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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9276: O nosso fad...ário (8): Canção do Adeus (letra de Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vieira Moreira, ou apenas Manuel Moreira, letrista de fados e outras canções, natural de Aguada de Cima, Águeda,  ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69):


Data: 8 de Dezembro de 2011 18:21
Assunto: Canções da Guiné


Luís, vai a minha primeira canção de Guerra (*),  começada na viagem de ida para a Guiné dentro do navio Uíge. Como sabes,  eu já era casado e com dois filhos. Com música de: Au Revoir Sylvie, do Duo Ouro Negro, a que lhe dei o título "Canção do Adeus". Um Abraço
Manel Moreira,
CART 1746


O N/M Uíge, da Companhia Colonial de Navegação (Imagem: Com a devida vénia... Página da CCAÇ 1496, 1966/68)... Muitos de nós partiram para a Guiné neste navio (ou regressaram nele, como foi o meu caso)... Foi aqui que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção do Adeus... Que também podia ser um fado... Mas, neste caso, ele foi buscar a inspiração ao famoso Duo Ouro Negro. Continuamos entretanto a recolher letras de fados, baladas e outras canções, ligadas à temática da guerra colonial. O nosso objetivo é podermos vir a ter uma secção de letras (e músicas) de fados, no Museu do Fado, dedicada à guerra colonial, com destaque para a Guiné... (LG)

__________

Canção do Adeus

Letra: Manuel Moreira
Música: Au Revoir Sylvie,  do Duo Ouro Negro [, há um versão disponível no YouTube,] (**)


1
Adeus, minha querida,
Eu vou-te deixar
Vou p´ra outra vida
Que é militar;
Eu vou para a guerra,
Mas sempre a pensar,
Na minha querida terra,
Que um dia hei-de voltar.

Refrão

Adeus, adeus,
Adeus, ó minha Mãe,
Não chore por mim
Porque eu voltarei.
Adeus, adeus,
Adeus, querida Mulher,
Não chores por mim
Que eu volto, se Deus quiser.

2

O I.A.O. terminou,
Fomos embarcar,
O Uíge abalou
Para o Ultramar;
Com Homens a valer,
Partimos com fé
Para defender
A nossa Guiné.

Refrão

Adeus, adeus, etc.
_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)

(**) Letra da canção (disponível aqui)

Au revoir Sylvie
Duo Ouro Negro

E setembro chegou,
Vamo-nos separar,
O verão terminou,
Diremos au revoir.

Ela vai pra Paris
E eu vou ficar,
Vou ficar infeliz
E Sylvie vou lembrar.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie
Au revoir, Sylvie,

Sylvie, Sylvie, Sylvie
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie,
Au revoir, Sylvie.

Na praia deserta,
Nem o sol sorri
E a solidão me fala de ti,
O meu violão também se calou,
Dissemos adeus e tudo acabou.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie.

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Au revoir, Sylvie,

Sylvie, Sylvie, Sylvie,
Oh! mon amour,
Oh! Sylvie Oh! Sylvie Oh! Sylvie
Au revoir Sylvie

Para saber mais sobre o Duo Ouro Negro clicar aqui na Wikipédia

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9165: O nosso fad...ário (6): Fado Canção da Fome: Livrou o autor de levar uma porrada do célebre Pimbas (Manuel Moreira, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (1968/69) >  Destacamento da Ponta do Inglês > Em primeiro plano, do lado direito, o ex-1º Cabo Mec Auto Manuel Vieira Moreira... Foi aqui, neste destacamento, de má memória para muitos de nós, que o Manuel Moreira escreveu o seu fado, Canção da Fome...

Por detrás dos militares da CART 1746 (unidade de quadrícula do Xime), à mesa, partilhando uma refeição, vê-se uma parede revestida a chapas de bidão... que lá ficaram, quando as NT retiraram do destacamento, por ordem do Com-Chefe, em Novembro de 1968, desguarnecendo a posição estratégica que era a foz do Rio Corubal... (LG)

Foto: © Manuel Moreira (2009). Todos os direitos reservados






Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Margem direita do Rio Corubal > Foz do Corubal, tendo à direita a Ponta do Inglês, de triste memória para muitos de nós... Mais acima, na margem esquerda, Ganjauará, perto de Gampará, de triste memória para o Vitor Tavares e os seus  camaradas da CCP 121/BCP 12 (Mapa de Fulacunda, Escala 1/50000 (detalhes).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011).

 
1. Texto do Manuel Moreira, um dos fadistas da nossa Tabanca Grande, natural de Águeda, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), com data de hoje, com mais um magnífico contributo para a série O Nosso Fad...ário (*)

Camarada e Amigo Luís

O porquê da Canção da Fome já foi dito, agora vai a história :

O meu fado, Canção da Fome,é baseado na música do fado gingão Tempos que já lá vão,  de Manuel de Almeida. Mas eu canto-o de forma diferente de modo a dar-lhe o sentido próprio da situação vivida. Foi gravado em bobines de fita, porque na altura não havia cassetes, e acompanhado por duas violas tocadas pelo Alf Mil [Gilberto]Madail e pelo [Soldado] Corneteiro Agostinho Pacheco Moreira.

Fez sucesso por todos os Destacamentos onde esteve colocada a CART 1746, como sendo: Ponta do Inglês, Taibata, Demba Taco, Amedalai e Galomaro.

Foi de Galomaro que apanhei o maior susto quando o Comandante do Batalhão de Bambadinca [, Ten Cor Pimentel Bastos, do BCAÇ 2852, 1968/70] fez visita a Galomaro em Março de 1968. O gravador do Fur Melo estava a passar a Canção da Fome e quando se apercebeu da sua presença correu a desligar o aparelho. De seguida, foi admoestado pelo Comandante por ter feito o que fez e pediu para ligar o aparelho onde ficou a ouvir com atenção e repetiu...

Quando se ouvia o meu nome no final, o então guarda costas do Comandante, já falecido, que era de Águeda,  de seu nome Emanuel Carvalho, disse que me conhecia e ficou incumbido de me convidar a fazer uma visita ao Gabinete do Comandante.

Quando a comitiva se retirou, logo o Fur Melo enviou uma mensagem via rádio para o Xime a contar o sucedido para que eu fosse avisado. E então o Cabo de Transmissões Laurentino Ribeiro, que é de Barcelos, veio ter comigo à Oficina e começa por me dizer, bem à moda do Minho:
- Ó Moreira, estás fodido, pá !

Ao que eu respondi:
- Pois estou,  e já há muito tempo e só acaba quando for embora daqui ... - Mas ele muito sério repete e diz :
- O Comandante  do Batalhão ouviu a tua Canção da Fome e quer que vás ao Gabinete dele responder. - Por isso, aí eu pensei e disse:
- Estou fodido mesmo !

Demorei bastante tempo a ir a Bambadinca a ver se o tipo se esquecia mas não, estava sempre a perguntar ao Emanuel Carvalho por mim.

Depois de vários comentários deste,  com os meus camaradas mecânicos do Xime, lá me convenceram a ir a Bambadinca e qual o meu espanto, quando o Comandante [, o Ten Cor Pimentel Basto,]queria só e apenas que eu cantasse para ele gravar e levar para casa e mostrar aos netos...

Aí eu acreditei. Eu só tinha medo da PIDE.

E tive sorte porque, precisamente em Galomaro,  no dia 5 de Março de 1968,  aquando da rendição de Secção por Secção, o condutor João Medeiros ausentou-se com o Unimog sem autorização e conhecimento,  levando a minha G3 junta com a do Alf Madaíl no banco direito, mecânico e oficial de coluna, que eram as únicas que iam e vinham. Fui beber umas aguardentes de cana e na vinda, depois de vários saltos nos buracos da estrada, a minha G3 caiu e passou-lhe por cima ficando em três pedaços. Ora, auto às costas... Auto que estava nas mãos do Comandante do Batalhão que o arquivou,  graças à Canção da Fome.

O Madaíl não cantava o Fado mas dava uns toques na viola. Eu sempre cantei e canto, de tudo. Cantar faz bem e espanta as tristezas !

Um Abraço Amigo

Manel Moreira
CART 1746

2. Letra do fado Canção da Fome (**)

[Adpat. de Tempos que já lá vão,  de Manuel de Almeida, n. 1922; música do Fado Corrido]

CANÇÃO DA FOME

Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.

Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968

_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Vd. poste de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9122: O nosso fad...ário (3): Fado Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira, CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1968/69)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69) > 1968 > O Manuel Moreira Vieiria junto ao obus 10.5... A CART 1746 (i) teve como unidade mobilizadora o GCA 2, (ii) seguiu para a Guiné em 20/7/1967, (iii) regressou em 7/6/1969; (iv) esteve em Bissorã e no Xime (aqui desde princípios de 1968); comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz.


Antes desta unidade de quadrícula, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)... (LG)

Foto: © Manuel Moreira (2009)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Letra que nos foi enviada pelo nosso camarada, e poeta de Águeda,  Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69):

Sangue, Suor e Lágrimas

por Manuel Vieira Moreira (*)



Adapt do Fado Saudade, silêncio e sombra
Letra (**): Nuno de Lorena: Música: Pedro Rodrigues-Fado Primavera; criação: Teresa Tarouca [Vd. vídeo aqui no TouTube] (**)

Muitas noites tenho passado,
Na Guerra bem acordado,
Por não conseguir dormir.
Com os olhos sempre alerta,
Pois é sempre pela certa
Que os Turras cá possam vir.
(Bis)

Certa noite fui acordado
E por estrondos alarmado,
Às duas da madrugada.
Mas rapidez é comigo,
Corri logo a um abrigo
P'ra responder de rajada.
(Bis)

A nossa bela Nação
Defendo-a do coração,
Estas são as minhas dádivas.
Misturadas com a dor,
Lágrimas, Sangue e Suor,
Suor, Sangue e Lágrimas.
(Bis)

(Final)

Xime, 20 de Dezembro de 1968 (****)

 © Manuel Moreira (2009)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28  de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5557: Cancioneiro do Xime (2): Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira)

(**) Comentário: (...) "Ouvi este fado muitas vezes durante a guerra colonial. Encontrava-me na Madureira,  acampamento militar entre Nambuagongo e Zala em 1969. Todas as vezes que ía para uma operação tinha que [o] ouvir num pequeno gravador, antes de partir. Aliviava-me a alma". [antonio62203]

(**) Letra reproduzida aqui:

A saudade, meu amor,
é o martírio maior
da minha vida em pedaços,
desde a tarde desse dia
em que ao longe se perdia
pra sempre o som dos teus passos.

Saudades fazem lembrar
silêncios do teu olhar,
segredos da tua voz.
E essa antiga melodia
que o vento na ramaria
murmurava só para nós.

Lembraste daquela vez,
quando eu cantava a teu pés
trovas que não tinham fim.
Quando o luar prateava
e quando a noite orvalhava
as rosas desse jardim.

Jardim distante e incerto,
sinto tão longe e tão perto
o passado que te ensombra,
devaneio e irrealidade,
silêncio, sombras saudade,
saudades silêncio e sombra.

28 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9109: O nosso fad...ário (1): O Fado da Emboscada (CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1969) (João Carvalho / José Martins)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9076: Memória dos lugares (164): RTX - Rádio Televisão do Xime, Carnaval de 69, Xime, CART 1746, com o Manuel Moreira e o José Ferraz de Carvalho



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (Bissorã e Xime,1967/69) > A RTX - Rádio Televisão do Xime, em ação, no Carnaval de 69... Na primeira foto de cima, está o Manuel Moreira, o primeiro a contar da direita; o Júlio (, de tanga,) e o Zé Ferraz (, de óculos, megafone e barba), a contar da esquerda...

Comentou o Zé Ferraz: "Foi formidável, o companheiro e camarada Manuel Moreira enviou-me um e-mail dizendo que se lembrava muito bem de mim; enviou-me também uma foto tirada no Xime quando, para descarga da infinita espera, decidimos fundar a Rádio Televisão do Xime. Por curiosidade o homem à minha direita, de tanga, era o famoso Júlio que bebia 2 garrafas de Sagres grandes como pequeno almoço e foi o protagonista da coluna a Bambadinca onde se cortou o corpo inteiro" (...).


Fotos: © Manuel Moreira (2011)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. Mensagem, enviada ontem pelo Manuel Moreira (ex. 1.º Cabo Mec Auto, CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69): 
É com grande satisfação que vejo alguém da minha Companhia a fazer parte do nosso blogue.

Refiro-me ao Zé De Ferraz, de nome completo José Marçal Wang Ferraz De Carvalho, que chegou à CART 1746 em 14 de Janeiro de 1969, e a quem dou as melhores Boas Vindas porque tem e terá muitas histórias para contar, apesar de ter estado pouco tempo connosco. Já activamos o contacto.

Envio para publicação duas fotos onde está o Zé Ferraz com um megafone improvisado, sentado numa poltrona a anunciar o arranque da RTX- Rádio Televisão do Xime por altura do Carnaval de 69. Eu sou o da placa de "entrada em cena".

 Espero que entrem mais camaradas [da CART 1746].

Um abraço camarigo para toda a Tabanca com " manga de ronco ".

Manuel Moreira

_________________

Nota do editor:

sábado, 19 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9065: Tabanca Grande (307): José Ferraz de Carvalho, português há mais de 40 anos nos EUA, ex-Fur Mil da CART 1746 (Xime, 1969)

1. Mensagem, de 16 do corrente, do José Ferraz de Carvalho (ou simplesmente J. de Ferraz, ou ainda mais simplesmente Zé, como ele gosta que o tratem), aceitando o nosso convite para a ingressar na Tabanca Grande, o que muito nos honra [; ele vive nos EUA, há mais de 40 anos, e continua orgulhosamente a ser cidadão português e a sentir-se patrioticamente português]





Companheiro e camarada Luís:


(i) Ser o nº 527 é uma honra. Obrigado. Para mim é uma honra juntar-me à Tabanca [Grande]. As histórias, como dizes,  já as tens.


Quanto às fotos... tinha uma quantidade delas,  dos meus tempos na Guiné, infelizmente no transcurso da minha vida,  aqui nas Américas,  não sei onde estão.


Foi formidável, o companheiro e camarada Manuel Moreira enviou-me um e-mail dizendo que se lembrava muito bem de mim; enviou-me também uma foto tirada no Xime quando, para descarga da infinita espera, decidimos fundar a Rádio Televisão do Xime.


Por curiosidade o homem à minha direita, de tanga, era o famoso Júlio que bebia 2 garrafas de Sagres grandes como pequeno almoço e foi o protagonista da coluna a Bambadinca onde se cortou o corpo inteiro [sic].




Lisboa > Lyceu Central de Pedro Nunes, no tempo da 1ª República... Foto: Cortesia do blogue De Rerum Natura > 17 de Setembro de 2010 > Os liceus na 1º República.



(ii) Nasci por acidente em Ponta Delgada, Açores,  em 20 de março de 1945, quando meu pai como oficial da marinha aí estava destacado num dos nossos submarinos.

Com 15 dias voltei a Lisboa com a mãe e,  depois de viver com os avós paternos, mudámo-nos para casa dos avós maternos e em 1948 os meus pais finalmente encontraram casa própria, em Carcavelos, onde me criei.


Estive no liceu de Oeiras, depois no Pedro Nunes onde me envolvi nos movimentos de estudantes dessa época e finalmente fiz o terceiro ciclo nos Salesianos do Estoril.


Em 1965 o pai foi nomeado para ser o Senior Portuguese Officer no SACLANT [The Supreme Allied Commander Atlantic,], em Norfolk, Virgínia. Vim então estudar Engenharia nuclear para o Virginia Politecnical Institute,  mas tive que ir primeiro para o Old Dominion College para fazer estudos de habilitação. Sempre quis fazer tropa e estava aqui com uma licença militar porque era da incorporação de 65. Lisboa nunca me reconheceu os meus estudos aqui, pelo que em vez de ir para Mafra [, COM], fui para as Caldas [, CSM].

2. Comentário de L.G.:

Zé, para refrescar a tua memória: A CART 1746 eve como unidade mobilizadora o GCA 2, seguiu para a Guiné em 20/7/1967, regressou em 7/6/1969; esteve em Bissorã e no Xime; comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz. O destacamento da Ponta do Inglês, onde esteve o Moreira, foi desativado ao Novembro de 1968. Tudo indica que tenhas chegado ao Xime, em janeiro ou fevereiro de 1969, um ou dois meses do início da Op Lança Afiada. Eu, periquito, quando desembarquei no Xime, em 2 de junho de 1969, ainda estavas lá tu.

Depois foste para Bissau, para o QG, onde ficaste os "últimos meses" da tua  comissão e regressaste a Lisboa já em 1970. Deves ter chegado à Guiné, com a 16ª Ccmds, meados ou finais de 1968... É isso ? É o que deduzo do que escreveste no primeiro poste (*): 


(...) Ofereci-me como voluntário para a 16ª Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68 [, não dizes em que mês]. No fim da fase operacional [, IAO,] não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime, onde o Capitão Vaz me responsabilizou em formar um grupo de combate com o segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente" (...).

O Torcato Mendonça acrescenta o seguinte: 


"A Companhia do Xime era a Cart 1746, comandada pelo Cap Mil Vaz e pertencente ao Bart 1904. Os Alferes eram o [Gilberto ]Madaíl; um de Évora (Montes? creio que não, talvez Mata); um que foi evacuado para a metrópole em meados de 68 (estive com ele em Agosto de 68 na minha vinda de férias, acompanhado com o Cap Vaz); e um outro que era, salvo erro, de Angola. Não recordo o nome".

Antes da CART 1746,  passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70) (que veio comigo na LDG), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...

Há cinco anos atrás, recebemos aqui um comentário do António Vaz:

(...) Chamo-me Antonio Vaz, tenho 73 anos e fui capitão miliciano, comandante da CART 1746, no Xime, de Janeiro 1968 até ao fim da comissão, em Junho de 1969.

Como companhia independente, conheci vários comandantes de batalhão: primeiro os de Bula e depois de Bambadinca. Dos que me recordo melhor foram o Cmdt do BCAÇ 1904, Ten Cor Branco, o Fontoura e o Pimentel Bastos. Todos diferentes, todos iguais. Do Pimentel Bastos recordo com saudade o espírito, a cultura e a simpatia ingénua de um homem que não nascera para aquilo. Nas muitas conversas que tive com ele compreendi o seu drama. Eu estimei-o. António Vaz (...)

[Vd. poste de 4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1025: Tenente-coronel Pimentel Bastos: a honra e a verdade (Luís Graça) ]

Zé, camarada, senta-se aqui ao pé de nós, sob o poilão, frondoso, secular, mágico, fraterno, inspirador, protetor, da Tabanca Grande (**), e deixa fluir (e partilha connosco) os teus pensamentos, memórias, emoções... Estou a acompanhar os teus comentários com muito interesse. Vou aproveitar alguns, para os editar em poste. Manda-me (ou tu, o Manuel Moreira) a tua a que te referes acima, e explica-me o que se passou na tal coluna Xime-Bambadinca em que o Júlio  "se cortou o corpo inteiro". Vejo, por outro lado,  que és um cidadão do mundo, mas intrinsecamente português. Para quem não escrevia em português há muitos anos, estás muito bem. Recebe um grande Alfa Bravo, querido camarada do Xime!... Meu, dos demais editores e do resto da Tabanca Grande. LG


PS - Vou pôr-te na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande (constante da coluna do lado esquerdo) como José Ferraz de Carvalho, se achares bem. Ou só José de Ferraz, se achares melhor.

______________

Notas do editor:

(*) 14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas, EUA

(**) Último poste da série > 16 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)

domingo, 13 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9038: O nosso blogue em números (15): A propósito dos 3 milhões de visitas... Comentários de Felismina Costa, Manuel Moreira e Carlos Pinheiro... Fotos de Cufar, de Victor Condeço (1943-2010)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 07  > Interior da messe e bar de Sargentos.


Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > "Outro interior da messe de Sargentos. Vejam-se os cadeirões feitos dos barris do vinho, a necessidade aguçava o engenho".

Fotos do nosso saudoso camarada, membro da Tabanca Grande, Victor Condeço (1943-2010), que era natural do Entroncamento, e foi Fur Mil Mecânico de Armamento na CCS / BART 1913 (1967/69) (1967/69), além de notável fotógrafo. É mais que justo recordar a sua memória nesta data. Falámos os dois, emocionados, ao telefone, antes da sua dolorosa partida desta vida. (LG)

 Fotos (e legendas):  © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.



A. Mais comentários de membros da nossa Tabanca Grande: Felismina Costa (com data de 7 do corrente), Manuel Moreira e Carlos Pinheiro (12 do corrente), a propósito do passado, do presente e do futuro do nosso blogue (*):


1. Felismina Costa (a nossa amiga de Agualva, Sintra, antiga madrinha de guerra):

(...) 
Caro Luís Graça, administrador e editor do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné,
 Caro co-editor e administrador Carlos Vinhal,
Co-editor Magalhães Ribeiro,
Co-editor Virgínio Briote,
Cartógrafo mor Humberto Reis
e colaboradores permanentes Hélder Sousa, Joaquim Mexia Alves, Jorge Cabral, José Manuel Diniz, José Marcelino Martins Miguel Pessoa e Torcato Mendonça:



A todos, os meus sinceros Parabéns!

Parabéns sobretudo, pela vossa persistência, pelo vosso trabalho, pelo vosso altruísmo, que dá voz a todos e a cada um, dos que viveram e sofreram os efeitos de uma guerra que marcou a vossa/nossa Juventude, permitindo que se conheça em pormenor a vivência de cada um no referido conflito, suas recordações mais marcantes, visto que acontece num tempo em que todos eram Jovens, ávidos de conhecimento e descoberta e até de aventura.

Hoje, a várias décadas de distância, o conflito é por vós analisado e revivido neste Blogue, que se tornou o meu Jornal diário, onde procuro entender motivos e encontrar justificação para o que então se viveu, sabendo de antemão que nenhuma Guerra se justifica, muito embora se diga que elas são necessárias.
Parabéns, pelo número de aderentes, pelo interesse manifestado a nível de visitantes, pela quantidade de trabalhos apresentados e pela quantidade de comentários que suscitam.

Parabéns,  igualmente, pelo número de camaradas que fez aproximar, que permitiu reencontrar, formando uma gigantesca família, que se vai encontrando, revivendo o passado e falando do presente, quer no encontro anual da Tabanca Grande, quer nas reuniões semanais ou mais ou menos esporádicas das Tabancas mais pequenas.

Permitam-me que fique a um cantinho, observando a vossa alegria quando se encontram.

Permitam-me que seja uma espectadora e uma admiradora das vossas recordações.

Desejo que todos continuem unidos e que o Blogue continue a ser a expressão da vossa vivência passada, nua e crua, para que possa ser avaliada correctamente:

Saúdo-vos a todos num abraço fraterno.





2. Manuel Moreira (ex. 1.º Cabo Mec Auto, CART 1746,Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967 a 1969)



(...) O nosso blogue está muito bom e deve continuar com os moldes existentes, a menos que os seus editores tenham ideias superiores em alterar, para melhor.


Apetece-me dizer, como " velha " Portuguesa: P'ra melhor está bem, está bem ; p´ra pior já basta assim.


Bom S. Martinho no Reguengo Grande, terra do meu camarada da CART 1746,  António Daniel Ferreira, na Rua da Boiça nº 7. (...)



3. Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70),


(...) Não podia deixar de corresponder ao desafio para dar a minha humilde e modesta opinião acerca do "nosso" blogue.


Independentemente de muitos outros que vão aparecendo, e que são sempre importantes, o facto é que o "nosso" blogue já tem uma história alargada e os seus "postes" poderão um dia, diria até vão,  contribuir decisivamente para que possas reescrever a história daquele período conturbado da vida das nossas gentes. 


Quando digo nossas gentes, quero incluir todos os que fomos obrigados a combater e também os que foram obrigados a combater-nos. Será um trabalho importante e interessante pelo que não será preciso desafiar-te porque penso também terás isso em mente desde que tenhas vida e saúde, como todos desejamos.


Quanto às estatísticas elas são sempre importantes mas não serão decisivas para o êxito que está a ser alcançado. O que é necessário é que cada um, à sua maneira, independentemente dos juízos de outrem, queira colaborar, desde que possa, a engrossar o próprio blogue contando as suas histórias uma vez que cada caso é um caso, por ventura sempre diferente de outros, dependendo do momento, do local e das circunstâncias onde nos pudéssemos ter encontrado e, convenhamos, há ainda muita coisa para contar.


Cada um de nós deve ser o mensageiro para que outros digam de sua justiça e que venha tudo cá para fora de muita gente que continua calada pelas mais variadas razões. Eu também tive dificuldades em começar a reviver aqueles 25 meses, e hoje vou participando como posso e sei. É pena poder pouco e o saber também não ser muito. Mas cada pode o que sabe e sabe o que pode. É tudo uma questão de se começar.


Estás de parabéns, caro Luís Graça, pela ideia inicial da criação do blogue, como também estão de parabéns todos os editores, especialmente o Carlos Vinhal, que é uma peça importante para o êxito que tem vindo a ser consolidado.


Vida e saúde é o que desejo para ti, para todos os colaboradores e para os muitos camaradas e amigos que participam pelo menos a ler, o que já é importante. O resto virá por acrescento. (...)


______________


Nota do editor:


(*) Último poste da série > 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9029: O nosso blogue em números (14): A propósito dos 3 milhões de visitas... Comentários de Manuel Marinho e Raul Albino

sábado, 10 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8762: Estórias avulsas (57): O 400 da CART 1746 (Manuel Moreira)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vieira Moreira (*), ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69, com data de 21 de Agosto de 2011:


Amigo e Camarada Luís,
Envio uma história das minhas "Memórias" no XIME. Se valer a pena, publica.


Um Abraço Camarigo para toda a Tabanca.
Manuel Moreira, ex. 1.º Cabo Mec Auto
CART 1746




O 400


O 400 era o Soldado que tinha o primeiro número de ordem da Companhia. De apelido Quinteiro, tinha muito vício de cravar cigarros a todos que fumassem.


Era como que o guarda costas do Alferes  Gilberto Madaíl, pelo que eram muito amigos. Tinha, além disso,  um farfalhudo bigode que fazia inveja.


Eu fumava SG Gigante, sendo os cigarros eram acesos com um isqueiro a gasolina que deitava muito fumo e ia passando despercebido.


Em finais de 1968, vim a Bissau fazer um estágio de mecânica diesel na Engenharia e comprei um isqueiro Ronson a gás muito bonito, que ainda hoje guardo de recordação porque tem gravadas as datas da minha "Guerra ".


Quando o 400 soube desta aquisição, com muito jeito me cravava todos os dia um cigarro, desta forma :
- Oh nosso Cabo, dê-me um cigarro dos seus que são grandes e acenda-mo com o seu Ronson.


Aquilo demorou muito tempo e, claro, comecei a pensar em tirar-lhe o vício da cravança.


Quando achei que já chegava, resolvi abrir a saída do gás no máximo ao isqueiro e queimei-lhe o bigode e parte da boca e nariz. Claro que me desfiz em desculpas pelo sucedido, argumentando que não fora por mal.


O certo é que poupei muitos cigarros a partir daí...


Já não fumo desde 1984, mas de vez em quando vou ver o isqueiro e lembra-me esta história.


Desde a nossa chegada, em 13 de Junho [ou Julho ?] de 1969, nunca mais soube nada do meu amigo Quinteiro que, salvo erro, é de Santiago do Cacém, e a quem mando um grande Abraço.  Caso ele leia esta História, que me dê notícias.


Saudações Camarigas, Manuel Moreira
____________


Notas de CV:


(*) Vd. poste de 5 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8226: Convívios (323): 13º Convívio da CCAÇ 2313 vai decorrer em 4 de Junho de 2011, Águeda (Manuel Moreira)


Vd. último poste da série de 6 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8643: Estórias avulsas (115): Quando o Dulombi foi flagelado pelo PAIGC com “Armas Pesadas” (Luís Dias)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8226: Convívios (328): 13º Convívio da CCAÇ 2313 vai decorrer em 4 de Junho de 2011, Águeda (Manuel Moreira)





1. O nosso Camarada Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), enviou ao Luís Graça, em 2 de Maio, a seguinte mensagem.
Camarigo Luís,


A pedido de um conterrâneo meu, também ele um ex-Combatente na Guiné, envio-te o Programa do 13º Convívio da C.CAÇ.2313, para que seja divulgado no nosso blogue.

Um Abraço Amigo
Manuel Moreira
1.º Cabo Mec Auto da CART 1746

__________
Nota de MR:


Vd. último poste da série em:



5 de Maio de 2011 >
Guiné 63/74 - P8223: Convívios (322): 24.º Encontro do pessoal do BCAÇ 2879 (Guiné, 1969/71), dia 28 de Maio de 2011 em Pombal (Carlos Silva)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7700: Memória dos lugares (129): Ponta do Inglês no tempo da CART 1746 (Manuel Moreira)

1. Mensagem de Manuel Moreira* (ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69), com data de 29 de Janeiro de 2011:

Vou tentar explicar a passagem da CART 1746 pela Ponta do Inglês*.

A Companhia saiu de Bissorã no dia 07 de Janeiro de 1968 para Bissau a fim de ser colocada no XIME.

Esteve nos Adidos até dia 10, dia em que embarcou no "BOR ", rio Geba acima até ao XIME, excepto o 4.º GComb, do qual eu fazia parte, sob o comando do ex-Alf Mil Gilberto Madaíl, que seguiu numa LDM directamente para a Ponta do Inglês onde fomos render um GComb da CCAÇ 1550 que estava em fim de Comissão.

Foi muito MAU pois passados poucos dias começou a faltar os alimentos que tinham sobrado do dito GComb ao ponto de ficarmos sem nada para comer e beber. A Ponta do Inglês só era abastecida por rio porque por terra era impossível e demorou MUUUUITO tempo.

Manuel Moreira no Xime

O Alf Mil Madaíl, sabendo da minha "veia poética", sugeriu-me a fazer uma canção à fome que estávamos a passar e nessa mesma noite (28 Janeiro 1968) saiu a "Canção da Fome" que me fez passar maus bocados, politicamente, como devem calcular !!!!!!!!!!!!

Faziam-se patrulhas diárias às imediações e itinerários que serviam o Destacamento, recolha de água de um poço "democrático" pois, de manhã era nosso e de tarde era do IN, portanto, sem hipótese de contaminação.

Como eu era Mecânico não saía nas patrulhas, ia apenas buscar água ao poço com o Unimog, daí não saber nada sobre a história da Ponta do Inglês, não sou a pessoa indicada mas talvez o Capitão Vaz, algum dos Alferes ou Furriéis que por lá passaram o possam fazer.

Fomos flagelados diversas vezes com armas ligeiras e pesadas mas sem consequências de maior, graças à nossa experiência e valentia e da Secção do Pelotão de Morteiros 1192 que estava connosco.

Talvez devido às péssimas condições de habitabilidade e impossível acesso por terra, provocando assim o isolamento total com a Companhia, se tenha pensado em terminar com o Destacamento da Ponta do Inglês e assim sendo, deu-se início à evacuação no dia 07 de Outubro de 1968 sendo destruído o Destacamento no dia 09 de Outubro de 1968. É o que me ocorre .

Seguem algumas quadras da época e que fazem parte do meu "Diário de Guerra".

221
Companhia dividida
Quando chegámos ao dia dez
Fui com o 4.º Pelotão
Para a Ponta do Inglês

222
Companhia foi p´ró XIME
Que é Sector de Bambadinca
Ficámos todos a saber
Que nesta Zona ninguém brinca

224
Crocodilos em descanço
Com a cabeça no ar
Todos muito alinhados
Para nos ver passar

225
Deixámos o Geba
P´ró Corubal virou-se o leme
Na Ponta do Inglês
Nos largou a LDM

229
Da farinha que nos deixaram
Pouco Pão comemos dela
Tinha tantos, tantos bichos
Que se tornou amarela

230
Dava nojo, vos garanto
Olhar p´ró pão metia medo
Aproveitava-se tanto
Como a cabeça de um dedo

232
Foi na Ponta do Inglês
Que ficou célebre o meu nome
Quando tive que fazer
Uma canção à fome

São algumas das 326 que fazem o meu Diário

Um Abraço a toda a Tabanca e em especial aos meus Camaradas da CART 1746 e do Pelotão de Morteiros 1192.

Manuel Moreira
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7642: Memória dos lugares (122): Ponta do Inglês e Gã Garneis, dois destacamentos, com tristes recordações, no subsector do Xime (Beja Santos / Manuel Bastos Soares / Manuel Moreira / José Nunes)

Vd. último poste da série de 28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7691: Memória dos lugares (128): Foto da Antiga Administração de Gabú (ex-Nova Lamego) (Virgínio Briote/Rui Fernandes)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7642: Memória dos lugares (122): Ponta do Inglês e Gã Garneis, dois destacamentos, com tristes recordações, no subsector do Xime (Beja Santos / Manuel Bastos Soares / Manuel Moreira / José Nunes)



Guiné > Zona Leste > Subsector de Bambadinca > Xime > CART 1746 (1967/69) > 1968 > Destacamento da Ponta do Inglês >  Em primeiro plano, do lado direito, o ex-1º Cabo Mec Auto Manuel Vieira Moreira...  Foi aqui, neste destacamento, de má memória para muitos de nós, que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção da Fome (*)...

Por detrás dos militares da CART 1746 (unidade de quadrícula do Xime), à mesa, partilhando uma refeição, vê-se uma parede revestída a chapas de bidão... que lá ficaram, quando as NT retiraram do destacamento, por ordens superiores, em finais de 1968... (LG) 



Guiné > Zona Leste > Subsector de Bambadinca > Xime > CART 1746 (1967/69) > 1968 > O Manuel Moreira Vieiria junto ao obus 10.5... A CART 1746: teve como unidade mobilizadora o GCA 2, seguiu para a Guiné em 20/7/1967, regressou em 7/6/1969; esteve em Bissorã e no Xime; comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz.



Antes desta unidade de quadrícula, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70), CART 2715 (1970/71), CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...


Não tenho a  certeza se a CCAÇ 21 chegou a estar no Xime.  No final da guerra estava em Bambadinca, como unidade de intervenção. Recorde-se que à CCAÇ 21 pertenceram o Tenente Graduado Comando Abdulai Queta Jamanca, o Alf Comando Graduado Amadu  Dajaló e o meu camarada, da CCAÇ 12, 1969/71, o gigante Abibo Jau, na altura soldado arvorado (ele e o Jamanca foram fuzilados em Madina Colhido, a seguir à independência, ainda em 1974, possivelmente em Setembro, ainda com tropas portuguesas em Bissau)... (LG)


Fotos: © Manuel Moreira / Sousa de Castro (2009). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Beja Santos:

 Data: 18 de Janeiro de 2011 16:47

 Assunto: Alguns esclarecimentos sobre a Ponta do Inglês (**)

 Queridos amigos: O Manuel Bastos Soares ajudou a perceber o que eu vi na Ponta do Inglês [, na margem direita do Rio Corubal, vd. mapa de Fulacunda], mas ainda há muitas dúvidas a esclarecer. Aguardam-se outros depoimentos de quem por lá andou. É muito provável que o destacamento tenha sido extinto no tempo da CART 1746 [, a que pertenceu o ex-1º Cabo Merc Auto Manuel Vieira Moreira, membro da nossa Tabanca Grande).


Praticamente desapareceram vestígios, o de maior dimensão é a casa de Lopes da Costa, que era conhecido como o inglês, certamente pai de Constantino Lopes da Costa, penúltimo embaixador da República da Guiné-Bissau em Portugal [, e um dos actuais proprietários da "ponta", terá lá 50 hectares de terreno, segundo confidência pessoal que fez em tempos ao nosso editor L.G.]. 

Um abraço do Mário

2. Alguns esclarecimentos do Beja Santos sobre a Ponta do Inglês:



Quando descrevi a minha viagem à Ponta do Inglês, em Novembro passado (**), solicitei aos camaradas do blogue que elucidassem algumas questões sobre a criação e a vida deste destacamento sobre o qual não disponho de informações seguras: tanto o Fodé Dahaba como o Mamadu Djau, que aqui foram milícias, não chegaram a acordo sobre o aparecimento do aquartelamento e muito menos sabiam quando foi extinto. 

O que encontrei e registei da presença durante a guerra era muito pouco e as populações da Ponta do Inglês e de Gã Garneis também não ajudaram. Disseram-me existir um professor que tinha a história da região, não o consegui encontrar. 

Correspondendo ao apelo que fiz sobre datas e posicionamento do quartel, respondeu-me o nosso camarada Manuel Bastos Soares que fez a sua comissão na Guiné entre 1964 e 1966. O Manuel Bastos pertenceu à CCav 678, adstrita ao BCaç 697, como companhia de intervenção. Andou por várias localidades, entre Fá, Xime, Ponta do Inglês e Bambadinca. 

Até finais de 1964, os únicos quartéis no regulado do Xime eram o Xime propriamente dito e Amedalai, Taibatá, Dembataco e Moricanhe. Em 1963, Domingos Ramos comandava vários grupos armados a partir da mata do Fiofioli. [Imagem à esquerda, Guiné-Bissau > 1975 > Efígie de Domingos Ramos, em nota de banco de 100 pesos, moeda que já não circula hoje, como se sabe... Herói nacional, morreu em ataque a Madina do Boé, em 1966].

A ocupação da Ponta do Inglês foi tida como indispensável não só para garantir a navegabilidade do Geba (a navegabilidade do Corubal cedo ficou interdita) como importante para dissuadir a presença das forças do PAIGC num amplo território detentor de bolanhas muito ricas como o Poindom e Ponta Luís Dias.

A ocupação da Ponta do Inglês teve lugar em Janeiro de 1965, partiu uma coluna do Xime com militares da CCS do BCaç 697, a CCav 678 e forças de milícia. Inicialmente, o quartel foi feito na zona de Gã Garneis, dispunha dentro do arame farpado de abrigos escavados e cobertos com palmeiras e chapas de bidão de 200 litros.

A ocupação deste território foi inicialmente atribulada. Depois, chegaram ordens para fazer um quartel complementar junto da orla do Corubal. Daí a confusão de, durante a visita, os guias (**) me falarem da ocupação junto ao rio e de um quartel em Gã Garneis. O Manuel Bastos viveu ali entre Fevereiro e Março de 1965 e lá voltou de Outubro a Dezembro do mesmo ano. Houve portanto dois quartéis, com contingentes distintos.

É bem provável que os quartéis tenham sido desactivados no início de 1968. Facto é que quando cheguei à região, em Agosto de 1968, os destacamentos tinham sido abandonados (***).

A vida das tropas foi bem difícil, como se compreenderá. O abastecimento por estrada era uma verdadeira operação militar. Segundo o Manuel Bastos Soares, houve também baixas na região de Ponta Varela, o PAIGC esteve sempre aí muito activo. Foi nessa região que morreu o capitão Pinheiro Torres de Meireles (****), nesse sinistro morreu também um milícia e terá ficado ferido um major. 

A Ponta do Inglês era abastecida por lanchas, as tropas faziam patrulhamentos mas o PAIGC actuava prontamente, a partir da Ponta João da Silva. O Manuel Bastos Soares promete pôr mais uma fotografia no blogue. O que encontrei no Google [, fotos do Manuel Moreira Vieira] é o que se junta e creio que se justifica lançar novo apelo a todos aqueles que estiveram na Ponta do Inglês para falarem com mas rigor desse tempo. Se houver histórias de companhias que relatem a vida da Ponta do Inglês, tanto melhor.

3. Informação do José Nunes [ ou José Silvério Correia Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 15Jan68 / 15Jan70, foto à direita], em comentário ao Poste P7590 (**):

Camarigo Mário,o aquartelamento da Ponta do Inglês estava operacional em Abril de 1968, quando aí nos deslocámos pra montar o grupo gerador, ficava junto ao rio e não havia cais, o Unimogue avançou rio dentro até da LDP [Lancha de Desembarque Pequena] de onde se descarregou o gerados a pulso.

A iluminação era feita [, até então,] com garrafas de cerveja com uma mecha, cheias de combustível, e as havia a servir de alarme, havia muitos macacos na zona que causavam problemas, ao agarrar o arame farpado da zona de protecção.

Foi uma permanência de horas por causa das marés.
José Nunes
BENG 447
Brá 68/70

_________________
Notas de L.G.:


(*) CANÇÃO DA FOME


Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino

...MANUEL VIEIRA MOREIRA.

 (**) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês


(***) Segundo os dados que apurei, para a elaboração da História da CCAÇ 12, ainda em Bambadinca, no no final da comissão, o destacamento da Ponta do Inglês foi abandonado pelas NT em Novembro de 1968:


Vd. História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 24-26. 

(...) (7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN e capturado um guerrilheiro armado na Ponta do Inglês



(...) Em 21 [de Janeiro de 1970], ao amanhecer, saem os 2 Destacamentos do Xime [ Dest A: CCAÇ 12, a 3 Gr Comb;  Dest B: forças da CART 2520]  , apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos que o IN utiliza.

Por volta das 15. 30h, já nas proximidades do objectivo, foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.

Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...) 


Havia 2 tabancas, cada uma com 4-5 casas, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidon e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidons existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.

Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, a excepção das que ficaram armadilhadas.

Os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro. (...)

(****) O Cap Inf 247/59 - EP Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meireles nasceu em 21 de Fevereiro de 1938 na Freguesia de Castelões de Cepeda, concelho de Paredes e faleceu na Guiné, em Ponta de Varela, em 3 de Junho de 1965. Era o comandante da CCAÇ 508 / BCAÇ 697.

Os seus restos mortais estão no cemitério do Prado Repouso, no Porto. Fonte: Portal Utramar Terraweb > Mortos do Ultramar > Concelho de Paredes