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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente



Brasão de armas da cidade de Bissau (1973)


1, Mensagem do nosso leitor e camarada,  Evaristo Pereira dos Reis, que foi 1º cabo condutor auto, de rendição individual (Bissau, QG, 1971/73), com quem já conversámos ao telefone e convidámos para integrar a Tabanca Grande:


Data: 31 de dezembro de 2016 às 16:44
Assunto: Guiné 71/73

Cumprimentos a todos os intervenientes naquela malfadada guerra.

Também participei nela durante 24 meses certos. Embarquei no paquete de então, o "Angra do Heroísmo",  em 24 de Novembro de 1971. Foram cinco dias de viagem que jamais me esquecerei, fui alojado no porão daquele monte de ferrugem e humidade, com colchões de palha com várias
dezenas de anos e dedicatórias com datas mais antigas do que o meu nascimento.

Ao terceiro dia o navio avariou,  ficando á deriva, escusado será dizer que a sensação de náuseas e com o vomitado daquelesestômagos mal fornecidos e mentes abaladas, o cheiro era azedo com a
humidade e calor, fazia um cocktail que qualquer ser humano não
gostava de passar.

Nesse mesmo barco viajava também a 35ª Companhia de Comandos, esses um
pouco mais bem instalados.

Finalmente chegados ao cais Pijdjiguiti, estava-me esperando o 1º sargento Furtado, homem que tinha conhecido no antigo aquartelamento,Trem Auto, onde tive a função de instrutor de condução, localizado na Av. de Berna em Lisboa, hoje e muito bem transformado em Universidade.

Voltando á minha chegada fui colocado na secção do ficheiro, no Quartel General, local aparentemente privilegiado em relação aos meus camaradas, local onde comecei a ter consciência do
que se passava naquela província em gura. Nesse serviço  estavam arquivadas as fichas de todos os intervenientes naquele teatro de guerra que eu considero de tortura física, mental e psicológica,

No arquivo assinalava os mortos, os desaparecidos, os evacuados, os que tiveram a sorte de já ter regressado e os que se encontravam presentes. Claro que a curiosidade principal foi ver a ficha do maestro da banda, Tive oportunidade de estar bem perto dele, diversas vezes, Refiro-me ao
homem da lupa pelo qual nunca tive qualquer simpatia.

Passado um mês tive oportunidade de concorrer a um cargo de Mestre de Obras, para a Cãmara Municipal  de Bissau para o qual estava talhado, Chefiada pelo major [cav Eduardo} Matos Guerra [1931-2016] como Presidente da Câmara, homem duro, aliado e bastante protegido pelo Governador,

A partir desse dia a minha farda foi arquivada no armário atá ao dia do regresso, Foi muito difícil
desempenhar tal cargo, a Câmara não tinha recursos, imaginem que tinha que fazer os remendos das ruas com cimento, porque não tínhamos alcatrão, Mesmo assim consegui fazer obras de algum vulto praticamente sem recursos, recorrendo a máquinas da engenharia militar,  chefiada pelo então Cap. Branquinho e Furriel Guedelha, sobre os quais nunca mais tive noticias.

Também existia uma empresa civil de construção ali sediada com o nome de TECNIL, Esses eram os meus fornecedores gratuitos.

Fiz uma messe para Sargentos e renovei o bar de oficiais dentro do Hospital Militar. Alarguei parte da estrada de Bissalanca, para o aeroporto,  arrancando dezenas de mangueiros. Fiz uma vala de drenagem e alargamento da estrada para o Quartel General, Enfim, fiz várias obras de
beneficiação para melhorar aquela cidade, passando nestas lides diárias os restantes e difíceis 23 meses.



Guiné > Mapa de Bissau (1949) > Escala de 1 /50 mil > Posição relativa de Bissau e Bissalanca (aeroporto)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2017)


Regressei no avião dos TAM, no dia 29 de Novembro de 1973, Regressei bastante desgastado, tive a sorte de não estar directamente no teatro de guerra, mas estava bastante informado,  sabendo o que os
mais desafortunados sofriam diariamente.

Durante muitos anos não desejei voltar aquele País, mas hoje talvez voltasse.

Não estou ligado a qualquer grupo de convívio de antigos combatentes, talvez por ter poucos conhecimentos da época, visto ter ido em rendição individual.

Hoje tenho 66 anos,  resido em Setúbal, tenho esposa,   filho e dois netos de 5 e 8 anos, tenho algumas dores mas estou vivo.

Desejo a todos o melhor da vida e aproveitem- na no que puderem.
Bem hajam a todos.
Evaristo Pereira dos Reis
Telem (...)

_________________

Nota do editor,

Último poste da série > 25 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16133: O nosso livro de visitas (189): Morreu, em 17/4/2016, o meu pai, Cherno Sanhá, formado em Cuba, em engenharia de telecomunicações, filho do rei de Badora (Luís Causso Sanhá)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15502: Tabanca Grande (479): José Fernando Estima, de Aguada de Cima, Águeda, ex-fur mil, CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Bissau, Bolama, Piche, Cambor, Canquelifá, Dunane, Ponte Caium, Camajabá, 1972/74)... Grã-tabanqueiro nº 708... quase cinco anos depois de um primeiro (e único) contacto telefónico


Foto nº 1





Foto nº 2






Foto nº 3





Foto nº 4





Foto nº 5





Foto nº 6





Foto nº 7





Foto nº 8





Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11


Fotos:  © José Fernando Estima (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Mensagem do nosso leitor e camarada José Fernando Estima, com data de 13 do corrente:

Sou ex-combatente,  fur mil José Fernando Estima,  da CCaç 3546 / BCaç 3883 [, 1972/74].  E,  como prometi ao Luis Graça há tempos,  sou a enviar algumas fotos da minha passagem por terras da Guiné, nomeadamente, Bissau, Bolama, Piche, Cambor, Canquelifá, Dunane, Ponte Caium, Camajabá.

Presentemente, estou reformado tendo trabalhado sempre na indústria,  ora como desenhador, ora como encarregado geral (Portugal e África do Sul).

Cumprimentos a todos os camaradas. Sempre ao dispor.

PS - Luis, sou aquela pessoa que te contactou por telefone há uns tempos (*)  e falamos acerca do teu amigo e meu camarada Jacinto Cristina, padeiro em Ponte Caium. Se quiseres,  na próxima mando mais fotos , pois tenho muitas (**). Um forte abraço.


2. Resposta do editor LG:

Camarada Estima, és bem vindo à Tabanca Grande!... Vou fazer a tua apresentação. Passas ser o nosso grã-tabanqueiro nº 708...

Como vês, já somos mais do que um batalhão. Vou dar conhecimento da tua presença à malta da tua companhia, registada no nosso blogue:

 (i) Jacinto Cristina, de Ferreira do Alentejo (representado pela sua filha, a engª Cristina Silva, que vive na Madeira; o Jacinto não tem email); 

(ii) Carlos Alexandre, de Peniche (, aliás, era conhecido pelo "Peniche", a última vez que falei com ele ao telefone, trabalhava nos estaleiros navais da sua terra); 

e (iii) Florimundo Rocha, de Alagoa, Algarve (também representado pela filha, Susana Rocha)...


Todos eles eram do 3º Gr Comb, "os fantasmas do leste"... Vão, por certo, ficar felizes por terem notícias tuas...

Quanto ao teu telefonema, já tem uns aninhos (*): deve ter sido em fevereiro de 2011... Na altura disseste-me que eras natural de Águeda, e que  trabalhavas em Aguada de Cima, mesmo junto ao Restaurante Vidal, um dos restaurantes de referência dos apreciadores de leitão. Deves conhecer os nossos camaradas da tua terra, Paulo Santigo e Victor Tavares...

Também, me pediste, nessa ocasião,  a tua entrada formal na nossa Tabanca Grande. Ficaste de pedir ajuda, a um dos seus filhos ou filhas, para digitalizar fotos do seu álbum. Pediste-me t6ambém para mandar um abraço à malta da tua companhia e do seu batalhão, extensivo a toda a Tabanca Grande. Demoraste uns aninhos, mas aqui estás!... Que sejas bem vindo!

Quanto às fotos do teu álbum, que dizes ter muitas, vai mandando, de preferências com legendas (data, local, etc.). Os créditos fotográficos serão sempre teus. Mandam as fotos digitalizadas com boa resolução. As que mandaste não estão más, mas podiam ter o dobro da resolução... E vieram sem legendas... Nas fotos nº 1 e 2, deves estar tu... Será que eras de arnas pesadas de infantaria ?  As fotos nº 4 e 5 dizem respeito ao obus 14... Estava em Piche ?... As fotos nº 6 e 7 parecem-me ser da ocasião em que a TECNIL, que estava a fazer a estrada de Piche-Buruntuma, sofreu um ataque com mortos e destruição de viaturas... As fotos nº 8 e 9 dizem respeito a um canhão sem recuo, montado num jipe, que foi à vida... Qual a razão ? Rebentamento de mina A/C ? RGP 2 ou 7 ? Autoexplosão ?.. A foto nº 10 deve ser sido tirada num destacamento, depois de um ataque...

E diz-nos algo mais sobre ti e a tua companhia... De que grupo de combate é que eras, quando passaste pela Ponte Caium, o que fazes atualmente, etc. Ah!, e não te esqueças de me mandar um foto atual, tipo passe, e outra, do tempo da Guiné, para a malta te reconhecer... Já são muitos anos de distância...  Serás o nº 708, em termos de antiguidade na Tabanca Grande: és o último que acaba de entrar...

Desejo-te boas festas para ti e toda a família. Muita saúde, feliz Natal. Luís Graça e demais editores e colaboradores.

3. Saudação da Cristina Silva, em nome do pai, Jacinto Cristina, com data de ontem:

Olá, meu amigo, Luís Graça!!

Espero que esteja bem, junto de toda a família!

Que bom ter notícias de mais um camarada da Guiné! Espero que em breve nos juntemos todos, a uma mesa portuguesa. com certeza, para estarmos e recordarmos...

Um grande beijo.

Cristina
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7742: O Nosso Livro de Visitas (106): José Fernando Estima, natural de Águeda, ex-Fur Mil, CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, Piche, Cambor (1972/74)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12313: Memória dos lugares (254): Aquartelamento de Bambadinca, c. 1970 (Fotos de Humberto Reis, CCAÇ 12, 1969/71) (Parte II)... Daqui da ilha de Luanda e enquanto tenho acesso à rede sem fios, mando um abraço madrugador a um bom camarada que também passou pela "cova do lagarto" , e que hoje faz anos, o Mário Miguéis da Silva. (Luís Graça)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 >  Foto  nº 1 > Vista aérea do aquartelamento e posto administrativo de Bambadinca (que pertencia ao município de Bafatá) > Vista aérea, obtida de helicóptero,

Em primeiro plano o edifício do comando e as instalações de oficiais e sargentos. Bambadinca (em mandinga, "cova do lagarto") ficava numa pequena elevação ou morro, sobranceiro à extensa bolanha (a leste, à direita da imagem) e ao rio Geba (a norte), e de que vê uma nesga, ao fundo do lado esquerdo.

Nesta altura, por volta do 1º trimestre de 1970, Bambadinca albergava mais de 700 militares (incluindo a CCS/BCAÇ 2852, prestes a terminar a sua comissão, mais um companhia de intervenção, a CCAÇ 12, 1 pelotão de morteiros, 1 pel rec daimler, 1 pel caç nat, mais 1 pelotão de intendência (embora este tivesse instalações próprias, junto ao porto fluvial de Bambadinca, na margem esquerda do Rio Geba Estreito).

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > Foto nº 2 >  Outra vista parcelar do aquartelamento: em primeiro plano, a rede de arame farpado e as valas de proteção ao longo do perímetro do quartel e posto administrativo (que além das instalações do posto, incluia ainda uma estação dos CTT, uma capela, uma escola com alojamento  para a professora, que era cabioverdiana)...

A tabanca de Bambadinca, propriamente dita, ficava entre o aquartelamento e o rio, ou seja, a norte, já fora do perímetro de arame farpado... Além de diversas moranças, incluia pelo menos 3 estabelecimentos comerciais, incluindo a Casa Gouveia, e as lojas do Zé Maria e do Rendeiro.  A sul do aquartleamento, a menos de um quilómetro, havia outra tabanca, reordenada, chamada Bambadincazinho.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > Foto nº 3 > Na altura estava em contrução, a cargo da empresa TECNIL,  a nova estraada (alcatroada) Xime-Bambadinca, fazendo depois ligação à estrada Bambadinca-Bafatá, que já existia,,, Na imagem acima, vê-se parte das movimentações de terra, necessárias para a terraplanagem... A nova estrada contornava Bambadinca, pelo lado da bolanha (pelo lado leste).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 >  A foto original, com resolução igual a 1,75 MB, a partir da qual obtivemos as três  imagens, inseridas acima, permitindo um maior detalhe do aquartelamento.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), que tem seguramente algumas das melhores fotos  aéreas da da zona leste (Bambadinca, Xime, Mansambo, Xitole, Bafatá...) tiradas de helicóptero... São fotos de "slides", digitalizados. Ele tinha na altura uma boa relação com um ou mais dos pilotos da FAP, o que lhe permitiu apanhar algumas boleais e ver a Guiné "by air"... Enfim, um pequeno privilégio que não era para todos... (Re)publciamos hoje mais uma foto de Bambadinca, "by air", tirada de heli AL III, na aproximação ao heliporto, que ficava do aldo direito fa foto. Vd. poste anterior, P12310 (*).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > Nesta outra foto,  tirada de terra, veem-se os trabalhos de construção da nova estrada Xime-Bambadinca que iria fazer a ligação à estrada Bambadinca-Bafatá... A obra estava a cargo da empresa Tecnil para a qual irá trabalhar, uns largos anos depois, o nosso amigo e camarada Rosinha. Nesta imagem, à esquerda vê-se o morro de Bambadinca e uma nesga da messe de oficiais. Do lado direito, era a grande bolanha de Bambadinca ("cova do lagarto", na língua dos mandingas).

Apoveito para, daqui da ilha de Luanda e enquanto acesso à erde sem fios, mandar  um abraço madrugador, a um bom camarada que passou também por Bambadinca, e que hoje faz anos, o  Mário Miguéis da Silva... (LG).


Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]

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Nota do editor: 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11077: A minha CCAÇ 12 (28): Dezembro de 1970: Flagelação ao pessoal e às máquinas da TECNIL, na nova estrada em construção, Bambadinca-Xime (Luís Graça)


Foto nº 114 > Coluna auto deslocando de Bambadinca para o Xime (ou vice-versa ?), nas proximidades  de Ponta Coli


Foto nº 140 >  Coluna auto saíndo do Xime, e atravessano a bolanha nas peroximidades de Taliuara (ou Ponta Coli ?)






Foto nº 138 > Regresso de coluna auto a Bambadinca, vindo do Xime... Foi daqui que o PAIGC atacou, em força, o aquartelamento de Bambadinca, em 28 de maio de 1969,,, Vê-se ao fundo, do lado esquerdo a grande antena de transmissões e os edifícios...



Foto nº 46 > A ponte do Rio Udunduma, objeto de sabotagem por parte doi PAIGC, na noite de 28 de maio de 1969, aquando do ataque ao quartel de Bambadinca... Pela escassez de água no rio, vê-se que estamos no fim da época seca...Não me lembro de ter visto  o rio Udunduma com um caudal tão fraco...Passei lá muitas noites (do 2º semestre de 1969 ao 1º trimestre de 1971), no destacamento que depois dessa data foi improvisado para defender esta posição estratégica... Com a construção da nova estrada, mais ou menos paralela a esta, foi construída uma nova ponte..


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos.

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)







Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 2: "As máquinas da TECNIL destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma"... Entretanto, nas vésperas do natal de 1970, na construção do troço anterior, Nova Lamego-Piche a TECNIL já havia sofrido 9 mortos...

Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Excerto da pág. 43, cap I,  da história da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca > Subsetor do Xime > Carta do Xime (1955) > Escala 1/50 mil > O traçado a vermelho indica a antiga estrada Xime-Bambadinca, passando por Taliuara, Ponta Coli, Amedalai, ponte do Rio Udunduma... Em dezembro de 1970, ainda estava em construção a nova estrada, a cargo da Tecnil... Na sempre temível Ponta Coli, máquinas e pessoal da Tecnil foram flagelados por um grupo IN, estimado em 20 elementos, no dia 30, às 6h30 da manhã... Valeu a pronta reação das NT que faziam segurança à Tecnil, no início de mais um dia de trabalho... Referimo-nos ao 3º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo nosso grã tabanqueiro alf mil at inf Abel Maria Rodrigues, transmontano, força essa que era reforçada por 1 secção do Pel Caç Nat 54...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).


A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*)... Estávamos com 18 meses de Guiné, e de intensa atividade operacional, desde que na segunda metade do mês de julho de 1969 fomos colocados em Bambadinca, como subunidade de intervenção ao serviço do comando do BCAÇ 2852 (até maio de 1970) e depois do BART 2917 (a partir de junho de 1970)...


(18) Dezembro / 70: tentativa IN de dificultar os trabalhos de construção da estrada Bambadinca-Xime


A 30, pelas seis e meia, um grupo IN estimado em 20 elementos abriu fogo de LRockets [, LGFog,] e armas automáticas em Ponta Coli sobre o pessoal e meios técnicos da empresa a quemf oi adjudicada a construção da estrada Bambadinca-Xime (TECNIL).

A pronta reação das NT (3º Gr Comb / CCAÇ 12, reforçada c om 1 secção do Pel Caç Nat 54) que fazia a segurança, neutralizou as intenções do IN. Na perseguição,a s NT localizaram duas posições de RPG-2. O In retirou na direção de Chacali cujio trilho foi batido pela Artilharia do Xime, tendo na fuga abandonado 1 carregador de Esp Aut Kalashnikov e granada de RGP-2.

Posteriormente foi encontrada mais 1 granada e 4 disparadores para mina A/C e A/P. E um mês depois forças da CART 2715 detectariam casualmente 1 engemnho explosivo na estrada velha, constituído por 2 granadas de canhão s/r e bocados de trotil mas sem qualquer detonador ou mina A/P.

Embora sem consequências para o pessoal da TECNIL (a não ser psicológicas que acabara de sofrer 9 mortos na estrada Nova Lamego-Piche nas vésperas de Natal), esta flagelação obrigaria as NT a reforçar o dispositivo de segurança à estrada. Assim, todos os dias, a partir dasd 5.30h, 2 Gr Com da CCAÇ 12 (ou 1 Gr Comb mais o Pel Caç Nat 54, conforme a escala) passariam a patrulhar a área compreendida entre Amedalai. Ponta Coli e Taliuara, instalando-se antes do início dos trabalhos na orla da mata, de maneira garantir uma protecçºao eficiente ao pessoal e meios técnicos, enquanto ao Pel [Rec] Daimler 2206 era dada a missão de patrulhar o troço da estrada entre a ponte do Rio Udunduma  e Ponta Coli. A partir dfas 13h, a segurança passaria  a ser feita pela CART 2715 (2 Gr Comb).

Durante o mês a CCAÇ 12 realizou ainda, a 4, uma patrulha de reconhecimento na região de Dembataco, Madina, Sinchã Mussá, Moricanhe e Sinchã Maunde (Acção Graúda) e 2 colunas ao Saltinho, na primeira das quais, a 9 [de Dezembro,] foi accionada por uma viatura da CCS/BART 2917 uma mina A/C já antiga, junto à ponte do Rio Jagarajá.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10726: A minha CCAÇ 12 (27): Novembro de 1970: a 22, a Op Mar Verde (Conacri), a 26, a Op Abencerragem Cadente (Xime)...(Luís Graça)

domingo, 25 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9655: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (21): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte III)



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Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > Máquinas da TECNIL operando na construção da estrada Bambadinca-Xime. Numa delas (foto de cima), lê-se: "Deus Te Guie BX 1970"...Na última foto, forças da CCS do BART 2917 montando segurança aos trabalhos de construção da estrada.


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Legendas: L.G. Todos os direitos reservados




1. Mensagem de António Rosinha, com data de 6 do corrente, enviando-nos a III (e última) parte de um texto sobre a ascensão e queda da TECNIL, empresa de obras públicas portuguesa que operou na Guiné-Bissau, antes e depois da independência:


De: António Rosinha


Data: 6 de Março de 2012 20:57


Assunto: Como desparece em Bissau a empresa TECNIL e é substituida pela Soares da Costa


Um dos últimos trabalhos de que fui incumbido pelos meus patrões da TECNIL, foi uma «ordem» de Luís Cabral.

Este homem era muito dinâmico em questão de investimento em obras públicas e angariação dos respectivos financiamentos. E denotava gosto por tal actividade e tinha muitos engenheiros nacionais e cooperantes a mexer em tudo.


Luís Cabral pretendia reformular uma residência bastante moderna que foi propriedade de um antigo cólon que eu não conheci, para sua residência, penso eu. Essa residência ficava a traz do gabinete do primeiro ministro, e tinha uma portaria que era preciso adaptar, na cabeça de Luís Cabral, para receber o Volvo presidencial, bem junto à porta da residência.


Só que havia um pedaço de jardim e duas colunas à entrada da residência que era preciso derrubar construir noutra disposição, e isso Luís Cabral não queria.

E, agora vou falar em nomes de gente muito simpática e não quero de maneira nenhuma fazer «politiquice» nem com as pessoas nem com a atitude das mesmas nem do momento.

O ministro das Obras Públicas era Tino Lima Gomes que era arquitecto e ainda chegou a dar uma vista de olhos na portaria mas sem qualquer solução.

Mas a esposa dele,  a camarada Milanka, de nacionalidade jugoslava, arquitecta nas Obras Públicas é que foi encarregue de descalçar a bota, e eu no campo executar o impossível. Só que a camarada Milanka não tinha coragem de dizer ao presidente que era impossível executar como ele queria, e eu descarreguei o meu fardo para o meu patrão Ramiro Sobral que se encontrava em Bissau. Onde ia mês sim,  mês não.

E o velho de 75 anos, e muitos anos de África, habituado a resolver casos bicudos, analisou e solucionou:
- Senhora Dona Millanka, (toda a gente dizia camarada Milanka), sabe porque ando nesta vida com esta saúde aos 75 anos? Porque à porta da minha casa em Viseu tem 3 degraus. E subir e descer esses 3 degraus dão-me imensa saúde. Convença o senhor presidente que com 3 degraus resolve o problema e dá-lhe imensa saúde para daqui a muitos anos continuar com o meu dinamismo.

Passados uns instantes já só comigo no automóvel, Ramiro Sobral como que a falar para os próprios botões, previa:
- Com degraus ou sem degraus não vais envelhecer aqui, não.


Talvez uns 15 dias depois, dá-se o golpe a 14 de Novembro de 80 que derruba Luís Cabral.


Visto hoje a 32 anos de distância, sem dúvida que Luís Cabral que fazia muita falta à Guiné, para mim era uma pessoa muito honesta, mas esqueceu-se da política, do povo e dos «inimigos» que arranjou na Guiné, e foi esquecido e isolado pelos «amigos» da Caboverde, e o meu patrão já via isso tudo.

Os guineenses do partido e os congéneres caboverdeanos já tinham abandonado o «trilho» de Luís Cabral há muito tempo, e quando apareceu o precipício não estava lá ninguém para lhe dar a mão e quando chegou lá abaixo era o vazio. Quem estava em Bissau relembrou-se muito do que aconteceu a Amílcar, e ouvia-se muito " só agora é que somos independentes".

Claro que Ramiro Sobral, digo agora a esta distância, já estava também a ver o fim dele próprio naquela terra. E com o fim de Luís Cabral piorava tudo, como se viu até hoje.

Só que com Luís Cabral, havia as chamadas "engenharias financeiras" e os dinheiros iam aparecendo ou com atraso ou parcialmente. Com a fuga de quem sabia essas contabilidades, aí foi mesmo o fim de tudo.

E a TECNIL acaba passados mais ou menos meio ano com todos os bens, máquinas, armazéns, residência em tribunal à ordem dos Tribunais e da vontade da polícia, do ministro das Obras Públicas e dos humores dos engenheiros directores das Obras Públicas, que já nenhum era caboverdeano, os novos ninguém tinha compromisso em respeitar nada.

A TECNIL tinha recentemente como director da empresa um engenheiro Máximo que havia sido capitão de engenharia pouco antes da independência. Esse engenheiro Máximo teve que sair na TAP, clandestinamente, porque já tinha a residência vigiada e seria preso em qualquer altura porque não havia dinheiro para pagar nem salários do pessoal e naquele «comunismo» não havia advogados, e corria mesmo perigo até podiam pegar por ter sido militar tuga.

Estas peripécias já me são contadas cá pois vou a tribunal de trabalho como testemunha do engenheiro Máximo para a TECNIL lhe pagar o que lhe ficou a dever.

Mais tarde há negociações entre o Governo de Nino e a Soares da Costa, que estava como sócio no Liceu com a TECNIL, e esta empresa do Porto, já com gente «actualizada» para a nova realidade da vida, recuperou e lutou por substituir a TECNIL e parece que conseguiu alguns objectivos.

Como não tinha rotina colonial a Soares da Costa recorreu a alguns dos que já tínhamos andado por lá pelas Áfricas desde Moçambique a São Tomé, engenheiros, chefes de mecânica, encarregados de obra e de laboratórios, era uma equipa de "retornados".

Atenção,  que grande parte dos engenheiro portugueses que trabalhavam e eram directores de obra dessas empresas que iam para o ultramar, a seguir às independências, eram em maioria ex-estudantes da Casa do Império que não fugiram para Paris nos anos 60.
Trabalhei com dois da terra do Pepetela que eram relacionados com dirigentes do PAIGC, o que lhe valeu algumas vantagens em concursos de obras.

Para terminar este" fim de uma empresa colonial", tenho a dizer que "paguei para ver". E o próprio velho Ramiro Sobral, bem lá no fundo,  também pagou para ver. Sempre tive curiosidade o que é que os "tais ex-estudantes da Casa do Império" iam conseguir realizar com as independências. 

Só me foi possível satisfazer a curiosidade suportando o "pesadelo TECNIL". Conheci e trabalhei com alguns que não foram para Paris e para a luta e depois conheci ou trabalhei com alguns que foram para a luta. Como alguns desses estudantes ou foram filhos de Chefes de Posto ou de velhos comerciantes ou já estava destribalizados por missionários cristãos, ou filhos de funcionários públicos, queria ver o grau de relacionamento com os povos após a independência.

Tal como se previa por quem conhecia um pouco da realidade africana em geral, qualquer chefe de posto colonial sem armas na mão, conseguia mais apoio popular e unanimidade dos diversos povos, do que Luís Cabral conseguiu. O inicial entusiasmo pela juventude e o fim da guerra era natural, assim como cá em Portugal com o 25 de Abril; assim como o entusiasmo com o derrube de Luís Cabral e um certo entusiasmo exagerado de alguns, até parecia trazer expectativa.

Só que o resultado é sempre negativo porque não é assente em bases definidas, eram apenas facções do mesmo caldeirão partidário a sobreporem-se.

A guerra que discutimos dos 13 anos da nossa guerra do Ultramar é apenas um pequeníssimo flash do péssimo que se passa em África desde 1960 devidamente apoiado pelas Nações Unidas e pela Europa democrática em particular.

E paguei para ver: a Tecnil não cumpriu comigo durante 1 ano, estive em bichas de pão com gorgulho, substitui com vantagem as batatas à mesa por inhame, vi formas de racionamento de sabão, que já não existia, e vi gente que não podia chorar em público os familiares assassinados.

E isto tudo testemunhado e apoiado pelas Nações Unidas e por toda a Europa, e assistido por mim que também ficava calado.

E como ao fim de 40 anos, está em curso um complexo processo de apagamento, ou diluição, ou esbatimento, de certas tribos nalguns países, podemos imaginar as coisas que a Europa e as Nações Unidas são capazes de promover em África, com assentimento dos seus dirigentes.

Hoje, sinto que pertenci a uma geração de portugueses que durante 13 anos Portugal teve uma opinião própria, contrária à maioria da Europa que hoje pouca opinião tem. Será que as pessoas de agora acreditam que tenha sido verdade? Opinião própria emitida em Plenas Nações Unidas, mensalmente em Nova Iorque ?

Para terminar, digo que conheci "um velho de Viseu" que não pensava como os "velhos do Restelo".


Um abraço
António Rosinha
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9561: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (20): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte II) 

terça-feira, 20 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9630: A minha CCAÇ 12 (23): Julho de 1970: "pessoal não ataca população, guerra é com tropa", diz o comissário político... (Luís Graça)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CART 2715 (1970/72) > Xime > s/d  [Julho de 1970 ?] > A artilharia do Xime, a única guarnição do setor L1 que dispunha, em meados de 1970, de um pelotão de artilharia com 3 obuses 10.5, o 20º Pel Art / GAC7... Reconheço, nas fotos, os meus camaradas da CCAÇ 12,  o Arlindo Roda (em cima e em baixo) e o António Marques (em baixo, do lado direito, de perfil).

Fotos: © Arlindo Teixeira Roda  (2010). Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART (1970/72) >  c. Julho de 1970  > Instalações do comando, bem como de oficiais e sargentos > Em plena época das chuvas...

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.







Fonte: História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado, pp. 36/37.



A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)

por Luís Graça

Não me lembro de acontecimentos marcantes (nem exaltantes), no decurso do mês de julho de 1970... Nem mesmo depois de reler a história quer da CCAÇ 12 quer do BART 2917, que tinha acabado, em junho de 1970, de tomar conta do setor L1, rendendo o BCAÇ 2852 (1968/70).

 Possivelmente foi o mês em que vim de férias à metrópole, via TAP. Não vou gastar energias a confirmar isso nos meus papéis. É possível que tenha sido nesse mês, ou em agosto.  

Por outro lado, estava-se em plena época das chuvas, o que trazia sempre fortes condicionalismos à actividade operacional quer das NT quer do IN.  Uns e outros abrandavam a atividade de carater mais ofensivo. Em julho, nessa época, chovia a potes, como já não chove hoje na Guiné-Bissau (pelo me dizem, e tendo em conta as alterações climáticas que se fazem sentir em todo o planeta). Chovia  a potes na região dominada pela bacia hidrográfica dos Rios Geba e Corubal.  Chovia a postes no triângulo Xime-Bambadinca-Xitole. Chovia a potes no setor L1.

O que não impediu a realização em julho de 1970 de, pelo menos, mais 3 colunas logísticas ao Xitole levando os comes & bebes aos nossos camaradas, periquitos, das companhias de quadrícula do novo batalhão (, o BART 2917), estacionados em Mansambo (CART 2714) e Xitole (CART 2716)... Colunas sempre penosas, com montes de viaturas civis, que se atascavam, que levavam um dia, às vezes dois, a chegar ao destino e a regressar a Bambadinca...

Por outro lado, tinham (re)começado as nossas idas ao  Xime, aquartelamento ribeirinho, na margem esquerda do Rio Geba, agora com novos inquilinos, a CART 2715... Era patente já, e logo no início da sua comissão de serviço,  a obsessão do comando do BART 2917 com a Ponta do Inglês, e as populações que, sob o controlo do PAIGC, cultivavam a bolanha do Poidon... Os RVIS mostravam, lá em baixo, os laboriosos balantas a cultivar o arroz que depois iria alimentar a rapaziada do(s) bigrupo(s)... Rapaziada que tanto estava in su situ (a 27) como aparentemente dava sumiço (a 13)...

Por outro lado, o novo reordenamento de Nhabijões (um dos maiores, senão o maior, da Guiné) tinha um destacamento, que era guarnecido pela gente mais desconcertante da CCS do BART 2917 e de outras subunidades adidas (como a própria CCAÇ 12), dos básicos aos "aleijados" (sem desprimor)... Não admira que à noite pusessem Bambadinca à beira de um ataque de nervos, com os seus SOS lancinantes via rádio: "Aqui há turras!"... Aconteceu mais do que uma vez, não seria esta (a 22) nem a primeira nem a última...

Pau para toda a obra, os "pretos" da CCAÇ 12, além do destacamento da ponte do Rio Udunduma (e não Undunduma...) e das emboscadas noturnas na famosa Missão do Sono, em Bambadincazinha,  estarão também na segurança aos trabalhos de levantamento topográfico  da nova estrada Bambadinca-Xime, cuja construção vai ser obra da TECNIL... (Não posso perguntar pelo antecessor do António Rosinha nesse tempo, já que  a equipa de topógrafos não era da TECNIL, mas sim da Brigada das Obras Públicas, que presumo tivesse sede em Bissau)...

Vejo, por outro lado,  que o PAIGC, em meados de 1970, já tinha também adoptado a política de sedução do Spínola: afinal, a guerra, no setor L1, era só com a tropa (leia-se: os tugas e os seus aliados, fulas), não com a polução civil, fula ou de outra etnia, muito menos com os negociantes de gado, mesmo que o gado sirva para alimentar as bocas esfomeadas da tropa colonialista...

Era para isso que serviam os comissários políticos do PAIGC, subordinando o poder militar ao poder político... A frase só pode ser de um comissário político: "pessoal não ataca população, guerra é só com tropa"... E esse comissário político poderia ser, na época, um tal Pedro Landim...

Recorde-se o que já se disse, noutro poste, sobre o dispositivo IN na região (apenas no que diz repeito aos subsetores do Xime e do Xitole, excluindo portanto, a região a norte do Rio Geba):

(...) "Nas zonas que o IN efectivamente controla no Setor L1, implantou uma organização e hierarquias paralelas Administrativa e Militar cuja estrutura em pormenor é ainda mal conhecida.


Na primeira, definida pelo Rio Coruibal, entre a foz do Rio Buruntoni e Rio Pulon, por uma linha imaginária que une a foz deste último à nascente do Rio Buruntoni e por este rio até à sua foz, está referenciada a existência do Comissário Político Pedro Landimn que com as FARL controla toda a população civil, sendo Jorge João Bico aparentemente o Comandante Militar da mesma Zona, esta está, dentro da organização IN, incluída na Frente Bafatá-Xitole, Setor 02, e dispõe dos seguintes efectivos:  (i) um Grupo, Comandado por Mamadu Turé na área de Tubacutá; (ii) um Grupo, comandado por Incude na área de Gã Júlio; (iii) um Grupo, comandado por Mário Mendes,  na área de Satecuta...

"Estes quatros Grupos permutam entre sí com frequência as áreas em que actuam. Dispõe o IN ainda na zona, em permanência, de um Grupo Especial de Bazucas comandado por Vitorino Coluna Costa,  normalmente estacionado na área de Gã João e de um Grupo de Sapadores comandado por Mário Nancassa.


"Frequentemente o IN balanceia os meios da Frente Bafatá-Xitole com os da Frente do Quínara pelo que na situação de esforço sobre a Frente Bafatá-Xitole (incluí toda a zona do Sector L-1 a sul do Rio Geba) os efectivos indicados podem ser substancialmente reforçados". (...)

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Nota do editor:

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9561: Caderno de notas de um Mais Velho (20): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte II)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 1970 > Em primeiro plano, os camiões basculantes Magirus Deutz da TECNIL em operação, na construção da estrada do Xime-Bambadinca. Variante que contornava o planalto de Bambadinca, junto à bolanha, a sul, fazendo a ligação ao troço, já alcatroado (e anterior a 1969), Bambadinca-Bafatá... À esquerda, o morro onde se situava o aquartelamento, o posto administrativo, bem como outras instalações civis (capela, escola, CTT)... 

Foto de 1969/70, do ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).


Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada (alcatroada) Bambadinca - Xime > Chegada ao Xime, em 9 de Março de 1974, da CCAÇ 3491 (Dulombi, 1971/74), para embarque em LDG, caminho de Bissau. A esta companhia pertencia o nosso camarada Luís Dias. O Xime era a porta de entrada em (e de saída de) a zona leste... As estradas de Bafatá- Nova Lamego, Bambadinca –Xime, e Nova Lamego-Piche-Ponte Caium foram obras da TECNIL durante a guerra colonial. No final da guerra, estava também em construção a estrada Jugudul-Bambadinca (em junho de 1974, estavam alcatroados cerca de 25 km)... Não tenho a certeza, mas esta empreitada devia estar também a cargo da TECNIL, a principal empresa de obras públicas da Guiné antes... e depois da independência.

 A TECNIL era também um das grandes empresas de obras públicas em Angola, antes da independência... No meu tempo (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/março de 1971), o único troço que estava construído, quando cheguei ao leste, era estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (desconheço o ano em que foi construída bem como a empresa construtora)... (LG)

Foto: © Luís Dias (2008). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Bissau > 1984 > Porto: Projecto da TECNIL, de construção do novo cais... 

Foto: © António Rosinha (2006). Todos os direitos reservados.



 Angola > CART 3514, Panteras Negras, 1972/74 >  Picada de Ninda, Moxico, Lestte de Angola,  1973 > Frente de trabalho da TECNIL... 

"Estavamos em meados de setembro do ano de 73, tinha chegado há poucos dias da metrópole onde passei umas curtas férias, o tempo no leste estava bastante ameno de dia e gelado de noite, próprio da estação do cacimbo no planalto dos Bundas, tínhamos rodado do mato para a 'Pousada',  na Colina do Nengo, onde nessa altura havia muito serviço de colunas, no apoio e protecção à TECNIL. Em fins de julho uma Berliett da nossa Companhia acionou uma mina A/C no troço em construção, entre os rios Luce e Luati e em agosto no troço do Mucoio um autotanque da TECNIL foi destruído também por uma mina anticarro, o que levou a empresa a pedir segurança matinal às suas viaturas até ao local da obra. Saíamos do Nengo de madrugada, bem agasalhados e enfiados no poncho, percorríamos 40 kms até Gago Coutinho, onde chegávamos uma hora antes do nascer do sol; no regresso escoltávamos o 'comboio' de viaturas civis até à frente de trabalho, já muito para além do rio Luati, na picada do Ninda" (...).


Foto (e legenda): CART 3514, Panteras Negras, Angola, 1972/74 > 7 de fevereiro de 2012 > António Carvalho > Estórias de Angola... (Reproduzido com a devida vénia).


1. Continuação de notas do caderno do António Rosinha (*)...



Assunto: TECNIL (2ª parte): (In)adaptação de uma empresa da velha Guiné colonial para a nova Guiné,  independente e comunista.


Esta empresa e seus idosos administradores aguentaram sem declarar falência durante 7 anos. De 74 a 1981.

Era difícil passar de «patrão» a «camarada»,  de um dia para outro, não era fácil. Os trabalhadores faziam reivindicações perante a empresa, mas estava tudo tão mau, socialmente, que tudo o que pudessem exigir nem tinha significado económico porque ou era mais um quilo de arroz  ou um litro de óleo.

Como não era fácil para certos ministros e o próprio Luís Cabral administrar e sustentar aquela «familiaridade/camaradagem» adquirida,  principalmente pelo uso e  abuso por parte principalmente dos «camaradas» do Partido.  É que o fim de Luís  Cabral e seu governo apenas antecedeu uns meses o fim da TECNIL (**).

Pessoalmente considero o desaparecimento de Luís e da TECNIL,  o desaparecimento de duas imagens muito fortes de uma fraca  portugalidade que vai desaparecendo cada vez mais da Guiné.

Se a Guiné-Bissau foi uma terra em que os povos viviam em 1974 com os seus usos e costumes  de há 500 anos, apenas com uma pequena introdução de  hábitos cristãos e muçulmanos, de um momento para o outro vieram ateus, comunistas, maoístas, capitalistas, socialista, idealistas, mais cristãos e muçulmanos, com as mais variadas ideias para fazer o que Portugal não fez em 500 anos, «ajudar e ensinar os guineenses».

Exceptuando a TECNIL, mais duas ou três pequenas empresas e uns pequenos comerciantes,  pouco ficou de decisivo nas mãos de gente da era colonial, após a independência. Ao contrário das ex-colónias inglesas e francesas, em que os velhos cólon continuaram a «ensinar» os seus povos, no caso da Guiné, avançaram as "Nações Unidas"  em força. Eu já tinha visto isso no Congo Belga,  no tempo de Hammarskjöld [1905-1961, sueco, o segundo secretário-geral das Nações Unidas].

A TECNIL funcionava quase como a empresa oficial das Obras Públicas.  Luís Cabral entregou-lhe por concurso público as 3 maiores obras com financiamentos de doadores europeus uns e árabes outros: (i) prolongamento e modernização do aeroporto; (ii) Avenida Bissau-aeroporto (ex-Unidade Guiné-Caboverde);  e (iii) Liceu no Bairro da Ajuda, este em sociedade com Soares da Costa. 

Podia dizer-se que era o mundo inteiro a ensinar "este povo", como diziam em várias línguas, e a TECNIL, Soares da Costa e e dois ou três ministros a cortar árvores para exportar, a única actividade produtiva,  a sério.

Como não sou economista não sei explicar tecnicamente como se leva um empreiteiro à falência. Mas como conheço algumas regras de Obras Públicas que aprendi estes últimos anos na Expo 98 e na Ilha da Madeira nos túneis e viadutos  e em trabalhos para a Refer para o Alfa Pendular,  posso compreender hoje o que aconteceu ao velho engº Ramiro Sobral  (75 anos), em 1980, e à sua velha TECNIL...

Devido à idade, a TECNIL e os seus idosos administradores já não tinham jogo de cintura para uma coisa moderna que antes não existia em obras do Estado Novo:   "DERRAPAGENS ORÇAMENTAIS",  o que por falta de prática levou muita gente a morrer na praia, deixando-se ultrapassar por gente mais "moderna".

Mas porque Luís Cabral lhe entregou, à TECNIL,  um tal volume de trabalhos?

Como já fui encontrar tudo muito complicado em termos de atrasos de obra, falta de equipamentos, as facturas batiam no Banco e nas Finanças sempre "com atraso", ou seja, "se tens vindo ontem tínhamos dinheiro, mas hoje, patacão ká tem".

Sei que uma das principais razões de o governo entregar tanto trabalho à TECNIL, foi a confiança que havia na seriedade das pessoas, mas principalmente porque as outras empresas concorrentes, francesas e portuguesas, exigiam toda a facturação em DÓLAR,  nada ou quase nada em PESOS.

A falta de previsão do futuro dos velhos senhores/camaradas da TECNIL fê-los esquecer que a rotina colonial sem inflação, as compras de equipamentos  em escudos/pesos e o combustível era ir à bomba, ia acabar tudo na Pátria de Cabral.

E deixando-nos de ingenuidades, aquilo que os guineenses chamam «súcu di bass»,  corrupção, começou a fiar mais fino no que toca a grandes empreitadas. Para encher a  "barriga aos barrigudos", em democracia só com grandes DERRAPAGENS, o que no tempo da ditadura de Salazar era tudo pró pequenino, passou tudo a ser à grande e à francesa,  o que deixou a TECNIL completamente ultrapassada. (Sei o que era corrupção antigamente em Angola, soube depois 5 anos no Brasil, soube depois na Guiné, mas bom mesmo foi no nosso portugalinho, principalmente na Madeira e na Expo 98, o dinheiro via-se deslizar, até posso promover visitas guiadas por onde escorreu algum).

É que  cá em Portugal a TECNIL ainda fez umas tentativas, mas com a mesma falta de dinâmica democrática que sobrava  aos novos empreiteiros, o que também ajudou ao afundanço da empresa.

Como faço uma ligação ao fim da TECNIL e de Luís Cabral, tenho a dizer que,  à parte a política, houve muito incómodo para a cidade e cidadãos de Bissau, com a construção da Av Bissau-aeroporto, o que acumulou a outras coisas o descontentamento das pessoas.

É que,  além de já não haver regularmente nem água nem luz, na cidade,  as obras obrigavam ao derrube de casas, sem explicar devidamente às pessoas, ou até indemnizar previamente os donos, a obra parava dias e dias por falta de combustível, os jovens que devoravam toneladas de livros nos bancos e à luz dos candeeiros do jardim do Alto Crim, este simplesmente foi destruído com muita pena no rosto de toda a gente, até da minha parte achei um crime. Já falei nessa «desgraça» noutra altura. Passados muitos anos está lá a Assembleia Popular.

As obras chegavam a parar por falta de alimentos  essenciais à venda para os operários e suas famílias se alimentarem.

Tudo acumulado,  sem dar explicações ao povo, nem explicações políticas nem técnicas nem sociais, aproximava-se o fim do ano de 1980 e em 14 de Novembro Luís Cabral é derrubado.

Luís Graça, como tive um episódio  num trabalho pessoal para o Luís Cabral, em que entrou o velhote Ramiro Sobral, e este previu para mim o fim de Luís Cabral, queria guardar para uma terceira e última parte o fim propriamente dito da  própria TECNI. Em  que houve episódios desagradáveis,  em que o último director de Obra era um Engenheiro Civil saído da engenharia do exército, que havia servido como capitão na engenharia na Guiné.

Um abraço,

António Rosinha
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Notas do editor:
 

(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1327: Tabanca Grande (3): António Rosinha, ex-Fur Mi em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979

(...) Texto do António Rosinha, com data de 6 de Novembro de 2006, que, depois de algum tempo para ponderação, acabou por aceitar o meu convite, bem como o do Vitor Junqueira e do Amílcar Mendes, para se juntar à nossa tertúlia de Amigos & Camaradas da Guiné:

Estimados L. Graça, V. Junqueira e A. Mendes:

Vou decidir aceitar o vosso convite. Faço-o, mas sem jamais me considerar no mesmo patamar de qualquer outro tertuliano, que, digamos, é do Quadro... Considerar-me-ei um tertuliano do Dia Seguinte. Mas, ao aceitar, pretendo pagar as cotas por inteiro, isto é, assumir as responsabilidades de tertuliano que me possam ser imputadas.

Penso que o blogue está para se expandir imenso, e serei o primeiro a dar espaço a outros do quadro. Envio umas fotos da minha guerra que, a par da vida civil que passei em Angola, foi simplesmente um tempo inesquecível de vivência de trabalho e, tirando o ano de 1961, eu posso dizer de paz.

Só vim compreender essa paz quando em 1979 faço um contrato com a TECNIL, e vi que os IN se tinham concentrado à volta da Guiné, e era a maneira mais económica de atingir os objectivos. Envio umas fotos da minha actividade como topógrafo (lembro que não era muito aconselhável nesse tempo andar de máquina a tiracolo): era porto, aeroporto, junto a quartéis, poucos lugares me passaram ao lado, em trabalho. Logo que encontre, vou mandar foto pessoal daquele tempo, nem que seja dos passaportes. As fotos da Guiné não abundam. Termino com um abraço. (...).

(**) Vd. poste anterior da série > 3 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9555: Caderno de notas de um Mais Velho (19): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte I)

sábado, 3 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9555: Caderno de notas de um Mais Velho (19): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte I)

1. Nota do António Rosinha, que foi topógrafo na TECNIL, depois da independência da Guiné-Bissau... Enviada a 27 de fevereiro último, a meu pedido (LG):

 A TECNIL tinha a sua sede e Oficinas perto do cruzamento da estrada de Santa Luzia (Pansau Na Isna) com a avenida que vem da 1ª esquadra que ficou com o nome Unidade Africana.


Iniciou a actividade nas colónias em Angola nos anos 50, sendo já pelo ano de 1959 que iniciou na Guiné.

Estava também em São Tomé e nos Açores. O seu principal sócio (administrador, patrão) era o engº Ramiro Sobral (RS),  com empresas em Viseu, baptizando a TECNIL apenas para as colónias.

Disto tudo apenas sei a partir de 1980, quando conheci o patrão RS, 75 anos, e outros funcionários,  quase tudo gente desaparecida. Tenho ainda o contacto com um amigo desses,  já no lar da 3ª idade. Quando quero saber coisas antigas, recorro à memória desse amigo.

Ao falar da TECNIL e de RS, estamos falando de uma empresa com 3 ou 4 sócios engenheiros civis e/ou técnicos que eram muito respeitados por Spínola e outros, e pelo Luís Cabral e governos respectivos e mesmo depois com Nino. (Às vezes, muita gente que passa pouco tempo em África, não entende muito bem que haja um relacionamento óptimo entre aqueles que se podem dizer que serviram o colonialismo e os que foram as 'vítimas' dessa colonização: ex. a reacção dos cooperantes portugueses, suecos, cubanos , etc. mas mesmo muitos portugueses que passaram por lá, os 20 e tal meses e não tiveram qualquer integração; da parte dos africanos custa mais a compreender essa 'certa intimidade do cólon' quando se trata de jovens, já doutrinados no nacionalismo dos seus países).

Alem de estradas e pontes a TECNIL construía edifícios e obras marítimas. O dinamismo leva o RS a ser representante dos camiões Magirus basculantes e viaturas Peugeot e outros tipos de equipamento.








Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 2: "As máquinas da TECNIL destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma"...

Fotos: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Em Angola era das maiores empresas, tipo Motas, que hoje são a MOTA-ENGIL. Mas perderam tudo, ao contrário dos Motas, cujos administradores estavam numa idade que lhe permitiu "ter jogo" para aguentar os trinta anos de guerra que se seguiu.

Já numa idade bastante avançada desistiram de lutar em Angola, São Tomé e Açores.

As estradas de Bafatá- Gabu, Bambadinca –Xime e Gabu-Piche-Ponte Caium foram obras da TECNIL durante a luta.

Ainda fui encontrar operadores de máquinas, motoristas e pedreiros guineenses e sãotomenses que trabalharam durante a luta nessas obras. Descreviam a destruição de um camião e morte do motorista mais 9 operários, já em finais de 1973 (?) que ao fim do dia de trabalho Gabu-Piche, os turras pediram boleia para Gabu mas o motorista não parou e daí a mortandade.

Contava a "assistência", pois vinha outro camião atrás, que os turras tinham intenção de entrar no Gabu naquele camião, onde não eram vistoriados à entrada de Gabu, e à noite fazerem um ataque ao Quartel de Gabu.

Ainda no fim da guerra construíram aquela ponte cais que fica junto da Marinha, ao fundo da av Amílcar Cabral, e já terminaram depois do 25 de Abril. 



Empresas como esta procuravam usar o máximo operários africanos, desde o servente até ao pedreiro e operador de máquinas. Só que em geral encarregados tinham que ir cá das nossas berças, nem que fossem analfabetos. Claro que melhor era se fossem já filhos ou netos de velhos colonos, que falasse« idiomas étnicos. Mas isso era difícil, porque essa malta vinha em geral, para a Universidade,  em Lisboa Porto e Coimbra.

Mas não era imposição salazarista, nem colonialista, nem economicista, ter um "capataz" tuga, nas empresas, e a estas só lhe interessa produção, e produção só se consegue com boa chefia ou "liderança",  como se diz hoje. Era em casos deste género que os movimentos acusavam o cólon que preteria o africano mesmo mais evoluído, por uma tuga, mesmo analfabeto.

Claro que tenho as minhas ideias sobre isto, mas apenas digo que é mais fácil encontrar um bom médico num Africano do que um bom "capataz", encarregado ou chefe ou o nome que se queira chamar. Dizer isto é fácil explicar já é mais difícil. Do sucesso desse encarregado com o pessoal africano, ou europeu, evidentemente, dependia qualquer obra. Mas se o relacionamento com os africanos falhasse, podia fazer as malas e dedicar-se a outra coisa. O mesmo acontecia com os comerciantes do interior, podiam desistir se fossem tomados de ponta pelos africanos porque falia com certeza.



Os africanos baptizam todos com uma alcunha em língua étnica. Em Caboverde ou Guiné poderá ser em crioulo também. Eu nunca soube a minha alcunha. Se for chefe, preto ou branco, tem alcunha, se esta for para deitar a baixo estás lixado. Até as empresas chegam a ter alcunha.

Não me lembro como o povo chamava à TECNIL. Em estradas a máquina mais preciosa chama-se motoniveladora, e fui encontrar o melhor operador desta máquina na Guiné e era guineense, chamava-se Herberto, a Soares da Costa "herdou-o"com o que mais tarde sobrou da TECNIL, e levou-o para Portugal e Angola.



E como conheci e trabalhei em estradas em Angola, Brasil, Madeira (aqui foi mais túneis mas também entra a niveladora) e estradas de acesso à Expo-98, nunca vi como esse Herberto.

Luís Graça, como disseste para escrever algo sobre a TECNIL, de antes e depois da independência, publica se entenderes esta parte colonial da TECNIL, porque a outra já da minha convivência seria uma segunda parte. E aí poderá dar mais que um poste.

Há, penso que no blogue,  uma foto do tal camião de Piche onde morreram uns tantos. Não sei tirar do Google Earth a localização das instalações da TECNIL que estão com uma boa definição.

Um abraço,
Antº Rosinha
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9363: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (18): Os cães abandonados de Bissau, no tempo de Luís Cabral 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9500: Fotos à procura de... uma legenda (17): Bambadinca ("a cova do lagarto"), abril de 1972, ao tempo do BART 3873 (1971/74)




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Abril de 1972 > Vista aérea parcial de Bambadinca. Foto de autor não identificado. Foto nº 3888.jpg. Tipologia: Diapositivo de película cor acetato 35 mm encaixilhado.  Proveniência: Agência Geral do Ultramar. Copyright: Instituto de Investigação Científica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino, Calçada da Boa-Hora, nº 30. 1300-095 Lisboa Portugal .

Fonte: ACTD - Arquivo Científico Tropical - Digital Repository (Com a devida vénia...)

Legendas: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1. A fotografia não é de grande qualidade, tem pouco resolução,  mas é mais uma vista aérea da nossa amada Bambadinca, ao tempo do BART 3873 (1971/74). Temos mais fotos aéreas desta localidade (que era a sede do Setor L1), no nosso blogue, mas esta é interessante (*), pelo ângulo: é tirada quando a aeronave, vinda de leste (possivelmente Bafatá) se fazia à pista (a oeste) ou passava por cima  de Bambadinca a caminho de Bissau. 



Já não me lembrava deste pequenos afluente do Rio Geba Estreito (vd. margem esquerda, em frente à bolanha de Finete). É, por outro lado,  perfeitamente visível a "circular", alcatroada,  de Bambadinca, início da estrada para Bafatá (a leste) e Xime (a oeste). Estava em construção, esta circular  no final da nossa comissão (em Março de 1971), bem como a estrada (alcatroada) para o Xime... Tudo a cargo da Tecnil, a cujos trabalhos, máquinas e pessoal fizemos constante segurança (a CCAÇ 12, a minha companhia, Bambadinca, 1969/71). A mesma Tecnil onde, regressado de Angola, virá a trabalhar o nosso camarigo António Rosinha, anos depois, no tempo do Luís Cabral.

Ao tempo do BART 2917 (1970/72), Bambadinca tinha cerca de 1500 habitantes recenseados, um pouco menos que o reordenamento de Nhabijões (um dos maiores da Guiné, com cerca de 3 três centenas e meia de moranças).  Posto administrativo e sede de comando de batalhão, Bambadinca ("a cova do lagarto", em língua mandinga) dispunha de um porto fluvial que constituía na época a principal fonte de escoamento dos produtos das circunscrições de Bafatá e Gabu (mancara, madeira e coconote e artigos de artesanato) e de entrada de quase todos os reabastecimentos para as tropas da Zona Leste. Dispunha de sete lojas comerciais e tinha então tendências para aumentar a sua população bem como o seu comércio e a sua importância.

No Setor L1 viviam 15 mil pessoas, sob controlo das NT. Outras 5 mil viveriam sob controlo do PAIGC, segundo a mesma fonte (comando do BART 2917).A malta que conheceu Bambadinca, que acrescente mais elementos informativos... (LG)




O PINT (Pelotão de Intendência) de Bambadinca, na margem esquerda do Rio Geba, junto ao porto fluvial... Assinalado com um círculo a amarelo... Em primeiro plano, a tabanca de Bambadinca, na encosta do planalto onde estava situado o posto administrativo, a capela, o edifício dos correios, a escola, o aquartelamento...



A famosa rampa de acesso ao aquartelamento de Bambadinca...


O planalto de Bambadinca, tendo ao fundo a grande bolanha... Do lado direito, a pista de aviação.  Ao centro, a capela de Bambadinca e as principais instalações militares...




O reordenamento de Bambadincazinha... A estrada (em construção) de Xime-Bambadinca...





Em primeiro plano, as máquinas da TECNIL em operação, na construção da estrada do Xime-Bambadinca, fazendo a ligação ao troço, já alcatroado, Bambadinca-Bafatá... À esquerda, o  morro onde se situava o aquartelamento e o posto administrativo...  Fotos de 1969/70, do ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 
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Nota do editor:


Último poste da série > 5 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9445: Fotos à procura de... uma legenda (16): Tabanca de Gadamael, 1973 ? (José Sales, CCAÇ 4743, Gadamael e Tite, 1972/74)