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sexta-feira, 29 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16346: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VII: No dia em que as motos correram na avenida

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 31 > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (1)



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 31 >  > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (2)



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 33 > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (3)



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 32A > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (4)


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 32 > Novembro de 1972 > Corrida de motos  na avenida (5) [Como se depreende da foto nº  31, trata-se de veículos motorizados de 50 cm3]


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CAOP1, 35ª CCmds, Pel Rec Daimler 3089, CCS/BCAÇ 3863 (1971/73) (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoalfranciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.




No dia em que as motos correram na avenida

por Francisco Gamelas


E a gente foi cheganda vestida a rigor,

espalhando-se ordeiramente pela avenida
que ficou cheia antes do sinal da partida.
Já na presença das autoridades militares
o povo aplaudiu, com os seus cantares,
a chegada dos concorrentes. O calor

e a humidade fazia-nos a todos transpirar.

Motas alinhadas e o tiro da partida soou.
Largam a derrapar, mas ninguém capotou.
Trinta voltas à avenida é o total a percorrer.
Num turbilhão, ei-las que passam, a correr.
Cresce, num repente, o teor da poeira no ar.

Quando o trinta se destaca, o povo vibra.

Derrapa o vinte e oito e só pára no chão,
mas logo se levanta sangrando de uma mão.
Ataca o vinte e nove e a mota quase voa.
A do trinta desiste de roncar e já não soa.
Na frente, a do vinte e nove. Mota de fibra.

Ataca o vinte e sete na volta final, decidido,

e, a grande velocidade, emerge da poeira
deitado na mota e ultrapassa, de bandeira,
o vinte e nove, que ensaia o contra-ataque.
Parece resultar, mas, num grande baque,
parte o motor e o vinte e nove é vencido.


Merecido, ganhou o vinte e sete no final.

Feliz, o povo pula e grita entusiasmado,
permanecendo fora da pista, ordenado.
Ordem é ordem e lá estão os comandos,
arma em punho, para evitar desmandos.
A pide vigia, dissimulada. Tudo normal. 

De taça na mão surge o corronel [#], sorridente.
Entrega-a ao ufano concorrente vencedor,

para os vencidos,  medalhas cunhadas a rigor.
Pela segunda vez, no Canchungo, presenciei
uma tão vasta concentração de nativos, e dei
em pensar como este povo parece obediente.

Maio de 2015


In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné,  1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor,  pp. 111-113 (Com a devida vénia...)


[#] Referência ao comandante do CAOP1. o cor pqdt Rafael Durão

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16319: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VI: Em louvor dos camaradas da 35ª CCmds e das nossas velhas e gloriosas Daimlers


Foto nº 56 A >  Março de 1972 > Estrada Teixeira Pinto. Cacheu > Eu, à direita, com o Alferes Comando Alfredo Campos  


Foto nº 56


Foto nº 57A  .


Foto nº 57 > Foto nº 57 > Março de 1972 > Estrada Teixeira Pinto - Cacheu > Eu com o então Alferes Comando ui Andrade [que empunha uma Kalash,]


Foto nº 58A 


Foto nº 58 > Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu.  Eu, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando  Paquete  e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª a que ambos pertenciam.


Foto nº 58B >  Alferes Comando Alfredo Campos, a quem convidamos para integrar a nossa Tabanca Grande.


Foto nº 58C > Furriel  Mil Comando Paquete, da 35ª CCCmds, que infelizmente já não está entre nós. Segundo informação do Ramiro de Jesus, também ele ex-fur mil comando da 35ª CCmds, natural de Aveiro (e, portanto, meu conterrâneo), o Paquete,  depois do regresso à metrópole, morreu atropelado por um comboio em Vila Franca de Xira.


Foto nº 57B > Outro camarada da 35ª CCmds, Alferes Comando Rui Andrade  (mais tarde, após a evacuação do Capitão comandante da 35ª CCmds, ferido em combate, graduado em Capitão para assumir o Comando daquela companhia)

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > 35ª CCmds e Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73)  (*).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50€). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt.
O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


2. Mensagem do Francisco Gamelas, com data de 5 do corrente:

Bom dia,  Luís.

Sobre a questão da 35ª  CComandos, naturalmente, confirmo o que o então furriel Ramiro de Jesus (também residente em Aveiro, portanto meu conterrâneo) escreveu sobre a sua companhia. [O Ramiro Jesus, fur mil comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73),  é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012][, foto à esquerda]. (**) 

Sobre a 38ª, se o António Graça de Abreu a menciona [, no seu "Diário da Guiné"], provavelmente terá sido esta que substituiu a 35ª às ordens do CAOP 1, após este se ter retirado de Teixeira Pinto, tanto quanto me recordo, na mesma altura em que a 35ª foi fazer a segurança do General em Bissau. 

Com a saída do CAOP1 e da 35ª de Teixeira Pinto, deixaram de existir ali tropas especiais. Tempos houve - antes da minha chegada - que em Teixeira Pinto estavam sediados Fuzileiros, Paras e , segundo creio, também Comandos. 

Por curiosidade, junto envio uma foto [nº 58]  onde estou no centro, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando Paquete e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª a que ambos pertenciam. 

A foto foi tirada em Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu. 

A 35ª e o meu Pelotão Daimler eram os responsáveis pela protecção a estes trabalhos. 

Na foto nº 57 figuro eu com o então Alferes Comando  Rui Andrade, mais tarde, após a evacuação do Capitão comandante da 35ª, ferido em combate [, cap QEO comando Ribeiro da Fonseca, hoje cor ref], foi graduado em Capitão para assumir o Comando daquela companhia [57]. 

Na foto 56 figuro eu com o então Alferes Comando Alfredo Campos. Ambos, o Campos e o Rui, eram meus especiais amigos do peito daqueles tempos. [O Ramiro de Jesus era também do pelotão do alf Campos].

Um abraço.
FG


Guiné > Zona leste > Estrada Bambadinca - Bafatá > 1969 > Coluna da CCAÇ 12, a caminho de Bafatá, vendo-se ao fundo uma AM (autometralhadora) Daimlerdo Pel Rec Daimler 2046, instalado em Bambadinca, e que era comandado nesse tempo pelo alf mil cav Jaime Machado, nosso grã-tabanqueiro. Em primeiro plano,  malta  do 2º Gr Comb da CCAÇ 12.  A viatura, de matrícula ME-31-37, de pneus completamente carecas, fazia habitualmente escolta ao nosso tranquilo "passeio" até  Bafatá... O PAIGC nunca ousou atacar-nos neste troço (alcatroado, o primeiro do CTIG),pelo menos no tempo da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Giiné]


3. Comentário de LG:

Obrigado, Francisco... A confusão foi minha... O António Graça de Abreu esteve no CAOP1, em Teixeira Pinto, de 26/6/1972 a 1/2/1973... Nesse período apanhou a 35ª CCmds e a 38ª CCmds. 

Quando o CAOP1 muda para Mansoa (em 3/2/1973), ele vai com a malta da 38ª CCmds (onde se incluía o nosso grã-tabanqueiro, o 1º cabo comando Amílcar Mendes, herói de Guidaje...). Portanto, deves ter ainda apanhado a 38ª CCmds, em Canchuingo, o alf Paiva, e outro malta...

Peço desculpa a todos pela confusão. E obrigado pelas novas fotos com as tuas Daimlers e os teus/nossos camaradas da 35ª CCmds, vão dar outro poste ...

Confesso que tenho uma grande "ternura" pelas Daimlers e o seu pessoal... Em Bambadinca apanhei "cavaleiros" excionais como o Jaime Machado (Pel RecDaimler 2046 (1968/70) e o Zé Luís Vacas de Carvalho (Pel Rec Daimler, 2206, 1970/72). E vou confessar um "pecado moratl": um dia, completamente "apanhado do clima", e já mais para o fim da comissão, conseguiu convencer um dos homens do J. L. Vacas de Carvalho a ir ao Xime... beber uma bejeca...

A estrada estava em construção, e nós montávamos segurança à empresa TECNIL, mas havia sempre risco de minas e emboscadas. Eram 12/14 km para lá e outros tantos para cá... E ainda levei o Tchombé, que era a nossa mascote, um puto de 4/5 anos, adotado por nós... Eu, o Tchombé e o condutor... Loucuras, quem não as fez, com 23 anos, no teatro de operações da Guiné?

Julgo que nunca contei esta ao Zé Luís... E espero que ele me perdoe... Ou será que o condutor era ele mesmo? Não juro, nem acredito, mas era menino para "alinhar"... Tem alma e voz de fadista... Mas, não, não era ele... o condutor... O apontador da metralhadora foi dispensado; não cabíamos todos na "lata de sardinhas"... Estou a imaginar a "porrada" que levaria se as coisas tivessem dado para o torto... Mas nessa altura o troço em construção, Bambadinca-Xime (mais tarde alcatroado) era todo nosso, e os "gajos" do PAIGC, donos da margem direita do Rio Corubal,  pensavam duas vezes antes se meteram com os "nharros" (brancos e pretos) da  CCAÇ 12...

 As "vossas" Daimlers podiam ser um "bocado de lata", mas davam-nos sempre um grande "conforto" nas nossas colunas logísticas... Ou até na simples e rotineira viagem a Bafatá, por estrada alcatroada (30 km), que era o nosso dia de glória ("comer o ovo a cavalo com batatas fritas" na Transmontana, "dar dois dedos de conversas com as libanesas", "mudar o óleo no Bataclã!, "rezar na catedral", "fazer umas compritas na Casa Gouveia!", "dar um mergulho na piscina municipal", enfim, "respirar a civilização cristã e ocidental da Princesa do Geba"...).

E como eram "bailarinas" as vossas Daimlers, nunca as vi atascadas, nem nunca nos deixaram mal, mesmo com os pneus carecas... Glória às nossas velhas Daimlers!...

Ab. Luis


4. Comentário do Jaime Machado (Pel RecDaimler 2046, Bambadinca, 1968/70)

Caro Luis

As tuas doces palavras fazem-me recuar no tempo. Tudo o que escreves me volta à memória.
Será estranho dizer que quase tenho saudades desse tempo? Pudera, quem não gostaria de voltar aos 23 anos?

Faria tudo na mesma,  tenho pena do que deixei por fazer.
Ai as minhas Daimlers, que vaidade, que orgulho, que saudade.

Um abraço do Jaime.
____________

Notas do editor:

(*) Ultimo poset da série > 5 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16272: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte V: (Des)encontros... E em louvor das velhas Daimlers, que a sorte protege... quem tem olhinhos!

(**)  Vd. poste de 9 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10356: Tabanca Grande (358): Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16169: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte II: Quartel de Teixeira Pinto e cidade, sede do "chão manjaco" (I)



Foto nº 7 > Janeiro de 1972 > CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Bar de oficiais: alf mil comando  Paiva, da 35ª CCmds, furriel piloto do heli do General Spínola (que veio visitar o batalhão)  e alf  mil cav  Francisco Gamelas, cmd do Pel Rec Daimler 3089 (1971/73)


 

Foto nº 15 > Janeiro de 1972 >  Extremo norte da Avenida. Dentro do perímetro da estátua a Teixeira Pinto, o alf mil  Francisco Gamelas e o alf milç  Joaquim Correia Pinto, meu camarada de quarto. Nesta zona situavam-se as casas de comércio de libaneses.



Foto nº 6 > Janeiro de 1972 – A “oficina” do Pelotão Daimler, com a casa do chefe da PIDE/DGS ao fundo. É visível o 1º cabo mecânico David Miranda.


Foto nº 6A > Janeiro de 1972 – A “oficina” do Pelotão Daimler,  É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. Chegámos a ter  duas ou trêsd Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão.



Foto nº 5 > Janeiro de 1972  >  O “bairro de lata” do aquartelamento.


Foto nº 11  > Janeiro de 1972 >  Extremo Sul (à saída do aquartelamento) da avenida de Teixeira Pinto (Vd. foto nº 15). Na abertura para a direita, a 50 metros, ficavam os correios, com serviço de telefone.


Foto nº 11A > Janeiro de 1972 >  Início da avenida de Teixeira Pinto (a partir do extremo sul)


Foto nº 11B > Janeiro de 1972 > Aspeto do meio da avenida de Teixeira Pinto (vista a partir do extremo sul)


Foto nº 13 > Janeiro de 1972 >  Cine Canchungo, situado no início da avenida, próximo do Quartel, sobre a via ascendente (esquerda), numa praça que se abria entre o Cine  e a Casa da Assembleia do Povo, edifício paralelo a este, sobre a esquerda da fotografia. A antiga vila foi elevada a cidade pelo Ministro do Ultramar, Silva Cunha,  em 24 de julho de 1973.






Foto nº 13A  > Janeiro de 1972 >  Cine Canchungo.  Vista parcial.


Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas (*), ex-alf mil cav., cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeria Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) e novo membro da nossa Tabanca Grande [. foto à direita, em Capó, janeiro de 1972) (**).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e acaba de publicar "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. P.reço de capa 12,50 €. Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.

No seu livro, a pp.  16 e ss., pode encontrar-se uma detalhada descrição da Teixeira Pinto daqueles tempos:

"Implantada na planície, a meio da metade litoral norte da Guiné, entre os rios Cacheu, a norte, e Mansoa, a sul, mais próxima do último e dele recebendo a visita das suas águas na bolanha" (...), "a sua parte nobre e mais recente desenvolveu-se a partir da abertura de uma larga avenida em linha recta, com orientação aproximada norte-sul, que ligava  o primitivo aldeamento do Canchungo ao quartel erguido a sul do povoado, a cerca de seiscentos metros de distância. O quartel albergava as sedes de uma batalhão [, o BCAÇ 3863] e de um CAOP [1]. Este com uma companhia de forças especiais - comandos [, a 35ª CCmds]. Na avenida, ou a ela chegados, sediavam-se os serviços disponibilizados, próximos do quartel". (...) "De ambos os lados erguiam-se casas de habitação de aspecto colonial, tendencialmente as melhores da cidade. Que me recorde, em nenhuma delas  habitava uma família nativa". [Vd. fotos 15, 11 e 13].(Gamelas, 2016, pp.  17-17).  [Respeitámos a opção do autor que escreve de acordo com a "antiga ortografia". Reprodução de excerto, por cortesia do autor.]

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10658: O nosso livro de estilo (8): Em louvor da 38ª CCmds (Luís Graça / Eduardo Magalhães Ribeiro / António Graça de Abreu)

1. Há dias escrevia, em comentário, um dos nossos estimados leitores (e, por sinal, camarada, ex-oficial pará, com comissões nos três teatros de operações da dita guerra do ultramar de meados do século passado), que "Jaime Neves nunca esteve na Guiné" (sic), pelo que era descabido, no seu entender, a inserção do poste P10641 (*), anunciando a sessão de lançamento do livro Jaime Neves, da autoria de Rui de Azevedo Teixeira, no próximo dia 25 de Novembro de 2012, em Lisboa. A crítica ia mais longe, denunciando que "este blog é uma plataforma de promoção de realizações de índole comercial e que nada têm a ver com o seu leit-motiv declarado - a guerra da Guiné" (sic).

Conheço mal o CV [, curriculum vitae,]  de Jaime Neves, mesmo assim o suficiente para saber que nunca esteve na Guiné, pelo menos como militar, não tendo por isso  bebido a água do Geba, do Cacheu, do Corubal ou do Cacine, um dos requisitos  indispensáveis para integrar a nossa Tabanca Grande como "camarada da Guiné".  Passou pelo TO de Angola e Moçambique, esteve no 25 de abril  de 1974 e no 25 de novembro de 1975.  Isso não me impede de dar notícia, sem qualquer intuito propagandístico e muito menos comercial, do lançamento de um livro, com a sua biografia, independentemente da qualidade do livro e do seu autor. Afinal, o biografado  não é um militar qualquer.  Por outro lado, um dos apresentadores do livro é Ramalho Eanes, um outro oficial do exército que, esse sim, esteve connosco na Guiné (1969/71). 

Sei que o hoje major general na reforma Jaime Neves tem, na nossa Tabanca Grande,  gente que esteve com ele, nomeadamente no Regimento de Comandos da Amadora, e e no 25 de novembro de 1975. Estou a pensar nomeadamente nos nossos camaradas Amílcar Mendes (ex-1º Cabo Comando da 38ª CCmds, Os Leopardos,  Brá, 1972/74) e o Mário Dias (sargento comando e instrutor dos comandos da Guiné de 1964/66)... São dois camaradas e dois bons amigos, membros da nossa Tabanca Grande, de longa data.

Para mim, isso era motivo mais do que suficiente para dar notícia do evento na nossa série "Agenda Cultural". Não cultivamos ódios de estimação, qualquer que seja a sua razão (pessoal, étnica, profissional, política, ideológica ou outra). Não queremos nem alimentamos polémicas, muito menos entre antigos camaradas da "tropa especial".  E se cito aqui este caso, é apenas para sublinhar que as decisões (de inclusão ou de exclusão) dos meus co-editores têm sempre o meu aval. Confio neles, dando-lhes liberdade e responsabilidade. E, de resto, este blogue não seria o que é hoje (em termos de longevidade e relativa popularidade)  sem o seu valioso contributo, empenho e competência. Dizer que o blogue tem, velada ou descaradamente, objetivos comerciais, políticos ou ideológicos, isso é que eu não admito, porque não corresponde à verdade.

Sublinhe-se todavia que o nosso blogue está longe de ser equidistante, imparcial, justo, objetivo,  usando sempre o mesmo peso e a mesma medida... Só para dar um exemplo:  a 38ª CCmds tem já cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue; a 35ª CCmds, por exemplo,  não chega a meia dúzia...  Como explicar a diferença ? A razão é simples: há muito mais gente, aqui,  a escrever sobre a 38ª CCmds... E outras unidades e subunidades que passaram pelo TO da Guiné nem sequer têm aqui a mais pequena referência... E, no entanto, estamos sempre abertos às notícias que nos chegam (, incluindo sessões de lançamento de livros e outros eventos culturais), e publicamos tudo ou quase tudo que possa interessar aos camaradas que prestaram serviço militar no período, grosso modo, que vai de 1961 a 1974.

2. E a propósito fui aos cadernos do nosso coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-furriel miliciano de operações especiais, da CCS do BCAÇ 4612/74 (que esteve em Mansoa por escassos dias, cabendo-lhe a honra de arriar a nossa bandeira em 9 de Setembro de 1974, por ocasião da transferência de soberania do território para o PAIGC),  justamente para ir "respescar" uns versos em que se faz o elogio da amizade e camaradagem da malta da 38ª CCmds, que ele conheceu já no pós 25 de abril (*)... São, de resto, valores que queremos cultivar aqui, entre ex-combatentes do TO da Guiné de todas as  épocas, armas e especialidades (*):

Um Comando da 38ª

Era a minha sombra nas deslocações a Bissau
O meu guarda-costas preferido!... O número um!
Eu conhecia-o bem e sabia!... Que se necessário...
Dava a vida pelo amigo!... Como mais nenhum!


Na longínqua e bela Guiné,
Mais do qu’em qualquer outro lugar,
Encontrar um conterrâneo
Era o rei dos motivos p’ra festejar.

Para nós... do Porto e Lisboa,
Como éramos a maioria,
Amíude os encontros se davam
Sempre com renovada alegria.

Quando chegamos a Mansoa
Na recepção a nós, os periquitos,
Alguns velhinhos perguntavam
No meio daqueles pios esquisitos:

- Quais são os periquitos do Porto?…
Duas coisas tendes que fazer:
Pagar uma bebedeira mestra
E contar as novidades... que houver!

Fomos então p’rá cantina beber
E conversar, entusiasmados;
Nós, do Porto... do presente... de Abril
Eles... dos momentos ali passados.

Dias depois estes partiram,
O seu tempo de guerra... findara,
Foram estes os primeiros amigos
Com que a Guiné me brindara.

Um dia o Comandante disse-me:
- O vagomestre está muito doente,
Você vai substitui-lo como souber...
Vai alimentar toda esta gente.

Se mais proveito não lhe fizer,
Vai muitas vezes a Bissau… passear;
É um privilégio raríssimo,
Espero que não vá regatear!

Eu... um Operações Especiais?
Ouço, obedeço e não discuto!
Serei o Rei do desenrascanço?
Se calhar!... avancei, pois, resoluto!

No dia seguinte, surgiram-me ali,
Num jipe, três Comando, sedentos
Da 38ª Companhia,
Risonhos, amigáveis e... barulhentos.

Eram do Regimento de Comandos,
Sito na estrada p’ra Bissau, em Brá,
A cerca de sessenta quilómetros,
Que me convidaram a visitá-los… lá.

Mas entre eles estava um Cabo,
De seu nome Moreira Barbosa,
Que ao saber qu’eramos patrícios.
Exigiu comemoração honrosa.

Bebemos então e conversámos,
Ali cimentamos forte amizade
Daquele tipo hoje muito raro,
Com raízes par’a eternidade.

Ora... sempre qu’eu tinha d’ir à capital
Entrava nos Comandos a correr
- Ó Barbosa, queres vir comigo? -
Perguntai ao cego s’ele quer ver...

Provocavam enorme alarido
As viagens e as petiscadas
No Portugal, no Ronda, etc.
Estórias, anedotas... gargalhadas.

Ele conhecia metade do pessoal,
Apresentava-me toda a gente,
A nossa mesa depressa s’enchia
De malta faladora e contente.

Barbosa perto... tristeza longe,
O seu feitio guerreiro, destemido,
Completava a sua forte alma
E contagiava o mais encolhido.

Como é lógico... muitas conversas
Versavam o tema da guerra,
As grandes operações e combates.
O sangue derramado na terra.

Os golpes de mão e emboscadas,
Os acidentes graves conhecidos,
O 25 de Abril...
Enfim... os mortos e os feridos

- Manga de ronco!... Compr’uma coisa?-,
Era o pregão local dos artesãos,
Pululantes, insistentes, chatos,
Até qu’o Barbosa fechava as mãos!


Quis Deus que partisses mais cedo, amigo, irmão!
Quantas saudades deixaste dessa tua energia,
Da tua dinâmica... do teu empolgar pela acção,
Do teu espírito de aventura, do riso, da alegria!...



2.  Também vai tem aqui um excerto do Diário da Guiné, do António Graça de Abreu, com referência  a um dos últimos mortos (se não mesmo último) da valorosa 38ª CCmds, nas vésperas do 25 de abril, vítima de ataque terrorista a um café de Bissau.

(...) Bissau, 25 de Março de 1974 

A grande novidade em Bissau, capital da guerra foram as bombas no Quartel- General, na Amura, onde os estragos estão bem à vista, e num café no centro da cidade onde inicialmente morreu um civil mas depois morreram mais três militares, entre eles um soldado da 38ª de Comandos. Estes pobres rapazes até a Bissau vêm morrer!

Foram postas em prática medidas de segurança patentes onde quer que uma pessoa vá. Há patrulhas da polícia militar e civil um pouco por todo o lado. Agora, para se entrar no Quartel-General só falta passar pelo RX. O medo é maior, as coisas estão a mudar. (...)

 ___________

Notas do editor:

(*) Vd. I Série > 31 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª


(**) Último poste da série > 20 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10409: O Nosso Livro de Estilo (6): O que fazer com este blogue ? (Parte II ): Depoimentos de A. Pires, C. Pinheiro, D. Guimarães, L. Ferreira, B. Santos, C. Rocha, F. Súcio, B. Sardinha , T. Mendonça e JERO

domingo, 9 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10356: Tabanca Grande (358): Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 25 de Julho de 2012:

Olá, boa-tarde.

Sou um dos "exemplares" da raça de ex-combatentes, em vias de extinção.

Há muito que desejava comunicar com a "espécie", mas não domino muito bem a tecnologia e nem conhecia este meio. Agradecia, portanto, a informação acerca do que tenho que fazer para poder publicar algumas fotos e estórias da minha companhia - a 35.ª C.C., que esteve na nossa Guiné de 24/11/71 a 15/12/73. Fico, por isso, a aguardar informações e despeço-me com os milhares de abraços necessários para contemplar todos os que lá passaram e agradecendo antecipadamente a melhor atenção.

Obrigado!
Ramiro Jesus


Vista de Teixeira Pinto

2. Convite ao nosso camarada para aderir à Tertúlia, em mensagem do dia 30 de Julho de 2012:

Caro camarada Ramiro:

Muito obrigado pelo teu contacto. Não estranhes o tratamento por tu que é uma "norma" do Blogue, pois qualquer camarada da Guiné é um amigo especial e os amigos especiais tratam-se por tu, respeitando a maneira de ser e pensar de cada um. Quem palmilhou aquela terra vermelha, fez lama com o seu suor, atravessou bolanhas e percorreu aquelas matas é um de nós. Seja soldado ou general, doutor ou electricista, homem ou mulher, é um igual no nosso blogue.

Posto isto, fazemos muito gosto em te receber na nossa caserna virtual, também conhecida por Tabanca Grande, onde há sempre lugar para mais um camarada. Já vamos a caminho dos 600 e temos imenso espaço disponível.

Para te recebermos, mandarás uma foto actual e outra do tempo de tropa, tipo passe de preferência, em formato JPEG. Só queremos nos digas o teu antigo posto, pois supomos que sejas Comando. Podes indicar a data de ida e de regresso e outros elementos que identifiquem a tua Unidade.
A jóia a pagar para pertencer a esta equipa, será uma pequena história que servirá como apresentação, acompanhada, ou não de fotos que deverão ser legendadas para que se possa aferir do local, quem está nelas, etc.

Eu sou contemporâneo das 26 e 27 CC, sendo que a 26 foi formada com malta da minha incorporação (1969) e a 27 esteve em Mansabá em 1971, onde a minha Companhia (CART 2732) esteve em quadrícula entre ABR70 e FEV72.

Qualquer esclarecimento que precises é só consultar-me porque aqui não há taxas moderadoras e eu estou de serviço (quase) permanente.

Fico então à espera do teu próximo contacto, já agora para a minha caixa de correio.

Recebe um abraço do camarada e novo amigo
Carlos Vinhal


Vista parcial de Bula
Foto ©: Victor Garcia

3. Em mensagem recente recebemos do nosso camarada Ramiro Jesus as suas fotos da praxe e os elementos que ele próprio nos disponibilizou.

Boa-tarde camarada Carlos Vinhal.
Embora um pouco atrasado por causa das férias, mas então cá estou a responder e a enviar as fotos - que espero sejam aceitáveis - para a minha "incorporação" na Tabanca Grande.

Para preenchimento da "ficha", direi então que pertenci à 35.ª Companhia de Comandos;
O meu posto era Furriel Miliciano;
Embarcamos em Lisboa, no Angra do Heroísmo, no dia 24/11/71;
Desembarcamos em Bissau no dia 29/11/71;
Regressamos, no Niassa, com embarque em Bissau a 15/12/73 e desembarque em Lisboa a 23/12/73.

A maior parte do tempo da minha comissão foi passada em Teixeira Pinto (hoje Canchungo), onde substituímos a 26.ª CC, de que me falas, depois, uns tempos em Bula e os últimos meses - mais do que o previsto porque o general Spínola se desentendeu com o regime e não regressou depois das férias de Agosto de 1973 - em Bissau, de guarda ao Palácio do Governador, na época em que o PAIGC declarou a independência unilateral em Madina do Boé.

Tínhamos a esperança e quase promessa de fazer menos tempo de comissão pelos "roncos" que tínhamos conseguido, mas tivemos de esperar e sossegar o novo Comandante-Chefe Bethencourt Rodrigues e assim fizemos vinte e cinco meses.

E parece-me que por hoje é tudo. Espero ter dito o suficiente, mas fico a aguardar confirmação e indicações acerca do necessário para continuar a minha contribuição para o desfiar das nossas memórias.

Um abraço!
Ramiro Jesus


Palácio do Governador

4.  Comentário de CV:

Caro camarada Ramiro, estás apresentado à tertúlia. És mais um Comando perfilado na formatura da Tabanca Grande, embora sejas o primeiro da 35. Temos apenas uma entrada no marcador da tua Companhia pelo que te cabe a responsabilidade de fazer a sua história na nossa página.

Podes então, quando quiseres, começar a enviar as tuas memórias e as tuas fotos às quais daremos a nossa melhor atenção. Os textos podem vir no corpo da mensagem ou em anexo, no formato Docx de preferência, e as fotos como for mais fácil para ti, JPG ou Docx que a malta cá se desenrasca.

A tua correspondência deverá ser sempre enviada simultaneamente para dois endereços, o do nosso Editor Luís Graça (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com) e para um dos co-editores eu ou Eduardo Magalhães. Na lateral da página tens os respectivos endereços.

Não posso terminar a tua apresentação sem te deixar, em nome da tertúlia - camaradas, amigos e editores - um abraço de boas vindas.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10308: Tabanca Grande (357): Apresenta-se o ex-1º. Cabo Escriturário Francisco Gomes, CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael, Buba, 1968/69)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9790: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (14): O cap mil grad António Andrade, açoriano, terceirense, da 35ª CCmds... (ou a confirmação de que o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande)

Foto à direita: O BI militar, no CTIG, do António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.

Foto: © António Graça de Abreu (2010). Todos os direitos reservados


1. Que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande, a gente já sabe. Ou melhor: é um trocadilho, uma das nossas boutades de caserna... Mesmo assim, a gente vai comprovando, uma vez por outra, a ver(aci)dade da nossa palavra... de ordem. 

Eu, por exemplo, no dia 21 de abril de 2012,  estava em Monte Real e fui lá encontrar três conterrâneos meus, lourinhanenses ou a residir na Lourinhã, e todos eles antigos camaradas de armas da Guiné: o Eduardo Jorge Ferreira, o João Marcelino e o Luís Mourato Oliveira. Só o Eduardo é que é, formalmente, membro da nossa Tabanca Grande. Quanto ao João, já o tinha encontrado algures, em Oeiras, e falado sobre uma coincidência engraçada que nos une, para além da Guiné e da Lourinhã: os nossos pais estiveram na mesma altura, em 1941/43, como expedicionários,  em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, mobilizados pela mesma unidade, o RI 5, das Caldas da Rainha. E ele até me prometeu escrever sobre isso, para a série Meu Pai, Meu Velho, Meu Camarada

Ele não é lourinhanse de nascimento, mas é de coração, vivendo em Fonte de Lima, é um homem afável, de espírito aberto, franco e brincalhão. O Luís Mourato Oliveira, por sua vez, é filho de uma lourinhanse, e temos amigos comuns na Marteleira... (Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52 e teve dissabores, em agosto de 1974, com a malta da CCAÇ 21, em Bambadinca, do mesmo tipo que os do J. Casimiro Carvalho, em Paunca - enfim, uma história que eu espero que um dia destes nos conte, aqui, em público)...

Vem esta(s) história(s) a propósito de quê ?... No domingo seguinte, dia 22, de manhã, estou  eu com a Alice, no Mercado da Lourinhã, à volta da fruta e do peixe, e quem é que eu encontro ? O jovial João Marcelino, fresco como uma alface, acompanhado de um amigo, que ele me apresenta nestes termos:
- António Andrade, de Angra do Heroísmo,  somos como dois irmãos, eu vou a casa dele, ele vem à minha... Foi comandante da 35º de Comandos, esteve no CAOP1 com o António Graça de Abreu, em 1972... Foi capitão graduado. Podia ter ido ontem a Monte Real comigo, se não estivesse na ressaca de 4 implantes dentários... Mas hoje está melhor...

Conversa puxa conversa, lá falámos do livro do AGA, o Diário da Guiné. E logo o João Marcelino e o António Andrade aproveitaram para esclarecer que o número de mortos da 35ª CCmds no TO da Guiné não foram cinco mas apenas dois. O AGA já fora informado do lapso, tendo  prometido corrigir a informação numa eventual 2ª edição... 

Em homenagem ao João Marcelino e ao seu amigo e nosso camarada António Andrade - esperando que os dois um dia possam e queiram entrar para a nossa Tabanca Grande,  pela porta principal - aqui vai o excerto do Diário da Guiné onde se fala de uma ida a Bula, em coluna, com malta da 35ª CCmds... 

Com a devida vénia ao autor... (e, de certo modo também, uma maneira algo habilidosa de, "malgré lui",   associar o AGA, nosso tabanqueiro de longa data e bom camarigo, às comemorações do nosso 8º aniversário). (LG)

(...) Canchungo, 16 de Setembro de 1972

Meti os pezinhos ao caminho, estreei o camuflado e a minha espingarda, bala na câmara e aí fui eu, numa coluna com os Comandos, cerca de cinquenta homens com fitas de balas enroladas em volta do corpo, granadas, espingardas, metralhadoras, enfim não tínhamos o aspecto de quem ia para um piquenique. Avançámos na estrada de alcatrão para dentro da zona onde já há, ou pode haver, guerra a sério, onde os guerrilheiros se movimentam no TO da PU - ou seja Teatro de Operações da Província Ultramarina, - montam emboscadas, lutam contra esta tropa branca que lhes invadiu a terra. 

O caminho era até Bula, quarenta quilómetros atravessando as aldeias e os aquartelamentos do Pelundo e Có, lugares onde já correu sangue inocente em abundância, onde matas e bolanhas foram retalhadas pelos instrumentos que matam pretos e brancos.

Os meus companheiros eram os homens que trazem um crachá vermelho e negro ao peito, a 35ª. Companhia de Comandos. São gente da minha fornada, mais corajosa e melhor preparada. Por isso, senti-me seguro e protegido. Viajei no primeiro jipe, à frente da coluna com o comandante da Companhia, conduzido pelo capitão miliciano António Andrade, um excelente rapaz de Angra do Heroísmo, meu companheiro de conversas por dentro da noite no bar do CAOP 1. 

Não levámos divisas, se caíssemos debaixo de fogo éramos todos iguais. Mentalizei-me, pensei numa possível emboscada. Os primeiros tiros são os mais perigosos, depois é preciso rastejar rapidamente para fora da estrada e arranjar um lugar abrigado, não ao alcance do fogo do IN. No fundo, sou atirador de Infantaria e na Guiné começo a comprovar a justeza da frase que aprendi em Mafra, e que na altura me pareceu ridícula, um rotundo disparate: “Suor derramado na instrução é sangue poupado no campo de batalha”.

Correu tudo bem, almoçámos com os oficiais do quartel de Bula, o Andrade foi lá combinar uma operação com a tropa da região. Regressámos a meio da tarde. Eu adivinhava os guerrilheiros negros, de coração vermelho como nós, a espreitar na mata, mas não houve nenhum problema, sem contactos.

Estou a exagerar a perigosidade do itinerário até Bula. É esta a estrada que depois conduz a Bissau, há colunas militares com veículos civis todas as terças e sextas e é raríssimo registarem-se emboscadas. Mas nunca fiando. Regressámos em paz. Acompanhei os Comandos porque queria sair de Canchungo e conhecer. Fez-me bem.

Esta 35ª. Companhia de Comandos (#) já teve cinco mortos em combate (*). Vieram para a Guiné comandados pelo capitão António Ribeiro da Fonseca. Ora este homem, foi meu instrutor de táctica e guerrilha quando fiz a especialidade como Atirador na Escola Prática de Infantaria, em Mafra. Ele era então alferes Comando, conhecido como o “Bala Real” porque andava sempre com uma espingarda Kalashnikov que trouxera de Moçambique munida de balas reais. De vez em quando, tinha o gosto de disparar sobre as nossas cabeças para nos habituar às balas e fazer perder o medo. Nunca esqueci uma cena delirante.

Estávamos na Tapada a descansar após uma caminhada, perto do Portão Verde, do lado da Murgeira. Um dos cadetes do pelotão foi urinar e plantou-se diante de um pinheiro. Rápido, o “Bala Real” pegou na espingarda, fez pontaria à pila do rapaz e, a mais de vinte metros, disparou. O moço que estava meio de costas a mijar para a árvore, não viu o gesto do alferes Comando mas ouviu o disparo e sentiu o impacto da bala no pinheiro, a centímetros da sua pila. Voltou-se para nós, ainda com a pila na mão, branco, a tremer. O “Bala Real” perguntou-lhe: “Veja lá se a bala furou ou não furou o pinheiro!...” Ele não conseguia ver coisa nenhuma mas era verdade, a bala tinha atravessado a árvore de lado a lado.

O capitão Ribeiro da Fonseca foi o primeiro comandante da 35ª. de Comandos que está connosco no CAOP 1. Em Janeiro, numa operação na Caboiana foi ferido com um estilhaço que lhe perfurou um braço, evacuaram-no para Portugal e já não voltou.

Mas deixou boa fama por aqui. Disse-me um furriel Comando que, com ele, atacavam o IN ao som de um trompete.(##)

O António Andrade, alferes miliciano com a melhor classificação de curso na 35ª, foi graduado em capitão e tem comandado a companhia, a contento de todos. (...)
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Notas do autor:

(#) Para uma história breve da 35ª. Companhia de Comandos, ver Resenha, 7º. Vol., tomo II, pag. 535.

(##) Sobre a carreira militar do capitão António Joaquim Ribeiro da Fonseca ver o seu depoimento em Os Últimos Guerreiros do Império, Amadora, Editora Erasmos, 1995,  pp. 145-162.

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