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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10482: Álbum fotográfico do ex-1º cabo Manuel das Neves, o "Manuel da Canada", açoriano da ilha do Pico (CCAÇ 1438, 1965/67): Guileje: "Foi aqui que eu rezava todos os dias 3 e 4 terços, o helicóptero é que nos deixava cair a ração de combate, ele não podia parar"



Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel do Canadá > Foto nº 1 > O Manuel das Neves, açoriano,   no regresso de Cacine, depois de uma operação de seis dias na Mata do Cantanhez. Na mão direita, uma ração de combate (?). E apresenta-se descalço. Em primeiro plano, espingardas G-3 (julgo tratar-se da versão original com punho e fuste de madeira, usadas ainda em 1965,  no TO da Guiné) (LG).

Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 1 > Legenda manuscrita  no verso.


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 2 > Destacamento onde esteve o pelotão do Manuel da Canada e onde sofreu um  ataque ou flagelação... Topónimo ilegível [Nhacobá ?].


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 2 > Legenda manuscrita no verso


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 3 > Estrade de Guileje... Vejam-se as lianas atravessando a estrada, terraplanada, e aparentemente com bom piso...



Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel d
a Canada > Foto nº 3 > Legenda manuscrita no verso


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 4 > Tabanca de Guileje... No verso lê-se: "Foi  aqui que eu rezava todos os dias 3 e 4 terços, o helicóptero é que nos deixava cair a ração de combate, ele não podia parar".


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 4 > Legenda manuscrita no verso.



 Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 5 >  Bandeira nacional e galardão da companhia, com os nomes dos lugares, à esquerda, por onde o pessoal andou (mais de um dúzia) e possivelmente os nomes dos camaradas, à direita,  que morreram (cino ?) (*)... No verso, lê-se apenas a seguinte legenda: "Esta foto foi de todos os lugares [em] que nós [es]tivemos em combate".


Guiné > Região de Tombali >  CCAÇ 1438 (1965/67) >  Álbum fotográfico do Manuel da Canada > Foto nº 5 > Legenda manuscrita no verso

Fotos: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]

1. A CCAÇ 1438 foi mobilizada pelo BII17 – Angra do Heroísmo, Açores. Chegou à Guiné no dia 18 de Agosto de 1965 e regressou a 18 de Abril de 1967.  Passou por Bissau, Buba, Cumbijã, Colibuía e, por  fim, Quinhamel. Em Outubro de 1966 estava em Quinhamel. Foi seu comandante o cap inf Eugénio Batptista Neves.

Não temos nenhum representante desta companhia, independente, na nossa Tabanca Grande. Estas fotos fazem parte do nosso arquivo desde 2007. Foram-nos disponibilizadas pela ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, no âmbito do projeto Núcleo Museológico Memória de Guiledge. O ficheiro onde estão contidas, de cerca de 2,5 GB, está na seguinte pasta:  Guiledje Visual > Acervo Visual Colonial > Guerra em Guiledje >  Fotos das Companhias > G- Manuel da Canada - C[CAÇ} 1438 (1965). São cinco ao todo, numeradas de 1 a 5, com legendas manuscritas no verso.

Não temos mais quaisquer elementos que nos permitam identificar este camarada, que se assina por "Manuel da Canada" [, e não do Canadá. como inicialmente pensei].  Só o Pepito nos pode explicar como é que estas fotos foram parar a Bissau, ao bairro do Quelelé... Na lista das 11 unidades que passaram por Guileje, elaborada por Nuno Rubim (Gráfico a seguir), não consta a CCAÇ 1438. Em 1966, a unidade de quadrícula era CCAÇ 1424, de que ele próprio. Nuno Rubim, foi comandante (o 2º de três). Esta companhia, que pertencia  ao BCAÇ 1858 (Bissau, Teixeira Pinto e Catió) passou por Bolama, Cachil, Guileje, Sangonhá e Bissau.

O nosso camarada Manuel da Canada assegura que esteve em Guileje. Não diz quando nem quanto tempo... (A CCAÇ 1438 sofreu pelo menos um morto em combate, em Guileje, em 9/10/1965)(*). Se ele nos estiver a ler, ele ou alguém da sua companhia, que nos esclareça. Já agora, teríamos todo o gosto em que o Manuel da Canada entrasse para a nossa Tabanca Grande. Pode contactar-nos através do nosso endereço de email: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com .

Desejamos-lhe muita saúde e longa vida.



Infografia: © Nuno Rubim (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

3. Correspondência recentemente trocada com o Pepito e o seu amigo açoriano Ernesto Ferreira:

(i) De Luís Graça para Pepito.

Pepito: Tens ideia de que te arranjou estas fotos ?... Esta companhia não esteve "oficialmente" em Guileje, mas teve lá pelo menos um morto em outubro de 65... Eram açorianos... Não tenho tido notícias do Nuno Rubim, estou preocupado, vou-lhe telefonar... Um abração (Por cá é feriado, o último 5 de outubro... Viva a República!)...

(ii) Do Pepito para L.G.:

Luís:  Estas fotos obtive-as quando fui aos Açores (ao Pico) e pedi a um colega e amigo meu de Agronomia que identificasse ex-militares que tivessem estado em Guiledje. Ele deu-me estas fotos com as legendas que conheces. Eu nunca estive com ele [, o Manuel do Canadá], mas quem o conhece é o tal amigo meu,  Ernesto Ferreira [...] que lá está.
abraços
pepito


(iii) Mensagem do engº agrónomo Ernesto Ferreira /que entretanto informara o Pepito de que o militar em questão já tinha falecido: "Caro amigo, tenho a comunicar-te que infelizmente esse amigo que me deu as fotos já faleceu há cerca de 5 anos de [doença][. Um abraço. Ernesto"):

Caro Luís Graça, não o conheço pessoalmente, mas teria muito gosto. Os amigos dos meus amigos, também meus serão, ainda mais sendo daqueles "do peito", como é caso!!!

Pois relembrando o Manuel da Canada (e não do Canadá), a cuja família informarei destas diligências e do vosso interesse, a seguir passo a descrever os seus dados:

Manuel Fernando Garcia das Neves, natural da freguesia da Candelária, Concelho da Madalena do Pico, Açores - Companhia 1438, 1.º pelotão, 1.º cabo n.º 415.
Aproveito para o informar que estes dados me foram facultados por outro ex-combatente da mesma companhia, por sinal meu compadre (o meu filho mais velho casou com a respetiva filha), cujos dados são: António Fernando de Oliveira Garcia, natural da freguesia da Criação Velha, Concelho da Madalena do Pico, Açores - Companhia 1438, 4.º pelotão, 1.º cabo n.º 416.
Anos- 1965 a 1967

Dado que o meu compadre estará disponível para mais alguma informação, não se coiba de me contactar.
Um abraço.
Ernesto Ferreira

(iv) De L.G, para Ernesto Ferreira: 

Meu caro engº Ernesto: 
Obrigado pelas fotos e pelas informações adicionais sobre o seu amigo e nosso camarada Manuel. Lamentamos a sua morte. E gostaríamos que a sua memória ficasse viva no nosso blogue. Seria também um homenagem aos restantes militares açorianos desta companhia, a CCAÇ 1438, de que não temos ninguém conhecido e registado. É possível saber o nome completo do Manuel da Canada ? Do seu posto, soldado, 1º cabo ? Naturalidade ?..

Fico-lhe muito grato. Luís Graça

(v) De L.G, para Ernesto Ferreira:

Meu caro Ernesto:

Aprecio muito essa franqueza e frontalidade, tipicas das gentes dos Açores!...  Temos, para já, um amigo em comum que é o Pepito. Aproveitando a sua amabilidade, peço-lhe que me explique a razão de ser do nome do Manuel Fernando... Manuel da Canada, e não do Canadá... Fui induzido em erro pelo estereótipo da emigração.. Muitos ex-militares açorianos, acabados de chegar da guerra do ultramar, emigraram para os States e para o Canadá...

Se a família nos autorizar, vamos fazer-lhe uma pequena homenagem do nosso blogue, que é um blogue de "partilha de memórias e de afetos"... É possível que eles tenham mais fotos, incluindo uma mais recente, antes do Manuel ter falecido... Já agora, em que ano terá ele nascido ?

Teríamos muito interesse, por outro lado, em acolher, no nosso blogue, o seu compadre e nosso camarada António Fernando... como um dos bravos da CCAÇ 1438... Será que ele tem um endereço de email para eu o poder contactar?

Um abração do Luís Graça
____________

Nota do editor:

(*) Identifiquei, através de pesquisa no nosso blogue, pelo menos 4 camaradas açorianos desta companhia, mortos em Combate, e que ficaram sepultados no cemitério de Bissau:

Manuel Correia Pedro, Soldado / CCaç 1438 / morto em 27.11.65, no Xitole, sa sequência de ferimentos em combate; era natural de Velas, S. Jorge, Açores / Cemitério de Bissau, Guiné;

Manuel Geraldo Teixeira, Soldado / CCaç 1438 / morto em 09.10.65, em Guileje, na sequência de ferimentos em combate; era natural de Santo Antão, Calheta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 1965, Guiné;

Manuel Silveira Reis, 1.º Cabo / CCaç 1438 / morto em 10.03.66, em Salancaur, na sequência de ferimentos em combate; era natural de Feteira, Horta, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 277, Guiné;

Manuel Vieira Ferreira, Soldado / CCaç 1438 / morto em 11.03.66, em Salancaur, na sequência de ferimentos em combate; era natural da Praia da Vitória, Açores / Cemitério de Bissau, Campa 276, Guiné.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guiné 63/73 - P10362: CCAÇ 3325,Cobras de Guileje (1971/73): Parte VI: Atividade operacional, de outubro a dezembro de 1971 (texto: Orlando Silva; fotos: Jorge Parracho)



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 38 > Estrada Guileje-Gadamael (?): progressão no tempo das chuvas


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref   Jorge Parracho > Foto nº2 > O pessoal (todo ou quase todo) da companhia que esteve em Guileje de janeiro a dezembro de 1971


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 31 > Reabastecimento por via aérea no tempo das chuvas.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 34 > Reabastecimento por lançamento em paraquedas, no tempo das chuvas.


Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Sexta e última parte do texto, da autoria de Orlando Silva,  relativo à estadia da CCAÇ 3325, em Guileje, de janeiro a dezembro de 1971. (Reproduzido aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro) (*).


Atividade operacional (continuação)

De 01 a 31 de Outubro de 1971:

Mais 18 operações de patrulhamento.

A actividade directa do IN tem sido nula. Continua no entanto, a utilizar com frequência o “Corredor de Guileje”, embora certamente com menos à vontade, dado ter accionado várias minas implantadas pelas NT nesse itinerário. Igualmente accionou minas A/P colocadas pelas NT no trilho para Simbeli (perto da fronteira), tendo tido várias baixas conforme vestígios encontrados.

A actividade das NT neste período, esteve orientada no sentido de continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, procurar novos acessos para aquele “Corredor”, continuar a patrulhar com assiduidade as bases de fogos do IN, patrulhar com certa frequência a estrada para Gadamael pois iríamos brevemente iniciar as colunas Auto, e na implantação de minas nos locais perto do quartel passíveis de ser utilizados pelo IN para a instalação de Bases de Fogos.

Neste período, foram efectuadas pela Companhia duas acções ao “Corredor de Guileje”, podendo considerar-se uma delas (acção “Prestígio”) como a mais dura realizada até então pela Companhia. A patrulha teve a duração de 15 horas, sempre por zonas difíceis, dentro de bolanhas e rios ou por mata densa em locais de contacto eminente com o IN, sendo parte dela realizada na ZICC [, Zona de Intervenção do Com-Chefe] perto de Salancaur, onde o IN costumava dispor de grandes efectivos. 

Acrescente-se que o pessoal, durante toda a patrulha, não tomou qualquer alimento, porque as rações que levavam ficaram logo no inicio totalmente inutilizadas pela água. Conseguimos no entanto o objectivo da missão, que era colocar minas no “Corredor de Guileje” num local de passagem habitual do IN, e onde o IN dificilmente admitiria a nossa ida já que, segundo informações do guia, há  mais de 5 anos que as NT não iam àquela zona.

Para que não se perdesse ingloriamente o esforço dispendido nesta patrulha até à altura, tornou-se obrigatória a travessia de um braço do Rio Balana, largo e fundo, infestado de crocodilos (que os soldados desconheciam), mas decisiva para conseguirmos os nossos intentos, possibilitando assim o cumprimento da missão.

Para que isso fosse conseguido, o Alferes Cunha a certa altura, de uma forma destemida e contra o conselho do nosso guia Abdoulai Jaló, lançou-se à água a fim de que os soldados o seguissem. Como o nosso pessoal era de uma maneira geral de baixa estatura, tornou-se necessária a nossa ajuda para que os mesmos efectuassem a travessia, o que conseguimos. Correu tudo bem, montámos as minas A/P planeadas e retirámos de imediato.

O moral das nossas tropas continuava bem, podendo mesmo dizer-se melhor que no período anterior, devido aos êxitos que a Unidade tinha tido, à notícia da nossa rendição por outra Companhia e pela visita de várias entidade militares e de uma equipa da RTP.

De 01 a 30 de Novembro de 1971:

Realizámos mais 21 patrulhas.

O facto mais saliente do período foi a abertura a viaturas do itinerário para Gadamael, ficando assim quebrado o isolamento em que a Companhia se encontrava há cerca de 5 meses.

Fomos rendidos pela CCAÇ 3477, não se notando qualquer incremento de actividade do IN para impressionar esta Companhia, como seria de esperar.

A nossa actividade continuou orientada para continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, manter em constante vigilância as bases de fogos IN e seus itinerários, manter aberta a estrada para Gadamael, e dar a conhecer a Zona de Acção à CCAÇ  3477.

Continuámos a manter em tudo a nossa actividade anterior, e o moral da tropa encontrava-se em alta.
Para essa moralização, contribuíram em parte as palavras de apreço e incitamento que a Companhia tem recebido das entidades que a visitam, sendo de salientar especialmente as proferidas por Sua Excelência o General Comandante-Chefe, que durante o período visitou por duas vezes Guileje.

Iniciou-se entretanto o período de rendição da Companhia pela CCAÇ 3477, e a ida para Nhacra do 1º e 2º Grupos de Combate da CCAÇ 3325, tendo o pessoal daquela Companhia começado a integrar-se muito bem dentro da missão que lhes irá ser atribuída.

A alimentação melhorou com a abertura da estrada, lançamentos em pára-quedas e fornecimento de frescos por avião.

Manteve-se pois sem quebras a actividade operacional, com boa colaboração no final do período da CCCAÇ 3477, prosseguindo também em bom ritmo os trabalhos de beneficiação da defesa e instalações do quartel, e podendo nós  afirmar que continuava a ser excelente o moral da Unidade.

Em Dezembro de 1971:

Realizaram-se em conjunto com a CCAÇ  3477 mais 15 acções.

O IN revelou durante o período grande actividade e agressividade. Efectuou várias flagelações ao quartel, ou para desviar as atenções das NT do “Corredor de Guileje” ou ainda para impressionar o pessoal da nova Companhia.

A actividade das NT neste período, foi totalmente orientada no sentido de procurar dar aos Oficiais, Sargentos e Praças da CCAÇ 3477 um conhecimento perfeito de toda a ZA,  bases de fogos IN, itinerários, localização das nossas minas, que foram todas levantadas e tornadas a montar por pessoal daquela Companhia, dando-se inclusivamente instrução ao pessoal dentro do quartel, de tiro, para adaptação das armas que iam passar a ser distribuídas, e instrução sobre minas e armadilhas, dada a larga difusão destes engenhos na ZA



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 17 >  O com-chefe gen António de Spínola numa  duas visitas que efetuou a Guileje em 1971.


Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje]


Jantar no Palácio do Governador – 23/12/71

Finalmente, venho recordar com saudade o jantar no Palácio do Governador em Bissau, oferecido aos Oficiais desta Companhia após a saída da mesma daquela zona de guerra, e antes do nosso regresso à Metrópole, pelo General António Spínola, em homenagem à nossa actuação militar.

EM RESUMO…

Como se vê, apesar de tudo o que os Cobras de Guileje passaram, apesar de todos os mortos e feridos, ninguém ouviu qualquer oficial, sargento ou praça desta Companhia, vir gabar-se ou pavonear-se em público, quer fosse em jornais, rádio ou televisão.

Pelas fotos aqui inseridas, podemos ver como estava o aquartelamento quando chegámos e como ficou quando saímos. E tínhamos tempo para jogar à bola e receber visitas por avião.

Seríamos inconscientes?

No Jornal que V. Exa. dirige [, referência ao diário Correio da Manhã], e para uma correcta informação dos leitores, antes de serem publicados aqueles artigos, deveriam ter reunido à mesma mesa todos os intervenientes. Lembro ainda outro artigo, esse publicado na revista do vosso jornal de 24/05/2009, que surge pleno de dramatização e falta de verdade.

Os mortos e feridos merecem melhor!

Da nossa parte, Companhia Independente de Caçadores 3325, bastaria ouvir qualquer oficial, sargento ou praça, que, melhor que ninguém e de uma forma isenta, mostraria ao País o que foi “Guileje”.

Gostaríamos de poder convidar o Sr Jornalista (autor do/s referido/s artigo/s sobre Guileje) a estar presente na nossa próxima reunião anual, que se irá realizar em Maio de 2010, caso seja para isso devidamente autorizado pela redacção do “Correio da Manhã”.

Que [a Guiné] foi a pior zona de toda a Guerra do Ultramar, é o que dizem! Que Guileje foi o pior quartel de toda a Guerra do Ultramar Português (daí a sua importância), isso também foi. Está comprovado.

A verdadeira história do Ultramar há-de ser feita, pois ainda há Portugueses com memória e com sentido da verdade. Só exigimos respeito, principalmente pelos mortos e feridos, igual àquele que nós próprios temos pelos que então eram nossos inimigos.
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10329: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte V: Atividade operacional, de agosto a setembro de 1971 (Orlando Silva)

domingo, 11 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (21): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCAÇ: Bedanda, Março de 1963 (George Freire)

Mensagem do George Freire, de 30 de Dezembro de 2008

Caro Luís,

Obrigado pelo e-mail e obrigado pela publicação. Não há correcções a fazer.

Infelizmente todas as fotos que tinha da Guiné foram extraviadas, contudo tenho um filme que consegui passar para o meu computador.



Num "processo complicado" tirei fotos do ecrã do computador com a minha máquina digital. As fotos estão um bocado fora de foco, mas é o melhor que consegui fazer.



Durante o Natal de 1961 a minha mulher veio passar um mês a Bissau onde eu estava na altura a comandar uma companhia de nativos. Em Julho de 1962 a minha mulher voltou para a Guiné e passou quase 3 meses no Gabu (Nova Lamego), onde eu comandei uma companhia mista. Do Gabu fui transferido para Bedanda onde ela ainda passou quase um mês, mas nos fins de Dezembro tive que a mandar de volta a Portugal pois as coisas começaram a aquecer demais.

Cadetes da Escola do Exército, em manobras (Sª Margarida ?).

A propósito, as fotos que mandei da última vez, estávamos no último ano do curso na Gomes Freire. O nosso curso foi o segundo a frequentar a EE (Escola do Exército) na Amadora (no primeiro ano). Não me lembro do nome do segundo comandante da EE que está na foto, mas já lá vai tanto tempo...

Seguem mais detalhes do meu diário:

1/3/63:

Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite foi destruída na primeira emboscada. Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas.

Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir.

2/3/63:

Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais. O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda.

O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão para ser interrogado.


3/3/63:


O Comandante Militar veio cá hoje de avião com o segundo Comandante do Batalhão 356. Depois de informados dos acontecimentos dos últimos dias, seguiram para Catió.

4/3/63:

Recebemos informação do batalhão de um possível ataque planeado pelos terroristas a Caboxanque e Emberem [Iemberém ]. Enviei dois pelotões para Emberem e Cadique, ponto de onde, segundo a informação, os terroristas se estavam a organizar para os ataques. Em Caboxanque executámos acções por um pelotão da minha companhia e outro da CCaç 273.

6/3/63:

Fizemos um reconhecimento à zona de Emberem. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Emberem e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula. Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos.

7/3/63:

Começámos o transporte da população Fula de Emberem. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes.

8/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Seguiram dois pelotões da CCaç 273 para a região de Salancur.

9/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Os pelotões da CCaç 273 continuaram a operar na região de Salancur.

Elementos Fulas de Emberem conseguiram aprisionar um nativo que sabiam estava ligado ao movimento terrorista. Quando este nativo (Balanta) foi interrogado aqui na companhia, deu-nos a informação de que elementos terroristas estão no mato de Boche Falace a prepararem um ataque àquela povoação. Enviámos um pelotão da CCaç 273 para a área.

Recebemos também informação, por elementos do Chugué, que um grupo de terroristas bem armado estava concentrado do outro lado da fronteira com a Guiné Francesa, perto da zona de Banta-Sida.

Mais informações recebidas do pelotão de Emberem: cerca de 300 elementos terroristas estavam a preparar um ataque à nossa companhia em Bedanda na madrugada de amanhã.
Dei ordens para que todo o nosso pessoal, (estávamos um pouco desfalcados pois tínhamos 2 pelotões em operações longe de Bedanda), estar em alerta em posições defensivas, já há muito preparadas para eventualidades semelhantes. Foi uma longa noite de nervos, mas o ataque nunca se deu.

10 e 11/3/63:

Acabámos o transporte dos Fulas de Emberem para Bedanda, contudo ainda teremos que transportar abastecimentos e víveres que ainda lá ficaram, em especial uma grande quantidade de arroz. Os Fulas fizeram um outro prisioneiro que, após interrogado, nos deu boas informações sobre o grupo terrorista que tem actuado na zona de Boche Falace: nomes de comandantes, armamentos e locais aproximados do grupo. Este prisioneiro foi enviado para o batalhão.

13/3/63:

Recebemos novas informações sobre um outro possível ataque ao nosso aquartelamento no dia 16 ou 17.

O Benfica venceu o Dukla de Praga para a taça dos campeões europeus. Ouvimos o relato no rádio.

15/3/63:

Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Emberem para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.

16/3/63:

O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859.

18/3/63:

Chegou o Pelotão 859 que seguirá para Bafatá. A CCaç 273 partiu para Emberem em operações, não se sabendo por quantos dias.

19/3/63:

Visita do major Pina para discutir os pormenores do movimento dos pelotões 859, 870 e 871 para Bafatá. Eu irei a comandar a coluna e voltarei para Bedanda de avião.

20/3/63:

O alferes Mendes seguiu com um pelotão para o Chugué dentro do novo plano de ordenamento dos dispositivos.

22/3/63:

Cabedú enviou uma mensagem informando que os terroristas estavam a planear uma emboscada às viaturas da CCaç 273 que se tinham deslocado para a região de Darsalame. Enviei imediatamente um rádio para o capitão Gaspar com todos os detalhes da informação.

23/3/63:

Chegou outro pelotão da CCaç 417. Seguirá amanhã para Cabedú para render o Pelotão 871, que virá para Bedanda e depois para Bafatá na minha coluna.

(...)

O meu diário, cobrindo os acontecimentos que se passaram entre a minha partida para Bafatá com a coluna, a minha vinda de retorno a Bedanda e as semanas até ao dia 18 de Maio, extraviou-se, infelizmente.

Lembro-me de alguns detalhes de possíveis ataques a Bedanda que, felizmente, nunca se concretizaram. Nós estávamos muito bem preparados, com todo o terreno à volta do aquartelamento (cerca de uns 150 metros), completamente limpo de arvoredo e vegetação.

Tínhamos os morteiros de 60 todos treinados nas áreas prováveis de ataque, além de explosivos enterrados e comandados à distância. Bem no fundo, eu estava com esperança de que os terroristas tentassem um ataque, pois seriam totalmente aniquilados, mas nunca aconteceu, possivelmente porque eles sabiam que tal acção seria muito difícil e arriscada.

No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau.

Ai estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF “Ana Mafalda”.


O resto é história.

__________

Notas de vb:

1. Artigos de George Freire, o nosso "Mais Velho", em

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

2. Blogue de George Freire (informática e electrónica): 

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3258: PAIGC: Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)


Guiné > PAIGC > Algures numa região libertade do sul, presume-se > Foto do inevitável e incontornável Bara István, reporter fotográfico da agência de notícias húngara MTI > 1970 > "Csendes dzsungel folyó, Guinea-Bissau, 1970" (segundo o meu fraco húngaro, "Guiné-Bissau, 1970: o silêncio da floresta e do rio"...). Esta e outras fotos fazem parte da sua fotogaleria, disponível - aparentemente copy left - no seu sítio comercial (em húngaro): Fotó Bara Fotográfiai és számítástechnikai szaküzlet. Em 1969/70 ele andou pela Guiné-Conacri e pelas regiões do sul controladas pelo PAIGC. Esta e outras fotos fazem parte da sua fotogaleria.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria / Photogalery (com a devida vénia / by courtesy )


1. Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma, que é residente da Tabanca de Matosinhos, a maior das tabancas da nossa Tabanca Grande...

Este texto já circulou pela nossa tertúlia, através de mensagem de 29 de Setembro de 2007. Esta série tem vindo a ser publicada, com alguma irregularidade, desde há um ano, e está longe de ter chegado ao fim.

Como temos dito e redito, a divulgação deste e doutros documentos sobre a organização e o funcionamento do PAIGC é meramente ididáctica, não implica, por nossa parte, qualquer juízo de valor. E, não é de mais referi-lo, não é um documento do PAIGC (embora utilize fontes escritas e orais ligadas à guerrilha que então nos combatia); pelo contrário, tem como origem o próprio Com-Chefe da então província portuguesa da Guiné. Trata-se de Supintrep que foi distribuído aos comandos das unidades do CTIG em Junho de 1971.(Supintrep: Do inglês, Supplementary Intelligence Report, ou seja, Relatório de Informação Suplementar.) (LG)


PAIGC: Instrução, táctica e logística (16) > Itinerários de abastecimentos


Revisão e fixação de texto: AML/LG. Notas, em itálico, de AML.
[ Estes são dados muito interessantes e importantes para cada um de nós poder comparar com a sua experiência pessoal quando esteve no terreno.]


a. ITINERÁRIOS DE ABASTECIMENTOS

(1) Generalidades

É a partir de Conacri que, sem quaisquer condicionamentos na utilização dos itinerários da Rep Guiné e com algumas restrições nos da Rep Senegal, são abastecidas as principais bases e, a partir destas, o interior do TO.

O itinerário principal, como que a “espinha dorsal” da cadeia logística montada pelo PAIGC, é aquele que, saindo de Conacri, segue por Boké, Koundara, Kolda, Tanaff e Ziguinchor, estabelecendo uma “cinta” à volta da nossa Província, da qual partem itinerários secundários para o reabastecimento das regiões fronteiriças e daqui para o interior do TO, utilizando os chamados “corredores” de infiltração. Veja-se anexos I e J [mapas inseridos no fim - LG].

É, pois, o conjunto de itinerários que o IN utiliza, tanto no interior como no exterior, para concretização da sua actividade logística, que vai ser apresentado no presente capítulo.


(2) INTER-REGIÃO SUL


Existem em apoio à Inter-Região Sul duas Bases Logísticas de grande importância: Kandiafara e Boké, sendo a primeira orientada para apoio das Frentes de Buba/Quitafine, Catió, Quínara e Bafatá/Xitole e a segunda mais orientada para a Frente Bafatá/Gabu Sul, muito embora seja ponto de desembarque, passagem e controle de reabastecimentos detinados a Kandiafara e dos detinados à Inter-Região Norte. A maioria dos reabastecimentos chegados a Kandiafara, e provenientes de Conacri, são transportados em viaturas, via Boké, ou nos barcos do PAIGC directamente ou também via Boké.

Uma vez em Kandiafara, os abastecimento são armazenados nas instalações do Partido a eles destinados (5.f deste documento) até serem distribuídos pelas diferentes Frentes.

A partir de Kandiafara são os seguintes os itinerários utilizados:


- Para a fronteira




O itinerário Kandiafara-Kansambel é percorrido por viaturas para reabastecimento dos efectivos sediados na região de Kansambel/Mampatá-Bacirgo. Durante a época das chuvas fica intransitável mesmo para viaturas ligeiras visto que a enchente do rio Gudiagol impede a passagem na região entre Sintchuro e Kansambel. Quando isto sucede nem por isso o reabastecimento deixa de se fazer, sendo então o material e os víveres transportados a dorso por carregadores vindos para o efeito de Kasembel.

O itinerário Kandiafara-Bissamaia é utilizado para reabastecimento das unidades sediadas na região de Sansalé e Sector de Quitafine.

A existência e a recente ampliação de instalações do PAIGC em Bissamaia leva a concluir da existência de um complexo logístico para apoio do Quitafine, sendo o material dali trabnsportado em canoas com motor fora de bordo, sempre de noite, através do rio Baraban e rio Carach até Cambom.

Do antecedente era utilizado o porto de Kadinié (Rep Guiné) como ponto de passagem para a ilha de Canefaque, onde existia a principal “arrecadação” do Quitafine.

As limitações impostas pela Rep da Guiné à utilização desse porto pelos barcos do PAIGC vieram alterar o estado de coisas, pelo que os barcos passaram a dirigir-se, como se refreriu, a Cambom.

Como se disse, Boké é uma base logística de passagem, controle e armazenamento que, ao mesmo tempo, apoia a Frente Bafatá-Gabu Sul. Esta Frente, cujo comando se encontra na Base de Kambera, é abastecida por três itinerários que se dirigem a Nhantafará/Dalabare, Kambera e Lela/Vendu Leili, onde está referencida a presença deforças do IN.



- Para o interior

As colunas de reabastecimento para o interior, quer se destinem à Frente do Quínara ou Bafatá/Xitole, quer se destinem a Buba ou à Frente de Catió, uilizam para a infiltração de material o “corredor” de Guileje (**). A utilização deste “corredor” é feita por colunas apeadas e por viaturas, que, partindo de Kandiafara para Simbéli, seguem por TN até Porto Balana, onde o IN terá um hipotético “porto” e donde os reabastecimentos seguem por canoas através do rio Balana ou a dorso até à região de Salancaur/Unal.

No entanto, a maioria das colunas não se limitam a ir a Porto Balana aguardando a chegada do material em viaturas, indo a Simbéli a maior parte das vezes e mesmo a Kandiafara.

Pode esquematizar-e o itinerário seguido pelos reabastecimentos até à região de Salancaur/Unal do seguinte modo:





Em Salancaur/Unal as colunas irradiam para as várias Frentes conforme os itinerário que a seguir se descrevem:



- Para a Frente BAFATÁ/XITOLE


Do antecedente está recortada a linha de reabastecimento entre esta Frente e a fronteira sul, pelos seguintes itinerários:



Os carregadores que vão buscar material à fronteira são recrutados nas tabancas sob controle IN e reunidos normalmente na área de Cancodeia de onde partem. A cambança do rio Corubal é feita de acordo com o itinerário seguido. Se seguem por Portugal-Ualé, cambam na área compreendida entre Mina e Satecutá, se seguem o itinerário Gã Gregório-Bantael Silá o rio Corubal é cambado na área entre Fiofioli e Cancodeia Beafada.

As colunas que utilizam este último percurso logo que chegadas a Bantael Silá cambam o rio Cumbijã e seguem de canoa ou apeadas até à área de Salancaur. A partir de Salancaur tnto um como outro itinerário têm seguimento pelo “corredor” de Guilege até Simbéli, da maneira já descrita.

As colunas gastam dois dias para fazerem o percurso de dia e dois para o regresso, tendo sido referenciado o seguinte itinerário para uma coluna que utilizou o itinerário de Bantael Silá:

- Às 12h00 partida da região de Cancodeia, chegando à noite a Bantael Silá onde comeram e pernoitaram; saída de Bantael Silá no dia seguinte ao romper do dia, com chegada a Simbéli às 12H00;

- Partida de Simbéli na manhã do dia seguinte, tendo pernoitado em Bantael Silá;

- Saída de Bantael Silá na manhã seguinte, com passagem no cruzamento de Buba às 12H00 e chegada a Cancodeia ao anoitecer.

Verifica-se, assim, que as colunas para a Frente Bafatá/Xitole vão até Simbéli onde aguardam o material vindo de Kandiafara.

Após o regresso, o material é depositado na região Mina/Fiofioli, onde existe a principal “arrecadação” da Frente.

Do antecedente está recortada a intenção do IN em abrir uma linha de reabastecimento entre esta Frente e o Boé, o que evitaria a ida das colunas à fronteira sul por um itinerário onde a acção das NT nas sua zonas fulcrais (cruzamento de Buba e Uané) se fez sentir.

Assim, em meados de Setembro de 1969 saíram do Sector 2 (hoje Frente Bafatá/Xitole) dois bigrupos a fim de irem buscar reabastecimentos ao Boé (possivelmente Tourdoutala), os quais, no regresso, accionaram armadilhas colocadas pelas NT junto do itinerário Mansambo/Xitole. O percurso efectuado por este bigrupos foi o seguinte:

- Mina-Galo Corubal– estrada Xitole/Mansambo (a norte do rio Pulom)–Duá– Salifo–Barquege (A)–Láli Buaro (A)–Porto Djarga (onde cambaram o rio Corubal)–Madina Dongo-Tourdoutala, fazendo no regresso o itinerário inverso.

Após esta data, este itinerário, a que se chamou “corredor do Quirafo”, não voltou a ser utilizado, admitindo-se no entanto que o IN venha a procurar utilizá-lo como alternativa.


- Para a Frente do QUÍNARA

O recrutamento e reunião do pessoal é feito nas regiões de Gã Pará e Gã Formoso, após o que as colunas se dirigem ao Injassane pelo seguinte itinerário:

Gã João – Canjeque – Binhalom – Uaná Porto – Farená – Injassane

Em Injassane, as colunas escoltadas por um bigrupo deste Sector deslocam-se através do “corredor” de Missirá (já esquematizado) até à região de Sambaso, onde o bigrupo da escolta regressa ao seu Sector no dia imediato à chegada. Os caregadores dormem em Sambaso e no dia seguinte, ao romper da manhã, saem para a fronteira sem escolta, utilizando dois procedimentos:
- Se há canoas na região do Unal, seguem a via fluvial até Porto Balana e daqui, apeados, até à fronteira pelo “corredor” de Guileje;

- Se não há canoas na região do Unal, os carregadores cambam o io Lenguel para o rio Nhancobá, cambam o rio Cumbijã para Chim-Chim Dari e daqui para Simbéli, através do “corredor” de Guileje.

No regresso é utilizado o mesmo itinerário até Sambaso, local onde os carregadores dormem. Na manhã seguinte seguem para Uané, sendo escoltados no percurso Sambaso-Uané por um bigrupo do Sector de Buba. Uma vez em Uané é novamente o bigrupo de Injassane que toma à sua responsabilidade a segurança da coluna.

A partir de Injassane o itinerário para a região de Gã Formoso é inverso do que já se referiu.

Os itinerários utilizados pelas colunas de reabastecimento da Frente do Quínara podem ser esquematizados do seguinte modo:



- Para a Frente de CATIÓ

Na esquematização dos itinerários seguidos pelas colunas de reabastecimento para esta Frente há a considerar os vários sectores em que ela se divide. Assim, para o Sector de Cubisseco e o Sector de Tombali as colunas convergem em Chugué (1510 1120 E9-92) seguindo por Chacoal - Bantael Silá – Salancaur - Chinchin Dari e daqui pelo “corredor” do Guileje até Simbéli.

No regresso as colunas seguem o itinerário inverso até Chugué, donde irradiam aos seus destinos. Se a coluna se destina a Cubisseco podem ser utilizadas duas linhas de reabastecimento, a saber:



Se a coluna se destina a reabastecimento às unidades de Tombali o itinerário a partir de Chugué segue para Bária, onde se encontra o comando do Sector e possivelmente a arrecadação principal.
O aparecimento de muitas canoas na região de Chugué/Flaque Umbaná denuncia a existência de um “complexo logístico” de apoio à Frente de Catió, o qual se completa com as instalações de Salancaur. Os reabastecimento serão transportados por via fluvial desde Porto Balana, com movimentos normalmente efectuados de noite para Flaque Umbaná-Chugué.

Este itinerário por via fluvial substitui com vantagem o apeado Chugué - Bantael Silá - Chinchin Dari, já referido.

Para o Sector do Cubucaré as colunas passam por Cadique Nalú/Lauchandé - Uangané/Boche Palace - atravessam a estrada Bedanda/Mejo em Bedanda 8 I2-22 - seguem a estrada para Salancaur Cul, a qual abandonam na região do ponto de cota 27 em Bedanda 8 I1-42 - passam a sul do braço W do rio Demba Chiudo – atravessam a vau o braço Leste do mesmo rio – Salancaur – Chinchin Dari e daqui pelo “corredor” do Guileje até à fronteira.

No regresso da fronteira é normalmente feito o itinerário inverso, podendo, no entanto, também ser efectuado o percurso Simbéli – Uali Sachá – Afiá – Quebo – cambança do rio Jabel e rio Jarendioul – Ameda-Lai – Jemberém – Cadique Nalu – Calaque Balanta.

Aproveitando o “complexo logístico” montado no rio Cumbijã, já referido, as colunas para este Sector podem seguir até Salancaur e daqui, em canoas, até Porto Balana, fazendo no regresso o itinerário inverso.

- Para o Sector do Como as colunas seguem via Tobali por:

Chugué – Timbó – Cansalá – Guelache – Cachanga – Gantonaz – Tambacunda – cambança do rio Cobade em Catió 4 F1-33 – cambança do rio Como em I, Caiar 6 H2-98 – Como

ou via Cubucaré por:

Calaque Balanta – cambança do rio Cumbijã em Cacine 3 E9-14 – Camelonco – ilhéu de Caiame – Como


- Para a Frente BAFATÁ – GABU SUL (INTERIOR)


Os grupos dependentes do comando desta Frente, e que actuam no interior do TO (regulados de Bassi, Paiai e Binafa), são reabastecidos a partir de Kambera (comando da Frente) através dos seguintes itinerários:



(3) INTER REGIÃO-NORTE


Para o reabastecimento da Inter-Região Norte o PAIGC utiliza viatura que, a partir de Conakry ou Boké, seguem os seguintes itinerários:




Koundara é o complexo logístico da Inter-Região Norte, sendo a partir daí que são reabastecidas directamente todas as bases das Frentes de Bafatá/Gabu Norte e S. Domigos/Sambuiá e, indirectamente, todas as bases e acampamentos das Frentes Canchungo/Biambe e Morés/Nhacra.

Para concretização de toda a actividade logística da Inter-Região Norte no exterior do TO, são referidos os itinerários que se referem:


- Para a Frente BAFATÁ-GABU NORTE


- Para a Base de Foulamori por:

Koundara – Kifaia – Gaouai – Koumbia – Doumbiagui – Kambambolou – Kankodi – Kitiara – Foulamory

Este itinerário é o normalmente utilizado para o reabastecimento de Foulamory, muito embora esteja detectado um outro que, saindo de Koundara, segue para Sare Bodio – Sare Modi – Soutumourou (até aqui em viatura) – Koumbagni – Foulamory (este último troço apeado), cosiderando-se, contudo, de menor utilização.

- Para a região de Foulamansa/Missirá/Djalajã por:

Koundara – Sambailo – estrada central 18 – Kaorané – Foulamansa/Missirá

Este é o itinerário de abastecimento da base de Foulamansa, havendo indícios que denunciam a abertura de um itinerário que a partir de Missirá conduz à região de Djalajã (Rep Senegal), passando pela região de Niji, em Território Nacional, com o fim de mais facilmente se abastecerem as forças eventuialmente sediadas nos acampamentos de Lengael Serenaf e Banguri.

- Para a região de Suco, Sare Kanta e Sare Djanque:

Para reabastecer as unidades sediadas nestas regiões as viaturas utiizam o itinerário Koundara – Velingara – Pakourou – Kaoné (Sare Kanta). A partir daqui, e dado que a travessia do rio Geba não pode ser feita por viaturas, é necessário organizar colunas apeadas para atingir a região de Sare Djanque.

- Para a região de Sambolecunda:

É utilizado o itinerário Koundara – Linnkirinc – Velinga – Rá – Kounkané – Dabo – Kolda – Dioulacolom – Guiro Bocar – Sale – Quinhé (Sambolecunda)

Está referenciado também o uso de bicicletas para a efectivação das colunas de reabastecimentos ao longo da linha de fronteira, presumindo-se que isso aconteça devido não só ao mau estado dos itinerários durante a época das chuvas, mas também às restrições impostas ao trânsito de viaturas carregadas com material pelas Autoridades Senegalesas.

- Para a Frente S. DOMINGOS/SAMBUIÁ


[Tenho, naturalmente, procurado informar-me mais particularmente sobre a implantação do PAIGC nesta Frente S. Domingos/Sambuiá. Segundo a "História do Batalhão n.º 3846", que esteve no Norte da Guiné de 09ABR71 a 01MAR73 no Sector 06 (S. Domingos), o PAIGC tinha, al´m daquelas que eu conhecia, como SANO e SAMINE, as seguintes bases naquela zona

- Base de SIKOUM (no Senegal, longitudinalmente entre S. Domingos e Ingoré), comandada por Tenda Intabe, com um Bigrupo;

- Base de Poubosse/Campada, onde estava sediado o Corpo do Exército n.º 199-A/70, comandado por Quecuta Mané, e constituído por: 03 Bigrupos, 02 Grupos, 01 Grupo de Morteiros 82, 01 Grupo de Artilharia (canhões s/recuo), o1 Grupo Especial de Bazookas. Segundo a informação INDIO 1 C-4, esta base teria um efectivo de 450 homens. Abaixo um esquema incluído no SUPINTREP N.º 31, referindo, no entanto, o Corpo do Exército n.º 195:




Luís Cabral, cofirma, em "A Crónica da Libertação", que era o CE 199-A, comandado por "Quemo"(e não Quecuta) Mané que actuava na zona de S. Domingos/Sambuiá. Segundo ele, a bandeira deste Corpo do Exército "era toda vermelha, com uma grande estrela vermelha ao centro; ao alto do canto esquerdo tinha uma pequena bandeira do PAIGC; no canto direito, em baixo, a indicação do Corpo do Exército 199-A. Diz ele, no mesmo livro, que havia um Corpo de Comando formado para dirigir a luta no Norte, enquadrado pelos " "peitos vermelhos" (combatentes que se destacaram em acções especiais)". Seria o "Comando da Inter-Região [Norte]" referido na imagem do SUPINTREP N.º 31 (acima)? ou haveria dois Corpos do Exército, o 195 e 199-A, a actuar naquela Inter-Região?...;

- Base de M'Pack, com 01 Bigrupo e 01 Grupo de Morteiro 82;

- Base de Kassoum/Kaguit, com 01 Bigrupo, comandado por Gorgui Unfalde e depois por Malan Djata.

Diz também a História do BCAÇ 3846 que havia as seguintes "linhas de infiltração":

- PIRGUI/UERECHOLI:/Rio GUNAL/Rio PORTO MADEIRA/JOL:

- SIKOUM/SEDENGAL/APILHO/Rio CHURRO:

- BESSOLUM/Rio SAPATEIRO/MATA GAUNHA/Rio CURRO:

- BOUTOUPA/Rio CATEI./Rio POII.ÁO DE LEÁO/CAMBOIANA:

- POUBOSSE/Rio CAMPADA/Rio POll.ÀO DE LEÁO/CAMBOIANA:

- BARRACA BATATA/MAMBAIÁ/Rio JUGUL/CAMBOIANA:

- BABONDA/SUNCUTOTO/Rio BACHAMOR/CAMBOlANA;

- KAGUlT/BUNHAQUE/MATO COLAGE/CAUSSO/CAMBOlANA:.

- KASSOUM/MATO ELIA/Rio BULIGUTE/RI0 DEFENAME/RIO BOLOR/Rio CACHEU:

- KASSOUM/Rio URAMUAI/Rio DEFENAME/Rio BOLOR/Rio CACHEU;

- KASSOUM/Rio URAMUAI/Rio BULIGUTE/Rio DEFENAME/Rio BOLOR/Rio CACHEU;

- SANTIABA MANJAK/Rio COLE/Rio DEFENAME/RIO BOLOR/Rio CACHEU.

A. Marques Lopes]



O IN utiliza para movimentar as suas viaturas de reabastecimento às bases desta Frente a chamada “Estrada Grande”, isto é, a estrada que, a partir de Koundara, segue por Linnkiring – Velingará – Dabo – Kolda – Bantankoutou – Sonco – Sare Tening – Tanaf – Ierã – Samine – Ziguinchor. É pois a partir deste itinerário principal que saem ramificações que conduzem às diferentes bases. Assim,

- Para Faquina:

Kolda – Bantankoutou – Sonco – Lenquerim – Faquina

As viaturas vão apenas até Bantankoutou. Os reabastecimentos a partir daqui são transportados por carregadores que em Lenquerim cambam a bolanha de canoa para passarem à base de Faquina.

- Para Sinchã Djassi (Hermancono):

Kolda – Sare Tening – Hermacono

- Para a base de Cumbamory:
Kolda – Tanaf – Ierã – Mankolecunda – Cumbamori

- Para Dungal:
Kolda – Tanaf – Dungal

- Para Sano:
Kolda – Samine – Sano

- Para Sikoum Bafatá:
Kolda – Tanaf – Samine – Goudomp – Sekoum

O material e víveres vindos da Rep. Guiné (Koundara) passa como vimos em Dinnkiring e Kolda, locais onde é feito pelas autoridades da Rep. Senegal controle das viaturas e material transportado; a partir de Kolda o material é usualmente acompanhado por pessoal do Exército Senegalês, embora em escolta à distância.

No terminal da “Estrada Grande” encontra-se Zinguinchor, sede do comando da Inter-Região Norte, mas que no quadro da logística do PAIGC não parece desempanhar papel relevante dado que, segundo os elementos disponiveis, apenas apoiará os grupos sediados em M’Pack e Kassou.

O reabastecimento das Frentes do interior da Inter-Região Norte é feito por colunas de carregadores através dos “corredores” tradicionais de infiltração e suas variantes, sendo sempre feitos em movimentos vindos do interior, razão pela qual se descrevem estes “corredores” no sentido inverso àquele em que, até aqui, se tem descrito p fluxo dos reabastecimentos.

Estão detectados os seguintes:

“Corredor” de Sitató, com início em Faquina

“Corredor” de Sambuiá, com início em Cumbamory

“Corredor” de Lamel, com início em Sinchã Djassi

“Corredor” de Sano, com início em Sano [pelo lado Este, entre Barro e Bigene - A.Marques Lopes]

“Corredor” de Canja, com início em Pirgui [pelo lado Oeste, entre Barro e Sedengal - A- Marques Lopes]


- Para a Frente de Morés/Nhacra


Para o Sector do Morés são utilizados os “corredores” de Lamel e Sitató, podendo também com menos frequência utilizar o de Sambuiá, segundo os itinerárioa que se referem:


“Corredor” de Lamel
Morés – estrada Mansabá/Farim sensivelmente em direcção a Biribão – Biribão – cambança do rio Camjambari nas proximidades da tabanca de Béssia – Bricama – cambança do rio Jumbembem – cambança do rio Lamel – estrada Jumbembem/Farim – Fambantã, seguindo depois um carreiro até um local nas proximidades da fronteira onde a coluna aguarda a chegada do material. Este vem da arrecadação existente na base de Sinchã Djassi e é transportado até ao referido local em viaturas, sendo ali entregue às colunas que o esperam. O regresso é feito pelo itinerário inverso, tendo o percurso (ida e volta) uma duração de cerca de seis dias. Os locais de pernoita pensa-se que serão em Biribão e Fambantã.

“Corredor” de SITATÓ
O percurso utilizado pelas colunas que do Morés se dirigem a Faquina é feito pelo “corredor” de Sitató segundo o itinerário que se indica:

Morés - Madina – Biribão (onde pernoitam) – Canjambari – Sare Buco – Sumabanta – Sulccó (onde pernoitam) – Faquina

Este itinerário é utilizado na ida e no regresso e leva três a quatro dias a ser percorrido, em cada um dos sentidos.


“Corredor” de SAMBUIÁ

A possibilidade de reabastecer o Morés por colunas que através do “corredor” de Sambuiá passem ao Iado e daqui ao Morés é viável, não estando no entanto referenciada a utilização deste itinerário, a não ser na entrada de algumas personalidades.


[Disse-me o Lúcio Soares, quando estive com ele o ano passado [, 2006], que, em 1968, depois de passar o comando de Sinchã Jobel para o Gazel, e quando já era comandante da base do Morés, sofreu aí uma emboscada quando se dirigia ao Senegal - até lhe disse que, se calhar, tinha sido eu...; numa outra emboscada aí também, foi referenciado o Luís Cabral, que ia de jipe - A. Marques Lopes]


As forças do Sector de Nhacra podem ser abastecidas de Norte, através do “corredor” de Sitató até Canjambari e daqui para Gussará, Uassado até Suarecunda, onde se encontra a principal arrecadação do Sector. Não é este porém o itinerário normal para reabastecer o Sector, mas sim a partir da Inter-Região Sul.

Os carregadores, utilizando canoas, aproveitam o fim da maré vazante e a maré enchente para, a partir da foz do rio Malafo, cambar o rio Geba e entrar no curso do rio Corubal que sobem até ao Injassane, a partir donde as colunas seguem apeadas o itinerário já referido do “corredor” de Missirá.

O regresso é feito novamente em canoas, aproveitando a maré vazante que as leva até meio do curso do rio Geba e daqui, empurradas pelo iníco da enchente, até à foz do rio Malafo.

Os percursos no rio Corubal e rio Geba são feitos durante a noite, sempre condicionados às marés.

Do antecedente estavam detectados dois itinerários que, saindo de Suarecunda, faziam a ligação com o Sector de Morés, conforme o seguinte esquema:





Estes itinerários, que serviam especialmente para que os elementos IN do Morés pudessem vir ao Hospital do Sara, parece contudo que estão abandonados.


- Para a Frente CANCHUNGO/BIAMBE

O Sector do Biambe pode ser reabastecido através dos “corredores” de Canja, Sano, Sambuiá, Lamel ou mesmo Sitató, portanto por todos os “corredores” actualmente referenciados.

Se as colunas vão reabastecer-se a Faquina ou Sinchã Djassi são utilizados os “corredores” de Lamel e de Sitató, a partir de Canjambari/Biribão, locais que atingem Naga por:

Insumeté – Contuba/Muno – Iador – Cossuba – Concolim – Biambe – Queré – Namedão – Morés – Coli Sare – Madina

Se as colunas vão à base de Cumbamory é utilizado normalmente, que na ida quer no regresso, o “corredor” de Sambuiá, segundo os itinerários que se descrevem, até Samoge:

Insumeté – Concolim – Jagali – cambança do rio Cacheu em Binta G3-61 – Udasse – Simbor – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Concolim – cambança do rio Cacheu em Binta 2 C6-89 – Simbor – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Sibicunto – Tancroal – cambança do rio Cacheu em Binta 5 B6-86 – Buborim – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Concolim – cambança do rio Cacheu em Binta 2 B4-94 – Malã – Bolom – Samoge

De Samoge as colunas seguem para Cumbamory onde, após recebido o abastecimento, regressam pelos itinerários inversos.

Se o reabastecimento é feito na base de Sano as colunas de carregadores utilizam em princípio, na ida e no regresso, o “corredor” de Sano por:

Insumeté – Iador – Biur – cambança do rio Cacheu em Bigene 5 I2-47 – Suar – Limane – Bucaur – Singap – Toubakouta, onde, junto duma arrecadação do Partido, recebem o material vindo de Samine.


[Samine é no Senegal, muito perto de Barro, tal como Sano, e, segundo Luís Cabral, em "Crónica da Libertação", o PAIGC tinha aí um armazém de material de guerra - A. Marques Lopes]


Pode também ser utilizada uma variante deste “corredor” por:

Saiamcuto – Barro Grande – cambança do rio Cacheu em Bigene 5 G5-32 – Biur – Iador – Insumeté, ou mesmo o “corredor” de Sambuiá, fazendo os movimentos de ida e regresso por itinerários diferentes.

Se as colunas utilizarem o “corredor” de CANJA podem seguir os itinerários:

Insumeté – Fajã – cambança do rio Cacheu em Bugem [Bigene?...] 5 E8-23 – Ponta Nova – Mansacunda – Sinchã Mamadu – Kossi

Insumeté – Fajã – cambança do rio Cacheu em Bigene 4 D3-92 – Santana – Mansacunda – Sinchã Mamadu – Kossi

Insumeté – Brufa – cambança do rio Cacheu em Bigene 1 H9.81 – Canja – Bissabur – Kossi

Insumeté – Brufa – cambança do rio Cacheu em Bigene 1 H9.81 – Canja – Bissabur – Pirgui

[Era a Titina Silá quem dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu, segundo diz o Luís Cabral no seu livro "Crónica da Libertação". Diz aí também que ele, Luís Cabral, mais o Chico Mendes eram os responsáveis da Frente Norte - A. Marques Lopes]


- Para o Sector de CANCHUNGO

Para os reabastecimentos deste Sector está referenciada a ida de colunas de carregadores a Sinchã Djassi (Hermacono), Cumbamory e Sano, de onde trazem o material e víveres para a região de Caboiana/Churo, onde se encontra a principal arrecadação do Sector.

Os itinerários utilizados são os que já foram descritos pelo que se faz somente referência ao percurso feito até à região de Insumeté.

As colunas partem de Caboiana/Churo, seguindo por Barme, Balem, Banhida, Gaguepe, Jopá. De Jopá partem dois itinerários que, seguindo por Ponta Vicente, Bucula e Ponta Matar ou Gipo-Ponta Neaga, se reunem novamente em Ponta Ponhasse, seguindo por Santarém, Jundum, Empabá até ao Insumeté, seguindo depois os itinerários já descritos.

Eventualmente, admite-se que este Sector possa ser reabastecido pelo “corredor” de Campada por

Caboiana/Churo - cambança do rio Cacheu em Poilão de Leão - Campada – Poubosse

Este corredor, já em tempos utilizado pelo In, não está actualmente a ser usado.





[Para melhor compreensão da organização e papel dos "corredores" , mostro esta imagem abaixo que define como o PAIGC tinha distribuídas as suas Frentes de Luta. Pertence ao SUPINTREP N.º 31 (de que, com tempo, também hei-de dar conhecimento) - A. Marques Lopes]



___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3211: PAIGC: Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)

(**) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte



Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > Proximidades de Nhacobá > Dois guerrilheiros mortos no decurso de uma operação, em finais de 1973, que envolveu, pelo lado das NT, diversas forças (Batalhão de Comandos Africanos, a CCAV 8351, aquartelada em Cumbijã, a CART 6250, a unidade de quadrícula de Mampatá, a que pertencia o José Manuel Lopes, Fur Mil Op Esp)...

Na primeira foto vê-se o Fur Mil Gomes, madeirense (hoje a viver no Canadá), do Pel Caç Nat que estava sediado em Mampatá (o José Manuel não se lembra do nº desta sub-unidade)... Foram os soldados e as milícias africanos que despojaram os cadáveres dos seus pertences (armas, roupa e haveres pessoais), uma prática que dificilmente os graduados conseguiam evitar, prevenir e muito menos reprimir...

Este é um dos lados brutais da guerra: já não basta matar, é preciso profanar o cadáver do Inimigo, destruir-lhe o resto de humanidade, de dignidade, que deve ter um morto, mesmo que seja um combatente inimigo... O José Manuel andava sempre com a sua máquina a tiracolo... Foi ele o fotógrafo... Chegou já tarde, depois da morte e do saque... Mas o fotógrafo esteve lá. Imagens que são raras, e que ainda hoje nos chocam... Põe-se a questão (ética) de as publicar ou não.- O meu entendimento editorial, é que as devemos divulgar neste blogue: têm interesse documental, sócio-antropológico, historiográfico e didáctico... Somos decididamente contra a exploração (comercial, mediática, ideológica ou outra) da estética da violência e da morte, o voyeurismo, a morbidez, mas somos também contra o falso pudor, o cinismo e a hipocrasia.(LG)


Gente do 1º e 2º Gr Comb da CART 6250, envolvidos na oeração acima referida...Na altura já a estrada em construção (que vinha de Quebo) tinha chegado a Nhacobá... O PAIGC procurou opôr-se, com tenacidade, à sua construção, já que ela atravessava o estratégico corredor de Guileje (que, vindo da Guiné-Conacri, passava por Guileje, Mejo, Salancaur...) (1).

Com o 25 de Abril, a estrada parou em Salancaur (vd. Carta de Guileje). Hoje o alcatrão desapareceu, depois de Quebo... Há uma amostra, esburacada, entre Quebo e Mampatá (vd. Carta de Xitole)... Na foto, um dos camaradas do José Manuel está deitado, sobre o ombro esquerdo, junto a uma arvore, com um pano branco sobre a coxa direita... Foi atingido por um estilhaço de RPG e aguarda evacuação por helicóptero...

O Capitão da companhia era um miliciano, Luís Marcelino, "um amigo, antes de ser capitão" (leia-se: amigo, apesar do posto, do cargo, dos galões...), um homem por quem o José Manuel ainda hoje nutre um sentimento de respeito e de amizade... Nesta companhia, é de assinalar a deserção do Alf Mil Fragata, em circunstâncias que o José Manuel um dia poderá contar, se assim o desejar e entender.

A CART 6250, que vai apanhar o 25 de Abril em Mampatá, sofreu um único morto em combate, numa mina A/P ou A/C... É esse morto a que se refere o poema do dia que hoje publicamos, em homenagem a todos aos muitos mortos, de um lado e de outro, que esta guerra provocou.

Temos falado aqui dos "nossos mortos", espalhados por centenas de cemitérios improvisados nas muitas matas e povoações da Guiné... É justo também lembrar os mortos do PAIGC, combatentes e população que ficaram insepultos ou enterrados, sem dignidade nem honra... Haverá milhares de sítios na Guiné, onde repousam os restos mortais de homens e mulheres, mortos ao longo dos anos da guerra colonial / luta de libertação, e que nem sequer estão sinalizados...

Alguma das ideias que estão agora em discussão entre os organizadores do Simpósio Internacioanld e Guiledje (Guiné-Bissau, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008) passam também por levar a cabo um conjunto de iniciativas que melhorem "a auto-estima dos Combatentes da Independência", incluindo:

(i) divulgação da a exposição “Amílcar Cabral, a Frente Sul e Guiledje”, da Fundação Mário Soares, nas escolas e agremiações culturais de todas as regiões do país, explicada directamente por Combatentes, visando fundamentalmente os jovens que nasceram no pós-independência;

(ii) construção da sede regional dos Combatentes em Farim (Cantanhez);

(iii) recenseamento dos Combatentes de Cubucaré;

(iv) Reabilitação da Base Central na zona de Daresalam;

(v) Identificação e sinalização de todas as barracas da luta [acampamentos temporários], na mata de Cantanhez;

(vi) Continuação da recolha em DVD de testemunhos dos Combatentes;

(viii) E, por fim, e não menos importante, Dignificação das campas dos Combatentes enterrados em Cubucaré... (Ideias pós-Simpósio, que me foram transmitidas pelo Pepito, e que estão em debate) (LG).

Fotos: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Texto e fotos enviados a 12 de Abril último, pelo José Manuel Lopes (2):

Naquela picada havia a morte
havia a morte naquela picada
de vinte e quatro
foi tirada a sorte
para um foi a desgraça
o diabo o escolheu
ou foi Deus que o esqueceu
havia a morte naquele caminho
naquela picada havia a morte.

Estrada de Nhacobá, 1973
josema
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)

(2) Vd. postes anteriores:

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

sábado, 5 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?


Uma das célebres fotos de Bara István, o fotógrafo húngaro que esteve embebed com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70. Nesta imagem, da sua fotogaleria, mostram-se os efeitos do napalm... Presume-se que seja uma vítima dos nossos bombardeamentos. Não se diz exactamente onde foi tirada. A legenda (em húngaro) é a seguinte: Bara István: Napalm áldozata.Guinea-Bissau, 1969. Julgamos tratar-se de uma imagem copyleft... De qualquer modo, reproduzimo-la com a devida vénia e agradecimento ao autor e citando a sua página (comercial).

Foto: Foto Bara (com a devida vénia...)


Napalm
que pões branca
a negra pele
quem te inventou?
que queimas árvores centenárias
que fazes em sal
a terra arável
quem te soltou?
tu...
de quem nasce
a luz que cega
e o som que ensurdece
e causas dor
sem saber a quem
se ao homem que guerreia
se à criança que brinca
ou à mulher que semeia
quem te apaga a luz?
e não te deixe voar
quem te vai silenciar?


Salancaur 1974

josema (2)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

(2) José Manuel Lopes, o José Manuel, muito simplesmente... Foi Fur Mil, Op Esp, CART 6250 (Mampatá, 1972/74), e sobretudo é um grande poeta, além de produtor de excelentes néctares... na sua Quinta da Graça, no Douro.

Este poema que ele acaba de me mandar, há quatro horas atrás, vem justamente a propósito do último poste do Nuno Rubim, e por isso o publico de imediato, preterindo os anteriores, que serão oportunamente divulgados (recordam-se que ele prometeu, e tem cumprido, mandar-me todos os dias um poema da Guiné, escrito na Guiné).

Vd. poste do Nuno Rubim: 5 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2722: Fórum Guileje (12): Bombas de napalm e outras curiosidades da nossa visita ao Cantanhez (Nuno Rubim)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?






Guiné > Região de Tombali > Simpósio Internacional de Guiledje > Visita ao sul > 3 de Março de 2008 > Imagens, eternas, do Rio Corubal: rápidos do Saltinho (a primeira, de cima); rápidos de Cusselinta, as restantes.

Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mais poemas do dia, do José Manuel, recebidos, dia a dia, ao longo de uma semana, de 8 a 15 de Março de 2008. Foram escritos na Guiné. Estavam guardados no baú do sótão. O José Manuel foi Fur Mil, Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74. Obrigado, camarada, por quereres partilhar connosco a tua escrita poética.

Já nada é igual
num mundo que cai
onde havia esperança
espreita o mal
é uma vida que se vai.

Salancaur 1973

josema
__________

A escuridão
pode não ser o fim
se após a noite
vier o dia
na escuridão
podemos encontrar estrelas
se depois de nós
houver sempre crianças.
josema
___________________

Pensar que amar é dor
é não amar
amar
é dominar
a violência
que há em nós
é um não á guerra
é não haver polícias
nem milícias
é procurar carícias
num prazer por acabar
josema
Guiné 1973
________

-Sabes? Sonhei
que as coisas boas
não acabaram
pois
não têm fim
acreditei
que vale a pena esperar
vale a pena
saber
que o nosso inferno
um dia
vai acaba
o maldita
ou a má sina
como lhe queiras chamar
havemos de enganar
juro-te
sinto dentro de mim
confiança
uma força renovada
-dos tolos! dizes tu
-seja, porra,
mas vale a pena
pois 'tou
farto de escutar
aquela voz
que tanto quero calar
‘tou farto de lamentar
este destino traçado
foda-se!
quero um futuro
marcado
com traço
por mim riscado.

Kolibuia (2) 1973
Josema
___________________

Seria bom pronunciarnuma doce ilusão
um até sempre
a dor atenuar
com um tímido
acenar de mão
não deixar
que a crueza da razão
se sobreponha à paixão
é bom sonhar
é bom esquecer
ou então nunca saber
que só nos pode ficar
um adeus como opção.

Guiné 1973
___________

Quero sonhar
e não consigo
viver um mundo
que não tenho
nem encontro
desejo amar
e não morrer
quero esquecer
a luta ódio
e não sentir
a amargura do suor
encontrar a paz
enterrar a dor
sim irmão
além no horizonte
bem longe
para lá daquele monte
mas o mundo ri
é louco
não vê
nem um pouco
e caminha para o fim.

Guiné 1973
_________________

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra
que as viúvas choraram
mas já não recordam
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem
descendentes
que os lembrassem
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai
vítimas de guerras
que não inventaram
em tempo que já lá vai
falar deles é prevenir
se bem que de nada lhes valha
de guerras que possam vir
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.
__________________

Olhos semi cerradosquerendo ver
para além das árvores
passo controlado
procurando caminho
já calcado e pisado
orelhas a pino
a querer ouvir
além da neblina
todos os sentidos
são poucos
escaparão com vida?
não ficarão loucos?

Carreiro de Uane 1972
josema
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Notas de L. G.:

(1) Vd. postes anteriores:





(2) Colibuía: povoação junto ao Rio Corubal, perto de Aldeia Formosa ou Quebo, que não consigo identificar na Carta do Xitole. Vd. poste de 26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVIII: Os rios (e os lugares) da nossa memória (2): Corubal (Saltinho e Contabane) (José Neto)