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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15135: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XIV: a segunda vez que vim de férias, em agosto de 1969


Foto nº 3 > Jullho ou agosto de 1969:: Portugal, estuário do rio Sado, copm Setúbal ao fundo


Foto nº 4 > Jullho ou agosto de 1969:: Portugal, pemnsínsula de Setúbal, cabo Espichel


Portugal continental > 1969 > Vistas aéreas do território... Fotos tiradas do avião da TAP, Bissau-Lisboa... Permito-me discordar da legenda atribuída pelo autor à foto nº 4: para mim, trata-se do cabo Espichee e não da ponta de Sagres:  identifico o  o farol (1) e o santuário de nossa senhora do cabo Espichel (2)... (LG)


Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Mensagem de Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*):

Data: 18 de setembro de 2015 às 18:51

Assunto: Álbum: férias 1969


[foto atual à direita; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]



Caro Luis:

Peço desculpa pela demora na resposta [ao teu pedido de legendagem das fotos doo meu álbum relativas às férias de 1969] (*)..

De facto vim de férias à "metrópole" duas vezes.

Uma a que está retratada em algumas fotos em novembro de 68 e no ano seguinte voltei, talvez em julho ou agosto, não sei ao certo.

Sei que era verão,  tempo de romarias.

Recordo a impressão que me causavam os foguetes,  pois creio que tinha presente o único ataque que sofri em Bambadinca [, em 28 de maio de 1969].

Os foguetes causavam-me algum pânico de que os meus familiares se apercebiam.

Legendas:

Na foto 1 e 2 temos Lisboa
Foto 3 - Setubal
Foto 4 - Ponta de Sagres
Foto 5 - alem da asa do avão,  não sei precisar o local.

Um grande abraço

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15112: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XIII: Férias na metrópole, 1969: fotos aéreas da chegada a Lisboa...


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3



Foto nº 4


Foto nº 5

Portugal continental > 1969 > Vistas aéreas do território... Fotos tiradas do avião da TAP, Bissau-Lisboa... É fácil reconhecer as fotos de Lisboa e estuário do Tejo (nºs 1, 2 e 3) bem como a do  cabo Espichel, na pensínula de Setúbal  (nº 4): estão claramente identificados o farol (1) e o santuário de nossa senhora do cabo Espichel (2)... Tenho dúvidas sobre a nº 3:  será a margem sul do rio Tejo ? será o estuário do rio Sado ? ou a ria Formosa ?...

O Jaime ficou de mandar as legendas... E escrever algo mais sobre as suas férias de 1969...  Na época, não havia avião direto para o Porto... Presume-se que o Jaime tenha apanhado o comboio para chegar depois até casa, na Senhora da Hora, Matosinhos...

Entretanto, fica aqui o convite para mais camaradas falaram das suas férias na metrópole, aqueles de nós, felizardos, que conseguiram vir de férias à metrópole, pelo menos uma vez... Excecionalmente houve quem conseguisse vir duas vezes...

Terão sido as melhores férias das nossas vidas ? Que recordações temos dessa viagem (de ida e volta) e do tempo de férias ? Será que conseguimos pôr a guerra entre parênteses ? Onde passámos as férias ? Junto da família e dos amigos ? Sei que alguns aproveitaram para... se casar!... Seguramente ninguém veio, à metrópole (ou à Madeira, ou aos Açores...),  fazer turismo... Já estávamos, muitos de nós, "apanhados do clima", quando chegámos a casa, com muitos meses de Guiné...

Julgo que a maior parte de nós - dos que tiveram a sorte de poder vir de férias à metrópole - vieram tentar carregar baterias e respirar à tona de água... Não foi fácil, em muitos casos nem sequer  terá sido bom... Vinha-se a meio da comissão, e ainda faltava a outra metade... Foi penoso voltar para a guerra, em muitos casos... Falo, pelo menos, por mim... Confesso que não tenho recordações felizes das "férias" que fiz na metrópole, em meados de 1970, um ano depois de ter chegado à Guiné... (LG)

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Continuação da publicação do belíssimo álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*):


[foto atual à esquerda; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]


Recorde-se que o  Jaime Machado tinha sob o seu comando um pequeno grupo de pessoal: Pel Rec Daimler 2046, num total de 14 elementos... Chegou a Bambadinca dia 7 de maio de 1968, tendo ficado às ordens do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70). Conheci-o em julho de 1969, quando a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 ficou adida ao setor L1 (Bambadinca). O Jaime Machado e os seus bravos deixaram Bambadinca em fevereiro de 1970.

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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14890: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VII: O edifício dos CTT de Bambadinca: c. 1968/70 e 2010 ... (Fotos completadas com as de Humberto Reis, ex-fur mil op esp., CCAÇ 12, 1969/71)



Foto nº 1 > Bambadinca, c. 1968/70 > Edifício dos CTT (1)


Foto nº 2 > Bambadinca, c. 1968/70 >Edifício dos CTT (2), sito no lado direito, descendente, da rua principal da povoação... A rua, de terra batida,  vinha do quartel e seguia para o rio, o porto fluvial e a estrada de Bafatá. 


Foto nº 3 > Bambadinca, c. 1968/70 >Edifício dos CTT (3) > Outra perspetiva da rua que dividia a tabanca ao meio, e era muito movimentada (peões, animais  e viaturas; vê-se ao fundo um jipe que se dirige ao quartel que ficava num pequeno promontório)


Foto nº 4  > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010  > Antigo edifício dos CTT, em ruínas  (1)



Foto nº 5  > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010  > Antigo edifício dos CTT, em ruínas  (2) e moranças vizinhas


Foto nº 6  > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010  > Antigo edifício dos CTT, em ruínas  (4) e aspeto parcial da rua, agora em desuso,


Foto nº 7  > Guiné-Bissau, Bambadinca, 2010  > Antigo edifício dos CTT, em ruínas  (4)... A povoação, hoje com cerca de 8 mil habitantes, cresceu ao longo da nova estrada, alcatroada que circunda a bolanha

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



Foto nº 8 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Vista aérea (1): do lado esquerdo parte (nordeste) do quartel e posto administrativo; ao centro, a tabanca; ao fundo, o rio Geba, o porto fluvial, o destacamento da intendência e o início da bolanha de Finete (na margem norte do rio); e, do lado direito, a nova estrada em construção que ligará o Xime a Bafatá, e que em Bamdinca, contornava a bolanha (que ficava a sul)


Foto nº 9 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Vista aérea (3): Legendas: Parte do recinto do quartel (1) e rede de arame farpado, a leste e nordeste; porta de armas,com cavalo de frisa (4); casa e loja do Rendeiro (3); edifício dos CTT (5) e fontenário (6), ambos na antiga rua principal; nova estrada, circundando a tabanca pelo lado leste/nordeste (7); ligação ao porto fluvial á esquerda e à estrada (já existente, alcatroada) de Bafatá (11); porto fluvial / cais (8); rio Geba (9); destacamento da Intendência (10).


Foto nº 10 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Vista aérea (2): Legendas: Rio Geba (1), destacamento da Intendência (2), porto fluvial / cais (3), bolanha de Finete (4), rampa de acesso ao quartel e posto administrativo (5), loga e casa do Rendeiro (6), edifício dos CTT (7), fontenário (8) .



Foto nº 11 > Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Entrada principal, pelo lado nordeste  (sentido Bafatá), do aquartelamento. O fontenário está sinalizado com um círculo a vermelho, ficava a uns 50 metros da casa e estabelecimento comercial do Rendeiro; do outro lado, fiacava o edifício dos CTT. Nesta rampa ia perdendo a vida o major Ribeiro, o "major elétrico", º comandante do BCAÇ 2852 (de nome completo, Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro):  o seu jipe ficou debaixo de toros de madeira que se desprenderam de uma camioneta (civil ?) que estaciuy na subida...



Foto nº 12 > Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Vista (parcial) da rua principal que atravessava tabanca de Bambadinca, e que dwscia do quartel até ao Rio Geba... Assinalado com um círculo a vermelho o fontenário... O edifício dos CTT não é visível, mas ficava do aldo direito...  No final da rua, do lado direito ficava a loja e o bar do Zé Maria (, comerciante branco, de quem se dizia, justa iou injustamente, que jogava com um pau de dois bicos, como qualquer comercinte numa situação de guerra).



Foto nº 13 > Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Vista (parcial) da tabanca de Bambadinca, com o Rio Geba ao fundo. Foto tirada do lado nordeste. Em primeiro plano, contígua ao arame farpado, a casa e o estabelecimento comercial do Rendeiro, um dos poucos comerciantes  portugueses que conhecemos na Guiné, em 1969/71. Assinalado com um círculo a vermelho o fontenário de Bambadinca, melhioramento inaugurado em 1948. Não t5enho a certeza de lá algum vez ter parado para beber água. Nem sei se no meu tempo já tinha água...

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


Jaime Machado, foto atual,
na Senhora da Hora,
Matosinhos
1. No tempo do Jaime Machado, alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968/fevereiro de 1970), bem como no meu/nosso tempo (CCAÇ 12, 1969/71), o edifício dos CTT era um edifício moderno, funcional, bastante utilizado pelo pessoal militar, e nomeadamente para se fazer chamadas telefónicas para a metrópole.

As ligações nem sempre eram fáceis, e tinham de ser pedidas de um dia para o outro. Havia CTT nas principais povoações da Guiné. No caso de Bambadinca, desconheço a data da sua instalação, mas deve ser de meados da década de 1950.

O Beja Santos, que lá voltou a Bambadinca, também em 2010, recorda o nome da empregada dos CTT, a Dona Leontina ("uma gentil senhora com quem se apalavrava o dia e a hora para telefonar para Lisboa"). Presumo que a senhora fosse caboverdiana, tal como a professora,a  Dona Violante, e o chefe de posto (de quem não me lembro o nome).

Contrariamente à capela, à escola  e ao posto administrativo, o edifício dos CTT  ficava fora do recinto do quartel de Bambadinca (fotos nºs 8, 9, 10)... Mais exatamente,  ficava no lado direito da rua principal que, descendo do quartel, atravessava a tabanca de Bambadinca, dando acesso do lado esquerdo ao porto fluvial (e destacamento da Intendência) e do lado direito à  estrada (alcatroada) para Bafatá... O edifício dos CTT ficava do lado oposto da casa e loja do Rendeiro (, comerciante, branco, da Murtosa)... Mais à frente, também do lado esquerdo ficava o fontenário (foto nº 10). [Vd. também aqui fotos do fontenário, construído em 1948].

No nosso tempo (CCAÇ 12, julho 69/mar 71), Bambadinca nunca foi atacada... Desde o último ataque (28/5/1969), melhorou o dispositivo de segurança. E a presença de uma companhia de intervenção, de pessoal fula, mantinha o PAIGC à distância...

Em janeiro de 1974, o edifício dos CTT é objeto de arremesso de uma  granada de mão,  defensiva, de origem chinesa,,, mas sem consequências de maior... Foi mais exatamente no dia 18/1/1974, às 20h45. O efeito foi mais psicológico.  Após buscas pelas NT, foram encontradas mais duas granadas, do mesmo tipo, chinesas, que não rebentaram ou que provavelmente foram arremessadas com cavilha de segurança, por algum aprendiz de guerrilheiro...

Tudo indicava que havia, por esta altura, uma célula ativa do PAIGC na localidade de Bambadinca... Essa hipótese já sido levantada pelo comando do BART 3873 quando em novembnro de 1972,  a PIDE/DGS [, de Bafatá,] efetuara uma prisão, de um elemento ligado à comunidade caboverdiana, prisão essa que foi seguida de distribuíção de planfletos denunciando a atuação da polícia política. Tanto para o PAIGC como para as NT, Bambadinca era uma posição estratégica, porta de entrada para o leste (mas também para o sul), económica. demográfica e militarmente muito relevante.

Em 2010, o Jaime Machado voltou a Bambadinca (, tal como o Beja Santos em 2010, e  eu, em 2008). A antiga rua principal, outrora animada e ladeada de casas de habitação e de comércio de estilo colonial (foto nº 2), era agora uma desolação (fotos nºs 4, 5, 6 e 7)... O edifício dos CTT estava em ruínas. O Humberto Reis, em 1997, também por lá passara, e já era uma ruína... A Bambadinca que nós conhecêramos, já não existia... (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série >  11 de julho 2015 > Guiné 63/74 - P14864: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VI: Mulheres e bajudas (III)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14075: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte V): A parada do quartel


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 32> O aquartelamento de Bambadinca, vista do lado norte; era ladeado, a sul, pela bolanha; a oeste, pela pista de aviação e pelo reordenamento de Bambadincazinho; a leste, pela tabanca de Bambadinca, e pelo Rio Geba. Em primeiro plano, à esquerda, vê-se o telhado da escola primeirária e casa da professora.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 32 A >  As instalações das transmissões, em primeiro plano, e atrás as instalações da manutenção auto


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 32 B >  A parada do aquartelamento...  À esquerda, vê-se o pau da bandeira... Não identifico os edifícios em frente...


Fotos: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



1. A foto é do alf mil art João Calado Lopes, BAC 1, 1967/69... Foi tirada (esta e outras que temos vindo a publicar) (*),  no 2º semestre de 1968, quando esteve em Bambadinca em trânsito para Piche, com o seu pelotão de artilharia.

 Como já o referimos, o João Calado Lopes foi colega do liceu do João Martins e ambos foram artilheiros, do mesmo curso ou um antes do outro, em Vendas Novas.

Estas fotos são um "aperitivo!" anets da sua entrada (formal) na Tabanca Grande... Além de excelente fotógrafo (, tendo uma belíssima coleção de "slides", segundo me confidenciou o João Martins), é também o primeiro fotógrafo, de entre os nossos camaradas da Guiné, que vem dizer publicamente que subiu a mais de 30 metros, ao alto do mastro de comunicações de Bambadinca, para bater estas fabulosas vistas de cima.... (que é parecem tiradas de helicóptero!).

Incitamos o leitor a conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui. (LG).

2. Duas mensagens do nosso futuro grã-tabanqueiro, de 17/12 /2014

(i) Caros camaradas

Peço desculpa de só agora dar notícias. Tenho andado à procura da correspondência que enviei da Guiná mas só encontro a que recebi da família e amigos durante a comissão. Assim não consigo precisar exatamente quando estive em Bambadinca. Como tenho a correspondência que me enviaram, talvez se consiga saber pelos SPM  por onde andei. Como já devem ter percebido sou um bocado desorganizado. Andei à procura na Net e não encontro uma listagem dos SPM. Alguém me sabe dizer qual era o SPM de Bambadinca? Por aí talvez consiga.

Quanto à história que me pediram e as fotos estou a tratar disso e em breve vos envio.

(iii) (...) Com já disse antes não tenho a correspondência que enviei da Guiné. No entanto descobri um aerograma da minha namorada, hoje minha mulher, com data de 07/09/1968 em que refere expressamente: "pensava que ias ficar pouco tempo aí (em Piche) mas pelo que me dizes não é assim. Eu acho que já era tempo de te mandarem outra vez para Bambadinca Daqui a nada já faz 15 dias". Este aerograma foi enviado para o SPM 0548.

 Isto significa que em Agosto de 1968 eu estava em Bambadinca com o meu pelotão de 10,5. 

Por outro lado sei que estive em Cabedu, no Cantanhez, desde o principio da comissão (Janeiro de 1968) até Junho ou Julho e que logo a seguir fui para Bambadinca. isto significa que de facto estive em Bambadinca só de passagem. Fui para Piche e depois para Burumtuma. Por agora é tudo quanto consigo apurar.

Cordiais saudações para todos

Um abraço do camarada
João Calado Lopes

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14040: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte IV): A tabanca, a nordeste, o Rio Geba Estreito, o porto fluvial, a Intendência, a bolanha de Finete...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Foto nº 30 > A tabanca de Bambadinca, vista do lado norte, dividida ao meio pela estrada que, partindo do quartel, seguia para o porto fluvial (à esquerda) e para Bafatá (à direita). Ao fundo, o rio Geba Estreito, o porto fluvial  e o destacamento da intendência.




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Foto nº 30 A > Vista parcial da tabanca de Bambadinca, com as moranças que estavam mais junto ao arame farpado, do lado norte.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Foto nº 30 B > Outra vista parcial da tabanca de Bambadinca, com as moranças que estavam mais junto ao arame farpado (, visível em primeiro plano). À direita, o início da rampa, bastante íngreme, de terra batida, que dava acesso ao quartelamento (entrada nordeste).


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 30 C > Não tenho toda a certeza, mas a casa, em alvenaria, e caiada de branco  parece-me ser a do complexo que incluía   a morança, o armazém  e a loja do comerciante português Fernandes Rendeiro, casado com a mandinga, Auá Seide. O casal  tinha uma prole numerosa.

O Rendeiro faleceu em  setembro de 2011. Fui visita da sua casa e beneficiei da sua hospitalidade. A Auá Seide, que o Rendeiro nunca mostrava aos seus convidados, militares, era uma excelente cozinheira, a avaliar pelo seu chabéu de frango de cuja e sabor ainda me lembro... Também nunca me lembro de ter vistos os seus filhos, embora ele nos falasse de uma filha mais velha, já a estudar no Continente... e que, segundo parece, é magistrada. O Rendeiro, natural da Murtosa, terá ido para a Guiné com 17 anos, na década de 1930. Terá nascido por volta de 1920.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 30 D > A margem esquerda do Rio Geba estreito, o porto fluvial e a intendência (do lado esquerdo). Do outro lado do rio, começa a bolanha de Finete. A cambança era feita por pirogas.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 30 E > Vista mais detalhada do porto fluvial e das instalações da intendênciaquerdo). Do outro lado direito, já na curva para a estrada de Bafatá, ficava, se não erro, a loja e o bar do Zé Maria, outro comerciante português.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 30 F >  Vista parcial da tabanca de Bambadinca, do lado direito da ramapa de acesso ao aquartelamento. Mais ao fundo, do lado direito, mas não visível na foto ficava a tabanca de Santa Helena e o bairro Joli.


Fotos: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



1. A foto é do alf mil art João Calado Lopes, BAC 1, 1967/69... Foi tirada (esta e outras que temos vindo a publicar),  no 2º semestre de 1968, quando esteve em Bambadinca em trânsito para Piche. (Julgo que o João está a fazer confusão quando diz taxativamente: "Em Bambadinca comandei um pelotão de obuses 10,5. Não sei exactamente quando estive lá, mas foi no 2º semestre de 1968. (...) Não estive lá muito tempo pois o meu pelotão foi logo destacado para Piche"...

Ora, segundo as informações que temos, Bambadinca nunca terá tido artilharia. No meu tempo (junho de 1969/março de 1971) não tinha. O que era normal era os pelotões de artilharia desembarcarem no Xime ou em Bambadinca, vindos de LDG de Bissau, com destino a diferentes aquartelamentos no leste. Podiam estar em Bambadinca, em trânsito, à espera de escolta ou de coluna.

Como já o referimos, o João Calado Lopes foi colega do liceu do João Martins e ambos foram artilheiros, do mesmo curso ou um antes do outro, em Vendas Novas.

Continuamos na expetativa da sua entrada na Tabanca Grande...  Além de excelente fotógrafo (, tendo uma belíssima coleção de "slides", segundo  me confidenciou o João Martins), é também o primeiro fotógrafo, de entre os nossos camaradas da Guiné, que vem dizer publicamente que subiu a mais de 50/60 metros, ao alto de uma  antena de comunicações (neste caso, em Bambadinca), para bater estas fabulosas vistas de cima.... (que é parecem tiradas de helicóptero!).

Incitamos o leitor a conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui. (LG)
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13974: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte III)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Vista (parcil) do quartel de Bambadinca, do alto da antena das comunicações (*), na direção norte-sul: em primeiro plano, as casernas das praças, depois o campo de campo, a rede de arame farpado, o heliporto e a pista de aviação.  Ao fundo, as estradas que davam para Nhabijões e Xime (lado direito), e Bambadincazinho, Mansambo, Xitole e Saltinho (à esquerda).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 > >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  O campo de futebol, que era paralelo à pista de aviação. (Com a ampliação, por volta de 1972, passou a poder receber caças-bombardeiros T 6, em 1972).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 B > >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >   Lado sul, a rede de arame farpado, o heliporto e a pista de aviação, em terra batida.  (Com a ampliação, por volta de 1972, passou a poder receber caças-bombardeiros T 6, em 1972).


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 C >   CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >  Do lado esquerdo, a estrada para sul (Bambadincazinho, Mansambo, Xitole e Saltinho).  Era uma estrada frondosa, coberta de bissilões e poilões, tal como a ourtra, à direita, que seguia para Nhabijões, Rio Udunduma, Xime e Rio Geba.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Foto nº 29 D >  CC/S/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 >   Os núcleos populacionais  que ficavaam a sul da pista e do aquartelamento, acompanhando a estrada para Mansambio, Xitole e Saltinho... A cerca de 1 km, ficava o importante reordenamento de Bambadincazinho.

Foto: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. A foto é  do alf mil art João Calado Lopes, BAC 1, 1967/69... Foi tirada (esat e outras), segundo ele, no 2º semestre de 1968, quando em trânsito para Piche. ("Em Bambadinca comandei um pelotão de obuses 10,5. Não sei exactamente quando estive lá, mas foi no 2º semestre de 1968. Para saber com rigor tenho que ir ver a correspondência que troquei com a família. Não estive lá muito tempo pois o meu pelotão foi logo destacado para Piche.").(*) 

O João Calado Lopes foi colega do liceu do João Martins e foram artilheiros. Aguarde-se a entrada solene, com pompa e circunstância, na Tabanca Grande, do nosso temerário fotógrafo que subiu a mais de 50/60 metros, ao alto da antena de comunicações de Bambadinca, para bater estas chapas....

Conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui.




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Carta de Bambadina (1955) > Pormenor > Escala 1/50 mil >   Já em 1955, Bambadinca era uma importante povoação do leste, posto administrativo da circunscrição (concelho) de Bafatá, com campo de aviação, posto sanitário, correio, telégrafo e telefone, escola pública, casas comerciais e porto fluvial... Ficava no regulado de Badora, e tinha importantes núcleos populacionais de fulas, balantas e mandingas. 

A 12 km do Xime (que ficava a sudoeste), Bambadinca era o principal porto do Rio Geba Estreito. Era também um importante nó rodoviário, placa giratória para o coração do leste (Bafatá, Nova Lamego e fronteira com o Senegal e com a Guiné-Conacri, na altura - em 1955 - ainda não indepedentes, sendo "chão de francês"...). Para o sul, partia a estrada que ia até ao limite sul da região de Bafatá, o Saltinho, na margem direita do Rio Corubal). Do outro lado, já era a região de Quínara e depois a região de Tombali...  Antes da guerra, tinha se vinha por terra, de Bissau a Bambadinca, através de Porto Gole. Já no final da guerra, havia uma estrada alcatroada, quase pronta, ligando, Bissau a Bambadinca, via Jugudul

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
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Nota do editor:

(*`) Postes anteriores da série > 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco - I

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 26 do corrente:

Meu Caro Luís Graça,  Camarada.

Acontece que faço anos. Um número redondo. Muito redondo. Faço 69 anos de idade.
Decidi presentear-me a mim próprio com mais um episódio da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista". Um episódio, também ele, com um número fetiche. O número 13.

Noutro anexo, envio uma fotografia aérea de Bissorã, para o caso de achares que, no texto original, a deves redimensionar.
 




2. Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13):  O fadista regressa ao palco

[, foto à esquerda. o jovem aprendiz de enfermeiro, 1968, Hospital Militar Principal, Lisboa]

Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã.

Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”.

O Dr. Oliveira, deixemos lá o alferes de lado que ele era médico, não era militar, começava as manhãs na nossa enfermaria e, depois do almoço, preenchia as tardes com umas consultas na enfermaria civil.
– Ó Pires, temos um problema, pá.

Temos, era um eufemismo por ele muito usado,  sempre que pretendia dizer que EU tinha um problema. Contou-me que com um elevado sentido de oportunidade, e aqui que o senhor das almas me perdoe, o senhor enfermeiro civil morrera pouco antes da nossa chegada.

Num ápice, quem passou a ter um problema,  foi o Maltez, meu soldado maqueiro, a quem eu mandei avançar ao reconhecimento. O Maltez era uma espécie de “pau para toda a obra”, de quem e de cujos méritos falarei em tempo mais oportuno.

A enfermaria civil era uma casa térrea mas arejada, com gabinete médico, área de internamento para 12 camas, e uma dependência onde funcionava a enfermaria do Rodrigues. Comecei logo por embirrar com esta separação. Isto é, enfermaria dos operacionais para um lado, a da CCS para o outro. E no caminho que vinha fazendo pelo meio da vila,  dei comigo a embirrar com tudo o resto.

Já o escrevi, em Bissorã não existia quartel. O quartel é, por definição, pelo menos na minha definição, um espaço delimitado em cujo interior se concentram homens, instalações e serviços. Bissorã era assim como que uma espécie de “cidade” abandonada pelos civis, cujas casas foram, convenientemente, ocupadas pelos militares.

E no meu fraco entender, isto em nada facilitava o tal “espirito de corpo” muito propagandeado nas directivas militares. Para me fazer entender, socorro-me de uma fotografia aérea de Bissorã, de autoria do Cap Carlos Oliveira, e que devidamente autorizado retirei do “website” leoesnegros.com.sapo.pt/



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 > Vista aérea



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 A > Vista aérea (parcial)


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 B > Vista aérea (parcial)

Foto: Cortesia da página do © Carlos Fortunato > CCAÇ 13, Leões Negros  > Guiné - Bissorã  [Edição: LG e AP]

Legendas [Armando Pires]:

1 – Caserna da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
2 – Sede da Administração de Bissorã
3 – Enfermaria civil
4 – Messe de oficiais
5 – Secretaria da CCS, Transmissões e espaldões de morteiros
6 – Casernas e refeitório da CCS
7 – Quartos de sargentos da CCS e bar
8 – Secretaria do comando do batalhão no r/c e quartos dos oficiais no 1º andar
 9 – Clube social e cinema de Bissorã
10 – Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
11 – Quartos de sargentos da CACÇ 2444, depois da CCAÇ 13
12 – Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto
13 – Messe de sargentos
14 – Campo de futebol.

Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 para 12 passei em 10 e ouvi uma viola a tocar.

Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).

Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".

Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.




Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) >Guiné >  O furriel miliciano João Rebola na “nossa” motorizada.

Numa vertiginosa sucessão de factos ocorridos após “a decapitação” do comando do batalhão, o major Candeias, que foi direitinho a Bissau, foi substituído nas operações pelo, entretanto promovido a major, capitão Alcino, que era o comandante da CCS, chegando para ocupar o seu lugar o senhor capitão Luís Andrade Barros.

Foi este senhor capitão que me chamou e que manteve comigo uma cordial conversa a versar mais ou menos estes termos.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelente condições, uns serões sociais, animados com musica e jogos de mesa, eu pensei em fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite, e o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…
"Olha para onde vens tu, ó Barros!", pensei eu, ao mesmo tempo que atalhei aquela espécie de música para encantar meninos, fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.

O senhor capitão pôs um ar surpreendido, juro que até pensei que ele me ia dizer que os fados eram no bar, não eram na igreja do capelão Baptista, mas dois ou três segundos depois ficou-se por um pedido de esclarecimento, assim como “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que., sem acompanhamento, sem guitarra nem viola, eu não canto.

O recado foi levado ao senhor comandante, a conversa decorreu em plena messe de oficiais, e quem encurtou razões à conversa foi o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, cujo anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola.

O furriel de que o Marcão falava era, como me parece ser fácil de ver, o João Rebola.

Aqui também acho que é hora de encurtar parágrafos à história e dizer que as sessões de Bingo foram por diante, que o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado de transmissões Vilas Boas, e que depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.

Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Sentimento e casa à cunha, em mais uma noite de fados. Eu, acompanhado pelo João Rebola, à esquerda, e pelo Vilas Boas, à direita.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Noite de bingo no bar de sargentos da CCS. Eu canto os números, o furriel Orlando Bonito (já falecido) ordena as bolas saídas, o capitão Andrade Barros supervisiona o sorteio.







Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Três aspectos do bar de sargentos da CCS


Fotos (e legendas): © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados

E tudo foi assim até que chegou o mês de Junho de 1970. A Bissorã chegaram os rapazes da CCAÇ 13, formada originalmente por quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2591, a quem em Bolama se juntou pessoal guineense, predominantemente de etnia balanta. Chegaram para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 2861, o meu batalhão, rendendo a CCAÇ 2444 que foi terminar o seu tempo de comissão em Binar. E,  com ela, lá foram o João Rebola e o Vilas Boas.

Quer isto dizer que “calaram-se as guitarras, calou-se o fadista, e acabou-se o fado”.

Só não acabou a história.

Vão ver mais tarde como o fadista se transformou no locutor do “Programa das Forças Desarmadas”.
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

19 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"

(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...) 

23 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando

(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)

10 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12023: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (10): Alô Bissorã, cheguei!!!

(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)

30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11994: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (9): Um reencontro para agasalhar a idade


(...) Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...) 



(...) Tal como prometera, envio um conjunto de 12 (doze) fotografias de Bula. Tenho dúvidas quanto à forma de as editar. Por essa razão permito-me enviar duas versões. Como podes ver, a que tem o titulo de Bula 2 ocupa menos espaço no blog, mas algumas das fotos perdem em qualidade. Deixo ao teu critério, ou ao critério do "Editor de Dia", escolher qual das duas versões publicar. Do mesmo modo, também fica ao vosso critério decidir em que série as inscrever. Se na série "furriel enfermeiro, 
ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...) 



(...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)


(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer.  (...) 

3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou

(...) A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas.  Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar.  (...)

(...) Eu tinha dois doutores. Era para ter três, mas perdi um mesmo à saída da escada de portaló. Era um oftalmologista em quem alguém descobriu, logo ali, insuspeitadas capacidades para ver fundo na raiz dos dentes, razão porque ficou em Bissau para uma especialização de três meses em medicina dentária, findos os quais percorreu todos os quadrantes dessa Guiné, em socorro de algum militar carente dos seus serviços. (...) 

7 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)

(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)


5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)

(...) - Então doutor, o puto safa-se?

Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...) 


(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)