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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF  (Piche e Bissau, 1970/72), com data de 23 de Fevereiro de 2024:

Caros amigos
No passado dia 16 deste mês de Fevereiro, integrei uma visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa.
Essa Linha ligará a estação existente do "Rato" à estação ferroviária do Cais do Sodré, sendo que para tal estão em fase adiantada de construção duas novas estações, a da "Estrela" e a de "Santos".
O túnel de ligação entre o Rato e a Estrela já está feito. O túnel da Estrela a Santos também está quase concluído.
A estação de "Santos" terá entrada pela Av. D. Carlos I, situando-se em espaço do Quartel dos Sapadores Bombeiros. A estação da "Estrela" terá entrada pelo Largo da Estrela e ocupa boa parte do espaço do antigo Hospital Militar Principal.
E é precisamente por isso que vos envio estas notas e as fotos, sendo que, embora não seja um assunto "da Guiné", tem muitos pontos de contacto com as vidas de algums, muitos, que por lá passaram.
Quem usufruiu dos préstimos ou prestou serviço nessas instalações poderá rever agora e avivar as suas recordações.
Nas fotos que anexo mostro o túnel que vem do "Rato" até ao poço da estação da "Estrela", bem como o troço que vai dela para a estação de "Santos".
Vê-se também o poço com o edifício ao lado esventrado e com o zimbório da Basílica da Estrela ao fundo.
A outra foto mostra o poço e o edifício ao fundo, o qual não é afetado pela estação mas que virá a ter outro(s) uso(s).
Espero que gostem e sintam que as situações têm as suas evoluções próprias.

Abraços
Hélder Sousa

Edifício Principal do antigo Hospital Militar Principal
Poço da Estação da Estrela
Túnel Estrela-Santos
Túnel Rato-Estrela
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25208: Os nossos seres, saberes e lazeres (615): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25208: Os nossos seres, saberes e lazeres (615): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Este resplandecente Museu de Évora, altamente requalificado e da melhor museologia, teve como pai fundador Frei Manuel do Cenáculo, era arcebispo de Évora no início do século XIX, o museu ocupa o antigo Paço Episcopal, o que assombra é a boa exposição de toda esta riqueza, hoje falamos do acervo depositado no rés do chão, onde está arqueologia, escultura e heráldica e artes decorativas, de seguida iremos até à pinacoteca, foi visita inolvidável, depois segue-se o Centro Cultural Eugénio de Almeida, outro deslumbramento, em tão curto espaço de centro histórico encontram-se tesouros que fazem desta cidade o lugar de vir, partir e voltar, sempre com o coração em festa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (143):
Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (3)


Mário Beja Santos

Quando me preparei para visitar Évora ocorreu-me pegar no romance de Vergílio Ferreira, Aparição, no fundo uma memória do tempo em que o grande escritor aqui residiu, relembro uma passagem do livro: “(…) A cidade resplandecia a um sol familiar, branca, enredada de ruínas, de arcos partidos, nichos de orações de outras eras, com como olhares embiocados. Évora mortuária, encruzilhada de raças, ossuário dos séculos e dos sonhos dos homens, como te lembro, como me dóis! (…)”
Estou prantado em frente do Museu Nacional e vou citar Túlio Espanca, figura maior da cultura eborense:
“A constituição do museu da cidade deve-se ao Governo da I República, que o criou em 1915, após vicissitudes da fundação do Museu Arqueológico Cenáculo, devido aos esforços do Dr. Augusto Filipe Simões, que na década de 1870 recolheu neste estabelecimento cultural as peças romanas, visigóticas e árabes que haviam permanecido no andar térreo do Palácio D. Manuel e do Templo de Diana, além das retiradas da Domus Municipalis da Praça do Giraldo e do quintal da casa de Mestre André de Resende. As coleções, do património do Estado, foram-se reunindo no Palácio Amaral e definitivamente no expropriado Paço Metropolitano, edifício típico e austero do tipo filipino onde estão expostas em distribuição científico-museológica: arqueologia pré e proto-histórica, arquitetura, escultura, epigrafia e heráldica, ourivesaria, pintura e artes decorativas.”
É neste antigo Paço Episcopal que temos uma coleção de mais de 20 mil objetos de todos os géneros artísticos, mas há que destacar uma importante coleção de lapidária romana, medieval e renascentista. O destaque vai para a coleção de pintura do séc. XVI, com relevo para o retábulo da Sé de Évora.

Fachada do Museu Nacional de Évora – Frei Manuel do Cenáculo
É um museu modelar, as obras recentes, depois de escavações arqueológicas, permitem ver as ruínas, as coleções provenientes de vários conventos estão magnificamente expostas, veja-se esta soberba entrada ao estilo manuelino e a profusão de objetos de heráldica de primeiríssima qualidade.
Brasão de Armas dos Vasconcelos, mármore, séc. XVI
Brasão de Armas Reais, mármore, 1513
Brasão de Armas da Cidade, mármore, 1513
São notáveis neste museu a estatuária romana, a tumulografia medieval portuguesa, tudo exposto para que o visitante sinta a relação com o espaço e o valor artístico que contempla. Há de tudo um pouco, para além das ruínas romanas, aras votivas, prataria de valor extraordinário, restos de baixelas, azulejos, majólica, esmalte de Limoges, isto no rés do chão, veremos mais adiante a notabilíssima pinacoteca, onde se destacam os 13 painéis com a vida da Virgem, todos de influência flamenga.
Uma expressiva escultura do Pai e do Filho, peça de grande equilíbrio e de expressão sentimental
Santa Catarina, calcário, séc. XVI, sente-se a ingenuidade da obra, basta ver a desmesura das mãos da santa
Anunciação – túmulo de Rui Pires Alfageme, mármore, séc. XV
Um surpreendente claro-escuro dado por uma janela aberta sobre o claustro ensolarado
Eça de Queirós, escultura de António Alberto Nunes, 1899
O Chafariz de Massamá, por Silva Porto
Nossa Senhora do Rosário com São Domingos de Gusmão e Santa Catarina de Sena, 3.º quartel do século XVII
Grão Vasco, 1.º quartel do séc. XVI

Agora vamos visitar a pinacoteca, ver a influência da Escola de Bruges, e pinturas de grandes mestres portugueses, como Gregório Lopes, Garcia Fernandes, Mestre do Sardoal, Josefa de Óbidos, Vieira Lusitano.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 17 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25181: Os nossos seres, saberes e lazeres (614): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (142): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25181: Os nossos seres, saberes e lazeres (614): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (142): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Uma das atrações que eu tinha em mente na visita a Évora era conhecer a "pedra de armas" da cidade, nela está representado Geraldo Geraldes, "o Sem Pavor", aquele que andou em fossado, o mesmo é dizer à trolha com cristãos e muçulmanos, comandando uma bando de salteadores, viria a conquistar Évora em 1166, não esteve para meias medidas, degolou o chefe mouro, a recompensa de D. Afonso I foi fazer dele alcaide da cidade. Tenho que confessar que acabei por investir noutras atrações, usando a linguagem de José Saramago procurei sentir a atmosfera de Évora, que é muito mais que a soma dos seus monumentos, ruas e palácios, praças e becos, anda para ali, de facto um oxigénio que nos faz respirar um passado feito ativo, mesmo quando se vê arquitetura degradada pressente-se que todo aquele lugar é mais do que uma lição de história, conjecturo que é um cesto muito feliz, não de flores, mas de urbanismo, de ideologia religiosa, de uma vida cultural febril, daquela multiplicidade de saberes que passam pela mesa, pela cor das paredes, pelos espaços ajardinados, é um cesto com lembranças da mourama, de povos anteriores, de uma cidade de Corte e aonde, na contemporaneidade, se faz laboratório experimental com praticantes como Siza Vieira ou Carrilho da Graça. E o passeio continua, o viajante está arrelampado.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (142):
Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (2)


Mário Beja Santos

Qualquer turista avisado, quando chega a uma cidade que guarda no seu bojo tantos tesouros, o melhor é bater à porta do posto do turismo para saber o que está disponível naquele dia e a que horas. Com simpatia entregam uma planta turística, há para ali 12 propostas, começar pela Praça do Giraldo, depois ir à catedral, visita indispensável, templo românico-gótico, incorpora um esplêndido Museu de Arte Sacra; daqui partir para o largo Conde Vila Flor, fazem ângulo reto o Museu de Évora e a Biblioteca Pública e o Convento dos Loios, mais abaixo está o Palácio dos Duques de Cadaval, e prantado no centro o chamado Templo de Diana. É tudo embaraçoso para quem vem somente 2 dias, há o castelo velho, a universidade, o largo da Porta de Moura, a praça de Sertório, igrejas como a da Graça e S. Francisco, vamos por aí fora até ao recinto megalítico dos Almendres, este fora de portas, a cerca de 13 km, nada feito de quem veio e irá transportado pela CP.

Já se deu notícia da catedral, o claustro gótico é deslumbrante. No ato de pagamento da entrada compra-se por 20 cêntimos um desdobrável com imensa informação, tal como: “A estrutura da catedral apresenta a forma de uma cruz latina. A nave central é mais elevada que as naves laterais; o transepto ou cruzeiro tem ao centro e ao alto o zimbório ou torre lanterna – única do género em Portugal –, coroada por uma abóbada oitavada de ogivas, que projeta luz sobre o mesmo e sobre o presbitério. A atual capela-mor é um grandioso espaço embelezado pela variedade de mármores da região e outros. Foi mandada erigir por D. João V que, em 1716, encarregada do projeto o arquiteto régio João Frederico Ludovice, o mesmo do Palácio-Convento de Mafra. Sobressai, ao centro, sob o altar-mor, o grande crucifixo de cedro, esculpido por Manuel Dias, e uma grande tela de Nª. Sª. da Assunção, do pintor Agostino Masucci.” Referem-se ainda elementos e espaços que merecem menção especial, caso do coro-alto, o claustro, o pórtico principal, e no interior a imagem da Senhora do Ó, em mármore policromado a óleo.

Como há que fazer render o tempo, a visita é sumária, comete-se mesmo a indelicadeza de não percorrer o Museu da Arte Sacra, tem peças fabulosas, a luz do Sol revela-se amena, é uma manhã sem torreira, sinto-me espevitado em andar por ali a vadiar, certo e seguro depois de amesendar, então sim, atiro-me bem-disposto para museus, centros culturais, mais igrejas, o que não falta neste centro histórico é riqueza artística.

Aqui ficam as imagens da deambulação matinal, desde a Sé Catedral às vizinhanças.


Uma bela capela da Sé Catedral, o tema da tela é a clássica descida da cruz
Pormenor do altar-mor da Sé Catedral, o barroco veio substituir a abside gótica primitiva
Imagem de Nossa Senhora do Ó, em frente fica imagem do arcanjo São Gabriel, de Olivier de Gand
Imagem de S. Francisco Xavier
Batismo de Cristo, pintura junto da pia batismal
Nave lateral direita
Órgão renascentista que continua a levar os turistas japoneses a vê-lo, pois fascinou quatro jovens japoneses que visitaram Évora há mais de quatro séculos e ficaram assombrados com as suas sonoridades, é referência obrigatória para o turista nipónico
A torre lanterna da catedral vista numa das praças mais importantes de Évora, aqui estão o museu e o centro cultural
A imagem não precisa de apresentações, é o chamado Templo de Diana que de facto não era dedicado a Diana
Pormenor da fachada do Museu de Évora – Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo
Igreja de São João Evangelista
Palácio Duques de Cadaval, pormenor
Évora abunda em singeleza, graciosidade, transborda em surpresas, impossível ficar indiferente a esta ligação entre o edifício e a natureza
Idem, aspas, aspas, tudo gracioso, um antigo muito moderno
Virgem com o Menino, escultura de Nicolau de Chanterene, circa 1551, Palácio dos Condes de Sortelha

Aqui finda a passeata matinal, depois de umas migas com carne de porco e uma boa sobremesa com jila sentir-me-ei temperado a visitar os templos da cultura. Até já!

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 10 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25156: Os nossos seres, saberes e lazeres (613): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (141): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25156: Os nossos seres, saberes e lazeres (613): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (141): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Quando comecei a preparar este passeio a Évora, soltou-se-me uma recordação e estou a ver a minha adorada avó materna na cama, derrubada por um AVC, a ouvir na sua telefonia marca PYE canções alentejanas nas vozes de Francisco José e Luís Piçarra; havia um programa de discos pedidos pelos ouvintes e eu tinha a recomendação de pedir com regularidade O Meu Alentejo, por Francisco José, foram pedidos até à exaustão, mas era um consolo da minha ditosa avó, e falava-se de Évora com uma regularidade inusitada. Consolo também senti com este fim de semana inteiro a calcorrear Évora, sopesando as palavras de José Saramago, a cidade é muito mais do que está consagrado no Património da Humanidade, há uma intemporalidade que acaba por se revelar na dinâmica entre o antigo, o que é restaurado, o inovado e a permanência da cultura contemporânea, tudo se articula em bom concerto, é isto que dita a especificidade eborense.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (141):
Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (1)


Mário Beja Santos

Desta vez preparei-me a sério, procurei munição do melhor calibre, desde um roteiro turístico do Património Mundial, obras de Túlio Espanca, folhetos vários dedicados a museus, casas apalaçadas, belezas perenes desde o chamado Templo de Diana ao Centro Cultural da Fundação Eugénio de Almeida. Mas não resisti, à guisa de introito a este passeio pegar no belo álbum que a idealidade de Évora preparou para a candidatura da cidade a Património da Humanidade, é um luxo, texto de José Saramago e fotografias de Eduardo Gageiro. De mestre Gageiro não me atrevo a falar, seria insulto concorrer a minha câmara com a genialidade das suas imagens. Peço é licença a Saramago para uma citação que extraí deste álbum:
“A singularidade de Évora não deve ser procurada nas suas igrejas nem nos seus palácios. Palácios e igrejas é o que não falta pelo mundo fora, muitos deles, sem dúvida, de maior beleza e sumptuosidade do que estes que a invenção criadora e o engenho edificador de gerações portuguesas souberam erguer aqui. Évora podia ter a Sé, e apesar disto não ser Évora. Podia apresentar à admiração universal a relação completa dos seus elementos, e Évora continuar a não ser. Podia enumerar e descrever com amorosa minúcia os méritos arquitetónicos e artísticos de S. Francisco e de S. Brás, dos Paços de D. Manuel e da igreja da Graça, dos Loios e do Templo Romano, do Aqueduto da Água da Prata e do Seminário Maior, e ainda assim não chegaria a ser Évora. Há cidades que são sobretudo famosas pelos esplendores materiais que o tempo nelas foi depositando, ao passo que esta Évora seria sempre a Évora que profundamente sabemos ser, mesmo que um maligno passe de prestidigitação fizesse desaparecer da noite para o dia os seus atrativos mais evidentes, deixando-a apenas com a nudez das suas ruas e dos seus pátios, dos seus largos e calçadas, dos seus becos e travessas, das suas arcadas, dos seus terreiros. Com a nudez das suas frontarias, com a claridade das suas fontes, com o segredo das suas portas.
Porque Évora é principalmente um estado de espírito, aquele estado de espírito que, ao longo da sua história, a fez defender quase sempre o lugar do passado sem negar ao presente o espaço que lhe é próprio, como se, com o mesmo olhar intenso que os seus horizontes requerem a si mesma se tivesse contemplado e portanto compreendido que só existe um modo de perenidade capaz de sobreviver à precariedade das existências humanas e das suas obras: segurar o fio da história e com ele bem agarrado avançar para o futuro. Évora está viva porque estão vivas as suas raízes.”

Posto isto, saio para a rua e faço menção do primeiro passeio, com um belo sol de outono.

O que é que há de especial nesta arcada e no enfiamento das ruas, pode-se dizer? É a presença contumaz do branco e do amarelo, a singularidade é a de, em nenhuma circunstância, provocar monotonia, há também para ali uns lambrins em cinzento, dão realce ao que o olhar contempla. Saí à rua e vou daqui até à Praça do Giraldo bem embalado por estas duas cores prevalentes.
Há nomes bem curiosos para as ruas de Évora, pergunto-me se se tratava de um lagar de azeite e havia dízimos para a aristocracia da cidade ou para o senhor arcebispo. Gosto sempre do respeito pela memória. Nunca me esqueço daqueles anos em que fui representante na Confederação Europeia dos Sindicatos, esta sediava-se na Rua da Montanha de Hortaliça…, isto no centro histórico de Bruxelas.
Impossível não apreciar o tratamento num edifício intervencionado deixando à mostra algo que vem do passado. Porque património é mesmo dever de memória, não se aterram os vestígios de outras eras.
Impressiona este branco imaculado que vai do fontanário à fachada da igreja de Santo Antão, estamos no coração da Praça do Giraldo.
Não escondo a estupefação, consagrar o nome de uma rua aos estroinas ou outras pessoas pouco abonatórias, a que titulo se homenageiam os valdevinos, alguém me pode explicar?
Neste caminhar em rua pedonal em direção à Sé Catedral depara-se com esta loja dedicada a objetos da cortiça, da minha infância há a lembrança de mobiliário pintado e um punhado de objetos, o corcho e o tarro, por exemplo, regozijo com a amplidão de aplicações e folgo imenso com tal desenvolvimento comercial, é também uma maneira de revelar no mundo que somos a primeira potência corticeira.
Retiro o que vem na inscrição alusiva, trata-se da maior de Portugal de estilo românico-gótico, séculos XIII e XIV, menciona-se o belíssimo claustro gótico com o túmulo do fundador, o bispo D. Pedro, e recomenda-se ao visitante que não deixe de contemplar o órgão ibérico único em Portugal (séc. XVI), a imagem da Senhora do Ó (séc. XV) e o Arcanjo S. Gabriel (séc. XV), capela do Esporão (séc. XVI), Capela-mor (séc. XVIII), e Capela das Relíquias (talha do séc. XVIII).
Surpreende na escadaria da Sé o túmulo que se mostra, e dá satisfação ver que há cuidados de manutenção dada a exposição às inclemências do tempo.
Pormenor do pórtico, registo também satisfação com os cuidados de manutenção da preciosidade nestes lavores da pedra.
Impressionante escultura de um evangelista numa esquina de corredores do claustro da Sé de Évora
Transcrevo o que diz a inscrição sobre o claustro, é construção de meados do século XIV, prima a arte gótica com os seus arcos ogivais nas abóbodas e nas janelas e ainda desenhos geométricos nos óculos, de influência árabe. É aqui que se encontra a capela do fundador com o seu belo mausoléu da arte gótica e as imagens de S. Pedro, Virgem com o Menino, Senhora do Ó e o Arcanjo S. Gabriel; em casa ângulo do claustro, imagem dos quatro evangelistas.
Um pormenor do claustro
Claustro ajardinado, torre com pináculos, merlões da fachada lateral, há aqui qualquer coisa de catedral-fortaleza, mas não passa de uma suposição.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 3 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25131: Os nossos seres, saberes e lazeres (612): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (140): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (9) (Mário Beja Santos)