. A prática, dizem-te, leva à perfeição,
exceto no jogo da roleta russa

que jogavas nas picadas da Guiné,
a G3 contra a Kalash,
a pica contra o fornilho,
o coiro, encardido,  contra o Erre-Pê-Gê.
Por isso tu vivias cada dia,
como se aquele fosse
o único que te restasse

no calendário de parede,
no teu abrigo,
grafado com gajas nuas.
E muitos traços, em conjuntos de sete, 
marcando a eternidade de uma semana, 
ou de um mês:

Cada dia era o primeiro, 
o único, 
o original, 
o irrepetivel,
no jogo da vida e da morte!
E todos as manhãs fazias o teste do dedo grande do pé esquerdo,
o do joanete,
o dos calos,
o das bolhas,
o da unha encravada,
o das pisadelas,
o mais azarento, 
o rebenta-minas!

10. Não sei se o pintor de Guernica 

(ou Gernika, que o topónimo é basco),
gostaria de ter conhecido
Adão e Eva
no Paraíso.

Ou a Terra Prometida quando era rica,
e nela corria então o leite e o mel,
mais o ouro, o incenso e a mirra.
Deve ter achado que 
esteticamente o Inferno
dava muito mais... pica.





PS - Aqui vai, para a comissão de ética,

 a tua declaração de conflito de interesses:
– Não conheço nenhum museu da paz,
apenas este,  o da guerra.

Nada sei de estética.
Não sou columbófilo.
E muito menos fã do Picasso. 


Já agora escreve, 
no teu testamento vital,
a tua última vontade, 
o teu desejo final:
Quando eu morrer, camaradas, 
que a terra da minha Pátria, 
ao menos, me seja leve!

_____________


Nota do editor:


Último poste da série > 2 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10466: Blogpoesia (305): O helicóptero (Jorge Cabral, Missirá, 1970)

Guiné 63/74 - P10474: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte I): De Oliveira de Azemeis a Bula e Empada


1. Mensagem, de hoje, do nosso camarada da diáspora Manuel Serôdio, que vive em Rennes, capital da Bretanha, França, e com quem há dias falei ao telefone, dando-lhe as boas vindas à nossa Tabanca Grande... Ele ainda está a familiarizar-se com as ferramentas da Internet:


Por vezes é mais simples escrever, que dizer de viva voz, o que nos vai no íntimo, assim aproveito a oportunidade que me é dada, para escrever neste blog, um pouco da minha existência e dar a conhecer aquilo que todos nós, ex-combatentes, temos bem presente ainda no nosso espírito - o tempo passado no serviço militar, e principalmente o serviço efectuado em terras de África.

Cada um de nós sentiu na pele os efeitos de uma guerra que não pediu, os efeitos por vezes desastrosos na saúde, e o abandono a que fomos colocados. 


Guiné > Região do Cacheu > Bula > 1967 > População local

 Tomar > Regimento de Infantaria 15 > 967. Em pé, a contar da esquerda: Furrieis Silva, Freitas, Dayves; alferes Beirante, Alberto, Costa, Vairinhos. Em baixo, a contar da esquerda: Furrieis Marques, Monteiro,. Aires, Brito, Henriques, Serôdio.

Fotos: © Manuel Serôdio (2012). Todos os direitos reservados.


1. Manuel de Almeida Andrade Serôdio, ex-Furriel Miliciano na então província da Guiné, CCAÇ 1787, nosso recente membro da Tabanca Grande (*)::

(i) nasci a 21/10/1944 em Oliveira de Azeméis, mais precisamente no lugar de Moinho do Meio;

(ii) após uma infância e adolescência despreocupadas, entrei na vida adulta, e rapidamente, a 7 de Julho de 1964, e com o n° 53, fui declarado apto para o serviço militar, ou por  outros termos, pronto para pegar em armas;

(iii) 16 de Maio de 1966: pela primeira vez entrei na porta de armas de um quartel militar, o  Regimento de Infantaria n° 5, em Caldas da Rainha;

(iv)  Após três meses de recruta fui enviado para Tavira, o CISMI onde cheguei a 21 de Agosto de 1966;

(v) A  28 de Novembro do mesmo ano, no final do curso, fui mais uma vez enviado para outras paragens, desta vez para o Regimento de Infantaria n° 6, no Porto;

(vi) E o tempo corria tranquilo até que...  a mobilização chegou; destino a Guiné, com passagem por Tancos, afim de tirar o curso de minas e armadilhas, findo o qual tinha que me apresentar no Regimento de Infantaria n°15, Tomar, para formar o Batalhão;

(vii)  18 de Junho de 1967:  passei a porta de armas, para fazer conhecimento com todos os camaradas que a partir desta data e até ao final do tempo de serviço, iriam partilhar da minha vida, e eu da deles; dentro de bem pouco tempo, tínhamos uma viagem à nossa espera, o que para alguns seria uma viagem sem regresso.


História da Companhia de Caçadores 1787 / Batalhão 1932


A concentração do pessoal da Companhia iniciou-se em 18 de Junho de 1967, no Regimento de Infantaria n°15, em Tomar. Ali frequentou a instrução da sua especialidade.

Na generalidade o pessoal da Companhia era oriundo do Norte do País.

As principais efemérides ligadas à vida da Companhia foram as seguintes;


(a) 14 de Agosto de 1967 - Início do IAO na região do Agroal, situada entre Tomar e Vila Nova de Ourém;

(b) 11 de Setembro de 1967- Início do gozo da liçença das Normas Reguladoras do Decreto-lei n° 
42937, de 22/04/1960, finda a qual o pessoal se apresentou no CIM em Santa Margarida.

(c)  25 de Setembro de 1967- Continuação do IAO no CIM; 

(d) 26 de Outubro de 1967 - Cerimónia da benção e entrega dos guiões às unidades a embarcar, seguida de missa na igreja do CIM; 

(e) 28 de Outubro de 1967 - Embarque em comboio especial na estação de Santa Margarida pelas 2 horas, com destino a Lisboa, Cais da Rocha; após a chegada ao Cais da Rocha, procedeu-se à cerimónia da despedida e ao desfile, seguindo-se o embarque no Uíge pelas 12 horas.

(f) 2 de Novembro de 1967- Chegada a Bissau e desembarque das nossas tropas;  a CCAÇ 1787 permaneceu na Companhia de Adidos até 15 de Novembro de 1967, data em que marchou para Bula, afim de fazer o treino operacional, e de onde regressou à Companhia de Adidos em 6 de Janeiro de 1968;

(g) 20 de Janeiro de 1968 - Partida para Empada, via Bolama, tendo a Companhia saído desta última localidade em 22, 23, e 24 de Janeiro de 1968.

(Continua)
_________

Nota do editor:


(*) Vd. poste de 14 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10381: Tabanca Grande (360): Manuel Serôdio, mais um camarada da diáspora, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (Bula, Bissau, Empada, Buba, Quinhamel, 1967/68)

Guiné 63/74 - P10473: Tabanca Grande (363): Veríssimo Ferreira, natural de Ponte de Sôr, ex-fur mil, CCAÇ 1422 (Farim, Mansabá, K3, 1965/67)





Guiné >  Região do Oio >  CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858   (Bissau, Bula, Saliquinhedim/K3, 1965/67) >  O fur mil Veríssimo Ferreira em Mansabá, Setembro de 1965


Fotos:   © Veríssimo Ferreira (2012). Todos os direitos reservados.


1. Em 30 de setembro último, na página da Tabanca Grande no Facebook, o nosso camarada Veríssimo Ferreira manifestou a sua vontade de integrar o nosso blogue e colaborar ativamente na preservação e divulgação das nossas memórias, enquanto combatentes na Guiné:


Caros Senhores Luís Graça, Carlos Vinhal e Eduardo Ribeiro:

Pretendo ser dos 600 "antes do fim do ano" e, assim sendo e porque continuo com dificuldades (burro velho aprende...mas demora) em seguir o caminho normal e recomendado, solicito-vos o seguinte: 
Enviaria para aqui as duas fotos e uma 1ª história e os amigos extrairiam para o blogue.

Pode ser?


Abraços, Veríssimo Ferreira [, foto à esquerda, em Loures, em 1980, vestido "à homem grande"]


2. Os melhores 40 meses da minha vida > Introdução


Após alguns anos a procurar não recordar memórias que incomodavam, resolvi agora fazê-lo e em relação ao tempo prestado na vida militar. Sim. Porque eu fiz o serviço militar, e com honra, cumpri o meu dever.

Certo é que poderia ter desertado e hoje seria considerado "um senhor",  com chorudas reformas e sem nada ter descontado ou trabalhado. 

Certo é que poderia ter "fugido com medinho" para França e ter tocado xilofone, nas ruas e hoje seria um herói, aqui nesta terra que amo e que se chama e chamará Portugal. 

Certo é que poderia ter tido uns pais ricos (mas não...os meus pais sempre foram pobres...mas muito...muito honestos e trabalhadores), pais ricos esses que me mandariam para Londres e hoje eu seria ainda o verdadeiro artista, aplaudido mesmo que não tocasse ou cantasse. 

Só que não!!

O que sou é mal visto quer pelos políticos de ontem, quer pelos d'agora, pois que combati...mas não fugi e estou-me verdadeiramente nas tintas para tais gentes, se é que são gente.  

De nada me arrependo e comigo estão centenas de milhares de veteranos que, tal como eu, cumprimos e sofremos uns mais outros menos, mas que hoje somos uma irmandade e rimos...e lastimamos cada vez mais o desprezo e a sobranceria, com que, repito, "tais gentes, se é que são gente" nos pretendem marginalizar.

Estes maus filhos da Pátria (saberão o que é a Pátria ? acho que sabem apenas o que são Euros), por muitas honrarias que tenham após o 25 do 4, nunca conhecerão o que foi ter disparar para não morrer. Mas desejo que a terra lhes seja leve, antes porém deviam fazer um acto de contrição, embora "perdão",  para estes, seja palavra que não quero saber o que significa. (...)


(Continua)

3. Comentário do L.G.:


Meu caro Veríssimo Ferreira:  

Senhores,  todos somos, e grandes senhores!... Na Tabanca Grande tratamo-nos por tu, como camaradas que fomos e continuamos a ser. É pressuposto conheceres e aceitares as nossas 10 regras de convívio: consulta aqui o Nosso Livro de Estilo

Dás-nos a honra da tua presença, engrossando as fileiras do nosso blogue, com os seus quase  600 magníficos,  camaradas e amigos da Guiné. Serás o grã-tabanqueiro nº 581 e o teu nome passará a figurar no nosso quadro de honra, que vai de A a Z (vd. coluna do lado esquerdo da página de rosto do blogue). Depois de ti, faltarão apenas 19 para chegarmos às 6 centenas. 

Já recuperei as tuas fotos, na tua página no Facebook. Preciso apenas um endereço de email para a gente se comunicar internamente. Contactas connosco através do nosso email oficial:
luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com. 

Sei que já fizeste muitas coisas na vida, e que agora gozas a tua merecida reforma. Que és pai e avô. Que nasceste e viveste em Ponte de Sôr até à tropa. Que trabalhaste na tesouraria da fazenda pública local. Que tiveste um conjunto musical. Que foste para a Guiné como furriel miliciano, integrado na CCAÇ 1422. Que andaste pela região do Oio (Farim, Mansabá, K3), nos idos anos de 1965/67. Que, depois da peluda, foste bancário, mas também árbitro de futebol... E, por fim, que vives em Loures. 

Registe-se a propósito da CCAÇ 1422, de que tu és o primeiro representante no blogue:

(i) foi mobilizada pelo RI 15;

(ii) partiu para o TO da Guiné em 18/8/65 e regressou a 15/4/67; 

(iii) andou por Bissau, Bula, Saliquinhedim ou K3);  

(iv) comandantes:  cap mil  inf Diniz Alberto de Almeida Corte-Real;  alf mil  inf António Fernando da Cruz Macedo; cap inf Daniel Andrade de Carvalho.

O BCAÇ 1858, por sua vez,  esteve em Bissau, Teixeira Pinto e Catió. e conheceu 3 comandantes (ten cor inf Manuel Ferreira Nobre da Silva, ten cor cav Francisco José Falcão e Silva Ramos; ten cor inf António Veiga Fialho). Além da CCAÇ 1422, pertenciam a este batalhão a CCAÇ 1423 (Bolama, Empada, Cachil)  e a 1424 (Bolama, Cachil, Guileje, Sangonhá, Bissau)

 Em meu nome, dos demais editores, colaboradores e membros da Tabanca Grande, és bem vindo e recebido de braços abertos. Vamos seguir a série a que tu próprio chamaste Os melhores 40 meses da minha vida... Senta-te à sombra do fraterno e mágico poilão da nossa Tabanca Grande e conta-nos a(s) história(s) desse tempo, que nós seremos todos ouvidos...
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Nota do editor

Último poste da série > 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

Guiné 63/74 - P10472: Agenda cultural (219): Lançamento do livro de Julião Soares Sousa, "Guiné-Bissau: A Destruição De Um País", dia 5 de Outubro de 2012, pelas 18h45 na FNAC do Colombo, Lisboa


LANÇAMENTO DO LIVRO, DE JULIÃO SOARES SOUSA, "GUINÉ-BISSAU: A DESTRUIÇÃO DE UM PAÍS", DIA 5 DE OUTUBRO DE 2012, PELAS 18H45, NA FNAC DO COLOMBO, LISBOA




Julião Soares Sousa* é guineense (Guiné-Bissau). Licenciou-se em História pela Universidade de Coimbra em 1991, concluiu o Mestrado em 1996 e o doutoramento na mesma Universidade em 2008.

É o primeiro guineense a concluir o Mestrado e o doutoramento na Universidade de Coimbra. Atualmente é Investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra.

Entre algumas das suas publicações destacam-se: Amílcar Cabral (1924-1973). Vida e morte de um revolucionário africano (Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História Moderna e Contemporânea, da Academia Portuguesa da História (2011); “Os movimentos unitários anticolonialistas (1954-1960). O contributo de Amílcar Cabral”, in Estudos do Século XX, 3, Coimbra, 2003; Um Novo Amanhecer, Coimbra, Minerva, 1996; “Amílcar Cabral: do envolvimento na luta antifascista à manifestações de tendência autonomista no Portugal do pós-Guerra (1945-1957)”, In Cabral no cruzamento de épocas. Comunicações e discursos produzidos no II Simpósio Internacional Amílcar Cabral realizado na Cidade da Praia, 9 –12 de Setembro de 2004, Praia, Alfa Comunicações, 2005; “O fenómeno tribal, o tribalismo e a construção da identidade nacional no discurso de Amílcar Cabral”, In Comunidades Imaginadas. Nação de nacionalismo em África, Coord. Luís Reis Torgal, Fernando Pimenta e Julião Soares Sousa. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008; "MPLA: da Fundação ao Reconhecimento por parte da OUA", Latitudes, Cahiers Lusophones, nº 28, 2006; “Amílcar Cabral: um contemporâneo de Francisco José Tenreiro no Portugal dos anos 40/50”, in Francisco José Tenreiro: As múltiplas faces de um intelectual, Coord: Inocência Mata, Lisboa, Edições Colibri, 2010; As associações protonacionalistas guineenses durante a I República: o caso da Liga Guineenses e do Centro Escolar Republicano (no prelo, Afrontamento); A cisão sino-soviética e suas implicações nos movimentos de libertação em África (no prelo, Universidade da Beira Interior).
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Notas de CV:

(*) Vd. Poste de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8322: Agenda cultural (125): Odivelas, Biblioteca Municipal, 25 de Maio, 18h30: Apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973): Vida e morte de um revolucionário africano, da autoria do guineense Julião Soares Sousa

Vd. último poste da série de 2 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10470: Agenda cultural (218): Conferência Militar intitulada Portugal Militar em África|1961-1974, 5 de Outubro de 2012 em Góis

Guiné 63/74 - P10471: Parabéns a você (476): Carlos Prata, Coronel Reformado (Guiné, 1973/74) e Hélder Sousa, ex-Fur Mil (Guiné, 1970/72)


Para aceder aos postes dos nossos camaradas Carlos Prata e Hélder Sousa, clicar nos seus nomes
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10453: Parabéns a você (475): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç 953 (Guiné, 1964/66) e Manuel Moreira Vieira, ex-1.º Cabo da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10470: Agenda cultural (218): Conferência Militar intitulada Portugal Militar em África|1961-1974, 5 de Outubro de 2012 em Góis



1. Recebemos de Liliana Pinto - Município de Góis -, a mensagem que a seguir publicamos. 

Conferência Militar intitulada Portugal Militar em África|1961-1974


Exmºs senhores:

Para conhecimento e divulgação, junto enviamos a V. Exª. Cartaz alusivo à Conferência Militar intitulada Portugal Militar em África|1961-1974, a decorrer na Biblioteca Municipal António Francisco Barata, no próximo dia 05 de outubro, pelas 14 horas, iniciativa promovida pelo Município de Góis em parceria com o NICCM - Núcleo Impulsionador das Conferências da Cooperativa Militar e com os Combatentes do Ultramar do Concelho de Góis. 



Com os melhores cumprimentos,
Liliana Maria Rosa Pinto
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

 26 DE SETEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10439: Agenda cultural (217): RTP1, 28 de setembro, 6ª feira, 22h45 > Programa Portugueses pelo Mundo ... Episódio 8/25: Bissau... Uma oportunidade para redescobrir a cidade e rever amigos como a Isabel Levy Ribeiro, nossa grã-tabanqueira, formadora da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, mulher grande da Tabanca de São Martinho do Porto...