segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11110: In Memoriam (139): Cor inf Carlos Alberto da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67) e depois do COP 3 (Bigene, 1973): Trasladação dos seus restos mortais, no próximo dia 26, 3ª feira, às 11h00, no Cemitério de Sesimbra, para o talhão da Liga dos Combatentes (Carlos Jorge Pereira)



Uma das últimas fotos do cor Carlos Alberto Costa Campos (1927-2006), tirada pelo Mário Fitas em fevereiro de 2004.


Foto: © Mário Fitas  (2013). Todos os direitos reservados

1. Mensagem que acabamos de receber nosso camarada Carlos Jorge Pereira [,membro da nossa Tabanca Grande desde 11/2/2009, e de quem infelizmente ainda não temos nenhuma foto]


(...) Realizou-se hoje pelas 10.00 horas no Cemitério de Sesimbra e exumação dos restos mortais do Sr. Coronel Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos. (*)

Estiveram presentes cerca de doze antigos Combatentes, alguns deles que serviram sob as suas ordens. A liga dos Combatentes de Sesimbra fez-se representar pelo seu empenhado e activo sócio e dirigente ex-Fur Mil Artur Zegre.

Pena que não tenha acolhido, da parte do blogue,  a atenção (e a dignidade) que a cerimónia mereceu e que não tenha sido divulgada no nosso blogue, o que teria permitido que mais antigos camaradas estivessem presentes.

Volto a apelar a que façam  o favor de informar, com urgência, que no próximo dia 26 de Fevereiro, pelas 11.00 horas, se irá realizar no Cemitério de Sesimbra, a transladação dos seus restos mortais para o talhão da Liga dos Combatentes, campa nº 41, para que o maior numero possível de amigos e ex-combatentes possam marcar presença.

Respeitosamente subscrevo-me,

Carlos Jorge Marques Pereira
Ex-Fur Mil Inf e Operações de Inf
Bigene-Guidage 1972-74

2. Nota sobre o CV militar  do cor Carlos Albertoi Costa Campos, que nos foi enviada pelo Carlos Jorge Pereira:

Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos [, foto à esquerda]

Curriculum Vitae Militar

(i) Nascido em Lisboa em 18 de Abril de 1927;

(ii) Entrou para a Escola do Exercito em 1945;

(iii) Faleceu em Sesimbra em 8 de Agosto de 2006;

(iv) Comissões:

1. Timor 1952/55 - Alferes
2. Moçambique 1961/64 - Capitão em Boane
3. Guiné 1965/67- Capitão -Cmdt. da Ccaç 763 em Cufar
4. Moçambique 1968/70-  Major, 2º Cmdt do Bcaç 14 em Porto Amélia (#)
5. Guiné 1972/74- Major - Cmdt da ACAP em Bissau; Cmdt do COP 3 em Bigene.

( # ) Criou e comandou o Centro de Instrução de Cães de Guerra.  Pioneiro na introdução de cães de guerra em Portugal, com vários livros  publicados, que ainda hoje são utilizados como manuais, pelas Forças Militares  e Militarizadas.

(v) Ten cor a partir de Janeiro de 1974;

(vi) Portugal 1975-78- Cmdt. do Bat. Nº 3 da Guarda Fiscal em Évora; 

(vii) 1976- Proposto por três vezes para o Curso de Oficial General, mas recusado pelo Concelho da Revolução;

(viii) 1979-83 -Tribunal Militar de Santa Clara: Promotor de Justiça, Vogal e Presidente do Colectivo; 

(ix) 1983 - Passou à reserva;

(x) Condecorações:

Cruz de Guerra de 2ª classe
Comenda da Ordem de Avis
Medalha de Ouro de Serviços distintos com Palma
Medalha, Colar e Crachá de Mérito Militar de 1ª classe
Medalha de Comportamento Militar
Medalha de Assiduidade de Serviço no Ultramar
Medalha em Homenagem Nacional aos Heróis da Ocupação do Império
Medalha das Campanhas e Comissões Especiais das Forças Armadas Portuguesas
Medalhas ( 5 ) das cinco comissões no Ultramar

2. Comentário de LG:

Foi o Carlos Jorge Pereira quem desencadeou este processo, que termina agora com a trasladação, condigna, dos restos mortais de mais um combatente da Guiné, o cor inf ref Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da  CCAÇ 763, Cufar, 1965/67, e depois comandante do COP 3 (Bigene, 1973).

Fica aqui o nosso público apreço pela ação meritória e solidária  do nosso camarada Carlos Jorge Pereira,  da Liga de Combatentes de Sesimbra e muito provavelmente de outros camaradas anónimos. (**)
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Notas do editor:

(*) Ver postes anteriores:

(...) No passado mês de Agosto, fui mais uma vez visitar o nosso antigo Comandante, [do COP 3,] Sr. Coronel de Infantaria Carlos Alberto Wahon Costa Campos, que se encontra sepultado em Sesimbra.

Fez este ano, em 8 de Agosto, seis anos que o mesmo faleceu e a sua sepultura abandonada desde essa data.Dentro de um ano os seus restos mortais irão ser levantados e, caso não sejam reclamados pelos familiares, serão transferidos para uma vala comum.
Por essa razão, apelo a um ou dois antigos colaboradores e amigos do nosso Comandante e amigo que se juntem a mim, para falarmos com a família e, caso não mostrem interesse, sermos nós a tratar e a pagar uma sepultura condigna e perpétua. Para o efeito devem contactar-me para delinearmos a estratégia. (...)

Guiné 63/74 - P11109: O Nosso Livro de Visitas (162): João Vaz, natural de Teixoso, Covilhã, naturalizado francês, vive em Pau, perto de Lurdes... Foi 1.º cabo apontador de obus, esteve na BAC 1, entre 1968 e 1970, e passou por Bissau, Cameconde, Buba e Cuntima



Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca / Gadamael (1960) (Escala 1/50 mil). Posição relativa de Cameconde. Se não erro, depois da  retirada de Sangonnhá e Cacoca,  Cameconde, a sul de Gadamael,  era a nossa única guarnição do regulado de Cacine na região abrangida pela carta de Cacoca.

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Telefonou-me, este fim de semana, um camarada da diáspora, João Vaz, hoje naturalizado francês, Jean Vaz. Vive na cidade de Pau, perto de Lurdes, no departamento dos Pirinéus Atlânticos.

O João é natural de Teixoso, Covilhã. Foi 1º cabo apontador de obus, de rendição individual, tendo estado na BAC (Bateria de Artilharia de Campanha), entre 1968 e 1970. Passou seis meses em Cameconde. Voltou a Bissau, e foi de novo colocado no mato, em Buba. Acabou a comissão em Cuntima. Ainda chegou a estar escalado para Gandembel, mas safou-se.

Era tradição na BAC passar-se um ano no mato e outro em Bissau.

O João Vaz vem a Portugal todos os anos. É assíduo e apaixonado visitante do nosso blogue. Gostaria de encontrar malta do seu tempo, e nomeadamente da BAC. Convidei-o para integrar a nossa Tabanca Grande e participar no nosso próximo VIII Encontro Nacional, que se vai realizar em Monte Real, em 22 de junho próximo. Vamos ficar em contacto. Aqui fica o seu mail: jean.vaz@sfr.fr

Eis aqui alguns camaradas que estiveram em (ou passaram por) Cameconde (que, tanto quanto sei, seria um destacamento de Cacine, pelo menos no tempo do Augusto Vilaça):

Tony Grilo, ex-sold apontador de obús 8,8 cm, BAC 1,  Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68(, vive no Canadá);

Júlio Dias, Pel Rec Daimler 2049 (Cacine e Cameconde, 1968/70) /, vive em Sidney, Austrália);

Juvenal Candeias, ex-alf mil, CCAÇ 3520, Cameconde, 1971/74;
Augusto José Saraiva Vilaça, ex-fur mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69):

António José Pereira da Costa (Cor art ref, ex-alferes de art na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69;  e ex-cap  e cmdt  das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74).
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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11108: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): O nosso convívio anual vai-se realizar no próximo dia 22 de Junho de 2013 em Monte Real (A Organização)

VIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE


Caros camaradas
Ao contrário dos brasileiros que na quarta-feira de Cinzas começam a preparar o Carnaval do ano seguinte, nós estivemos um pouco distraídos quanto à organização do VIII Encontro da Tabanca Grande.

Assim, e contactado muito recentemente o nosso camarada Joaquim Mexia Alves no sentido de encontrar uma vaga num fim de semana do mês de Abril, deparamos com tudo esgotado.
Para os meses seguintes (Maio e Junho) arranjou-se a penas um fim de semana vago, o de 22 de Junho.

Se a memória não me falha, em 2010 organizámos o V Encontro no dia 26 de Junho, havendo algumas ausências motivadas pela coincidência de Encontros de Unidades a que pertenciam esses camaradas. Oxalá não incorramos no mesmo erro.

Temos que definitivamente, se a maioria assim decidir, fixar o mês de Abril para o nosso Encontro anual, fixando-se em cada ano o fim de semana do Convívio seguinte. Temos só que evitar o 25 de Abril e a Páscoa que maioritariamente cai neste mês, como vai acontecer no próximo ano que calha a 20; no fim de semana seguinte são as comemorações do 25 de Abril, numa sexta-feira, logo vamos ter um fim de semana prolongado. Nesta situação ou antecipamos ou adiamos para o mês de Maio.

Ainda é cedo para a abertura das inscrições, mas podemos desde já adiantar que o Palace Hotel vai manter os preços do almoço e das dormidas. Já não é mau, haja dinheiro.
Se algum camarada quiser fazer já a sua inscrição e reserva de Hotel, estamos à sua inteira disposição.

Para já é tudo quanto se pode adiantar.
Brevemente voltaremos a falar do assunto.

Pela comissão organizadora
Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P11107: Memória dos lugares (213): Gadamael Porto, vestígios da presença das NT (CART 1659, CART 6252...). Fotos de 2011 (Carlos Afeitos, professor, cooperante)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 6252/72, Os Indiferentes, 72-74... Fotos do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 1659... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Bunker a seguir à pista no início do aquartelamento".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Bunker  no meio do antigo quartel".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Bunker"... Foto do álbum de  Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Base do pau da bandeira"... Foto do álbum de  Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Espaldão do obus"... Foto do álbum de  Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Cais 1".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Cais 2".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Cais 3".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Sem legenda".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Enfernmaria1"... Foto do álbum de  Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Enfermaria2"... Foto do álbum de  Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Desenho na parede das instalações"... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Sem legenda".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 >  "Sem legenda".. Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).


Fotos: © Carlos Afeitos  (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

1. Mensagem do nosso leitor Carlos Afeitos (*), que foi professor, cooperante, na Guiné-Bissau, desde 2008 até ao golpe de Estado de 12 de abril de 2012:

Boa tarde,

Agradeço desde já o seu e-mail de resposta. Peço imensa desculpa mas por agora não tenho muito tempo para escrever acerca do que vivi na Guiné como cooperante, pois tenho o meu mestrado e,  como vim recentemente para Inglaterra,  ainda me estou a adaptar ao clima e ao sistema de ensino.

Em anexo poderá encontrar algumas fotos de Gadamael Porto, no seu estado actual. Algumas informações sobre as legendas que irei escrever foi de acordo com o que os populares na altura nos disseram. Se quiser pode publicá-las à vontade, o destino das fotos que lhe envio fica completamente ao seu critério.

Algumas não sei precisar o que são e outras não sei o que colocar na legenda. Elas foram tiradas em 2011. Também tenho fotos de Guileje, K3, Gandembel, Cameconde, Cacine e acho que de Farim. (**)

Com os melhores cumprimentos,
Carlos Afeitos

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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P11106: Convívios (491): VII Encontro dos ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 2 de Março de 2013 (Carlos Vinhal)



VII ENCONTRO DOS EX-COMBATENTES DA GUINÉ 
DO CONCELHO DE MATOSINHOS

DIA 2 DE MARÇO DE 2013


É já no primeiro sábado de Março que vai ter lugar o VII Encontro dos ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos.

Além dos ex-combatentes de Matosinhos, podem participar os camaradas dos concelhos vizinhos que queiram dar-nos o prazer da sua companhia.
As inscrições estão abertas até ao dia 26 do corrente mês, podendo quem quiser fazer-se acompanhar de familiares.

O ponto encontro será como nos anos anteriores no recinto em frente da Câmara Municipal.
O habitual é a malta começar a aparecer por volta das 11h30 para que cerca das 12 horas se faça a foto de família. Em seguida o grupo rumará ao Restaurante Mauritânia de Leça da Palmeira onde existem melhores condições para o convívio.

O preço ainda não está estipulado mas, se não conseguirmos um pouco mais baixo, será igual ao do ano passado.

Uma vez que o almoço vai ser em Leça da Palmeira, quem quiser pode dirigir-se directamente para o Restaurante. Pede-se que não comecem a ocupar a sala de jantar antes que chegue alguém da organização. Lembrem-se que, no mesmo local, há dois anos se gerou alguma confusão.

As inscrições podem ser feitas para:

Ribeiro Agostinho:
e-mail - mjr.agostinho@gmail.com
telemóvel - 969 023 731
ou 
Carlos Vinhal:
e-mail - carlos.vinhal@gmail.com
telemóvel - 916 032 220
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 4 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11056: Convívios (490): Primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga (Carlos Fortunato)

Guiné 63/74 - P11105: O Nosso Livro de Visitas (161): Gadamael e outros antigos quartéis militares portugueses na Guiné-Bissau que visitei com emoção (Carlos Afeitos, professor, cooperante nos anos 2008/2012)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Restos do antigo aquartelamento das NT > Inscrição: CART 1659, ZORBA".

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
1. Mensagem do nosso leitor Carlos Afeitos, com data de 11 do corrente:

Assunto: Antigos quartéis militares portugueses


Boa noite,

Sou um fiel seguidor do vosso blogue, não fui antigo combatente mas estive na Guiné-Bissau durante 4 anos como professor e agente da Cooperação Portuguesa desde de 2008 até 2012. Vim embora da Guiné-Bissau devido a consequências do golpe militar de 12 de Abril de 2012.

Durante os 4 anos em que estive na Guiné, eu e mais uns amigos, fizemos uma visita a antigos aquartelamentos portugueses e encontrámo-los em estado de degradação total. Tenho fotografias do estado em que estão no dia de hoje e até algumas fotografias de algumas marcas das tropas portuguesas que passaram por lá, nomeadamente de vestígios da CART 1659, Zorba,  em Gadamael Porto.

Já na altura foi com grande emoção que visitámos os quarteis e pensámos no que vocês por lá passaram. Digo pensar porque não consigo imaginar de como terá sido, pois tive a sorte de ter nascido posteriormente à Guerra, mas não deixa de ser curioso ler os postes que colocam no blogue. Venho então por este meio colocar à vossa disposição as fotografias actuais que possuo, caso estejam interessados.

Continuem com o o vosso trabalho,

Com os melhores cumprimentos,

Carlos Afeitos


2. Resposta do nosso editor  L.G.,  em 12/2/2013

Carlos:

Sinto-me feliz e honrado com a sua mensagem e a sua proposta. Na realidade este blogue está a chegar a muito mais gente do que o seu "público natural", os veteranos de guerra, que deixaram na Guiné os seus verdes anos mas também trouxeram muitas memórias boas, incluindo um afeto muito grande por aquela terra e aquelas gentes.

Temos uma "comunidade virtual" de mais de 600 membros. Juntos constituimos a "Tabanca Grande", mas nem todos são "camaradas" (termo militar), outros (e cada vez mais) são jovens como você. Gostaria de o receber como "grã tabanqueiro", apresentá-lo à Tabanca Grande e pedir-lhe que nos conte um pouco da sua vida como cooperante na Guiné-Bissau. O seu exemplo de generosidade deve ser conhecido por todos, Este blogue é, por definição, um blogue de "partilha de memórias (e de afetos"). Se é nosso leitor habitual, está na altura de fazer parte deste projeto que pretende fazer "pontes", entre o passado, o presente e o futuro. Tem aqui os meus contactos (...). Mantenhas. Luis Graça

PS - Naturalmente que nos interessam as suas fotos, digitalizadas e legendadas, de Gadamael Porto. Por exemplo, sobre a companhia, CART 1659, temos infelizmente poucas referências. Com os nossos parceiros da AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG de Bissau, temos um projeto de recuperação museológica de Gadamael, à semelhança do que fizemos com Guileje.

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11057: O Nosso Livro de Visitas (160): Licínio Cabral, ex-fur mil op esp, minas e armadilhas, CCaç 2792, Catió e Cabedú, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11104: Blogpoesia (321): Não à filha-de-putice-da-vida, camarada! (Luís Graça)

Adicionar legenda
Para um amigo, cansado da vida... 

A vida prega-nos muitas partidas,
umas boas e até divertidas,

burlescas,
carnavalescas;
outras duras, 

puras e duras,
e muitas vezes injustas:

quando somos tomados  por bestas
e cavalgaduras.

A vida paga-se caro,
com língua de palmo,
com cabeça, tronco e membros,
includindo as custas
do processo,
diz o salmo,
devidas pelo continuum do nascer ao morrer.

A vida não tem faro,

nem sexto sentido,
nem norte.
A vida é fartote.
A vida é um pinote.
A vida é uma cambalhota.
A vida é um agiota
que te leva coiro e cabelo.

A vida está pela hora da morte,
mas não vale a pena
pedir-lhe contas,
que ela, a vida,
é uma viagem sem regresso,

um negócio torpe.
E está-se nas tintas
para os viajantes,
os inocentes,
os videntes,
os loucos,
os sem abrigo,
os doentes,

os insolventes,
os falidos,
os impenitentes,
os portadores de chagas & apostemas,
os doentes de dor de dentes,
os poetas,
os arquitetos de sistemas,
os incautos,
os imprevidentes,

os que às tantas se lembram,
já no outro lado,
que deixaram na terra a chave do paraíso,
mas também os mercadores,
os portadores da peste,
os perdedores,
os que não fizeram seguro de viagem,
os tontos e as tontas,
como nós.

A vida é uma gaiata,

uma galdéria,
uma aventureira, 
uma cow-girl
da caravana do Faroeste.
Caprichosa,
leviana,

lasciva,
de minissaia,
perna ao léu,
muita lábia,
pouco siso,

licenciosa,
pobretana,
a tentar impingir-te
o elixir da eterna juventude.

Outros, mais avisados e sizudos,
sortudos,
barrigudos,
dir-te-ão, my friend,
que só temos o que merecemos
ou o que conquistámos
.


A vida é uma roleta russa,
a vida sorri-te, com meia cara,
e tu sorris à vida, alarve,
como um sorriso amarelo,
de orelha a orelha.

A vida é um jogo de sorte e azar,
um carrocel,
uma escada de caracol,
uma bolha de ar,

uma bola de sabão,
um bordel,
um brevíssimo orgasmo em si bemol.


Ah!, meu caro, 
a vida é uma puta.
Ou é a nossa vida que é uma puta... de vida!

... Mas um lutador,
um ganhador, como tu,

camarada,
para quem a vida é uma lição,
não vai atirar a toalha ao chão

ao primeiro dissabor,
aos primeiros desaires,
às primeiras filhas-de-putice-da-vida!

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P11103: Parabéns a você (537): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11099: Parabéns a você (536): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1970)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11102: Blogoterapia (223): Agradeço as manifestações de pesar que me foram dirigidas a propósito do falecimento da minha mãe (Carlos Vinhal)

Ano de 1948 > Maria Henriqueta, Carlos pai e Carlos filho.

1. Triângulo desfeito

É assim a vida de (quase) todos os casais. Casamento, nascimento do(s) filho(s), foto oficial de família e inúmeros acontecimentos, bons e maus, para alguns mais maus do que bons, até que a lei da vida (ou da morte) selecciona o supostamente mais fraco deixando ao outro a hipótese de viver mais uns anos.

Decorria o ano de 1981 quando o meu pai faleceu, vítima de insuficiência cardíaca. A minha mãe, então com 58 anos, encarou heroicamente a partida do seu eterno namorado. Dizia-lhe eu, às vezes, por que não refazia a sua vida, mas quem amou um único homem desde os 16 anos jamais conseguiria, mesmo fingindo, viver outro romance.

Sem darmos conta passaram-se 32 anos e de repente a minha mãe está muito velhinha, não só na idade mas também porque o seu estado de saúde físico se começa a debilitar a olhos vistos. Felizmente para mim e para ela o seu estado mental manteve-se praticamente normal até ao último minuto de vida. Ainda no sábado, poucas horas antes de falecer, conversou comigo e com a Dina. Protestou pelas muitas horas passadas no dia anterior na urgência do Pedro Hispano. Quem espera desespera.
Conversamos sobre roupa, sobre o seu estado de saúde e coisas triviais para a ajudar a ocupar o tempo. Até lhe comprei umas meias quentinhas e uns miminhos para durante a semana aconchegar o estômago no intervalo das refeições. Viemos embora ficando ela à mesa a tomar a sua cevadinha quentinha.

Domingo de manhã o telefone tocou, e quando verifiquei que era do Lar, estava longe de imaginar que era para me darem a notícia do seu falecimento*. Talvez eu não "quisesse" ter visto o mais óbvio, a minha mãe estava mesmo no fim.


2. Agradecimento

Tentei agradecer individualmente a cada amigo que de alguma maneira se me dirigiu com as suas condolências, confortando-me nesta hora, muito, mas mesmo muito difícil. Se a algum não agradeci pessoalmente, peço mil desculpas. Fica aqui um agradecimento sincero a todos.

Sei que muita gente não teve conhecimento do falecimento da minha mãe. Outros não puderam comparecer porque era dia de trabalho, havia ponte de carnaval, etc. Sei que mesmo os ausentes estiveram comigo. Muito obrigado também.
Quero ainda deixar aqui um agradecimento muito especial aos camaradas que se deslocaram de mais longe para estarem comigo no momento em que a minha mãe desceu à terra. Por uma questão de ética não vou enunciar nomes, mas os destinatários reconhecem-se neste agradecimento.
Não posso esquecer os de mais perto que me fizeram companhia nos dois dias em que a minha mãe esteve em câmara ardente na Capela do Corpo Santo. Conversaram comigo e ajudaram a minorar a sensação de perda mais sentida naquelas primeiras horas. Nestas alturas se reconhece o valor dos amigos.

Disse-me o Luís que a vida continua, concordo, mas hoje sinto-me muito mais velho.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11085: In Memoriam (137): Maria Henriqueta Esteves Afonso (Valença, 1922 - Leça da Palmeira, Matosinhos, 2013), mãe do nosso querido co-editor Carlos Vinhal... Corpo em câmara ardente na Capela do Corpo Santo, funeral amanhã às 15h para o cemitério nº 1 de Leça da Palmeira

30 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11027: Blogoterapia (222): Agradecendo os vossos mimos, as guloseimas (para a alma), em dia de aniversário com capicua... (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P11101: Inquérito online: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (4): Fui praxado, em Bissum Naga, e não vi nada de mal nisso... (Manuel Maia, o nosso bardo do Cantanhez)

1. Mail do Manuel Maia, o nosso bardo do Cantanhez, (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), que tem andado um tanto escondido  "escondido" por detrás do poilão da nossa Tabanca Grande:

Viva,  Luís,

Acabei de votar Concordo ( mau grado o secretismo que deve envolver as votações...)

E votei Concordo porquê ?

Fui praxado,e não vi nada de mal nisso, antes pelo contrário.  A praxe serviu para criar nos piriquitos a necessidade de sentirem a dura realidade da guerra, como que um acordar para a mesma mas também para os familiarizar com as dificuldades...

Há duas ou três situações que por muitos anos que viva nunca esquecerei...

Estávamos em sobreposição com a companhia que íamos render a Bissum/Naga,e à noite,na messe ouvíamos um alferes da companhia velha a "contar vantagem" (como diriam os brasileiros...). Era um operacional de truz,no mato tivera inúmeros contactos com o IN...  Os turras tinham-lhe medo pois ia para o mato com galões apensos (ao estilo AB...).

Viríamos a saber depois,  por um seu furriel, que se tratava de um faroleiro que se pisgava do mato sempre que podia...). Pois durante as suas divagações, pousou-lhe um mosquito num braço... Sem sequer fazer menção de o afastar do braço, olhou-o e disse : 
- Mas que falta de respeito é esta ? Com tantos piriquitos e vais escolhar a velhice ? 

Aquilo foi uma espécie de abanão para a consciencialização de que a comissão dele chegara ao fim e a nossa chegaria,ou não...

Outra situação,esta sim, verdadeira praxe, foi o convite formal, feito por um furriel velho, à malta para alinharmos numa tainada de galinha da Índia que ele supostamente teria abatido... Caberia aos piras o pagamento das bebidas...

"Entramos pela madeira dentro",como soe dizer-se,com a massa para as loiras, e fomos presenteados com uma travessa cheia de nacos de ave, besuntada em molho de piripiri e tomate ,para se parecer com a travessa que os furriéis velhos colocaram para eles próprios...

Só que a deles tinha nhec e a nossa abutre... Depois de termos "dado cabo" da nossa parte,disseram-nos então o que acabáramos de comer... Foi uma risada geral...

Fizeram-nos ainda durante as saídas noturnas em que ia uma secção deles, a "vida negra" ao obrigarem a deitar no solo completamente encharcado junto aos palmeirais (eles deitavam-se na parte seca) e passando a palavra afirmavam terem "embrulhado" várias vezes ali... 
- Está a deitar, nem um pio... 

A época das chuvas tinha começado...Quando regressávamos ao quartel,tínhamos a farda completamente enlameada em contraste com a deles... Acabaríamos depois por constatar estarmos pertíssimo do quartel, mas tínhamos dado voltas e mais voltas em irculos fechados, com o deita e levanta, que nos baralhara e amedrontara...
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11100: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (3): Também praxei "periquitos", em Cufar... (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P11100: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (3): Também praxei "periquitos", em Cufar... (António Graça de Abreu)


1. Reproduzido, com a devida vénia, de Diário da Guiné, do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu.

Cufar, 19 de Agosto de 1973

No meio dos infortúnios quotidianos, a guerra também pode ser divertida. Esta semana tivemos um dia de grande comédia, com uma espectacular encenação e actores de primeira.

Em Cufar existe um pelotão de canhão sem recuo comandado por um alferes de Alpiarça, do meu curso de Mafra, que reencontrei na Amadora e mais tarde em Bissau. São trinta homens que têm por missão defender o aquartelamento com a pequena artilharia de que dispomos. Acabaram agora a comissão e na LDG chegou o pelotão de “periquitos” que os vem substituir. Os alferes, furriéis e soldados da companhia de açoreanos, eu também, resolveram ir esperá-los ao porto grande do Cumbijã e encenar uma espectacular paródia de modo a que os “piras” ao chegar aqui se borrassem de medo.

Montámos segurança ao cais, brutalmente armados, o que nunca é necessário fazer porque no porto o IN não actua. Os “periquitos” desembarcaram sob um assustador aparato bélico e foram postos a caminhar em fila por um, de ambos os lados da estrada que conduz a Cufar, com as armas apontadas para a vegetação e as bolanhas. Conseguimos convencê-los de que o desembarque era perigosíssimo, costumava haver flagelações, já haviam morrido muitos homens naquele quilómetro de estrada o que, na realidade, é uma refinadíssima mentira. A recepção foi medonha, os “periquitos” estavam amedrontados e eu pensei se seria coisa acertada fazer os rapazes passar por tamanhos apertos.

Assumimos personagens que não são as nossas. Um alferes da companhia 4740, já com mais de trinta anos e uma razoável barriga metamorfoseou-se em major, comandante do CAOP 1 e de toda a zona sul da Guiné. O meu coronel, verdadeiro, estava em Bissau por isso foi mais fácil engendrar e montar a cena. Um outro alferes assumiu-se como cabo especialista em minas anti-pessoal e anti-carro que deviam estar espalhadas na estrada porto-Cufar e era necessário desmontar, um soldado com imenso jeito para actor fez de alferes velhinho, comandante do pelotão a substituir, outro soldado interpretou o papel de alferes médico e, chegados a Cufar, deu consulta a uns tantos soldados “piras”, passou-lhes atestados e encheu-os de tintura de iodo e adesivos, o furriel enfermeiro fez de alferes capelão, figura religiosa que não temos cá. Já em Cufar, o alferes “periquito” pediu ao falso capelão que o confessasse.

O meu papel neste filme que se prolongou por umas três horas foi o de cabo atirador guarda-costas e segurança pessoal do alferes acabado de chegar. Andei sempre ao lado dele, a minha G 3 pronta a disparar, uma faca de mato à cinta, às vezes virava a cara e encolhia o riso. Os “periquitos” chegaram a Cufar e foram para a sua caserna, uma tabanca a cair de podre onde colocámos quatro caixões.

Mas alguns dos “piras”começaram a desconfiar, qualquer coisa não batia certo. O alferes do novo pelotão acreditou em tudo até ao fim. Ao jantar, em sua honra e em honra dos seus homens, dissemos-lhe que havia rancho melhorado, arroz com quadrados de marmelada. Sentámo-nos à mesa, veio a comida, o homem engoliu aquilo e quase vomitou. Era altura de voltarmos a ser quem somos, apareceu o capitão da 4740, deu-lhe um abraço e disse-lhe que tudo não havia passado de uma grande brincadeira. Surpreso, o rapaz reagiu bem, riu, mudou por completo de semblante, parecia outro. E jantámos bifes com um ovo estrelado, batata frita e arroz. A sobremesa foi marmelada.

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11096: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (2) Quando o meu pira foi caçar um hipopótamo... e acabámos por apanhar um turra: revisitando uma história do Jorge Cabral

Guiné 63/74 - P11099: Parabéns a você (536): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1970)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11093: Parabéns a você (535): Senhora Dona Clara Schwarz faz 98 anos!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11098: In Memoriam (138): Cadi Baldé (c. 1984-2013), mãe da pequena Alicinha do Cantanhez (Luís Graça / Alice Carneiro)


Iemberém, 5 de março de 2010... A Cadi, com a Alicinha, que tinha nascido há mês e meio, a 17 de janeiro


Iemberém, 15 de maio de 2011... A cadi e a Alicinha



Farim do Cantanhez, novembro de 2011



São Domingos, 15 de março de 2012... Já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal


Bissau,  A Cadi, depois de sair do hospital de Cumura... Debilitada, doente... Aqui com a filhota.


Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi (*)

Fotos: © Pepito (2011/2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G.]


Morreu a Cadi


Morreu a Cadi, 
a mãe da Alicinha do Cantanhez... 
Morreu na sua tabanca, 
Farim do Cantanhez,
e vai ser enterrada no quintal do seu pai, Abdu Injai.

A notícia chegou-nos através do António Baldé,

pai da Alicinha,
com a voz embargada pela comoção...
Ele tencionava regressar à Guiné,
dentro em breve, 
à sua casa em Caboxanque,
na margem esquerda do  Rio Cumbijã.
E tinha um sonho,
tornar-se o maior apicultor do Cantanhez.
Ele queria reconstruir a sua vida 
com a Cadi, a sua quarta esposa,
e a Alicinha, a seu lado,
mais o seu filho, rapaz, 
que estuda em Portugal.

Esse sonho desfez-se

pela força do macaréu da morte.
A vida vale pouco, 
e muito menos na Guiné,
mesmo para quem é crente e temente a Deus.

A Cadi apareceu nas nossas vidas,
há cerca de 5 anos,
em Iemberém, em março de 2008.
Era filha de um ex-guerrilheiro nalu, Adbu Indjai, 
inválido de guerra,
que perdeu uma perna lá para os lados do Xitole.
Cadi, de seu nome.
Amorosa.
Uma ternura.
Uma jóia de miúda, a Cadi.
Tinha a graça de uma gazela
apascentando na orla da bolanha.
Era nalu.
Vivia em Farim do Cantanhez.
Filha de um velho combatente da liberdade da pátria.


Estava grávida, em março de 2008. 
Soubemos depois que tivera um menino,
a que pôs o nome de Nuno, Nuninho,
por homenagem ao Nuno Rubim e à  Júlia . 

Vida curta, curtíssima,
 a morte o levou aos 4 meses.
Vítima de paludismo
e de falta de cuidados médicos.

... Mais tarde virá a Alicinha.
Em dezembro de 2009, 
o João, por um feliz acaso, encontrou-a, grávida, 
na consulta médica, em Iemberém.
Não sabia que era a mesma miúda 
para quem levava umas roupinhas, 
um telemóvel 
e algum dinheiro, 
lembranças de Portugal...
-Nome do menino ou menina ? 
- Si for menino, será Luís... 
Si for minina, será Alice. 
- Estranho, são os nomes dos meus pais... - 
lá pensou o João, 
para com os botões da sua bata branca...

Mês e meio depois, 
a  17 de Janeiro de 2009
nascia a Alicinha,
robusta e saudável!..
Um hino à vida, 
à esperança!

Bissau é um mau lugar 
para uma jovem mãe e a sua menina, 
uma cidade demasiado palúdica, 
colérica e buliçosa 
para dois seres que merecem 
o direito à vida, ao amor, à felicidade.
Bissau vai matar-te, Cadi!

Depois do nascimento da Alicinha, 
ficou tacitamente assumido
que a Alice de Candoz, 
a Alice Carneiro,
seria a madrinha daquele pequeno ser, 
e que a iria ajudar pela vida fora... 
De tempos a tempos
a madrinha ia recebendo notícias, 
diretamente da mãe, 
ou através do Pepito. 
Por sua vez, ia-lhe mandando pelo correio, 
para a caixa postal da AD,
peças de vestuário, 
calçado 
e brinquedos, 
em caixas até 2 kg, 
de franquia reduzida...

Alice descobre, através do Pepito, 
o pai da Alicinha, o António Baldé, 
a trabalhar, ali para a zona de Cascais, 
como segurança numa empresa de construção civil. 
O Baldé tinha vindo para Portugal 
em 2003 para aprender apicultura.
Mostrou-nos, há tempos, orgulhoso,
o seu diploma de apicultor.
Natural de Contuboel,
serviu quase 6 anos
o exército dos tugas.

Não conhece a filha,
fala com ela,
ao telefone.
A Cadi mostrava-lhe fotos do pai.
E o Baldé, de 67 anos, feliz, 
mesmo desempregado, 
encheu a casa de fotos
da Alicinha e da Cadi.
Seriam o seu amparo na velhice.

A tímida gazela nalu já não salta 
pela orla da bolanha de Caboxanque.
Nem alegra, com a sua graciosidade,
as ruas de Iemberém,
com a Alicinha às costas.
Um manto de silêncio cobre Farim do Cantanhez
e as suas matas em redor.
Morreu a Cadi, 
morreu a Cadi,
sussurra o dari.

Alfragide
Luis Graça  & Alice Carneiro, 15 de fevereiro de 2013
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Nota do editor:

(*) Postes relacionados com a Cadi e a Alicinha do Cantanhez

3 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)



5 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7727: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (3): 9 e 10/12/2009, em busca do dari (chimpanzé), em Farim e Madina do Cantanhez...

19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau

11 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa) 


(...) Falando nas visitas ….. a Cadi, mãe da Alicinha,  afilhada da Alice Carneiro, veio visitar-me. É tão bonita e elegante a Cadi! Como aliás muitas das mulheres guineenses. E que bem que se vestem, muitas vezes até quando andam a trabalhar mas sobretudo quando saem da sua tabaca e em dias de festa.

A Cadi já fala razoavelmente português. O seu marido [, António Baldé, fula de Contuboel, com casa em Caboxanque, futuro apicultor,] está em Lisboa e há 2 anos que não vem cá. Ela mora em Farim de Cantanhez, uma tabanca que fica aqui a uns 10 km. É uma pena ela não viver em Iemberém, poderia ajudá-la a preparar-se para ir para Portugal ter com o seu marido. Mas o mais preocupante é que ela anda doente. Diz-me que sente calor na barriga, diz-me que é do estômago, que tem a tensão baixa mas …. não vomita, quis comer pão com queijo. Depois ouvi-a tossir e fiquei a pensar se não será algum problema pulmonar. Ela veio hoje a Iemberém, a pé, para tentar arranjar transporte para ir a Bissau ao médico. (...)


6 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11064: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (5): Em Catesse, com o Pepito... Pela primeira vez tive medo!...Medo de não conseguir corresponder ao tanto que a população espera de todos nós!

(...) Voltemos ainda à minha chegada a Iemberém. Como referi, contávamos almoçar aqui mas houve uma mudança de planos. Depois de despejar a minha bagagem na casa que me foi atribuída, seguimos em direcção a Catesse. Passámos em Farim de Cantanhez, tabanca onde vive a Alicinha , que fazia exatamente 2 anos nesse dia. Lá deixei os presentes que a sua madrinha [, a Alice Carneiro, ] tinha enviado e cantei-lhe os parabéns. É linda a pequena Alice, aliás como muitas das mulheres daqui. E vaidosas. É um gosto vê-las arranjadas. (...)

(**) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11085: In Memoriam (137): Maria Henriqueta Esteves Afonso (Valença, 1922 - Leça da Palmeira, Matosinhos, 2013), mãe do nosso querido co-editor Carlos Vinhal... Corpo em câmara ardente na Capela do Corpo Santo, funeral amanhã às 15h para o cemitério nº 1 de Leça da Palmeira

Guiné 63/74 - P11097: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte III): A nossa messe, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, decorada pelo famoso Pechincha, fur mil op esp e desenhador de profissão



Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Lendo a revista brasileira "O Cruzeiro", na nossa messe em Nova Lamego, no Quartel de Baixo...Decoração a cargo  furriel mil op esp Pechincha (que depois foi para o QG).

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (*)

1. Perguntou o Hélder de Sousa, em comentário ao poste P11092:

Caro camarada Abílio Duarte

Na legenda da 2ª foto está escrito "Lendo a revista brasileira "O Cruzeiro", na "nossa messe em Nova Lamego, decorada pelo furriel Pechincha".

Ora bem, quem era 'esse' furriel Pechincha?

A pergunta deve-se a que,  quando cheguei à Guiné, em Novembro de 1970, fiquei alojado num quarto em Santa Luzia ocupado por três furriéis, dois amigos de Vila Franca e o terceiro era um tal Pechincha que tinha feito parte dos quadro duma 'companhia nativa' e que por aquele tempo desempenhava uma função qualquer no QG, na Amura.

Será o mesmo Pechincha? O nome não é assim tão vulgar...

O que eu refiro era, antes da incorporação, e ao que me foi dito, desenhador na Câmara de Lisboa e vivia em Moscavide. (**)

Abraço
Hélder S.

 2. Respondeu o Abílio Duarte na caixa de comentários do mesmo poste,  P11092:

Olá Helder,

É  esse mesmo,  o Pechincha que eu refiro, era o Furriel de Operações Especiais, da Escola de Lamego. Éramos os dois do mesmo pelotão, desde Penafiel até Nova Lamego.

Só que o malandro era desenhador, e quando chegamos ao Gabú, deram-nos o Quartel de Baixo, Como era conhecido na altura. Como aquilo estava abandonado, e não tinha muitas condições, o nosso Capitão desafiou-o a fazer uns desenhos para as casas de banho e outras, para quando fosse a Bissau ir ter com o padrinho dele, que era o Cor Robin de Andrade, para arranjar uma cunha e ter materiais de construção para nós fazermos as obras.

O que aconteceu foi que os desenhos eram tão bons que o Pechinchja foi para Bissau, e nunca mais voltou. Mas os materiais vieram. A seguir souberam que o meu Alf comdte de pelotão era Eng Civil, e foi também para os reordenamentos, e também nunca mais voltou. Nem foram substituídos. Estás a ver o filme, não estás !?,,,

O mais giro desta foto, mas não se consegue ver, é que o Pechincha nos seus desenhos punha os bonecos com frases do Spinola, e a nossa preocupação era,   se aparecesse o Spinola, termos sempre uma brigada pronta para apagar as bocas do Pato Donaldo e companheiros.

É esse Pechincha que conheceste em Bissau, e garanto-te que era um artista, aí lá se era.

Um Abraço.
Abílio Duarte
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11092: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paúnca, 1969/70) (Parte II)

(**) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)


(...) Pois este amigo Pechincha, que era, salvo erro, de Moscavide e trabalhava como desenhador na Câmara Municipal de Lisboa, tinha fama de estar um bocado apanhado e com uma pancada enorme, mas acho que aquilo era mais para ganhar fama e beneficiar dela.

Digo isto porque tive com ele algumas conversas, muito interessante e educativas, que me elucidaram bastante sobre a situação que se vivia e como ele pensava que se iria desenvolver, o que, no essencial, não divergiam muito do que eu pensava.

Mas também não deixava a sua fama por mãos alheias e logo na noite de 11 para 12 de Dezembro fui testemunha privilegiada duma dessas situações.

Nessa noita comemorava-se o S. Martinho. Eu fui portador para os amigos vilafranquenses de alguns quilos de castanhas e de um garrafão de água-pé (por sinal, bem forte!), além de outros mimos. Com um bidão, em frente às camaratas onde os quartos se encontravam, fez-se o assador e então vá de comer chouriços assados, salsichas e castanhas, tudo bem regado com a dita água-pé e outras bebidas estranhas, em grandes misturadas (cerveja, uísque, coca-cola, etc.), tudo a animar uma simulação de uma emissão de rádio protagonizada pelos camaradas das Transmissões com jeito para a coisa, como por exemplo o Furriel Roque.

Com o avançar das horas era tempo de serenar, descansar os corpos e retomar forças para o dia seguinte. Acontece é que, como sempre sucede em situações semelhantes, nem todos estavam pelos ajustes e com a previsão para breve da viagem de regresso do Carvalho Araújo havia alguns, cujos nomes não ficaram registados na minha memória, que integrariam essa viagem final para a peluda, como diziam, e estavam dispostos a prolongar a sua festa, até com atitudes menos próprias e profundamente negativas, principalmente para quem tinha fortes experiências no mato, como seja arremessar as garrafas vazias para cima dos telhados de zinco dos quartos o que, como calculam, a mim ainda não produzia efeito mas para quem já tinha reflexos condicionados era bastante aborrecido.

Ora o nosso bom Pechincha avisou solenemente os meninos que ou paravam imediatamente a graçola ou tinham que se haver com ele à sua maneira. Dada a fama que tinha, que não regulava lá muito bem e que era bem capaz de usar arma, os ânimos serenaram quase de imediato e na generalidade mas, também como sempre sucede, há sempre alguém que procura forçar a sorte e um deles, que também me disseram que estava apanhado (afinal, quem é que não estava?, acho que dependia do grau) resolveu irromper no nosso quarto com uma panela na cabeça e a bater com duas tampas como se fossem pratos duma banda de música.

Entrou, com ar de quem estava muito contente da vida e satisfeito por desafiar as ordens, mas o que eu vi de imediato foi o nosso amigo Pechincha, que estava estendido sobre a sua cama e que era logo a primeira à entrada, estender o braço sobre a cabeceira da cama, agarrar numa espécie de um dos dois machados nativos que estavam lá a enfeitar e sem mais explicações nem argumentos arremessou-o para o intruso, acertando-o na panela que estava na cabeça, deixando-o com o ar mais aparvalhado de perplexidade que vi até hoje, deixar o quarto a tremer e a balbuciar "este gajo está de facto mais apanhado do que eu!". (...)

Guiné 63/74 - P11096: Inquérito online: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (2) Quando o meu pira foi caçar um hipopótamo... e acabámos por apanhar um turra: revisitando uma história do Jorge Cabral






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Um prisioneiro a embarcar no heli que o há-de levar a Bissau, ao QG. Não consigo, para identificar, quem é, e em que operação foi capturado. Já agora, quem terá sido o piloto e o mecânico deste voo ? Fotos (nº 5, 6 e 7)  do álbum do fur mil reabastecimentos Lopes, membro recente da nossa Tabanca Grande.

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)


1. Histórias de praxes no em pleno teatro de operações da Guiné ? Claro que as houve! (*)... É o nosso alfero Cabral que o diz, respondendo a um pequena provocação minha:

(i) Luís Graça: E atão o alfero não tem estória cabraliana dessas ditas praxadas fraternais ? ... Fá Mandinga estava no roteiro das praxes, como já vimos com a história do "pira" Fernandes!... Eu próprio assisti a uma "praxe" ao alferes miliciano médico da 1ª CCmds Africanos, quando estava a a chegar a Fá Mandinga... Lembras-te, Jorge ? Estavas lá...nesse fim de tarde. Tu, o Barbosa Henriques...

(ii) Jorge Cabral: Luís Amigo! Já relatei uma praxe na minha estória, "O Hipopótamo,as Formigas e o Prisioneiro"-14/12/2007 (*).

Quanto à praxe do médico em Fá, [que foi praxado à sua chegada à 1ª Companhia de Comandos Africanos], lembro-me muito bem. Era o Drº Vasconcelos,o qual, segundo creio, também foi a Conacri [, no decurso da Op Mar Verde]. J.Cabral

Bom, parece está na altura de revisitar essa "estória cabraliana" publicada aqui há mais de 5 anos atrás (*), mna esperança de que outras, mais frescas, apareçam...

2. Estórias cabralianos > Quando o pira foi caçar um hipopótamo... e acabámos por apanhar um turra

por Jorge Cabral


Nem me lembro qual o Periquito que se apresentou naquele dia em Fá. Mas sei que,  ao anoitecer, saiu, equipado e armado, cumprindo a minha ordem. Objectivo: caçar um hipopótamo.

Levámos morteiro, bazuca e, para impressionar o novo combatente, até picámos o curtíssimo trajecto, que nos separava do rio. Perto da margem, emboscámos, vigiando as águas.

Para o Periquito era certo. Brancos e negros, já o tinham convencido, que todos os meses, caçávamos um enorme bicho.
- Ainda no mês passado, foi um elefante - afiançara-lhe o Monteiro.

Uma hora se passou porém, sem qualquer vislumbre do hipopótamo, embora o pira continuasse atentamente a espiar o rio, animado pelos incentivos dos outros que,  inventando indícios e sinais, lhe garantiam:
- Está quase!

Eis quando em vez do paquiderme, surgem as ferozes formigas, cuja predilecção testicular era nossa conhecida. Atacado nos ditos, o Periquito uivou de dor, aos saltos, e obedeceu aos nossos conselhos:
– Entra na água... Entra na água... senão eles caem!

O espalhafato, o barulho, a confusão, foram tão grandes que um turra acabado de cambar o rio, se entregou, julgando-se descoberto.

No dia seguinte, frente ao Sampaio (#), relatei,  com pompa e circunstância, a captura. Sim, com base em informações fidedignas, montara a emboscada. Do Hipopótamo, das Formigas, do Periquito, nem uma palavra.
- O Cabral é assim, um operacional de mão cheia - confidenciou depois o Major, ao Comandante (##).

Jorge Cabral
___________

(#) Major Herberto Amaral Sampaio, oficial de operações do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a que estava adido o Pel Caç Nat 63. Substituiu o major Viriato da Silva.


(##) Ten Cor Jovelino Corte Real, o comandante do BCAÇ 2852, que susbtitiu o ten cor Pimentel Bastos (de alcunha, Pimbas), a quem o Com Chefe 'comprou um par de patins', na sequência do ataque a Bambadinca em 28 de maio de 1969.
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 14 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11095: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (1) Quem discorda ? Quem concorda ?

(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2350: Estórias cabralianas (28): O Hipopótamo, as Formigas e o Prisioneiro (Jorge Cabral)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11095: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (1) Quem discorda ? Quem concorda ?


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 28161 (1969/71) > Finais de outubro de 1970 > Receção aos "piras do BCAÇ 2927.

A equipa de reportagem da RadioTelevisão de Bissorã (RTB) registou o grande momento. Ao volante o Fur Mec Meneses, no lugar do realizador o Fur Trms Gesteiro, o operador de câmara é o 1.º Cabo Trms Carlos Senra. "A velhice saúda os piriquitos!"...Foto do álbum do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf  da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70) (*)

Fotos: © Armando Pires  (2012). Todos os direitos reservados


1.  Tudo começou aqui, com a entrada do João Ruivo Fernandes para Tabanca Grande, e a sua narrativa da "praxe" a que foi submetido no Xime, em dezembro de 1972.  No fim, "paguei 2 garrafas de whisky e houve alegria" (sic)... Era um dos objetivos da praxe, nomeadamente aos piras, de rendição individual (**).

 Convenhamos que o tema merece um sereno debate, 40, 50, 60 anos depois da nossa passagem pela tropa (que era obrigatória no nosso tempo) e pela praticamente inevitável mobilização para o Ultramar (Índia, Angola, Guiné, Moçambique...). Tudo somado, eram no mínimo três anos das nossas vidas. Dos nossos verdes anos. Cá e lá, havia praxes.
___________________

(i) Vejamos o que é, no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

praxe |ch|
(grego prâksis, -eos, acção, transacção, negócio)
s. f.
1. Uso estabelecido. = COSTUME, ROTINA
2. Sistema ou conjunto de formalidades ou normas de conduta. = ETIQUETA, PRAGMÁTICA
3. O mesmo que praxe académica [: conjunto de regras e costumes que governam as relações académicas numa universidade, baseado numa relação hierárquica.

praxar |ch| - Conjugar
(praxe + -ar)

v. tr.
Submeter a praxe, nomeadamente a académica.
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(ii) O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a obra máxima de referência da nossa língua, que reune o trabalho de cerca de 150 especialistas do mundo lusófono, sob a liderança do Instituto Antônio Houaiss,  diz o mesmo que o Priberam, só que com com mais detalhe:

praxe  (vocábulo que entra na nossa língua por volta de 1652), s.f.  > aquilo que habitualmente se faz; costuma, prática, rotina. Ser da praxe: 1. ser hábito,  estar integrado nos costumes; 2. ser a norma, o procedimento correto... Sinónimo: costume. (...)

Etimologia: do grego  prâksis, -eos, acção, execução, realização; empresa, condução de um caso (de guerra, de política);  comércio, negócio, intriga; maneira de agir, de ser, conduta (...)
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Havia praxes na tropa ? E na guerra ? Sim... Quem é que não foi praxado, da Academia Militar à Escola Naval, do Colégio Militar à Escola de Fuzileiros Navais ? Do COM (Curso de Oficiais Milicianos) ao CSM (Curso de Sargentos Milicianos) ? Da recruta à especialidade ? A caminho da Guiné, na travessia do trópico de Câncer, à chegada à Guiné ?... Em que é que consistiam ? Eram práticas violentas e sádicas ou eram só para reinar, para brincar, para desopilar ? Contribuem para "criar espírito de corpo" e ajudar a "integrar o indivíduo" no cenário de guerra ou noutras situações-limite, ou destinavam-se, no fundo, a "destruir a individualidade, o espírito crítico" e, em última análise, reforçar os valores do militarismo, da lógica do comando-controlo, da disciplina cega, etc. ?

Precisam-se, histórias, recordações,  narrativas... de quem foi à guerra, deu e levou... "praxadas".- Entretanto, está a decorrer uma sondagem sobre o tema. Fecha no dia 19. Toda gente pode votar... uma evz. A frase, em relação à qual se pede a concordância ou a discordância é a seguinte: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... Toda a gente foi pira, o início da comissão. E, portanto, tem autoridade para falar do assunto. Para já ficam aqui os primeiros pontos de vista sobre as "praxes militares" (**).


1. João Ruivo Fernandes:

(...) Desembarquei no Xime [, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74] , no dia 7 de Dezembro de 1972, para substituir um Furriel que, segundo informação recebida, tinha falecido numa emboscada, penso que era o Manuel da Rocha Bento.

No próprio dia em que cheguei ao Xime, sem que me apercebesse, fui sujeito a uma "praxe" que, inicialmente, foi violenta mas no final tornou-se engraçada. Puseram-me a comandar o meu pelotão e mandaram-me fazer uma operação no mato, a uma zona muito perigosa. Enfrentei vários problemas, soldados completamente "pirados", outros a não quererem continuar na missão, outros a não obedecerem às minhas ordens, etc. etc. Quando cheguei ao Quartel é que me informaram que tinha sido tudo a fingir. Paguei 2 garrafas de whisky e houve alegria.


2. António J.Serradas Pereira [, ex-adfl mil, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74]  : 

(...) O Fernandes fez parte do meu grupo de combate, como ele diz, durante dois ou três meses
Foi "praxado" num dia que fomos a Fá Mandiga buscar pedras, não me recordo para quê, onde eu e o Sousa Pinto faziamos de soldados "muito reguilas". (...)


 3. Luís Graça [, foto à esquerda, com o Renato Monteiro, o "homem da piroga"; Contuboel, junho/julho de 1969]: 

(...) Quando cheguei ao BC 6, em Castelo Branco, em janeiro de 1969 fui "praxado", como 1º cabo miliciano... Portanto, já há muito que a malta usava a praxe na tropa... Aliás, a praxe é considerada como fundamental para criar "espírito de corpo" e ajudar a "integrar" os novatos... Sempre ouvi os militares do quadro a defender a praxe (e até a justificar os seus excessos...).

Mas mandar um "pira" para fora do arame farpado no Xime, tem que se lhe diga... Eu tenho as piores recordações do Xime, que foi no meu tempo (1969/71) um autêntico matadouro... No caso do Fernandes, acabou tudo em bem, mas podia ter dado para o torto. Releio a tua descrição:

Mas depois da explicação dada pelo Serradas Pereia, fiquei mais descansado...Afinal, o "local do crime" foi Fá Mandinga, a leste de Bambadinca... Domínios do nosso alfero Cabral, poderoso régulo no meu tempo... Não estava a imaginar o Fernandes, logo á chegada, a ir dar um passeio pela antiga estrada Xime-Ponta do Inglês... De qualquer modo, o Fernandes, com dois meses de Xime, não deve ter ficado com grandes memórias... Espero ao menos que tenham sido boas... Ou, se calhar, não, porque dali foi para o hospital. Enfim, tens que desenvolver esta história... Por acaso, no blogue, não há praxes... mas se calhar devia haver! (...)

4. Henrique Cerqueira [, (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), cfoto à direita]:

As praxes na tropa??? Quanto a mim,  e foi sempre essa a minha opinião, mesmo quando estudante, as praxes na maior das vezes serviram para "rebaixar"o praxado. Na tropa e em especial em Tavira fui de tal maneira e violentamente "praxado" que no miínimo ainda hoje só desejo aos antigos "praxadores", que se já morreram,  que a terra lhes seja pesada; se ainda não morreram,  que alguém se lembre deles e lhes abrevie o tempo...

Caros camaradas da Guiné,  até pode parecer violento o que digo ,mas quanto ao tema praxes,  ainda hoje sinto uma raiva que jamais perdoarei esses individuos. (...)

5. Jorge Cabral [, foto à esquerda, Pel Caç Nat 63, Fá e Missirá, 1969/71]:

Há Praxes e Praxes! Todo o  Periquito chegado ao meu Pelotão, era fraternalmente praxado.
Penso que todos alinharam e assim se integraram na Família.
Alfero-Praxante-Mor, J.Cabral
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Notas do editor:

(...) É destas praxes, destes momentos mais ou menos hilariantes, que cada um, no seu lugar e à sua maneira, preparava para receber condignamente aqueles que os vinham render, que quero dar testemunho nas fotos que se seguem. Peço desde já desculpa por algumas delas não serem “exclusivas”. De facto, algum tempo atrás, o Quim Santos, que pertenceu à CCAÇ 2781, que edita o blog “Guiné-Bissum” , pediu-me uma ou outra fotografia da sua chegada. Mas atrevo-me a oferecê-las ao nosso álbum por nele nunca ter visto semelhante tema retratado. Vamos a isso. (...)

(**) Vd. poste de 12 de fevereiro de 2013  > Guiné 63/74 - P11090: Tabanca Grande (396): João Ruivo Fernandes, ex-fur mil, de rendição individual, CART 3494 (Xime, dez 1972 / jan 1973), onde foi praxado... É agora o grã-tabanqueiro nº 605, apadrinhado pelo Sousa de Castro, grã-tabanqueiro nº 2