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sábado, 23 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18130: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (11): Ex-Cap Mil Jorge Picado; ex-Fur Mil TRMS Luís Fonseca; 1.º Ten RN Manuel Lema Santos; ex-Fur Mil Carlos Vieira; ex-Sold At Art Jaime Mnendes; ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves; ex-Fur Mil Cav Benito Neves e ex-Alf Mil Inf Domingos Gonçalves

MENSAGENS NATALÍCIAS


1. Mensagem natalícia do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72):

A todos os Camaradas desta GRANDE FAMÍLIA que o Cmdt em Chefe LUÍS GRAÇA resolveu um dia criar, bem como as suas respectivas Famílias, nesta época em que tanto se apregoa de ser "de PAZ e AMOR" (mas por onde anda essa Paz e esse Amor espalhado pelo mundo que não os vejo?!), quero desejar a todos um FELIZ NATAL, passado em VERDADEIRA PAZ E COM MUITO AMOR e que o NOVO ANO de 2018 vos traga MUITAS ALEGRIAS, tudo regado com MUITA SAÚDE. 

São estes os sentidos e verdadeiros desejos deste vosso octagenário Camarada Ilhavense. 
JPicado

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2. Mensagem natalícia do nosso camarada Luís Fonseca, ex-Fur Mil Trms da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73, com o seu postal natalício:





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3. Mensagem natalícia do nosso camarada Manuel Lema Santos, (1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68):

Votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo!
MLS


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4. Mensagem natalícia do nosso camarada Carlos Vieira (ex-Fur Mil do Pel Mort 4580, Bafatá, 1973/74):

Caros camaradas: 
Aqui vão os meus desejos de um Natal feliz bem como um ano novo de 2018 com muita saúde e a continuação da vossa disponibilidade para gerir e publicar as nossas recordações da passagem pele Guiné. 

Também estendo os meus desejos de boas festas a todos os seguidores da Tabanca Grande. 

Com amizade de 
Carlos Vieira 
Pel Mort 4580

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5.  Mensagem natalícia do nosso camarada Jaime Mendes (ex-Soldado At Art.ª da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69):




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6. Mensagem natalícia do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73):

Feliz Natal e Próspero Ano Novo 2018, são os desejos sinceros do sempre amigo. 

J.M.Alves


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7. Mensagem natalícia do nosso camarada Benito Neves (ex-Fur Mil da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67):

Feliz e Santo NATAL de 2017
e uma excelente entrada do ano de 2018.

Votos de Benito Neves
e Família.


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8. Mensagem natalícia do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68):

Para todos os que à sombra da grande árvore central, da Tabanca Grande, vão pausadamente conversando belas histórias, que o Menino Jesus, tão simples e meiguinho, a todos deixe no sapatinho, 
Um santo Natal.

"Natal, é renascimento
Do homem velho,
Do homem cinzento
Que envelheceu na inverdade
E renova o seu coração."
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Com um grande abraço amigo,
Domingos Gonçalves

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18129: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (10): Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM da CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18119: Blogues da nossa blogosfera (86): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II"


Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II
 
Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA–Engenho Explosivo Aquático 

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Julho de 2010)

(Final)

Resumo do acidente

Pelas 13:30 do dia 27 de Maio de 1969 na posição de latitude 11º 14’.3 N e longitude 15º 18.1’ W, quando o comboio naval RCU 09/69 navegava no rio Cobade estreito, no percurso rio Cumbijã – foz do rio Tombali com o apoio aéreo de dois aviões T6, o batelão «Guadiana» nele integrado foi atingido pela explosão de uma mina flutuante fundeada, a meio de uma passagem do rio que não teria mais de 20 metros de largura.

Muito provavelmente, a detonação terá sido accionada electricamente de terra, com resultado agravado pelo transporte de bidons de gasolina e detonadores que seguiam como carga. Houve a lamentar 5 mortos e 8 feridos com diversos graus de gravidade, todos autóctones, sendo 2 tripulantes e 11 passageiros.

 
O batelão «Guadiana» afundado pelo rebentamento de um EEA - Engenho Explosivo Aquático


A posição relativa das LDM e dos batelões no comboio, na altura em que ocorreu o avistamento do EEA

O batelão começou a alagar rapidamente e, em face desta situação, o oficial que comandava operacionalmente o comboio, 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite ordenou o imediato reboque, por uma das LDM, para um local mais afastado da área forte do inimigo – a ilha de Como – onde a embarcação pudesse ser encalhada numa das margens.

Efectivamente o batelão «Guadiana» ainda percorreu rebocado cerca de uma milha, ficando imobilizado de proa na margem esquerda do rio Ganjola, de popa para montante e a cerca de 300 metros da confluência com o rio Como.


Análise da situação e reconhecimento local

No dia seguinte foi efectuado um heli-reconhecimento pelo Chefe do Estado-Maior do CDMG, acompanhado pelo responsável do Serviço de Assistência Oficinal (SAO), Comandante do DFE 12 e Chefe da Secção de Mergulhadores para, com base nos elementos recolhidos, se proceder a uma análise prévia da possibilidade de recuperação do batelão.

Entretanto, o Comandante-Chefe alertou as FT sediadas na margem norte do rio Cobade, para a possível utilização daqueles meios, antecipando uma tentativa de recuperação a efectuar no dia 29 de Maio. Deveriam aguardar o contacto directo do CDMG.

Era responsável por aquele sector o BArt 2865, com sede em Catió, englobando Catió, Cufar e Bedanda, tendo sido determinado à CArt 2476 (Catió) para efectuar fogo de artilharia de interdição, durante duas noites, para a área de Cachil. Simultaneamente, sobre a Ilha de Como, foram ordenados ataques com heli-canhão e bombardeamentos utilizando aviões Fiat G91, quer por haver conhecimento de numerosos alvos de interesse a atingir quer por represália.

Neste reconhecimento local, para ser apreciada a estrutura, resistência e forma de recuperação possível do batelão, deslocaram-se técnicos do SAO-Serviço de Assistência Oficinal e mergulhadores, além de outro pessoal e equipamento diverso. Participaram ainda a LFG «Cassiopeia», 2 LDM - Lanchas de Desembarque Médias e ainda um grupo de assalto do DFE 7 com 6 botes de borracha. Os trabalhos foram acompanhados de helicóptero pelo próprio Comandante do CDMG acompanhado do Sub-Chefe do Estado-Maior.


Mapa da zona do rio Cobade entre os rios Tombali (ponto TT) e proximidade do rio Cumbijã (ponto CC); assinalada a parte do Cobade estreito, próximo de Catió

O «Guadiana» tinha como principais características 17 metros de comprimento, 5.5 metros de boca e 2.2 metros de pontal. Possuía duas anteparas, a de ré que limitava os alojamentos da tripulação e a de vante que limitava o porão da amarra. Tinha duas bocas de porão, a de ré com 7.3 x 3.0 metros e a de vante com 3.2 x 2.0 metros. As balizas e a sobrequilha, em ferro, eram rebitadas ao costado.

Na continuação da vistoria efectuada pela Secção de Mergulhadores e outro pessoal técnico embarcados na LDM 105, constatou-se que o batelão estava enterrado cerca de um metro no lodo fino da margem com caimento a ré e adornado a estibordo, com balizas bastante danificadas, rebitagem desfeita e a própria sobrequilha retorcida, tudo numa extensão apreciável (cerca de 10 m). O lodo tinha invadido o fundo numa altura próxima dos 50 cm.

A impossibilidade de tornar a embarcação estanque, a estrutura fragilizada, a dificuldade na utilização de bidons que aumentassem a flutuabilidade e o intervalo de tempo entre marés disponível, deixava colocar sérias dúvidas quanto a uma tentativa de recuperação com resultados positivos.

A impossibilidade de concretizar, com os meios disponíveis, qualquer salvamento levou a que todo o pessoal e meios presentes regressassem às suas unidades de origem.


A LFG «Cassiopeia» que participou nas operações de apoio


Conclusões

No final do reconhecimento, vistoria, estudos efectuados e relatórios técnicos de todos os intervenientes concluiu o Estado-Maior haver remotas possibilidades de recuperação, questionando simultaneamente a razoabilidade de tal decisão. Assim:

– Militarmente, seria importante transformar um navio afundado numa unidade temporariamente avariada, evitando uma moralização do inimigo que incentivasse prosseguir com a utilização de minas flutuantes nos rios da Guiné, podendo vir a tornar insegura a navegação.

– Do ponto de vista de princípio, o salvamento de um navio afundado ou encalhado, deveria ser sempre encarado como meta a atingir desde que existissem consideráveis probabilidades de êxito, em função dos riscos e encargos que daí adviessem.

– Em face de informações e relatórios técnicos disponíveis, o batelão teria necessariamente reduzido valor residual e os elevados custos de reparação previstos desaconselhavam a prossecução desse objectivo.

Assim veio a suceder por determinação do Comandante-Chefe e, mais tarde, o que restava do «Guadiana» veio a ser destruído por uma equipa de mergulhadores sapadores utilizando cargas explosivas

(final)

Fontes:
Pesquisa e compilação de texto a partir do relatório do 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite, núcleo 236-A do Arquivo de Marinha; fotos do Arquivo de Marinha; imagens do autor do blogue efectuadas a partir de extractos da carta da Guiné (cortesia IICT);

mls
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 19 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18106: Blogues da nossa blogosfera (85): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I"

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18106: Blogues da nossa blogosfera (85): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I"



Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I

Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA–Engenho Explosivo Aquático (Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Julho de 2010)

Considerações gerais


O 2TEN FZE RN João António Lopes da Silva Leite do 10.º CFORN e o STEN FZ RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva do 11.º CFORN, depois de concluírem os respectivos cursos foram ambos mobilizados para a Guiné, o primeiro integrado no Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 10 (1967) e o segundo na Companhia de Fuzileiros n.º 6 (1968).

Em Maio de 1969, viriam ambos a protagonizar, um episódio marcante da complexa actividade da Marinha ao longo dos doze anos de guerra, o primeiro como comandante operacional de uma “task unit” activada na sequência da organização de um comboio logístico, integrando LDM e embarcações comerciais e, o segundo, como comandante operacional de uma outra LDM, também com batelões mas que, numa parte comum do percurso, se juntava àquela task unit.


O 2TEN FZE RN João António Lopes da Silva Leite do 10.º CFORN e o STEN RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva do 11.º CFORN


A organização e planeamento dos comboios de abastecimento logístico estavam atribuídos pelo Comando de Defesa Marítima da Guiné à Esquadrilha de Lanchas que, de acordo com as exigências operacionais, disponibilidade de meios navais e o tão criterioso como indispensável apoio da tabela de marés, procedia à escolha do período e datas em que se efectuavam os comboios - RCU.

A necessidade de manutenção de uma logística de apoio a populações e unidades militares, tornava alguns dos percursos não só frequentes mas de periodicidade obrigatória, quer para norte quer para sul daquele território, situação também decorrente do normal escoamento de produtos agrícolas essenciais à economia do território.

Entre os mais carismáticos, cabe destacar Farim, no norte, cerca de 85 milhas a montante da foz do rio Cacheu e Bedanda ou Gadamael, no sul, ambas a uma distância próxima de 20 milhas da foz nos rios Cumbijã e Cacine (rio do Porto de Gadamael) respectivamente.

As distâncias totais percorridas a partir de Bissau – normais pontos de partida e chegada destes comboios - dependiam dos percursos parciais efectuados e dos navios e embarcações presentes. Havia ainda a considerar, de acordo com as unidades navais utilizadas, rotas alternativas às barras convencionais dos rios.


A tracejado (violeta) o percurso Bissau - Bolama e, na continuação, Bolama - TT (confluência dos rios Tombali e Cobade); igualmente visível o percurso de regresso a Bolama (laranja)


Estavam nesse caso o Canal de Melo, na travessia do rio Cumbijã para o rio Cacine, a passagem do rio Tombali para o rio Cumbijã, via rio Cobade ou a ida para o Cacheu navegando pelo interior do baixo dos Macacões, este só acessível a LDM. Claro que esta possível utilização, válida igualmente para os percursos inversos, permitia encurtamentos de caminho e reduções de tempo notáveis.

Enquanto a uma LFG de escolta estava vedada a possibilidade de efectuar atalhos por causa dos 2.20 m de calado daquela unidade naval e as LFP -Lanchas de Fiscalização Pequenas, ainda que com limitações, efectuassem diversos percursos com alguns shortcuts, as LDM - Lanchas de Desembarque Médias efectuavam verdadeiros milagres no encurtamento de traçados, quase bastando haver alguma altura de água para passarem e muita, mesmo muita, experiência do "patrão".

Afinal, com a maré na enchente, um encalhe resolvia-se quase sempre por si próprio, em fundos lodosos sem cristas rochosas. Bastava arriscar primeiro e esperar depois, raciocínio obviamente limitado para as unidades com quilha.

Para comandar estes RCU eram habitualmente nomeados oficiais subalternos dos Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, dos Quadros Permanentes ou da Reserva Naval, reforçados por esquadras ou grupos de combate daquelas unidades e com o armamento adequado à missão, por forma a aumentar a segurança dos comboios, garantindo um destino seguro às guarnições, populações e bens por eles transportados.

Se algumas das embarcações ou batelões comerciais dispunham de motor, outras não tinham propulsão própria, sendo por isso rebocadas por aqueles que tivessem condições para o fazer. Navegação com velocidades diferentes, cabos de reboque partidos e avarias frequentes, era um panorama comum que gerava confusão e granel, obrigando o comandante do comboio, com as LDM disponíveis, a um enquadramento atento e disciplinado.

Esta estratégia era sobretudo importante a partir do ponto de confluência de todas as unidades, normalmente situado no início das bacias hidrográficas dos rios onde se situavam os locais a aportar. Aí se reviam os derradeiros pormenores da navegação a efectuar, procedimentos de comunicações e a abordagem de eventuais zonas de risco de ataques ou emboscadas do inimigo.


A tracejado (violeta) o percurso Bolama - ponto TT - Catió e os restantes percursos parciais, ponto CC (confluência dos rios Cobade e Cumbijã)- Bedanda - Cabedú - Cacine - Gadamael e respectivos regressos



A missão

Pela "Ordmove" 132/69 o Comando de Defesa Marítima da Guiné ordenou à LDM 302 que, a partir de 16 de Maio de 1969 pelas 16:30, sob o comando operacional do STEN FZ RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva, largasse de Bissau com o objectivo de escoltar as embarcações motor «Portugal» que rebocava o batelão «Angola» levando carga geral, o Pelotão de Morteiros 2115 e respectivas bagagens com destino a Vila Catió. A guarnição da LDM e o motor «Portugal» foram reforçados com elementos da CF 10.

O comboio (RCU) escalou Bolama no mesmo dia da largada e completou o percurso no rio Cobade no dia seguinte de manhã, entre o rio Tombali e a foz do rio Cagopere que dá acesso ao porto de Catió, esta parte do trajecto feita com apoio aéreo. Durante a permanência naquele porto foi montada segurança pelas FT (Forças Terrestres) locais. No regresso, a LDM 302 e as embarcações civis confluíram para a foz do rio Cagopere no dia 21 pelas 10:00 passando a estar integradas no RCU 9/69.


As embarcações comerciais motoras «Portugal» e «Angola»

Quase simultaneamente, pelo "Ordmove" 136/69 – RCU 9/69 o Comando de Defesa Marítima da Guiné ordenou a activação da TU 5 com a nomeação do 2TEN FZE RN João António Lopes da Silva Leite para comandar aquela task unit a partir do dia 20 de Maio de 1969, pelas 00:00. Foi constituída pelas LDM 105 e LDM 313, com o fim de escoltar as embarcações motor «Rio Tua» rebocando um batelão, motor «Vencedor», motor «Gouveia 17» rebocando os batelões «Guadiana» e «Lima» com destino a Bedanda e Cacine.

Houve ainda que transportar 12 toneladas de produtos de reabastecimento, enviados para Cufar pelo CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) na LDM 105 e ainda um veículo "GMC" do exército para Gadamael na LDM 313.


O batelão «Guadiana» que viria a ser afundado mais tarde.

Tal como previsto, a partir do dia 21, pelas 10:30, foi integrada no comboio a LDM 302 com a embarcação com motor «Portugal» rebocando o batelão «Angola», sendo este grupo (RCU) a integrar comandado pelo STEN FZ RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva.

Com início e regresso a Bissau, estavam definidos os movimentos previstos com respectivas escalas e horários de chegada/largada, tendo em atenção as marés: Bissau, Bolama, ponto TT (confluência dos rios Tombali e Cobade), foz rio Cagopere, ponto CC (confluência dos rios Cobade e Cumbijã), Impungueda, Bedanda, Impungueda, ponto CC, ponto TT, Bolama e Bissau.

No dia 23 pela manhã a LDM 313 deixou o comboio no ponto CC, rumando a Cacine e Gadamael pelo Canal de Melo, com as embarcações motor «Vencedor», motor «Gouveia 17» rebocando os batelões «Lima» e «Guadiana».


O batelão motor «Gouveia 17» que rebocava os batelões «Lima» e «Guadiana»

O movimento efectuado para o aquartelamento de Cabedú com os batelões «Lima» e «Gouveia» permitiu ganhar um dia ao movimento destas embarcações, escoltadas pela LDM 313 para Cacine.

A descarga em Cacine não foi concluída mas, a necessidade do rigoroso cumprimento do planeamento imposto pelos horários das marés, obrigava a algumas decisões incompatíveis com atrasos nas cargas e descarga dos locais aportados, por problemas de estiva alheios ao comando operacional do comboio.

A progressão para montante do rio Cumbijã a partir dos ponto CC fez-se sem problemas e as descargas em Cufar e Bedanda fizeram-se dentro dos horários e com normalidade.

Regresso, rebentamento de um EEA (Engenho Explosivo Aquático) e o ataque IN

No regresso, o percurso descendente do rio fez-se com as LDM 105 e LDM 302 com as embarcações motor “Portugal” rebocando o batelão “Angola” e motor “Rio Tua” com outro batelão.

Dia 27 pelas 11:00, juntaram-se a estas unidades, no ponto CC, as provenientes do regresso de Cacine. A LDM 313 trazia de Gadamael para Bissau uma viatura GMC e destruiu uma canoa abandonada na foz do rio Meldabom. Cerca das 13:00 do dia 27 de Maio de 1969, e com apoio duma parelha de aviões Harvard T6, iniciou-se o percurso do rio Cobade.


Os batelões motores «Rio Rua» e «Vencedor»

O comboio navegava em coluna, com as unidades navais e embarcações pela seguinte ordem na formatura: «Gouveia 17» rebocando os batelões «Lima» e «Guadiana», LDM 313, motor «Portugal» com o batelão «Angola» de braço dado, LDM 105, motor «Rio Tua» de braço dado com um batelão, LDM 302 e finalmente o motor «Vencedor».

Foi adoptada esta formatura para o motor «Gouveia 17» estabelecer a velocidade do comboio, uma vez que era a embarcação motora com menor velocidade de progressão. Pouco tempo depois, pelas 14:30, o IN (inimigo) viria a revelar-se.

Cerca de meia milha após o desembarcadouro do Cachil, foi avistado pelo pessoal da escolta, fornecida pela CF10 que se encontrava a bordo do «Gouveia 17», um fio que atravessava da margem do lado do Cachil para o meio do rio. Por analogia com casos anteriores, este pessoal mandou parar imediatamente o «Gouveia 17», o que foi tentado pelo patrão desta embarcação metendo máquinas a ré.

Como consequência desta manobra necessariamente brusca e devido ao normal seguimento por inércia, os dois batelões rebocados aproximaram-se do «Gouveia 17», tendo o primeiro reboque, o batelão «Lima», colidido com a popa do «Gouveia 17», enquanto que o outro que o seguia, o batelão «Guadiana», devido ao comprimento do cabo de reboque, ultrapassou por estibordo o «Gouveia 17», e no final do comprimento do cabo, rodopiou ficando aproado em sentido contrário ao da marcha invadindo, com a parte de ré, o local onde o fio tinha sido avistado.


Pormenor do porto interior de Bedanda

Nesse exacto momento, verificou-se uma forte explosão à popa do batelão «Guadiana». Simultaneamente, o inimigo, emboscado em ambas as margens desencadeou violento ataque com armamento ligeiro e morteiro, sem consequências pessoais.

Por sua vez, o engenho explosivo aquático que havia deflagrado à popa do batelão «Guadiana» causou 5 mortos e dez feridos, confirmados pelo sargento enfermeiro - 2Sarg H Cotovio que, seguindo na LDM 105 e após a explosão, passou imediatamente para bordo daquela embarcação. Foram rapidamente assistidos no local por aquele profissional de saúde com a colaboração de um colega - 2Sarg H Mesuras - embarcado na LDM 302. Ambos, debaixo de fogo e no meio de grande confusão por parte de passageiros civis, mantiveram a presença de espírito suficiente para desempenharem as suas funções.

Entretanto, o comandante operacional informou o apoio aéreo do sucedido e, dentro das possibilidades, solicitou cobertura mais cerrada na zona, a fim de ganhar tempo e conseguir a segurança necessária para proceder a uma busca junto ao batelão sinistrado, prevendo a eventualidade de virem a ser encontrados mais mortos ou feridos. Foi informado da impossibilidade de satisfação do pedido por um dos aviões T6.

Calado o IN por acção do fogo efectuado pelas LDM e pelo pessoal de reforço da CF 10 pertencente às escoltas das embarcações civis, reiniciou-se imediatamente a marcha, tendo sido ordenado à LDM 105 que passasse um cabo ao motor «Gouveia 17» dado continuar com os dois batelões a reboque.

Desde o momento do rebentamento junto à popa do «Guadiana» tinham passado uns escassos dez minutos e a embarcação afundava-se rapidamente. Urgia sair da zona da ocorrência e encalhá-lo em local mais seguro, o que veio a suceder próximo da foz do rio Ganjola.


Um comboio no rio Cumbijã, na foz do rio Macobum, na zona de Cafine

Pelas 14:45, quando o comboio navegava já próximo daquele local, o 2TEN FZE RN Silva Leite, por intermédio da FAP, pediu evacuação para dez feridos a partir de Catió. Entretanto contactou igualmente as FT de Catió pedindo ao aquartelamento local a presença de transporte e médico no porto exterior, a fim de prestar assistência aos feridos e recolher os mortos que seguiam a bordo da LDM 313 para aquela localidade.

Nesta altura, o comboio reiniciou a descida do rio Cobade até à confluência com rio Tombali, depois do comandante operacional ter confirmado a presença do apoio aéreo na zona, tendo atingido aquele ponto TT pelas 16:00.

De acordo com o Comando de Defesa Marítima da Guiné (CDMG), foi dada ordem à LDM 303 para permanecer em Catió até ordem em contrário, às embarcações civis para prosseguirem independentemente para Bissau e às LDM 105 e LDM 302 para seguirem para Bolama, onde ficaram a aguardar novas instruções.

Como resultado do acontecimento e das condições de mau tempo verificadas na altura, extraviou-se diverso material fixo que se fez constar nas relações de ocorrências de cada unidade.


Um avião Harvard T6 sobrevoando o rio Cumbijã, próximo de um comboio

Foram consumidas na resposta à emboscada 2200 munições de 20 mm, 2100 de 7.62 mm, 8 granadas ofensivas, 30 munições de ALG (dilagramas), 4 de LGF (lança-granadas foguete) e 10 rockets.

O comandante operacional, por intermédio de um militar do exército responsável pelo carregamento, foi informado de que a carga era composta por 17 bidons de gasolina, cerca de 2000 detonadores e caixas de whisky velho. O transporte deste material terá agravado substancialmente as consequências da explosão.

Observou-se ainda a presença de inúmeros passageiros civis sem qualquer identificação que, por serem familiares de militares ou por lhes interessar visitar as famílias fora da localidade a que pertenciam, pediam aos patrões das embarcações civis para lhes facilitarem transporte para pontos de paragem do comboio de conhecimento antecipado.

Depois da chegada àquela cidade, no dia 28 pelas 18:00, foi dissolvida a task unit, regressando o 2TEN FZE RN Silva Leite a Bissau, de avião.

(continua)

Fontes: Pesquisa e compilação de texto a partir do relatório do 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite, núcleo 236-A do Arquivo de Marinha; fotos do Arquivo de Marinha; imagens do autor do blogue efectuadas a partir de extractos da carta da Guiné (cortesia IICT);

mls
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18099: Blogues da nossa blogosfera (84): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (5): "Lágrima de Sol" e "Dentro do Meu Caderno"

domingo, 17 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18095: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I: Piche, novembro de 1967: eu, o alf mil médico Lema Santos, um homem grande de Piche e o comandante do aquartelamento local


Guiné > Região de Gabu > Piche > "Novembro de 67 em Piche junto a um monumento religioso; à esquerda um homem grande lá da terra, pertencia lá à religião cujo templo é o fundo da foto, depois temos o capitão, comandante da companhia de que não me lembro o nº, estou eu, o nosso médico Alf mil médico Lemos Santos, eu. Virgilio Teixeira, e ao meu lado direito um cabo do meu batalhão que me lembro bem dele, mas não sei o nome nem o que fazia em concreto na nossa Companhia.]

[Nessa data. novembro de 1967, devia estar em Piche, a CCAV 1662: mobilizada pelo RC 7, partiu para o CTIG em 1/2/1967 e regressou em 19/11/1968: esteve em Nova Lamego e Piche; cmdt:  cap mil art António de Sousa Pereira]

Foto: © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Teixeira [, que foi alf mil, SAM – Serviço de Administração Militar, CCS – Companhia de Comando e Serviços, Chefe do Conselho Administrativo, BAT CAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15, Tomar,  e que esteve no CTIG, em Nova Lamego e São Domingos, 1967/1969; é economista, reformado]

Data: 5/12/2017

Assunto:Fotos da Guiné 1967/69

Caro Luís Graça

Já partilhamos alguns contactos em 2013 e 2014, eu disse que voltava e agora talvez queira partilhar algumas fotos do meu álbum de cerca de 5000 fotos da Guiné - entre 67 e 69. Tenho sido incentivado, porque pessoas com quem partilho, acham que são inéditas e únicas algumas.

Não sei como isto se processa, mas eu tenho de mandá-las para este endereço e daí são selecionadas e postadas, com direitos de autor,

Vou enviar algumas, à sorte, são muito pesadas, mais de 20 MB, são imagens digitalizadas, umas de fotos e outras de slides.

Gostaria de saber do interesse disto para o blogue.

Aguardo comentários
Obrigado
Ab., Virgilio Teixeira


2. Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Virgílio:

Que bom saber notícias do camarada, ao fim de quatro 4 anos e meio...Vejo que se abrem novas perspetivas de colaboração no blogue, que é de todos nós, e está sempre de "portas e janelas" abertas... Por razões pessoais e familiares, que eu entendi e respeitei, o Virgílio não quis prosseguir , em agosto de 2013, o desenvolvimento dos contactos com os editores.

Mas, como vê, o nosso blogue continua de pé, "ativo,produtivo e saudável", com 10 milhões de visitas e 762 membros registados (a que chamamos "grã-tabanqueiros", ou sejam, membros da Tabanca Grande)...

O Virgílio não precisa de convite para "entrar"... Nem tem que "entrar"... Claro que gostaríamos de tê-lo connosco, "formalmente", tanto mais que não temos nenhum camarada do seu batalhão, o BCAÇ 1933 (!)... Temos apenas 5 (cinco!) referências ao seu batalhão...

Desse batalhão, conheço, de vista o José Aparício, que foi comandante da CCaç 1790, tragicamenmte ligada ao desastre de Che-Che, no rio Corubal, em 6/2/1969, mas nunca me contactou para participar no blogue... Também há dias, falando com o meu amigo (e ex-camarada da Reserva Naval), o engº Manuel Lema Santos, fiquei a saber que o seu irmão esteve como alferes miliciano médico no BCAÇ 1933, o Virgílio deve estar recordado dele....

A missão do nosso blogue é fundamentalmente a de partilhar memórias (e afetos...) entre antigos e camaradas de armas da Guiné....E, como a gente gosta de dizer, a nossa tabanca (, ou seja, a nossa comunidade virtual) é suficientemente grande para nela todos cabermos... com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos separa (ou pode separar)....

As memórias do Virgílio não se podem... perder!...E o seu álbum fotográfico, pela amostra que vi, é valiosíssimo!... Já descarreguei as fotos que me mandou, e vou guardá-las até receber as instruções do Virgílio... Uma das nossas 10 regras editoriais é o respeito pelos direitos de autor...Temos que encontrar uma forma de lhe atribuir os créditos fotográficos... E tem desde já essa garantia da nossa parte... No caso de não querer ser identificado pelo seu nome e apelido, podemos recorrer às iniciais V. T. ou pura e simplesmente referirmos a sua pessoa como "um camarada devidamente identificado" que nos pediu "reserva de intimidade"...

O Vírgílio dirá o que é mais confortável e conveniente para si...Continue entretanto a mandar-nos fotos, sempre com legendas (datas e locais...), se possível...

Um abraço do camarada Luís Graça.... Boa reforma, boa saúde, boas festas!

PS - O BCAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15 (Tomar), partiu para o CTIG em 27/9/1967, e regressou a 4/8/1969. Esteve sedeado em Nova Lamego,  Bissau e S. Domingos. Cmdt:  ten cor if  Armando Vasco Campos Saraiva;  ten cor inf Renato Nunes Xavier.  Companhias de quadrícula:

(i) CCAÇ 1790 (Fá Mandinga, Madina do Boé, Nova Lamego, São Domingos). Cmdt:  cap inf  José Ponces de Carvalho Aparício;

(ii) CCAÇ 1791 (Bissau,  Encheia,  Bula, Bambadinca, Susana). Cmdt: cap inf António Maia Correia;

(iii) CCAÇ 1792 (Farim, Saliquinhedim, Colibuia, Aldeia, Formosa, Bissau). Cmdt: cap mil art  António Manuel Conceição Henriques; cap art  Ricardo António Tavares Antunes Rei; cap inf Rui Manuel Gomes Mendonça.


3. Resposta, com data de 7 do corrente, do Virgílio Teixeira (que já me manifestou entretanto que não há problema em que o seu nome apareça no blogue, de resto os seus camaradas de batalhão conhecem-no bem, já que ele tem ido a alguns dos convívios anuais):

Camarada Luis Graça

Obrigado pela resposta. Realmente temos aqui uma janela aberta, para entrar e sair. Este blogue é um mundo, eu entro muitas vezes neste blogue, alias ele aparece sempre que se coloque uma palavra de Guiné ou coisa parecida no Google. Mas quando começo a ver nunca mais largo, vejo tudo, as histórias, os vídeos, o que se fala de tudo, e confesso que me comovo e emociono ao ponto de, quando dou por mim,  estou com os olhos molhados e as lágrimas a correr. Não tenho vergonha disso, apesar da minha idade, eu já disse que esta fase da minha vida foi absolutamente marcante [...].

Mas todos os dias me lembro e de alguma forma penso na Guiné, mal acordo de manhã estou com isso na cabeça, e já lá vão 50 anos. Por isso os meus familiares sabem que sofro, e não querem ouvir falar deste período da minha vida, embora me acompanham quando lhes peço. Posso dizer que no último encontro em Viseu em Abril deste ano, fizemos a cerimónia completa dos 50 anos do Batalhão, uma cerimónia muito marcante.

Pois eu consegui levar comigo toda a família, a minha mulher, que sempre me acompanha, os 3 filhos e 3 cônjuges, e mais os 4 netos. Fomos 9 pessoas, reparei que os restantes elementos estavam a comentar isto. Agora julgo que já fiz a minha parte, eles viram aquela malta toda - velhos, idosos, gordos, carecas, cabelos brancos como eu, e gostaram do convívio.

É pouco,  5 referências [no blogue]  ao BCAÇ 1933, quando estiveram sob o seu comando pelo menos 17 Unidades em Nova Lamego - Companhias, Pelotões, Milícias, Comandos Africanos, AML Daimler, Canhão s/r, Morteiros, etc.

Vou começar pelo fim.

O Dr. Lema Santos [, o alf mil médico,]  conheci-o ainda em Santa Margarida, ele fazia parte do nosso Batalhão. Eu fui com o Comandante de avião militar em 20 de setembro de 67, cheguei a Bissau a 21, e no dia 23 já estava em Nova Lamego, a fazer velórios a militares mortos em combate. Foi o meu baptismo, e isto impressionou-me. 

Mais tarde, o BCAÇ 1933 partiu em 27 de setembro  e chegou a 4 de outubro de 1967. O médico foi neste contingente. Voltamos a encontrar-nos novamente em Nova Lamego, por pouco tempo, pois ele foi para um aquartelamento em Piche  - 40 a 50 km de Nova Lamego...  Eu fui muitas vezes em coluna militar a Piche, e estivemos lá juntos por poucas horas. Depois ele veio a Nova Lamego,  talvez uns 30 dias, para substituir o médico do Batalhão, dr. Cortez, que foi de férias. Aí já almoçava e jantava com ele na messe de oficiais. 

Ele voltou para Piche, por isso só nos voltamos a encontrar já no Uíge no dia 4 de agosto de 1969. Era um bom homem. Não o vi mais, sei que esteve em alguns encontros anuais da malta, mas não estive nesses, nunca o voltei a ver. Espero que esteja bem, ele deve ser pouco mais velho do que eu, eu vou fazer 75 no próximo mês, fui com 24, ele deve ter 1 a 2 anos mais.

Tenho várias fotografias com ele, mas só encontrei esta digitalizada, foi captada em novembro de 67 em Piche junto a um monumento religioso. Está o capitão,  comandante dessa Companhia que não me lembro o nº [, CCAV 1662 ?], estou eu, o Lema Santos, e um homem grande lá do sítio. Se tiver possibilidades pode mandar para ele ou através do irmão esta foto, que ele não tem de certeza, e deve querer lembrar-se, bem como os seus familiares. É uma oferta minha e até pode ser publicada. Mando-lhe um grande abraço e um 'até sempre'.

Eu tenho,  como disse, muitas fotos e 500 slides, e estou há uns meses a mandar digitalizar alguns, pois tenho de selecionar aqueles que mais me dizem a mim, vai com tempo. Depois estou a legendar tudo, datas, locais, e objectivo da foto. É um trabalho longo. 

Depois estou a organizar tudo por 'temas' e numerar as fotos por antiguidades, eu sei mais ou menos tudo de cabeça, posso não saber o dia ao certo, mas o mês sei de certeza. Essas que mandei já estavam todas legendadas, só que fui a um ficheiro sem legendas e tirei à sorte.

Vou selecionar algumas e vou mandando, e o amigo Luís vai colocando no blogue. Pode indicar o nome, o Batalhão, os locais o que interessar para melhorar o blogue, e ver se aparece mais gente do meu Batalhão.

As histórias que tenho estão no livro que nunca mais acabo, tenho de ter muita paciência para contar algumas passagens, eu já escrevi tudo, só que isso tudo tem 300 páginas, dum total de 2500 páginas da Minha Vida.

Sobre o Aparício, era realmente o comandante da CCaç 1790, e esteve lá em Madina do Boé entre fevereiro de 68 e 6 de fevereiro de 69, quando se dá aquela tragédia. Eu já li muita coisa sobre isso, e há muitas versões dos acontecimentos. O agora coronel Aparício, na reserva, tem ido a todos os encontros da Companhia e do Batalhão. Ele já foi ao Cheche algumas vezes, já filmou e acompanhou equipas incluindo cientistas, no intuito de encontrar o local dos poucos corpos que se encontram enterrados, mas não foi ainda possível. 

Essa tragédia marcou-me muito, pois estava lá muita tropa que esteve comigo em Nova Lamego pelos menos de outubro de 67 até fevereiro  de 68. Eu não vi nada, e o Comando do meu Batalhão estava nessa altura em S. Domingos, o nosso comandante ten cor {Armando Vasco Campos] Saraiva já tinha sido evacuado, foi apanhado a poucos metros numa emboscada ao fundo da pista e pisou uma mina, que lhe deixou as pernas ao dependuro, e estilhaços entre as pernas. Eu vi-o nesse estado a ser levado de Helli para Bissau. Só o voltei a ver passados mais de 15 anos. Já morreu entretanto.

O [José] Aparício esteve como Comandante Geral da PSP em Lisboa, em determinada época. Nos encontros ele nunca falou deste caso do Cheche, eu penso, mas não tenho certeza nenhuma, que ele carrega essa culpa do que aconteceu, pois ele era o comandante da companhia [, a CCAÇ 1790], mas como esta operação englobou outras companhias para segurança, aviação, Marinha, etc, deve haver um mais alto responsável por toda a operação. Mas eram os homens dele, e isso ele não vai nunca esquecer. Há militares que lá estiveram nesse desastre, que não conseguem falar do assunto, ficam chocados e entram em convulsão. 

E por agora é tudo, vamos falando e vou seguindo as instruções, pois eu não sei trabalhar muito bem com estas coisas, sei consultar, mas não sei como entrar sozinho.

E em retribuição aqui vai o meu desejo de Boa Saúde, Boa Reforma também e Boas festas de Natal e Novo Ano. O mesmo para o camarada Carlos Vinhal.

Um abraço do Camarada
Virgilio Teixeira


4. Nova mensagem do Virgílio Teixeira, com data de 13 do corrente:

Bom dia, caros Luis Graça e Carlos Vinhal:

Vou enviar algumas fotos para publicação, e como não sei qual é a melhor forma, vou identificar cada e dar algumas dicas sobre a mesma, depois façam o melhor.

Eu não me importo da identificação, e assim podem ser, se assim o entenderem e for usual, desta forma que era os nomes porque nós eramos conhecidos. Neste caso - Virgilio Teixeira, Alf Mil do SAM, RI 15/Bat Caç1933, Guiné 67-69, Nova Lamego, São Domingos.

Obrigado
Virgilio Teixeira

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16518: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (9): "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520


Desembarque de tropas no Xime: a nossa conhecida LDG 105 (NRP Bombarda)[1]


1. Em mensagem do dia 19 de Setembro de 2016, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) enviou-nos esta memória sobre a última operação em que participou sua Unidade.


Recordações da CART 2520

9 - "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520

Ordens são ordens e são para cumprir, custe o que custar.

Como era normal, estas chegaram do BCAÇ 2852 sediado em Bambadinca. Estava planeada uma operação para o dia 16 de Maio de 1970, para a zona do Xime. Isto a escassos dias da CART 2520 sair desta zona operacional. Dentro de duas semanas a nossa Companhia partiria rumo a Quinhamel.
A ideia não caiu muito bem no seio das nossas tropas, nomeadamente entre os furriéis e logo se pensou pressionar o Capitão [mil António dos Santos] Maltez, através dos nossos alferes,  para nos "baldarmos" a esta operação.

Estava a fazer um ano que a CART 2520 tinha estabelecido a sua base no Xime. Foi muito elevada a nossa actividade operacional no mato, assim como muitas seguranças às embarcações que navegavam no rio Geba. Também se fizeram inúmeras colunas de serviço a Bambadinca e esporadicamente a Bafatá. As baixas tinham sido duas, jamais regressariam ao seio dos seus familiares. Por doença também foram vários os que já nos tinham deixado. Por baixa psicológica só no meu pelotão foram dois os elementos que não voltaram, sendo um deles o Furriel Alvarez, um mês depois de chegarmos ao Xime já estava evacuado para Bissau.

Chegada então a hora do início da operação e ainda de madrugada, lá vamos nós a caminho do mato com as devidas precauções e também com alguma ansiedade à mistura.

Assim que o sol começou a iluminar a mata, creio que na zona da Ponta Varela,  houve indicações para que ninguém saísse debaixo da copa das árvores e permanecesse no máximo silêncio possível para não denunciarmos a nossa presença.

Várias foram as vezes que fomos sobrevoados pelo DO que possivelmente seria comandado pelo Major [op /inf  Herberto Alfredo do Amaral] Sampaio,  do Gabinete de Operações de Bambadinca. Por diversas ocasiões junto ao rádio transmissor da nossa Companhia ouvi o operador lá do alto chamar por nós. Nesse dia o nosso emissor receptor "esteve avariado".

A operação decorreu sem incidentes e sem nenhum contacto com o inimigo.

De regresso à nossa base, recordei o dia anterior, quando entrámos no gabinete do nosso Capitão Maltez e as palavras que este nos dirigiu:
- Como já sabem, esta noite vamos sair para uma operação, mas o Alferes Lapa vai explicar-vos como vai ser - e abalou porta fora.

Esta seria a última operação da CART 2520 no Xime, a qual teve o nome de "Operação Rã Teimosa". Mas nós com a ousadia que tivemos em expor as nossas convicções contra todas as regras estabelecidas, através do Alferes Lapa, fomos mais teimosos que esta rã e nem os nossos soldados souberam o que se passou na tarde do dia anterior no gabinete do Capitão Maltez.

Entretanto chegou CART 2715 / BART 2917 que nos viria render. A CART 2520 saiu em duas fases, a primeira no dia 31 de Maio e a última a 9 de Junho de 1970.

Assim se iniciou uma segunda etapa da nossa Companhia em terras da Guiné, que foi bem mais tranquila, como que uma espécie de um merecido prémio.

E aqui vai um grande abraço para todos os elementos desta Tabanca Grande, em especial para o amigo Luís Graça e camaradas da CCAÇ 12 (CCAÇ 2590).

José Nascimento



No Bar de Sargentos


Com o Furriel Joaquim [João dos Santos] Pina,  do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, algarvio como eu, antes de uma Operação

Texto, fotos e legendas : © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados


2. Comentário do editor:

Eis as oito linhas que foram dedicadas à "Op Rã Teimosa", na História da Unidade: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, cap II, p. 152:





Recorde-se que o BCAÇ 2852 também acabou nesse mês de maio a sua comissão de serviço. Em 29 e 31 de maio de 1970, chegava o BART 2917, começando a sobreposição. Em 8/6/1970, o BCAÇ 2852 deixou o setor L1, partindo para Bissau onde aguardou transporte para a metrópole.

Três dias antes da Op Rã Teimosa,  em 14 de maio, às 17h00, o IN tinha atacado, com canhão s/r, LGFog e armas automáticas, em Ponta Varela (XIME 7B5-45), na margem esquerda do Rio Geba,  o barco (civil) "Bihe", causando  1 morto, 1 ferido grave, 3 desaparecidos, todos civis, e danos materiais.
____________

Notas do editor:

[1] - Sobre a LDG Bombarda vd. postes de Manuel Lema Santos de:

22 de Dezembro de 2016 > Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes (5)
e
24 de Dezembro de 2016 > Ainda a LDG “Bombarda” - LDG 201

Último poste da série de 17 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15281: As Nossas Tropas - Quem foi quem (13): comodoro Alberto Magro Lopes, comandante da Defesa Marítima (CDM), CTIG (1971/72) (Manuel Lema Santos 1º ten RN, imediato no NRP Orion,1966/68)


Foto nº 3


Foto nº 3 C

O gen Spínola com um grupo de marinheiros [, condecorados]. Circa 1971

Foto (e legenda) : © Ernestino Caniço (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem do Manuel Lema Santos [, 1º tenente da Reserva Naval, imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68; membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de abril de 2006] [, foto atual à esquerda]:


Data: 22 de outubro de 2015 às 11:02
Assunto: Foto com comodoro Luciano Bastos ?


Caro Luis Graça,

Correspondendo ao teu voto de saúde: caminha-se, um dia de cada vez, enquanto a saúde o permitir. E não é nada mau...

Em relação às fotos que estão publicadas no poste P15275 (*),  refiro apenas a nº 3 que julgo ser a foto base. As outras serão recortes ampliados daquela.

Todos os condecorados são fuzileiros (alguns sargentos), julgo que com excepção de um militar do Exército (o segundo do lado esquerdo). Não consigo identificar nenhum.

O general António de Spínola está acompanhado, à esquerda, pelo comodoro Alberto Magro Lopes, Comandante da Defesa Marítima [CMDM] da altura, cargo que exerceu entre 25FEV71 e 06MAR72.

Conheci-o bastante bem pois anteriormente, ainda em CMG, foi Chefe do Estado-Maior do Comando Naval do Continente onde eu, entre AGO68 e MAI70, desempenhei as funções de ajudante de ordens do Vice-Almirante Francisco Ferrer Caeiro, Comandante Naval do Continente e da Base Naval de Lisboa. (**)

Como sabes estive na Guiné de 1966 a 1968, onde ele próprio tinha sido CDM Guiné entre 11SET64 e 11SET67.

Espero corresponder à informação que solicitaste.

Abraço para todos,

Manuel Lema Santos

terça-feira, 30 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14812: Inquérito online: O rio da minha... tabanca... O meu rio da Guiné, aquele que mais amei / odiei... Responder até ao dia 3 de julho



Rio Mansoa > Ponte destruída | Foto Carlos Fraga



Rio Mansoa > Bolanha e ponte  | Foto César Dias



Rio Corubal > Rápidos do Saltinho | Foto Albano Costa


Rio Cumbijã > Imediações de Cufar | Foto António Graça de Abreu



Rio Cacine > Corrida de sintex | Foto João Martins


Rio Udunduma > Jangada | Foto Renato Monteiro



Rio Cacheu > LFG Sagitário | Foto cmdt A Rodrigues da Costa | Cortesia de Manuel Lema Santos

Edição Blogue Luís  Graça & Camaradas da Guiné (2015). Direitos reservados


I. Mensagem enviada ontem pelo correio interno da Tabanca Grande:


Assunto - O rio da minha... tabanca

Amigos/as e camaradas:

Há um poema lindíssimo do Alberto Caeiro (um dos muitos heterónimos, como sabem, do genial Fernando Pessoa) que começa assim: "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia" ... Podem lê-lo ou relê-lo a seguir, aqui, no sítio da Casa Fernando Pessoa | Banco de Poesia | Autores | Alberto Caeiro. (*)

Mas eu esta semana queria falar do rio da nossa... tabanca. Todos, ou quase todos, ou muitos de nós, também deixaram lá, na "nossa" Guiné, o seu rio de "estimação"... Em muitos casos, terá havido uma relação de amor/ódio... Não admira: estávamos em guerra, não em turismo...

Não vamos aqui discutir a diferença entre rios, rias, braços de mar... A Guiné tinha/tem, para além do deslumbrante (e de trágicas memórias) Corubal, outros rios (, de água doce e/ou salgada, ) que cruzámos, por onde viajámos, ou em cujas imediações fizemos operações ou estivemos aquartelados, do Cacheu ao Cacine... Noutros, mais pequenos (Udunduma, Caium, Armada ...), nadámos, pescámos, andámos de piroga... Enfim, quem não tem recordações dos rios, rias e braços de mar, a começar pelos nossos camaradas da Marinha ? Muitos de andámos fizemos uma ou mais viagem de de LDG, de LDM, de sintex, de piroga  e até  de "barco turra" (as embarcações civis que faziam a ligação a Bissau, nomeadamente no Rio Geba).

A sondagem desta semana é sobre "O meu rio da Guiné (o que mais amei/odiei)"... As hipóteses de resposta são;

1. Cacheu

2. Cacine

3. Corubal

4. Cumbijã

5. Geba

6. Grande de Buba

7. Mansoa

8. Tombali

9. Outro (o que corria junto do sítio onde estive)

10. Outro (não referido acima)

11. Nenhum


NÃO RESPONDAM por email, mas no blogue, "on line", ao alto, na coluna do lado esquerdo:

Só podemos dar uma resposta. A sondagem encerra no dia 3 de julho.

2. Aproveitem também para mandar fotos e histórias ligadas aos nossos rios da Guiné... Grandes e pequenos...



E se forem para férias, cá dentro ou lá para fora (, o que não está lá muito convidativo, o mundo está feio...) , mandem um "bate-estradas" (aerograma), a dizer que estão vivinhos da costa como a sardinha... (Até esta, infelizmente, está a desaparecer da nossa costa!).

Já inaugurámos a série "Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas" (**):

Um bom resto de dia... Bebam muito água... porque por estes dias vai estar uma brasa... Xicorações apertados, Luís Graça

_________________

Notas do editor

(*) Cortesia de Casa Fernando Pessoa | Banco de Poesia | Autores | Alberto Caeiro

XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

In O Guardador de Rebanhos

In Poesia, Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001.

(**) Vd. poste de 26 de junho de 2015  > Guiné 63/74 - P14799: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (1): Carta aberta aos camaradas da Tabanca Grande: o que fiz (e não fiz) como cofundador e dirigente da associação APOIAR (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)