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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16486: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte XI: A jangada de João Landim, no Rio Mansoa...



Foto nº 51A


Foto nº 51B

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Foto nº 51 > Junho de 1973 > O rio Mansoa em João Landim e a  jangada que fazia a sua travessia. Primeiro entravam as viaturas, depois as pessoas. Bissau ficava a cerca de quinze quilómetros e  para a "peluda",  o fim da comissão, faltavam, ainda quatro longos meses. A Helena regressaria mais cedo a casa,  o Francisco só chegará a Lisboa a 11/10/1973, no T/T Niassa, com os seus rapazes do Pel Rec Daimler 3089.


Foto nº 52 >  Rio Mansoa, João Landim > Junho de 1973 > Veículo da segurança ao local, pertencente à CCAV 3420 (Bula, 1971/73, que era comandada pelo cap cav Salgueiro Maia.


Guiné > Região do Cacheu > Junho de 1973  > A famosa jangada de João Landim que "de há séculos" atravessava o Rio Mansoa, levando durante a guerra colonial milhares de homens, armas e  viaturas, da "ilha de Bissau"  para o o centro, para o norte e para o nordeste,  para a região do Cacheu e para região do Oio, e vice-versa,,, Era um ponto estratégico, razão por que havia lá um  destacamento das NT.

Finalmente, e já nos finais do séc. XX e princípios do séc. XXI, foi construída uma ponte, com financiamento e tecnologia da União Europeia...  Tendo arrancado em 1998, só  foi inaugurada em 2003 devido às vicissitudes da guerra civil de 1998/99. Com  780 metros de comprimento, era então o maior empreendimento realizado na Guiné-Bissau. (LG).

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).

Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação,  reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €).

Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal :
franciscogamelas@sapo.pt.

O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


A jangada do Mansoa

por Francisco Gamelas

De repente, o rio.
Largo.
A jangada,
já atracada,
a nossa espera. Amargo
o teu sorriso. Também sorrio.
Escoltaram-nos até aqui
as panhards do Salgueiro Maia, 
ali de Bula.
Estranha, a chula
que se ensaia
no balanço da jangada em frenesi.
Do outro lado,
quase Bissau.
Já não é precisa a escolta.
O meu amor vai e já não volta,
o que não é mau.
Fico, assim, mais sossegado.
Leva no ventre
o nosso primeiro fruto
a crescer.
Vai-nos doer,
mas não é caso de luto.
Entre 
o agora e o meu regresso
apenas quatro meses
de suplício,
que mais parece um vício,
às vezes
que lhe tento fugir, sem sucesso.

João Landim,
local de passagem 
sobre as águas do Mansoa,
Não é à toa
que as pessoas em viagem
vacilem até ao fim.
Jangada velha, gingona.
corrente forte,
dependente do tempo e da maré.
Mas a vida é como é.
Para tudo é preciso sorte,
até a jangada se manter à tona.

Maio de 2015

In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné, 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, pp. 120-121 (Com a devida vénia...)




Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Bula (1953) >  Escala 1/50 mil >  Pormenor: Rio Mansoa e passagem em João Landim (**)

14 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10667: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (2): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

12 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10656: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (1): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

7 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)

12 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9032: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (45): Destacamentos - Pedaços

12 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4674: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (16): O alvoroço dos (re)encontros: obrigado, malta da CCAÇ 2790 (António Matos)

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12526: Fichas de unidade (9): Companhia de Caçadores N.º 2724 (Guiné, 1970/1972)





1. Em mensagem do dia 17 de Dezembro de 2013, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a pedido do nosso editor Luís Graça, enviou-nos a Ficha da CCAÇ 2724.




COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2724

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria nº 15, de Tomar e, sob o comando do Capitão de Infantaria José Pinto Correia de Azevedo, adoptou como Divisa Non Nobis

Embarca em 04 de Abril de 1970, desembarcando em Bissau em 11 de Abril de 1970.


Síntese da Actividade Operacional:

Realizam o treino de aperfeiçoamento operacional, entre 16 e 22 de Abril de 1970, em sobreposição com a Companhia de Caçadores n.º 2401. Após o treino de aperfeiçoamento, assume a responsabilidade do Sector de Buruntuma, com um grupo de combate instalado em Camajabá. Fica integrado no dispositivo do Batalhão de Artilharia n.º 2857 e, mais tarde, do Batalhão de Cavalaria n.º 2922.

É durante este período que, ARNALDO ANTÓNIO MORAIS, Soldado Condutor Auto Rodas NM 10105369, casado com Maria Ernestina Alves Morais, filho de João António Morais e Cremilde da Conceição Cepeda, natural de Nuzedo de Cima, freguesia de Tuízelo e concelho de Vinhais, tombou vítima de ferimentos em combate num ataque inimigo ao aquartelamento de Buruntuma, em 5 de Setembro de 1970, sendo inumado no Cemitério Paroquial de Salgueiros e Tuízelo.

É rendida, em 17 de Fevereiro de 1971 em Buruntuma, pela Companhia de Cavalaria n.º 1747, sendo transferida para Nova Lamego, para dar protecção aos trabalhos da asfaltagem da estrada que ligava esta localidade a Piche.

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores n.º 2724 
© Foto da colecção de Carlos Coutinho

Porém, a 24 de Fevereiro de 1971, inicia a deslocação para Bissau, tendo os grupos de combate ficado adidos à Companhia de Caçadores n.º 2571, até à chegada de todos os efectivos, que se verificou a 12 de Março de 1971.

A Unidade é integrada no Comando de Bissau e, em 13 de Março de 1971 assume a responsabilidade do subsector de Brá, substituindo a Companhia de Caçadores n.º 3327. Destacou forças para Safim e João Landim.

De 24 de Março a 6 de Abril de 1971, destacou um pelotão para reforço da guarnição de Nhacra, e de 14 de Abril a 7 de Junho, destacou dois pelotões para os reordenamentos de Jugudul Com e Changue Bedeta.

É substituído em Brá pela Companhia de Caçadores n.º 2658, seguindo para Quinhamel, para render a Companhia de Caçadores n.º 2617, onde assume a responsabilidade do subsector, com destacamentos em Ponta Vicente da Mata e Ondame.

A 23 de Fevereiro de 1972 é rendida em Quinhamel pela Companhia de Caçadores n.º 2796, recolhendo a Bissau. Iniciou a viagem de regresso a 13 de Março de 1972

(História da Unidade - Caixa nº 85 – 2.ª Div/4.ª Secção, do AHM)


Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724 
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹


(1) - Fotos de José Casimiro de Carvalho publicadas no P6708 de 10 de Julho de 2010 que teve o seguinte comentário:

Galileu disse...
Camarada José Carvalho
Fiquei bastante satisfeito em ver que o emblema da CCac. N.º 2724 que ficou em Buruntuma, ainda se encontra em perfeitas condições, embora já não esteja no mesmo lugar em que o deixámos. O molde do emblema foi feito por mim, e construído por um camarada do meu abrigo.
Aproveito esta oportunidade para cumprimentar a população de Buruntuma e agradecer a boa forma como sempre me trataram.
Obrigado e felicidades para todos.
O ex-furriel Acácio Lobo
acacio.lobo@sapo.pt
Sábado, Janeiro 15, 2011 11:34:00 PM

18 de Dezembro de 2013
José Marcelino Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2010 > Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10667: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (2): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)



1. Segundo de uma série de 4 postes com fotografias enviadas pelo nosso camarada e tertuliano Fernando Súcio (foto à esquerda), ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74, fotos estas pertencentes ao seu conterrâneo, o outro nosso camarada Leonel Olhero (foto à direita), ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard), Bula, 1971/73.



João Landim > 1973 > Jangada militar no Rio Mansoa

 Bula > Fortim dos Fulas, estrada de Binar e S. Vicente

 João Landin > À espera da jangada para atravessar o Rio Mansoa

 HM 241 de Bissau, 1973 > Fernando Súcio

Jangada militar atravessa o Rio Mansoa

Bula, 21 de Julho de 1973 > Dia da Cavalaria

Jangada militar

Bula > Tabanca atingida por um míssiel no dia 5 de Maio de 1973

Bula > Ronco Balanta

Bula > Sala de Operações

João Landim > Fernando Súcio e Leonel Olhero

Fotos: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por CV]
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 12 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10656: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (1): Bula (Fernando Súcio)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10656: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (1): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

 

1. Damos início uma série de 4 postes com fotografias enviadas pelo nosso camarada e tertuliano Fernando Súcio (foto à esquerda), ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74, fotos estas pertencentes ao seu conterrâneo, o outro nosso camarada Leonel Olhero (foto à direita), ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard), 1971/73, ambos contemporâneos naquele aquartelamento.




Bula > BCAÇ 8320 (1972/74) > Casa dos geradores > O Fur Mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil

Bula > Fortim da pista > Pelotão de Morteiros

Estrada de Bissorã

Rio Mansoa > Jangada civil

João Landim > Três transmontanos: Fernando Súcio, Leonel Olhero e Cipriano.

Rio Mansoa > Jangada civil

Bula

Bula > Leonel Olhero junto a um obus 14

Bula > Fonte

Bula > Esquadrão de Panhard

Fotos: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por CV]

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ   > Um enfermeiro "rigoroso e... despachado"...



1. Continuação do texto publicado anteontem, da autoria do Armando Pires (ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70) (*) [, foto atual à direita,]:

Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café.

 Fui de seguida. Em Bula, a enfermaria ficava muito próximo da porta de armas. O bar de sargentos era lá mais para os fundos do aquartelamento. Quando cheguei lá acima, os olhos muito brancos e muito abertos da mulher mandinga, agitavam-se numa correria, ora na minha direcção, ora na do filho que apertava contra o peito. Estendi-lhe os braços pedindo-lhe que me o entregasse. Aquele corpo quase inerte ardia em febre.
– Teixeirinha, vai lá abaixo chamar o doutor e tu, João, arranja-me aí alguém que me ponha a falar com a mulher.

Não lhe conseguimos arrancar uma palavra. Só olhava para o filho, em desesperado silêncio. Chegou o doutor, o alferes miliciano Chaves Ferreira.
– Ó doutor, ela não disse nada mas aqui o Braima, que a conhece, diz que o rapaz tem aí uns cinco ou seis anos e que já deve estar com uma carrada de paludismo há vários dias. Devem ter-lhe feito as mezinhas todas, mas como não resultou trouxe-o aqui.

O doutor Chaves Ferreira era um homem alto que falava em voz baixa.
– O puto está bera, pá – disse-me ele depois de o ter examinado.
– E o que lhe fazemos ? – perguntei-lhe.
– Para já temos que lhe baixar a febre e metê-lo a soro. Depois deitamo-nos a inventar porque para tratar pneumonias é que nós não temos aqui nada. E para um puto desta idade, ainda menos.

Uma pneumonia. Bonito sarilho. Aquele peito franzino nem parecia respirar. Antipirético LM (laboratório militar) partido aos quartos e diluído em água, com uma seringa metido na boca aos poucos e devagar, e a agulha mais fina do tacho de esterilização, capaz de pegar a veia onde entrasse o soro.

E agora?
– Ó doutor – disse-lhe eu – devíamos levar o miúdo para Bissau.
– Pois devíamos – concordou ele – mas a esta hora como é que o levas, a nado?

Entre Bula e Bissau interpunha-se, como sabemos, o rio Mansoa.
– Se o doutor der uma palavrinha ao nosso Comandante, talvez ele concorde em pedir uma evacuação.
Vou lá a baixo falar com ele e tu põe-te de olho no rapaz e vê se lhe baixas a febre.
– Se não baixar com o LM, o que faço?
– Lava-o com água fria.

O Chaves Ferreira saiu e eu pedi ao João, outro dos meus maqueiros, que fosse ao bar buscar um balde com gelo. Enchi de água a tina esmaltada que na enfermaria servia para lavar as mãos e lá dentro meti o gelo que o João trouxera. Na água fria ensopámos um lençol e com ele lavámos o corpo do miúdo.

Quando o doutor regressou foi para me dizer que estavam a tentar a evacuação. Ficámos ali, com o doutor a conjecturar no que mais podia fazer, quando o Machado, o meu cabo-enfermeiro, quase gritou:
– Ó doutor, o miúdo apagou-se.

Saltámos que nem molas. Aquele peito frágil desapareceu no interior das mãos do doutor, que o pressionou, e uma, e duas, e três, “já o tenho”, disse ele, ao mesmo tempo que o miúdo parecia bolsar, “é especturação, vê lá se a tiras que o está a impedir de respirar”, pediu-me enquanto lhe comprimia o peito, como se de dentro dele quisesse expulsar o mal. Tentei um estilete de punção com compressa na ponta, mas o resultado foi fraco. Lembrei-me, então, de ir buscar um tubo de plástico, daqueles para administrar soro, abri-lhe uma ponta a sugerir maior espaço de sucção, na outra ponta do tubo introduzi aquelas borrachas que serviam para lavar os ouvidos, e fui aspirando, aspirando, enquanto o doutor, com o rapaz deitado de lado, ajudava com secas palmadas nas costas.

E disse então o médico:
– Calma, pá, deixa lá agora o gajo descansar.

Foram momentos de grande aflição. Apareceu o [João] Vinagre, alferes miliciano de informações, da CCS [, BCAÇ 2861], para nos dizer que havia a possibilidade de evacuar o miúdo na DO que de manhã iria distribuir o correio pelo sector.
– Ó alferes, mas isso só lá para o meio dia é que o puto vai para Bissau.
– É o mais certo  – retorquiu-me ele.
– E, entretanto, apaga-se-lhe o maçarico.
– O que é que queres que eu faça?
– Se o meu alferes pedisse uma secção à [CCAÇ] 2466 e ao capitão Monge [, do EREC 2454
que disponibiliza-se uma Panhard, a gente logo às seis horas levava o miúdo para Bissau.
– Ó doutor – disse o Vinagre para o Chaves Ferreira – aqui para o seu enfermeiro é tudo facilidades.
– É, pá – foi a vez do doutor falar ao Vinagre  – mas olha que a ideia do gajo não está mal vista.
– Pois, talvez, mas falta convencer o homem da jangada a vir buscá-los a João Landim.
– Aí, falo eu outra vez com o Comandante.


Saíram os dois e eu também. Fui à procura da malta da 66 [, CCAÇ 2466,] e o primeiro a encontrar foi o Furriel Gomes.
–  Ó Gomes, preciso de ti, pá.

Expliquei-lhe o que se estava a preparar e ele respondeu-me que, desde que o capitão autorizasse, com a equipa dele podia contar. Fui ao comando, lancei ao Vinagre  o polegar virado para cima, “secção já temos”, correspondendo-me ele com a informação de que Panhard também. Estava o Comandante a tratar de resolver o problema da jangada.

Reunimo-nos, de novo, na enfermaria. A febre do rapaz baixara, enfim. A barriga parecia menos apressada na sua tarefa de ajudar os pulmões a trabalhar. Sentada na mesma cadeira onde eu a mandei sentar quando chegou, estava a mulher mandinga, a mãe do rapaz. Aquele rosto era só angústia. Chamei o Braima, que cuidava das limpezas e arrumações da enfermaria, pedi-lhe para dar água à mulher e me traduzir. Disse-lhe o que o filho tinha, o que fizemos e o que íamos fazer. Só ela não disse nada. Ela só queria o filho, de novo, encostado ao peito e a respirar com ela.

Adicionar legenda
Veio o alferes Vinagre para nos dizer que a jangada estava garantida. Era só chegar a João Landim [, foto à esquerda], enviar o sinal e ela vinha logo buscar-nos. Até lá, foi continuar a lavar o rapaz com a água fresca, mais um quarto de LM, o doutor Chaves Ferreira a dar-lhe umas palmadas nas costas e eu, com o meu improvisado instrumento, a tirar-lhe a especturação possível da garganta.

Às seis da manhã, eu, o soldado maqueiro Teixeira, e a mãe do rapaz, entrámos com ele para a ambulância. Com a Panhard à nossa frente e a secção do Gomes atrás, fizemo-nos ao caminho, em direcção a João Landim. Mal lá chegados ouvimos o roncar do motor da jangada a iniciar a travessia do Mansoa. Logo que acostou, subiu apenas a ambulância porque do lado de lá era só andar depressa.

Entreguei o jovem mandinga no Hospital Civil de Bissau, talvez não fossem ainda oito horas da manhã.

Muitos dias passados, o Machado, com um sorriso de orelha a orelha, veio ter comigo e disse-me:
– Furriel, sabe quem é que está ali à porta para falar consigo? A mãe do miúdo que a gente levou para Bissau.

Lá estava ela, à porta da enfermaria, com o filho pela mão. Tirou o safeu que o rapaz trazia cruzado no peito e entregou-mo.
– Para furriel ter sorte.

Foi a primeira vez que a ouvi falar e, julgo, foi a primeira vez que lhe vi uma lágrima nos olhos.

Dou comigo a pensar como foi possível, com todos estes acontecimentos, nem o nome da mãe, nem o nome do filho, terem ficado registados na memória. Presente na memória dos meus dias, ficou apenas o safeu. Quando abro a minha caixa dos segredos e o vejo lá dentro, gosto de lhe sorrir.


De ontem e para sempre, o meu safeu

Texto, fotos (e legendas): © Armando Pires (2012). Todos os direitos reservados.

[Com este relato,  quero homenagear o Doutor Chaves Ferreira e o Engenheiro Agrónomo João Vinagre, meus amigos na Guiné e meus amigos na vida que a eles faltou tão cedo e de forma tão trágica.]

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Nota do editor:

(*) Último poste da sério > 5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)

sábado, 12 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9032: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (45): Destacamentos - Pedaços

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 10 de Novembro de 2011 com mais uma viagem à volta das suas memórias:

Olá Vinhal
Saúde e força para nos aturar?
Apostado que sim, cá te mando uns pedaços de lembrança que , já o sabes usarás se assim o achares.
Um grande abraço para ti e um outro para todos "atabancados"
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (45)

Destacamentos - Pedaços

Os dias nos destacamentos continuavam a passar com a sua morosidade, sem quaisquer problemas em especial e talvez por isso mesmo com poucos registos de memória, para além de um ou outro, isolados e até desenquadrados eventualmente no tempo.

Destacamento de João Landim – visto da estrada

De Mato Dingal, parece-me, recordo uns tiraços em noite escura, reacção de sentinelas devidamente acordados no seu posto de vigília, zelando pela segurança e bem estar dos companheiros adormecidos que se levantam em sobressalto e desembestam, estou em crer, para os locais de defesa para, sem mais tiros repelir o ataque aventureiro e traiçoeiro perpetrado por “turras” que tiveram a desfaçatez e ousadia de importunar a nossa paz e sossego - que tínhamos merecido, - e que afinal não eram senão… uma vaca, creio.

Ainda em Mato Dingal, creio, recordo uma cerimónia fúnebre a que assisti, não sei se convidado se de moto próprio. Foi algo que nunca tinha presenciado e não mais presenciei. Talvez fosse de Homem Grande, talvez Balanta, não lembro. Ao que me parece, foi enterrado embrulhado em pano (creio branco) tipo múmia, numa espécie de poço feito para o efeito na proximidade da morança (?) onde foi depositado na vertical. Na lateral do poço havia uma reentrância onde fora depositados objectos talvez de uso pessoal (?). Foi o que retive para além da ideia de ter havido alta e prolongada festa e de nos terem ofertado carnes.

Como estas recordações me são um bocado ”embrulhadas”, alguém que se queira pronunciar em esclarecimento, agradeço a atenção.

Também aconteceu lá em Mato Dingal, descobrir que o belíssimo forno não servia só para assar os leitões e outros… bem, o Jorge Fontinha que conte.

Os dias foram passando, os primeiros de Fevereiro vieram e com eles as férias e a ida ao “Puto”, desta vez e infelizmente sem patrocinador.

Da canícula guineense ao frio gelado e chuvoso da belíssima paisagem nortenha e ao calor de família, amores, amizades humana e canídeo, foi uma questão de horas e mais algumas para arrumar para um canto um pedaço de vida passada, embrulhado e resguardado o melhor possível.

Em contraposição agora os dias já de si curtos, passavam no “goss goss”como se a guerra tivesse urgência na minha presença! Os dias voaram.

Por aquela terra nortenha devem ter ficado as minhas pegadas na caça à passarada, acompanhadas pelas do “Pilim”, canídeo perdigueiro pintado de dálmata, que adorava abafar qualquer ave esvoaçante, mesmo doméstica galinha, pato, ou fraca, que se passeasse pelo terreiro, abocanhando-lhes a cabeça sem as ferir e indo-as depositar estendidas e inertes à porta de casa, para arrelia de minha Mãe – para quem essas aves eram uma delícia para o olhar – e gáudio de meu Pai que o afagava, como incentivo à persecução da eliminação de predadores de sementeiras, a par das arrozadas e assados que proporcionava! O meigo animal saltava de alegria.

Depressa chegou dia das saudades na certa e entre outras, talvez da lareira em óptima companhia e ao toque de um verdasco parceiro de um chouriço ou presunto e ao som de chuva possivelmente entremeada de farrapos brancos, esparramando-se nas vidraças quadriculadas de pequeno.

A par foi a hora em que houve que retirar o embrulho do canto em que estava arrumado, colocando de novo esse pedaço de vida resguardado, estendido e bem à vista de modo a que não esquecesse as lições nele apreendidas e que podiam contribuir para o aumentar, até ao despontar de um novo ciclo que sonhava e que julgava estar a breves meses de alcançar. Estava de novo em Augusto Barros.

Destacamento de João Landim

Por lá passei uma temporada, interrompida por uma estada substitutiva em João Landim, destacamento como Mato Dingal à face da estrada mas na proximidade do Mansoa. De recordação fiquei com a do João, elemento do 1.º GCOMB.

Este homem – sim à altura já todos tínhamos sido forçados a ser homens, feitos e marcados, bem marcados – simples e valente mas não sendo nenhum Einstein, havia ganho e merecido o direito de regressar a casa, esperavamos em Junho, o que ao que lembro não aconteceria se não fizesse creio que a 4.ª classe, talvez mais propriamente “saber ler e escrever”.

Ora o João, ao que me parece recordar, pouco ou nada sabia de escrever ou ler, pelo que fui nomeado seu “professor”. Em tão pouco tempo iria ser um trabalho dificil e paciente para ambos, impossível talvez.

O trabalho começou e diáriamente, com maiores ou menores esmorecimentos foi prosseguindo com o objectivo minimo de conseguir conhecer as letras, juntar algumas e lê-las, escrever o seu nome e pouco mais. O resto havia de se conseguir de qualquer jeito.

As “aulas”, dadas no espaço afundado parece-me à altura das camas e coberto da camarata, foram-se somando a par de pouca evolução académica. A motivação primeira era a “peluda” mas por vezes o combate ao desânimo do “aluno” era ineficaz, transformando-se a aula numa perda de tempo e paciência.

Um dia, estou a descer os três ou quatro degraus para dar mais uma aula e… o João aponta-me a G3 ameaçando que disparava se não me for embora !? Recordo ficar estáctico, receoso e sereno e falar… a tensão é muita… a arma baixa e fico-lhe com ela… chora, desânimo e nervos à flor da pele… destroçado pensa que está tudo perdido… não há queixas nem punições… o João alcança a “peluda”!

Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8819: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (44): Destacamento de Mato Dingal, umas instalações seguras

domingo, 12 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4674: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (16): O alvoroço dos (re)encontros: obrigado, malta da CCAÇ 2790 (António Matos)

Guiné >Bula > CCAÇ 2790 > A entrada no destacamento da Ponta Augusto Barros, com o Alf Mil Matos à frente...

Guiné >Bula > CCAÇ 2790 > A equipa de futebol... De pé, do lado direito, de camuflado, o Cap Inf Sucena (ou será o Gertrudes da Silva ?)
Guiné > Região do Cacheu > Rio Mansoa: a jangada que fazia a travessia do rio, em João Landim, carregando o pessoal da CCAÇ 2790. (Teve como unidade mobilizadora o BII 18, partiu para a Guiné em 24/9/1970 e regressou a 30/9/1972. Esteve em Ponta Augusto Barros e em Bula. Comandantes foram dois: Cap Inf José Pedro de Sucena, e Cap Inf Diamantino Gertrudes da Silva.

Fotos: © José Câmara (2009). Direitos reservados

1. Mensagem de António Matos (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72:

Caros editores, aqui vai um texto [, para publicação como poste, logo que possível]... Em anexo mando algumas fotos que me foram cedidas pelo José Câmara, lá dos States, que me fizeram muito bem pelas recordações fabulosas que me permitiram (**).

Um abraço
António Matos


2. O mundo é pequeno e o nosso blogue ... é grande (***) > Obrigado, José Câmara!por António Matos

Caramba, como bate o coração !!!!

Caramba, eu que fui um especialista comercial da grande IBM Portugal, [colega do Raul Albino,] vejo-me agora a vibrar a um ritmo cardíaco mais acelerado do que o meu normal pelas maravilhas informáticas postas ao meu dispor !!!!

Caramba, que laços estes que se formaram na guerra e que agora, quase 40 anos depois, me põem de lágrima ao canto do olho, com um entusiasmo danado por alguém ter descoberto uma ligação aos homens que comigo conviveram naqueles 2 anos de inferno mas que a vida os transpôs para terras do tio Sam, para lá do Atlântico, e de quem nunca mais tive a mínima ideia de os voltar a encontrar...

Esta é uma primeira tentativa conseguida (se bem que ainda só em fotografia ) mas talvez o futuro nos venha a possibilitar, ainda, aquele abraço !

Caramba, José Câmara, como te estou agradecido !!!!

Caramba, José Câmara, que fantástico rever o Moniz, o Benevides, o capitão Sucena, o padre Antero, o Rocha, o Ferreira, o furriel Carabina, o furriel Cardoso, o Cordeiro, o Simas, o Aprígio, o capitão Gertrudes da Silva, o Carvalho Araújo em Ponta Delgada, a LDM e tantos outros camaradas que, relembrando-me deles, não recordo os nomes...

Como te posso agradecer, meu caro ?

Não sei por onde começar a desembrulhar o enigma desta parte da minha vida mas sei que não vou largar as pontas agora expostas.

Vou continuar a precisar de ti desse lado do mar para me pores em contacto com essa malta que foram para mim como irmãos, como filhos, como companheiros de luta, como parceiros de momentos de angústia, de medo, de dor, de solidariedade desmedida, enfim.

Melhor do que ninguém saberás dar andamento ao que já deslindaste mas agora põe essa gente a falar comigo , por favor!

Os números de telefone que já me disponibilizaste (José Bairos e José João) não me têm dado qualquer resposta e não sei dar andamento ao assunto.

Conto contigo e com eles!

Faz boas férias e se passares cá pelo Continente, telefona ! Estou no 919777978 !

Um grande abraço do
António Matos
___________

(*) Vd. postes de:

1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

Vd. também postes de:

7 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos

26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos):

(**) José da Câmara, natural das Lajes das Flores, Açores, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73.

Vd. postes de:

15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)

25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4577: O mundo é pequeno e o nosso Blogue... é grande (13): Encontro de dois atabancados em terras da América (José da Câmara)

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4424: (Ex)citações (30): O meu pai só aprendeu as letras que o trabalho lhe ensinou (José da Câmara)

Vd. série Memórias e histórias minhas (José da Câmara):

16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4353: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (1): O início do Serviço Militar

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4421: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (2): O IAO em Santa Margarida

8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4480: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (3): Partida para a Guiné

(***) Vd. útimo poste da série>

12 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4673: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (15): Ingoré e Gandembel na feira de Custóias, Matosinhos (José Teixeira)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3959: Nuvens negras sobre Bissau (2): Notícias da malta (Vasco da Gama)

1. Vasco da Gama deixou um novo comentário na sua mensagem Guiné 63/74 - P3958: Nuvens negras sobre Bissau (1)

Caros Camaradas e Amigos,

Acabei neste preciso instante,12h50minutos, de telefonar ao nosso camarada Pimentel. A malta do grupo dele está toda bem e neste momento estão em João Landim. O Zé Manel, o Carvalho, o Nina e o Lobo estão para os lados de Aldeia.

Diz-me o Pimentel que está tudo bem. A rádio foi encerrada e vão sabendo notícias pela R.T.P. África.D eixei mensagem à malta que está para os lados de Aldeia.

Vasco da Gama

2. Segunda mensagem:

Acabei de falar com a Luísa. Já falou com o Zé Manuel. O grupo dele está todo bem. Estão a almoçar um cabrito.

Vasco

sábado, 13 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3616: Convívios (91): Encontro da CCaç 2790 em 20 de Dezembro. (António Matos)


Melancólica recordação

Uma deslocação a Bissau, contrariamente ao que poderia pensar-se, não estava isenta de preocupações, que se prendiam com questões de segurança.
Isto porque, embora em território em guerra declarada, havia destas incongruências traduzidas na proibição de se andar armado.
Ora, para se chegar a Bissau desarmado, seria necessário deixar a "amante" no quartel ou seja, a uns 30 kms de distância!

A viagem começava em Bula e quando a "boleia" era num Unimog 404 a coisa era agradável pois eram umas máquinas espectaculares a andar.
Quando era nos 411, meu Deus, aquilo dava pelos peitos a um macho! O incómodo e a falta de segurança perante qualquer solavanco eram terríveis. Hoje fazem-me lembrar aquelas bóias compridas ( lagartas ) que vemos nas praias, rebocadas por uma lancha e que levam 1/2 dúzia de "artistas" que vão sendo lançados borda-fora à medida que as pequenas ondas aparecem ...
A 1ª etapa era até João Landim onde se apanhava a LDM para o outro lado.
Enquanto vinha e não vinha a lancha, por ali nos ficávamos, de farda nº 2, bota engraxada mas já cheia de terra, e com a ansiedade natural de chegar à cidade. Mesmo que fosse ao hospital!
A entrada no hospital, se bem que reflectisse um ambiente próprio de guerra com helicópteros a pousar e a levantar, com enfermarias cheias de amputados, e de corredores a feder a desespero, proporcionava ao operacional uma sensação de estar fora do conflito e olhar para aqueles "inquilinos" como os azarados que não conseguiram passar incólumes à desgraça.
Acabada a consulta, havia tempo para uma saltada à cidade, à "5ª repartição" para se tomar uma verdadeira coca-cola e uma sande.
Ainda dava para lançar um olhar lânguido a um ou outro par de coxas roliças e respectivas bundas que por ali passassem...

O ambiente citadino do diz-que-disse, do boato, do stress de quem só sentia a guerra através dos rebentamentos lá ao loooonggeeeee mas que era a sua guerra e não se fazia rogado na reinvindicação do estatuto de combatente, era incómodo.
No regresso à base ( Bula ) ficava sempre mais tranquilo ao juntar-me ao meu grupo de combate.
Presunção ? Falsa modéstia ? Estupidez natural ?
Chame-se-lhe o que se quiser na certeza porém, que é a mais pura das verdades.
Gratificante, ainda que contribuísse para o aumento da carga emocional, era a notória satisfação que se estampava nas caras dos soldados como se com a nossa presença lhes déssemos um incremento de confiança.
Não me é fácil fazer elogios em causa própria mas reconheço que investi inquestionavelmente nesse pormenor (confiança) mesmo que por vezes fosse necessário fazer das tripas coração!
Por aí passou, recorrentemente, a minha formação moral, intelectual e humana.
Já em posts anteriores referi que perdi alguns homens em combate.
Não lhes referenciei os nomes por respeito aos familiares que possam ler estas linhas e não o farei por convicção.
Deixo a todos uma recordação de momentos anteriores àquele período tenebroso das nossas vidas, ainda nos Açores, com os ainda aspirantes a alferes e os cabos milicianos que completavam os quadros da CCaç 2790 (à excepção do grupo de combate comandado pelo futuro furriel Cardoso coadjuvado pelo também futuro furriel Barros Leite).


Passadas que estão estas dezenas de anos de permeio, os poucos elementos continentais que constituíam aquela companhia vão reencontrar-se no próximo dia 20 deste mês para um dos habituais jantares de confraternização e terei o cuidado de registar em foto essa "concentração" para aqui vos vir prendar com os aspectos destes jovens.
Até lá.
António Matos
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Notas de vb:
1. Último artigo do António Matos em
2. Da série Convívios último artigo publicado em