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quarta-feira, 18 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)

1. Mensagem de Alberto Nascimento(*), ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), com data de 17 de Março de 2009:

Amigo Luís
Enviei em 11/03 um apontamento sobre o tema Abelhas, que julgo não foi recebido, ou aguarda oportunidade para ser publicado. Na dúvida, resolvi reenviar.

Um Abraço
Alberto Nascimento


ABELHAS

Da NEP nunca ouvi falar, mas deve querer dizer, Não Estejas Parado com abelhas por perto ou já em cima de ti, corre o mais que puderes atira-te à água, atira-te de cabeça para o interior de uma moita, (diziam que resultava, que elas terminavam a perseguição), mas parado é que não.

Era o pão nosso de todos os dias no destacamento de Piche. A fonte, situada próximo do quartel secou. Os banhos passaram a ser tomados num charco que ficava na traseira do quartel, mas para beber e cozinhar passámos a ir a uma nascente que nos indicaram e que ficava a uns quilómetros na estrada para Canquelifá.

A nascente até ficava num local bonito, aprazível, onde até apetecia ficar um bocado a apreciar a frescura, as árvores enormes muito próximas da água, só que cada árvore daquelas tinha uma colmeia daquela raça de abelhinha que, com alguma razão, é conhecida por assassina.

Nos primeiros dias ainda mal tinha conseguido colocar o atrelado tanque de mil litros em posição para poder ser enchido com a bomba manual, já elas estavam em cima de nós, furiosas distribuindo ferroadas.

Depois consegui perceber que o que as irritava e obrigava a atacar eram os vapores do escape e passei a colocar o tanque com o motor do jipão desligado. Mesmo assim atacavam frequentemente e nem o fumo que fazíamos com capim molhado impedia de levarmos umas valentes ferroadas.

Foi uma época de grande preparação física, embora forçada, mas posso garantir que foram batidos recordes de velocidade e se a situação se tem mantido, tinha nascido na Guiné a maior e melhor equipa de fundistas portugueses da época.

Com a ida para Bambadinca, acabaram o treinos forçados e as ferroadas.

Julgo que os camaradas bloguistas também tiveram contacto com outro insecto fabricante de mel conhecido por “mosca do mel”. Tinha o comprimento de pouco mais que dois milimetros, não tinha ferrão, mas quando sentiam perigo para a colmeia atacavam em tão grande número que era difícil aguentar. Introduziam-se nos ouvidos, nas narinas por debaixo dos cabelos... eram tão chatas que faziam correr, tal como as primas de ferrão.

Um Abraço
Alberto Nascimento
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)

Vd. último poste da série de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)

sábado, 14 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)

1. Mensagem de Luís Faria(*), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 11 de Março de 2009:

Caro Vinhal

Que estejas bem de saúde
Segue uma estoria, a 6.ª com escrita um tanto esquisita!
Espero que a aceites e publiques

Grande abraço
Luis Faria


As abelhinhas
(desculpem alguma coisinha)

Só uma vez vi um Caterpiller fazer um pião e foi na Guiné e foi entre Teixeira Pinto e Cacheu e que se chamava Capó e em que saí com o meu Grupo e ia a fazer segurança à dita máquina na abertura de um trilho na mata e às tantas viu-se uma colmeia e estava cheínha de abelhaços bravos e o condutor parou e meteu uma rede na cabeça e uma protecção no corpo e disse que o fumo do escape da máquina as ia enraivecer e arrancou e nós da segurança dividimo-nos em três partes e duas entraram na mata pelas laterais e uma ficou atrás da escavadora e paramos e a máquina avançou e o fumo enraiveceu as putas meigas que deram em cima do condutor e a máquina fez um pião e o condutor ficou que nem um Cristo e as cabronas das abelhinhas não satisfeitas deram em cima do pessoal que ia atrás da escavadora e onde eu estava e TODO esse pessoal deu às de vila-diogo e largaram as armas e a merda e o mijo e eu por já estar treinado do Puto fiquei quedo com dezenas delas a andarem-me na cabeça e em tudo menos nos tomates e eu só berrava ao povo para pararem e se manterem imóveis e não adiantou nada e flecharam até ao acampamento de Capó e lá fiquei sem uma beliscadura e sozinho na mata e acompanhado por um monte de G3 e até aparecer o pessoal das laterais estava acagaçado e a zona era bera e já não havia abelhinhas pois perseguiram o pessoal fujão e ferraram-lhes p'ra cara… e o condutor foi evacuado para Bissau e a cabeça dele era uma bola tipo nìvea (perdoem) pelo tamanho e julgo que acabou (espero que não) por falecer e eu fiquei todo Quilhado por toda a gente se pirar e deixarem-me abandonado na mata e isso não se fazia e passei-lhes um sermão dos antigos e responderam que a culpa era das abelhinhas e se fossem Turras não teria acontecido e eu percebi e já estou farto de escrever tantos eee que não prefazem uma centésima parte do avelhame desembestado e ainda por cima sem pontos nem vírgulas para que quem consegue ler e chegar ao fim sinta uma ínfima parte da dificuldade respiratória que senti nessa altura

A quem conseguiu ler e interpretar este episódio real, sem desfalecimentos, os meus PARABÉNS, pois prova que ainda tem muitos anos pela frente!

Um abraço à Tertúlia
Luis Faria
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4020: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (11): Bula, foguetões e confusões no abrigo

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4018: As abelhinhas, nossas amigas (3): As lassas e os Lassas: a colmeia-armadilha, a morte do 2º Srgt Madeira... (Mário Fitas)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4018: As abelhinhas, nossas amigas (3): As lassas e os Lassas: a colmeia-armadilha, a morte do 2º Srgt Madeira... (Mário Fitas)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66), Os Lassas > A Secção de cães ...

Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

As abelhas lassas e os Lassas (*)

por Mário Fitas (Ex-Fur Mil Op Esp, CCAÇ 763, Cufar, Março de 1965/Novembro 1966)

Trechos (corrigidos) de Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente

Pag. 75:

Por informações recolhidas a CCAÇ 763 será conhecida no PAIGC com a alcunha de Lassas(1). Pelo que se veio a saber, “lassa” será uma espécie de abelha existente na Guiné, a qual não sendo molestada não tem problemas, mas se for atacada é terrivelmente perigosa tornando-se fortemente enraivecida.

Esta alcunha resultaria da actuação da CCAÇ, pois ao chegar a uma povoação em que a população não fugisse, não haveria problemas, falava-se com a mesma e tentava-se resolver os problemas que houvesse. Em caso contrário, se a população fugisse e abandonasse as suas moranças, estas eram literalmente destruídas.

Pelo que ficou assim com este procedimento, a CCAÇ crismada de Lassas.
...................

Pag. 94

Voltamos a Cabolol. O guia enviado pelo Batalhão garante-nos haver um novo Acampamento na mata de Cabolol.

Não encontramos nada, leva-nos ao antigo que verificamos continua destruído, desde a Operaçºão Saturno de 10 de Junho. Dirigimo-nos para Cantumane que verificamos se encontra deserta.

Quando procedíamos à sua destruição, fomos violentamente atacados pelo IN que se encontrava emboscado na mata. Três ataques sucessivos, e aqui entramos em contacto com outro truque da Guerrilha: a utilização de abelhas.

Colocam os cortiços em locais estratégicos, fazendo fogo sobre eles, à nossa passagem. As abelhas lassas saem enfurecidas e desarticulam completamente as NT, ficando muita gente incapacitada para o combate.

A CCAÇ sofre mais um ferido grave que não resiste. O sargento Madeira (2) não se aguentou e morreu no dia seguinte no Hospital Militar de Bissau. Com picadas de abelhas e em estado grave, foram evacuadas mais três praças para o HM de Bissau. Acaba assim a operação Trovão.
............

Pag. 101

Na operação Rastilho, a CCAÇ volta a Camaiupa e Cantomane, da mesma forma que acontecera na operação Trovão e no mesmo local, fomos novamente emboscados e atacados com o sistema das abelhas.

O grupo de Combate que seguia em primeiro escalão, é obrigado a recuar. Só depois do envolvimento feito pela CCAÇ e após mais de uma hora de fogo intenso e ajuda da FAP (3) se conseguiu repelir o IN.

O soldado Marinho (4) regressou à sua terra, para nela repousar eternamente. Alguém irá ao Terreiro do Paço, a medalha postumamente atribuída. Para além deste morto, houve que evacuar mais oito feridos, pelo que a CCAÇ se teve de deslocar para a bolanha para o efeito.

Continua a cobrança!...
.................

Foi assim a experiência da CCAÇ 763 com as Abelhas na Guiné. Felizmente só participei bem como os meus homens nesta festança, como combatentes. Picados fomos por mosquitos e formigas, daquelas grandes, que se arrancavam, mas só o corpo, pois a cabeça ficava segura à carne pelas pinças.

Para toda a Tabanca, o velho abraço do tamanho do Cumbijã! Bonito e tão comprido.

Mario Fitas
__________


Notas de M.F.:

(1) Informação fornecida pelo guerrilheiro SUZA NA MONE, desertor do PAIGC

(2) 2º. Sargento Leandro Vieira Barcelos, natural da Madeira.

(3) O saudoso Comandante Zeferino da TAP que já não se encontra entre nós.

Ao ler Putos, Gandulos e Guerra telefonou-me a falar deste caso, informando- me ter assistido do ar, pois era um PILAV da parelha de T6 que nos ajudou. Em Pami na Dondo a Guerrilheira, existe uma história com este PILAV cujo alcunha seria Seca-Adegas.

(4) Soldado 1881/64 Diamantino Jorge Martinho

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior > 12 de Março de 2009 > Guine 63/74 - P4017: As abelhinhas, nossas amigas (2): Desbaratavam uma coluna, uma companhia, um batalhão... (Rui Silva)

Guine 63/74 - P4017: As abelhinhas, nossas amigas (2): Desbaratavam uma coluna, uma companhia, um batalhão... (Rui Silva)

1. Mensagem do Rui Silva (ex- ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67):

Caros Luís, Vinhal e Briote:

Muita saúde e bom humor nas Vossas pessoas é para já o meu primeiro e grande desejo.

Envio-vos um trabalho sobre as abelhas africanas e conto alguns estragos que elas fizeram na 816.

Julgo que sobre as abelhas na Guiné devem haver muitos camaradas nossos com histórias para contar. Não sei se este trabalho terá cabidela no Blogue. Se não tiver, passem adiante e tudo como dantes. Sempre amigos. Um abraço, Rui Silva


2.ABELHAS (*)
por Rui Silva

Caro Luís;

Abriu-se aqui há pouco um item no Blogue sobre o macaco-cão na Guiné e com histórias muito interessantes. E porque não abrir agora um item sobre as abelhas (as célebres abelhas africanas) que não queriam mesmo nada com os Tugas ?

Ai daquele que lhes tocasse ou fizesse ruído perto!

Deve haver por aí “menino” que terá muito que contar… É curioso que, em praticamente 2 anos, nunca foi picado por uma abelha que fosse, mas foi mordido por um macaco-cão!Este, propriedade de um militar da 643 (Olá, Águias Negras, da 643) estava preso junto à tasca da D.ª Maria e do Sr. Maximiano (julgo cabo-verdianos) aonde íamos comer, em Bissorã.

Metia-me sempre com ele puxando-lhe o pelo sobre a cabeça, mas, num certo dia, ao tentar recuar com mais rapidez do que ele investia, estava um colega atrás de mim que me atropelou…

ABELHAS!!!... era este o grito de alerta. Era este o grito que fazia o pessoal da Companhia, a correr a sete pés.

Assustava mais este grito, que o grito ”Aí estão eles!”, grito que acontecia no milésimo de segundo imediato a um tiro do inimigo.

Duas histórias para contar:

Certa vez, vinha a Companhia de regresso ao quartel de Olossato e, como sempre, extenuada, de uma operação muito perto da base de Morés.

Sei que naquela zona evitávamos sempre que possível os trilhos, pois sabíamos e alguns até, infelizmente, na pele, que naqueles trilhos era frequente aparecerem minas anti-pessoais.

A certa altura, já perto do aquartelamento do Olossato (aproximadamente 1 Km.), voltamos inevitavelmente a um trilho.

Vínhamos em fila indiana e, cada um, como já era usual, vinha com a atenção redobrada, o coração a rebater forte e a respiração sustida e vinha a ver aonde o da frente punha os pés para pôr os dele também, pois assim julgava livrar-se ele da causa directa do accionamento duma mina e das respectivas consequências. Lembro que o indivíduo que tinha a desdita de pisar uma mima A/P, normalmente ia a bota e o pé dentro pelos ares. Esta atenção obrigava a Companhia a deslocar-se com alguma lentidão e morosidade.

Chegou-se até fazer o levantamento de uma mina A/P.

De repente, um pouco atrás de onde eu ia na coluna, alguém grita: ABELHAS!!! Foi como o tiro de pistola num prova de 100m, nas Olimpíadas.

Toda a gente enceta uma correria (que me fez lembrar o filme “A Revolta dos Cossacos” onde neste filme vê-se uma frente alongada de soldados a fugir) em direcção ao quartel. Esqueceram-se as minas, deixou-se o trilho, acabaram os cuidados com emboscadas e… foi, mas, um “ver se te avias”.

Um nativo, ao arrancar num arbusto uma espécie de lianas ou coisa parecida, para fazer uma rodilha para pôr as granadas de morteiro à cabeça, não reparou que estava lá um enxame, daí…

Lembro-me que um pouco depois, já no quartel, vi o Flector irreconhecível. As pálpebras de tal modo inchadas e os lábios mais grossos do que os de um nativo, a cara e o pescoço todo inchado, se não me dissessem que era o Flector (o morteirista da minha secção) eu julgaria que estava ali um extra-terrestre. Houve um colega que chegou mesmo a perguntar-me se eu conhecia dalgum lado aquela figura. Confesso que estive longos segundos a ver se acertava.

Mas não passou do susto… e das pequenas, e logo contornadas, consequências para o Flector, que com mais injecção menos injecção ficou logo pouco tempo depois operacional. (Ai a força dos 20 anos!)

Mas não foi só o Flector o atingido. Houve muitos a queixarem-se

Houve mais alguns casos (isolados) com as abelhas, mas tudo passava passadas algumas horas e com tratamento na enfermaria.

Soube no entanto mais tarde, através de um oficial, hoje na reforma, que houve um caso numa outra Companhia, que um soldado foi vítima de tal ataque das abelhas, que praticamente o cobriram, e que ele num acto desesperado matou-se com a sua própria G3. Foi verdade? Vai pelo mesmo graveto. Se alguém sabe efectivamente deste caso, pode contar. Eu rendo desde já sentida consternação e o lamento pelo infortúnio desse infeliz camarada.

O meu camarada Martins (Furriel também da 816), também tem uma história para contar, quando foi picado por grande quantidade de abelhas, quando foi pôr abaixo, julgo com TNT, uma árvore de grande porte, junto ao aquartelamento de Olossato e que vinha servindo de abrigo ao inimigo sempre que este nos vinha “visitar”. Deu-se o estoiro e… estava lá um enxame… e elas escolheram-no a ele…

O Martins apareceu cheio de pintas vermelhas (parecia a rubéola) mas dizia ele que não lhe doía mas a quem olhava para ele até parecia que ficava mesmo com dores.


3. Algumas curiosidades sobre as Abelhas (reproduzido com a devida vénia...)

Abelhas (Apis mellifera) são insectos himenópteros (com 2 pares de asas membranosas) que polinizam as plantas, produzem mel… e também picadas mortais.

Há cerca de 20.000 espécies de abelhas no mundo. O seu tamanho varia de 2 mm a 4cms. Algumas são pretas ou cinzentas, mas há as de cor amarelo brilhante, vermelhas, verdes ou azul metálicas.

As abelhas africanas ou “abelhas assassinas”, são originárias do Leste da África e são mais produtivas e muito mais agressivas.

São menores e constroem alvéolos de operárias menores que as abelhas europeias. Sendo assim, suas operárias possuem um ciclo de desenvolvimento precoce (18,5 a 19 dias) em relação às europeias (21 dias), o que lhe confere vantagem na produção e na tolerância ao Ácaro do género Varroa.

Possuem visão mais aguçada, resposta mais rápida e eficaz ao feromônio de alarme. Os ataques são, geralmente, em massa, persistentes e sucessivos, podendo estimular a agressividade de operárias de colmeias vizinhas.

Ao contrário das europeias, que armazenam muito alimento, elas convertem o alimento rapidamente em cria, aumentando a população e libertando vários enxames reprodutivos.

Migram facilmente se a competição for alta ou se as condições ambientais não forem favoráveis.

Essas características têm uma variabilidade genética muito grande e são influenciadas por factores ambientais internos e externos.

O ferrão da abelha, que se situa na extremidade posterior do abdómen da abelha fêmea, é um sistema complexo, compreendendo uma parte glandular, na qual se produz o veneno, e uma estrutura quitinosa e muscular, que serve para ejecção do veneno e profusão e introdução do ferrão. Apresenta rebarbas na sua superfície que dificultam sua saída, de tal sorte que, após a ferroada, todo o sistema é destacado, permanecendo na vítima. E a abelha morre logo a seguir. Geralmente, a profundidade de inserção é de 2 a 3 milímetros. No local, movimentos reflexos de sua estrutura muscular fazem com que o ferrão se introduza cada vez mais.

Na rainha, as farpas do ferrão são menos desenvolvidas que nas operárias e a musculatura ligada ao ferrão é bem forte para que a rainha não o perca após utilizá-lo.



Um cacho de Abelhas algures (podia ser ....na Guiné.. Ai daquele que lhe tocasse ou fizesse barulho perto!!! ... Impressionante, eram milhares de abelhas)


P.S. - Foto e texto em itálico tirados do sítio Abelhas (com a devida vénia..)

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 10 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4008: As abelhinhas, nossas amigas (1): Com NEP ou sem NEP ... (Luís Graça / António Matos)

terça-feira, 10 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4008: As abelhinhas, nossas amigas (1): Com NEP ou sem NEP ... (Luís Graça / António Matos)

1. O Mexia Alves (*) levantou uma questão processual e deu-nos aqui uma boa sugestão. Refiro-me à famigerada NEP das abelhas, que ele jura que existe(ou existia, no nosso tempo) mas que nunca ninguém viu.

A título de curiosidade, também me meti nas minhas tamanquinhas e fui procurar... Deitei mão ao Manual do Oficial Miliciano, ou parte dele, já aqui publicado no blogue (Refiro-me à cópia, parcial, que nos chegou, por cortesia do A. Marques Lopes, nosso camarada, Cor DFA Ref, que tem também andado arredado das nossas blogarias) (**).

Népias, o book deve ter sido escrito por um qualquer prussiano da Guerra de 14, não encontro nenhuma referência à tal NEP das abelhas. De qualquer modo, devo acrescentar que o acrónimo NEP deve querer dizer Normas E Procedimentos (Nunca fui bom em secretaria, razão por que me mandaram para a especialidade de Atirador de Armas Pesadas de Infantaria e, como prémio, meteram-ne num barquinho a caminho da Guiné e lá deram-me uma G3).

Como é sabido, a vocação do nosso blogue é contar histórias (não as dos outros, como fazem os jornalistas, os ficcionistas, os cineastas, etc.), mas as nossas próprias... Nós fomos actores numa guerra (que nos calhou em sorte), e é dessa guerra que devemos falar, não do antes e do depois, das causas e consequências, das causas remotas e próximas, e das consequências~, locais, regionais e globais (políticas, económicas, sociais, culturais, diplomáticas...) mas das estruturas, dos processos e dos resultados...da guerra.

Ora as tais abelhas ou abelhinhas ("africanas, selvagens, assassinas") também nos combatiam... Não sei porquê, mas acho que tinham alergia, não à cor da pele, mas à nossa farda (em especial ao camuflado; ou seria ao cheiro a merda que exalávamos no regresso ao quartel ?): de facto, tanto atacavam os tugas como os seus aliados fulas, que eram pretos retintos, a maior parte deles (tirando os futa-fulas)... Falo por experiência própria (enquanto operacional da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Mas pergunto-me: será que elas, as abelhas da Guiné (**), também foram treinadas na China, tal como o Nino Veira, o últimos dos comandantes do PAIGC, agora morto, "de morte matada" ?

Cá está um ponto que eu gostaria de ver descrito, documentado, ilustrado, discutido, analisado, dissecado, postado no nosso blogue, indo atrás da sugestão do Mexia Alves e já entusiasticamente apoiada por diversos camaradas...

Sugiro, pois, a criação de uma nova série: "As abelhas, nossas amiguinhas"... ou "As abelhinhas, nossas amigas". Gosto mais da segunda alternativa, é um título mais ternurento...

O título é irónico, claro: eu soube, por diversas vezes, quão dolorosa era uma só picada destes terríveis insectos... Agora imaginem mil!... Caí em várias emboscadads onde elas eram foram muito mais eficazes do que as costureirinhas, as kalash, os morteiros ou os RPG do Inimigo.

O Mexia Alves deu o pontapé de saída, lançou a granada de fumos, armou o granel, mandou o piquete de serviço à procura da NEP... Quem vier a atrás, que feche a porta ou se atire ao primeiro charco que encontrar... Por mim, obrigado, amiguinhas. Ainda temos umas contas para ajustar, ao fim destes anos todos...com ou sem NEP.

O Mexia Alves é um bom cristão, mas como eu costumo recordar Cristo, Deus Filho, mandava ser bom, mas Deus Pai, não mandava ser parvo.... As outras contas (com os homens), essas, já as perdoei... Acho eu de que... LG


2. Comentário do António Matos ao poste do J. Mexia Alves (*):

Caro Joaquim,

As abelhas ...

Confesso que, para além dumas colheres de mel que emborco cada vez que apanho uma daquelas gripalhadas de caixão à cova, passo infinidades de tempo sem me lembrar das ditas. Excepção quando sou obrigado a "conviver" com elas, por isto ou por aquilo.

Que me recorde, o meu 1º encontro de homem-para-abelha que tive na vida foi precisamente na Guiné.

Relatei-o num dos primeiros postes que mandei para o blogue e cujo cenário estava montado no meio dum campo de minas, algures entre Ponta Matar e Choquemone, à beira da estrada Bula - S.Vicente.

Aí, e com um barulho de aproximação a fazer lembrar o ronco dum automóvel de corridas, ficámos colados ao chão quando, olhando para cima, vimos uma núvem delas ! Pararam a deslocação e planaram ...

Do enxame libertou-se uma delas que picou na nossa direcção com o "consentimento" e passividade do grupo ...

Desceu, desceu e aterrou no corpo do camarada Luís Faria ... Com nervos de aço, o Luís "permitiu" que ela o "farejasse" ... Todos estávamos transpiradíssimos, de tronco nu, a "assentar" minas ...

A abelhinha, que não tinha aspecto de abelhinha Maia, caminhou para-ante-pata, pelo peito do Luís, depois pela perna (ah! estava de calção curto !!) e enfiou-se no cano da bota !

O momento foi de uma tensão incalculável pois o "pelotão de fuzilamento" mantinha-se em posição de ataque lá em cima !!

A páginas tantas, incomodada talvez pelo cheiro que aquela bota poderia estar a exalar, saiu, cumprimentou e levantou voo, dirigindo-se, com todas as outras, em direcção a S. Vicente.

Não houve ataque, não houve feridos, mas a estória ficou!

Já o mesmo não direi dum verdadeiro "arrastão" que um outro enxame fez ao passar pelo quartel de Bula. Alguns feridos, alguns olhos inchados, anti-estamínicos esgotados, mas, parece-me, o maior azar foi dos macacos que existiam por lá. Passada a loucura, contabilizaram-se variadíssimos bichos mortos a atestar da sua perigosidade.

Finalmente, e porque a curiosidade da coincidência do tema é, no mínimo, engraçada, posso-te contar que no último fim de semana, em Leiria, e numa prova dum campeonato de karting em que participo, fui visitado por um desses "adoráveis" estupores que invadiu o interior do capacete o que, calcularás, provocou um quase acidente e a perca, óbvio, de qualquer veleidade de campeão !!!

Em todas estas experiências, porém, nunca me lembrei que poderia haver uma NEP que ensinava como bem domar uma abelha, se mergulhando no rio mais próximo, se ir a correr para os bombeiros e pedir-lhes que lhes apontassem a mangueira ao focinho. E ainda bem porque em todos os casos estava demasiado longe desses apoios logísticos o que complicaria a situação pelo stress que provocaria !

Um abraço e ... cuidado que elas ferram mesmo ! (***)

António
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4005: Para amenizar, quem conhece a NEP das abelhas? (J. Mexia Alves)

(..) Era conhecida pela NEP das abelhas e eu nunca a vi e nunca a li, mas ao que me diziam, continha coisas de "bradar aos céus".

Segundo diziam, a NEP preconizava entre outras coisas, em caso de ataque de abelhas, a entrada imediata no curso de água mais perto... Dizia-se também que a mesma aconselhava o rebentamento de granadas de fumo, talvez com o intuito de dar a conhecer ao inimigo a nossa posição!!!

Não sei se a NEP existia ou não e se continha tais "conselhos", mas embora nunca tenha tido nenhum ataque de abelhas, sei que era uma coisa terrivel, que fazia o pessoal atacado entrar num descontrole total e lembro-me de ouvir referir, que um Alferes de uma Companhia Independente teria morrido na mata de vido às multiplas picadas de um ataque de abelhas.

Alguém sabe alguma coisa sobre isto, da NEP, ou mortes causadas pelas abelhas? (...)


(**) Vd. postes de:

3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)

9 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2738: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (2): A Selva: Struggle for Life... (A. Marques Lopes)

(***) Vd. Wikipédia > Abelha africana (Apis mellifera scutellata)
Vd. também Killer bees

segunda-feira, 9 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4005: Para amenizar, quem conhece a NEP das abelhas? (J. Mexia Alves)

1. Caros camaradas, atentemos à mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves(*), com data de 6 de Março de 2009, que nos traz uma questão, que tempos idos teria uma importância primordial. Felizmente hoje as nossas abelhas são bem mais pacíficas, eu que o diga pois experimentei ataques daqueles insectos lá e cá.

Quem estiver em condições de esclerecer o nosso camarada Mexia Alves, faça o favor de se apresentar.


Caros Luis, Virgínio, Carlos e todos os camarigos.

Vamos lá então amenizar a coisa que isto por aqui está muito denso!

E então lanço um desafio aos camarigos que souberem da coisa, para darem ao conhecimento da Tabanca, uma célebre NEP, de que no meu tempo muito se falava na Guiné.

Era conhecida pela NEP das abelhas e eu nunca a vi e nunca a li, mas ao que me diziam, continha coisas de "bradar aos céus".

Segundo diziam, a NEP preconizava entre outras coisas, em caso de ataque de abelhas, a entrada imediata no curso de água mais perto...

Dizia-se também que a mesma aconselhava o rebentamento de granadas de fumo, talvez com o intuito de dar a conhecer ao inimigo a nossa posição!!!

Não sei se a NEP existia ou não e se continha tais "conselhos", mas embora nunca tenha tido nenhum ataque de abelhas, sei que era uma coisa terrivel, que fazia o pessoal atacado entrar num descontrole total e lembro-me de ouvir referir, que um Alferes de uma Companhia Independente teria morrido na mata de vido às multiplas picadas de um ataque de abelhas.

Alguém sabe alguma coisa sobre isto, da NEP, ou mortes causadas pelas abelhas?

Abraço camarigo a todos do
Joaquim Mexia Alves

(*) Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa)
__________

Nota de CV:

Vd. poste da última intervenção de Joaquim Mexia Alves de 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3965: Nuvens negras sobre Bissau (7): Ao combatente Nino Veira, um poema de Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3569: Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, leões, elefantes...(António Matos)

O bicho mais feroz que vi na Guiné foi, sem sombra de dúvida, um ovovivíparo, munido de probóscide ou tromba (mas não era elefante, que por sinal não é ovovivíparo) que lhe serve para a alimentação, esta à base de sangue dos vertebrados, pertencente à família dos culicidae, da ordem dos diptera e sub-ordem dos nematocera, cuja fêmea, também chamada de trompeteiro, pertence à classe dos insectos - o mosquito!

Dotado de um espírito conflituoso, ataca branco ou preto, homem ou mulher, adulto ou criança, de maneira indiscriminada.
Quando apanhava sangue fresco de periquito, enchia o papo dum néctar dos deuses, deixando a vítima a coçar-se desesperadamente, mas à medida que a comissão se prolongava no tempo, não raras eram as vezes em que caíam de bêbados depois de emborcarem o que nos corria nas veias, onde os glóbulos vermelhos tinham sido apaladados por doses extra de taninos ....

Um dos entreténs era deixá-los pousar nos braços, cravarem fundo o ferrão, deixá-los encher a pança e depois, ZÁS! Uma valente palmada que os esborrachava. Eram verdadeiras vítimas de autêntica roleta russa! E a quantidade de sangue desperdiçado era fantástica!
Coitados, que pena tenho deles....
Quando, por vezes, me empoleirava na arquitectura sofisticada que sustentava uma arejada latrina a céu aberto, tinha ocasião de, enquanto mirava lá para baixo e tentava fazer pontaria acertando naquele ou naqueloutro ponto de referência, detectar pequenas cobritas que me pareciam inofensivas ao pé do mosquito.

No destacamento de Augusto Barros
, tive uma gazela que mais tarde, e na ausência de uma comissão de protecção dos animais, foi transformada em deliciosos bifes e substituída por um ganso fêmea.
Esta tinha como função pôr 2 ou 3 ovos por dia e à noite funcionava como detector de amigos do alheio.
Foi uma altura de suculentos pequenos almoços com monstruosos ovos estrelados, com elevados índices de colesterol, mas isso agora não interessa nada.

Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, com leões, chimpanzés, elefantes, rinocerontes, mas nada!
Tínhamos mosquitos e já nos podíamos dar por satisfeitos!
Uma vez ou outra, eram reforçados por uns primos afastados de seu nome abelhas mas que se dedicavam mais a operações especiais.
Os mosquitos eram mais tropa fandanga...





Levei dentada de criar bicho, fui evacuado várias vezes tal a dimensão dos hematomas mas não cheguei a ter paludismo!

Aliás, felizmente, não estive nunca doente à excepção do agravar duma duodenite que já levava de cá mas que um tratamento no hospital militar em Bissau, em regime de taskforce à base de whisky, resolveu em três tempos.



António Matos
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Notas de vb:

1. António Matos foi Alf Mil da CCaç 2790.

2. Artigo do Autor em

2 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3555: Navio "Carvalho Araújo". (António Matos)

terça-feira, 21 de março de 2006

Guiné 63/74 - P629: Estórias do Zé Teixeira (6): Abelhas, inimigas de guerra (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Abelhas, inimigas de guerra

Por José Teixeira (ex- 1º cabo enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70).

A primeira vez que caímos num ataque de abelhas foi o caos.

A coluna com trinta viaturas carregadas e três obuses de 14 mm, protegida pela CCAÇ 2381 e pelos pelotões da Companhia do Capitão Rei, estacionada em Aldeia Formosa que nos tinha vindo buscar a Buba, ficou na sua maior parte à mercê do IN, perto de Sinchã Cherno.

Só que este, o IN, não tinha na sua agenda atacar naquele local, mas mais à frente. Atacou só no dia seguinte depois de nos fazer um morto numa A/C [mina anticarro] comandada que rebentou só na quinta viatura, a do rádio.

Também eu, aqui, fui um homem de sorte. O milícia que ia a meu lado, ao ver as abelhas aos milhões, agarrou-me por um braço e metemo-nos atrás de um arbusto:
- Fermero fica quieto, abelha, não faz mal ! Não meche, não respira, nem que lhe passe um c... pela boca.
Assim quieto senti-as à minha volta. Pude ver os meus colegas todos a fugir, a sacudir, a coçar e a desaparecer. Ficaram apenas as viaturas e os obuses, na picada. Passados alguns minutos, foram começando a aparecer e tudo voltou ao normal. Eu apenas com duas picadelas, ria-me dos colegas que apareceram a gemer por todos os lados, mas aprendi a lição e preparei-me para um possível segundo ataque que sucedeu meses depois.

Andávamos a montar segurança à engenharia que construía a estrada Buba / Aldeia Formosa. Sentado ao lado do manobrador do caterpillar apreciava como esta máquina derrubava árvores gigantescas, quando de lá de cima cai um grande enxame. Formou-se uma nuvem e toda a gente a gritar pernas para que vos quero. Até uma cadelinha, nossa mascote, que nos acompanhava desapareceu, até hoje. Numa fracção de segundos vejo-me só.

Quico atravessado na cabeça, para me proteger do zumbido, braços cruzados, impávido e sereno (a tremer por todos os lados), sentado no caterpillar a aguardar o ataque. Imaginem o Zé Teixeira como que vestido com um fato novo. Fiquei coberto de abelhas da cabeça aos pés. Só o zumbido me incomodava.

Passado algum tempo começaram a levantar, pois eu não dava luta e com este gajo é melhor não se meterem. Deixaram-me sem uma beliscadura. Os camaradas foram-se aproximando todos picados. Ficaram mais espantados que eu, por me verem são e salvo de um ataque de abelhas. Pomada para toda a gente. Tive inclusive de injectar anti-histamínicos ao Ferraz para evitar a morte por asfixia devido ao facto de ser alérgico.

Ainda hoje tenho mais medo das formigas, mas essas tem outras histórias já contadas.

Zé Teixeira