Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 1423. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 1423. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10473: Tabanca Grande (363): Veríssimo Ferreira, natural de Ponte de Sôr, ex-fur mil, CCAÇ 1422 (Farim, Mansabá, K3, 1965/67)





Guiné >  Região do Oio >  CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858   (Bissau, Bula, Saliquinhedim/K3, 1965/67) >  O fur mil Veríssimo Ferreira em Mansabá, Setembro de 1965


Fotos:   © Veríssimo Ferreira (2012). Todos os direitos reservados.


1. Em 30 de setembro último, na página da Tabanca Grande no Facebook, o nosso camarada Veríssimo Ferreira manifestou a sua vontade de integrar o nosso blogue e colaborar ativamente na preservação e divulgação das nossas memórias, enquanto combatentes na Guiné:


Caros Senhores Luís Graça, Carlos Vinhal e Eduardo Ribeiro:

Pretendo ser dos 600 "antes do fim do ano" e, assim sendo e porque continuo com dificuldades (burro velho aprende...mas demora) em seguir o caminho normal e recomendado, solicito-vos o seguinte: 
Enviaria para aqui as duas fotos e uma 1ª história e os amigos extrairiam para o blogue.

Pode ser?


Abraços, Veríssimo Ferreira [, foto à esquerda, em Loures, em 1980, vestido "à homem grande"]


2. Os melhores 40 meses da minha vida > Introdução


Após alguns anos a procurar não recordar memórias que incomodavam, resolvi agora fazê-lo e em relação ao tempo prestado na vida militar. Sim. Porque eu fiz o serviço militar, e com honra, cumpri o meu dever.

Certo é que poderia ter desertado e hoje seria considerado "um senhor",  com chorudas reformas e sem nada ter descontado ou trabalhado. 

Certo é que poderia ter "fugido com medinho" para França e ter tocado xilofone, nas ruas e hoje seria um herói, aqui nesta terra que amo e que se chama e chamará Portugal. 

Certo é que poderia ter tido uns pais ricos (mas não...os meus pais sempre foram pobres...mas muito...muito honestos e trabalhadores), pais ricos esses que me mandariam para Londres e hoje eu seria ainda o verdadeiro artista, aplaudido mesmo que não tocasse ou cantasse. 

Só que não!!

O que sou é mal visto quer pelos políticos de ontem, quer pelos d'agora, pois que combati...mas não fugi e estou-me verdadeiramente nas tintas para tais gentes, se é que são gente.  

De nada me arrependo e comigo estão centenas de milhares de veteranos que, tal como eu, cumprimos e sofremos uns mais outros menos, mas que hoje somos uma irmandade e rimos...e lastimamos cada vez mais o desprezo e a sobranceria, com que, repito, "tais gentes, se é que são gente" nos pretendem marginalizar.

Estes maus filhos da Pátria (saberão o que é a Pátria ? acho que sabem apenas o que são Euros), por muitas honrarias que tenham após o 25 do 4, nunca conhecerão o que foi ter disparar para não morrer. Mas desejo que a terra lhes seja leve, antes porém deviam fazer um acto de contrição, embora "perdão",  para estes, seja palavra que não quero saber o que significa. (...)


(Continua)

3. Comentário do L.G.:


Meu caro Veríssimo Ferreira:  

Senhores,  todos somos, e grandes senhores!... Na Tabanca Grande tratamo-nos por tu, como camaradas que fomos e continuamos a ser. É pressuposto conheceres e aceitares as nossas 10 regras de convívio: consulta aqui o Nosso Livro de Estilo

Dás-nos a honra da tua presença, engrossando as fileiras do nosso blogue, com os seus quase  600 magníficos,  camaradas e amigos da Guiné. Serás o grã-tabanqueiro nº 581 e o teu nome passará a figurar no nosso quadro de honra, que vai de A a Z (vd. coluna do lado esquerdo da página de rosto do blogue). Depois de ti, faltarão apenas 19 para chegarmos às 6 centenas. 

Já recuperei as tuas fotos, na tua página no Facebook. Preciso apenas um endereço de email para a gente se comunicar internamente. Contactas connosco através do nosso email oficial:
luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com. 

Sei que já fizeste muitas coisas na vida, e que agora gozas a tua merecida reforma. Que és pai e avô. Que nasceste e viveste em Ponte de Sôr até à tropa. Que trabalhaste na tesouraria da fazenda pública local. Que tiveste um conjunto musical. Que foste para a Guiné como furriel miliciano, integrado na CCAÇ 1422. Que andaste pela região do Oio (Farim, Mansabá, K3), nos idos anos de 1965/67. Que, depois da peluda, foste bancário, mas também árbitro de futebol... E, por fim, que vives em Loures. 

Registe-se a propósito da CCAÇ 1422, de que tu és o primeiro representante no blogue:

(i) foi mobilizada pelo RI 15;

(ii) partiu para o TO da Guiné em 18/8/65 e regressou a 15/4/67; 

(iii) andou por Bissau, Bula, Saliquinhedim ou K3);  

(iv) comandantes:  cap mil  inf Diniz Alberto de Almeida Corte-Real;  alf mil  inf António Fernando da Cruz Macedo; cap inf Daniel Andrade de Carvalho.

O BCAÇ 1858, por sua vez,  esteve em Bissau, Teixeira Pinto e Catió. e conheceu 3 comandantes (ten cor inf Manuel Ferreira Nobre da Silva, ten cor cav Francisco José Falcão e Silva Ramos; ten cor inf António Veiga Fialho). Além da CCAÇ 1422, pertenciam a este batalhão a CCAÇ 1423 (Bolama, Empada, Cachil)  e a 1424 (Bolama, Cachil, Guileje, Sangonhá, Bissau)

 Em meu nome, dos demais editores, colaboradores e membros da Tabanca Grande, és bem vindo e recebido de braços abertos. Vamos seguir a série a que tu próprio chamaste Os melhores 40 meses da minha vida... Senta-te à sombra do fraterno e mágico poilão da nossa Tabanca Grande e conta-nos a(s) história(s) desse tempo, que nós seremos todos ouvidos...
__________________


Nota do editor

Último poste da série > 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2837: Aqueles que nem no caixão regressaram (6): O infeliz António da Purificação Marques, morto no Cantanhez (Mário Fitas)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal > Talhão Militar Central > Abril de 2006 > Monumento que celebra os soldados portugueses, mortos nas diversas campanhas de pacificação da Guiné, desde a Campa do Geba (1890) à Campanha do Cuor (1907/08), passando pelas Campamhas do Oio e Bissorã (1913), onde se destacou o Capitão Diabo, Teixeira Pinto. Neste cemitério (que tem três talhões, reservados aos combatentes portugueses mortos em campanha), repousam os restos mortais do Sold António da Purificação Marques, morto no início do ano de 1966, em combate, em Darsalame, no Cantanhez. Campa nº 33.


Fotos: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Mário Fitas, com data de 6 de Maio de 2008, comentando o poste P2811 (1):

Transcrição de o meu livro Putos, Gandulos e Guerra, publicado em 2000 (2):


"XIIO - Mamadu de Férias no Hospital Militar

"Natal de 1965, Natal de guerra em descanso. Hoje é dia de tréguas. Passagem de Ano de 1965/1966. Novas tréguas, mas os nossos obuses flagelam Cabolol, Cobumba e Caboxanque, para desejo de Bom Ano. Será mais manobra de diversão do que outra coisa. Pressente-se que algo está para acontecer.


"Há uma semana que o P2V5 sobrevoa o Cantanhez e descarrega toneladas de bombas. É um festival pirotécnico extraordinário. O nosso avião lança balões iluminantes, e as antiaéreas do PAIGC, com balas tracejantes, ajudam a abrilhantar a festa. Em Cufar o pessoal assiste aos rebentamentos que, apesar da distância, estremecem os abrigos. Deve ser cada ameixa! Vamos ver os efeitos? E fomos mesmo!...Mal pensávamos nós que aquilo sobrava para a Companhia e muitos outros.

"A três de Janeiro do ano da graça de Deus de 1966, é lançada uma ofensiva sobre o Cantanhez. Dois destacamentos de Fuzileiros, uma companhia de Pára-quedistas e quatro companhias do Exército. A Companhia [, a CCAÇ 763,] como não podia deixar de ser lá estava no rol da SAFARI. Objectivo: dar combate ao inimigo na região de Darsalame e Cafal onde se encontra a base principal IN da zona Sul."

Se a memória não me falha, a CCAÇ 1423 aparece na retaguarda do grupo do PAIGC, que retinha a CCAÇ 763 a Norte da bolanha de Darsalame. Vendo-se entre dois fogos , o grupo do PAIGC fugiu ao combate. O infeliz António da Purificação Marques é atingido por uma bala perdida em pleno coração. Ao anoitecer, o Fur Mamadu é evacuado de lancha para Catió e na manhã seguinte para o HM onde é operado de urgência a duas hérnias inguinais em estrangulamento.

Era assim a guerra!... E foi assim junto à margem do Cumbijã, o fim da vida do jovem de Povolide, Viseu, onde deveria repousar eternamente. Bissau não é terra dele! Nem há rosas como as que crescem em Viseu. Que Pátria ingrata, Rapaz!

Para toda a Tabanca, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã,


Mário Fitas

_________


Notas dos editores:

(1) Vd. 5 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

(2) Vd. poste de 5 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

Nome: António da Purificação Marques,
Posto: 1.º Cabo
Unidade: CCaç 1423
Data da morte: 03.01.66
Local da morte: Darsalame
Causa da morte: Ferimentos em combate
Naturalidade: Povolide, Viseu
Local de sepultura: Cemitério de Bissau, Campa 33, Guiné.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2802: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (2): 1965 (A. Marques Lopes)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Municipal de Bissau > 6 de Março de 2008 > Um dos três talhões atribuídos aos militares portugueses, mortos durante a guerra colonial: trata-se, neste caso, do Talhão Esquerdo, onde estão as campas não identificadas. Como já o dissémos aqui, no nosso blogue, estes serão porventura os restos mais dolorosos do que restou do nosso Império (*)... Segundo a Liga Portuguesa dos Combatentes, na Guiné haveria mais de uma centena de cemitérios improvisados (locais de enterramento, desde Buba a Nova Lamego, passando por Cacine a Guidaje), onde repousam, sem honra, nem glória, nem dignidade, os restos mortais dos nossos camaradas cujas famílias não tinham, na época, recursos suficientes (cerca de 11 mil escudos!) para, a suas expensas, trasladar os seus corpos para Portugal.
Foto : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.
Quadro 3 - Guiné 1963/74: Militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos ficaram em cemitérios locais. Parte II: 1963/64 e 1965, por trimestre. No final de 1965, somavam 132.

Quadro 4 – Guiné 1963/74: Distribuição, por cemitério, dos corpos dos militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos foram enterrados em cemitérios locais. Parte Ii: 1963/1965 (n=132).

Comentário: Num total de 132 militares portugueses, de origem metropolitana (exluindo-se, portanto, os guineenses) que morreram, em 1963, 1964 e 1965, no CTIG e cujos corpos não regressaram à Pátria, cerca de 57% ficaram sepultados no Cemitério de Bissau (n=75). Seguiam-se, por ordem de frequência, os cemitérios de Nova Lamego (n=l7), Bafatá (n=9), Farim (n=3), Bolama (n=2), Fulacunda (n=2) e outros (n=6): Aldeia Formosa, Bedanda, Binta, Buba, Cacine e Catió.


Neste período (1963/65), há o registo de 18 corpos que não foram recuperados, incluindo as vítimas de um mais cruéis episódios da guerra, na sequência de um emboscada na estrada Fulacunda-Gamol, de que foram vítimas a CCAÇ 1423 e a CCAÇ 1420, em 6 de Outubro de 1965... Recordemos os nomes desses infelizes camaradas, mortos como animais acossados:
Armando dos Santos Almeida, Soldado; Armando Leite Marinho, Soldado; Fernando Manuel de Jesus Alves, 1.º Cabo; José Ferreira Araújo, Soldado; e Vasco Nuno de Loureiro de Sousa Cardoso, Alferes. Há um sexto elemento que se rendeu às forças do PAIGC, o José Vieira Lauro, que, depois de libertado em 1968, reconstituiu as circunstâncias em que morreram os seus camaradas (No livro da CECA, a sua unidade aparece como sendo a CCAÇ 1423; o nosso camarada Rui Ferreira, no seu livro Rumo a Fulacunda, diz que dois deles pertenciam à CCAÇ 1420) (**).


Esta lista deiza-nos antever outras tragédias, em grupo, como a morte, por afogamento, no rio Cacheu ou no sue afluente, o Rio Sambuiá, de 4 camaradas nossos, do Pel Mort 980, logo no início do ano de 1965, a saber: os soldados António José Patronilho Ferreira, António Maria Ferreira, João Jota da Costa e João Machado. O cadáver do João Machado foi recuperado e enterrado pela tripulação da LFG Orion nas proximidades de Binta. Mas diz-nos o A. Marques Lopes que houve mais quatro vítimas, mortais, cujos corpos foram recuperados e trasladados para a metrópole. Alguém sabe o resto da história ?

Imagens e legendas: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Aqueles que nem no caixão regressaram - Parte II


(Organização por ordem cronológica da data de morte: A. Marques Lopes, Cor DFA, Ref) (***)
(Continuação) (****)

NOME e POSTO / UNIDADE / DATA da MORTE / LOCAL da MORTE / CAUSA da MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA

1965


António José Patronilho Ferreira, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá > / Afogamento / Torrão, Alcácer do Sal / Corpo não recuperado.

António Maria Ferreira, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Santa Maria, Viseu / Corpo não recuperado.

João Jota da Costa, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Aldeia do Carvalho, Covilhã / Cemitério a sul de Binta (sepultado pela tripulação da LDF Orion) (1).

João Machado, Soldado / Pel Morteiros 980 / 05.01.65 / Península de Sambuiá / Afogamento / Freixomil, Guimarães / Corpo não recuperado.

António Candeias dos Santos, Soldado / CArt 730 / 30.01.65 / HM 241, Bissau / Ferimentos em combate, em Nova Lamego / Cachopo, Tavira / Cemitério de Bissau, Campa 1370, Guiné .

António Joaquim da Graça Viegas, Soldado / CCaç727 / 30.01.65 / Madina do Boé /Ferimentos em combate / Moncarrapacho, Olhão / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Avelino Martins António, 1.º Cabo / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Alferce, Monchique / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Pires da Cruz, Soldado / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Sernache, Coimbra / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo / CCaç 727 / 30.01.65 / Madina do Boé / Ferimentos em combate / Alte, Loulé / Cemitério de Nova Lamego, Guiné (2).

José Augusto de Jesus, Soldado / CCS BArt 645 / 13.02.65 / HM241, Bissau / Acidente de Viação / Resgatados, Montemor-o-Novo / Cemitério de Bissau, Campa 1400, Guiné.

Albino António Tavares, Soldado / Pel Morteiros 979 / 14.02.65 / Buba / Ferimentos em combate / Cardigos, Mação / Cemitério de Bissau, Campa 1402, Guiné.

António Mergulhão Dias, Furriel CCav 677 / 21.02.65 / Jabadá / Acidente com arma de fogo / Caria, Moimenta da Beira / Cemitério de Bissau, Campa 1434, Guiné.

Fernando Teixeira Sofima, Soldado / CArt 496 / 18.03.65 / Cameconde / Acidente com arma de fogo / Argeriz, Valpaços / Cemitério de Bissau, Campa 1481, Guiné.

Felisberto Rosa Cardim, Soldado / CArt 732 / 20.03.64 / HM241, Bissau / Acidente de viação, na estrada Bissau-Mansoa / Torrão, Alcácer do Sal / Cemitério de Bissau, Campa 1515, Guiné.

José António Carrasco de Brito, Furriel CCaç 461 / 22.03.65 / Estrada Bigene-Barro / Ferimentos em combate / Lagoa, Faro / Cemitério de Farim, Campa 8, Guiné (3).

Manuel Gama Moreira, 1.º Cabo / CCaç 461 / 22.03.65 / Estrada Bigene-Barro / Ferimentos em combate / Pedorico, Castelo de Paiva / Cemitério de Farim, Campa 9, Guiné.

Francisco António Amaro, Soldado / CCav 487 / 30.03.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate, na Ilha do Como / Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém / Cemitério de Bissau, Campa 1518, Guiné.

César dos Santos Rebelo, Soldado / CArt 527 / 04.04.65 / HM241, Bissau / Doença / Penso, Sernancelhe / Cemitério de Bissau, Campa 1520, Guiné.

Fernando Gomes Nabais, Soldado / CCaç 557 / 13.04.65 / Bafatá / Afogamento / Aldeia Velha, Sabugal / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Manuel Silva Carvalho, 1.º Cabo / CCS/BCav 705 / 01.05.65 / Bafatá / Acidente, outros motivos / Gatão, Amarante / Cemitério de Bafatá, Guiné.

António dos Santos Luna, Soldado / CArt 676 / 02.05.65 / Fasse / Afogamento / Horta, Vila Nova de Fozcoa / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Francisco António, Soldado / CCav 487 / 09.05.65 / Cameconde / Ferimentos em combate / Santiago do Cacém / Cemitério de Bissau, Campa 1582, Guiné.

Francisco Carlos Laranjo, Soldado / CArt 731 / 10.05.65 / Estrada Bafatá-Nova Lamego / Acidente de viação / Aguiar, Viana do Alentejo / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

Abilardo Júlio Espada, 1.º Cabo / CArt 495 / 16.05.65 / Saltinho / Afogamento Grândola / Cemitério de Aldeia Formosa, Guiné.

José Ferreira Clemente, Soldado / CCaç 508 / 27.05.65 / Xime / Ferimentos em combate / Milagres, Leiria / Cemitério de Bissau, Campa 1812, Guiné.

Humberto de Jesus Borges, Soldado / CArt 642 / 30.05.65 / HM241, Bissau / Doença / Morais, Macedo de Cavaleiros / Cemitério de Bissau, Campa 1727, Guiné.

Manuel Pimenta Rodrigues, 1.º Cabo / Com Agr 24 / 31.05.65 / Bafatá / Afogamento / Carrazedo, Amares / Cemitério de Bafatá, Guiné.

Adelino Castanheira Dias, Soldado / CCaç 727 / 04.07.65 / Nova Lamego / Ferimentos em combate / Monsanto, Idanha-a-Nova / Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º Cabo / CCaç 727 / 04.07.65 / Nova Lamego / Ferimentos em combate / Veiros, Estremoz / Cemitério de Nova Lamego (4).

António Neves de Oliveira Lopes, Soldado / CCaç 818 / 16.07.65 / Porto Gole Ferimentos em combate / Pedroso, Vila Nova de Gaia / Cemitério de Bissau, Campa 1808, Guiné-

Carlos Ribeiro Pereira, Soldado / ERec 693 / 19.07.65 / Piche-Canquelifá / Ferimentos em combate / Safins do Douro, Alijó / Cemitério de Bafatá, Campa 19, Guiné.

Júlio de Lemos Pereira Martins, Furriel / CCaç 797 / 02.08.65 / Rio Louvado / Ferimentos em combate / Ponte de Lima / Corpo não recuperado.

Manuel da Silva Gago, 1.º Cabo / CArt 644 / 15.08.65 / Mansoa / Acidente de viação / Fundão / Cemitério de Bissau, Campa 1884, Guiné.

Serafim dos Santos Cardoso Fernandes, Soldado / CArt 676 / 19.08.65 / Paunca / Acidente de viação / Rio Covo, Barcelos / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

José Manuel Mendonça, Soldado / CCaç 1439 / 30.08.65 / Xime / Ferimentos em combate / Santa Maria Maior, Funchal / Cemitério de Bissau, Campa 1952, Guiné.

Tolentino Gouveia, Soldado / CCaç1439 / 30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Santo António da Serra, Machico, Madeira / Cemitério de Bissau, Campa 1926, Guiné.

José Augusto Silva Pereira, Soldado / CCav 678 /30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Vilar da Maçada, Alijó / Cemitério de Bissau, Campa 1953, Guiné.

Dimas Joaquim da Graça Alves, Soldado / CCav 787 / 18.09.65 / Có Ferimentos em combate / Lapas, Torres Novas / Cemitério de Bissau, Campa 1958, Guiné.

Armando dos Santos Almeida, Soldado / CCaç 1423 / 06.10.65 /Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Queiriga, Vila Nova de Paiva / Corpo não recuperado. (**)

Armando Leite Marinho, Soldado / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Jugueiros, Felgueiras / Corpo não recuperado. (**)

Fernando Manuel de Jesus Alves, 1.º Cabo / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Leiria / Corpo não recuperado. (**)

José Ferreira Araújo, Soldado CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Povolide, Viseu / Corpo não recuperado. (**)

Vasco Nuno de Loureiro de Sousa Cardoso, Alferes / CCaç 1423 / 06.10.65 / Fulacunda-Gamol / Ferimentos em combate / Belém, Lisboa / Corpo não recuperado. (**)

Manuel Geraldo Teixeira, Soldado / CCaç 1438 / 09.10.65 / Guilege / Ferimentos em combate / Santo Antão, Calheta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 1965, Guiné.

Diogo Amares Neves, Soldado / CCaç 797 / 19.10.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Tite / Paranhos, Seia / Cemitério de Bissau, Campa 2128, Guiné.

João Rodrigues Pereira, Soldado / CCaç 1422 / 25.10.65 / Cassum / Ferimentos em combate / Ester, Castro Daire / Corpo não recuperado.

Manuel Brito da Silva, Alferes / CCaç 622 / 25.10.65 / Cassum / Ferimentos em combate / Sazes da Beira, Seia / Corpo não recuperado.

Lino do Nascimento Amado, Soldado / CArt 730 / 01.11.65 / Estrada Jubembem-Canjambari / Acidente com arma de fogo / Marmelete, Monchique / Cemitério de Bissau, Guiné.

Nuno da Costa Moreira, 1.º Cabo / CCav 678 / 10.11.65 / Galomaro / Acidente de viação / Pedorido, Castelo de Paiva / Cemitério de Bissau, Campa 2038, Guiné.

José Luís Barbosa Cerdeira, 1.º Cabo / CCav 676 / 12.11.65 / S. João / Doença / Real, Castelo de Paiva / Cemitério de Bolama, Fila 5, Campa 22, Guiné.

Manuel Correia Pedro, Soldado / CCaç 1438 / 27.11.65 / Xitole / Ferimentos em combate / Velas, S. Jorge, Açores / Cemitério de Bissau, Guiné.

José Eugénio do Nascimento, Soldado / CCaç 1416 / 22.12.65 / Buruntuma / Ferimentos em combate / Piçarras, Castro Verde / Cemitério de Nova Lamego, Guiné.

___________

Notas de A. Marques Lopes:

(1) Achei estranho que os marinheiros da LFG Orion (e não LDG, como vem no livro da CECA, certamente por lapso) tivessem enterrado na margem do Cacheu um corpo. É que houve mais quatro recuperados, que foram enterrados nas suas terras de origem. Houve mais três “não recuperados” que lá ficaram no Cacheu. Contactado, o Lema Santos, que foi imediato da LFG Orion, disse-me que isso não seria normal. Deve haver qualquer equívoco. O Lema Santos sabe mais sobre esta situação.

(2) Há mais três mortos, dois sepultados na metrópole e um guineense. Nas Fichas das Unidades diz que foi “numa emboscada montada na estrada Boé-Gobige, em 30Jan65, em que causou elevado número de baixas ao inimigo”. Os batalhões, e as companhias, raramente falavam dos desaires, só dos sucessos...

(3) Houve mais um morto, soldado, enterrado na metrópole. Diz o livro da CECA que foi “explosão de mina com emboscada”.

(4) Houve mais outro morto, enterrado na metrópole.

____________



Nota dos editores:


(*) Vd. postes de:
30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)
(...) "Estes são os restos mais dolorosos da nossa passagem pela Guiné. Muito mais do que o que resta de abrigos e casernas. São placas de sepulturas no cemitério de Bissau, aquelas em que se pode ainda ler algumas letras ou números. Mais há, mas já nada se pode ler.
"Soube, em tempos, que chegou a haver uma comissão encarregada de fazer a trasladação dos corpos lá sepultados. Mas nunca funcionou, segundo sei. É pena, pois eles e as respectivas famílias mereciam. Ali, parece que só a família do Bacar Jaló tem tratado dele" (...).
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)
26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)
(...) "Aproveitando uma folga que me impus a mim próprio num dos dias em que decorreu o Simpósio Internacional de Guiledje, desloquei-me ao Cemitério de Bissau, onde repousam para sempre Camaradas nossos falecidos durante a guerra.
"O Cemitério tem três talhões destinados a militares, um à esquerda da porta de entrada, outro à direita e um mais central. Segundo o responsável (...), estarão lá mais de trezentas e cinquenta (?) campas, mas não me soube dizer o número exacto. Parece que os registos estão algures ..., mas não os do talhão esquerdo - homens que infelizmente nunca foram identificados !

"As campas estavam recém-caiadas, mas a sobreposição de várias camadas de cal tenderá, no futuro, a obliterar os nomes. Das unidades que comandei referenciei lá três militares da CCaç 726 e um da CCaç 1424 (...), o Soldado António Gonçalves dos Santos, caído em combate em 4 de Março de 1966, muito perto do cruzamento do corredor de Guileje" (...).

(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2007 >Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)


(...) Entretanto em Fulacunda, procedia-se ao rescaldo da operação. Formadas as Companhias já a meio da tarde, quando se começou a recear que mais ninguém conseguisse regressar, contavam-se os efectivos.- Seis! Faltavam seis homens! Dois da 1420 (o Alferes Vasco Cardoso e o Soldado-telefonista n.o 1020/64 Armando Leite Marinho)e quatro da 1423(o 1.° Cabo Fernando de Jesus Alves e os Soldados José Ferreira Araújo, Armando Santos e José Vieira Lauro. (...)

(***) Fonte: Tomo II, Guiné - Livro 2, do 8º Volume, Mortos em Campanha, da autoria de CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África. Editado em 2001 pelo Estado Maior do Exército.

(****) Vd. poste de 28 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2504: BCAÇ 1860 (1965/67), o 3º Batalhão em Tite (Santos Oliveira)

Cópia da capa da brochura da História do BCAÇ 1860.
Foto: © Santos Oliveira. Direitos reservados.

O BCaç 1860 terá sido o 3º Batalhão a ocupar, melhorar e renovar aquelas Instalações de Tite (tanto, que quando regressei do Como/Cufar, saí para o almoço, Porta de Armas fora para me dirigir à Messe de Sargentos…que era no exterior), escreveu assim o nosso Camarada Fernando Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite , 1964/66), a quem devemos o envio da História do BCAÇ 1860.



Tite. Na foto, a messe de Sargentos reporta a 1964, ainda com o BCAÇ 599.
Foto: © Santos Oliveira. Direitos reservados.
_________

BCaç 1860
1.Mobilização
O BCAÇ 1860 foi mobilizado pelo RI 15, aquartelado em Tomar.
Veio render o BCaç 599/RI 15 em duas fases. A primeira em Abril de 1965 e a segunda em Agosto do mesmo ano.

A maioria do pessoal é originário das Províncias do Norte (Minho, Trás-os-Montes e Douro), havendo ainda alguns elementos das Beiras, do Alentejo e do Algarve.

A concentração do pessoal (1ª e 2ª fases) fez-se no RI 15. A instrução decorreu nos moldes habituais tendo-se todos, de um modo geral, adaptado bem à ideia da breve vinda para o Ultramar.

A primeira fase, depois de ter passado por Santa Margarida, embarcou em Lisboa em 23 de Abril de 1965, no N/T Uíge, tendo comparecido à cerimónia da despedida um oficial General representando Sua Exª o Ministro do Exército.

A segunda fase teve uma cerimónia de despedida no RI 15. Embarcou em Lisboa em 18 de Agosto de 1965, a bordo do N/T Niassa.

A primeira fase era enquadrada pelos seguintes elementos (1):

Ten Cor Francisco Costa Almeida, Cmdt do B Caç 1860
Cap Inf Manuel Morujão Oliveira, Of. I. e Op.
Alf Mil Casimiro Costa Ferreira, Cmdt Pel. Reconhec.
" " António Carlos Agapito, Cmdt Pel. Sapadores
2º Sarg António Firmino Silva, Corneteiro
Furr Mil José Carlos Abrantes, Enfermeiro
" " José da Silva Soares, S.A.M.
" " Artur Sá Santos, S.A.M.
" " Manuel Castanho Morais, Sapador
" " Guilherme Medeiros Pacheco, Sapador
" " Joaquim Soares Simões, Transmiss.
" " Jorge Manuel M Lajas, S.A.M.

E a segunda pelos seguintes (1):

Maj Fernando M Jasmim de Freitas, 2º Cmdt BCaç 1860
Cap Manuel Pau Preto, Cmdt CCS
Alf Fernando Barreto, Ch Sec.
Alf Mil António A P da Fonseca, Transm.
" " Joaquim Pinto, Secret.
" " José M Brito Galvão, SAM
" " Joaquim Beirão H Ferreira, SMR
1º Sarg Maurício C A C Correia, Secret. Cmd
" " João António Madeira, Secret. CCS
Furr Mil Francisco Seixas Grelo, Op Inf
" " Sérgio do Rosário Maurício, Op Inf
" " Manuel da Costa Alonso, Op Inf
" " Mozart D Sousa Pires, Transm
" " José M C Boneca, Sapador
" " José Raul R Graciano, Amanuense
" " João M Borges de Campos, SM Mec Arm Lig
" Lúcio J Dias Segurado, SM Mec Viat
" " Victor M C Costa, AM Cont Pag

Em 28 de Abril de 1965, o N/T Uíge lançou ferro em Bissau. No dia seguinte, às 07H00, todo o pessoal da 1ª fase, em LDM, fez rumo ao Enxudé.

A chegada a Tite deu-se cerca das 11H00.

Em 23 de Agosto de 1965, chegou a Bissau a 2ª fase, tendo desembarcado no Enxudé no dia imediato.

2. Actividade do BCAÇ 1860

O esforço desenvolvido pelo BCAÇ 1860 nos diversos campos em que foi chamado a intervir pode considerar-se notável.

Nas páginas seguintes serão dados elementos significativos de todas as actividades, ao longo dos quase 24 meses de comissão, sempre em Sector Operacional.

Integrado no Agr 17 e, posteriormente no Agr 1975, sempre o BCAÇ 1860 deu o melhor de seu esforço num desejo sempre presente de bem cumprir as missões que lhe foram confiadas.

No resumo das actividades do BCAÇ 1860 inclui-se o período que decorreu entre 29 de Abril de 1965 e 24 de Agosto do mesmo ano, período esse que corresponde à permanência em Sector da 1ª fase do BCaç 1860, antes da chegada do pessoal da 2ª fase.

Imediatamente após a sua chegada à Guiné, o Bat. entrou em Sector. Foi-he atribuído o Sector S1, integrado no Agr. Sul.

O referido Sector apresenta a configuração de um rectângulo com 50x30 Kms, num total de cerca de 1500 Kms quadrados de superfície.

O terreno é plano, baixo, muito recortado por cursos de água e manchas de mato denso alternando com a nudez das lalas e das bolanhas.

A população está disseminada por todo o Sector, sendo mais densas populacionalmente as áreas de Tite, a leste da estrada Tite-Nova Sintra, regiões ribeirinhas do Geba e Península de Gampará. Distinguem-se as tabancas de Foia, Nã Balanta, Iusse, Bissassema de Cima, Brambanda, Nhala, Louvado, Bária e Jabadá.

As grandes riquezas do Sector são o arroz, gado vacum, frutas, mancarra e madeiras. O porto do Enxudé tem um movimento apreciável de passageiros e carga e serve toda a região de Tite. As principais localidades são Tite, Fulacunda, S. João e Jabadá.

Em Outubro de 1966 é atribuído ao Batalhão o Sub-Sector de Empada, enquadrando as penínsulas de Darsalame e Pobreza. Concomitantemente, passa a pertencer ao BCAÇ 1860 a CCAÇ 1423, aquartelada em Empada.

Sub-Sector rico, densamente povoado por populações somente controladas pelas NT em Empada, seria nele que se viria a efectuar a Operação Nora, que levou à captura de importantíssima quantidade de material de guerra.

O Destacamento de Ualada, local aprazível, foi pomposamente denominado pelas NT de Rancho da Ponderosa.

A actividade operacional desenvolvida desde Abril de 65 foi intensa.

Inicialmente, mercê de actuações tipo golpe de mão, executados pelas CART 565 e CCAÇ 797, o IN sofreu graves revezes, particularmente nas áreas de Guebambol, Jufã e Gâ Saúde em que perdeu grande quantidade de material, sofreu muitas baixas e viu os seus refúgios destruídos.

Depois, devido às alterações introduzidas pelo IN nos seus sistemas de detecção, ao uso de numerosas armadilhas e à dificuldade de se arranjarem guias de objectivos, houve necessidade de se abandonar as actuações daquele tipo, para se lançar mão de operações tipo batida, com efectivos que oscilavam entre uma e quatro Companhias.

Embora com resultados aparentemente menos espectaculares, este tipo de acções ajudou a manter a instabilidade do IN e a causar-lhe baixas importantes. É justo realçar o magnífico apoio que o BCAÇ 1860 recebeu da FA e das FN, quer pela cedência de meios de apoio quer em acções realizadas dentro do Sector.

As acções do BCAÇ 1860 tiveram o seu clímax na Operação Nora, realizada na Península de Pobreza, Sub-Sector de Empada, em que a par de importantíssima quantidade de material capturado - porventura a maior que se capturou na Província desde o início do terrorismo - se desarticulou completamente o dispositivo IN naquela área.

Tendo sido o BCAÇ 1860 o Batalhão em Sector com menor número de Companhias Operacionais, nem por isso a sua actividade foi menor, antes das maiores, conforme o atesta o elevado número de operações realizadas e a grande quantidade de material capturado.
Ficou-se devendo estes resultados ao excelente espírito de corpo e de missão que sempre existiu em todo o pessoal do Batalhão, agindo sempre como um bloco, sem quebras nem falhas.

As actividades operacionais de rotina do BCAÇ 1860 durante a sua permanência em Sector atingiram os seguintes quantitativos:

Emboscadas - 884
Viagens ao Enxudé - 853
Patrulhamentos - 1046
Patrulhamentos de itinerários - 157
Seguranças e Escoltas- 2160
Cerco/Limpeza povoações - 38
Kms percorridos - 35729
Operações ao nível de Batalhão
data, nome da op., região e efectivos envolvidos:
  • 09Mai65, Ivo, Gambinta e Bissassema, CCav 677 e CCaç 797
  • 25Mai65, Omo, Bissassema, Tite, S. João, CCav 677 e CCaç 797
  • 06Out65, Lenda, Gamol e Gangetrá, CCaçs 1420 e 1423
  • 06Out65, Lenda, Brandão e Serra Leoa, CCaçs 797 e 1424
  • 07Out65, Lenda, Gamol, CCaçs 1420 e 1423
  • 08Out65, Busca, Gamol e Gangetrá, CCaçs 797, 1420 e 1423
  • 18Out65, Ovo, Gamol, Bária e Sancorlá, CCaçs 797, 1420, 1423, 1424 e CCav 677
  • 14Nov65, Onça, Gampará, CCaçs 797, 1420, CCav 677 e Pel Páras
  • 10Jan66, Orfeu, Guebambol, CCaçs 797 e 1487
  • 22Jan66, Ozíris, Garsene, CCaçs 797 e 1487
  • 10Fev66, Osso, Pen, Jabadá, Jufá,CCaçs 797, 1487, CCav 677 e Pel Páras
  • 09Mar66, Nebri, Gã Chiquinho, Ganduá porto, CCaçs 797, 1487 e CCav 677
  • 30Mar66, Narceja, Gã Formoso, CCaçs 797, 1487, CCav 677, GrCmds, Pel Páras
  • 07Mai66, Novato, Flaque Cibe e Flaque Lala, CCaçs 797 e 1549
  • 09Mai66, Quiriri, Mato Grande, CCaçs 797 e 1549
  • 26Mai66, Quezília, Gã Saúde, Louvado e Erga, CCaçs 797, 1487, 1549 e 1499
  • 18Jun66, Naja, Pen, Jabadá, e Jufá, CCaçs 1487, 1549, 1566, Pel Mort 1039 e GrCmds
  • 08Ago66, Nervo, Gã Formoso, CCaçs 1487, 1499, 1549 e Cª Páras
  • 29Set66, Novilho, Umbá, Braia, CCaçs 1487 e 1591
  • 06Out66, Nalú, Gâ Formoso, CCaçs 1487, 1549, 1591 e 1566
  • 16Out66, Nêspera, Caur de Baixo Beafada, CCaçs 1567 e 1423
  • 08Nov66, Queima, Gã João, Garsene, CCaçs 1487 e 1549
  • 06Dez66, Nortada, Pen, Jabadá, Jufá, CCaçs 1487, 1549, 1566 e 3ª CCmds
  • 22Dez66, Nilo, Braia, CCaçs 1487 e 1624
  • 03Jan67, Navalhada, Guebambol, CCaçs 1487 e 1624
  • 07Jan67, Neon, Gã Valentim, CCaç 1566 e CArt 1613
  • 07Fev67, Quarentena, Gã Formoso, CCaçs 1549, 1567 e 1624
  • 25Fev67, Notário, Gamol, Bária, Gangetra, CCaçs 1567 e 1624
  • 06Mar67, Nora, Pen, Pobreza, CCaçs 1549, 1567, 1587 e CArt 1614
Operações isoladas executadas pelas sub-unidades do Batalhão
  • CArt 565 - 14
  • CCav 677 - 21
  • CCaç 797 - 45
  • CCaç 1420 - 14
  • CCaç 1423 - 6
  • CCaç 1487 - 28
  • CCaç 1549 - 30
  • CCaç 1566 - 22
  • CCaç 1567 - 4
  • CCaç 1587 - 8
  • CCaç 1624 - 8
  • Pel Mort 1039 - 14
  • Cª Mil 7 - 7
Desta actividade resultou a captura do seguinte material:
  • Canhão s/r B-10, 82 mm - 1
  • Morteiro 82 - 1
  • MP Zbroyovka, 7, 62 - 2
  • MP Goryunov, 7, 62 - 5
  • MP Degtyarev, 12, 7 - 3
  • ML Degtyarev- RPD, 7, 62 - 3
  • LGF Pancerova-P/27 - 1
  • LGF RPG2 - 3
  • PM M-23, 9 mm - 1
  • coldres, capacetes, cantis, cinturões, cargas propulsoras. cunhetes, medicamentos, canos....
Em consequência da mesma actividade o IN sofreu as seguintes baixas confirmadas, além de outras estimadas:
  • Mortos - 225
  • Feridos - 78
  • Prisioneiros - 563
  • Apresentados - 61
A par da intensa actividade operacional descrita, o BCAÇ 1860 dedicou-se a grande actividade nos campos psico-social, educacional, médico e de melhoramento de aquartelamentos.

Cabe aqui destacar o invulgar esforço que foi desenvolvido no melhoramento das instalações militares na sede do Batalhão. Como consequência desse esforço o actual aquartelamento de Tite pode ser considerado sem favor, como um dos melhores, senão o melhor aquartelamento de toda a Província.
Considerou-se muito importante este aspecto, porquanto para quem teve de permanecer 24 meses no mato, em constante actividade operacional, nada mais reconfortante do que umas boas instalações, onde foi possível recuperar as energias gastas nas sucessivas operações, de maneira a conseguir manter o mesmo ritmo de actividade ao longo de toda a comissão.

Deste modo se manteve o pessoal não operacional ocupado todos os dias, desde as 07H00 às 17H00, o que muito contribuíu para se manter um nível de disciplina altamente agradável, ao mesmo tempo que se conseguia que cada um praticasse , na medida do possível, no trabalho que já exercia na vida civil.
De igual modo, o esforço desenvolvido neste campo em Jabadá foi notável. Num local onde só existia uma tabanca, pode ver-se hoje um aquartelamento guarnecido por excelentes abrigo-casernas e outros edifícios construídos com o esforço dos militares ali estacionados.

A par destas actividades, desenvolveu o Destacamento de Jabadá uma intensa actividade operacional de que resultou um afrouxamento claro da pressão que o IN vinha exercendo sobre a tabanca e aquartelamento e que se cifrava em flagelações quase diárias.
Com o apoio da numerosa população, as NT ali aquarteladas construíram ainda uma pista, que permite a aterragem de aviões de pequeno curso e helicópteros.

Nos demais aquartelamentos do Sector também se mannteve actividade semelhante com o natural benefício para as populações e para as NT.
Dois anos se passaram no cumprimento de uma missão nem sempre fácil, bem pelo contrário, mas a nossa consciência diz-nos que a cumprimos o melhor que pudemos e soubemos.

O esforço pedido foi grande, é incontestável, mas a equipa que formámos tudo venceu, sem desfalecimentos, com a melhor boa-vontade e sem quebra de ritmo. Em qualquer aspecto, quer operacional, quer administrativo, quer ainda no contacto diário com as populações afectas a nós, ou até aquelas indiferentes, a nossa actividade foi grande e felizmente vimos sobejamente o proveito do nosso esforço.
No campo psico-social, procurámos em todas as oportunidades possíveis, desenvolver as actividades da população, quer criando um corpo de artífices, tão necessário à Guine, quer criando escolas no Enxudé, Ilha das Galinhas, Jabadá, Fulacunda, Empada e Tite, quer ainda fomentando-lhes a lavoura, não só com apoio técnico, mas também materialmente.
O aspecto religioso também não foi por nós descurado, dando possibilidade aos de religião moçulmana terem o seu templo para as suas orações. Para eles construímos a mesquita de Tite.

Por tudo o que nos foi permitido fazer, cremos que ao deixarmos a Guiné, deixámos uma região que sempre procurámos elevar e valorizar, constituída por homens de todas as cores, mas com um único desejo - manter Portugal Independente e Unido.


Aquartelamento de Tite. A foto da Porta de Armas é de 1964, aquando da partida do Fernado Santos Oliveira para a Ilha do Como/Cufar (BCAÇ 599).
Foto : © Santos Oliveira. Direitos reservados.

Ao regressarmos a nossas casas, embora possa parecer que a nossa missão findou, tal não sucede; ela terá que ser ainda maior e mais profunda, teremos que transmitir aos que nos rendem, aos nossos amigos e muito especialmente àqueles menos esclarecidos, os ensinamentos colhidos durante a nossa permanência, dizer-lhes que os nativos da Guiné necessitam do seu apoio e só assim poderemos afirmar que as vidas e o sangue dos nossos camaradas dados à Pátria tão abnegadamente, não o foram em vão.

Recompletamentos:
Devido a transferências foram aumentados ao efectivo do Comando e da CCS os seguintes oficiais e sargentos:
Cap Art Vítor M Torres Silva
Alf grad Capelão Francisco Borges Ávila
2º Sarg Eduardo da Silva Raposo
Furr Mil Helder M A Santos Costa
Furr Mil Rui Palmela Mealha
Sub-unidades do BCAÇ 1860
sub-unidade, sub-sector, período, cmdt
  • CArt 565, Fulacunda, antec. /10Ago65, Cap Reis Gonçalves
  • CCav 677, S. João, antec./ 20Abr66, Cap Pato Anselmo (2), Alf Ranito, Cap Fonseca
  • CCaç 797, Interv, 29Abr65/16Mai66, Cap Soares Fabião
  • CCaç 1420, Fulacunda, 11Ago65/08Jan66, Cap Caria, Alf Serigado, Cap Moura
  • CCaç 1424, S. João, 11Set65/25Nov65, Cap Pinto
  • CCaç 1423, Fulacunda e Empada, 30Out66/23Dez66, Cap Pita Alves
  • CCaç 1487, Fulacunda, 08Jan66/15Jan67, Cap Osório
  • CCaç 1549, Interv, 26Abr66, Cap Brito
  • CCaç 1566, S. João e Jabadá, 19Mai66, Cap Pala e Alf Brandão
  • CCaç 1587, Empada, 27Nov66, Cap Borges
  • CCaç 1567, Fulacunda, 01Fev67, Cap Colmonero
  • CCaç 1591, Fulacunda (treino op.), 18Ago66/01Out66, Ten Cadete
  • CArt 1613, S. João (treino op.), 03Dez66/15Jan67, Cap Ferraz e Cap Corvacho
  • CCaç 1624, Fulacunda, 05Dez66, Cap Pereira
  • Pel Mort 912, Jabadá, antec./26Out65, Alf Rodrigues
  • Pel Caç 955, Jabadá, antec./13Mai66, Alfs Lopes, Viana Carreira (3), Sales, Mira
  • Pel AM Daimler 807, Tite, antec./13Mai66, Alf Guimarães
  • Pel Art 8, Fulacunda, 10Fev66/03Mar66, Alf Machado
  • Pel Caç 56, Fulacunda e S. João, 31Out66, Alf Dias Batista
  • Pel Mort 1039, Jabadá e Tite, 26Out65, Alf Carvalho
  • Pel AM Daimler 1131, Tite, 12Ago66, Alf Antunes
  • Cª Mil 6, Empada, antec., Alf 2ª Mamadi Sambu e Dava Cassamá
  • Cª Mil 7, Tite, 05Ago65, Alf 2ª Djaló
Estas sub-unidades foram atribuídas ao BCaç 1860 durante a permanência em Sector (desde Abr65).
Contribuíu o BCaç 1860, durante a sua permanência em terras da Guiné, com a vida e o sangue dos seguintes militares, para quem vai a mais respeitosa homenagem e o agradecimento da Nação:
12Ago65, Fur Mil Júlio Lemos P Martins
12Ago65, 1º Cabo Inácio Freitas Ferreira
30Set65, Sold Aníbal A Pires
18Out65, Sold Diogo A Neves
01Nov65, Sold Manuel A A Nobre,
18Mar66, Sold Alberto T Silva
11Mai66, Sold Julde Mané
25Ago66, Sold José Maria F Carvalho
25Ago66, Sold Francisco António Lopes
06Out66, Alf Mil Carlos Santos Dias
29Dez66, Sold Malan Sambú
15Jan67, Sold António C do Nascimento
16Jan67, Sold Saliu Djassi
16Fev67, Sold Alberto Samba
01Mar67, 1ºCabo José Félix Lopes
04Abr67, Furr Mil Rui Palmela Mealha

Desaparecidos em Combate, em 07Out65, durante a op Lenda (4):

Alf Mil Vasco Nuno L de Sousa Cardoso
1º Cabo Fernando de Jesus Alves
Sold Armando Leite Nascimento
Sold José Ferreira Araújo
Sold José Vieira Louro
Sold Armando dos Santos
Quadro de Honra
Cruz de Guerra de 2ª Classe : 1
Cruz de Guerra de 3ª Classe : 3
Cruz de Guerra de 4ª Classe : 8
Mérito Militar de 4ª Classe : 5
Prémio Governador-Geral : 6
Louvores do Cmdt Chefe : 11
Louvores do Cmdt militar : 33
Louvores do Com Agr : 8
Louvores do Cmdt Batalhão : 186
Louvores do Cmdt Cª : 41
louvores do Cmdt Pel : 3
__________

Notas de vb:

(1) Os nomes dos restantes elementos constam na História do Batalhão, disponível no AH Mil.
(2) Transferido da CCav 489/BCav 490
(3) Esteve em formação no CICmds (Brá), tendo abandonado o curso
(4) Ver em "Rumo a Fulacunda", obra do nosso Camarada Rui Ferreira; Vd. também poste de 4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)
Vd também artigos de:
24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf.ª (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
25 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2214: Historiografia de uma guerra (1): A questão (polémica) do início da luta armada (Abreu dos Santos)
18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC: Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)
18 de Setembroe 2007 > Guiné 63/74 - P2115: Em busca de...(12): Notícias do desaparecimento de Júlio Lemos, ex-Fur Mil da CCAÇ 797, Tite, 1965/67 (Júlio Pinto)

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2361: O meu Natal no mato (4): Cachil, 1966: A morte do Condeço e do Boneca, CCAÇ 1423 (Hugo Moura Ferreira / Guimarães do Carmo )

Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1423 > Monumento funerário, à memória dos Fur Mil Condeço e Boneca, mortos na tarde de 24 de Dezembro de 1966.

Foto: © Ex-1º Cabo Gandra / Hugo Moura Ferreira (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Hugo Moura Ferreira:

Caros:

Como disse há dias ao Luís, tenho andado arredado mas não desatento. Aliás quem é que depois do que por passou se mantém desatento? Isso é uma característica que acho que acabámos todos por, de uma forma ou de outra, adquirir.
Estou de volta, mas devagarzinho. Voltei à vida dita activa e produtiva e ainda não me habituei a gerir convenientemente os tempos. Mas com a continuação e boa vontade lá chegarei! Porque no resto estou muito melhor e mais disciplinado.

Bom, mas agora o que interessa é o conteúdo da mensagem do Luís.

Quando a li, lembrei-me de uma mensagem que lhe enviei em 26 de Novembro de 2006, às 2h28, sobre algo que se enquadraria no tema agora proposto e que nunca teve qualquer tratamento ao nível da divulgação no no nosso Blogue.

O Assunto da mensagem era "Memorial" e pretendia eu associá-lo às questões que na altura andavam em tratamento relacionadas com os cemitérios e os monumentos locais efectuados pelas Companhias aos seus mortos.

Como nessa altura não teria sido a meu ver, eventualmente, achado interesse na sua referência não insisti no tema e limitei-me a inseri-lo no meu sitezinho no Spaces. Mas como agora querem estórias ou histórias (sou subscritor de uma das petições conta o acordo ortográfico Luso-Brasileiro que circulam na Net), sobre ocorrências nos Natais passados entre 1963/1974, resolvi enviar-lhes de novo aquilo que enviei há um ano.

Como poderão verificar aquilo que escrevi não estava formatado nem redigido para fazer simplesmente o copy/paste havendo a necessidade de retirar ou compor aquilo que decidirem publicar. Portanto mesmo agora vou enviar em anexo a parte que importa desse Mail de um caso que se passou no Cachil, em 24 de Dezembro de 1966, quando ali se encontrava a CCAÇ 1423, contado pelo Alf Carmo, meu amigo de infância e de Instrução Primária a quem eu, periquito, fiz uma visita, quando em Novembro de 1966 cheguei a Catió em trânsito para Cufar (cerca de um mês antes da ocorrência).

Aproveito para vos desejar um Santo Natal com muita saúde e repleto de Felicidade para vós e para toda a vossa Família. Um Abraço.

Hugo Moura Ferreira

2. Mensagem do Hugo Moura Ferreira enviada para o Blogue em 26 de Novembro de 2006, e que não foi publicada na altura:

(...) Queria, no entanto, antes disso enviar-te uma peça descrita por um amigo e camarada nosso que esteve no Cachil, em 1966, antes da minha CCAÇ 1621 ter para ali ido, quando saiu de Cufar e se relaciona com um memorial que ali se encontrava cuja foto obtive de um outro amigo, o 1º Cabo Gandra, do meu grupo de combate.

A foto em questão vai em anexo e como deverás verificar, se a aumentares, há uma inscrição que diz 'Aos Furrieis Condeço e Boneca', mas há outras inscrições, nomeadamente o número da CCAÇ que com grande dificuldade consegui descortinar: 1423.

Assim, porque me parecia que esse meu amigo de infância (vizinho e colega da primária) tinha pertencido à CCAÇ 1423, que eu visitei no Cachil quando cheguei a Catió, a caminho de Cufar, em Novembro de 1966, mandei-lhe uma mensagem a fazer perguntas sobre o referido memorial, acerca do qual o pessoal da CCAÇ 1621 desconhecia o significado.

A determinado passo da minha mensagem coloquei as seguintes questões:

A tua Companhia era a CCAÇ 1423? E pertencia ao BCAÇ 1858, que estava em Catió, quando eu cheguei à Guiné, em 1966? Penso que sim, porque verifiquei na pag. 140, da 'Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África', 3º Volume - Guiné, do Estado Maio do Exercito, que aquela Companhia esteve também, antes do Cachil, em Empada. Tudo isto, por exclusão de partes me faz pensar que era mesmo a tua CCAÇ" e ainda "...por pertencer à Tertúlia Virtual , para a qual te convido a fazeres parte, ao receber algumas fotos para digitalizar de antigos camaradas da CCAÇ 1621, a que pertenci, mas da qual saí quando fui colocado em Bedanda e ela seguiu para o Cachil, presumo que para vos render, encontrei uma que me despertou a curiosidade, que te envio em anexo que, depois de a analisar bem, verifiquei ser de um monumento no Cachil a 2 Furriéis falecidos por acidente (isto o que consta nos registos oficiais), de nomes Colaço e Boneca.

Poderias confirmar-me se assim é? Caso venhas a confirmar, poderias também dizer-me qual foi o acidente que provocou as suas mortes? E será que tens algumas fotos em que eles se encontrem? Se por acaso tiveres, eu gostaria de as digitalizar.


Assim, e porque os memoriais são para fazer recordar, aqui estou eu a contribuir para tal, transmitindo aquilo que o meu Amigo, Alf Carmo, me mandou dizer sobre o assunto que, com a devida vénia, depois de ele me ter autorizado a divulgar o que conta (" Não tenho qualquer problema em seres tu a utilizar quer a informação quer as fotos, as presentes e/ou futuras.") e a prometer que "Logo que um destes dias crie mais 'estaleca' para entrar no Blogue, assim o farei e poderei então entrar directamente", passarei a contar.

A propósito da foto e do Memorial nela representado, concordando em que 'falar nos mortos é perpetuar a sua memória e mantê-los 'vivos' no nosso espírito, sem se perderem no tempo' contou-me então o Alf Guimarães do Carmo que realmente a CCAÇ 1423 / BCAÇ 1858 (Ago 1965 a Abr 1967) era a dele e da ocorrência que originou a morte dos Furriéis Condeço e Boneca disse:

Quanto ao acidente que vitimou os Furriéis Condeço e Boneca, o mesmo ocorreu no Cachil na tarde de 24 de Dezembro de 1966, por razões de 'casmurrice' do então CComp que borrado de medo (era vulgar ocorrerem ataques nas alturas de festas) impôs por Ordem de Serviço que fossem verificadas as minas instaladas pelas NT. Era eu que estava de Oficial de Dia e já no regresso da saída 'simbólica' que decidi fazer, um dos Furriéis acidentados, disse que segundo o croquis havia uma ou duas minas muito perto e, como tal, era pena não ir verificá-las. Acedi e ao verificar a 1ª mina o Fur Boneca disse de longe que "nem um camião fazia saltar a cavilha" - provavelmente a cavilha estava oxidada e ao tentar rodá-la a mesma saltou fazendo rebentar a mina. Foram as suas últimas palavras!

O Fur Condeço, que se encontrava perto foi severamente atingido e acabaria por falecer no Heli a caminho de Bissau. Eu ainda fiquei com um estilhaço cravado na canela da perna esquerda.

Junto uma foto (Empada, Janeiro de 1966) em que o Condeço é o primeiro da esquerda. Quanto ao Fur Boneca não tenho nenhuma foto uma vez que o mesmo entrou na Companhia em rendição individual, penso que pouco tempo antes do acidente.

Desconhecia a existência do pequeno monumento documentado pela foto que me enviaste. Se ainda existe será talvez o único memorial pessoal dedicado a ambos. Um bem haja a quem o fez ou a quem decidiu mandá-lo fazer!

Como deves calcular os meus Natais são, ainda hoje, um pouco ensombrados pela lembrança deste fatídico evento


Legenda: Em Empada, da esquerda para a direita: Fur Condeço, 2º Sarg Nunes, o nosso alfero [Guimarães do Carmo] e Fur Castro. Do soldado africano à frente não me recordo o nome (*).

... E foi isto que ele [Guimarães do Carmo] me mandou como resposta!!

Esperando trazer algo de interesse para inserir no Blogue, nomeadamente relativo a ocorrências no Cachil (Ilha do Como), por agora termino, com um Abraço.

Hugo Moura Ferreira

Ex-Alf Mil,
Guiné, 1966/1968
CCAÇ 1621 -Cufar e CCAÇ 6-Bedanda

Presente nas seguintes páginas da Net:

http://bairromadredeus.hi5.com/

http://mouraferreira.spaces.live.com/

http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial_tertulia.html

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

http://blogueforanada.blogspot.com/

________

(*) No Blogue já encontrei referências à CCAÇ 1423, no Post 913, e quem sabe se o soldado africano que o Guimarães do Carmo não se lembra é algum daqueles que estão em amena cavaqueira com o Francisco Allen na foto que ali se encontra, tomada em 2005?!...


Vd. post de 26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P913: Empada 1969 ou as duas Guinés (Zé Teixeira, CCAÇ 2381)

sábado, 4 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui A. Ferreira)


Autor: Rui Alexandrino Ferreira
Título: Rumo a Fulacunda. 2ª ed. (1)
Editora: Palimage Editores.
Local: Viseu.
Ano: 2003. [1ª ed., 2000].
Colecção: Imagens de Hoje.
Nº pp.: 415.
Preço: c. 20€.




1. Excerto do livro de memórias Rumo a Fulacunda, do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira (2003), pp. 37/40. (Subtítulos e comentário de L.G. Fixação do texto: co-editor vb). 

É uma singela homenagem do nosso blogue ao Rui, que hoje faz 64 anos. Longa vida, Rui (ou Ruizinho, para os amigos mais íntimos)!



(...) Na madrugada do dia sete de Outubro, lá iniciaram a marcha para o objectivo, de início em bicha de pirilau, uma com a outra logo a morder-lhe os calcanhares.

À medida que o tempo ia passando e o aquartelamento ia ficando mais longe, o passo foi-se tomando mais lento, os ouvidos mais apurados, os olhos mais atentos, todos os sentidos em alerta permanente, numa concentração profunda.

Pausadamente!...Penosamente, lá iam avançando... Subitamente, com o inesperado habitual, deflagrou o tiroteio. O cantar característico das costureirinhas turras (pistola metralhadoras PPSH) feria os ouvidos e eriçava os nervos.

Milagrosamente não houve nem mortos nem feridos a lamentar, de início. Na frente, que entretanto já havia sido, pelo Capitão Pita Alves, dividida em três colunas de progressão, a que se encontrava mais à direita, onde se integrava o Alferes Vasco Cardoso, directamente visada pelo ataque, ficou, imobilizada, retida pelo fogo das armas ligeiras e metralhadoras do inimigo.
- Tomar posições de defesa! - gritou o Alferes.
- Reagrupar à retaguarda! - comandava bem lá de trás o maior da 23, Capitão de Artilharia Pita Alves, estratega e Comandante-em-Chefe da operação.

Seis homens isolados e perdidos na frente

No meio da confusão que se instalou e que a diversidade das pseudo ordens, opiniões, alvitres e sugestões que se seguiram mais agravou, as colunas viram-se partidas em vários segmentos. Numa das frentes o Alferes e mais cinco homens fixados pelo intenso tiroteio turra, não conseguiam juntar-se à retaguarda ou reintegrar-se na força.

Por seu lado, ninguém ali, conseguia esboçar qualquer tipo de reacção. Sufocados pelo tiroteio, desorientados, metidos cegamente na boca do lobo, impreparados para um confronto tão desigual, sem que alguém tivesse conseguido pôr ordem naquela periquitada, o grosso das Companhias retirou da zona, dispersa e desordenadamente.

Os seus elementos foram chegando a Fulacunda, desfasados no tempo e em pequenos grupos isolados. Uns quantos agora..., outros tantos tempos depois..., ainda mais alguns quando já se pensava no pior.

Isolados frente aos turras permaneciam ainda vivos os seis transviados. Batiam-se com o desespero e a raiva de quem luta pela sobrevivência. Nado e criado em África, Vasco Cardoso, era dos elementos mais válidos da Companhia. Habituado ao calor e à humidade, entendia-se perfeitamente com o clima e não estranhava o mato. Nele se movia, habitualmente, com o desembaraço dum lisboeta no Chiado. Apaixonado caçador como quase todo o bom africano, este era-lhe familiar. O instinto de conservação levava-o debalde, à busca de uma qualquer solução.

Ia adiando o desastre que já pressentia, fazendo a um tempo pagar bem caro o preço da sua vida e dando oportunidade a que algo sucedesse. Poucos que eram, mantinham ainda em respeito o mais que numeroso grupo inimigo, esperançados na ajuda que certamente lhes prestaria alguma das Companhias.
Que nunca chegou!... Foram-se esgotando as munições. Aos poucos... Aos poucos foram entrando em desespero...

Numa tentativa suicida para inverter a situação romperam o contacto em louca e desorientada correria. Tendo conseguido estabelecer alguma distância entre o minúsculo grupo que constituíam e o numeroso efectivo que o perseguia, a trégua de pouco lhes serviu.

E é pelo relato do Soldado José Vieira Lauro, único sobrevivente daquele grupo que se pode aquilatar a vastidão do desastre.

Perdidas as noções do tempo e das distâncias, perseguidos, acossados, encurralados, cercados, sem pausas para pensar ou tentar coordenar ideias, sem rumo e sem direcção, completamente desorientados, sem saber sequer onde estavam, na maior confusão sobre a localização do aquartelamento, indecisos para onde ou por onde progredir, durante quatro longos, sacrificados, penosos e infernais dias jogaram tragicamente ao 'gato e ao rato' em manifesta desigualdade. Desigualdade que se foi agravando com o desenrolar do tempo e com a passagem dos dias, cada vez mais sujeitos à hostilidade dum mar verde que os envolvia, tolhia e amedrontava, cada vez mais rejeitados por uma selva que os não reconhecia e onde não tinham lugar.

Sem hipóteses de sobrevivência, facilmente referenciados dada a impossibilidade de integração ou mesmo de dissimulação no meio ambiente que os rodeava, pressionados pela perseguição feroz que o inimigo lhes movia, foram-se desgastando fisicamente e vendo definhar a pouca força moral que ainda restava.

As duas primeiras baixas do grupo

A própria fé que um acordar redentor fizesse com que, em vez da trágica realidade, da dura e cruel situação em que se encontravam, nada mais fosse que um tremendo pesadelo, se desvaneceu.

Afastada por inverosímil e absurda essa hipótese, sem o menor sinal de ajuda, sem a mínima sombra dum apoio, sentiam que o mundo donde provinham, completamente alheado das suas fraquezas, se tinha esquecido das suas angústias e mais grave ainda já duvidava das suas existências.

Abandonados, isolados, completamente entregues a si próprios e às desventuras que o destino lhes reservara, vencidos pelo desânimo, vergados pelo infortúnio, progressivamente se quebrou a pouca resistência que sobrava.

Já só um milagre os salvaria da morte. Milagre que não aconteceu... Sustidos pelo rio que lhes barrava o caminho, encerradas assim as já poucas saídas que lhes restavam, tudo começava a consumar-se.

Uma bala mais certeira trespassou, no segundo dia, um deles, provocando a primeira baixa no grupo...

O corpo para ali ficou abandonado, repasto para os bichos!... Ao terceiro dia caiu o segundo. Mais um despojo que para ali ficou esquecido a marcar tragicamente a transitoriedade da vida. Tal como o primeiro o seu corpo para ali ficou de qualquer maneira, insepulto.

O desespero leva a dois suicídios

No último dia em que funestamente tudo se consumou, um dos sobreviventes entrou em desespero. Não conseguindo suportar todo aquele sofrimento, toda aquela imensa pressão, no limite do controlo sobre as já pouco lúcidas faculdades mentais, em absoluta crise emocional, sem conseguir sequer imaginar uma saída redentora, só a morte se lhe afigurava como solução libertadora. Profundamente deprimido e a caminho da alienação total, pôs termo à vida e ao sofrimento, com um tiro na cabeça.

No auge do desespero e numa tentativa suicida, à partida absolutamente condenada ao fracasso, um tentou a salvação através do rio, por onde se meteu...para nunca mais ser visto. Jaz com certeza morto, algures... E se não teve por benção e por morte o afogamento, serviu de repasto aos crocodilos no que certamente terá sido um final dramático.

A morte do Alferes Vaco Vardoso e a rendição do Soldado José Vieira Lauro

O Alferes foi o último a ser abatido e o Soldado Lauro, largou a arma e entregou-se… De nada lhe serviria o sacrifício da vida. Teve início então o longo calvário que se seguiu.

A caminhada rumo à fronteira, só atingida ao fim de vinte e dois dias de marcha, onde as canseiras, a dor e o sofrimento lhe causavam bem menor mágoa que o sentimento de culpa, o profundo abatimento e a vergonha de se sentir prisioneiro. A esse angustiante estado de alma se aliava o enorme desconforto motivado pelo receio do desconhecido, agudizado pela incerteza do futuro.

Só, inacreditavelmente só, como nunca se tinha sentido, possuído por uma tristeza mais negra que a pele dos próprios captores que o conduziam, caminhava como se fosse um autómato. Da fronteira para Conackri, o transporte em viatura, a entrevista com o próprio Amilcar Cabral, a recusa em ler para a rádio Argel, onde alguns compatriotas então brilhavam, fosse o que fosse contra Portugal, a clausura numa prisão, num antigo forte colonial Francês, na cidade de Kindia, cerca de uma centena de quilómetros a nordeste de Conackri.

Aí, onde sob o enorme portão fronteiriço se podia ler Maison de Force de Kindia foi encontrar o 1.° Sargento Piloto-aviador Sousa Lobato, primeiro militar português que o PAIGC aprisionou quando, no sul da província, teve de efectuar uma aterragem de emergência numa bolanha, corria o ano de 1963.

Permaneceu em cativeiro, trinta longos meses. Foi libertado num gesto de boa-vontade, em 1968 e entregue à Cruz Vermelha Internacional que o fez chegar a Lisboa.

Não esqueceu os tempos maus que por lá passou mas nunca foi alvo de procedimentos vexatórios ou de maus tratos. Era um prisioneiro de guerra, assim foi considerado e como tal tratado. Nesse aspecto e unicamente reportando-me à Guiné, se alguém teve razões de queixa, não foi seguramente a tropa portuguesa. O próprio Amílcar Cabral nunca se cansou de afirmar que a luta era contra o Regime Colonialista que então detinha o poder em Portugal e nunca contra o povo português.

Entretanto em Fulacunda, procedia-se ao rescaldo da operação. Formadas as Companhias já a meio da tarde, quando se começou a recear que mais ninguém conseguisse regressar, contavam-se os efectivos.

- Seis! Faltavam seis homens! Dois da 1420 (o Alferes Vasco Cardoso e o Soldado-telefonista n.o 1020/64 Armando Leite Marinho)e quatro da 1423(o 1.° Cabo Fernando de Jesus Alves e os Soldados José Ferreira Araújo, Armando Santos e José Vieira Lauro. (...)

2. Comentário do editor L.G.:

Rumo a Fulacunda era o grito de guerra, muito pouco guerreiro, da Companhia de Caçadores 1420, em cujas fileiras ingressou o Alf Mil Rui Ferreira, substituindo um camarada desaparecido em combate, o Vasco Cardoso, nado e criado em Angola, como o Rui.

Neste episódio o Rui reconstitui, com maestria e grande tensão narrativa, as trágicas circunstâncias em que o Alf Mil Vasco Cardoso, à frente de um pequeno grupo de homens, perseguidos durante três dias por um numeroso grupo IN, morreu, depois de ver morrer mais quatro homens ... O sexto elemento, o soldado Lauro, rendeu-se e foi feito prisioneiro. Foi o único do grupo que restou , para nos contar esta, que é uma das mais trágicas estórias da guerra da Guiné.
______________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)