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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18195: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 19 e 20: "Podemos casar à vontade e em cinco anos temos dinheiro para comprar uma casa"


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) >   O Dino, no rio  Fulacunda, junto ao "porto fluvial"...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) >   Montando segurança próxima do "porto fluvial": o morteiro 81, na margem direita do rio Fulacunda...

Fotos (e legendas): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva:

Nasceu em Penafiel, em 1950, foi criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12.º ano de escolaridade. 

Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook. É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande .
Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) Faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xi)  Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que  aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda...



2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capº 18: Os substitutos

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]



19.º Capítulo > AS DIFERENÇAS RIDÍCULAS

Dois. Apenas os dois sargentos tinham experiência de guerra. Era com eles que eu mais convivia, devido às minhas tarefas que, afinal, não eram tão simples, como inicialmente me pareciam. Mas para já falemos de outras coisas.

Todos os oficiais eram milicianos, incluindo o capitão, comandante da unidade. Os alferes e furriéis idem. A princípio, não me apercebi do que isso significava, mas depressa compreendi que os conhecimentos de guerra de guerrilha, que era o que se passava nas oficialmente designadas Províncias Ultramarinas, eram praticamente nulos, por parte de quem nos comandava. Creio que sabiam tanto da guerra como eu de escrever à máquina e de contabilidade. Paciência! Iríamos aprender tudo juntos.

Havia, porém, uma coisa que relatei por escrito mais tarde. Todos eles tinham nome. Sr. Alferes tal…, Sargento tal…, Furriel tal… logo, eram muito mais importantes. Acresce que a separação hierárquica, que eu aprendera na recruta, se acentuou no palco de batalha.

Ora, o Cabo de Reabastecimento… EU, tive de conviver com uma situação no mínimo estranha, atendendo ao local onde estávamos.

A messe de oficiais podia requisitar, por meu intermédio, um determinado número de produtos. A messe de sargentos podia fazer o mesmo, ou não, dependendo dos gostos. Para a cantina não podia requisitar, digamos, certos produtos, pois não éramos todos iguais. Mas o pior era que não podia confidenciar aos meus camaradas que determinados produtos só eram destinados aos chefes. Que se lixe! Nós também não gostávamos de bebidas finas, nem de, por exemplo, anchovas.

Em resumo, neste aspecto, acreditem ou não, pensei que essa situação podia dar azo a uma certa indisciplina, por não haver igualdade de direitos num campo onde importava que houvesse um grande espírito de corpo. Felizmente, para todos, nunca ocorreu qualquer ato de insubordinação.

A desculpa que eu dei foi que furriéis e oficiais queriam ter coisas diferentes para nos mimar e um Whisky velho, um Gin Beefeater ou um licor Drambuie ou Tia Maria, eram o ideal. De vez em quando, precisávamos de ser animados. Quando isso acontecia, pensava que era um privilégio que estava reservado aos chefes, o de dar-nos um mimo… e não estranhava!

Que raio! Até eu me armei em dono da loja! E era um merdas dum cabo.

Vamos lá preparar-nos para ir buscar os mantimentos que o barco vem amanhã e é a primeira vez que a responsabilidade de receber os artigos encomendados é minha.

Confesso que gostei de ir ao rio no primeiro reabastecimento da nossa responsabilidade. Tínhamos aprendido a picar a picada e a fazer a segurança ao longo da margem, como documento na foto.

O rio era de maré e a água salgada. Foi a primeira vez que vi tal. Por isso, tínhamos de ser rápidos a descarregar o barco, antes que a maré baixasse. Além de que podíamos ser atacados a qualquer momento. Nunca tive medo nem o vi nas caras dos meus camaradas, nessas operações. Inclusive, aproveitava para dar uns mergulhos.

“Vou mandar-te fotos do rio de Fulacunda. Eu e o Zé Leal parecemos cachopos a brincar na praia um dia ainda te vou trazer aqui”.

Mesmo nas situações em que as Berliets ficaram atoladas dava para rir. Afinal, desatascar viaturas tinha sido uma das minhas competências na instrução. Até sabia lidar com o bloqueio ao diferencial.

Tinha-se alterado a rotina. A guerra haveria de chegar mais tarde e nós, no dia seguinte, íamos receber o pré. Seria a primeira vez, como combatentes em África.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Capa do jornal de caserna, mensal, "O Serrote", edição nº 1, 1973, editado pela 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74). Diretor: alf ml [Jorge] Pinto.

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
20.º Capítulo > UM DESEJO A LONGO PRAZO

Felizmente, eu já percebia de contabilidade e embora me repita por citar o que escrevia naqueles dias, o aerograma que escrevi no dia 5/9/1972, para a minha namorada, devia ter sido uma lição para toda a vida e eu, estupidamente, estou a relê-lo apenas hoje, 13/9/2017, 45 anos e 8 dias depois:

“Vamos ver se consigo juntar 300$00 por mês. Se fizer isso, em 20 meses são 6.000$00. Mando 700$00 para a minha avó. Ela deve poupar para mim, cerca de 400$00 que são 8.000$00. O total são 14.000$00. Como penso que quando regressar devo ganhar 140$00 por dia. Em 12 meses a 26 dias por mês, dá 43.680$00. Se gastarmos 2.000$00 por mês são 24.000$00. Poupamos 19.680$00 por ano. Podemos casar à vontade e em 5 anos temos dinheiro para comprar uma casa. Mesmo que tenhamos filhos eles serão fortes e robustos não nos darão muitas despesas.” (**)

Caríssimos leitores, não era necessário saber contabilidade para fazer estas contas. Como digo, não voltei a ler este texto até hoje. Lamento imenso não o ter feito. De facto, casei com a minha namorada. Temos dois filhos fortes e robustos, fiz uma casa e até tenho uma neta mas não segui o conselho que dava a mim mesmo. Talvez o adulto sexagenário tenha cometido o erro de não respeitar os compromissos de um jovem de vinte e poucos.

Faltavam ainda, pelo menos, 22 meses de comissão. Planeava o futuro e muitos dos meus camaradas faziam o mesmo. Creio que era inconscientemente uma maneira de sentir que tínhamos esse futuro.

No dia seguinte, fui convidado pelo alferes [Jorge] Pinto para participar na criação do jornal da companhia. ["O Serrote"] (***)
- Com poesia ou outras coisas - disse-me ele.

Agora sim, ia enfrentar algo muito perigoso. Ao escrever, corri muitos mais riscos do que estar numa guerra. Contudo, até comecei com um fervoroso orgulho patriótico. Que, creio, não foi publicado.

Exército imenso
Incontrolável numeroso
O das mães da terra portuguesa
Que embalam no regaço
Com doce singeleza
Futuros defensores
Dum nome glorioso


Mulheres que chorais
O pranto dá tristeza
Dá dor sem ter fim
Dá saudade sem igual
Os soldados não morrem
Podeis ter a certeza
Quando caem heróicos
Pelo nosso Portugal
A sua alma ressoa em nós
Como nos reza
E o seu nome
Soa em timbres de crista


(Continua)
_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18164: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 18: Os substitutos dos 'Capicuas' [CART 2772]

(**) Em 1972, estes valores, em escudos, representariam hoje o seguinte (em euros);

300$00 = 69,74 € (mas em 1974, já com forte inflação, valeriam apenas 48,89 €)

6.000$00 = 1394,77€  (977,74€, em 1974)

24.000$00 = 5.579,07€ (3.910,97€, em 1974)

Fonte: Pordata > Portugal > Conversor

(***) Vd. poste de 18 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12467: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VII): Como é que a malta pssava os 'tempos livres'...

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18045: Estórias do Juvenal Amado (58): os meus heróis do 1º de dezembro


Foto nº 1 >  Vários escriturários sendo o penúltimo,  do lado direito, o Silva


Foto nº 2 > Aqui o cap Pamplona a dar conhecimento básicos do morteiro 81 mm a dois escriturários entre eles o Fortes. (O outro camarada não é o Narciso, mas o Silva, 1º cabo escriturário, manda dizer o autor da foto, com pedido de correção da legenda...)


Foto nº 3 >  O André (Russo), maqueiro

Guiné > Região de Bafatá > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)

Fotos: © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto enviado em 3 do corrente  pelo o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor auto rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74),  a propósito da efeméride do 1º de dezembro (*)


HISTÓRIAS DO JUVENAL AMADO (**)

58 - Os meus heróis do 1º de dezembro 



A defenestração do Miguel de Vasconcelos
em 1/12/1640. Imagem de banda desenhada,
cuja autoria não  conseguimos apurar.(M. Gustavo?)
Durante a minha vida passei este dia em diferentes circunstâncias como toda a gente ou quase toda porque o que é importante para uns não é para outros.

Também para mim esta data teve grande importância numas alturas,  e noutras era só mais um feriado aproveitado para descansar .

Serviu de mote a discursos inflamados de nacionalismos, onde altos médios ou pequenos dignatários do pode  despejavam verborreia de palavras num português rebuscado e, muitas vezes ficávamos sem saber o que é que eles tinham dito na verdade. 

Não me lembro de ter retido nada do que se disse a não ser, que falavam da restauração da independência mais do conde de Andeiro e da famigerada Leonor Telles [, na crise de 1383-1385], mas lembro-me bem do frio que passava em calções, de bata branca, no largo junto ao Mosteiro de Alcobaça sob o olhar severo da nossa professora, que de maneira nenhuma aceitaria, que algum de nós faltasse na formatura . Mas o pânico dela seria de que nós fossemos sujeitos a reparo por falta de atenção e garbo infantil na parada onde estavam fardados os membros da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa, mais os bombeiros etc.

Juvenal Amado
As diferenças de opinião entre esta professora e minha mãe, que a conhecia de ginjeira por ter sido aluna dela, levou o meu pai agarrar nos parcos haveres mais família e vai dai fomos morar para a Vestiaria, terra onde a efeméride teve sempre pouco que contar. Acabei lá a 1ª  e fiz a 2ª e 3ª classes.

Só regressei à escola de Alcobaça para fazer a 4ª classe e aí tive como professor um já alto graduado da Mocidade Portuguesa, que ia fardado para a escola nos dias importantes e sempre aos sábados.

Como ele tinha já filhos da nossa idade, não percebia como que ele era da Mocidade Portuguesa, mas há uns anos apareceram as juventudes partidárias em que, são jovens militantes ou jotas até quase serem avós e aí estabeleci a comparação finalmente. 

Não merece a pena aqui exemplificar com nomes em que essa juventude partidária prolongada acabou com o dito feriado para desgosto de republicanos, monárquicos e do povo em geral, que passaram a lastimar o facto.

Mas lá diz o ditado, que não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe e assim, como Portugal viu a sua independência restaurada no 1º de dezembro de 1640, a tão insigne data foi restaurada como feriado nacional em 2016, com a curiosidade de que até quem acabou ou ajudou a tirar o feriado, vir hoje a terreiro congratular-se com a reposição do mesmo e dizer Muito bem! Muito bem!! Muito bem!!!

E dizem em alto e bom som, como se a verdade os tivesse iluminado e viesse de como um raio só para eles; “Era um direito do povo português ver este dia começar ainda deitado, como num feriado que se preze”. Sim porque em pleno inverno, não se podendo ir fazer ski (ou sku) à Serra Nevada, resta-nos o prazer de ficar no quentinho mais uma ou duas horas.

Não há nada mais certinho e direitinho , que os direitos do povo … bem, nem sempre como se sabe.

Mas a data passou a ter para mim outro significado, há 45 anos, pois precisamente neste dia o meu destacamento foi violentamente atacado ao arame pelos guerrilheiros do PAIGC, felizmente só com algumas escoriações e muita valentia, que não tinha nenhum patriotismo mas sim vontade de sobreviver.

Ontem faltavam 10 minutos para as 22 horas, relembrei aquela noite em que estando tão perto da malvada, constatei de quanto é estreita a linha que nos separa da vida e da morte.

Veio-me à memória os nomes dos camaradas que estavam comigo e os que, mais prontamente, reagiram ao ataque bem como os que estavam no mato, que podiam ser atingidos quer por fogo inimigo como amigo .

Ao Lourenço,  1º cabo mecânico auto, que deu as rajadas que obrigou o inimigo a denunciar-se cedo de mais, ao André, maqueiro, mais o Silva, escriturário, que usaram o morteiro 81 de forma evitar o pior, mais os que, de uma forma ou outra o melhor que puderam, reagiram com G3 e puseram em fuga os guerrilheiros,  renovo com muito obrigado. Para mim, foram os heróis desse 1º de dezembro...

Mais tarde uma pessoa muito importante para mim, também faz da data um dia de comemoração bem mais agradável.

Um grande abraço para todos tabanqueiros

PS - Na CCS foi ministrado um frugal treino de manuseamento dos dois morteiros 81, bem com da MG 42, a cozinheiros e corneteiros e escriturários já que os pelotões operacionais saíam em colunas ou patrulhas ora uns, ora outros, e os seus abrigos eram longe das referidas armas. Possivelmente terá sido assim noutras CCS.
__________________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 16 de outubro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17866: Estórias do Juvenal Amado (57): A minha avó Deolinda Sacadura, uma mulher do 5 de Outubro

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16279: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIII - Memórias do Victor Manuel Pereira Borges, 1º cabo, cantineiro e apontador do morteiro 81




In Histórias da CCAÇ 2533. Edição de Joaquim Lessa, tipografia Lessa, Maia, s/d, pp. 106.





1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas,  com fotografias). (*)

Trata-se de uma brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos). Chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel, para consulta.

Temos a devida autorização do editor e autores para dar a  conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

O primeirop poste desta série é de 16/4/2014. As primeras 25 páginas são do comandante da companhia, o cap inf Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor ref. Tanto esta companhia como a minha CCAÇ 2590  (mais tarde CCAÇ 12) viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressaram juntas, a 17 de março de 1971, no T/T Uíge!... Temos, pois, aí uma fantástica coincidência!..

Hoje reproduz-se o texto da autoria do ex-1ºcabo ap mort Victor Manuel Pereira Borges, cantineiro e apontador do morteiro 81 (pp. 103-106). Julgamos que as fotos também sejam dele. Recorde-se que a CCAÇ 2533 teve 3 baixas mortais, uma delas a do alf mil António da Fonseca Ambrósio, morto em combate, no corredor de Lamel, em 21/12/1970, e que é aqui evocado no texto a seguir.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12465: O que é que a malta lia, nas horas vagas (19): Tínhamos uma biblioteca de 80/100 livros, herança da CART 2340 (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "O Luís Nascimento, municiador e apontador do morteiro 81, a meias com o Borges,  cantineiro, prontos para o combate que acabava na cantina com umas bazucadas"...




Guiné > Região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "O cripto treinando vólei com uma equipa da companhia do Carlos Silva, de Jumbembem".


Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Questões postas pelo nosso editor Luís Graça ao Luís Nascimento [ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71], em comentário ao poste P12385 (*):


Já agora vou pôr ao camarada Luís Nascimento, na sua qualidade de "bibliotecário" de Canjambari, algumas questões:

(i) quantos livros tinha a biblioteca ?

(ii) onde é que estava instalada ?

(iii) quem fornecia os livros ? Movimento Nacional Feminino ?

(iv) que tipo de livros ? ficção, história, poesia, viagens, policial, divulgação científica, filosofia, religião, etc. ?

(iv) era muito procurada ? por quem ?

(v) havia "empréstimo domiciliário" ? a malta podia levar para a caserna, o abrigo, o destacamento, o mato ?

... Abraço grande. Beijinho para a tua neta. LG

2. Resposta do nosso camaradada, através da sua neta, Jéssica Nascimento, em  5/12/2013:



Boa noite,  caro amigo Luis Graça,

Quanto à resposta,  a biblioteca já existia em Canjambari, foi herança da companhia de artilharia, a CART  2340, que fomos render.

Tinha cerca de 80 a 100 livros e revistas e estava instalada na cantina que servia de messe de oficiais e sargentos nas horas das refeições. Era mais praças que procuravam, tanto para o abrigo como para o mato.

O Sr. Capitão Sidónio deu logo que fazer aos sornas,  ou seja aos dois criptos: ao João Ferreira Duarte incumbiu-o de dar aulas aos miúdos para isso mandou-o para Bissau reciclar-se durante um mês;  ao boémio [, Luís Nascimento,]  deu-lhe a responsabilidade da biblioteca, municiador do morteiro 81 (a meias com o Borges cantineiro), desmanchar as vacas que tinham mais osso do que carne, que se iam buscar ali para os lados de Cuntima e, vejam lá, treinador da equipa de vólei da 33, por ter sido jogador da modalidade na Escola Técnica Nuno Gonçalves, na Alves Roçadas e na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Belém, antigo campo das Saléssias (Belenenses) .

Abraço Camarada,

Sir Assassan

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12385: O que é que a malta lia, nas horas vagas (4): a revista "Flama", o jornal "A Bola"... e o livro de contos e narrativas do Armor Pires Mota, "Guiné, Sol e Sangue" (Braga, Pax ed., 1968) que havia na biblioteca... (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10788: Álbum fotográfico do Alberto Pires, Teco, ex-fur mil, CCAÇ 726 (Guileje, out 64/ jun 66) (Parte V): A vida de um quartel de fronteira (Parte I)









Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64 > Aspetos diversos da vida de um quartel de fronteira:

(i) o temível morteiro 81, o "botabaixo" (. bem manobrado, fazia razias entre o pessoal atacante, num raio até 6 km);

(ii) a célebre e heróica  Fox, de matrícula MG-36-24, que resistiu a tudo e todos, acabando ingloriamente, como ferro velho, nas mãos do PAIGC em 25 de maio de 1973;

(iii) uma não menos heróica GMC, caída finalmente por terra; (iv) uma também heróica GMC, de matrícula ME-00-589, de alcunha "Sobre Rodas", que deve ter fintado e sobrevoado muita mina...;

(v) mais uma foto da epopeia da construção dos abrigos;

e, por fim, (vi) uma missa campal, porque Guileje  era uma terra de fé e de coragem, lembrava o nosso saudoso  Zé Neto (1929-2007) [, o primeiro membro ativo da nossa Tabanca Grande que a morte veio ceifar; estava reformado como capitão,  e tinha uma brilhante folha de serviço; a última batalha contra o cancro do pulmão teve um desfecho fatal no dia 29 de maio de 2007; o Zé era o nosso patriarca, o nosso decano, o nosso homem grande; pertenceu à CART 1613, Guileje, 1967/68].

O historial da  Fox MG-36-24 também merece ser aqui relembrado: pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas...

Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em Maio de 1973, quando ocuparam o quartel! Portanto a Bêbeda (que vai ficar para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"...  

Fotos: © Alberto Pires (Teco) (2007) / AD - Acção para o Desenvolvimento. [Editadas por L.G.]. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Alberto Pires, mais conhecido por Teco, natural de Angola, ex-fur mil na CCAÇ 726, a primeira subunidade a ocupar Guileje em 1964)... A companhia esteve em Guileje entre Outubro de 1974 e Junho de 1966.

As fotos que estamos a publicar pertencem a um lote que o Teco pôs à disposição do Núcleo Museológico Memória de Guiledje e do nosso blogue (são mais de 60 fotos). Não trazem legenda, mas estão agrupadas por temas: (i) CCAÇ 726 (Guileje); (ii) construção de abrigos (Guilje); (iii) destacamento de Mejo; (iv) operação militar; e (v) guerrilheiros mortos (neste caso, são apenas duas as fotos disponibilizadas)...

Estas fotos que publicamos hoje, têm a ver com o primeiro tema. As fotos foram editadas por nós com vista à melhoria do seu enquadramento e resolução. Sabemos que o Teco e o Carlos Guedes têm em mãos a elaboração de uma publicação com a história da CCAÇ 726. E esperamos que um dia destes eles nos ajudem a melhorar a legendagem do álbum. (LG)
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terça-feira, 13 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, junto ao obus 10,5 com  a mascote da companhia, um menino do mato, Augusto Martins Caboiana, que todos os camaradas da CCAÇ 16 adoptaram e ajudaram a crescer...



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco  e o João Pereira no espaldão do Mort 81.




Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, na "tradicional foto na árvore de grande porte" [, poilão].





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1973 > O Augusto, feliz e sorridente, foi o motivo principal  do cartão de boas festas do Natal de 1973.





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1972 > Cartão de boas festas





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > 22 de Julho de 1973 > Um convite criado pela "comissão de festas"...

Fotos: ©António Branco (2010). Direitos reservados

1. Mensagem do António Branco, um dos membros mais recentes da nossa Tabanca Grande (*)


Data: 11 de Julho de 2010 22:19

Assunto: Memórias do Bachile


Camaradas

Hoje resolvi partilhar um pouco,  ainda que de forma superficial, a minha experiência vivida durante cerca de dois anos no Chão Manjaco, Bachile e CCAÇ 16.

Não pretendo evidenciar os momentos mais belicistas desta minha experiência, porque isso deixo para os mais entendidos na matéria, quero sim antes de mais realçar quanto para mim foi gratificante experienciar os contactos sociais mais diferenciados.

Na totalidade na companhia éramos apenas,  se a memória não me falha, cerca de trinta metropolitanos das mais diversas origens, das mais variadas classes sociais e com níveis de cultura diferentes.

Mas estas diferenças não eram minimamente visíveis no dia-a-dia, porque entre todos sempre existiu uma enorme cumplicidade tal como se de uma família se tratasse.

O facto de a maioria dos camaradas terem ido para o Bachile em rendição individual, a meu ver proporcionou uma maior e mais forte aproximação, camaradagem e solidariedade entre todos.

Recordo com muita frequência que um problema,  de qualquer um de nós, era um problema de todos e só descansávamos quando se possível o problema conseguia ser sanado.

Quando havia motivos para festejar, festejávamos todos, reforçando assim esse espírito familiar que se vivia.

Todos os dias e nas mais diversas situações, aprendíamos algo uns com os outros, todos os dias se cimentava a cumplicidade de um grupo de homens que,  apesar da sua juventude, tinham bem presentes valores cada vez mais difíceis de encontrar.

Com os militares africanos sempre tive um extraordinário relacionamento, encontrei muito boa gente e compreendi muitas vezes as suas frustrações.

O Augusto Martins Caboiana, um menino que todos ajudámos a cria, e do qual gostava de saber o seu paradeiro,  foi estou em crer um ponto marcante para todos que passaram pelo Bachile.

Em anexo algumas fotos do Augusto que camaradas de outras companhias, enfermeiras pára-quedistas e camaradas da Força Aérea concerteza recordarão.

Não refiro outros nomes para não ferir susceptibilidades, pois a memória e o tempo decorrido já não permite que os recorde a todos, até porque enquanto desempenhei funções no bar de sargentos foram muitos os camaradas de outras companhias com quem convivi quando da sua passagem pelo Bachile com destino a operações na zona da Caboiana.

Falta-me referir o privilégio que foi contactar com muita da população civil que nas mais diversas situações foi sempre de uma extrema cordialidade, humildade e sem dúvida merecedora de uma vida melhor.

Aprecio imenso todas as iniciativas de origem particular de apoio à população da Guiné e estou sempre muito atento a tudo o que com esta terra se relacione.

Tenho esperança de vir ainda a encontrar mais camaradas que estiveram no Bachile para que com a experiência de cada um contar a história daquele que foi um simples bocado de terra rodeado de mato por todo o lado e que hoje pouco ou nada sabemos como é.

Voltarei à tabanca com mais relatos de experiências guardadas na memória e com mais fotos que espero ajudem a reencontrar outros camaradas.

Um abraço para todos

António Branco

Exz-1º Cabo Reabastecimento Material
CCAÇ 16  -Bachile  (1972/74)


_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74


(...) Sou natural de Lisboa onde nasci em 24-06-1950 e onde ainda resido. Estou presentemente reformado após ter passado por um período de três anos desempregado e sem poder exercer a minha actividade na área do sector automóvel que iniciei com quatorze anos.


Na sequência da situação de desempregado, ocupei o tempo disponível melhorando o meu nível de escolaridade completando o ensino secundário e consequentemente entrei no mundo das novas tecnologias.


Foi assim que acedi ao blogue que faz já parte dos meus favoritos e que visito diariamente pois sou fã incondicional de tudo o que diz respeito à Guiné e muito particularmente ao Bachile e à CCAÇ 16.


E foi através desta enorme família residente na tabanca que decorridos 38 anos consegui encontrar lá longe na China o ex-Capitão José Martins, o ex-1.º Cabo Operador Cripto Miranda, o ex-Furriel Bernardino Parreira, o ex-Furriel José Romão e mais recentemente o ex-1.º Cabo Mecânico Auto João Pereira. (...).

Vd. também poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

domingo, 10 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3126: Estórias do Juvenal Amado (14): Morteiro no meio da Parada de Cancolim



Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro
1972/74



1. Mais uma estória do camarada Juvenal Amado (1) nos chegou. É também uma homenagem aos meninos de suas mães que deixaram a vida prematuramente.

Cancolim > Abrigo do Morteiro 81


O MORTEIRO NO MEIO DA PARADA

CANCOLIM


Nunca consegui compreender, o porquê da colocação do abrigo do morteiro 81 mm no meio da Parada.

Tal localização obrigava os apontadores e municiadores de Cancolim, a correrem debaixo do fogo inimigo, mais de trinta metros pela parada, sem qualquer protecção.

Esta Companhia não teve sorte em terras da Guiné.

Estava há talvez 15 dias em Cancolim, quando sofreu a primeira flagelação. Oito dias depois sofre outra. E precisamente oito dias depois, sofre um violento ataque de morteiros 82.

Tudo indica que as duas primeiras flagelações foram só para marcar o alvo e assim direccionar o tiro pesado desse dia.

Ia pernoitar em Cancolim como de costume, após coluna de reabastecimento.

Mal conhecia o destacamento, pois só lá tinha ido uma vez e ainda estávamos naquele período de adaptação operacional, enquadrados pelos velhinhos que íamos render.

Conhecia vagamente o Apontador de Morteiro Correia, amigo do meu irmão Ivo. Mas esse pequeno elo foi o suficiente para ser por ele adoptado sempre que ia em coluna, lá.

Estavam a construir umas instalações sanitárias junto à caserna do lado direito, para quem entrava no destacamento. Até aí, as nossas mais prementes necessidades fisiológicas tinham que ser feitas nuns buracos junto ao arame farpado e para tal, tínhamos que avisar a sentinela.

Tinha anoitecido há pouco, estava de conversa com alguns camaradas, junto das valas como era hábito. Naquele destacamento ninguém se recolhia antes das dez horas da noite.

De tempos a tempos ouviam-se tiros e rajadas dadas pelos sentinelas. Aquilo incomodava-me, pois era impensável que tal se fizesse em Galomaro.

Quando se pesca à cana, temos duvidas se o peixe morde se é o mar que faz estremecer a cana, mas quando é peixe mesmo não há duvida nenhuma. Assim é com um ataque. Ao primeiro som não temos duvidas.

O som das saídas de morteiro 82 do IN não deixam lugar para o talvez. Deixámo-nos cair para dentro das valas e abate-se sobre nós um dilúvio de ferro e fogo.

As explosões são seguidas, pois um apontador experiente pode pôr quatro ou cinco granadas no ar. Quando elas começam a cair, o efeito é devastador.

Penso que o nosso organismo tem meios de nos fazer ignorar parte do que se está a passar, pois ao ficarmos surdos, deixamos de ter a total percepção do inferno em que estamos.

Uns disparam as suas armas, outros choram e apelam para Nossa Senhora de Fátima (*), eu lá ia disparando a minha arma, estou aterrorizado.

O nosso morteiro responde ao fogo desde o primeiro momento, alguns camaradas atravessam a correr, em campo aberto, transportando cunhetes de granadas para municiar o morteiro.

Como invejei essa valentia.

Não sei quanto tempo durou, mas sei que foi demais.

Pouco a pouco, a violência do ataque abrandou.

O fumo, o pó e o cheiro, manteve-me muito tempo sem me mexer. Espreitava pelo bordo da vala para ver se descortinava o que se passava.

Havia mortos e feridos, foi a noticia que começou a correr pelas valas.

A madrugada com a sua luz redentora, mostrou-nos a destruição e os estilhaços espalhados por todos o lado.

Cancolim > Depois do ataque, não faltavam embalagens vazias de granadas espalhadas junto ao abrigo do morteiro 81

Estavam três camaradas mortos dentro de uma vala. Uma granada tinha rebentado dentro. Os seus corpos destroçados foram, como possível, depositados nos sanitários em construção.

Foi uma triste inauguração.

Essas obras ficaram muito tempo por concluir em memória dos nossos mortos. Havia feridos, falou-se num dos velhinhos ter ficado cego de um dos olhos e o próprio capitão novo (**), foi ferido ainda que ligeiramente no pescoço por um estilhaço.

Foram os nossos primeiros mortos em combate. A morte em combate nunca é limpa, ao contrário do que até ali tinha visto, nos filmes de cowboys e de guerra made in América.
Não os conhecia em vida e a imagem que guardo deles, é daqueles corpos desfeitos no chão das casas de banho por acabar.

Faz-me lembrar um poema sobre a Guerra, em que se fala no menino de sua mãe (***), também ali estavam estendidos os meninos de suas mães. Como a maioria nós nem barba tinham.

Tombaram assim no campo de batalha os nossos camaradas e é em memória deles esta estória.

José António Paulo - natural de Mirandela
João Amado - natural de Vieira de Leiria
Domingos de E. Santos Moreno - Natural de Macedo de Cavaleiros

(*) Também do lado dos guerrilheiros nos momentos de aflição se chamaria possivelmente por Fátima, neste caso a filha de Maomé.

(**) O capitão ferido veio a desertar logo de seguida, numa viagem que fez à Metrópole. Era um miliciano bastante querido pelos seus soldados e a imagem que tenho dele, é de um homem sensível que não foi talhado para guerreiro. Onde estiver desejo-lhe a melhor sorte.

Não foi culpado de maneira nenhuma pelo o que aconteceu e o que viu foi demais para ele.

Foi substituído mais tarde pelo Capitão Rosa também miliciano.

Este homem ficou famoso entre nós pela sua intervenção na reunião havida em Galomaro com o General Spinola.

O General, no seu discurso aos oficiais disse em dado momento que devíamos à Pátria o sacrifício, até das nossas vidas.

O então Capitão Rosa, dando voz ao que muitos pensavam, respondeu que a nossa Pátria é a que nos dá paz, bem estar e futuro e, aquela que o General referia, não era de modo algum essa.

Não posso jurar que tenham sido rigorosamente estas as palavras mas o fundamento foi o mesmo

(***) O MENINO DE SUA MÃE

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas trespassado
Duas, de lado a lado
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
O menino de sua mãe.

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
Que volte cedo, e bem!
(Malhas que o Império tece)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

(Fernando Pessoa)
_________________

Nota de CV:

(1) - Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3110: Estórias do Juvenal Amado (13): Pela calada da noite

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2771: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (28): A euforia de comandar cem homens na Op Rinoceronte Temível


A relíquia mais preciosa da Rinoceronte Temível,8 e 9 de Março de 1970. O PAIGC estava moralizado e assenhoreara-se do território à volta do Xime. As operações de Fevereiro foram intimidatórias para as nossas tropas, o capitão Maltez estava ferido, os rebeldes voltaram a atacar embarcações no Geba, a escassos quilómetros do Xime. Era importante uma chicotada psicológica.É este o contexto em que me entregam a concepção e execução da Rinoceronte Temível: o inimigo teria de ser surpreendido,temporariamente rechaçado.Procurei aproveitar o potencial de fogo dos obuses e combinei com os artilheiros este código que seria usado numa emergência:por hipótese, se estivessemos a ser emboscados em D ( entre o Poidom e Ponta Varela)eu pediria pelo rádio, em claro, E,A ou B,consoante a posição do inimigo.Logo avisei os artilheiros que eles tinham de confirmar a letra pedida, para não nos matar...O código resultou às mil maravilhas,como se viu perto de Gundaguê Beafada, no baixio da bolanha do Poindom, quando retirámos para o Xime. Usarei este código dias depois, na Jaqueta Lisa. Esquema primitivo,mas que desorientou a aguerrida força do PAIGC que actuava entre o Buruntoni e a Ponta do Inglês. (BS)






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > 1968 > CART 2339 (1968/69) > Espectacular imagem da alma do obus 10,5... A verdade é que as peças de artilharia tinham alma, segundo nos garantiam os artilheiros... Em Março de 1970, havia 3 destes, no Xime, guarnecidos pelo 20º PEL BAC 1, sendo a unidade de quadrícula a CART 2520 (Xime, 1969/71). Havia ainda um esquadrãop de morteiro 81, do Pel Mort 2106. Na zona de acção do Xime, havia ainda uma Companhia de Milícia, a CMIL 14, com o Pel Mil 241, o 242 e o 243, destacados em Amedalai, Taibatá e Dembataco, respectivamente. Eram três aldeias fulas, em autodefesa. Os fulas eram os nossos principais aliados, na região. Aos olhos das autoridades militares de Bambadinca, a lealdade dos mandingas do Xime era posta em dúvida, para não falar já dos balantas de Nhabijões e de Mero... (veja-se a História do BCAÇ 2852, 1968/70). (LG)

Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Cópia da 1ª página do relatório«Rinoceronte Temível» , 8 e e 9 de Março de 1970, da minha responsabilidade.

Deu trabalho, pois sabia da responsabilidade de escrever para o futuro: nome dos feridos, material deteriorado, proposta de louvores,munições consumidas,sugestões para procedimentos operacionais ulteriores. As omissões num relatório podiam provocar danos irreparáveis,caso dos acidentados em combate. Forças executantes: Pel Caç Nat 52; CCAÇ 2520, a 3 Gr Comb.


Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 29 e 30 de Janeiro de 2008:


Luís, aqui vai mais um episódio. As ilustrações seguirão ainda esta tarde. Por favor, não te esqueças que tens aí o croquis referente a esta operação. Se desapareceu, é só dizeres que eu reenvio. (...) Vou agora arrumar estes 28 episódios, já que é obrigatório entregar tudo até 30 de Julho. Tenho pelo menos mais 24 a 25 episódios pela frente, é imperioso fazer uma pausa entre Março e Abril para criar distância e evitar a escrita burocrática, risco que quero evitar. O nosso almoço mantém-se de pé. Não excluo entregar-te esta prenda de Natal em Dezembro de 2008... Um abraço do Mário


Operação Macaréu à Vista - Parte II > Episódio n.º XXVIII > VAMOS FAZER COMO EM OS CANHÕES DE NAVARONE (1)

Beja Santos

(i) A discrição (e a descrição) dos preparativos

Cozinho a operação Rinoceronte Temível no mais completo sigilo. O tempo urge, tenho que tomar decisões para a acção e comunicá-las superiormente. Vivo a euforia de, pela primeira vez, me terem dado o comando de uma operação com mais de cem homens. Ainda por cima, uma batida no Poidom, passando pelas margens do Buruntoni. Exijo a mim próprio qualquer coisa de muito especial

Assim, a 4 de Março, no silêncio sepulcral da sala de operações, com o furriel Pinto dos Santos fartinho de aturar as perguntas que vou pondo sobre a região do Xime, olhando atentamente o relevo da mata do Poindom, tomo a decisão e revelo-a em voz alta:
- Pinto dos Santos, a 8 a noite é de negrume total, sairei pelas três da manhã de Ponta Varela, e vou entrar com cem homens dentro da bolanha alagada, se tudo correr bem e ninguém morrer afogado entro directamente no acampamento desses gajos que vivem perto da Ponta do Inglês. Se esta guerra é feita de surpresas e imprevistos, nós vamos surgir dentro das águas, no local mais insuspeito e inesperado. Se a surpresa não for completa, eles não vão acreditar no armamento que levo. Decidi transportar 1 morteiro 81, 3 morteiros 60 e todas as bazucas e dilagramas disponíveis. Vai ser um arraial de fogo como nunca se ouviu nas margens do rio Corubal.

O Pinto dos Santos olhava-me aturdido, supus mesmo que se interrogava se eu não estava alucinado. Com os bons modos que eram o seu timbre, engoliu em seco, ganhou coragem e disparou:
- O meu alferes leu certamente que há muita população a viver nesta mata, atacam quando querem em Ponta Varela as embarcações, se vocês forem pela bolanha serão rapidamente detectados ao amanhecer. Pode imaginar os perigos de uma flagelação com as tropas dentro de água, sem puderem reagir com morteiros. Acredito no factor surpresa mas se esta falhar poderão cair na pior das armadilhas, não há aviação que vos salve.

Agradeci os comentários ao Pinto dos Santos e antes de sair da sala de operações escrevi no meu caderninho viajante: no Xime, explicar cuidadosamente a progressão até Ponta Varela e a responsabilidade dos guias em levarem-nos dentro da bolanha pelos locais menos alagados; conversar com os guias e com os meus soldados que conhecem a região na presença dos oficiais e sargentos; mandar mensagem para que o Bacari Soncó se apresente aqui a 7, ao amanhecer, com pelo menos dez homens; pedir autorização para levar dez carregadores, recrutáveis em cima da hora, em Amedalai; mandar chamar amanhã o comandante das milícias de Amedalai; falar com o Calado sobre o material de transmissões, incluindo as colecções de telas; combinar com o Augusto as viaturas que nos vão levar ao Xime, não esquecendo o grupo de combate de Mansambo que vai ficar a reforçar a vigilância do Xime; encontrar solução para o fogo de artilharia que nos deverá proteger logo que começarem as emboscadas ou flagelações no Baio, Buruntoni, Ponta Varela ou Madina Colhido; todos os homens vão levar obrigatoriamente dois cantis, se possível haverá cinco ou mais jerricãs pesados, transportados pelos carregadores, o calor agora é intenso; deixar obrigatoriamente a comida salgada das rações de combate no Xime e tentar arranjar fruta em grandes quantidades, em Amedalai e no Xime.

A 5 [de Março de 1970], com o ar mais natural do mundo, anunciei aos meus que iríamos para a ponte dois dias e a seguir para os Nhabijões. Nessa manhã, conversei pela última vez com o major Sampaio sobre os efectivos e a articulação com o apoio aéreo reservado para 8 e 9. Quando ele me perguntou se eu ia pela estrada para a Ponta do Inglês e quando lhe respondi que esperava entrar ao amanhecer na barraca do Poindom pela bolanha, ele disparatou:
- Beja, essa é o cúmulo, prevê-se uma noite sem lua e você vai por terreno alagado. Só me falta dizer que pretende apoio das lanchas da marinha!.

Eu já estava preparado para estes remoques, e disse-lhe sem pestanejar:
- Por andarmos em terra firme durante o mês de Fevereiro é que fomos descobertos e retirámos com mortos e feridos. Vou fazer como em Os Canhões de Navarone, vou aparecer por onde não sou esperado. Como em tudo na vida, também preciso de sorte. Farei tudo para que ela esteja do meu lado!.

(ii) De Bambadinca para o Xime

Regressámos da ponte a 7, ao anoitecer, informei os furriéis que em princípio teríamos uma coluna de reabastecimento ao Xitole, na manhã seguinte. Não terei sido muito convicto quando fomos interrompidos pelo Queirós que me perguntou se era verdade que existia uma requisição para granadas de grande potência para o morteiro 81, perguntou-me mesmo se ele ia levar o morteiro, coisa que até agora não tinha acontecido nas colunas para o Xitole.

Lá atamanquei uma resposta, mas vi perplexidade no olhar cruzado do Cascalheira e do Ocante, os meus directos colaboradores. Por portas e travessas, e sem alardes, ao amanhecer de 8 apareceram munições, transmissões, viaturas, rações de combate, quem vinha para partir para o Xitole ficou a saber que tinha de levar mosquiteiros e bornais, e se dúvidas ainda havia que íamos para uma operação elas dissiparam-se com a chegada de Bacari Soncó que apareceu empertigado à frente de onze milícias impecavelmente fardados e armados. Minutos depois, chegava a coluna de Mansambo com um grupo de combate da CCaç 2404 que iria ficar a defender o Xime.

Organizada a coluna com duas GMC, um Unimog 404 e um Unimog 411, a que se juntaram as viaturas de Mansambo, partimos para Amedalai. Por essa altura, já havia rumores de que as gentes do Buruntoni e de Galo Corubal iriam passar a minar a estrada Bambadinca-Amedalai e, à cautela, um grupo de combate da CCaç 12 (2) partiu à nossa frente com picadores.

Em Amedalai, juntaram-se as milícias de Bobo Seidi, um notável operacional, sensato e dotado de qualidades de comando. Foi aqui que fretei vários carregadores para o transporte de munições e jerricans de água. Um pelotão do Xime esperava-nos em Ponta Coli, daqui até Taliuará voltámos a picar, pela hora do almoço estávamos no Xime. Pedi aos meus camaradas da Cart 2520 para irmos ver o obus. É enquanto estou a conversar com os artilheiros sobre a reacção habitual ao fogo inimigo que me ocorreu a solução de combinar com eles a improvisação de um croquis em duplicado (eu passava a ter um exemplar, outro ficava em poder dos artilheiros) em que referenciávamos por letras diferentes locais em Ponta Varela, Poindom, Madina Colhido, Gundaguê Beafada, Baio e Burutoni, e assim, por exemplo, se estivéssemos a ser atacados em A eu pedia fogo para C, em E eu pedia fogo para G, em F eu pedia fogo para H ou I, ou seja, seria possível desconcertar a força atacante, silenciando-os e retirando-lhes a possibilidade de reincidirem no potencial de fogo e desorientá-los acerca da nossa posição no terreno. Mas não deixei de os advertir:
- Falarei em claro pela rádio, repetirei a letra duas vezes. Do outro lado, vocês vão confirmar que ouviram aquela letra. Não se esqueçam que uma troca de letras pode significar dezenas de mortos!.

Enquanto um dos alferes elaborava os croquis, a comer num espaço simpático com caravanas que me disseram ter pertencido às actividades topográficas de Amílcar Cabral, fui apresentando aos oficiais e sargentos os planos para a acção. Assim, logo a seguir à refeição sairíamos do Xime em direcção à bolanha de Ponta Varela, seria um patrulhamento minucioso para detectar sinais da presença do inimigo, quer para conhecer as culturas como os pontos utilizados para atacar as embarcações, que sabíamos ser na entrada do Geba estreito.

Em Ponta Varela ficaríamos emboscados até de madrugada, e começaríamos a progredir pela bolanha do Poidom. Só em Ponta Varela falaríamos com os guias e os meus soldados conhecedores do terreno. Aí pelas 4h30 da manhã, haveria fogo de obus para a região do Baio, um pouco à semelhança do que estava a acontecer nas semanas anteriores, para convencer o inimigo de que se mantinham os procedimentos normais. Mais adiantei que se tivéssemos a sorte do nosso lado iríamos surpreender a população do Poindom e as tropas que os defendiam, a responsabilidade do ataque era da minha inteira competência, o Pel Caç Nat 52 seguiria à frente com as milícias de Finete e de Amedalai. Numa folha de papel, organizámos a disposição da coluna, incluindo os carregadores. Pelas 4h da tarde, despedi-me de quem ficava, mostrei ao Cascalheira o local onde colocara o croquis na camisa, dando-lhe a saber que no caso de eu ficar fora de combate seria ele o responsável pelos contactos com os artilheiros do Xime. E deixámos o arame farpado.

(iii) OP Rinoceronte Temível: O desenrolar da acção

Tudo se iniciou com um mau presságio. Numa carta que escrevi à Cristina em 10 de Março, refiro o pequeno desastre que afectou o 1º cabo José Remédio Pereira que à saída do quartel se acidentou, disparando um tiro que lhe despedaçou um dedo.

Entregue o ferido na enfermaria, para evacuação, recomeçámos a operação com o reconhecimento da região da extinta tabanca de Ponta Varela, aqui emboscamos e houve tempo para conversar com os guias mais os soldados Queta Baldé e Mamadu Djau, explicando-lhes detalhadamente que escolhessem itinerários na bolanha que, de acordo com as informações disponíveis, iriam dar ao acampamento das populações controladas pelo PAIGC. E mergulhámos no silêncio, na escuridão, na vigilância.

Depois do mau presságio à saída do Xime, tivemos o primeiro sinal de sorte. No alto da madrugada, ouvimos a progressão cadenciada das embarcações que se deslocavam no Geba, com lentidão e barulho, aproveitámos todo este ruído inusitado e graças à perícia dos guias entrámos em caminhos acima da água, entre o tarrafe e os campos de arroz. Foi uma caminhada muito penosa, tinha pedido a todos para não haver sinal de vida mas as leis da gravidade foram mais fortes que o meu desejo, manifestando-se por tombos aparatosos, banhos lamacentos imprevistos, um momento houve em que se julgava ter desaparecido um prato de morteiro dentro do lodo.

Cerca das 4h da madrugada, o obus fez fogo sobre a região do Baio, como previsto. Passava das 5h da manhã quando o guia Mankaman Biai me veio dizer que tinham sido descobertas duas picadas muito batidas, uma na direcção da foz do Corubal, outra a apontar para o tarrafe do Geba. Não hesitei na resposta:
- Mankaman, vamos em direcção ao Corubal, estamos muito perto da barraca.

(iv) O ataque, a batida e a retirada

E estávamos. Minutos depois, fomos surpreendidos pelos disparos das costureirinhas, pelas granadas de mão e pelo fogo do RGP 2. Tal como estava combinado, o Pel Caç Nat 52 inflectiu à esquerda, um grupo de combate da CART 2520 guinou à direita, eu dirigia o fogo dos morteiros e das bazucas para a periferia da mata. O importante naquele momento era silenciar o inimigo, dividi-lo, inquietá-lo com o potencial de fogo.

O inimigo retirou depois daqueles escassos minutos de resistência e entrámos no primeiro acampamento constituído por casas de mato, cerca de dez, com dotação de mais de uma dúzia de leitos, cada. Era seguramente a residência dos cultivadores da bolanha, como comprovava igualmente o vestuário e o equipamento abandonados.

Enquanto incendiávamos as casas de mato, o solo à nossa volta foi sacudido por várias morteiradas, dei ordem para prosseguirmos enquanto que o Queirós, Cherno e Mamadu Djau, entre outros, aliviavam as cargas dos carregadores em munições. Novo silêncio e nova investida, minutos depois alcançávamos mais casas de mato, já no baixio da bolanha e pela primeira vez na minha vida vejo toneladas de arroz em depósitos rudimentares.

Pelo telefone peço fogo da artilharia para a região da Ponta do Inglês e avançamos para a foz do Corubal. Aqui a natureza é assombrosa: ramificam-se as picadas, disseminam-se na direcção da Ponta do Inglês, outras apontam para o Buruntoni, mas a nossa prioridade, agora, é detectar o arroz e inutilizá-lo, saber a extensão dos acampamentos, averiguar com exactidão possível a presença militar e civil do PAIGC na região.

É junto à foz do rio Corubal que descobrimos a picada (bem simulada, por sinal) que leva directamente a Ponta Varela, seguramente para os actos de cultivo, patrulhamentos e ataques às embarcações. Convoco de urgência os dois alferes do Xime e o Cascalheira, bem como Bobo Seidi e Bacari Soncó informando-os da minha decisão:
- O factor surpresa esteve do nosso lado, ou avançamos para o Buruntoni ou retiramos aproveitando a desorientação do inimigo. Recebi ordens para que a operação não ultrapassasse a batida do Poidom, o que está feito. Confesso-vos que estou preocupado com a quantidade de militares e civis que aqui devem viver, isto é quase uma ocupação ao pé do Xime. Não temos meios para continuar, agora a surpresa está do lado deles, se quisermos avançar para o Baio ou o Boruntoni. Vamos retirar imediatamente, flanqueando a estrada, indo sempre por esta margem, dentro da floresta, eles devem já ter mandado gente para nos emboscar entre Gundaguê Beafada e Madina Colhido. Os primeiros quilómetros vamos retirar quase a correr, depois iremos mais devagar, e vamos usar o baixio da bolanha, para nossa protecção. Eu parto já com o meu pelotão, seguem-se as milícias e depois a malta do Xime. Espero só vos falar quando entramos no quartel.

(v) A emboscada e o fogo de artilharia

Seriam 9h da manhã quando nos embrenhámos numa mata junto à estrada do Xime-Ponta do Inglês, muito acima de Ponta Varela, e bastante distante de Gundaguê Beafada. Lá em cima ouvia-se o ronco da DO a avançar para o Poidom, guiando-se certamente pelos rolos de fumo que subiam por cima dos depósitos de arroz.

Progredíamos em marcha acelerada quando se desencadeou a emboscada, uma emboscada precipitada, o inimigo guiava-se pelo restolhar do nosso movimento, os nossos vultos não eram nitidamente visíveis, mas estávamos referenciados, era uma chuva desencontrada de morteiros e de bazucadas que destruíam a folhagem à nossa volta.

Tirei novamente o croquis do bolso e falei em directo para o Xime, pedindo urgentemente fogo sobre a posição do inimigo. E dei ordem para que ninguém reagisse na coluna, todos com a cabeça no chão, o fogo de artilharia ia passar perto de nós. E minutos depois o inimigo foi apanhado em cheio, não soubemos o que aconteceu mas calou-se, levantei-me, inflectimos para Ponta Varela, andámos aos ziguezagues pelos palmares. À hora do almoço, sem um ferido, sem um insolado, sem nenhuma perda material, entrámos no Xime onde pedi para se transmitir para a DO que a missão estava cumprida.

Tirara-se partido dos ensinamentos dos últimos meses, sabia-se agora que o grupo populacional do Poidom era enorme, que havia tropa, pouca mas combativa, que era indispensável rever futuramente a nossa actuação, não parecia correcto continuar a insistir-se em operações clássicas com o exército, era preferível que fôssemos utilizados em batidas e patrulhamentos ofensivos.

Enquanto almoçávamos, procurei ouvir as opiniões dos camaradas sobre comportamentos relevantes, os que verifiquei e os que eles verificaram. Ergueram-se várias vozes para referir a coragem do Queirós, praça por acidente e comandante por mérito próprio, pelo modo determinado como acompanhara a reacção ao fogo inimigo, à entrada do primeiro acampamento; tinha sido também notada a participação audaciosa de um apontador de morteiro da Cart 2520. E foi assim que pedi louvor para o soldado Ramoaldo Izaias Tenda Coelho. Não deixei de referir igualmente o desembaraço com que o sargento Cascalheira comandara a manobra de assalto, decisiva para fazer recuar o inimigo.

Saímos alegres do Xime e deixámos a tropa local mais confiante. Mankaman veio despedir-se, foi um longo cumprimento que Mamadu Djau resumiu:
- Foi bom ter feito esta operação consigo. Venha mais vezes.

Era uma bonita saudação e Mankaman mal sabia que eu viria mais vezes. Em breve, a 22, estaremos juntos na operação Jaqueta Lisa.

(vi) Leituras singulares e coloridas

Vou chegar derreado a Bambadinca, pela primeira vez o major Sampaio está risonho quando me felicita. Nos próximos dias, atirado novamente para a ponte de Udunduma só escrevo à interessada, aos familiares e amigos falando do casamento provisoriamente marcado para meados de Abril em Bissau. Estou feliz pelo desfecho da Rinoceronte Temível.

Daqui para diante há quem se refira ao nosso pelotão como “aqueles loucos que levam o 81 dentro de água”. Na ponte continuamos as obras e é aqui que eu vejo a verdadeira modéstia do Queirós: com o mesmo à vontade com que mete granadas no tubo do 81, pega na picareta e galvaniza todos aqueles que trabalham no restauro da ponte.



Capa do livro Documentos para a compreensão da pintura moderna, de Walter Hess. Este livro vem incluído na enciclopédia LBL onde li, entre outros O Sagrado e o Profano, por Mircea Eliade e Arte e Mito, por Ernesto Grassi. A tradução é de Ana de Freitas e José Júlio Andrade dos Santos, a capa de Karl Gröning, s/data. (BS)


Agradeci à minha mãe dois livros que me mandou de Urbano Tavares Rodrigues, Bastardos do Sol e Casa de Correcção. Já me sentia capaz de tocar nos livros que o Carlos Sampaio me mandara no segundo semestre de 1969. Então, folheio Documentos para a compreensão da pintura moderna, de Walter Hess, da conceituada Enciclopédia LBL. Trata da arte moderna vista através dos testemunhos pessoais dos seus protagonistas (fauvismo, cubismo, pós-impressionismo, pintura absoluta, expressionismo, surrealismo e futurismo).

A pintura, então, libertava-se de conteúdos históricos, deixava as paisagens do naturalismo e os heróis sublimes. O artista tem novas clientelas; a ciência, a industrialização, o lazer, passaram a ter novos significados, procuram-se novas imagens, novas cores, uma outra relação entre a forma e os conteúdos. É assim que se decompõe a cor, nascem os pontinhos multicolores, alteram-se as formas, os contrastes, a presença de objectos nesses quadros por vezes iluminados com cores sugestivas. É assim que arranca o fauvismo em França e o expressionismo na Alemanha. Leio os pontos de vista de Matisse, de Rouault, Kirchner, Braque e de outros cubistas, de como gradualmente se caminhava para a arte abstracta. Leio com prazer mas de vez em quando entristeço-me quando penso que nunca mais conversarei com o Carlos Sampaio sobre pintura moderna ou o quer que seja.



Capa de Salomé, de Oscar Wilde. Editorial Gleba, s/data,uma capa sugestiva anónima, tradução de Manuel Cabral Machado.

Li deslumbrado a Salomé, de Óscar Wilde, e descubro afinidades entre esta voluptuosidade teatral e a linguagem musical alucinante de Richard Strauss, na ópera do mesmo nome, o clímax de um rei Herodes inebriado por Salomé, uma Salomé inebriada por João Baptista, uma Herodíade inebriada pelo ódio. É este quarteto que domina o texto teatral cheio de desejos extremados, tensões e vibrações da morte. Salomé a beijar a boca de João Baptista morto desencadeia uma onda de terror em Herodes que concentra o seu despeito no sacrifício de Salomé.

Capa do livro O Jogo da Vida , de Patrícia Highsmith. É um livro que manipula um enredo muito peculiar de Patrícia Highsmith: um acontecimento fortuito leva a um homicídio, este suscitará o pesadelo das suspeitas,as relações dentro de um grupo ficarão fragilizadas.Como sempre, um outro acontecimento fortuito levará ao esclarecimento, a verdade desabará a contingência das relações de quem ganha e de quem perde... É o nº160 da Colecção Vampiro, capa de Lima de Freitas e tradução de Mascarenhas Barreto


E, por último, esse sublime O Jogo da Vida, de Patrícia Highsmith. Desta vez o criminoso será preso, tudo se passa no México, no meio de boémia e tertúlias, o assassinato de Leila Ballesteros, uma pintora cheia de mérito e mulher independente, arrasta à comoção os seus dois amantes que se lançam na investigação e na descoberta do móbil do crime. Houvera um roubo depois do crime, o criminoso começa a ser pressionado por chantagistas, foge e depois entrega-se à polícia. Como é muito peculiar na arte de Highsmith, é um crime fortuito e não deliberado, depois a expiação e depois a confissão, e até lá todos os outros personagens ardem no sofrimento da dúvida. É um jogo em que ninguém vence a não ser a polícia. Estou em definitivo preso pela arte de Patrícia Highsmith.

Agora vou preparar o meu casamento, no meio da vadiagem entre Bambadinca, Cossé e Badora. Depois volto às operações. E irei casar quando o general Spínola decidir uma estranha trégua, em meados do mês de Abril. A trégua terminará num massacre de vários oficiais, eu caso-me e depois passarei uma semana na psiquiatria do HM 241. Como aqui se irá descrever

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série > 11 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2749: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (27): Quando os mortos abrem os olhos aos vivos


(2) Foi uma época de intensa actividade operacional para CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), afecta, tal como o Pel Caç Nat 52, do Beja Santos (Bambadinca), o Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral (Fá Mandinga) e o pel Caç Nat 54, do Correi«a (MIssirá), ao Sector L1 e ao Comando do BCAÇ 2852, mais as respectivas unidades de quadrícula (CART 2520, Xime; CCAÇ 2404, Mansambo; CART 2413, Xitole). Basta apenas lembrar aqui algumas das operações realizadas nos meses de Janeiro e Fevereiro de 1970, em que a CCAÇ 12 participou:

Vd. postes de

7 de Março de 2006 >
Guiné 63/74 - DCXII: Assalto ao destacamento IN de Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (Janeiro de 1970, CCAÇ 12, CAÇ 2404, CART 2413) (Luís Graça)

(...) "O prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, foi deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (...)".

13 de Março de 2006 >
Guiné 63/74 - DCXXIII: Op Borboleta Destemida: uma emboscada de meia-hora (Poindom/Ponta Varela, CCAÇ 12, Janeiro de 1970) (Luís Graça)

(...) "O interrogatorio do elemento IN capturado por forças da CART 2413 no decorrer da anterior operação (disse chamar-se Jomel Nanquitande, de etnia balanta, ter uma Espingarda Simonov distribuída e ser chefe da tabanca de Ponta Varela), permitiu-nos saber, entre outras coisas, que o IN voltara a instalar-se na área do antigo acampamento do Poindom/Ponta Varela destruído pelas NT em Setembro passado durante a Op Pato Rufia.0 actual efectivo era de 25 homens, dispondo de Morteiro 82, cinco RPG-2 e armas automáticas.

"O dispositivo de segurança, mais rigoroso do que no tempo das chuvas, compunha-se de 4 sentinelas na estrada Xime-Ponta do Inglês (dois para cada lado). O grupo IN saía todas as manhãs a fim de montar segurança à população que trabalha na bolanha, regressando ao meio-dia e voltando à tarde até às 17h.Com base nestes dados, foi decidido executar um golpe de mão clássico sobre o acampamento a fim de capturar ou aniquilar os elemen­tos IN assim como o material e meios de vida nele existentes (Op Borboleta Destemida).

(...) "Progredíamos com redobrada cautela quando o prisioneiro informou que já estávamos perto e cortou por um trilho à esquerda que disse ir dar ao Buruntoni. Seguindo o mesmo, encontrou-se outro, em sentido inverso, que o prisioneiro declarou ser um dos trilhos de acesso ao acampamento.

"Enveredando por ai, e passados uns 100 metros, os homens da frente (1º Gr Comb da 12), ao entrarem numa clareira, detectaram um grupo IN instalado atrás de baga-bagas e de árvores. Evidenciando grande rapidez de reflexos, o apontador de LGFog 8,9 Braima Jaló foi o primeiro a abrir fogo. No mesmo instante começámos a ser violentamente flagelados com Mort 82, Lança-Rckets e rajadas de metralhadora. Uma granada de morteiro rebentou junto da 2ª secção do do 1º Gr Comb, tendo os estilhaços atingido o Furriel Mil Pina, o 1º Cabo Atirador Valente e os soldados Baiel Buaró e Sajo Baldé.

"Apos os primeiros momentos de surpresa e confusão, reagimos com determinação e, manobrando debaixo de fogo, obrigámos o IN a recuar. Por escassos segundos interrompeu-se o fogo para logo recomeçar com redobrada violência, quando já estávamos quase dentro do acampamento. Desta vez seriam atingidos pelas balas do IN os soldados do 1º Gr Comb Leite (Transmissões) e Mamadu Au. A nossa reacção foi de tal modo pronta que o IN foi compelido a retirar definitivamente, com baixas prováveis. 0 fogo tinha durado mais de meia-hora" (...).

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado (Luís Graça)


(...) "Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

"Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos" (...).

9 de Abril de 2006 >
Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)

(...) "Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

"Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.

"Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).

"Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

"Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 2º Gr Comb).

"Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h" (...).

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXVIII: Festa Na Lona, um bravo combatente do PAIGC (CCAÇ 12, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)


(...) "Fevereiro de 1970: Op Bodião Decidido: uma operação com sucesso na área de Satecuta

"Foi realizada em 14 e 15 de Fevereiro de 1970 para uma batida à área de Satecuta até ao Rio Corubal (1), por forças da CART 2413, CCAÇ 2404 e CCAÇ 12 (1º, 2º e 4º Gr Comb), constituindo respectivamente os Destacamentos A, B e C .

"De acordo com o plano estabelecido para a acção, os 3 Dest saíram de Mansambo e Xitole às 5h00 do dia D, percorrendo a estrada [Xitole-Mansambo] até ao ponto de encontro (área de Gulobó) [onde fizeram paragem para descanso e almoço, entre as 12h00 e as 16h00]

"Após uma rápida reunião dos Comandantes dos Dest, iniciou-se a progressão a corta-mato, tendo-se atingido pelas 17h00 o local escolhido para pernoita e montagem de emboscadas nocturnas.

"Verificou-se, através de vestígios, que o IN tinha reconhecido o trilho utilizado pelas NT durante a Op Navalha Polida, embora não tivessem sido detectadas quaisquer minas ou armadilhas.Às 4h00 da manhã (dia D + 1), os Dest continuaram a progressão até atingirem um trilho muito batido na região Xime 4 F2 – 29.

"-Aí ficou emboscado o Dest B (CCAÇ 2404), reforçado por 1 Gr Comb do Dest C (CCAÇ 12), enquanto os outros Dest seguiram em direcção a Satecuta.Pelas 7h00, o Dest B avistou 1 grupo IN de 15/20 elementos, tendo os homens da frente aberto fogo no momento oportuno, causando 1 morto deixado no terreno e feridos prováveis, com um gasto mínimo de munições (1 dilagrama e 1 carregador de G-3).

"Foi apreendido ao IN um RPG-2 [ LGFog ] e várias granadas. O IN dispersou imediatamente e flagelou o Dest B quando alguns elementos deste foram à zona de morte a fim de verificar os resultados colhidos.

"Os Dest A e C foram também flagelados com fogo de morteiro e armas automáticas, não reagindo para não revelar a sua localização exacta e movimentando-se apenas para conseguir estabelecer ligação com o Dest B.

"Uma vez que toda a população e elementos IN da área tinham ficado alertados, devido à troca de tiros, as NT após uma batida muito rápida retiraram de forma a evitar quaisquer emboscada de outros grupos IN vindos de Seco Braima ou Galo Corubal. (...)