domingo, 4 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14116: Bom ou mau tempo na bolanha (82): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (22) (Tony Borié)

Octogésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 14 de Julho de 2014. 

Companheiros de viagem, este é o resumo do vigésimo quarto dia

Os nossos antepassados diziam que pela manhã é que se começa o dia, seguindo este ditado, eis-nos na estrada número 191, rumo ao sul. O dia estava com céu limpo, já começava a temperatura a subir, pois eram 7 horas da manhã e, já marcava no termómetro do Jeep, 86ºF.

Levávamos água e roupas leves, pois o nosso destino era a região a que alguns chamam, o deserto de “Moab”, onde queríamos percorrer o “Arches National Park”.

A entrada, ou seja onde está localizado o Centro de Informação, é na base das montanhas de pedra vermelha, podemos viajar por todo o parque, tem uma estrada onde, embora sendo estreita, podemos conduzir com alguma segurança, tem subidas, precipícios e descidas um pouco assustadoras, mas a paisagem compensa.


O Parque Nacional dos Arcos, pois é assim que nós o vamos designar, está localizado no estado do Utah, destacando-se pela grande concentração de arcos naturais, cerca de 2000, tem uma superfície de 310 km2 e o seu ponto mais alto é de 1723 metros, situado na “Colina Elefante”, e a sua elevação mínima é de 1245 metros, que, tal como já mencionámos, é junto no centro de visitantes. Está localizado numa região árida, pois recebe em média 250mm de chuva por ano.


Descrevendo só um pouco da sua história.
Dizem que, provavelmente, esta região há cerca de 300 milhões de anos era mar, estava coberta de água salgada que, também provavelmente, foi evaporando, portanto hoje toda esta região está localizada, ou seja, “dorme sobre uma cama de sal evaporado subterrâneo”, que é a principal causa da formação dos seus arcos, torres, pedras equilibradas, barbatanas de arenito e monólitos erodidas nesta área. Esta “cama de sal” tem de milhares de metros de espessura em alguns lugares e foi depositado na “Bacia do Planalto do Colorado”, que é como chamam a esta área. Há cerca de 300 milhões de anos, quando um qualquer mar, fluiu na região e, torno a dizer, provavelmente evaporou, como tentámos explicar no princípio.


De uma maneira ou de outra, em Abril de 1929 esta maravilhosa região foi proclamada pelo presidente Herbert Hoover, “Monumento Nacional” e, em Novembro de 1971, foi proclamado como “Parque Nacional”, tudo isto são pequenas curiosidades que ajudam a compreender a importância deste parque.


Entrámos e saímos, parando de novo no Centro de Informação, bebendo e enchendo de novo as garrafas, onde existe uma fonte com água filtrada. Seguindo viagem pela estrada com o número 128, na direcção nordeste, que segue encostada ao rio Colorado, entre desfiladeiros, também de terra vermelha, tal como o nome do rio, em alguns pontos com montanhas de um lado e do outro, que o rio por milhões de anos rasgou e, em outros lugares, pequenas planícies, onde existem pequenas quintas, podendo-se ver ao longe aqueles monumentos que aparecem nos “filmes do Jonh Wayne”, que por aqui andou, pois tivemos a possibilidade de parar numa pequena localidade, onde ele viveu, com  outros artistas, quando por aqui andavam a filmar “cowboyadas”.


Esta estrada tem uma paisagem que por vezes nos faz lembrar as do “Gande Canyon” e, afinal, é o mesmo rio que o atravessa.


Com alguma mágoa, por abandonar estas paisagens, regressámos à estrada rápida número 70, agora definitivamente rumo ao Atlântico, seguindo por algum tempo por planícies, atravessando depois a fronteira com o estado do Colorado, onde viemos dormir na pequena cidade de Fruita, onde não cozinhámos, pois houve tempo suficiente para ainda comer um “cowboy churrasco” à moda do Colorado, cujo anúncio, com a respectiva foto, aparecia em diversos anúncios de estrada.


Neste dia percorremos 419 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.42 e $3.46 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14088: Bom ou mau tempo na bolanha (80): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (21) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P14115: Memória dos lugares (280): Bafatá, princesa do Geba, parada no tempo: o cinema local e o seu mítico guardião, Canjajá Mané, o casal João e Célia Dinis, Dona Vitória, as irmãs Danif (libanesas), o glorioso Sporting Clube de Bafatá (fundado em 1937 pelos prósperos comerciantes locais, e que chegou a ter 600 sócios), o ourives, o rio, os pescadores, e os demais fantasmas do passado que hoje povoam a terra de Amílcar Cabral... A propósito de "Bafatá Filme Clube" (2012) que acabou de passar na RTP2, no passado dia 1 (Valdemar Queiroz)



O documentário, já disponível em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78',  7 € ) passou na RTP 2, no dia 1 de co corrente.  Tem a participação de, entre outros habitantes,  de Canjajá Mané ( o mítico guardião do cinema local) (*), Dona Vitória (libanesa), casal João e Célia Dinis, Humbargo Tcham (o ourives, filho do célebre ourives de Bafatá, do nosos tempo),  as irmãs Danif (libanesas), o Pombo, o presidente do Sporting Clube de Bafatá, o Toni e o Toninho...  Recorde-se que o João M. Dinis, casado com a Célia,  foi um militar português que ficou em Bafatá e abriu um negócio na área da restauração e hotelaria.  Entre as pessoas e entidades, a quem são endereçados agradecimentos está o nosso blogue, na pessoa do seu editor, Luís Graça e do nosso camarada Fernando Gouveia. (LG)


1. Comentário de Valdemar Queiroz  [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] ao poste P14114 (**)

Obrigado, Hélder, pelo poema. Vamos ver o mar... e, como numa maré, isto tem que mudar.
Passei hoje, toda a tarde a comunicar (via telemóvel) com os meus camaradas, da CART 11, o ex-fur mil Aurélio Duarte e ex-allf mil Pina Cabral sobre o "Bafatá Filme Clube"  (RPT2), e a repetição "Portugueses pelo Mundo-Bissau" (RTP1), vistos esta semana na RTP. 

Grande documentário , "Bafatá Filme Clube". Extraordinário documento que explica o fenómeno do "atrofiamento/desaparecimento" da bela, da bonita, da esplendorosa Bafatá.

O filme "Bafatá Filme Clube" é de 2012, mais parece um fantasma para todos nós que passamos por lá.  Bafatá,  uma cidade cheia de casas comerciais, grande movimento nas ruas, com piscina e que toda a gente tinha que andar calçada, se não pagava a multa de comprar uns chinelos de dedo. 

Inesquecível Bafatá onde  a rapaziada de Nova Lamego e Piche vinha gozar férias e aproveitava para tirar a carta de condução (era difícil o ponto de embraiagem naquela subida).

Fui a Bafatá vária vezes, mas recordo-me uma vez que a rapaziada veio comer comida da metrópole a Bafatá. Chegamos a meio da manhã e fomos directos à piscina, em camuflado, poeirento, suados, estafados, vindos de Contuboel. Houve uma certa resistência para nos deixarem entrar daquela maneira na piscina. Nós dissemos que não podíamos abandonar as nossas armas, ou entravamos assim e depois despíamo-nos. Não, tínhamos que despir os camuflados, deixar as armas e só depois entrar. 

Depois foi uma entrada à lisboeta, "olá,  tá bom" e entramos todos ao empurrão, depois tiramos o camuflado, a arrumamos as G3 e mergulhamos na refrescante piscina de Bafatá. Depois, foi visitar as lojas das libanesas, das bonitas libanesas, beber umas "bejecas" e vir até cá cima ao restaurante comer frango da metrópole.

E, partir para Contuboel a olhar lá para baixo para ver a bonita Bafatá. Inesquecível. (***)

Um abraço,
Valdemar Silva
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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 17 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12595: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (15): O cinema local e a figura lendária do seu guardião, o Canjajá Mané... E, a propósito, relembre-se o documentário, já em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78')

(...) Vd. Também aqui o sítio da produtora Real Ficção > O filme está agora disponível em DVD [, à venda na FNAC, por exemplo]

Sinopse > "Em Bafatá na Guiné-Bissau, Canjajá Mané, antigo operador de cinema e guarda do clube da cidade, repete os mesmos gestos há cinquenta anos. Mas actualmente o cinema está fechado e não existem espectadores. Dos seus tempos como trabalhador do clube até aos nossos dias, restam apenas recordações. Na cidade, somente as pedras, árvores e o rio resistiram à erosão do tempo. E com eles, algumas pessoas, que ficaram para perpetuar na memória do mundo e dos homens, que ali já viveu gente. São essas pessoas por quem Canjajá procura e espera pacientemente até hoje". (...)
(**) Vd. poste de 3 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14114: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (10): António Pinto, Leão Varela, Hélder Sousa

sábado, 3 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14114: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (10): António Pinto, Leão Varela, Hélder Sousa

Amigos/as e camaradas: Não nos é, materialmente possível, publicar todas as mensagens de boas festas que recebemos durante este último período de Natal e Ano Novo. Fica aqui a nossa gratidão a todos/as os/as nossos/as grã.tabanqueiros/as.  Mas por que as festas continuam até aos Reis,  ainda seleciomámos estas três mensagens que nos chegaram entre o natal e o fim do ano.  LG


1. António de Figueiredo Pinto [ex-alf mil, BCAÇ 506, Pirada, Madina do Boé e Beli, 1963/65] [foto à direita]





A todos os CAMARADAS que cumpriram o seu dever na GUINÉ o meu voto de BOAS FESTAS, especialmente os que la estiveram de NOVº de 1963 a NOVª de 1965, dos quais não encontro ninguém neste nosso Blogue.

Hipóteses de não encontrar ninguém do meu tempo:

1 -Não terem possibilidades de terem computador.

2 -Não terem conhecimento do nosso Blogue.

3-Já terem "partido" para um mundo eventualmente melhor.

4-Não haver interesse, boa vontade, tempo e disposição dos responsáveis deste Blogue, que, aliás, muito prezo, em tentar procurar ALGUÉM de 63/65.


Enfim, com os meus quase 76 anos o que mais desejo é FELICIDADE para todos e um 2015 melhor que o melhor dos anos que já tiveram.

Um abraço, António Pinto

2. José Inácio Leão Varela [ex-alf mil,
CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda
e S. João, 1966/68]


 Olá, Amigos e Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal... Tudo bem?

Aqui deixo o meu agradecimento pelos votos de Bom Ano Novo que por este Blogue circularam e a minha retribuição com iguais votos para TODOS os nossos amigso e camaradas.

"Caros Amigos e Camaradas

Com a amizade e companheirismo que o elo muito forte que nos une (a nossa passagem pela Guiné), desejo-vos que todos os piores dias do NOVO ANO 2015 sejam para todos pelo menos iguais aos melhores dias do ANO VELHO 2014".

VIVA A MALTA DA TABANCA!!!!.... FELIZ ANO NOVO!!!!

Leão Varela


3. Hélder Sousa  [ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72; nbosso colaborador permanente]

Minhas amigas e amigos

O Natal já passou. É o momento utilizado para fazer os votos e formular os desejos de um novo ano que seja um Ano Novo. Em tudo.

Envio-vos o poema que se segue que um 'velho' amigo, Afonso Dias, músico e "entertainer", me presenteou e que acho perfeitamente adaptado ao momento.

Como ele diz,  "a felicidade faz-se e dá trabalho" e o poema remata com " é dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre". É isso mesmo!

Feliz 2015.
Hélder Sousa

Venha lá, então, esse 2015!...
E, atenção, a felicidade faz-se e dá trabalho.
Aqui vai um poema do Drummond a propósito.
Tratai de ser felizes no Ano Novo.

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade [1902-1987]


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Nota do editor

Último poste da série > 24 de dezembro de  2014 > õa VarelaDiniz Souza Faro, Jorge Teixeira, Leão Varela, Mário Gaspar, Anabela Pires e Rui Silva

Guiné 63/74 - P14113: A minha máquina fotográfica (18): A minha máquina foi comigo da Metrópole mas já conhecia os cantos da guerra. Tinha feito uma comissão de serviço, para os lados de Bissum, com um irmão meu, entre 1970 e 1972 (Albano Costa)

1. Mensagem, com data de 23 de dezembro de 2014, do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional, com estabelecimento em Guifões, Matosinhos:

Olá, amigos
É com muito gosto que estou a responder ao pedido feito pelo editor do nosso blogue, Luís Graça.

As fotos que insiro neste texto servem para ilustração do texto.

A máquina já foi comigo da metrópole para a Guiné, aliás, ela já tinha feito uma comissão por isso já era velhinha, assim como já conhecia os cantos da guerra, ela fez uma comissão para os lados de Bissum com um irmão meu que também esteve na Guiné entre 70-72 e depois foi comigo em 73-74.

Eu ainda ganhei uns trocos com a minha máquina, mas não trouxe dinheiro nenhum tudo foi dividido ainda na Guiné comigo e com os amigos mais chegados.

Eu comecei a fotografar logo no barco (Niassa), eu arranjei conhecimento com o funcionário do Niassa que num compartimento na ré do barco, tinha uma pequena oficina que imprimia as ementas do que ia ser as refeições dos oficiais e sargentos (um luxo para a época) e também fazia fotografia, e ele deixava-me ser eu a imprimir as minhas fotos e eu só pagava o papel e os banhos e pouco mais. Por isso durante o dia tirava as fotos e à noite muitas vezes estava a passar um filme a bordo e eu estava a fazer as minhas fotos para no dia seguinte as vender e tirava outras, mas tinha um colega que tomava a responsabilidade de as entregar e receber o respectivo pagamento (sem I.T. e sem NIF que ainda não existia), ainda juntei algum dinheirito.

Esse dinheiro veio a fazer muito jeitinho porque como devem saber, pelo menos com a nossa companhia foi assim, o primeiro dinheiro que recebemos foi ao fim de 3 meses, muito dos meus amigos já andavam nas lonas e quem pagava as contas da cerveja era o dinheiro das fotografias.

As minhas fotografias foram quase todas feitas na metrópole eu levei bobines de fita a P&B e depois cortava para fazer rolos de 36/37 fotos, e alguns rolos a cores (poucos) eram mais caros e tinham de ser impressos em Espanha, naquele tempo todo o serviço a cores ia para Espanha. Mas eu tinha o meu secretário que me ajudava no seguinte, eu tinha uns livrinhos (também trabalhei em artes gráficas e levei alguns comigo), que se usava e ainda hoje é usado pelos «rifeiros» e recebia primeiro o dinheiro e depois entregava as fotos mediante o respectivo talão, para salvaguardar, de depois não virem dizer que não tinham dinheiro e eu tinha de ficar com as fotos que não serviam para nada a não ser para o próprio.

Quando cheguei à Metrópole o meu pai (já falecido) ainda me perguntou se eu tinha dinheiro para pagar a despesa das fotos que eu fiz, e eu respondi, pai não fui para a guerra para ganhar dinheiro, o dinheiro que sobrou foram 4.000$00 que emprestei a dois colegas se eles me pagarem muito bem se não me pagarem paciência, um deles ainda me deu 2.000$00 o outro nunca mais apareceu.

A máquina depois de duas comissões não tirou mais fotografias, recolheu ao arquivo e ainda hoje lá se encontra junto de dezenas de máquinas do espolio que foi do meu pai e meu, e por lá vai continuar, mas ainda se for preciso faz o seu dever ainda funciona, porque de vez em quando vou dar uns disparos sem rolo para a manter activa.

Aproveito para desejar um feliz Natal e um próspero Ano Novo.

Um abraço
Albano Costa

Mala de protecção da máquina


Outro plano de frente da máquina

Costas da máquina

Arquivo de alguns de muitos rolos a P&B e cores

Arquivo em Digital para ficar para futuro. Já tem dado para fazer umas surpresas aos amigos.

Fotos © Albano Costa (2015). Todos os direitos reservados
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14103: A minha máquina fotográfica (17): Comprei uma Canon no navio "Timor" e andei com ela muitas vezes no mato... Tirou centenas de fotos e "slides" (que mandava para a Alemanha, para revelar) (Abílio Duarte, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

Guiné 63/74 - P14112: Agenda cultural (368): Apresentação do livro "O Fim do Império", do jornalista Ribeiro Cardoso, dia 8 de Janeiro, pelas 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto (Manuel Barão da Cunha)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14094: Agenda cultural (371): José Eduardo Reis Oliveira (JERO) apresentou no passado dia 9 de Novembro o seu livro "Família Coelho", o resultado da pesquisa das suas raízes

Guiné 63/74 - P14111: O nosso blogue em números (34): no final de 2014: (i) 6,8 milhões de visualizações de páginas; (ii) 676 membros registados; (iii) 14 mil postes publicados; (iv) 55600 comentários; (v) 1638 amigos no Facebook da Tabanca Grande...



Em 23 de abril de 2015 fazemos 11 anos... Estamos a fazer a campannahs dos 700 grã-tabanqueiros... E esperamos ter ultrapassado os 7,3 milhões de páginas visualizadas...


Draft do poster do nosso 11.º aniversário. Autoria do © Miguel Pessoa (2014)

Mensagem,  de 24 de dezembro último, do nosso camarada e colaborador Miguel Pessoa:

 "Caros Luís e Carlos: Em vez do tradicional cartão de Boas Festas resolvi enviar-vos o 1º draft do meu postal do 11º aniversário da Tabanca Grande. Provavelmente o último que me abalanço a fazer, que já começo a não ter imaginação para futuros projectos... Pelo menos penso que o "período azul" dos meus projectos estará a chegar ao fim... Claro que os valores ali apresentados poderão ser corrigidos em data mais próxima do aniversário. Mas fica a ideia global. Com votos de uma boa Consoada e uma entrada estável em 2015.Miguel"

Resposta, e pronto do nosso editor LG.:

"Miguel, és um amor. Acho que o talento não se perde, com a idade, pelo contrário, desde que seja usado (e ás vezes abusado)... Obrigado pela tua prenda de Natal. A gente depois acerta os detalhes. Boa consoada, boa reunião de família. Bj. para as tuas meninas, xicoração para os machos. Luis"


1. O nosso blogue atingiu, em finais do ano de 2014  a cifra de 6,8 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de visitas), segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger: 5,1 milhões, desde maio de 2010, a que acrescem mais 1,7 milhões desde 23/4/2004, início da I Série, que esteve em vigor  até 30/5/2006. (*)

No espaço de um ano   tivemos um aumento de 1,5 milhões de visualizações de páginas (Gráfico nº 1). Admite-se que 10% a 15% deste total de "visitas" sejam de blogues, portais e outros sítios com intenções comerciais, a avaliar pelas mensagens tipo SPAM que ficam nas malhas dos nossos filtros...

Mesno assim, é um número notável que nos encoraja a continuar, enquanto tivermos condições para manter aberta a nossa Tabanca Grande.  E tudo isto... (i) apesar da "crise" que também nos afeta; (ii) apesar da concorrência do Facebook e de muitas outras páginas sobre a guerra colonial que apareceram na Net; (iii)  apesar do nosso envelhecimento e, pro vezes,  cansaço, saturação, desânimo, descrença; e ainda, e não menos importante, (v)  apesar  do inevitável esgotamento das nossas "memórias" (guardadas no "baú"), que tem de ser compensado pela entrada de "gente nova" (leia-se: novos tabanqueiros), o que felizmente tem acontecido...



Gráfico nº 1 - Evolução do nº de visualizações de páginas do nosso blogue, em milhões, de maio de 2010 a dezembro de 2014.

2. Quem nos visita vem fundamentalmente de:

Portugal (48,2%) 
EUA (17,6%)
Brasil (8,7%)
França (4,8%)
Alemanha (4,0%)...

mas também de:

Rússia (0,9%)
Reino Unido (0,8%)
China (0,7%)
Polónia (0,7%)
Canadá (0,7% )...

Do do resto do Mundo são 12,9%.

O Brasil foi destronado do 2º lugar, agora ocupado pelos EUA (que tinha 7,6% do total em 31/12/2013, e tem agora  17,6%) (**).

Para além de Portugal e do Brasil, não há mais nenhum país lusófono nos dez primeiros lugares, mas há seguramente importantes comunidades lusófonas (portugueses, guineenses, caboverdianos e outros) por detrás dos números de países como a França, a Alemanha, o Reino Unido ou o Canadá.

27% nossos visitantes pertencem a (ou vivem em) o Novo Mundo (Américas): EUA, Brasil, Canadá...

3. Por navegador, o Internet Explorer vai à frente (38%), seguido do Chrome (28%) e do Fire Fox (22%). Os restantes juntos somam 12% do total dos visitantes.

Por sistema operativo, o Windows ainda é o rei e o senhor (82%), destacadíssimo da concorrência: McIntosh (6%), Linux (5%) e outros (7%).

4. No final do ano de 2013, tínhamos 636 membros inscritos na Tabanca Grande. No final de  2014, temos 676,  ou seja, uma média de 3,3, por mês, sensivelmente  a mesma do que em 2013 (3,4/mês) (Gráfico nº 2).




Gráfico nº 2 - Evolução do nº membros (registados) da Tabanca Grande, que passam de 390 (em dezembro de 2009) para 676 (em dezembro de 2014): um média de 57,2 por ano.

5. O número de postes publicados, em 2014, foi de 1565 (4,3 por dia), menos do que nos anos anteriores (até 2009). O melhor ano foi o de 2010, com um total de 1955 postes. O total de postes publicados nestes 11 anos foi de 14095 (Gráfico nº 3).


Gráfico nº 3 - Evolução do nº de postes publicados, por ano: passam de 4 (em 2004, ano em que arrancou o blogue) para  1565 (em 2014).  O nº médio anual de postes publicados é de 1670 (,considerando apenas os últimos 7 anos, de 2008 a 2014).



6. O número de comentários atingiu, no final do ano de 2014, um total de 55670, mais 8150 do que no final de 2013 (Gráfico nº 4).





Gráfico nº 4 - Nº de comentários por ano (de 2008 a 2014)


Em média, fizeram-se durante o ano passado 22,3 comentários por dia no nosso blogue.

Se consideramos o nº de postes publicados em cada ano, o nº médio por poste e por ano é de 5,2 (no período de 2009 a 2014).


Gráfico nº 5 - Nº médio de comentários por poste e por ano (de 2008 a 2014)


O nº de comentários foi diminuto nos primeiros anos, até por razões ténicas: 20 (desde 1 de junho até final de 2006): 200 (2007); 1000 (2008)... Começou a crescer a partir de 2009.


7. É bom lembrar que temos, desde janeiro de 2011, uma página no Facebook, chamada Tabanca Grande, com com 1638 amigos (cerca de 300 mais no final do ano de 2013). 

Temos dado preferência, em termos de resposta aos chamados pedidos de amizade, aos antigos combatentes da guerra colonial, mas nem todos os amigos do Facebook têm a ver com a guerra, longe disso, e muito menos com a Guiné.

A nossa página do Facebook, gerida pelos editores Luís Graça e Carlos Vinhal, não se rege pelos mesmos princípios editoriais do blogue. Os amigos do Facebook não são automaticamente membros do blogue. Para esse feito, têm que seguir os mesmos procedimentos: (i) mandar 2 fotos, (ii) ter um email válido (ou disponível, através de um familiar ou amigo); e (iii) apresentar-se aos membros da nossa comunidade virtual a que chamamos Tabanca Grande.

Tal como já tínhamos dito o ano passado, no início do ano, temos de: (i) encontrar uma maneira de articular melhor o blogue e a página do Facebook; e (ii)  prestar mais atenção às muitas páginas que, sob a forma de blogues, sítios e páginas do Facebook, se abriram nestes últimos anos, individuais ou de grupo, e que são um importantíssimo contributo para o esforço de preservação, proteção e divulgação das memórias dos antigos combatentes da guerra colonial.

Cabe a esse respeito, deixar aqui, mais uma vez, uma palavra de grande apreço ao portal UTW - Ultramar Terraweb, fundado, em 20/3/2006, pelo nosso camarada António Pires (ex-fur mil mec auto, CSM/QG/RMM (Moçambique 1971/1973). Para ele e para a sua equipa, vai  o nosso fraterno alfabravo, e o nosso apreço pelo gigantesco trabalho realizado.

8. Recorde-se, por fim, os 6  (seis)  camaradas e os 2 (dois)  amigos  que nos deixaram, deixando mais pobre a Tabanca Grande, durante o ano de 2014. Que descansem em paz, e que continuem a ser lembrados por nós.

António Rebelo (1950-2014)
Armandino Alves (1944-2014)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)
Fernando Brito (1932-2014)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014)
Manuel Moreira (1945-2014)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014).


9. Antes de terminar, quero expressar  aqui, em público, os meus sentimentos amizade, camaradagem e recomheciemntos para todos os nossos editores (que são, além de mim, o Carlos Vinhal, o Eduardo Magalhães Ribeiro e o Virgínio Briote que, por razões de saúde, deixou de estar ativo, sendo por isso um editor "jubilado"), e demais colaboradores permanentes (Humberto Reis, Hélder Sousa, Jorge Cabral, José Martins e Torcato Mendonça)... Eles merecem todo o meu (e, seguramente nosso) apreço... Um destaque especial para o José Martins, pelo seu "consultório militar", sem esquecer o Miguel Pessoa e o Joaquim Mexia Alves que integram, desde há anos, a comissão organizadora do Encontro Nacional da Tabanca Grande.

Mais uma vez ninguém me  levará a mal a discriminação que faço, pela positiva, ao destacar, de entre todos, o nosso camarada Carlos Vinhal, "meu braço direito e esquerdo": pelo seu trabalho, pela sua disponibilidade, pela sua generosidade, pelo seu companheirismo e sobretudo pela sua inteira dedicação ao nosso blogue (, muitas vezes em prejuízo do seu descanso e saúde!), ele é uma das traves-mestras deste edifício que estamos a construir juntos, e merece as nossas palmas no início do ano de 2015, em que vamos (i) comemorar os 11 anos de existência e (ii) realizar, no próximo dia 18 de abril, em Monte Real, o X Encontro Nacional da Tabanca Grande.

A lealdade, camaradagem e generosidade de todos vocês, editores e conselheiros, não têm preço. A minha/nossa gratidão é extensiva a todos os autores, leitores, visitantes, sem esquecer os nossos amigos do Facebook donde iremos cada vez mais recrutar gente e material... Quanto aos autores que alimentam todos os dias o nosso blogue, seria injusto destacar A, B ou C... Mas o seu contributo é decisivo para o sucesso e a longevidade do nosso blogue. (Quisemos no ano transato, em 19 de outubro dar relevo à excecional colaboração do Mário Beja Santos, que atingiu as mil entradas no nosso blogue) (***).

Para todos os/as amigos/as e camaradas da Guiné vai o meu/nosso Oscar Bravo (OBrigado). Continuamos a contar com todos/as para, juntos, mantermos vivo este nosso projeto, que já não é nosso, é da NOSSA geração, a tal que se recusa a ser sepuda na vala comum da ignonímia e do esquecimento.

Uma saudação também especial a todos os 40 "periquitos/as" que,  em 2014,  passaram a honrar-nos com a sua presença sob o poilão da Tabanca Grande.

Amigos e camaradas da Guiné, um 15-20 para o novo ano de 2015... Isto é, que um ano entre o BOM e o EXCELENTE, em termos individuais e coletivos. (LG)
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Notas do editor:

(*`) Último poste da série > 8 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12557: O nosso blogue em números (33): Um em cada cinco dos nossos visitantes vem do Novo Mundo (Brasil, EUA e Canadá)... Cabo Verde é o 10º país do nosso "top ten"... Atingimos os 5,3 milhões de visualizações, 12500 postes, 3500 descritores... e somos 636, os membros da Tabanca Grande... (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 1 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13558: O nosso blogue em números (34): 6,3 milhões de visitas até ao final de agosto... Quem nos visita vem de Portugal (51%), EUA (16%), Brasil (9%), França (4%), Alemanha (3%)... mas também da Rússia, Reino Unido, China, Polónia e Canadá (cerca de 1% cada)... Do resto do Mundo são cerca de 12,5%.

(***) Vd. poste de 19 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13764: Tabanca Grande (449): Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), tertuliano do nosso Blogue desde 8 de Junho de 2006, atingiu as 1000 entradas na nossa página (Luís Graça / Carlos Vinhal)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14110: Notas de leitura (664): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (1): "O Avô Porraditas"

 


1. Em mensagem do dia 22 de Dezembro de 2014, o nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex- Fur Mil da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos, do seu último livro, "Família Coelho", a história do Avô Porraditas, um dos seus antepassados.(*)


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Notas do editor

(*) Vd. poste de 29 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14094: Agenda cultural (371): José Eduardo Reis Oliveira (JERO) apresentou no passado dia 9 de Novembro o seu livro "Família Coelho", o resultado da pesquisa das suas raízes

Último poste da série de 2 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14109: Notas de leitura (663): “O céu de Guidage”, por Domingos Gonçalves, edição de autor, 2004 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14109: Notas de leitura (663): “O céu de Guidage”, por Domingos Gonçalves, edição de autor, 2004 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Dezembro de 2014:

Queridos amigos,
Há edições de autor que são memoráveis, nelas, sem qualquer hesitação, incluo este “O céu de Guidage”, notas diárias, ou quase, de um alferes que é lançado vários meses para um rincão fronteiriço, aonde afluem gentes e importantes, muito importantes, informações.
A região é palmilhada por gentes do PAIGC, por ali passam caminhos que levam para Sambuiá, para o Oio, está-se perto de Zinguichor.
E sentimos que este alferes Gonçalves para além de armadilhar e caçar e de querer tornar Guidage um sítio viável, é confrontado pelo animismo, pelo domínio ancestral do homem sobre a mulher, pelas permanentes visitações da doença e da morte.
Era assim Guidage em 1967, e nós acreditamos piamente que era assim, como Domingos Gonçalves a descreve e se descreve.

Um abraço do
Mário


O céu de Guidage

Beja Santos

Vamos agora dar um salto no tempo, estamos em Julho de 1967, altura em que Domingos Gonçalves passa a ser o comandante militar de Guidage. Das três obras que ele teve a amabilidade de me oferecer depois da sessão de lançamento do livro “Fafe na guerra colonial”, que decorreu em Fafe a 12 de Dezembro último, é o seu livro de que mais gosto, vê-se à légua que foi a missão que mais o marcou, por isso as suas notas são abundantes, a sua dor é por vezes imensa como imenso é o seu deslumbramento por aquele território junto ao Senegal, quase fora do mundo, onde ele adora caçar e constantemente se motiva para ter os seus homens igualmente motivados: “O céu de Guidage”, por Domingos Gonçalves, edição de autor, 2004, com a seguinte dedicatória: “A todos os soldados da CCAÇ n.º 1546, do BCAÇ n.º 1887, que estiveram no destacamento militar de Guidage, ou que por lá passaram”.(*)

Escreve no dia 12 de Julho de 1967: “Vou com os meus homens passar três ou quatro meses em Guidage. A estrada encontra-se num estado miserável. É uma manhã triste e sombria, que se esconde para além desta neblina”. As viaturas atascam-se, repetem-se os palavrões, foi uma viagem difícil e penosa, chegam a Guidage, o outro grupo de combate que vieram substituir inicia a viagem para Binta. Vaza para o papel: “Neste pequeno mundo eu sinto-me quase um rei, autoridade máxima deste reino constituído por cerca de dez hectares de terreno rodeado de arame-farpado onde habitam cercam de duas centenas de nativos. Eu sou o comandante das tropas aqui estacionadas, cerca de cinquenta homens”. Localiza Guidage, releva as suas vulnerabilidades, fala das picadas em muitíssimo mau estado. A Guidage chegam informações que depois são reencaminhadas para o Batalhão, trazem notícias que Amílcar Cabral anda a percorrer as bases e a apaziguar os ânimos, haverá tensões entre guineenses e cabo-verdianos. Vem gente do Senegal cumprimentá-lo. Há razão para isso: “Todos os dias passam por Guidage dezenas de senegaleses. Regra-geral, vêm comprar tabaco, sabão, azeite, tecidos, petróleo para iluminação, etc. Trazem também algum contrabando e algumas informações sobre a movimentação das forças do PAIGC”. O destacamento encontra-se num estado miserável, queixa-se da falta de militares: “Dos seis furriéis que devia ter aqui apenas tenho dois. Os soldados e cabos também são poucos. Por isso têm que fazer serviço todas as noites”. A 17 chega-lhe uma notícia muito importante: “Amílcar Cabral continua em Samine. Um grupo de 80 turras vai sair de Jeribã para Jagali Balanta. Transporta armas ligeiras, munições, quatro bazucas e dois morteiros. De Jeribã seguem para Sindina e depois para Sambuiá. Devem atravessar o rio Cacheu em Concolim”.

O ramerrão diário tem imprevistos, dois cadastrados, soldados em Guidage, tentarem fugir para o Senegal, foram apanhados já em território do Senegal. Por vezes, a natureza lembra-lhe a sua região: “Estes campos verdes de milho que cresce à volta de Guidage têm um pouco da verdura do Minho… E fazem-me olhar para muito longe. É a saudade!”. A pista de aviação estava inoperacional, ele decide pô-la em condições de voltar a receber os passarões de aço e chapa. Os senegaleses doentes chegam a toda a hora. A polícia senegalesa é vista a observar o território da Guiné portuguesa com binóculos. Chegam notícia de que Guidage vai ser atacada. Estamos em plena época das chuvas, o destacamento é um lamaçal. No fim desse mês de Julho, começa a colocar armadilhas em marcos fronteiriços e pontes adjacentes. Há um furriel responsável pelas informações que agride os nativos com frequência, a população teme-o: “Chamei-o ao meu gabinete, proibi-o de bater nos nativos. Não foi nada fácil convencê-lo. Refugiado no facto de ter um trabalho autónomo, sobre o qual apenas tem de prestar contas aos serviços de informação militar, de quem depende, entendia que podia fazer com a população o que muito bem lhe apetecesse”. O relacionamento da população com a tropa de Guidage melhorou muito.

Teme-se a qualquer momento uma flagelação, redobra a vigilância. As armadilhas começam a fazer o seu efeito, houve uma explosão, foram lá ver, encontraram um rapaz que não teria mais de quinze anos: “Pensando que estava mesmo morto, deixaram-no abandonado entre o capim, sem qualquer elemento que o pudesse identificar”. Para pasmo de Domingos Gonçalves, a população irá executá-lo. O alferes não pára de armadilhar e caçar. A população senegalesa queixa-se dos roubos de vacas pelos turras. Com a coluna de Binta, veio o capelão: “É um bom homem. Chamam-lhe o pardal espantado porque ele não para em lado nenhum. Aproveita todas as oportunidades possíveis para se deslocar de destacamento em destacamento. É uma pessoa muito piedosa sempre preocupada com o bem-estar dos outros”. Nos patrulhamentos, encontra vestígios de passagem dos guerrilheiros. As armadilhas vão rebentando, obra dos homens e da passagem dos animais, ele volta a armadilhar, não dá tréguas. Em 17 de Setembro, Guidage é atacada, não há feridos nem estragos a lamentar. De Binta, o capitão dá-lhe ordens para patrulhar e armadilhar e ele escreve: “Não vou. Não cumpro ordens estúpidas”. As tensões acentuam-se, os furriéis não se entendem uns com os outros, há imensas bebedeiras, as chuvas são abundantes, as informações que chegam a Guiadge são preocupantes, prepara-se um ataque em força, as carências são de toda a ordem, parece que tudo falta em Guidage.

Estes apontamentos de Domingos Gonçalves tocam-nos profundamente: um destacamento à beira do Senegal aonde afluem pessoas em carência, informações, onde se afina o instinto de sobrevivência, o resistir à solidão, o sentir-se o abandono, as vidas transtornadas à nossa volta, e então o ser humano levanta-se, comunga com a natureza e escreve-se sobre este respeito, com simplicidade e sinceridade: “As trovoadas aqui são cheias de grandeza. Tanto nos incutem medo como admiração. Quase me apetece afirmar que valeu a pena vir à Guiné só para observar estes espetáculos. É muito belo, em noites de trovoada, este céu de Guidage. Entretanto sobre a mesa do meu improvisado gabinete, os ratos brincavam com os papéis". Mas nesse mesmo apanhado de notas, ele escreve adiante: “De tarde, patrulhei a área de Fajonquito, onde encontrei vestígios da passagem recente dos turras, e onde recolhi um quico perdido por eles. Passei por Quenheto e caminhei, ainda, pela estrada do Dungal, onde deixei ficar três potentes armadilhas. Regressei pela linha de fronteira, passando junto do marco 124”.

O alferes tem que praticar justiça, agir como juiz de paz em casamentos desavindos, procurar, nesse escuro túnel cultural, agir com prudência, travar roturas, desinchar o mau estar. Já se passaram três meses, sonha-se com o regresso a Binta. Mas, por outro lado, sente-se incomodado por voltar à companhia do capitão (a quem ele chama Faruk). Pouco antes de regressar a Binta, no início de Novembro, escreve sobre o seu intérprete, a quem chama o Patron: "É um ingénuo, é um homem puro. Não fora aquela pura ingenuidade e ele seria bem capaz de ver que temos mais de demónios do que de anjos, e que a nossa terra apenas tem homens como os daqui, embora de cor diferente”. Despede-se de Guidage com tristeza, mas no dia 2 de Dezembro está de novo rumo a Guidage, vai substituir temporariamente um alferes que se deslocou a Bissau, e relata a operação “Chibata”, 170 homens, incluindo os Roncos de Farim e os Caçadores Nativos de Guidage, vão atacar Cumbamory, no Senegal, capturou-se armamento, as nossas forças sofreram quatro mortos. Detetaram-se cubanos no acampamento. Volta a armadilhar à volta do destacamento. A 23, está de regresso a Binta, e despede-se assim do leitor: “As terras de Guidage, e o seu povo ficarão cada vez mais longe de nós, perdidas na distância do tempo e da saudade”. Percebe-se como este céu de Guidage marcou Domingos Gonçalves para toda a vida.
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 29 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14093: Notas de leitura (661): “Guiné 1966, reportagens da época”, edição de autor de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 29 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14095: Notas de leitura (662): Eu e a minha burra, sozinhos, mais a nossa própria sombra... Recordações da infância (Fernando Sousa, natural de Penedono, autor de "Quatro Rios e um destino")

Guiné 63/74 - P14108: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVIII: (i) Um natal do mato (Timóteo Rosa, ex-alf mil, 4º pel); (ii) a prenda do MNF (José Luís Sousa, ex-fur mill,1º pel)



Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > O bar...



1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Hoje as duas  histórias vêm a calhar, são relativas à quadra natalícia, uma contada pelo ex-alf mil Timóteo Rosa, do 4º pelotão (p, 95), e outra  contada pelo ex-fur mil José Luís Simões, do 1º pelotão (pp. 91/93)...

Mais um exemplo do sentido de humor dos nossos bravos, que sabiam dar à volta às adversidades... (LG)

Guiné 63/74 - P14107: Parabéns a você (839): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14104: Parabéns a você (838): Margarida Peixoto, amiga Grã-Tabanqueira