Mostrar mensagens com a etiqueta refugiados. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta refugiados. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16525: (In)citações (99): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte I): "Filho único e menino, minha mãe chorou quando, em 12 de março de 1969, alferes me foi buscar a Dembataco para defender a pátria portuguesa"

~
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno, Sori e Umarau (que irão depois para a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12). Estes mancebos aparentavam ter 16 ou menos anos de idade. Eram do recrutamento local.

Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados





Envelope da carta enviada pelo Umaru Baldé ao José Valdemar Queiroz Silva (foi deliberadamente rasurado o nome da rua do destinário)







Fotos: © Valdemar Queiroz (2016). Todos os direitos reservados


Transcrição, revisão  e fixação de texto  (LG):

[Carta sem data nem local, tem a sua foto ao canto superior esquerdo] 

AMOR NUNCA ACABA

Amor nunca acaba,
ninguém esquece dos passados ceja [seja] bem ou de mal,
eu me lembro de dia 12 de março de [19]69,quando foi [fui]
chamado para [a] vida militare [militar] Portugues[a]. na
verdade eu tinha pouco[s] anos de idade e eu era 
único filho deo meu pai, e na verade minha Mamãe
revoltou[-se].disse que eu não tenho [tinha] idade para ir na guerra,
mas a pena [é que] Alferes que tinha vindo para nos levar, não podia
ouvir esta revolta, Alferes disse-nos todos somos Portugueses,
saímos [de] muito longe para defender [a] Pátria  Portuguesa, antão [então],
para povo saber que [em] Portugal não há raça ben [gente] de cores, todos [todo]
cidadadão tem que ir cumprir serviço militar português.

Minha mamãe chorou, disse ai, meu Deus, ten ho meu filho único
que vai me deixar para ir morrer na guerra. Esta data era[foi] dia 
de tristeza i [e] lágrimas para [o] povo de Demba Taco e Taibatá, na 
verdade ficámos até às 4 horas das tarde [até] entramos no [bas] viaturas militares
para Bambadinca.

Eu com a pouca idade que eu tinha, o que podia fazer ? Todo como
homem, que sou, quando foi [fui] na recruta [em Contuboel], foi [fui] o melhor apontador de morteiro 60 1115mm [?]. Depois na especialidade foi [fui] levado para mesmo na primeira companhia [que] foi na CCAÇ 2590 [/] CCAÇ 12] onde nunca esqueço [o] sufrimento [sofrimento] que sofri para [pela]
Minha Pátria Portuguesa, na Guiné Portuguesa.

Na verdade, [em] dois anos e alguns meses que fez [fiz] como operacional,
fez [fiz] 78 operações no mato do Xime, [na] zona do Xitole e até [em] Medina [Madina] do Boé, ao lado de Ganjadude [Canjadude]. Na minha companhia, 
durante  dois anos só sofremos 5 soldados [mortos], 4 pretos e um vranco [branco].
Depois fui transferido para Bissau como primeiro cabo, onde fui colgado [colocado]
no comando das transmissões [, quartel de Santa Luzia,]
até ao fim de[da] guerra em 1974.

A pena [Apesar de] todosos portugueses era para [terem de] sair, eu com toda a vontade e [como ]sou [era] militar português, fui  entre [foi-me entregue] um documento que disse [dizia que]  tenho [tinha] licneça não limitada, até 31 de dezembro [de] [19]74, para [me a]presentar
em qualquer parte [em] que encontrar [enciontrasse]  serviço português militar
ou civil.  Na verdade já não podia estar na Guiné-Bissau
porque [o] partido que venceu [, o PAIGC],  não quer [queria] ver nenhum soldado que era [fosse]  português. Depois eu  fui morar na República do Senegal
onde teve [estive] 11 anos [, até cerca de 1985]. Não tenho [tinha] meio[s] para ir para Portugal.

Depois de[do] Senegal, fui para a República do Mali onde teve [estive] um ano,
[também] não podia ira para Portugal, depois fou [fui] para [a] Costa do Marfim onde teve [estive] dois anos, [de seguida] fui para [o] Gana, 2 meses, fui para Burkina-Faso, onde fez [fiz] sete meses, fui oara [o] Togo, duas semanas,
fui para [o] Benin, [d]donde regressei-me para [a] Guiné-Conacri, 
porque eu era [estava] já doente da perna direita.

Na verdade não podia voltar na [à] Guiné-Bissau
porque eu sabia muito bem que o ódio não acabou [acabara ainda] na governante [no Governo], é por isso [ e por essa razão eu] não tinha coragem de entrar nos hospitais de [dos] antigos inimigos. [Assim], curei-me [tratei-me] no estrangeiro [e] quando teve [tive] saúde,  procurei-me caminho para a [voltei à] Guiné-Bissau.
Desde que regressei na [à] Guiné-Bissau já é [há] 6 anos,
na verdade ainda não temos democracia no País, é por isso [que]
hoje vou procurar   onde está [estão]  Portugueses no mundo, 
dico [digo] bem alto Adeus, Guiné-Bissau, sou Umaru Baldé, antigo militar Português na Guiné. [Assinado U Baldé, presumindo-se que a carta seja datada de 1999, ano em que finalmente conseguiu um visto e chegou a Portugal]


1. Mensagem, de 17 do corrente, de Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] [, foto à direita]


Anexo umas cartas  que me foram enviadas, nos finais dos anos 90 e princípio dos anos 2000, pelo Umaru Baldé que estava a residir na Amadora.[São quatro cartas, só duas das quais datadas, uma de 2000 e outra de 2003].

O Umaru Baldé foi aquele menino soldado da CArt 11 e da CCaç 12 que já foi por nós muito falado. [Foto à esquerda, Bambadinca, 1970, foto de Bemjamim Durão]

Estas cartas que julgava desaparecidas, foram por ele ditadas a alguém com máquina de escrever ou computador e até por ele escritas.

Faz a narrativa, muito interessante, de como foi para a tropa  [, recrutado em 12 de março de 1969, em Demba Taco, regulado de Badora] e como passou as passas do Algarve, neste caso a mancarra, depois da independência da Guiné,  quando atravessou quase metade de África para chegar a Portugal [, em 15 de abril de 1999, tendo vivido ou sobrevido no Senegal (11 anos), Mali (1 ano ), Costa do Marfim (2 anos), Gana (2 meses), Burkina Faso (7 meses). etc, passando por Benin, Guiné-Conacri, de novo Guiné-Bissau, etc.  e, por fim, Portugal].

Por cá também não teve grande sorte, quer por não arranjar trabalho [estável], quer por já estar muito doente [, em 2000 esteve interno no Hospital Curry Cabral, emLisboa]. Por cá andou uns anos, voltou a ver camaradas do tempo da guerra [João Ramos, António Fernando Marques, Pina Cabral...] e sempre a tentar arranjar forma de ser reconhecido como militar do Exército Português.

Por fim e, depois, de passar por várias internamentos hospitalares tentou arranjar dinheiro para regressar à Guiné e à sua Demba Taco em Bambadinca.

Sempre concretizou o seu desejo, mas pouco tempo depois veio a morrer da grave doença que o apoquentava.aonde viria a morrer em Portugal [no  antigo Hospital do Barro, em Torres Vedras, por volta de 2007/2008, com cerca de 55 anos].

As cartas estão com as letras um pouco sumidas, pelo que para serem lidas terão de ser um pouco aumentadas para melhor leitura.

Valdemar Queiroz

______________

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15937: Agenda cultura (474): Em Fafe, "terra justa", 4ª feira, dia 6 de abril de 2016: homenagem às nossas camaradas enfermeiras paraquedistas, representadas ao vivo pela Rosa Serra, no âmbito da edição de 2016 do "Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade"






Programa do dia 6 de abril de 2016: homenagem às nossas camaradas enfermeiras paraquedistas, representada pela Rosa Serra, nossa grã-tabanqueira, no âmbito da edição de 2016 do "Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade". Estava prevista também a presença da da nossa camarada Maria Arminda, tendo sido entretanto cancelada por razões que desconhecemos.

Nesse dia, às 16h00, no Café Shake,  haverá também uma conversa sobre os refugiados, com a presença de Teresa Tito de Morais, cofundadora em 1991 (e hoje presidente) do CPR - Conselho Português para os Refugiados, e ainda de Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa.

Fonte: Câmara Municipal de Fafe. O programa mais detalhado, em pdf, foi-nos enviado pelo nosso grã-tabanqueiro, amigo e camarada, Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72.

___________

Nota do editor:

Últimos postes da série > 

1 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15924: Agenda cultural (471): O Corpo de Enfermeiras Paraquedistas (1961-1974) vai ser homenageado em Fafe, no dia 6 de abril de 2016, 4ª feira, no decurso do evento "Terra Justa 2016" ("II Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade"). Intervenções (entre outras) das nossas camaradas Maria Arminda e Rosa Serra (Jaime Silva, ex-alf mil para, 1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72)