quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13709: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIV: o Artur, que arranjava sempre desculpas para se baldar... ao mato. Porque, afinal, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo"... (Agostinho Evangelista, ex-sold inf, 1º pelotão)









1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Temos, de novo,  o ex-sold Agostinho  Gomes Evangelista, do 1º pelotão,  a contar-nos aqui uma história, com piada,  sobre um camarada, o Artur, que arranjava sempre  umas desculpas para se baldar... ao mato (pp. 84/85)... Aliás, era para isso que também serviam as doenças, da cabeça, do estômago, do cú...

 Porque afinal de contas, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo", já lá diz o nosso povo, para logo acrescentar: "Quem tem medo, fica em casa"... E, mesmo assim, o céu pode-nos cair em cima...  (LG)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13708: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (11): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau é muito Bilbau, e ainda bem. E sigo para Logroño

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
A viagem realizou-se no início de Setembro, penso que estão esquecidos mas eram dias acalorados.
Cheguei a Bilbau com 36º, não esmoreci, não se peregrina na expetativa de um puro deleite com o Guggenheim, não há caloraça na bolanha que nos intimide. E Bilbau é mesmo Bilbau, o diálogo entre o antigo e o moderno é ousado e provocante, a cidade está bem emoldurada, as colinas dão-lhe graciosidade, passeei-me com a recordação de uma fotografia de Robert Capa, datada de 1937, Bilbau vai ser bombardeada, todos olham para o céu, uma mãe aperta a mão da filha, a Guerra Civil foi implacável com o País Basco. Adiante.

Foi viagem inesquecível. É bom partilhá-la convosco.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (11)

Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau é muito Bilbau, e ainda bem. E sigo para Logroño

Beja Santos

Braque é a recordação pictórica mais impressiva que trouxe do Guggenheim Bilbau. Trata-se de uma grande retrospetiva organizada por ocasião do 50º aniversário da morte do grande artista (1882-1963), foi primeiramente apresentada o Grand Palais de Paris, no Outono de 2013, cobre todas as etapas da trajetória de um dos artistas mais importantes do século XX. Criador, juntamente com Picasso e Juan Gris, do cubismo nos seus diferentes matizes, iniciador dos papiers collés, Braque veio a centrar a sua obra posterior na exploração metódica da natureza morta e da paisagem. Continua a ser considerado o pintor francês por excelência, herdeiro da tradição clássica e percursor da abstração do Pós-Guerra. Exposição gigante, impossível a digestão em horas de tão faustoso banquete, abarca o seu génio prolífico, desde o período fauvista até à sua obra tardia, parece que se conseguiu concentrar neste evento prodigioso o que nos legou de mais representativo, incluindo a sua passagem pelas artes cénicas, pela escultura, até às paisagens aparentemente rudimentares do final da sua vida. Recordo que ando com um singela câmara, não posso usar o flash e é por isso que o que vos mostro é uma mera reprodução do que podem encontrar no site do Guggenheim, mas eu devorei tudo com estes olhos que a terra há de comer, saí dali alquebrado mas radioso, de alma plena. Bonda de adjetivos, abram-se as alas para Monsieur Braque, vejamos primeiro uma natureza morta, de 1934:


Para aguçar o apetite de quem segue esta viagem, esta exposição reúne qualquer coisa como 250 peças, entre óleos, aguarelas, esculturas e outros, até material documental que esclarece outros aspetos da sua atividade, como a colaboração que teve com Picasso, a estreita relação da sua arte com a música, a cumplicidade com poetas e alguns intelectuais renomados do seu tempo. Foi também a ocasião para ver fotografias da obra de Braque da autoria de Man Ray ou Henri Cartier-Bresson. E põe-se em sequência três imagens que vão do fauvismo ao cubismo, digam lá se Monsieur Braque não ultrapassou todas as vanguardas.




É altura de sair do Guggenheim Bilbau onde pontifica o titânio como se fosse uma metalização sob a forma de escamas de peixe, estou rendido a este extraordinário edifício, a tudo o que de ousado e atrevido ele pode significar, estou deleitado com o último grande museu do século XX. E agora vou para o casco velho de Bilbau.



Contorno o rio, agora tenho tempo para ver a ponte de Santigo Calatrava e detenho-me mesmo em frente a uma estação de metro desenhado por Norman Foster, aproveitou uma velha fachada e gerou uma lógica sublime entre o antigo e o prenúncio de futuro. Atravesso uma ponte e vou até à zona antiga. Paro no Arenal, um amplo passeio que acolhe muitas das atividades urbanas. Toda esta zona teve de ser reabilitada depois das inundações de 1983, é aqui que se ergue o Teatro Arriaga. É lindo que se farta, por favor, confiram se vale a pena ou não vir aqui ouvir música, teatro ou ópera, desculpem a imagem truncada:

Entrei na zona antiga, vinha inicialmente com vontade de visitar o museu do povo basco, acabei por me desconcentrar em certos pormenores e ainda bem. Vejam esta fonte, um resquício do século XIX, pois está lá claramente escrito que foi erigida (ou refeita?) em 1800:


E sigo para o mercado, é obra de grande requalificação, gostei, passei-me entre talhos e peixarias, estancos de especialidades e de bons vinhos, os olhos também comem, fica-se com a sensação que os bilbaínos não se tratam mal com as coisas da mesa e que gostam de espaços iluminados com vitrais vistosos:


Imaginem que na montra de uma retrosaria, pasme-se, encontrei este cartaz anti-touradas, achei-o profundamente original, é daquelas coisas que nos levam a acreditar que uma imagem vale por mil palavras:


E agora vou à última etapa antes de partir de comboio para Logroño, o Museu de Belas Artes de Bilbau, alguém me disse que foi impecavelmente renovado, dá gosto ir conversar com os primitivos catalães, os flamengos, os piedosos pintores espanhóis do Século de Ouro, há lá obras de Ribera, Murillo e Zurbarán, mas de gente muito mais próxima e que tanto aprecio, como Bacon, Chillida e Tàpies. A fachada, envidraçada, tem pouco para contar. Mas um pormenor me tocou, um diálogo entre o antigo e o remodelado, uma boa escultura ergue-se, voadora, e sobrepõe-se aos painéis de vidro, impressionou-me:


O que me parecia uma visita para encarar de frente algumas obras-primas como a morte de Lucrécia, de Lucas Cranach, o Velho, transformou-se num festival em torno da arte japonesa e do japonismo, surpreendente. O museu alberga uma impressionante coleção, a chamada coleção Palacio de arte oriental, mais de 200 peças, foi um festival à volta de pinturas, estampas, sabres, caixas de todos os tamanhos, objetos Namban e cerâmica para a cerimónia do chá. Algumas destas peças são excecionais, digo-vos eu. Está na hora de partir, da estação ferroviária de Bilbau para Logroño, a capital de La Rioja, são quase três horas vendo e apreciando espinhaços e cordilheiras, e muitos quilómetros de vinhedo à beira do rio Ebro. Será um belo passeio, digo-vos eu. Mas não resisti, antes de partir, em registar este espetacular vitral, não há muito restaurado, vem do tempo em que a dignidade do trabalho era cantada e exaltada nos espaços públicos, era arte pública para desfrutar e respeitar a dignidade do trabalho de um povo. Como podem ver:


Ainda não vos disse mas arrefeceu de ontem para hoje, estão só 30 graus, o melhor é andar pela sombra, foi o que fiz pelos jardins de Bilbau, bem floridos e mantidos, e agora vou de abalada, nem pressinto a belíssima viagem que me espera e o prazer de visitar Logroño, tão agradável surpresa parecia-me impensável.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13674: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (10): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau e o indispensável Museu Guggenheim

Guiné 63/74 - P13707: Álbum fotográfico do Victor Neto, ex-fur mil, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Cachil: parte II: tempo de lutar, tempo de folgar, tempo de rezar


Foto nº 8 > Tempo de lutar...



Foto nº 20 > Tempo de folgar...



Foto nº  22 > Tempo de rezar

Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) >



Fotos (e legenda): © Victor Neto / José Colaço (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Fotos falantes do Cachil, diz o José Colaço. E, se são falantes, (quase) não precisam de legenda... Pertencem ao álbum do ex-fur mil Victor Neto (CCAÇ 557, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65).

Continuamos a aguardar uma resposta ao convite (público)  para ele, Victor Neto,  ingressar na Tabanca Grande. É um camarada do tempo da caqui amarelo, que pertenceu, tal como o José Colaço, aos bravos do Cachil, um buraco, um inferno feito de mosquitos e pântanos, no dizer do nosso Jorge Portoxo... (LG)

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Nota do editor:

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13705: (In)citações (69): Quando a rotina é traiçoeira ou o flagelo das minas que continuam a vitimar civis na Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert Lopes, jornalista da Voz da América (VOA), com data de 29 de Setembro de 2014:

...de quando a rotina é traiçoeira!

A notícia da morte de pelo menos 20 civis guineenses, na explosão de uma mina anti-tanque no eixo viário Bissora- Binar, não só enluta o país... a Guiné-Bissau como sugere a urgência de uma abordagem e intervenção do Estado à altura de um tal flagelo...
É que quatro décadas volvidas sobre o fim da guerra de libertação nacional ou colonial... e um pouco mais de uma década sobre o conflito militar de 1998/99, ainda que em "surdina" e na "calada", as minas anti-pessoais e anti-carros ainda matam na Guiné-Bissau...

Conheço e visitei, ao longo da minha carreira jornalística, vários campos de minas em países e regiões então em guerra... de Moçambique a Angola passando pela região senegalesa do Casamance à Guiné-Bissau... isto para além da cobertura de conferencias mundiais afins...
Experimentei o calafrio peculiar de quem por razões profissionais teve que caminhar por campos, fazendo fé nos sapadores, "desminados" ...para constatar, num exercício masoquista próprio da profissão... o expectável: a dor, os estigmas e os estragos causados pela quiçá mais traidora dos artefactos bélicos...

Por mais garantias de sucesso dos esforços de desminagem, a incerteza e a desconfiança, essas sempre pairam! A experiência e a prudência assim aconselham.
Recordo-me neste particular de um episódio nos finais da década de 90 com Angola então a braços com as sequelas da guerra... Numa reportagem aos esforços de desminagem em curso na picada que liga Cunhinga ao Bié, no centro de Angola, a garantia da via estar completamente livre de tais engenhos explosivos, era num esforço quase que em vão isto ante a intranquilidade minha (para já não havia os tais ditos coletes de protecção pró meu SIZE), vezes sem conta, reiterada numa aparente sinceridade, pelos sapadores em acção...

... e lá fizemo-nos à picada... ladeada de ferro contorcido de tanques e viaturas militares e civis esventrados, atestando o quão suicida fora a veleidade da aventura por aquele outrora corredor da morte...
Sem sobressaltos percorreu-se o trajecto de "inspecção" da rota rumo a um povoado, onde sob a mulembeira a nossa reportagem era aguardada por um grupo de populares estropiados testemunhos vivos, porque vítimas de um tal infame artefacto bélico... ...a rotineira ida às lavras no cacimbo da madrugada, tinha sido fatal, num dia de má memoria, algures num passado que se fazia presente!

...absorto por um continuo exercício de compreensão das imagens de estropiamento legadas pela guerra, como se fosse possível compreender a guerra... nos escritórios da delegação da VOA em Luanda, soava o telefone...

Pouco mais de uma semana sobrepunha-se à experiência minha por um campo (des)minado em Angola... Qual arauto da "ma nova", num angustiante relato do que acabara de testemunhar, o correspondente da VOA no Bié anunciava do outro lado da linha:
- "Chefe uma mina anti-tanque arrastada eventualmente pelas enxurradas acaba de vitimar uma vintena de civis angolanos transportados na carroçaria de um tractor comercial que regressava das lavras"

A picada tinha por sinal, sido a calcorreada na semana anterior...
As garantias de segurança, seguramente as mesmas... a rotina essa sim... e que fora traiçoeira!

Nelson Herbert
Washington Dc, USA


Picada em fase de desminagem em Angola...

Ler o artigo publicado em 12 de Setembro de 2005 na Voz da América: Campos de minas antipessoais e antitanques identificados.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13423: (In)citações (68): A propósito do texto do Francisco Baptista, espelhado no post 13420, sob o tema "Lançados no mundo sem motivo nem explicação... difícil de levarmos a vida a um final digno" (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P13704: Convívios (634): 22 ex-militares e 42 familiares da CART 1802 (Nova Sintra, 1987/69)... No passado dia 27, em Vila Velha de Rodão, terra natal do "nosso primeiro" Silvério Dias, o "poeta todos os dias", antigo locutor do PFA

1. Mensagem do nosso camarada Silvério Dias, com data de hoje:



[ex-1º srg art ref, com 9 anos de Guiné, esteve na CART 1802 (Nova Sintra, 1967/69) e depois no QG, como radialista do PFA - Programa das Forças Armadas (1969/74; e ainda como civil, delegado de proppaganda médica, em 1974/76;  poeta, é autor do blogue Poeta Todos Os Dias; é natural de Sarnadinha, Vila Velha de Ródão]



Reunião de antigos combatentes - Companhia de Artilhara 1802 (Guiné, 1967-69) 


Cada vez em menor número mas defensores do ideal, "Conviver é Reviver", os "Pioneiros de Nova Sintra" reencontraram-se em Vila Velha de Ródão, no passado dia 27 de Setembro, para o habitual almoço e convívio.

Recebidos "à boa maneira beirã", foram obsequiados com abundante e variada degustação de produtos regionais, gentileza da edilidade local que se agradeceu na pessoa do excelentíssimo Presidente, Snr. Luís Miguel Ferro Pereira.

Também, e da parte do Vereador da Cultura e Vice-Presidente, Snr. José Manuel Alves, a oferta de lembranças alusivas ao Concelho, calou fundo em todos nós.

Bem-hajam, foi o agradecimento que deixámos.

Cumpriu-se deste modo o desejo expresso pelo "nosso sargento" Silvério Dias, natural do Concelho de VVR, que,  como "Poeta de Sarnadinha", registou o evento para a posteridade:

ENCONTRO DA CART 1802

Nos quiseram "Pioneiros"
Por algo que não desejámos.
Em Nova Sintra, os primeiros,
E por mais lados andámos.
Alguns por lá ficaram,
Moram connosco em saudade.
Aos seus que os choraram,
A nossa sentida fraternidade.

Cada vez já somos menos
Nestes encontros anuais.
Por dificuldades nos perdemos.
Muitos, não virão jamais!
Valem as nossas gerações,
Filhos, alguns netos até, 
São as novas "comissões"
Dos "Pioneiros da Guiné".

Bem-vindos, todos os presentes.
Hoje, minh'alma se encanta.
Germinaram as boas sementes,
Pois nasce o fruto quando se planta.
Plantei a ideia e pegou,
De semente ou por estaca?
Não interessa, ela vingou,
Na criação desta nova etapa.

Eu, o Albino e também o Capela,
Vos encaminhámos a esta terra.
Me direis, não é bela?
Partilhai, pois, o que ela encerra.
Um minuto de silêncio, devido
Aos que já tenham partido.
E agora, em passo de corrida,
Vamos saborear, a boa comida!

Notas à margem:

A reunião fez-se no Cais Fluvial do Rio Tejo, Efectuaram-se passeios de barco às celebres Portas de Ródão, visitas ao Castelo do Rei Wamba e o almoço foi servido na Quinta das Olelas, Retaxo (Castelo Branco).

Há fotografias a divulgar. Esperamos que os fotógrafos as apresentem.
Presentes, 22 ex-militares e 42 familiares.

Para o próximo, Silvério Dias, "decano da Companhia", espera mais!




Página do posto de turismo de Vila Velha de Ródão,  uma região fascinante a exoplorar, com uma valioso património natural e cultural desconhecido de muitos portugueses...

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Nota do editor:

Último psote da série > 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13661: Convívios (632): Encontro de 4 magníficos Especialistas das Transmissões em Grilo, Baião (Manuel Dias Pinheiro Gomes)

Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?






(...) "A história do Banco Nacional Ultramarino, fundado em 1864, está também indiscutivelmente ligada ao último século da presença portuguesa nos antigos territórios ultramarinos portugueses. E foi assim que também na Guiné, o BNU marcou a sua presença.

"De harmonia com o contrato de 30 de Novembro de 1901, celebrado entre o Estado e o Banco Nacional Ultramarino, este ficava obrigado, entre outras ações, a estabelecer no prazo máximo de seis meses agências na Ilha do Príncipe, Bolama, Cabinda, Inhambane, Quelimane e Macau.

"O Banco teria ainda de exercer gratuitamente as funções de Tesoureiro do Estado no Ultramar, nas localidades onde tivesse instalado filiais ou agências.

"Foi assim, como consequência deste contrato que o Banco abriu a primeira Agência em Bolama, em 1902, com apenas dois empregados e o gerente – o Sr. João Baltazar Moreira Júnior." (...)

Texto e fotos: Cortesia de Gabinete do Património Histórico da CGD, Miguel Costa, Junho de 2013  

PS - Recorde-se aqui que, dos nossos camaradas que combateram na Guiné e que fazem parte da Tabanca Grande, há pelo menos um que, depois do regresso à vida civil, foi funcionário do BNU na filial de Bissau, até  1974. Referimo-nos ao caboverdiano António Medina, hoje a viver nos Estados Unidos da América.




Elementos gráficos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924). Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan, que é o maior parte desta antologia da poesia guineense, a primeira que se publicou, em língua portuguesa (segundo o nosso camarada Albano de Matos).


O nosso camarada Albano de Matos.
 Foto atual
1. Do poeta, hoje divulgado, Mário Lima, caboverdiano, bancário, não temos mais referrências. Sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida  quem contactou e selecionou os poetas "civis". Ao Albano de Matos coube a tarefa de incluir os poetas "militares". Talvez o António Medina nos possa dizer algum mais sobre o seu ex-.colega de trabalho e patrício Mário Lima.

Como já o dissémos,  esta antologia, deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: (i) o Aguinaldo de Almeida, funcionário do BNU; e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos [, hoje ten cor art ref, esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [Foto atual, acima]].

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que ele nos mandou,.

Temos também a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia, de que se fizeram, policopiados, a stencil,  apenas 700 exemplares, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. O editor literário é o Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.







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Dois poemas de Mário Lima, funcionário do BN, natural de Cabo Verdem pp. 15/17. Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?


Guiné 63/74 - P13702: Parabéns a você (795): Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13687: Parabéns a você (794): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont Armas Pesadas da CART 2732 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13701: Efemérides (175): O Curso Caldas Xavier da Academia Militar iniciou-se há 50 anos (António Martins de Matos)



1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos, TGen Pilav Ref (ex-Tenente Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 6 de Outubro de 2014:

CURSO CALDAS XAVIER

Caros amigos
Hoje foi um dia de festa e boas recordações para os militares do Curso Caldas Xavier, completaram-se 50 anos que o Miguel Pessoa, o António Costa, este vosso amigo e mais 134 jovens ingressaram na Academia Militar (AM).

Desde já uma clarificação, quando em OUT64 decidimos seguir a carreira militar não íamos à procura de mordomias, galões dourados, vencimentos chorudos ou donzelas casadoiras, o lema da Academia dizia-nos:
Dulce et decorum est pro patria mori

A guerra no Ultramar já estava ao rubro nas 3 frentes.
Éramos jovens mas sabíamos ao que íamos...
E fomos!!!

Éramos militares do “Quadro”, mas em tudo iguais aos restantes portugueses mobilizados para o Ultramar, pelo número de intervenientes quase poderíamos dizer que éramos uma … “Companhia do Quadro”.
O curso na AM ainda estava como nos anos 50, voltado para o estudo dos grandes conflitos, mais estratégia que táctica e nem uma palavra sobre guerrilha, os que haveriam de nos ensinar algo sobre o tema ainda não tinham regressado de África.
Por isso e apesar de sermos do “Quadro” a nossa experiência para o que íamos encontrar era praticamente nula, ou seja, … igual à dos milicianos.

Entre 1968 e 1974 e com o posto de Alferes, Tenente e/ou Capitão, calcorreámos e sobrevoámos a Guiné, Angola e Moçambique, quando a Revolução dos Cravos eclodiu alguns de nós já iam na segunda comissão.

À semelhança de todos os outros combatentes, também nós tivemos de quase tudo, heróis, normais, rambos, cagarolas  e… desenfiados.
Mas nunca tivemos colaboradores com o inimigo nem desertores.

Durante os sete anos em que andámos pelo mato, oito de nós justificaram a máxima do filósofo Horácio,  … deram a vida pela Pátria,.
Alguns outros também receberam a sua dose de metralha mas conseguiram sobreviver, logo o Estado se encarregou de os descartar, passando-os à disponibilidade, a engrossar o contingente dos Deficientes das FAs.
E o tempo foi passando…

Fizemos não só a Guerra do Ultramar, mas também o 25 de Abril, o Verão Quente, a Descolonização, o 25 Novembro, Timor, o reentrar na NATO, a Reestruturação das FAs.
Fizemos coisas boas, menos boas, assim assim, algumas ruins…., umas vezes por convicção, outras enganados por mentes politicamente mais “espertas e/ou oportunistas”,

Com o passar dos anos alguns de nós acabaram por deixar a vida militar e seguir caminhos civis, na Engenharia, no Direito, na TAP, no Ensino, no Comércio e Industria, outros foram para a PSP ou GNR, alguns (poucos) acharam por bem dedicar-se à política, ainda hoje andam a pisar as “alcatifas”, a maior parte manteve-se nas fileiras, a nova missão era…. “Modernizar as FAs”!

Nesta confusão técnico/política, ideias não nos faltavam, entre outras acções queríamos melhorar o apoio às populações, (que a parturiente de Bragança tivesse o mesmo apoio que a de Empada), modernizar o sistema de apoio aos fogos, (sem fazer disso um negócio), repensar o recrutamento …
Umas vezes opinámos sobre o que sabíamos, a substituição dos ALIII, das Chaimites ou da G-3, outras vezes sobre o que não sabíamos, por exemplo,… qual a melhor solução, a Unidade ou a Unicidade Sindical?.

Mas não fomos só nós os maus “opinadores” já que, em contrapartida, temos assistido aos políticos a dissertarem sobre se as FAs devem ter carros de 4, 8 ou 13 rodas, ou F-16, 17 ou 19, o recrutamento de 12, 4, 1 ou zero meses. (sempre e só a pensarem em votos), ou a compra de uns  pequenos submarinos (qual o valor das “luvas”????).
Discussões bacocas e que nunca levam a bom porto, os políticos só têm de dizer se querem ou não FAs, a discussão do tipo de equipamentos é da competência dos militares. 
Com todos estes mal-entendidos, o “Modernizar as FAs” passou rapidamente a um outro escalão, “Reduzir e Modernizar”….
Mais tarde ficou-se apenas pelo “Reduzir, Reduzir, Reduzir”.

Hoje já estamos velhotes, alguns de nós até já partiram…., estou-me a lembrar do Cadete 478, o Salgueiro Maia, afectuosamente conhecido como “O Bazuca”, que deu o corpo ao manifesto no 25 Abril enquanto alguns mais finórios e politizados se ficavam pela “ombreira da porta”, ou o aviador Melo que, paraplégico, resolveu dar a volta ao mundo num teco-teco, ou  o “Mala”, o “Cunhado”,…

No rescaldo do que fizemos penso poder afirmar que, de uma maneira ou de outra, todos tentaram dar o seu contributo para um Portugal melhor.

Por tudo o que acabo de escrever acho injusto quando alguém, por ignorância, maledicência ou recalcamento, resolve fazer uma apreciação deturpada e tendenciosa dos do “Quadro” por comparação com os “Milicianos”.
Afinal todos pertencemos ao mesmo povo, todos andámos pelas mesmas picadas, todos comemos o mesmo pó, e, que eu saiba, o sangue dos do Quadro e dos Milicianos continua a ser da mesma cor.

Aos 24 militares do Curso Caldas Xavier entretanto falecidos…. um abraço.

Guiné 63/74 - P13700: Inquérito online: Desenrascanço não é defeito, faz mesmo parte do ADN do Zé Tuga... É a opinião da grande maioria (n=101) dos que responderam (n=113) à nossa sondagem


Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal". O fotógrafo estava lá... Uma foto muito feliz do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos,  administrador do sítio Reserva Naval. Uma fotom fabulosa, ilustrando uma das nossas facetas, como povo, que é a capacidade do "desenrascanço"...


Foto: © Manuel Lema Santos (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Todos os direitos reservados.



1. SONDAGEM:  "DESENRASCANÇO É UMA QUALIDADE NOSSA. NA GUINÉ. DEMOS BOAS PROVAS DISSO"



1.1. Resultados finais (n=113)

- Totalmente falso (1) / falso (5) >  6 (5,3%)

- Nem falso nem verdadeiro / 
Não sei / não tenho opinião >  6 (5,3%)

- Verdadeiro (31) / totalmente verdadeiro (70) > 101 (89,4%)

 

1.2. Sondagem encerrada às 18h26, 4/10/2014...

Palavras, para quê ?!...



Guiné 63/74 - P13699: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XIII: fevereiro de 1973: (i) a população sob nosso controlo não gostava da "psícola"; corruptela de "ação psicológica"; (ii) operação de envergadura na península da Ponta do Inglês, com 5 mortos confirmados do IN e 7 feridos da CCAÇ 12, todos da secção do fur mil Duarte


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... É uma imagem que se repetia  ao longo dos anos, sempre ou quase sempre que havia  operações à península da Ponta do Inglês. Desde a sua formação, em julho de 1969 e até à sua extinção, em agosto de 1974,.  a CCAÇ 12, subunidade de intervenção, esteve  às ordens de pelo menos 3 batalhões sediados em Bambadiinca: BCAÇ 2852 (1968/70), BART 2917 (1970/72) e BART 3873 (1973/74)... Depois de dar e  levar muita "porrada", a CCAÇ 12 foi guarnecer o aquartelamento do  Xime como subunidade de quadrícula, em meados de 1973, quando a CART 3494  foi colocada em Mansambo, subsetor que aparentemente se tornou-se, nesta altura (1972/74)  mais calmo do que no meu tempo (1969/71) e no tempo do Torcato Mendonça e do Carlos Marques dos Santos (CART 2339, 1968/69).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Continuação da publicação da história do BART 3873(Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].
O grande destaque do mês de fevereiro de 1973, a seguir à  morte de Amíolcar Cabarl (1924-1973)   vai para:
(i) É a a época das queimadas, feitas em grandes extensões tanto pelas NT como pelo IN;

(ii) A população sob nosso controlo não gosta da expressão "psicola"; corruptela de "ação psucológica";

(iii) Na Op Bate Duro (de 25, às 5h30, a 27 de fevereiro de 1973, às 15h00), no susetoro do Xime (Ponta Varela / Ponta do Inglês / Ponta João Silva / Poidom), envolvendo forças da CCAÇ 12 (3 gr Comb), CART 3494 (3 Gr Comb) e ainda os GEMIL 309 e 310 (Enxalé),  o IN soferu 5 mortos confirmados; foi, semdúvia, um  dos palcos, a península da Ponta do Inglês, um dos palcos  mais sangrentos da história da guerra colonial (ou da guerra de libertação) no TO da Guiné;

(iv) Nesta operação de patrulhamento ofensivo,  emboscadas e montagem de armadilhas, a CCAÇ 12 teve 7 feridos, todos da secção do António Duarte  (que era a da bazuca); o Duarte não participou nesta operação  por estar de férias em Bissau, mas deixou esta nota, a vermelho, na cópia do exemplar  hsitória da unidade que nos mandou,

Fevereiro de 1973: operação de envergadura na região da Ponta do Inglês / Poindom, com 5 mortos confirmados do IN e 7 feridos da CCAÇ 12.





















(Continua)



Guiné > Zona Leste > Croquis do Setor L1 (Bambadinca), que coincidia em parte com a antiga Zona 7 do PAIGC (margem direita do Rio Corubal) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas). 

[Veja-se a localização do Ximer, Ponta Varela, Poidom  e Ponta Lu+is, topónimos acima referidos. No Arquivo Amílcar Caberal, Ponta do Inglês e  Ponta Luís Dias são sempre referiidas como Gã Dias e Gã Carnês ou Garnes.Grande parte da população (balanta) que vivia na Ponta do Inglês e  na Ponta Luís Dias tinha fugido de Samba Silate, perto de Nahbijões,  no início da guerra] (LG)