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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12628: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (9): Mafra e Porto, como em casa (Fernando Gouveia)

Convento de Mafra 
Foto tirada da NET, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, CMD AGR 2957, Bafatá, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2014:

Carlos:
Não contava escrever sob este tema “A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG", porém depois de tu contares a tua viagem de comboio para as Caldas não posso deixar de contar a minha para Mafra.

Para melhor se compreender o meu estado de espírito quando, pela primeira vez dei de caras com aquele mostrengo do Convento, vou começar um pouco antes e contar um episódio passado comigo que, a meu ver, predestinou toda a sorte que tive em relação à tropa e à guerra.

Estava eu no RI6 no Porto a dar a minha terceira ou quarta recruta quando fui escalado para “levar”, num comboio especial, uns duzentos soldados a Sta. Margarida, com destino à então guerra colonial. O comboio saiu de Campanhã cerca da meia noite e iria chegar, ao destino, de madrugada.
Em determinada altura, ainda noite escura, já perto de Sta. Margarida o comboio parou e assim esteve largos minutos.

Como “chefe daquela guerra” achei que algo se estaria a passar, relacionado com o transporte dos mancebos. No intuito de saber, junto do maquinista, o porquê de o comboio não andar, desci à linha.
Vindo de dentro da carruagem iluminada, com a escuridão da noite não via nada lá fora. Com os meus vinte e poucos anos, ginasticado como andava, não estive com meias medidas. Mesmo sem ver, saltei do estribo para o que eu julgava ser a berma da linha.

Acontece que o comboio estava parado em cima de uma ponte, daquelas que não têm passadiço, mas só uns ferros de onde em onde. Quando senti que por baixo era o ”vazio”, numa atitude instintiva estiquei-me e acabei por ficar preso com uma mão num ferro e um pé noutro. Uns cinquenta metros lá em baixo ainda pude ver a Lua reflectida nas águas do rio.

Com os músculos doridos, icei-me para o estribo da porta, entrei na carruagem e fui sentar-me no meu lugar, sem ninguém se ter apercebido do que me tinha acontecido. Imagine-se o que seria aquela “tropa” chegar ao destino sem Comandante, guias de marcha, etc.
Enquanto não encontrassem o corpo, não tenho dúvidas que levantariam um auto do caso de um Aspirante que teria desertado.

Ponte, das que não têm passadiço. (esta, no vale do Douro)

Depois disso, e não sendo minimamente supersticioso, entendi que na guerra que se avizinhava tudo me iria correr bem, o que efectivamente aconteceu.

Para chegar ao impacto que Mafra teve para mim, onde estive seis meses a fazer a recruta e a especialidade, tenho que começar um pouco atrás.

Fui à inspecção em Bragança. Estava atento aos editais das incorporações, mas como entretanto tive que vir com a minha família para o Porto, deixei lá uma pessoa encarregada de ir vendo esses editais. Azar. O meu nome não foi visto, nem por mim nem pela tal pessoa.

Descansado da vida, continuei os meus estudos no Porto.
Passado cerca de um ano recebo uma contrafé da polícia.
Às nove da noite e pensando que se trataria possivelmente de uma multa de trânsito fui à Esquadra. Lá chegado entreguei o papel ao graduado de serviço. Ele olha para o papel, olha para mim e como que explode: O senhor está lixado, foi dado como refractário e tem que se apresentar imediatamente em Mafra, onde já se devia ter apresentado há cerca de um ano.

As guerras estavam a decorrer. Muita coisa passou pela minha cabeça. Refractário igual a desertor, despromoção dum possível curso de oficiais, presídio militar e tudo o que se possa imaginar.
Com esse estado de espírito, no dia seguinte às sete da manhã estava a caminho de Mafra, de mala aviada. O percurso foi em parte o que o Carlos Vinhal descreveu para as Caldas, só que o meu era mais longo.
Do Porto até Alfarelos, para apanhar a linha do Oeste e no meu caso com destino à Malveira, onde soube que teria de apanhar um táxi para me levar finalmente a Mafra.

Cheguei a Mafra cerca das cinco da tarde e, deprimido como ia, pensei que naquele dia, já não me iam receber, atender, ou o que fosse. De mala na mão entrei por onde me indicaram ser a porta de armas, pensando que não ia sair dali tão cedo, e dirigi-me à secretaria.
Entrei para um gabinete onde estava um Capitão com idade de general. Este pegou no papel que me tinham dado na polícia e vendo o ar de aterrorizado com que eu estava disse-me:
- Tenha calma que nada lhe vai acontecer pois é só fazer um requerimento a pedir o levantamento da nota de refractário.

Depois de lhe entregar o requerimento ele só disse:
- Agora vai-se embora e espera que o chamem novamente.

Nesse dia e a essas horas já não consegui sair de Mafra. Hotéis e pensões não havia.
Consegui que uma velhinha me alugasse um quarto e, no dia seguinte, estava a caminho do Porto para prosseguir os meus estudos.

Vieram a chamar-me para a tropa passado mais um ano e entretanto fiz mais um ano do meu curso. Durante o tempo que estive em Mafra ainda fui ao Porto fazer algumas cadeiras e no regresso, agora de noite, para não faltar à instrução, ao chegar à Malveira, por volta das cinco da manhã tinha que ir acordar o taxista, a sua casa, para me levar a Mafra.

Em relação à povoação de Mafra pouco direi pois como todos os fins de semana ia ao Porto pouco deambulei por lá. Tinham-me dito que a Biblioteca do Convento era um bom local para se estudar, mas nunca cheguei a saber onde era, como também nunca soube onde eram os chuveiros de água quente. Até no segundo dia de estadia tive que pedir que me ajudassem a encontrar a caserna, tal era a monstruosidade do edifício, aliada à simetria provocada pelo claustro central e aos muitos pisos.

Parte da Biblioteca. (foto tirada da NET, com a devida vénia)

Em conclusão, Mafra para mim nem foi boa nem má, talvez indiferente.
O Porto, o outro local onde estive, no RI6, antes de ir para a Guiné, foi como estar em casa. 

Abraços.
Fernando Gouveia
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12623: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (8): Beja, Mafra, Évora e Cachil (José Colaço)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12382: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (7): O café do sr. Teófilo (Parte III): O meu discreto vizinho... que, uma tarde, vira-se para mim e diz-me: ' Sr. alferes, aquela que ali vai é irmãzinha do Amílcar Cabral'


 Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1970 > Foto do álbum do Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70] > Foto s/nº  >  "Uma irmãzinha de Amílcar Cabral", segundo o testemunho do sr. Teófilo com quem ele terá trabalhado, antes da guerra... Amílcar nasceu em 12/9/1924, em Bafatá, filho de pais caboverdianos. Juvenal Cabral, professor primário,  e Iva Pinhel Évora, doméstca. A família regressa a Cabo Verde em 1932.

Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.


Guiné-Bissau > Bafatá > 2001 > Busto do fundador do PAIGC,  Amílcar Cabral (Bafatá, 12/9/1924 - Conacri, 20/1/1973), engenheiro agrónomo, licenciado pelo ISA - Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 1950. Era filho de Juvenal Lopes Cabral, professor primário, caboverdiano, e de Iva Pinhel Évora, doméstica, guineense. Irmão, pelo lado paterno, de Luís Cabral (Bissau, 1931- Torres Vedras, 2009), o primeiro presidente da Guiné-Bissau (1973-1980).

Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados

1. Mensagem de Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; é arquiteto, e vive no Porto; foto atual à direita]

Data: 2 de Dezembro de 2013 às 01:38

Assunto: Sr. Teófilo

Luís:  Já várias vezes sugeriste que eu dissesse algo sobre o sr. Teófilo, por ter morado junto da casa dele. Nunca cheguei a dizer nada sobre o controverso senhor porque realmente não tinha muito a contar.

Efectivamente, durante os dois anos de comissão [, 1968/70], quase todos os dias, ao fim da tarde e à noite estava com ele, sentados na esplanada, a ver passar o pessoal, de, e para a tabanca da Rocha. Foi também aí que muitas vezes vi chegar autênticas caravanas de burros, todos engalanados, trazendo a mancarra para o celeiro.

Claro que muito conversamos mas nunca sobre assuntos de "guerra". Como que havia um acordo tácito entre nós no sentido de não entrarmos em mútuas confidências. Talvez tenha sido eu a forçar essa nota,  dadas as minhas funções, de informações, no Comando de Agrupamento [nº 2957]. Não queria de forma alguma fazer transparecer fosse o que fosse referente ao que se passava na "nossa guerra", quer em relação às NT, quer ao IN. Não tendo qualquer desconfiança em relação a ele, nunca lhe contaria nada que pudesse vir a pôr em perigo alguém das NT.

Se eu nunca cometi qualquer inconfidência, considero que ele por duas vezes não se conteve.

Primeira: Estava para se realizar uma grande operação dentro do Senegal, assunto que estava a ser tratado no Agrupamento com a chancela de "secreto". Pois bem,  um ou dois dias antes da operação,  o Sr. Teófilo falou-me, e eu só ouvi, dessa grande operação. Num aparte direi que nunca o considerei nem ligado ao IN nem à PIDE. No meu entender o que se passava é que ele era muito observador e ouvia todas as conversas dos militares que passavam pelo seu restaurante.

Uma outra vez, próximo do fim da minha comissão, princípios de 1970, em determinada altura vira-se para mim e diz: 
– O Sr. Alferes sabe que na noite passada andaram, naquelas tabancas para lá da pista, elementos do IN? 

Mais uma vez não manifestei qualquer reacção. Acrescentarei que a partir dessa data nunca mais fui à caça à noite, como sempre tinha ido. Passei a ir só de dia e acompanhado.

Sobre estas duas situações, claro, que ao chegar ao quartel fiz seguir superiormente as minhas duas únicas informações de toda a minha comissão, penso que classificadas de B-2 (a letra de A a E referente à fonte da notícia e o algarismo de 1 a 5 relativo ao grau de verosimilhança da notícia).

Com o Sr. Teófilo as conversas sempre foram sobre trivialidades. Aprendi a tornar tenras as chocas (perdizes) que caçava e que até aí as achava duríssimas. Era só tirar-lhe a pele. Aprendi com a esposa dele a fazer uma boa cachupa, que ainda agora fazemos regularmente cá em casa. Aprendi com ele a eliminar uma verruga com auxílio de uma crina de cavalo.

Para terminar, uma tarde vira-se para mim e diz-me; 
– Aquela que ali vai é irmãzinha do Amílcar Cabral...

O mesmo Amílcar Cabral, com quem ele  trabalhou na "Agrária" de Fá e por quem tinha, nessa época antes da guerra, muita consideração.

Não deixei de tirar uma foto à Senhora que junto envio.

Um abraço

Fernando Gouveia
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12369: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (6): O café do sr. Teófilo (Parte II): um homem amargurado que sabia demais? (Manuel Mata)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12325: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (1): Foto nº 1: Parte da Tabanca da Rocha


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 1 > Parte da Tabanca da Rocha.

Foto do álbum do Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70]

Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.


FOTO 1 > Parte da Tabanca da Rocha – Bafatá

Legendas:

1 – Cemitério.

2 – Secção de Engenharia, no perímetro do Agrupamento [, Cmd  Agr 2957, 1968/70].

3 – Porta de armas do Agrupamento.

4 – Esquadrão de Cavalaria [, Erec Rec Fox 2640, 1969/71]

5 – Pista

6 – Depósito de abastecimento de água a Bafatá.

7 – Mãe d’água.

8 – O telhado da casa onde morei.

9 – Casa e restaurante do Sr. Teófilo.

10 – Estrada para Bambadinca. [Vd. mapa em baixo]

11 – Estrada velha para Nova Lamego (Gabu).

12 – Estrada nova (asfaltada) para Nova Lamego. [Vd. mapa em baixo]

13 – Rua do agora apelidado de “Bataclã”.

14 – Rio Geba.[vd. mapa em baixo]

15 – Rua que vai passar pela mesquita.



1. No dia 10 do corrente, mandei o seguinte mail ao Fernando Gouveia, arquiteto reformado (que vive no Porto; foto à esquerda, na LDG que o levou, desde o Xime até a Bissau, de regresso a casa, no final da comissão, em 1970].

Fernando: eis um desfio para ti, e um pedido meu... Um dia vais nos poder fazer o mapa e o roteiro da cidade de Bafatá, para acabar com as nossas memórias confusas... Ninguém como tu conheceu (e amou) aquela cidade...Abraço fraterno. Luis

2. Resposta imediata, no mesmo dia:

Luís: Define o que pretendes, que farei o que puder.
 Um abraço. Fernando.
3. Minha resposta, no mesmo dia:

Fernando: È muito simples... Nas tuas (e outras) fotos aéreas de Bafatá, dás o nome às principais artérias e aos principais edifícios.... incluindo estabelecimentos comerciais e sítios por onde passámos e estão na nossa memória... Mesmo que não te lembres do nome da rua... Podes pôr, por exemplo, rua do batalhão, rua do cinema, av principal, estrada para Bambadinca...

Um abraço, Luis

4. Mensagem do Fernando Gouveia, com data de 20 do 
corrente, mandando-nos 17 fotos, devidamente legendadas:

 Luís:

Aí vai o “roteiro de Bafatá” que me pediste. Espero que esteja a teu contento.

Irei mandar mais que um e-mail por causa das 17 fotos.

Seguem-se as legendas das fotografias:

Um abraço, Fernando.



Guiné > Zona leste > 1955 > Mapa (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bafatá (sede de circunscrição  e depois município, elevada a cidade em março de 1970, a maior a seguir a Bissau, no nosso tempo). Ficava situada na margem direita do Rio Geba Estreito, tendo a sudoeste Bambadinca e a nordeste Nova Lamego.

Infelizmente, Bafatá está hoje em decadência, parou no tempo... O polo de desenvolvimento do leste parece ser agora a antiga Nova Lamego (Gabu). No tempo da guerra, ou pelo menos no nosso tempo (1968/71), a estrada Bafatá-Mansabá estava "interdita". Circulava-se,  sem problemas de maior, no eixo rodoviário (alcatroado) Bambadinca-Bafatá-Nova Lamego (a que se juntará, em 1972, o troço do Xime)... Era um eixo importantíssimo para  toda a logística e defesa  do leste, e cujo controlo por parte das NT  o PAIGC nunca  conseguiu pôr em causa ou  em risco.

No final da guerra, Bafatá era sede do CAOP 2, formado pelos seguintes setores: L1 (Bambadinca), L2 (Bafatá), L3 (Nova Lamego), L4 (Piche), L5 (Gondomar) e L6 (Pirada)... mais 3 zonas de intervenção do Com-Chefe... Eram muitos milhares de homens  em armas (mais de 7 mil, contando por alto), seguramente superior ao total de efetivos disponíveis do PAIGC, em todas as frentes e bases fronteiriças.   (LG).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11868: Blogoterapia (233): A Bem da Nação!... A Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, Guiné 1968/70... (António Azevedo Rodrigues, Comando de Agrupamento 2957, Bafatá, 1968/70)


Medalha [, à direita,] Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, Guiné 1968/70,  que foi entregue ao António Azevedo Rodrigues, de Vila Nova de Fanalicão.

Foto: © António Azevedo Rodrtigues (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada António Azevedo Rodrigues,  ex-1º. cabo, Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70), com data de 17 do corrente:


Amigos, ao fim de 3 longos anos de cartas, mails, telefonemas e mais requerimentos (*) (**), eis que o carteiro não precisou de tocar duas vezes, pois sou eu quem estou à espera que ele chegue com a missiva... 

Estava a contar ter de fazer uma almoçarada para receber o tal galardão pelos serviços prestados à Nação Portuguesa, mas como um soldado não conta como um almirante nem como um mercenário, não me foi concedido ser condecorado com as honras militares, como me havia sido indicado. Teria de me deslocar a uma unidade militar o mais perto de minha residência para aí me ser entregue o reconhecimento. 

Mas não,  fui informado que teria de me deslocar 800 km para ir a Lisboa receber, vejam bem que tão grande medalha o Estado Português me envia!... Ora, eu  recuso-me a  deslocar-me a Lisboa depois de ter uma unidade militar em Braga, Póvoa de Varzim e DE ter pertencido ao D.R. Braga...

Por outras medalhas já vistas no Facebook entregues a outros combatentes,  o que tenho a  dizer é que o Estado Português está mesmo em decadência,  estas medalhas são o espelho de quem comanda as Forças Armadas da Nação, que nada tem a ver com as de há 45 anos, sim há 45 anos estava eu a preparar as malas para seguir para a Guiné, para Bafatá... o que aconteceu a 9 Novembro 1968... 

A bem da Nação... que me obrigou a perder 3 anos da minha juventude. Hoje o carteiro me entregou a medalha... mas esta não é a tal de cortiça que pensei ir receber...

António Azevedo Rodrigues
Delães - Vila Nova de Famalicão

____________

Notas do editor:

(**)
Anexo - Requerimento a preencher e enviar ao Arquivo Geral do Exército (Estrada de Chelas, 1949-010 Lisboa)

EXMO SENHOR GENERAL CHEFE DO ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO


(nome)______________________________________________________, (estado civil) _____________, filho de ___________________________________ e de ________________________________________________, residente em (morada actual)__________________________________________________________ (código Postal)_________-______ (localidade)______________, nascido a (data) ______________, na freguesia de ________________, concelho de _____________________, portador do Bilhete de Identidade nº _______________, de (data de emissão) ______________ do Arquivo de Identificação de ______________, tendo cumprido serviço militar de (data de incorporação) ___________________, até (data de disponibilidade) _________________, tendo sido agraciado com a Medalha Comemorativa das Campanhas.

Consequentemente vem requerer a V. EXª que lhe seja feita entrega física da Medalha Comemorativa das Campanhas nos termos do artº 46 do Dec. Lei 316/2002 de 27 de Dezembro. 

Pede deferimento 


(localidade), _____________ de _____________ de 2009-00-00 

_________________________________ 

(assinatura)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11817: (Ex)citações (223): As lágrimas amargas do brig António de Spínola e do cor Hélio Felgas... "Presenciei-as no fim da Op Lança Afiada"... (António Azevedo Rodrigues, ex-1º cabo, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70)... Ou não terá sido antes, na sequência do desastre do Rio Corubal, em Cheche, na retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios) ? No dia seguinte, Spínola deslocou-se a Nova Lamego, onde falou, às 12h00, aos sobreviventes da Op Mabecos Bravios...


Guiné > Zona leste > Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70) > Guião. O Cmd Agr 2957 esteve em Bafatá, no período de Novembro de 1968 a Setembro de 1970. Os seus elementos metropolitanos sairam do ex-RAL 1 e embarcaram no T/T Uíge, em 9 de Novembro de 1968. O comandante do Cmd Agrup 2957 era o então cor Hélio Felgas [ 1920-2008], mais tarde substituído pelo cor Neves Cardoso. Na Tabanca Grande, temos dois camaradas que pertenceram ao Cmd Agr 2957: o António Azevedo Rodrigues e o Fernando Gouveia.

Foto: © António Azevedo Rodrtigues (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem dirigida ao nosso camarada António Rodrigues:

De: Luís Graça
Data: 26 de Junho de 2013 às 18:44
Assunto:  Ex-1º.Cabo Rodrigues, Comando de  Agrupamento 2957, Bafatá, 1968/70 [, foto à esquerda]

António, camarada de Bafatá:

Como vai essa saúde ? Espero que bem... Tenho aqui uma questão a esclarecer contigo. Em 1/12/2010, publicaste na 1ª série do nosso blogue o seguinte comentário [,poste CXXXIII, ou seja, 133, de 2/8/2005]

Um dúvida minha: presenciaste esta cena no regresso da Op Lança Afiada (8 a 19 de março de 1969) ou da Op Mabecos Bravios (desastre no Cheche, Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969)...

O relatório da Op Lança Afiada foi escrito pelo então cor Hélio felgas e datilografado por ti... Confirmas ? Tens mais lembranças desta operação e da reação do coronel ? Tens mais fotos do teu Cmd Agrup 2957 ? Queria publicar um poste que estes teus pequenos comentários... Um abraço. Luis

No dia 27 de Maio de 2008,. o António Rodrigues mandara-nos uma primeira mensagem, entrando depois para a Tabanca Grande... Nessa mensagem apresentava-se como 1º cabo do Cmd Agrup 2958, que trabalhou "na parte de operações e informaçoes", e que "privou de perto" com o gen Spinola, cap (e mais tarde gen) Almeida Bruno, maj Carlos Saraiva (do batalhão de Lamego), cor Teixeira da Silva bem como o seu "grande amigo" cor (e mais tarde maj gen) Helio Felgas, na altura ainda vivo..,

"Tive a felicidade de no ano passado [, 2007,] ter uma conversa com ele ao telefone, e hoje lembrei-me dele mas como não sei da sude dele, até tenho receio de voltar a ligar e já não o encontrar, mas para agora, gostava de poder fazer parte desta terulia, pois só agora disporei de algum tempo que gostava de falar convosco se isso me for permitido, pois também tenho algumas boas/más recordações da Guiné, como por exemplo a operação Lança Afiada, que foi por mim escrita, e reescrita., não sei quantas vezes, mas isso fica para mais tarde, pois vi o Spinola a chorar em Bafatá com a barba por cortar de cinco dias e o Helio Felgas abraçado ao Teixeira da Silva, também a chorar" (...).

2. Resposta do António Rodrigues,  que vive em Vila Nova de Famalião, com data de  28 de Junho de 2013:

Eu estive nos preparativos da Operação Lança Afiada, fui eu e o 1º cabo Correia a dactilografar todos os documentos de toda a operação quer o antes, durante e depois da mesma. Essa operação marcou-me, e de que maneira, pois, como se pode imaginar, são 44 anos passados, e para quem chega em 15 de novembro de 1968 a Bafatá, ao Comando de Agrupamento nº 2957, designado CAGRUP 2957, e logo passados 4 meses ter de levar com uma operação deste calibre, depois de todos os dias receber na altura msg urg imediato confid e por aí, fora a descrever o que se passava na zona de Madina de Boé...

E a forma detalhada como foi planeada, num gabinete onde sempre marcava presença o brig Spinola, o cor Helio Felgas, o ten cor Teixeira da Silva, o major Carlos Saraiva, o cap Almeida Bruno, o tal do pingalim e óculos rayban à piloto, o alferes Fernando Gouveia, o alf Martins das transmissões, o fur Carlos Cocho e eu próprio 1º cabo escriturario para tudo tomar nota e datilografar e depois passar a stencil para policopiar em séries de 10/20 folhas para distribuir pelos chefes intervenientes na tal Op Lança Afiada...

É certo que datilografei mais uma série de operações mas esta foi a minha maior e mais marcante, pois esta nunca me passou vista fora, ficou me marcada para sempre e aqui e agora estou a viver 45º à sombra que ao sol não dá para imaginar o que la passei e saber ao minuto o que se estava a passar com uma série de rapazes da minha terra, Vila Nova de Famalicão, que comigo foram no Uíge. metidos como carne p'ra canhão, a 9 de novembro de 1968 e depois ter de escrever reescrever a história, viver e saber que morreu o soldado tal e tal e depois já do meu regresso, em 1973 no dia seguinte ao meu casamento saber que o meu irmão morreu em Moçambique... Fico por aqui, agora...

3. Comentário de L.G.:

Meu caro camarada de Bafatá, antes de mais um abraço solidário na dor, por teres perdido um mano, em em Moçambique, em 1973... Nunca nos tinhas dito nada sobre esta tragédia familiar.

Mas, voltando à Guiné do nosso tempo e à zona leste onde estivemos os dois... Continuo a pensar que a cena das lágrimas que tu descreves ocorreu no âmbito da Op Mabecos Bravios, já no final, em Nova Lamego, no dia 7/2/1969, e não no final da Op Lança Afiada, em 19/3/1969... Parece-me muito mais verosímil, e só prova que estes dois bravos guerreiros, António de Spínola e Hélio Felgas, eram afinal homens de carne e osso como nós, com emoções, com sentimentos, e independentemente do juízo que a História fizer deles...

Se calhar está na altura de reproduzirmos alguns postes, da I Série, sobre a Op Mabecos Bravios, Iniciada em 1 de Fevereiro de 1969, com a duração de 8 dias, tinha por missão retirar as nossas tropas de Madina do Boé. Tudo correu bem, até ao último dia, no regresso, na travessia, em jangada, do Rio Corubal, em
Cheche...

Talvez o Fernando Gouveia nos posso ajudar, com as suas memórias desse tempo.

PS - Recorde-se que Op Mabecos Bravios (destinada a cobrir a retirada das forças estacionadas em Madina do Boé) teve um desfecho trágico para 46 camaradas nossos, da CCAÇ 2405 (Galomaro) e da CCAÇ 1790 (Madina do Boé), mais um civil, guineense Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca,19768/70), lê-se resumida e cruamente, no final do rekatório da Op Mabecos Bravios (parte relatava ao Destacamento F, que era constituído pela CCAÇ 2405, sediada em Galomaro, e que pertencia ao BCAÇ 2852):

(...) "Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F  [, CCAÇ 2405,] e grandes quantidades de material perdido.

"Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude  que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado.

"Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe que se deslocou propositadamente para a fazer.

"Permaneci em Nova Lamego para organizar a coluna do dia seguinte. Às primeiras horas de D + 6 [8 de Fevereiro] iniciei o movimento para Galomaro onde cheguei cerca das 10.30h." (...)
_____________

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11622: (Ex)citações (221): O comandante do Comando de Agrupamento nº 2957, cor inf Hélio Felgas, o cérebro da Op Lança Afiada (8-19 de março de 1969) (Fernando Gouveia)


Guiné > Zona leste > Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70) > Guião. O Cmd Agr 2957 esteve em Bafatá, no período de Novembro de 1968 a Setembro de 1970. Os seus elementos metropolitanos sairam do ex-RAL 1 e embarcaram no T/T Uíge, em 9 de Novembro de 1968. O comandante do Cmd Agrup 2957 era o então Cor Hélio Felgas [, 1920-2008], mais tarde substituído pelo Cor Neves Cardoso. Na Tabanca Grande, temos pelo menios dois camaradas que pertenceram ao Cmd Agr 2957: António Azevedo Rodrigues e o Fernando Gouveia.

Foto: © António Azevedo Rodrtigues (2011). Todos os direitos reservados

1. Comentário do Fernando Gouveia ao poste P11575:

Caro Luís Graça, caros camaradas:

Sobre a nossa Guiné gosto muito de contar estórias mas não histórias. Sobre a Op Lança Afiada, no entanto, como a vivi intensamente, na retaguarda, vou contar algumas coisas.

As minhas funções no Comando de Agrupamento de Bafata [, Cmd Agr 2957]  eram de oficial de informações, mas como o major que tinha as funções de oficial de operações esteve de baixa muitos meses, acabei por acumular as duas valências. 

Foi assim que “ajudei” o cor  {Hélio] Felgas  [, foto à direita,] a planear a operação. A minha ajuda resumiu-se a estar sempre com ele, normalmente sentados em frente ao grande mapa escala 1/50000, ele a congeminar as posições a assumir pelas NT e suas movimentações e eu praticamente a chegar-lhe os lápis dermatográficos com que ele ia marcando na mica, que cobria os mapas, setas e ovais, que depois eram copiadas e posteriormente enviadas para as tropas intervenientes.

O cor Felgas era 100% militarista mas demasiado individualista. Com ou sem razão só acreditava nele próprio. Talvez tenha sido por isso que o major de operações [, do Cmd Agr 2957,] tenha apanhado uma depressão, pois o coronel nunca o incumbiu de qualquer assunto ligado a operações. O senhor major andou por lá muitos meses só a organizar os arquivos.

Sentado à sua beira, aquando da programação da operação, seria impensável sugerir ao cor Felgas que, sem uma operação em simultâneo na margem sul do Corubal,  a Lança Afiada não teria sucesso. Lembro-me, a propósito, que um camarada que esteve na operação me contou que, durante a operação, se ouvia toda a noite o barulho de motores de barcos a cambar o Corubal.

De qualquer maneira o cor Felgas demonstrou sempre muita preocupação com o bem estar dos soldados durante a operação. Recordo de o ter ajudado (sem aspas) a conceber uma rede mosquiteira individual para ser distribuída a cada soldado. 

Recordo ainda que andou dias a magicar um substituto para as tradicionais rações de combate e aí também ele me veio perguntar se achava que a inclusão de fruta em calda estaria correcta em vez de outros produtos que faziam parte das rações mas muito mais açucarados.

Para terminar, penso que foi nesta altura que o cor Felgas ficou com uma Kalash novinha, a estrear. Nas paredes da minha casa tenho várias peças desse espólio, mas de menor importância.

Um grande abraço a todos.

Fernando Gouveia

[ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; 
foto à esquerda, na LDG que o levou de regresso a Bissau, 
no final da comissão]

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11575: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): I Parte: Cerca de 1300 efetivos: 36 oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Ilustração de António Levezinho para a capa da História da CCAÇ 12 (1969/71).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005)

Foto nº 41 >



 Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Reabastecimento de um heli, provavelmente por ocasião da Op Lança Afiada (8 a 19 de março de 1969). Durante semana e meia, Bambadinca foi um correpio de helis, T6 e DO-27.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 42 >   A presença do ainda brig António de Spínola, que acompanhou pessoalmente a Op Lança Afiada.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Invólucros de granadas de canhão s/r 82, usados pelo PAIGC na noite de 28 de maio de 1969, no ataque de 40 minutos a Bambadinca, menos de dois meses e meio depois da Op Lança Afiada. O PAIGC utilizou dois brugrupos e 3 canhões s/r, aém de morteiros, RPG, metralhadores ligeiras e pesadas, e armas automáticas de assalto. Fotos do álbum do José Carlos Lopes, fur mil reabast, CCS/BCAÇ 2852 (1968/70).


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
A. Iniciada em 8 de Março de 1969 com a duração de 11 dias, a Op Lança Afiada foi uma das grandes operações que se realizaram na época, ainda no início do consulado do brigadeiro António Spínola (1968-73), um mês depois da trágica retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).

A Op Lança Afiada envolveu cerca de 1300 homens, entre militares, milícias e carregadores: 36 oficiais; 71 sargentos; 699 praças; 106 milícias; 379 carregadores Houve cerca de duas dúzias e meia de flagelações das NT por parte dos guerrilheiros, os quais no entanto se furtaram ao contacto direto.

As populações sob controlo do IN (balanats e beafadas) passaram, com alguma segurança, para o lado do rio Corubal, margem esquerda. Os fuzileiros não puderam ou quiseram participar nesta operação, que também não envolveu outras tropas especiais (comandos e páras). Foi, pois, uma operação só com tropa macaca, embora a nível de comando de agrupamento (nº 2957), sendo comandada pelo cor inf Hélio Felgas [1920-2008]. Quase um terço dos efectivos eram carregadores.

Pensava-se que em Mina, junto ao Rio Corubal, na margem  estaria sedeado o Comando do Sector 2, da estrutura político-militar do PAIGC. Pensava-se também que havia, na mata do Fiofioli, um grande hospital, com médicos e enfermeiras... cubanos!

Do ponto de vista militar, a operação foi, senão propriamente um fiasco, uma frustração para as NT. Em contrapartida, houve inúmeras evacuações (n=110) dos nossos combatentes, devido a problemas de desidratação, desnutrição, esgotamento físico e stresse psicológico... É interessante a análise do autor do relatório sobre os sucessos e os insucessos desta megaoperação de...limpeza.

Damos hoje início à publicação do relatório da Op Lança Afiada (Na I Série do nosso blogue já publicámos alguns excertos substanciaos). Tratando-se de uma fotocópia de um documento dactilografado e  policopiado a stencil, com data de 1970, há erros e omissões que eu procurei colmatar ou corrigir, sempre que possível. Também substituímos algumas abreviaturas para tornar o texto mais legível para os nossos leitores, os  paisanos ou os que não fizeram tropa nem estiveram na Guiné.

É importante esta operação no seu contexto. Estava-se então em plena época seca: o capinzal já não resiste às granadas incendiárias e as clareiras, abertas pelas queimadas na savana arbustiva, deixam entrever a imensa mole de vegetação tropical para além da qual fica tabanca di bandido, em florestas sombrias onde coabitam dginé & najoré, e que na algaraviada dos meus queridos fulas  (da CCAÇ 12) queria  dizer irãs, diabos, diabretes, duendes e toda a espécie de espíritos (bons e maus)…

O objectivo da operação é, como sempre, aniquilar, capturar ou, no mínimo, expulsar o IN, destruir todos os seus meios de vida e recuperar a população sob o seu controlo... (À força, se a dita população não quiser voltar a viver sob a nossa bandeira e a nossa soberania).

A ideia de manobra é simples: da Ponta do Inglês (antigo destacamento da CART 1746, evacaudo em 7/8 de outubro de 1968) à mata do Fiofioli, da estrada Mansambo-Xitole à Ponta Luís Dias (outrora um florescente entreposto comercial à beira rio) um enorme cilindro compressor irá empurrando tudo o que for balanta, beafada e bicho do mato para o Rio Corubal onde os esperam os pássaros de fogo dos tugas, os hipopótamos, os jacarés, as formigas carnívoras, os jagudis...

Oficialmente o dispositivo do IN na área compreendida entre a linha geral Xime-Xitole e a margem direita do Rio Gorubal foi desarticulado — um eufemismo, de resto, muito utilizado nos nossos relatórios militares para justificar resultados mais morais e psicológicos do que materiais em operações desta envergadura, e que quando muito só se realizam de dois em dois anos (Na verdade, não era todos os dias que nós podíamos, no TO da Guiné,  dar ao luxo de mobilizar o equivalente a um agrupamento, ou seja, 8 companhias, fora os carregadores civis).

Na prática, os roncos não foram espectaculares: para além de algumas toneladas de arroz destruídas e de umas tantas casas de mato ou cubatas queimadas, enfim, para além de alguns contactos com o IN, sempre à distância, “o que contou sobretudo foi termos penetrado em santuários do IN tão míticos como a mata do Fiofioli” (dizia-me um furriel da velhice com quem gostava de conversar do passado recente, em Contuboel, em junho de 1969).

B. Em Contuboel, verdinho que nem um periquito, fiquei a saber que o Fiofioli era um sítio tão temível para os tugas da Zona Leste como, noutros sectores, o Boé, o Cantanhez, o Morès, o Choquemone, o Caresse ou a ilha do Como.
— Afinal, nem hospital nem enfermeiras cubanas nem sequer o fantasma do Nino vestido à cowboy — comentava, entre irónico e desapontado, à mesa da lerpa, um outro furriel da velhice de Contuboel — Foi só por dizer que estivemos na mata do Fiofioli… Nem sequer fiz o gosto ao dedo!

O que eu na altura, pira,  pude concluir destas conversas entre velhinhos de barba rija, no meio de rodadas de cerveja e de uísque, é que depois do inferno de Madina do Boé (em 6 de fevereiro de 1969), a Lança Afiada teve um certo sabor a vitória para as NT.

0 que se passara, entretanto, é que, na impossibilidade de resistir abertamente à contrapenetração das NT, a guerrilha ensaiara algumas manobras de diversão pelo fogo, enquanto as populações sob o seu controlo, previamente alertadas, se metiam na arca de Noé (quiçá com alguma a bicharada do mato, os porcos, as galinhas, que puderam salvar), cambando o Rio Corubal e pondo-se a salvo na outra margem... Em suma a velha táctica do conhecido mestre escola chinês, Mao Tsé Tung: “dispersar quando o inimigo ataca, reagrupar quando o inimigo retira”…

Um mês depois, e quando os tugas voltavam a dormir de cu para o ar, preparando-se para hibernar nos seus campos fortificados durante a estação das chuvas, os diabos negros da floresta desencadeavam uma série de acções que culminariam no ataque em força, inesperado e espectacular, a Bambadinca, a sede do comando do setor L1 até então inviolável...

Foi a 28 de Maio de 1969, à noite, estávamos nós a chegar a Bissau. Quando passámos por Bambadinca, oito dias depois, a caminho de Contuboel, não se falava de outra coisa…
— Podíamos ter sido todos mortos ou apanhados à unha, tal era a bandalheira em que estava o quartel  — confidenciava-me o meu conterrâneo e amigo, o Agnelo Ferreira, 1º cabo telegraf inf da CCS.

Ao que parece, a tranquilidade era tanta que se faziam quartos de sentinela... sem armas! Era o que se dizia, nunca apurei a verdade... Ao que soube mais tarde (e confirmei na história da unidade), o comandante do batalhão (ten cor inf Pimentel Bastos), o major de op e inf  Viriato Amílcar Pires da Silva, o comdante da CCS (cap inf Eugénio Batista Neves)   e o comandante da CCAÇ 2405 (cap mil inf António Dias Lopes) serão, pouco tempo depois,  transferidos por ordem do Com-Chefe, "por motivos disciplinares". Era o tempo em que o ainda brigadeiro António de Spínola se tornou o terror dos comandos de batalhão. (LG)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - I parte

1. Situação: Inimigo



1.1. Desde há anos que a região da margem direita do Rio Corubal até à linha Xime-Xitole, é considerada uma zona de refúgio e preparação do IN [inimigo]. A profundidade continental da região, a sua espessa arborização (excepto na franja marginal do Rio), a falta de trilhos e caminhos, a grande distância a que ficam os aquartelamentos mais próximos (Xime, Mansambo e Xitole), tudo isto são características que convidam o IN a permanecer na Zona, em relativa tranquilidade.

O IN sabe que detecta facilmente qualquer tentativa de aproximação das nossas Forças Terrestres. Se a aproximação terrestre é difícil, a actuação das FN [Forças Navais] parece facilitada pela existência do Rio Corubal. E a tal ponto que, em estudo realizado por este Comando, a área da margem direita do Rio Corubal, desde a Ponta do Inglês a Cã Júlio, foi considerado uma área que devia ser batida pelas NT [Nossas Tropas] em operação conjunta de meios navais e helitransportados.

A deficiência destes meios contribuiu para o quase completo sossego em que o IN tem vivido na área, controlando uma população de balantas e beafadas que o alimenta e que se reputa numerosa. E determinou a realização da Op Lança Afiada com o emprego exclusivo de forças terrestres.


1.2. O reconhecimento aéreo e as poucas operações realizadas não dão uma ideia muito clara acerca do IN na região considerada. Admite-se no entanto que existam na região pelo menos 5 bigrupos e um grupo de artilharia.

As acções ofensivas do IN tem sido relativamente espaçadas e dirigidas contra o Xime, Mansambo e Xitole, além de emboscadas nas estradas Xime-Bambadinca e Mansambo-Xitole e de penetrações contra tabancas fiéis na direcção do [regulado do] Cossé e na área entre o Xitole e Saltinho.

Embora apresentando bom potencial de fogo (canhão s/r, mort 82 e 60, LGFog, etc.), o IN continua a mostrar uma execução deficiente. As reacções à actividade das NT não têm sido muito fortes. Mas os poucos trilhos de acesso estão normalmente armadilhados. O IN embosca por vezes as NT quando regressam a quartéis. Além disso tem tiro de Mort 82 preparados sobre os seus próprios acampamentos, executando-os quando as NT os ocupam. E as arrecadações de material e armamento encontram-se em geral afastados dos acampamentos.

De uma maneira geral podem considerar-se as seguintes áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai -Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


1.3 [Vd. cartas do Xime, Fulacunda e Xitole]

a) Área de Poindon:

Localização aproximada – (1500 1155 B2). RVIS efectuado em Novembro de 1968 revelou que toda a área se encontrava muito povoada tendo sido referenciadas mais de 15 casas de mato,  distribuídas por 2 núcleos. As bolanhas estavam cultivadas.

b) Área de Baio-Buruntoni:

Baio – Localização aproximada: (1500 1150 G7); deve ser uns dois a três km a Oeste. Chefe: Mário Mendes. Efectivo aproximado: 1 bigrupo dividido com Varela.

Burontoni – Localização aproximada: (1500 1150 G7) e (1455 1150 A 7). Efectivo aproximado: 100 homens: Armamento: MP, Mort 82 e 650, LGRFog.





c) Área de Gã Garnes (Ponta do Inglês):

Localização aproximada – (1500 11540 B5-5) com trilhos de acesso a Baio e à Ponta João da Silva. O itinerário a seguir quando se vem da Ponta do Inglês atravessa o Rio Buruntoni em (1500 1150 A2 -82). Efectivos e armamento: mais de 15 homens com Mort, LGFog, etc.




d) Área de Ponta Luís Dias – Gã João:

Ponta Luís Dias – Localização: (1505 11?3 F3 ou G2 G0-44). O itinerário mais fácil parece ser pela margem do Rio Corubal mas na época seca pode ir-se partindo de Gã Garnes. Efectivos: Cerca de 25 (?) elementos, armados de MP, ML, Mort 82 e 60, LGFog., etc. Consta talvez (?) 1 Canhão s/r em Ponta Luís Dias, apontando para o Corubal.

Gã João - Localização: (1505 1150 H5 ou I6 ou 13-55).Acessos idênticos ao acampamento de Ponta Luís Dias. Pode ficar à direita da picada Ponta Luís Dias – Ponta do Inglês sobre um trilho que parte desta. Foi localizado um grupo de casa em 1505 1150 G9-2.





e) Área de Mangai – Tubacuta:

Mangai – Localização: (1505 1145 G8). O acesso é mais fácil pela margem do Corubal. Por terra o acesso mais fácil parece ser por Madina Tenhegi (1500 1150 E2). Efectivos: 1 Gr Artilharia, parte em Tubacuta.

Tubacuta – Localização: (1500 1145 B9 B6 ? ), entre a tabanca e a Casa Gouveia, ao pé da bolanha. O acesso é mais fácil pela margem do Rio Corubal ou partir de Madina Tenhegi. Efectivos: mais de 100 homens com cubanos.

f) Área de Madina Tenhegi:

Não há referências sobre acampamentos IN.

g) Área de Fiofioli:

Localização: (1500 1145 E4 ou D5). Não são conhecidos os acessos à área. A mata do Fiofioli é muito [ densa ? ] e está praticamente cercada por bolanhas que o IN provavelmente baterá. Efectivos: talvez 1 bigrupo. Consta existir um hospital, com médicos cubanos.

h) Área de Cancodeas:

Cancodea Balanta – Localização: (1500 1145 E3). Efectivos: 50 homens armados.

Cancodea Beafada – Localização: (1500 1145 G2)




i) Área de Mina – Gã Júlio:

Mina – Localização: Em (1500 1145 h6 ou I6), na mata próxima da tabanca, dividida em dois núcleos, afastados cerca de 400 metros. Um núcleo é formado pelas instalações de pessoal e pelo posto de rádio. Parece ser aqui o comando do Sector 2 do IN. Consta haver uma enfermaria com cubanos. Há quem diga existir 200 elementos IN. Mas há quem diga serem poucos. A reacção à operação dos páras em 16 de Dezembro de 1968 foi nula. Em Novembro de 1968 foi indicada a existência de canhão s/r, 10 LGFog, 5 metralhadoras Degtyarev, 1 morteiro 60, etc.

Gã Júlio – Localização: (1500 1145 D4 ou E4). Não há outras indicações.


j) Área de Galo Corubal – Satecuta:

Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, através do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser efito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi detsruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog.



l) Área de Galoiel:

Localização (1455 1150 F1) próximo de Galoiel. Ataque das NT em 28 de Novembro de 1968 repelido pelo IN. Novo ataque em 23 de Dezembro não tendo o IN oferecido quase resistência. Efectivos entre 20 a 30 elementos, armados com LGRFog, Mort 82, ML, etc.


Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).



1.4. Admite-se que, sendo a Op Lança Afiada, uma operação demorada, o IN tenha possibilidade de reforçar os seus bigrupos, exercendo um esforço sobre este ou aquele dos nossos destacamentos. Admite-se também que quer as populações civis sob controlo In quer o próprio IN atravessem de noite o Rio Corubal, furtando-se assim ao contacto com as NT.


2. Missão:

- Atacar e destruir ou capturar o IN em toda a região da margem direita do Rio Corubal, entre este rio e a linha Xime-Xitole;

- Nomadizar na região procurando trilhos que serão imediatamente explorados;

- Capturar a população civil;

- Destruir todos os meios de vida encontrados e que não possam ser oportunamente transportados.


Carregadores do PAIGC. Fonte: Regiões Libertadas da Guiné (Bissau). Pequim: Edições em Línguas Estrangeiras. Agência de Notícias Xinhua. 1972.© Agência de Notícias Xinhua (1972).


3. Força executante

a. Comandante: Coronel Hélio Felgas.

b. Comandantes das sub-unidades:

[Vd. Caixa a seguir]



[Observações: O ten cor inf Pimentel Bastos era o cmdt do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70; Dest A: CART 2338: Não temos ninguém que a represente no blogue: é contemporânea da CART 2339, passou por Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma e Pirada, 1968/69; Dest B: CART 1746, Xime; Dest C: CART 1743, passou por Tite, Bissássema, Jabadá, Nova Sintra, Bissau, 1967/69; Dest D: CCAÇ 2403, passou por Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga,  Olossato, Mansabá, Bissau, 1968/70; era comandada pelo cap inf Hilário Peixeiro, nosso tabanqueiro] (LG)





[Observações: Agrupamento tático sul: Ten Cor Jaime Tavares Banazol; Dest F &gt: CART 2339 (Mansambo): um  dos oficiais listados é o nosso camarada Torcato Mendonça;  Dest G: CCAÇ 2405 (Galomaro): os dois alf mil referidos são membros da nossa Tabanca Grande: Paulo Raposo e Victor David.:Dest H: CART 2413 (Xitole); Dest I: CCAÇ 2406 (Saltinho).] (LG)



c. Meios



d. Organização

Foram constituídos 2 agrupamentps táticos, o do Norte e o do Sul, cada qual com 4 Dest. O Dest E reforçou sucessivamente os 2 Agerupamentos Táticos,

e. Alterações feitas à organização regulamentar

(1) Pessoal - [Omisso]
(2) Armamentio - Nada
(3) Equipamentp - Nada
(4) Munições - Nada
(5) Material especial distribuído - Potes fumo, redes mosquiteiras e pomada repelente, tudo contra ataques de abelhas. Sacos de linhagem para o arroz capturado.
(6) Material de transmissões - Utilizados  postos ANPRC (Ar-Terra), DHS (Terra-Terra e Ar-Terra), AVF ou AVP. OS postos ANGRC-9 com que se inicvou a Operação  froam recolhidos ao segundo u terceiro dia por inúteis.

(continua)


Fonte: Extratos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap II. 48-54. Classificação: Reservado  [Agradeço ao Humberto Reis ter-me também facultado uma cópia deste documento em formato.pdf e em papel]

______________

Nota do editor:

(*) I Série > poste de 15 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

sexta-feira, 22 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11293: Memória dos lugares (226): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte I)


Guiné > Zona leste >  Bafatá  > Vista aérea > Foto nº 5 > Em primeiro plano, o rio Geba e a piscina de Bafatá (que tinha o nome do administrador Guerra Ribeiro e foi inaugurada em 1962, tendo sido construído - segundo a informação que temos - por militares de uma unidade aqui estacionada ainda antes do início da guerra).

Do lado esquerdo, o cais fluvial, uma zona ajardinada, a estátua do governador Oliveira Muzanty (1906-1909)... Ao centro,  a rua principal da cidade. Vê-se, ao fundo, a estrada que conduz à saída para Nova Lamego (Gabu), à direita,  e Bambadinca-Xime, à esquerda. À entrada de Bafatá, havia rotunda. Para quem entrava, o café do Teófiloi, o "desterrado", era à esquerda..

Do lado direito pode observar-se a traseira do mercado. Do lado esquerdo, no início da rua, um belo edifício, de arquitetura tipicamente colonial, pertencente à  famosa Casa Gouveia, que representava os interesses da CUF,  e que, no nosso tempo, era o principal bazar da cidade, tendo florescido com o patacão (dinheiro) da tropa. Por aqui passaram milhares e milhares de homens ao longo da guerra,. que aqui faziam as suas compras, iam aos restaurantes e se divertiam... comas meninas do Bataclã.



Foto nº 5 - >  A piscina de Bafatá, na altura vazia


Foto nº 5-B > Cais do Rio Geba e jardim de Bafatá.. Ao centro a estátua do governador Oliveira Muzanty (1906-1909)



Foto nº 5- C > Do lado direito, o principal estabelecimento da cidade, pertencente à Casa Gouveia


Foto nº 5-  D > Jardim, estátua de Oliveira Muzanty (governador, 1906-1909) e Casa Gouveia, no início da rua principal


Foto nº 5 - E > Rua Principal de Bafatá, com início na Casa Gouveia... O terceiro edifício parece ser o cinema  (?) e o sexto a casa das libanesas... Ao fundo do lado esquerdo, a igreja católica de Bafatá.  À frente à Casa Gouveia, do outro lado da rua, o Mercado de Bafatá, de estilo revivalista. [Ou o cinema era na rua do mercado que era perpendicular à rua principal ? Também não tenho a certeza onde era o edifício da administração civil... parece.-me que ficava a meio da rua principal, do lado direito, tal como o edifício dos correios. Também não consigo localizar aqui o restaurante A Transmontana].




Foto nº 5 - F > Do lado esquerdo, a igreja de Bafatá e a casa das libanesas. A diocese católica de Bafatá (, abrangendo a s regiões de Bafatá, Gabú, Quinara,Tombali e Bolama) só foi criada em 2001. Ao alto da rua, do lado direito, era o hospital de Bafatá, dirigido por missionários italianos. [ Do lado esquerdo, não longe da igreja, ficava  - se não erro - a mesquita, que não aparece na foto nº 5].


  
Foto nº 2 > A mesquita de Bafatá (1)


Foto nº 2 - A > A mesquita de Bafatá (2)


Foto nº 5 - F >  As traseiras do Mercado de Bafatá... Vê-se a sua fachada, de arquitetura revivalista, de inspiração árabe.




Foto nº 5- G > Vista parcial da cidade... Bafatá passou a concelho, pela reforma político-administartiva de 1963 (Decreto nº 45.372, de 22 de Novembro de 1963, que entrou em vigor em 1 de janeiro de 1964). Com o novo estatuto foram criado os seguintes concelhos, tendo a xâmara municipal como corpo administrativo: Bissau, Bissorã, Bolama, Bafatá, Catió, Gabu  Mansoa, Farim e Cacheu. E ainda as seguintes circunscrições: Bijagós, Fulacunda e S. Domingos.

Bafatá  foi elevada a cidade em março de 1970. No nosso tempo, meu e do Humberto Reis (CCAÇ 12, 1969/71), a cidade destacava-se pela beleza dos seus edifícios (incluindo os seus estabelecimentos comerciais) e a limpeza das ruas. Os lancis eram pintados a branco.

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]



Guiné > Zona leste > Bafatá > Bafatá, a rua principal, vista de norte,  com o Rio Geba ao fundo... Do lado direito, pintada a azul, a famosa casa das libanesas (restaurante e pensão). Foto do ex-alf mil op esp António Barbosa (2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74).

Segundo a reconstituição feita pelo Humberto Reis, esta era "a rua principal (alcatroada, como todas as demais) da doce e tranquila Bafatá, com as suas casas de arquitectura tipicamente colonial. Ao fundo era o mercado e cortava-se à esquerda, para a piscina. Na primeira à direita, ficava o Restaurante A Transmontana. Do lado esquerdo, no início da foto, ficava a casa do Administrador e edifício da Administração civil  bem como os CTT e as Finanças. A meio, a rua era cortada pela estrada que ligava a Geba".

Fotos: © António Barbosa (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona leste > Bafatá > Estátua de Oliveira Muzanty... Foto do o José Luís Tavares, do Esq Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71), sentado à direita... Foto gentilmenmte cedida pelo Manuel Mata, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora. Ao fundo, o edifício da Casa Gouveia.

Foto: © José Luís Tavares / Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados.


1. Esta é uma das sete vistas áreas de Bafatá, tiradas pela máquina fotográfica do Humberto Reis, o meu amigo, vizinho e camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). O Reis tinha vários amigos na FAP e, de vez em quando, apanhava uma boleia de helicóptero ou de DO 27. Estas fotos foram tiradas de heli. E tem uma excelente resolução (mais de 2 MG), o que permitiu o seu recorte em várias imagens parciais.

Peço aos grã-tabanqueiros que viveram em Bafatá, como o Fernando Gouveia,  antigo alf mil em Bafatá, no Comando de Agrupamento nº 2957 (1968/70), autor do livro "Na Kontra Ka Kontra" , e arquiteto de profissão, para as comentar e completar a legendagem. São imagens notáveis, e únicas, que nos ajudam a matar saudades da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba. (LG).
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11239: Memória dos lugares (225): Olossato, anos 60, no princípio era assim (8) (José Augusto Ribeiro)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8509: Em busca de ... (167): Guião do Comando de Agrupamento nº 2957 (Bafatá, 1968/70), cujo paradeiro se ignora (António Azevedo Rodrigues)


Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70) > Guião. O Comando de Agrupamento 2957 esteve  em Bafatá, Zona lestem  no período de Novembro de 1968 a Setembro de 1970. Os seus elementos metropolitanos sáiram  do ex- RAL 1 e embarcaram  no T/T Uíge, em 9 de Novembro de 1968. O comandante do Cmd Agrup 2957 era o então Cor Hélio Felgas, mais tarde substituído pelo Cor Neves Cardoso.


1. Mensagem de António Azevedo Rodrigues (que está connosco desde Junho de 2008):

Data: 15 de Junho de 2011 20:02

Assunto: À Procura do Guião do Cmd Agrup 2957 (Bafatá-Guiné)


Olá, camarigos, o meu obrigado, pelas felicitações do meu 64º aniversário... Agora entrando no assunto principal que me traz hoje cá, é o seguinte: depois de andar por todo o lado na procura incessante do meus camaradas do Cmd Agrup 2957 de que o Fernando Gouveia também fez parte, bem como mais 50 elementos; depois de, posso dizer,  3-4 anos de intenso trabalho, pois ninguém tinha moradas de ninguém nem nunca em 41anos nuinguém contatou ninguém; depois, enfim, de eu meter anúncio na RTP e jornais; depois de tudo isso, o que primeiro me aparece é o Belmiro, de Penafiel.

Mas é só um primeiro contato e nada sabe, vou então para o Ministério da Defesa, para o Exército,  e nada. Com o que aprendi neste blogue, que muito me ajudou, e depois duma primeira tentativa,  lá consegui chegar aos primeiros [camaradas], e depois aos muitos e agora a todos. Isto é, todos menos um, pois de todo o pessoal do Agrupamento resta-me esperar para encontrar o último a tempo de ainda ir ao convívio total dos ainda resistentes e que se realiza [, ou melhor, já se realizou...], no próximo fim de semana, em Lisboa (Búfalo Grill).

Como disse,  falta encontrar um, sim um, é o que falta de pessoas. Então pelo meio fui procurando saber como encontrar o Guião/Estandarte, que foi a nossa Bandeira de apresentaçao, e pelas fotos anteriormente ja publicadas em que eu julgo ser o único a ter tirado uma foto com o mesmo na Guiné, eis que à procura do mesmo já lá vai mais de um ano, de procura em procura, de mail em mail, de telefone em telefone, sempre na eperança de que um dia há-de aparecer o tal Guiã/estandarte.

Quando estava à espera de saber do último cabo, do último a responder à chamada,  então voltei a pegar no telefone e chatear na procura,  de quartel em quartel, a tentar saber onde pára o guião.

Agora sim, o tal mail tão esperado chega com a pior noticia: mais um amigo que caiu para sempre, mais um desaparecido, como pode ser observado, mesmo sem Certidão de Óbito;  eis que chega a sentença de  que me abstenho de fazer mais considerações. Agradeço que publiquem o oficio enviado por mail com as palavras aí reproduzidas...

Em suma, não existe rasto do guião, simplesmente "desconhece-se o paradeiro do Guião do cmd agup 2957"... Foi abatido.  não se sabe como. É menos um comando deste agrupamento que não se sabe se caiu de morto,  fulminado por qualquer ataque cardíaco... 

Termino lamentando o desaparecimento de mais um elemento deste Cmd Agrup 2957... Paz à sua alama, que repouse na sua eterna morada, desconhecida. Lamentamos o sucedido e eu, pessoalmente,  apresento condulâncias à familia desgostosa do Cmd Agrup 2957...

António Azevedo Rodrigues
Contactos:
Telefones: 252 938 133 - 915 225 337 - 926 641 776 - 934 432 545

E-mail: rodrigues60@gmail.com






Fotos: © António Azevedo Rodrigues (2011). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de Junho de 2011> Guiné 63/74 - P8470: Em Busca de... (166): Precisa-se de depoimentos para fazer a História da Pensão Central da Dona Berta (Hélder Sousa / José Ceitil)