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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4234: (Ex)citações (24): A grandezas humana de um comando africano (Virgínio Briote / Luís Graça)

1. Escreveu o VB, nosso co-editor, a propósito do making of do livro do de memórias do Alf Graduado Comando Amadu Djaló (foto à esquerda, em Lisboa, junto ao memorial dos mortos da Guerra do Ultramar)(*);

(...) "E depois, Burontoni e o Malan, um miúdo de 7 ou 8 anos que vivia com os pais, junto a um acampamento da guerrilha.

"Ninguém queria ficar com o Malan. O Saraiva não queria mascotes, o capitão L., da Companhia local [, Xime], respondeu negativo. Amadu trouxe a criança para Brá. Depois, com 4 metros de tecido que um camarada tinha apanhado num acampamento, foi a um alfaiate fazer 4 calções e 3 camisas. Uns sapatos e uns chinelos completaram o guarda-roupa do Malan, que teve de mudar o apelido para Djaló.

"Malan Djaló passou a viver na grande família Djaló. Nunca ninguém soube a história do rapaz até 1973. Malan cresceu, andou na escola, aprendeu bem o português.

"Quando chegou a independência voltou a ver os pais, mas à noite regressou à família Djaló. Passou a dar aulas de português em quartéis do PAIGC, até conhecer uma jovem por quem se apaixonou. Casou e nasceu-lhe uma menina. A sorte da vida não estava com o Malan. Uma doença rápida, em dias, matou-o numa cama do hospital de Bafatá. Um ano depois, a menina morreu também, vitima da mesma doença, presume o Amadu" (...).


2. Comentário de L.G.:

Histórias dentro da história, VB! E que histórias! E esta é particularmente comovente!... Nos anos de brasa (c. 1965), quem é que se preocuparia com um miúdo, aterrado, as mãos atrás da nunca, que é encontrado no mato, turra, futuro turra... ? Miúdo é como velho e mulher, só atrasa o regresso da tropa e põe em causa o sucesso da operação e a segurança dos camaradas... Nesse tempo, no subsector do Xime, o velho guia e picador das NT, Seco Camará, era encarregue das tarefas mais vis da guerra suja, que repugnava ao tuga, cristão... Seco Camará, mandinga, leal às NT, e também bom muçulmano, viu-o morrer à roquetada em 26 de Novembro de 1970 (**)...

Esta história do puto Malan, recolhido por um comando africano, revela o homem grande e o grande homem que é, deve ser, o Amadu Djaló (de que tens sido o confidente nestes últimos meses). E, além disso, é bom crente em Alá, bom muçulmano, que vai todas as sextas-feiras rezar à mesquita de Lisboa, na Praça de Espanha...

VB, essas memórias do Amadu Djaló estão-se a revelar uma autêntica Caixa de Pandora. E tu estás a fazer um trabalho fantástico, dando voz a um homem sem voz, exilado na pátria que escolheu: só por essa razão é que eu perdoo a tua deserção (temporária) do nosso blogue...

Conheci o Buruntoni, como outros camaradas nossos que estiveram na CCAÇ 12 (Humberto Reis), no Pel Caç Nat 52 (Beja Santos), no Pel Caç Nat 63 (Jorge Cabral)... Ou nas unidades de quadrícula do Xime: na região de Baio/Buruntoni, a sudeste do Xime, e fazendo ligação com o Poi´ndon/ Ponta do Inglês, na margem direita do Rio Corubal, havia pelo menos um 1 grupo com meia dúzia de roqueteiros que emboscavam as nossas embarcações, em Ponta Varela... Fomos lá várias vezes com o Seco Camará, demos e levámos muita porrada...

A população era beafada e balanta. O Malan Nanque era o nome do puto antes de ser perfilhado pelo Amadu Djaló...

Peço-te, VB, que faças um poste com esta história, reveladora da grandeza de alma dos homens, mesmo quando andam na guerra... ou são obrigados, muitas vezes a escolher um dos lados da guerra. Uma história também reveladora de que tudo na vida e na história não pode ser visto a preto e branco, como tendemos a fazer por razões de comodidade mental... É sempre empobrecedor ver a guerra da Guiné e os seus protagonistas, a preto e a branco... (LG)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Legenda do fotógrafo: "O milícia e guia das NT, Seco Camará: 56 minas detectadas e muitas guerras" (TM)...

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.

___________

Notas de L.G.:

(*) 21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)

(**) Vd. poste de 26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3275: Clarificar o conceito de novíssima literatura da Guerra Colonial (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada Beja Santos:

Camarada Leopoldo Amado e Queridos Amigos,
Li com muito prazer o ensaio do Leopoldo Amado em torno de alguma literatura emergente com a Guerra Colonial (*).
Sinto-me em sintonia com muitos dos pontos de vista expendidos, trago algum aditamento, na certeza certa de que o autor e todos os tertulianos anseiam para que esta problemática venha a ser desenvolvida em ulteriores investigações, seja de Leopoldo Amado ou de outros especialistas.

Primeiro, convirá distinguir a literatura publicada a “quente” ainda durante a guerra e a posteriori, daí que me parece útil clarificar o sentido de “novíssima literatura” usada pelo Leopoldo Amado.

Se é verdade que autores como Armor Pires da Mota ou Manuel Barão da Cunha escreveram durante a guerra textos ideológicos onde fazia sentido a referência à causa imperial, importa ter em conta o mais importante dos escritores desse tempo Álvaro Guerra (**) que nos seus romances e contos descreveu a guerra com outros olhos, procurando ir ao âmago da luta pela independência e dar-lhe uma interpretação. Basta ler Os Mastins e A Lebre. Álvaro Guerra foi indiscutivelmente um escritor muito apurado e com uma ideologia numa outra latitude daqueles que falavam em “turras” e “bandidos”.

Segundo, muitas das temáticas que Leopoldo Amado destaca e analisa na literatura antes do 25 de Abril vai encontrar, sem apelo nem agravo, na mais recente, escrita por combatentes que consideram que chegou a hora de pôr em cima da mesa as suas memórias, os seus relatos em detalhe ou em cinemascópio.

Há temas recorrentes como o ferido ás costas, a flagelação brutal, o camarada que nos morreu nos braços, as durezas da operação, a solidão, a emboscada sanguinolenta. Não deixa de ser altamente impressivo o quadro de sentimentos de todos os combatentes seja qual for o palco das suas lutas, em qualquer região da Guiné forçosamente os depoimentos convergem para os estados de choque, as situações delirantes, as descrições de abandono e exaustão e de profunda incerteza. Não é por acaso.

O que certamente constitui a grande diferença entre os relatos escritos na actualidade e aqueles que foram publicados durante os anos subsequentes à guerra é a distanciação. Na época era preciso contar ou para denunciar ou para exaltar: escrever era uma prática moral, não se podia esconder aos vindouros a gesta heróica ou o inferno demencial, como se estivesse a pedir uma intervenção para acabar com aquele caos. Agora, temos outro filtro do tempo, outro grau de sinceridade, outra densidade do olhar, podemos falar do nosso testemunho sem querer abrir brecha na memória dos outros, já não se procura a exemplaridade, o dado indiscutível é que vivemos e relatamos uma experiência, essa experiência é um átomo a juntar à dos outros. Um dia, o somatório possível dará ao quadro da mentalidade uma geração.

Terceiro, a vivência das tropas portuguesas e destes portugueses que escrevem como porta-vozes de múltiplos acontecimentos, carece do outro reverso da medalha: conhecer o estado de espírito dos combatentes de 1961 a 1974.

Penso que o Leopoldo Amado me dará razão, a guerra começou com Movimento de Libertação da Guiné (depois FLING), em 1961 nos ataques perpetrados no Norte (caso de S. Domingos e Susana), o PAIGC preparava-se no Sul e na região do Morés, foi uma realidade distinta, não conhecemos a literatura desses combatentes, não a podemos justapor, por ora, aos relatos dos portugueses.

Há, pois, um trabalho imenso a fazer de recuperação, de recolha de depoimentos, de um lado e de outro, é bem provável que o Leopoldo Amado esteja na primeira linha para poder investigar e prestar este relevante serviço ás nossas culturas e até mesmo ao nosso blogue.

Um abraço
Mário Beja Santos
 __________

Notas de vb:

(*) Leopoldo Amado, Doutor em História Contemporânea pela Universidade Clássica de Lisboa (Faculdade Letras): tese de doutoramento: "Guerra Colonial da Guiné 'versus' Luta de libertação Nacional (1961 – 1974)"; membro da nossa tertúlia; editor do blogue Lamparam II.

Vd. poste de 5 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3272: A novíssima literatura da Guerra Colonial (Leopoldo Amado)

(**) vd. poste de 28 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1323: Bibliografia de uma guerra (15): Os Mastins e o Disfarce, de Alvaro Guerra (Beja Santos)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3170: PAIGC - Instrução, táctica e logística (14): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Educação (A. Marques Lopes)

Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado (1), de que nos foi enviada uma cópia, através de mais um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma. Faz parte da Tabanca de Matosinhos, a maior das tabancas da nossa Tabanca Grande...


1. Mensagem do A. Marques Lopes, de 4 de Outubro de 2007:

[Ao ver este programa escolar, lembrei-me dos anos em que estive sentado nas carteiras das Oficinas de S. José, em Campo de Ourique, durante a minha instrução primária, e não me pareceu muito diferente. Foi meu professor o Padre Serafim Gama, que, depois de muitos anos, encontrei em Bissau como capelão militar (2).

Os alunos do PAIGC tinham incluída a formação política, como se vê, o que é natural, dada a situação em que se ministrava a sua educação e dada a natureza da organização que a orientava. Também, nas Oficinas de S. José, ouvi o Padre Gama falar-me muito de Deus, de Jesus, de Nossa Senhora Auxiliadora, da Igreja, da Sociedade Salesiana, de S. João Bosco, de S. Domingos Sávio, e outros, do pecado... o que era natural igualmente, dada também a situação e a natureza da organização salesiana a que esse meu professor pertencia.

Claro que, quando nos encontrámos em Bissau, o teor da nossa conversa já não foi esse, tendo-se, ao invés, aproximado bastante de alguns aspectos da "Parte Política" deste programa que vos mostro ... - A. Marques Lopes]



PROGRAMA DAS ESCOLAS DO PAIGC


PRIMEIRAS LETRAS


Conhecimento do alfabeto. Leitura soletrada. Conhecimento dos algarismos. Contar até mil.

PRIMEIRA CLASSE

Leitura sem soletrar. Cópias. Tabuada de adição e subtracção. Adições e subtracções e prova dos nove destas operações.


SEGUNDA CLASSE

Ler livremente. Cópias. Prova real da adição. Prova real da subtracção por meio da adição. Tabuada da multiplicação e adição. Pequenas multiplicações e divisões com a prova dos nove. Numeração romana até cincoenta.

TERCEIRA CLASSE

Revisão da matéria dada.

Português

Leitura livre e correcta. Interpretação e comentário breve dos trechos lidos. Ditado. Redacção sobre temas da vida.

Aritmética

1 - Leitura de números inteiros.

2 – Números decimais: leitura de números decimais de duas maneiras. Operações com números decimais.

3 – Medidas de comprimento: o metro, múltiplos e submúltiplos.

4 – Medidas de superfície: o metro quadrado, múltiplos e submúltiplos.

5 – Medidas agrárias: are, hectare, miriare e centiare. Sua equivalência com as medidas de superfície.

6 – Medidas de volume: o metro cúbico, múltiplos e submúltiplos.

7 – Medidas capacidade: o litro, múltiplos e submúltiplos. Equivalência com as medidas de volume.

8 – Medidas de peso: grama, múltiplos e submúltiplos.

9 – Problemas simples aplicando as quatro operações e as medidas.

Geometria

1 - Noção do ponto. Noção da linha. Noção da linha recta. Linha curva e linha quebrada. Noção do ângulo. Divisão dos ângulos. Triângulos. Divisão dos triângulos. Quadriláteros. Polígonos. Circunferências.

Ciências naturais

1 - Os reinos da Natureza. Seres vivos ou animados e seres brutos ou inanimados. Divisão dos seres vivos em animais e plantas. Definição de Zoologia, Botânica e Mineralogia.

2 – Divisão dos animais em vertebrados e invertebrados. Divisão dos vertebrados em Mamíferos, Aves, Répteis, Batráquios e Peixes. Características destes grupos e exemplos.


Geografia

1 – A Terra e o Espaço. Divisão dos astros em estrelas, planetas e cometas. Noção de satélite. O Sol. A Lua.

2 – A esfericidade da Terra. Provas da esfericidade da Terra. Divisão da Terra em parte sólida e parte líquida. Os continentes e os oceanos.

3 – Noções de oceano, mar, lago, rio, continente, ilha, arquipélago, montnha, monte e serra.


QUARTA CLASSE

Português:

Leitura livre e correcta. Interpretação e comentários dos trechos lidos. Ditado.

Redacção sobre temas da vida e da luta.

Revisão da matéria da Gramática dada na 3.ª classe. Estudo da Morfologia e da Sintaxe.

Aritmética:

1 - Noções de fracção. Numerador e denominador. Fracções próprias e inpróprias. Número misto fraccionário. Transformação de número misto fraccionário em fracção imprópria e vice-versa. Adição e subtracção de fracções com o mesmo denominador. Multiplicação de fracções. Divisão de fracções. Adição e subtracção de racções com denominadores diferentes. Transformção em número decimal. Fracções decimais. Sinplificação de fracções.

2 – Multiplicação de um número decimal por 10, 100, 1000, etc. Divisão por 10, 100, 1000, etc. Multilicação por 0,1 – 0,001.

3 – Números complexos. Adição, subtracção, multiplicação e divisão de números complexos.

4 – Divisibilidade. Regras da divisibilidade: por 2, 3, 5 e 10.

5 – Problemas que utilizem as noções dadas.

Geometria:

1 – Sólidos: cubo, paralelipípedo, prisma, pirâmide, cilindro, cone e esfera.

2 – Área das figuras planas: paralelograma, losango, trapézio, polígonos regulares, círculo, coroa circular.

3 – Volume do cubo, do paralelipípedo e do prisma.

4 – Perímetro das figuras planas: do triângulo, quadrilátero, polígono, circunferência e semi-circunferência.

5 – Segmento circular, sector circular, zona circular, circunferências concêntricas e excêntricas.


Ciências Naturais:

1 – Revisão.

2 – Divisão dos invertebrados em insectos, aracnídeos, vermes ou anelídeos, moluscos e crustáceos. Características destes grupos e exemplos.

3 – O corpo humano. Partes do corpo humano.

4 – Esqueleto humano. Caveira. Crâneo e ossos da face. Divisão dos membros superiores em espádua ou ombrio, braço, antebraço e mão. Os ossos dos membros superiores. Divisão dos membros inferiores em anca, coxa, perna e pé. Os ossos dos membros inferiores. A coluna vertebral. As vértebras cervicais, dorsais, lombares, sagradas e coccígeas. As costelas (verdadeiras, falsas e futuantes). O externo.

5 – Aparelho digestivo. Tubo digestivo e órgãos anexos. Partes do tubo digestivo. As glândulas. A transformação dos alimentos ao longo do tubo digestivo.

6 – O aparelho respiratório. Partes constitutivas. Função do aparelho respiratório.

7 – O aparelho circulatório. Partes constitutivas. Divisão do coração. Vasos sanguíneos. O sangue. A grande circulação e a pequena circulação. Função do aparelho circulatório.

8 – O aparelho urinário. Partes cosntituintes. A urina. Função do aparelho urinário.

9 – O sistema nervoso. Centros nervosos e nervos. Divisão dos centros nervosos. Partes constituintes.

10 – Botânica – partes da planta. Distição entre plantas fanerogâmicas e criptogâmicas. Observação de exemplares de plantas.

Geografia:

1 – Revisão

2 – Geografia da Guiné: superfície, população, situação geográfica, clima, fauna e flora. Parte continental e parte insular. Rios: Geba, Cacheu, Corubal e Cacine. Relevo. Produção agrícola e florestal. Exportações e importações. Capital e centros comerciais. Principais portos.

3 – Geografia de Cabo Verde: superfície, população, situação geográfica, clima, fauna e flora. Di visão das ilhas em grupo Barlavento e Sotavento. Produção agrícola. Exportações e importações. Capital e centros comerciais. Principais portos.

PARTE POLÍTICA > SEGUNDA CLASSE

1 – Deveres das crianças para com os pais. O amor filial. Deveres das crianças para com a Pátria. O amor ao Povo. O patriotismo.

2 – Deveres das crianças para com os seus professores. Amizade e camaradagem entre as crianças da mesma escola, da mesma tabanca, da mesma terra; as crianças das nossas terras devem ser amigas de todas as crianças do Mundo.

3 – Necessidade que o nosso povo tem da contribuição que os nossos jovens podem dar à luta de libertação e à construção do progresso das nossas terras. Necessidade e os jovens se prepararem para amnhã contribuir melhor para a realização da felicidade do nosso Povo. O amor ao estudo. O amor ao trabalho e aos trabalhadores. A Juventude como garantia do futuro do nosso Povo.

4 – Exploração do nosso povo pelos colonialistas portugueses. A opressão, como se fazem a a exploração e a opressão. A exploração e a opressão não são do interesse do povo português. Distinção entre povo português e colonialismo português. [negrito meu - A. Marques Lopes]

5 – Condenação do colonialismo e dos crimes dos colonialistas portugueses por todos os povos do Mundo. O nosso Povo e os seus amigos. A ajuda dos outros povos à justa causa por que luta o nosso Povo. O direito do Nosso Povo à Liberdade e ao Progresso. O que é o Progresso.

6 – Necessidade de luta para a libertação das nossas terras, condição de construção de Progresso. Lugar dos jovens nessa luta.

7 – Necessidade de preparação do povo para a luta. Necessidade da mobilização. O que é a mobilização. Necessidade de organização e de direcção.

8 – O PAIGC, Partido do Povo da Guiné e de Cabo Verde. No Partido estão os melhores filhos do nossos Povo. Porque é o Partido a ESPERANÇA do Povo. O dever de defender o Partido. Os inimigos do Partido são inimigos do Povo. O dever de respeitar o Hino, a Bandeira, o Emblema e os dirigentes do Partido.

9 – O aluno e os combatentes da nossa luta de libertação nacional. A estima e o respeito que merecem os combatentes do Partido. As vítimas da nossa luta. As viúvas e os órfãos. Os mutilados. Motrar a importância que tem a ajuda que o aluno pode dar a uma vítima da luta. Glória e imortalidade dos nossos heróis.

10 – ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO:

a) - O Grupo, organização de base do Partido. Onde se formam grupos, o número mínimo de militantes para que se possa constituir um grupo. O que é a Assembleia de Grupo. Quantas vezes se reune por semana. O que se faz nas reuniões. O Secretariado do Grupo – quem o criou e para quê.

b) - Existência de milhares de grupos, com milhares de militantes, cobrindo as nossas terras. O amor do Povo ao partido é a sua força principal. A direcção do Partido: o Comité Central. O Congresso como reunião dos representantes legítimos do Povo. Os membros do Comité Central como os filhos mais dedicados do Povo e os melhores amigos da Juventude e das crianças. Quem é o Presidente do Comité Central do Partido. Quem é o Secretário Geral do Partido.

PARTE POLíTICA > TERCEIRA CLASSE

1 – Revisão.

2 – ORGANIZAÇÃO DOS PIONEIROS

a) - Necessidade de organização de todo o Povo. A organização das crianças: Pioneiros do Partido. Deveres dos Pioneiros para com a família, a Pátria, e o Partido. A camaradagem no seio da organização dos Pioneiros. Necessidade de as crianças da mesma escola ou da mesma tabanca se constituirem em grupo de Pioneiros.

b) - Idade máxima para um Pioneiro.

3 – ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO

a) Quem pode entrar para o Partido. O Juramento. Explicar o seu significado. Porque é que nesta fase se dispensa o pagamento das cotizações. As outras formas por que o povo tem contribuído.

b) A Secção – reunião de 5 grupos, sob a mesma direcção.

c) O Congresso como órgão máximo do Partido. Porquê. Quando se reune o Congresso.

4 – PROGRAMA DO PARTIDO:

a) - A felicidade do Povo como objectivo do Partido. A Liberdade como primeira condição da felicidade do Povo. A INDPENDÊNCIA.

b) A necessidade de defender permanentemente a Independênciadepois de conquistada.

c) - Necessidade de impedir que o poder seja tomado por indivíduos que vão exercê-lo no seu interesse, explorando o Povo. Inimigos internos. A Justiça e o Progresso para todos. Os inimigos internos na fase da luta. Os traidores e os oportunistas. O dever de vigilância dos militantes contra os inimigos internos. O direito do Povo de castigar os inimigos internos.

d) - A UNIDADE do Povo como condição da conquista da Independência, da defesa da Independência conquistada e da construção do Progresso. A importância da defesa da Unidade do Povo. Condenação do racismo e do tribalismo. Unidade do Povo na Guiné, unidade do Povo em Cabo Verde e a Unidade do Povo da Guiné e Cabo Verde.

e) - A administração colonialista é contra os interesses do Povo. Necessidade de liquidar a organização política e administrativa dos colonialistas. Necessidade de uma nova organização ao serviço do Povo.

f) - A Liberdade e Justiça para todos. Necessidade de o Povo ser efectivamente quem dirige, através dos melhores filhos do Povo (dos mais honestos, dos mais amigos do Povo dos mais capazes). Necessidade de a Lei ser igual para todos. A emancipação da mulher, exigência da Justiça e do Progresso.

g) - Respeito do direito à vida, à integridade física e à liberdade das pessoas (Direitos do Homem). Liberdade de domicílio, de religião e de trabalho. Necessidade da liberdade no casamento.

h) - Como devem ser tratados os estrangeiros que respeitem o Povo e as Leis.

i) - A instrução do Povo como condição do Progresso. A necessidade de alfabetização das massas. A necessidade de escolarização de todas as crianças em idade escolar. A necessidade da formação de quadros. Ensino primário obrigatório e gratuito. Necessidade da criação de escolas primárias, liceus, escolas técnicas e universidades. Necessidade de desenvolvimento da educação física e dos desportos. O que o Partido já está a fazer no domínio do ensino: alfabetização, criação de escolas e bolsas de estudo para futuros quadros.

PARTE POLÍTICA > QUARTA CLASSE

1 – Revisão

2 – ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO

a) – Quais os órgãos da Secção, da Zona, da Região. Quais os Órgãos Nacionais. A Conferência como órgão máximo em cada escalão. Distinção entre as funções das Conferências, dos Comités e dos Secretariados. As funções das Comissões das Finanças. As funções das Comissões de Controle.

b) – Explicação a competência do Congresso: definição da linha política, aprovação do Programa e eleição do Comité Central. Quem escolhe os delegados ao Congresso. Referência à reunião do 1.º Congresso.

c) – Divisão do Comité Central em Departamentos. O Secretariado Geral como principal Departamento do Comité Central dirigindo os outros departamentos.

d) – Adopção na organização do Partido do princípio da direcção colectiva. As vantagens da direcção colectiva.

e) – Qual deve ser o comportamento do militante para com os seus camaradas. O que são a crítica e a auto-crítica. Distinção entre a crítica positiva e a crítica negtiva. Distinção entre a competição fraternal e a concorrência.

f) – O que é um Responsável do Partido. Qualidades que se exigem a um Responsável.

3 – PROGRAMA DO PARTIDO

a) – Necessidade de todo o Povo trabalhar com entusiasmo para a construção do Progresso das nossas terras. Condenação dos vadios. Os parasitas como inimigos do Progresso e do Povo. O respeito que merece o homem trabalhador. O amor ao trabalho. Heróis do trabalho.

b) – Necessidade de destruir todos os vestígios da exploração colonialista e imperialista, para que o fruto do trabalho do Povo seja para o Povo. Ideia de independência económica e de neo-colonialismo.

c) – Ideia de planificação. Vantagens da planificação.

d) – Bens que devem ser propriedade do Estado e porquê. As vantagens da cooperação e a propriedade cooperativa. Necessidade de acabar com apropriedade privada que não sirva o interesse do desenvolvimento económico das nossas terras. A propriedade pessoal.

e) – Necessidade de desenvolvimento da agricultura. A modernização da agricultura. Os inconvenientes da monocultura da mancarra na Guiné e da monocultura do milho em Cabo Verde. A necessidade da reforma agrária em Cabo Verde.

f) – Necessidade de desenvolvimento da indústria e do artesanato.

g) – O que o Partido tem feito no domínio da produção agrícola e do artesanato.

h) – Organização da assistência social para os que involuntariamente precisarem de ajuda, em caso de desemprego, invalidez ou doença.

i) – Necessidade de uma Defesa Nacional eficaz. Organização da Defesa Nacional a partir das forças armadas combatentes da luta de libertação nacional. Necessidade de apoiar a Defesa Nacional do Povo. Necessidade de disciplina nas forças armadas. A fidelidade e a submição das forças armadas à direcção política.

j) – Unidade Africana. Razão. Condições.

k) – Necessidade de colaboração fraternal com os outros povos. Explicação dos princípios em que deve basear-se esta colaboração: respeito da soberania nacional, respeito pela integridade territorial, não-agressão, não-intervenção em assuntos internos, igualdade e reciprocidade de vantagens e coexistência pacífica.

l) – Referência à UNTG [União Geral dos Trabalhadores da Guiné] e à UDEMU [União Democrática das Mulheres da Guiné]. A UNTG e a UDEMU contribuem para a realização dos objectivos do Partido. As relações entre o Partido e essas organizações. A direcção política pelo Partido. [A 12 de Setembro de 1974, no Boé, foi criada a JAAC - Juventude Africana Amílcar Cabral (LG)].

PARTE POLÍTICA > QUINTA CLASSE

1 – Revisão.

2 – Os outros povos em luta contra o colonialismo português. As organizações que dirgem esses povos. A CONCP [Conferência d das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, craiada em 1961, em Marrocos (LG)]. O que é, quem nela participa, quais os seus objectivos.

3 – A nossa luta como parte da luta de África pela sua libertação. Os outros povos em luta contra o colonialismo. O apartheid. Os povos em luta contra o apartheid. Os países independentes de África. A existência de países submetidos à exploração colonialista e a necessidade da luta contra o neo-colonialismo. A OUA como união dos Estados independentes de África. Os seus objectivos.

4 – O nosso Partido no Mundo. Os povos e os governos que ajudam a nossa luta. A ajuda da África. Os paízes vizinhos. Os países socialistas ajudam os povos que lutam pela libertação nacional. A ajuda dos países socialistas ao nosso Partido. Organizações anti-colonialistas no Mundo. Sua existência em países cujos governos ajudam os colonialistas portugueses.

5 – Os governos aliados de Portugal. Portugal não pode fazer a guerra colonial sem a sua ajuda. A OTAN [ou NATO]

(Reprodução de documento do PAIGC. In: Supintrep nº 32, Junho de 1971)
______

Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série > 7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3032: PAIGC: Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)

(2) António:

Este Padre Gama será o mesmo que a nossa amiga Teresa de Seabra procura ? O que foi capelão militar do BCAV 490 (1963/65)? A ser o mesmo, de certo que não o encontraste em Bissau, nessa época, mas só mais tarde, na altura em que por lá andaste (1967/69)... Confirmas ou infirmas ?

domingo, 28 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2227: Questões politicamente (in)correctas (34): RTP: Guerra Colonial, do Ultramar, de Libertação ou de África ? (Paulo Raposo)

1. Mensagem do Paulo Raposo (1), com data de 19 de Outubro:

Olá, Luís.

Há muito que tenho estado afastado destas lides. Depois de ver o programa [da RTP1, Prós e Contras,] (2), estou a enviar os meus comentários ao que lá foi dito.

Guerra Colonial, do Ultramar ou de Libertação: Foram as opções que nos deram, mas o nome tem de ser consensual e nacional. Uma coisas são os regimes, outra é a Pátria.

Realmente a nossa Guerra em África teve o seu começo na II Guerra Mundial. Se esta foi um grande terramoto, a nossa foi a sua réplica.

Assim, comecemos. A Alemanha teve sempre na mira duas coisas, as suas grandes aspirações:

1 - A Gross Deutschland, ou seja, crescer a Alemanha para leste: para isso lançaram colonatos pela Rússia dentro e ao longo do rio Volga.

2 - Ter um porto de mar de águas quentes que estivesse fora do alcance dos ingleses. O único porto, antes dos Pirinéus, com essas características, é o porto de Bordéus.

Hitler foi tão popular, porque prometeu ao povo alemão estes dois objectivos e conseguiu.

Agora vejamos a vaga de fundo que isto causou. Para o exército alemão entrar na Rússia, o Estado Maior forjou umas cartas trocados com o Estado Maior do exército vermelho, dando a impressão que este facilitaria a entrada dos alemães por território russo com última intenção de derrubar o comunismo.

Arranjaram maneira de que estas cartas chegassem às mãos de Estaline por mero descuido. Estaline acreditou e em consequência decapitou os seus oficias superiores, ou seja, decapitou o seu exército.

A entrada dos alemães pela Rússia foi pão com manteiga até... O General Von Paulus chegou a S. Petersburgo e cercou a cidade a sul, e a norte foi cercada pelos finlandeses. Esperavam que a cidade se rendesse pela fome.

Acontece que os russos conseguiram, apenas por um fio, continuar a alimentar a cidade que resistiu comandada por Kruschef às ordens de Estaline. Neste premeio os alemães convidaram Costa Gomes e Spínola a visitar esta frente e possivelmente entraram em contacto com Van Paulus.

E aqui, em S. Petersburgo, levantou-se uma vaga de fundo que arrastou os alemães até ao Rio Elba. Parou aqui porque estavam as tropas inglesas e americanas, senão só teriam parado em Bordéus.

Foi no levantar nesta vaga de fundo que apareceu pela primeira vez a palavra Descolonização. Pois à medida que os russos avançavam iam descolonizando ou limpando os colonatos alemães a leste.

Diz-se também que, quando Von Paulus se rendeu, ele e o seu Estado Maior começaram a trabalhar para os russos ocupando o lugar dos oficias superiores russos executados.

Portanto a palavra colonato ou descolonização está carregada de ódio entre russos e alemães.

Não nos diz respeito, aqueles são potências continentais e nós estivemos sempre ligados às potências marítimas. É outro campeonato.

Portanto, recuso Guerra Colonial. Pode ser Guerra do Ultramar, está mais correcta mas não é consensual. Guerra da Libertação, muito menos. O nosso inimigo da altura chamava-lhe luta da libertação, não guerra.

Pois guerra implica duas forças beligerantes.De um lado estávamos nós e do outro?
Também não lhe chamaram Guerra Civil, porquê?Portanto acho para ser mais consensual será Guerra de África , ou do Ultramar, se quisermos incluir a invasão de Goa.
Vou tentar escrever sobre cada um dos assuntos que foram tratados no debate.


É a minha opinião que é tão válida como outra qualquer.

Luís, já que tens tido a paciência de nos aturar e a perseverança de manter esta chama, venho pedir um favor: Não podes lançar em CD os documentário e filmes que se produziram durante o nosso tempo de luta?

Um abraço amigo do

Paulo

Paulo Lage Raposo
Alf Mil Inf
BCAÇ 2852 / CCAÇ 2405
Guiné 68/70
Tel 266898240
Herdade da Ameira
7050 Montemor O Novo

2. Comentário de L.G.:

Paulo:

É bom saber de ti e de voltar a partilhar o teu gosto pela análise geoestratégica. Aqui fica a tua posição sobre a questão (que não é meramente semântica) do nome a dar à nossa guerra: Colonial ? Civil ? Do Ultramar ? De Libertação ? De África ? Como eu tenho aqui defendido, na nossa caserna virtual, a terminologia fica ao gosto do freguês, ou seja, de cada um... Eu não tenho qualquer direito de te impor o meu ponto de vista, e vice-versa.... Não é preciso repetir, até à exaustão, que somos uma tertúlia plural e tolerante... O que nos une não é a ideologia, mas a camaradagem...

Tenho no entanto a obrigação (editorial) de chamar a atenção por o facto (histórico) de que houve, por parte do Estado Novo, uma clara mudança de terminologia em 1951, face à percepção dos novos ventos da história: (i) recorde-se que o Acto Colonial (sic) é o primeiro documento constitucional do Estado Novo, promulgado a 8 de Julho de 1930, pelo Decreto n.º 18 570, numa altura em que Oliveira Salazar assume as funções de Ministro Interino das Colónias; (ii) o termo colónias sempre foi usado tanto pela Monarquia como pela I República; (iii) a II Guerra Mundial e as primeiras independências de antigas colónias britânicas (por exemplo, a Indía, em 1947) vão obrigar o Estado Novo a revogar o Acto Colonial, na revisão da Constituição de 1933 feita em 1951 (3).

Quanto ao teu pedido, não sei se estarei em condições de satisfazê-lo... O material audiovisual sobre a nossa guerra está disperso, o mais importante estando nas mãos da RTP e do exército... Eu acho que a nossa geração, que combateu na Guiné, em Angola e em Moçambique, tem direito a visionar esses documentários e filmes... Vamos estar atentos à série A Guerra, que começou a ser apresentada pela RTP... Quanto a nós, vamos estar atentos aos documentários que nos chegarem às mãos ou ao nosso conhecimento... Ainda há umas semanas atrás, o Carlos Marques dos Santos me mandou alguns pequenos filmes do ex-Alf Mil Cardoso, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)...Houve malta nossa que fez, na Guiné, pequenos filmes em 8 mm... Esse material pode ser hoje recuperado... Aqui fica, pois, o teu e o meu apelo.

Daqui vai , de Lisboa até à tua querida Ameira, aquele quebra-ossos... Para o Almansor de Montemor, com a amizade e a camaradagem do Luís.
_____________

Notas de L.G.:

(1) Paulo Raposo: ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).

Vd. post de 10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1060: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (19): regresso a Lisboa e à vida civil (fim)

(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)

(3) Acto colonial 1930. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2007. [Consult. 2007-10-28].Disponível em http://www.infopedia.pt/$acto-colonial-1930.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2121: Questões politicamente (in)correctas (33): Dulce et decorum est pro patria mori ? (J.A. Lomba Martins)

Quintus Horatius Flaccus (65 a.C. - 8 a.C.). Fonte: Wikipédia (2007). Imagem do domínio público.

1. Mensagem de J. A. Lomba Martins (1), com data de 20 de Maio de 2007:

DULCE ET DECORUM EST PRO PATRIA MORI [É belo e é uma honra morrer pela Pátria] (2)


Depois da queda de Dien-Bien-Phu, depois de um número incalculável de mortos na guerra do Vietname, depois de os militares portugueses prisioneiros em Goa, após a invasão da União Indiana, terem sido vilipendiados, o então Presidente do Governo e do Partido da União Nacional declarou em discurso solene: “Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem”, esperando uma luta sem quartel para a rápida pacificação de Angola.

Depois das guerras pelas independências da Guiné, Angola e Moçambique, seguidas de lutas fraticidas, depois do terrível sofrimento do povo de Timor Lorosae para obter a independência da Indonésia, depois das limpezas étnicas na antiga Jugoslávia, depois das guerras do Golfo e do Iraque, hoje é ponto assente que aos militares compete fazer a guerra, eticamente, com o menor número de baixas.

A questão fulcral que sempre se nos colocou – oficiais do quadro permanente – neste passado recente, era saber se deveríamos cumprir, sem pestanejar, as ordens de atacar e de defender, de aguentar e de retardar, de matar e de morrer!!!

Houve quem o objectasse e tivesse sido expulso do Exército e preso pela PIDE.

Será que poderíamos aceitar as grandes deficiências físicas, as doenças mentais e as mortes generosas dos nossos amigos e camaradas, bem como de vítimas inocentes e de militares conscritos, naquelas longas horas em África, sem perspectivas de soluções políticas e logísticas?

Dos três objectivos utópicos da Revolução de Abril para o Ultramar – DDD: descolonizar, democratizar, desenvolver – sabemos que os dois últimos ainda não foram alcançados. Valeu a pena? “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. A alma de quem, dos mortos ou dos vivos?

Se a guerra é a continuação da política por outros meios, sempre esperamos que, no mínimo, a esfera política fosse competente, coerente e decisiva na busca de uma solução moderna e justa: PROCURAR A PAZ E O PROGRESSO para todos os campos envolvidos.

Quando a política falha, como falou, nos seus apoios de retaguarda e internacional, será que Dulce et decorum est pro patria mori ?

José A. Lomba Martins – Ten Coronel Inf (Ref)
___________

Notas de L.G.:

(1) É um dos co-autores do livro A Geração do Fim. (Lisboa: Prefácio, 2004). É hoje tenente coronel de infantaria, na reforma. Ao todo são 21 oficiais do quadro permanente, da arma de infantaria (1957-2004) que, como militares e cidadãos, foram actores e testemunhas de acontecimentos de grande relevo nos últimos cinquenta anos da história da nossa pátria, desde a invasão, pela União Indiana, dos territórios de Goa, Damão e Diu até ao 25 de Abril de 1974, ou da guerra da Guiné ao 25 de Novembro de 1975...

Vd. post de 23 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1624: Bibliografia de uma guerra (17): A geração do fim ou a palavra a 21 oficiais de infantaria, de 1954/57 (Miguel Ritto)

(2) Expressão latina, da autoria do poeta romano, Horácio (Séc. I a.C.), Odi [Odes], III, 2, 13. É a divisa da nossa Academia Militar (antiga Escola do Exército, cuja origem remonta a 1837).