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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18197: (De)Caras (103): Patrício Ribeiro, "pai dos tugas" ou o "último improvável herói tuga" na Guiné-Bissau?... Recordando o seu ato de heroísmo e altruísmo em Varela, em 1998, ao "pôr a salvo", na fragata Vasco da Gama, um grupo de portugueses e outros estrangeiros... 18 milhas / c. 33 km pelo mar dentro, numa canoa nhominca...


Foto nº 810 > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... A extensa praia de Varela...

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Patrício Ribeiro ao poste P18183 (*):

Patrício Ribeiro,
grumete fuzileiro,
1969/72
[Foto à direita; um antigo "filho da Escola", leia-se: fuzileiro da Marinha Portuguesa, radicado na Guiné-Bissau há mais de 3 décadas, fundador e diretor da empresa Impar Lda; nascido em Águeda, em 1947, viveu desde tenra idade em Angola, onde fez tropa, foi grumete fuzileiro, 1969/72; voltou a Portugal com a descolonização; fixou-se na Guiné-Bissau em 1984]

Varela... Estas árvores que se vêm na foto [, de cima,], já foram levadas pelo mar.

Tenho aqui perto uma pequena palhota para passar alguns fins de semana. Há 20 anos estava a mais de 250 metros do mar, agora o mar já está muito mais perto; dentro de algum tempo, já posso pescar com a cana, a partir da minha varanda…

Neste mesmo local, numa clareira, aterraram os helicópteros da fragata Vasco da Gama, para recolher os Portugueses que aqui estavam encurralados na guerra de 1998.  Foi num destes helis que o nosso saudoso Pepito, saiu.

Eu também aqui estava… Mas tinha por missão ajudar a sair outros Portugueses que se encontravam no interior, em Canchungo e Cacheu. Como não apareceram às horas combinadas, estive em S. Domingos e depois em Ingoré (, sem combustível e em situação de guerra),  à procura deles… E de onde, a partir dos rádios da Missão Católica, comuniquei com a fragata a informar que estavam atrasados para a sua evacuação…

Ao fim do dia, também saí desta praia [, de Varela,] numa canoa nhominca, acompanhando os últimos 10 portugueses que quiseram sair, assim como de outras nacionalidades,  a quem a fragata autorizou o embarque… 

Como destino, “o pôr do sol”, o poente… Passados 18 milhas, mar adentro, lá encontramos a nossa frota com 3 navios dos “filhos da escola” que na parte final nos vierem cumprimentar nos botes e mandar subir pela escada de corda, para a Vasco.

Já não foi possível os helis voltarem a aterrar na praia, havia quem os quisesse deitar abaixo… mas fomos acompanhados pelo ar, de onde recebíamos ordens, por vezes mandavam-nos, à nossa canoa, desviar de alguns obstáculos, que havia no mar …


Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa nhominca, para transporte de passageiros. A sua lotação máxima são 100 passageiros. As canoas nhominca são as melhores embarcações e que se adaptam ao mar desta costa de África. O povo nhominca foi quem as construiu há séculos, propositadamente para este mar!... Já mandei construir algumas destas canoas, que depois entrego aos projectos, em pequenos estaleiros em Bissau, ou no grande estaleiro de Zinguichor, no Senegal. A maior concentração destas embarcações que já vi, foi em St. Louis, no norte do Senegal, umas largas centenas! Elas percorrem todo o mar costeiro, nesta costa de África, à pesca.

Já passei por grandes problemas que davam para contar durante horas, mas como dizem os meus amigos... "chego sempre"... E eu acrescento: até agora, felizmente! Foi numa destas canoas "nhominca", que fiz a viagem para a fragata Vasco da Gama, acompanhado de outros portugueses [, em 1998]…

Por vezes quando todos entram em pânico, é necessário tomar algumas atitudes pouco "recomendáveis" e tomar conta da embarcação, que o digam os meus colaboradores, ou alguns nossos amigos, que brincam com o que às vezes tenho que fazer, para que tudo corra bem. "É necessário que cada um fique no seu lugar, não deixar que corram todos para o mesmo lado". (***)

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentários dos leitores (*)

(i) Hélder Sousa:

Patrício:

O que nos relatas, de forma sucinta, certamente que daria para um filme de acção e 'suspense' com muitas peripécias.

Sobre o avanço do mar, desconfio que isso pode ser 'ilusão de óptica'. Tenho ouvido e lido o que o presidente Trump considera sobre 'alterações climáticas' e por isso acho que pode haver algum exagero nessa coisa das árvores terem sido levadas pelo mar. Se foram é porque faziam falta nalgum lugar. (...)


(ii) Tabanca Grande [Luís Graça]:

O Patrício Ribeiro não é por acaso que era conhecido em Bissau, ainda até há pouco, como o "pai dos tugas"... Os jovens, cooperantes, rapazes e raparigas, tinham por ele um enorme respeito e admiração na altura em que o meu filho, João Graça, o conheceu em dezembro de 2009, em Bissau...

Esta história do resgaste de diversos portugueses e outros, em plena guerra civil de 1998, perdidos em Varela, Canchungo e Cacheu, devia merecer honras de título de caixa alta nos jornais da época e nas parangonas dos telejornais... Não me dei conta que isso tenha acontecido... Mas é uma história de heroísmo!...

Ouvi-a contar, na tabanca de São Martinho do Porto, há uns anos atrás,  ao saudoso Pepito, um dos "encurralados", aquando da guerra civil de 1998, em Varela, onde também tinha casa de praia, já do tempo dos pais...O Patrício conseguiu metê-lo num dos helí da fragata Vasco da Gama, ancorada a 18 milhas, com mais 2 navios de apoio...

Já sabia, além disso, que na impossibilidade de voltar o heli a Varela, o Patrício se metera na sua canoa nhominca, levando mais um grupo (10 pessoas, de nacionalidade portuguesa e outras...) ao fim da tarde, pelo mar fora, até à fragata salvadora!...

Camaradas 18 milhas náuticas numa canoa nhominca (, embarcação em que ele é perito e que muito admira!) (***),  são mais do que 33 km pelo mar adentro... Não é para todos, é para quem aprender a amar e respeitar o mar, como ele, que foi "filho da escola" da Armada...

Esta história incrível tem de ser melhor conhecida de todos nós... O Ribeiro Patrício, que é um homem modesto,  nosso camarada, ex-grumete fuzileiro, deveria ter sido condecorado no 10 de junho por este feito de grande coragem e altruísmo!... Se isto não é heroísmo, então eu nunca vi nenhum herói ao vivo!

Reparem: ele ficou na Guiné, segundo creio, não abandonou a Guiné, mesmo em plena guerra de 1998/99... O Pepito e a família, cuja casa no bairro do Quelélé, em Bissau, foi pilhada e destruída pela soldadesca senegalesa, que apoiava o 'Nino' Vieira, esteve refugiado em Cabo Verde, creio que à volta de um ano... O Pepito tinha nacionalidade guineense, e este foi um dos acontecimentos mais marcantes (e traumatizantes) da sua vida, segundo me confidenciou em vida... Voltou à Guiné. para recomeçar a sua vida, uma vida nova... O Patrício Ribeiro, por sua vez, é português, é alias o português mais guinéu da Guiné-Bissau... onde vive e trabalha há quase 4 décadas...

Enfim, o Patrício Ribeiro, agora com 70 anos, está a começar a "abrir o livro"... Um homem que sabe muito da história recente da Guiné-Bissau,  saberá até de mais, pelos círculos em que se move, mas sempre o achei uma pessoa cautelosa, discreta, afável e fiável...

Enfim, aqui fica o poste com o seu comentário, que eu tinha prometido!... E, quanto ao meu, peço-lhe que ele corrija ou confirme o que escrevi.
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18183: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VIII: Perdidos no rio Cacheu, em maio de 1968 (3)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5195: Histórias de heroísmo (2): O meu herói de... Bissau (Alberto Branquinho)

Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2.º Ciclo de Conferências Memórias Literárias da Guerra Colonial > 4 de Junho de 2009 > Alberto Branquinho no acto de apresentação do seu livro de contos "Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa"


O meu herói de… Bissau
Por Alberto Branquinho*

Durante a primeira vez que passei por Bissau antes do regresso (quatro foram idas e regressos de férias), entrei, à hora do almoço, no bar da Messe de Santa Luzia. Perto da porta tropecei em dois ou três alferes milicianos, sentados à volta de uma mesa.

Conheci-os e reconheceram-me dos tempos de cadete, em Mafra. Pertenciam à fauna instalada em Bissau. Bebericavam o whisky, digestivo, e o café. Talvez pela minha tez cor-de-azeitona, talvez pelo aspecto outsider, concluíram que eu não era residente naquela freguesia. Chamaram-me:

- Olá, herói. Ó herói, anda cá. Fala à gente.

Cumprimentei-os e sentei-me na cadeira disponível.

- Então, quantos gajos já apanhaste à mão?

Seguiram-se outras perguntas de igual teor, entre gargalhadas. Sentia-me fortemente agredido pelo sarcasmo cultivado nas Reps de Bissau, mas não conseguia fazer fogo de resposta. Se respondesse, sairia palavrão grosso. Fiquei calado e sentia-me cada vez mais fora do baralho.

(- Saio?
- Fico aqui?
- Que faço?
- Não. Não vou bater em retirada).

Entretanto, fiz o reconhecimento do local, olhando em volta – oficiais médios, superiores, algumas senhoras… O terreno não me era favorável.

Entrou, então, outro alferes, de outra Companhia, da minha zona de operações, mas velhinho, em fim de comissão.

- Olha, outro herói.

- Ó herói, fala à gente.

Ele aproximou-se, alheio ao sarcasmo circundante. Olhou para mim e deve ter notado o meu incómodo.

- Já almoçaste? Não? Então vem daí e caga para estes heróis que estão a acabar o café e o whisky para regressarem à guerra santa da caneta, nas matas do ar condicionado.

Sem dizer mais, afastou-se.

Acompanhei-o para o restaurante, com a sensação de que seguia os passos de um HERÓI, que me arrancara das mãos do inimigo.

Alberto Branquinho
__________

Notas de CV:

(*) Alberto Branquinho, natural de Vila Nova de Foz Côa, residente em Lisboa, jurista de formação, reformado da TAP, (ex-Alferes Miliciano de Operações Especiais da CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) é o autor do livro de contos "Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa"

Vd. Primeiro poste da série de 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5157: Histórias de heroísmo (1): Sold nº 939 Paulo: Olha os cabrões, já me f... a arma! (José Colaço)

domingo, 25 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5157: Histórias de heroísmo (1): Sold nº 939 Paulo: Olha os cabrões, já me f... a arma! (José Colaço)

1. Texto do José Colaço, ex-Sold Trms, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde Junho de 2008 (*).


Olha, os cabrões, já me foderam a arma!

O título é forte mas o Paulo merece... Na descrição do texto direi a razão, mas os nossos editores têm toda a liberdade de o alterar se verem que ofende a moral pública.

No dia 3 de Agosto de 1964, os trabalhos da construção do quartel [de Cachil] podiam ser dados como concluídos. As explorações à mata do Cachil por ordem do CTIG tinham deixado de ter interesse, parece que o ponto fulcral era agora abrir o caminho Catió-Cufar.

É recebido uma mensagem no subsector do Cachil para a companhia, a 557, dispor de quase todo os efectivos, para participar na tentativa de limpar Cufar, zona onde o inimigo estava muito bem instalado. (A sorte foi que o inimigo nunca se lembrou de atacar o quartel num desses dias).

Nesta operação estavam também envolvidas outras forças, a companhia de Catió e os fuzileiros do sétimo destacamento que nesse dia pelo menos foram contemplados com uma baixa, o sargento vago mestre, o homem levou uma bazucada no ventre e levantou, num autêntico voo. Morte imediata com aquela zona do corpo desfeita.

A operação para a CCaç 557 era só por um dia. Principal razão: a insegurança em que o quartel do Cachil ficava. Havia camaradas que se ofereciam para trocarem e irem para o mato com todos os perigos que sabiam iam encontrar, mas o receio de ficarem no quartel ainda era maior.

As tropas da CCaç 557 saíram ao romper da manhã, embarcadas nas lanchas LDP e LDM e lá seguiram pelo rio Cumbijâ até à zona programada para o desembarque. As viaturas de Catió só iam até onde fosse considerado zona de segurança. A partir dai era a autopenantes.

Lá seguimos até encontrar o confronto com o inimigo. Era uma zona de mato como é normal, mas havia naquele local uma seara de milho, o que dava para ocultar a nossa progressão mas não protegia nada do fogo inimigo, que estava bem instalado e armado com um poder de fogo muito forte.

Houve da nossa parte um pequeno recuo, mas o pessoal não se apercebe de momento que o ilhéu 2º sargento Conde estava ferido com dificuldades de locomoção, mas pior estava o soldado nº 938 António Pires Martins Belo, mais conhecido entre nós pelo alentejanito, devido ao seu porte físico. Ele gritava com dores sem se poder deslocar e isolado.

Entretanto dois elementos do inimigo apercebem-se da situação do nosso camarada, e rastejam para tentar resgatar o António. E é aqui que surge o primeiro acto de coragem dos soldados nº 939, Dionísio da Conceição Paulo, e nº 917, António de Jesus Guilherme.

Foi feita uma barreira de fogo, os referidos soldados rastejam por baixo dessa barreira de fogo, o Paulo carrega o António Belo às costas, sempre a rastejar até conseguir trazer o camarada António para junto de nós, e o Guilherme trouxe a G3 do António Belo, sempre protegidos pela barreira de fogo.

Mas, além do azar, em tudo por vezes também a sorte nos acompanha e neste caso o António Belo teve alguma sorte: primeiro os camaradas que num acto destemido, com risco da própria vida, [fazem tudo} para salvar o companheiro o amigo; a seguir a equipa médica do helicóptero que no local lhe fez duas ou três transfusões de sangue senão o António Belo tinha-se finado.

O António Belo foi operado no Hospital 241 em Bissau onde permaneceu cerca de cinquenta e poucos dias, a seguir foi enviado para a metrópole para tratamentos e recuperação, não regressando mais à Guiné. O António hoje vive feliz em Castelo de Vide, casou, é pai, tem uma filha e um filho que trabalham e moram em Lisboa.

Bem, agora vamos esclarecer a história do titulo. O Paulo, assim que pôs o amigo em porto seguro, continuou como uma fera ferida, enraivecida, no seu ataque e defesa, mas a certa altura ouve um um barulho estranho na zona da culatra da G3 e simultaneamente a arma encrava. Olha para o carregador e vê no mesmo uma bala cravada. Reacção:
- Olha os cabrões, já me foderam a arma!

Seria normal até entrar em pânico mas a reacção foi esta... A seguir pega na arma do António Belo e continuou no seu acto de bravura.

Foi condecorado com a cruz de guerra, não sei de que ordem ou classe. O 2º sargento Conde, também evacuado para a Metrópole, não regressou à companhia, encontrei-o por acaso uma única vez num jogo de futebol Benfica-Sporting mas devido ao movimento e a ele já estar sentado só nos cumprimentámos.

Um alfa bravo, Colaço.

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

2. Comentário de L.G.:

A tua história merece que demos início a uma nova série, Histórias de Heroísmo... Palavra que usamos sempre com cautela, com pudor, com acanhamento e às vezes até com culpa!... Seria idiota, por preconceito, ou por um qualquer complexo (de culpa, de superioridade, de inferioridade seja o que for), não contarmos aqui as histórias dos nossos... heróis (da terra, do ar e do mar). Que os houve, seguramente, ao longo destes anos todos de guerra. De um lado e do outro, do nosso lado e do lado do PAIGC. Originalmente, a palavra herói, na língua grega, queria dizer, filho de um deus ou de uma deusa, e de um ser humano (homem/mulher), alguém que, pela genética, tinha qualidades sobre-humanas... O heroísmo é, pois, segundo os dicionários, "o conjunto de qualidades e acções que elevam um homem à classe de herói"...

Os heróis que conhecemos na Guiné eram de carne e osso, vulgares, mortais, com um buraco entre as pernas como os outros, nem melhores nem piores do que os outros, filhos de uma qualquer Maria e de um qualquer José... Como os teus camaradas, os Sold nº 939, Paulo, e nº 917, Guilherme...

Não quero aqui teorizar sobre o heroísmo na guerra. Quero apenas, como editor, agradecer-te mais esta história e desejar bom sucesso para as seguintes. A porta fica aberta. Deixemos aos leitores (devidamente identificados!) a tarefa de opinar, avaliar, criticar, malhar, comentar...

Quanto às ofensas à moral pública, José, que apareça o primeiro... filho da mãe que se atreva a atirar-te a primeira... pedra! Quanto ao Belo, vai daqui um quebra-costas valente, lá para Castelo Vide onde ele vive, espero que feliz e com saúde.

LG

___________

(*) Vd. postes relacionadas com o José Colaço e a CCAÇ 557:

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

29 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65))

9 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)

19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)

1 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4765: Convívios (153): Almoço/Convívio: CCAÇ 557, Cahcil, Bissau e Bafatá 1963/65 - (José Colaço)

18 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5125: José Augusto Rocha: da crise estudantil de 1962 à Op Tridente, Ilha do Como, 1964 (José Colaço / Luís Graça)

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2121: Questões politicamente (in)correctas (33): Dulce et decorum est pro patria mori ? (J.A. Lomba Martins)

Quintus Horatius Flaccus (65 a.C. - 8 a.C.). Fonte: Wikipédia (2007). Imagem do domínio público.

1. Mensagem de J. A. Lomba Martins (1), com data de 20 de Maio de 2007:

DULCE ET DECORUM EST PRO PATRIA MORI [É belo e é uma honra morrer pela Pátria] (2)


Depois da queda de Dien-Bien-Phu, depois de um número incalculável de mortos na guerra do Vietname, depois de os militares portugueses prisioneiros em Goa, após a invasão da União Indiana, terem sido vilipendiados, o então Presidente do Governo e do Partido da União Nacional declarou em discurso solene: “Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem”, esperando uma luta sem quartel para a rápida pacificação de Angola.

Depois das guerras pelas independências da Guiné, Angola e Moçambique, seguidas de lutas fraticidas, depois do terrível sofrimento do povo de Timor Lorosae para obter a independência da Indonésia, depois das limpezas étnicas na antiga Jugoslávia, depois das guerras do Golfo e do Iraque, hoje é ponto assente que aos militares compete fazer a guerra, eticamente, com o menor número de baixas.

A questão fulcral que sempre se nos colocou – oficiais do quadro permanente – neste passado recente, era saber se deveríamos cumprir, sem pestanejar, as ordens de atacar e de defender, de aguentar e de retardar, de matar e de morrer!!!

Houve quem o objectasse e tivesse sido expulso do Exército e preso pela PIDE.

Será que poderíamos aceitar as grandes deficiências físicas, as doenças mentais e as mortes generosas dos nossos amigos e camaradas, bem como de vítimas inocentes e de militares conscritos, naquelas longas horas em África, sem perspectivas de soluções políticas e logísticas?

Dos três objectivos utópicos da Revolução de Abril para o Ultramar – DDD: descolonizar, democratizar, desenvolver – sabemos que os dois últimos ainda não foram alcançados. Valeu a pena? “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. A alma de quem, dos mortos ou dos vivos?

Se a guerra é a continuação da política por outros meios, sempre esperamos que, no mínimo, a esfera política fosse competente, coerente e decisiva na busca de uma solução moderna e justa: PROCURAR A PAZ E O PROGRESSO para todos os campos envolvidos.

Quando a política falha, como falou, nos seus apoios de retaguarda e internacional, será que Dulce et decorum est pro patria mori ?

José A. Lomba Martins – Ten Coronel Inf (Ref)
___________

Notas de L.G.:

(1) É um dos co-autores do livro A Geração do Fim. (Lisboa: Prefácio, 2004). É hoje tenente coronel de infantaria, na reforma. Ao todo são 21 oficiais do quadro permanente, da arma de infantaria (1957-2004) que, como militares e cidadãos, foram actores e testemunhas de acontecimentos de grande relevo nos últimos cinquenta anos da história da nossa pátria, desde a invasão, pela União Indiana, dos territórios de Goa, Damão e Diu até ao 25 de Abril de 1974, ou da guerra da Guiné ao 25 de Novembro de 1975...

Vd. post de 23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1624: Bibliografia de uma guerra (17): A geração do fim ou a palavra a 21 oficiais de infantaria, de 1954/57 (Miguel Ritto)

(2) Expressão latina, da autoria do poeta romano, Horácio (Séc. I a.C.), Odi [Odes], III, 2, 13. É a divisa da nossa Academia Militar (antiga Escola do Exército, cuja origem remonta a 1837).