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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2876: Tabanca Grande (71): Júlio Abreu, ex-1.º Cabo da Companhia de Comandos do CTIG (1964/66)

Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo Rádiomontador do BCAÇ 506 (Bafatá) e Chefe da 2.ª Equipa do Grupo de Comandos "Os Centuriões".


1. Mensagem de Júlio da Costa Abreu, de 20 de Maio:


Grupo de Comandos Centuriões (Guiné)

Caros amigos, 

Estando hoje no meu computador, deu-me a ideia de através do Google procurar saber se haveria alguma coisa sobre o meu antigo Grupo de Comandos Centuriões.

Qual não foi a minha surpresa ao encontrar bastantes artigos sobre o meu grupo assim como muitas notícias dos meus tempos de Guiné!


Quando fui para lá, fiquei no Batalhão 506 em Bafatá, como Radiomontador. Meti os papéis para frequentar o curso de Sarg Radiomontador em Paço de Arcos e, quando abrisse o curso, seria automaticamente promovido a Fur Graduado, pois na altura era 1.º Cabo.
Pouco tempo depois fui transferido para as oficinas de rádio do Batalhão de Transmissões no Quartel-General em Bissau. Ao fim de poucos meses, como iam ser criados os Comandos na Guiné, ofereci-me como voluntário para os Comandos.

Depois das provas fui incorporado no Curso em que foi criado o meu Grupo de Comandos Centuriões do Alf Mil Rainha. A partir da criação do grupo fui chefe de equipa.


O GrCmds "Centuriões", em Setembro de 1965, na guarda de honra ao Palácio do Governo.


Numa esplanada em Bissau (Hotel Portugal?), Abreu, Briote e o Toni Ramalho (médico no Porto, depois do regresso). Finais de 1965.


Saída para uma operação da equipa que o Júlio Abreu chefiava.

No regresso, o descanso e a calma na companhia do cigarro...

Em Bissau, Júlio Abreu, Carlos A. Silva, João Parreira e Mário Dias. Finais de 1965?

Capitão Nuno Rubim, 1º Cabo Júlio Abreu e o Alf Mil Vítor Caldeira (adjunto do Cmdt da CCmds para os assuntos administrativos e mais tarde, por impedimento do Alf A. Vilaça, Cmdt do GrCmds "Vampiros").

Em Brá, na entrega dos crachás, em Set. 1965. Podem ver-se, entre outros, o Alf Rainha, o 1º Cabo Abreu e o 1º Cabo Marcelino da Mata (de costas).

Brá, Setembro 1965. Entrega dos crachás. Distinguem-se, entre outros Camaradas, na 1ª fila o Alf Rainha e o 1º Cabo Júlio Abreu atrás do 1º Cabo Marcelino da Mata.


No final da comissão, o abraço do Capitão Rubim ao 1º Cabo Júlio Abreu. Na imagem reconheço o Soldado António Kássimo, o 1º da esquerda.

Cerimónia da despedida em Brá dos que, terminda a comissão, regressam à Metrópole. O Cap Nuno Rubim, o Alf Mil Vítor Caldeira ao fundo e o grupo em que se reconhecem o Soldado António Kássimo (que continuou nos "Centuriões" e mais tarde nos "Diabólicos") e o 1ª Cabo Júlio Abreu (o 3º da esq. para a dirª).


No restaurante do Geraldes, em Bissau. Da esqª para a dirª: sentados, o Júlio Abreu e um camarada que não reconheço. De pé, os Furr Matos, Carlos Alberto Silva, Sargento Mário Dias e o Furriel Valente de Sousa.

Quando voltei para a Metrópole e depois de ter estado empregado no representante da marca JVC em Portugal, resolvi vir para a Holanda onde estou há 36 anos, tendo trabalhado sempre na Companhia de Aviação KLM como técnico de Rádio.

Presentemente já estou reformado, mas gostaria de entrar em contacto com antigos Camaradas da Guiné. Ocasionalmente, encontrei-me há dois 2 anos com o Furriel Marques de Matos (dos Diabólicos) na Lourinhã, tendo ele dito que, por vezes, havia encontros dos ex-Comandos.
Seria com bastante prazer que eu gostaria de saber, com antecedência, quando houvesse um desses encontros pois gostaria de me encontrar com alguns camaradas não só do meu grupo como também de outros conhecidos. Por sinal, há bastantes anos, estive no quartel dos Comandos na Amadora onde tive o prazer de falar com o Sarg Mário Dias.

Junto o meu endereço electrónico (costaabr@gmail.com) para, se esta carta for lida, algum camarada me possa contactar.
Junto também algumas fotos do meu tempo da Guiné, (tenho muito mais fotos que mais tarde poderei mandar) e assim dessa maneira será mais fácil reconhecerem-me.

Sem mais de momento e esperando um bom acolhimento a esta mensagem, despeço-me por hoje.
Júlio A. A. da Costa Abreu

__________

2. Mensagem de vb:

Caro Júlio,
Foi uma agradável surpresa a que tive hoje ao ver a tua mensagem. O nosso pessoal desapareceu... e de ti nunca mais tivemos notícias. Alguns de nós vamo-nos vendo e falando, pessoalmente e por telefone. Encontrámo-nos regularmente com o Mário Dias, o ex-Furriel Miranda (lembras-te?), o Caetano Azevedo (Diabólicos), o Rainha, o Parreira e alguns outros.

Temos também enterrado um ou outro, como é natural, que o tempo é um grande vindimador. O Fur Carlos Alberto Silva que aparece numa das tuas fotos já foi há uns anos, bem como o Saraiva, o Godinho, o Moita, o Vilaça, o Cordeiro, o Caleiro, o Albino da MG-42... o ano passado foi o velho Tudela, aquele cabo-avô dos Vampiros, lembras-te?

Tenho muito gosto em apresentar-te à Tabanca Grande. Ainda te lembras da data da tua chegada à Guiné? Foste em rendição individual ou com alguma unidade? Desde quando estiveste nos "Comandos" e quando regressaste? Se não te lembrares das datas exactas, dá-me pelo menos uma ideia aproximada.
(…)

Um abraço
vb

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3. Resposta do Júlio Abreu

Amigo Briote,
Para começar e em resposta ao teu e-mail:


Mário Dias: Há já bastantes anos e estando eu na altura na Amadora, fui ao quartel dos Comandos na Amadora, (um dos meus filhos queria ver o quartel (tenho 3 filhos, o mais velho do meu primeiro casamento tem agora 41 anos, e do segundo casamento tenho 2, um rapaz de 32 anos e uma rapariga de 30 anos) e encontrei lá o Mário Dias (tens o e-mail dele?). 
Foi um tempo bem passado e pudemos recordar algumas coisas dos nossos tempos. O Rainha já me deu a morada dele mas não o e-mail.


Miranda: se bem me lembro, era um Furriel bastante alto, era esse não é verdade?
 

Azevedo: está nesta foto que te mando hoje, estando tu sentado na cama dele. O que é feito do Valente que está na mesma foto?


O Rainha já entrou em contacto comigo ontem, assim que recebeu o teu e-mail respondeu-me logo, e foi com bastante alegria do meu lado que entrámos em contacto.


Parreira: o Rainha já me deu o e-mail dele e vou-lhe escrever.
(…)


Cheguei à Guine em 17 Janeiro 1964, em rendição individual e fui colocado como Rádio-montador no Batalhão 506 em Bafatá. Meses depois e como tinha pedido para frequentar o curso de sargento-radiomontador, fui transferido para o Comando de Transmissões no Quartel-general em Bissau.
Entretanto ofereci-me como voluntário para os Comandos, tendo passado nas provas depois de ter levado uma carga de porrada na prova de boxe com o Marcelino que era um calmeirão comparado comigo, seguidamente fui nomeado chefe de equipa do Grupo Centuriões do Rainha. 
Regressei a Portugal em 27 de Janeiro de 1966.

Espero que tenha respondido às tuas perguntas. Penso ir a Portugal por volta de 27 de Junho, e espero podermo-nos encontrar para recordar os bons tempos. Desculpa alguns erros ortográficos, mas depois de 36 anos na Holanda, nem sempre consigo escrever bem Português.

Por agora nada mais, despede-se o amigo,
Júlio Abreu.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2358: A CCAÇ 726, a primeira Companhia a ocupar Guileje (1): em memória do Alf Mil Comando António Vilaça (Virgínio Briote)



O alferes António Vilaça, ao centro, rodeado pela 1ª Equipa do Gr Cmds Vampiros, em Setembro de 1965. À sua esquerda, o Jamanca e o Justo que fizeram parte da 1ª Companhia de Comandos Africanos, tendo sido executados pelo PAIGC, já depois da independência, sendo na altura tenentes graduados (1). À direita do Vilaça, dois camaradas que sairam da secção do Fur Mil Comando João Parreira, na CART 730 e depois do 2º Curso de Comandos ficaram na 1ª equipa do Grupo Cmds Vampiros: António Paixão Ramalho (Monte Trigo) e o João Maria Leitão (2).


Foto: © Virgínio Briote (2007). Direitos rerservados.


A CCAÇ 726 em terras da Guiné. Uma Companhia ainda à procura da sua história (3). À Memória do António Vilaça, alferes da CCAÇ 726, colega e camarada, onde quer que estejas.

Colega, nos nossos tenros anos do liceu Sá de Miranda, nos cafés da Arcada, na Lusitana, na Rua do Souto em Braga.



O Vilaça (de costas), o Furr. V. Sousa, (...) o alf Gião do QG, o V. Briote, o Furr Marques e o Alf Toni Ramalho, à mesa do Hotel Portugal, em Bissau.

Foto: © Virgínio Briote (2007). Direitos reservados.


Camarada, poucos anos depois, com 20 e poucos anos, nas bolanhas e nas lalas de Iracunda e de Canquelifá, naquela Guiné que ambos odiávamos e amávamos. Nas nossas desavenças em Brá, no quarto que repartimos meses e meses, nos jantares no Hotel Portugal, em Bissau, nas brincadeiras em que nos metemos, nos castigos, punições em linguagem militar, que ambos sofremos, no solene frente a frente com o Brigadeiro Sá Carneiro, o Comandante Militar, a ler-nos nas trombas as redacções das infracções que cometemos, a vergonha que devíamos sentir, contra o espírito da psico-social, então a iniciar-se nos meados daqueles anos.

E depois da Guiné, dois ou três anos passados, os nossos encontros em Braga, as conversas que tivemos sobre a vida à nossa frente, com a Guiné para trás, como se nunca por lá tivéssemos andado. Lembras-te, António?

Não tiveste a vida que gostarias de ter tido e, no entanto, isto cá entre nós todos, pouco fizeste para teres outra. Quando te avisaram que a despedida estava próxima, ainda me telefonaste. Apanhaste-me num táxi, no Marquês, quiseste dar-me a honra de ser o primeiro a saber do mal que tinhas e dos dois ou três meses que nos restavam para pormos a conversa em dia. Não houve tempo para mais, António. E assim te foste, sem mais nada dizeres, quiseste ir só, com os teus à beira.





Curvamo-nos perante todos os que defenderam aquilo que lhes ensinaram que era Portugal. A nossa História a isso nos comprometia. Uma História feita de Albuquerques, Gamas, Egas Moniz, Magalhães e tantos e tantos outros que honraram, por feitos desmedidos, o sagrado nome de Portugal.
Tinhamos então pouco mais de 20 anos. Poucos anos antes, tinhamos trazido das escolas a ideia que a Pátria era una e indivisível. Depois, nas Mafras deste país, ensinaram-nos a usar as armas, a jurar que se o nosso precioso sangue tivesse que verter, que o fosse, que só assim seríamos realmente dignos de cá termos nascido.

Dulce et decorum est pro patria mori, doce e honroso é morrer pela Pátria. Assim mesmo jurámos, alguns com os pêlos da pele eriçados.

De pouco mais de meia dúzia de nomes ilustres faz parte a nossa lembrança escolar, mas não foi só deles que a história deste País se fez. De muitos também se fez o esquecimento e, no entanto, eles estiveram lá e outros foram mesmo decisivos nesses declinares da história.

vb

____________

Notas de vb:

(1) Vd. posts de:

23 Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVII: O Justo foi fuzilado (Leopoldo Amado / João Parreira)

18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXII: Dos comandos de Brá ao pelotão de fuzilamento (Virgínio Briote)

12 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)

(2) Vd. posts de:

8 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2037: Memórias dos Lugares (2): de Elvas a Bissorã e de Lamego a Biambe, com a CART 730 (Parte II) (João Parreira)

1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2020: Memórias dos Lugares (1): de Elvas a Bissorã, e de Lamego a Biambe, com CART 730 (Parte I) (João Parreira)

(3) A CART 726 foi comandadq pelo ex-Cap Art Nuno Rubim, nosso muito estimado amigo, hoje coronel, e grande especialista em história da artilharia. Vd. posts de:

14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)