terça-feira, 11 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8891: Inquérito online: Com que frequência tens visitado ultimamente o nosso blogue? Resultados finais






Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) > Fotos 14, 15 e 16 > Catió 1967- Material capturado em Cabolol, no decurso da Operação Penetrante,  em 27 de Junho de 1967.

Fotos e legendas: © Benito Neves (2007). Todos os direitos reservados.

1. De acordo com a nossa sondagem sobre os hábitos de frequência de visita ao nosso blogu (que decorreu desde 3 a 10  passada),  apurámos os seguintes resultados (n=247)


Todos os dias
  92 (37,2%)

Quase todos os dias
  82 (33,2%)

Dia sim, dia não
  16 (6,5,%)

1 vez por semana
  24 (9,7%)

2 a 3 vezes por mês
  12 (4,9%)

1 vez por mês
  6 (2,4%)

Raramente
  9 (3,6%)

Nunca, ou hoje por mero acaso
  6 (2,4%)

                                                                     Total de respostas      247 (100,0%)


Resumindo,  7 em cada 10 dos respondentes são visitantes assíduos do nosso blogue: vêm cá todos ou quase todos os dias... Há um segundo grupo, mais pequeno (16%), que mantém uma regularidade semanal na sua visita ao blogue. Os restantes (menos de 14%) visitam muito esporádica ou raramente o blogue (uma ou menos de uma vez por mês). Não sei se é o caso do Benito Neves, bancário reformado, a viver em Abrantes, e de quem não temos tido notícias há bastante tempo.

A todos os respondentes (membros ou não da nossa Tabanca Grande)  resta-nos agradecer a sua participação e, nalguns casos, os seus comentários.

Registamos, a título de exemplo, um  dos últimos comentários, de um camarada nosso que vive na Holanda, com data de 7 do corrente:

(...) Vou todos os dias ao blogue, e por vezes mais de uma vez por dia,  pois gosto de saber sempre noticias sobre o meu tempo de Guiné, assim como tambem notícias actualizadas. Como reformado e estando longe de Portugal (Holanda),  é sempre agradável estar informado. Júlio Abreu, Grupo de Comandos Centuriões (TO da Guiné, 1964/66) (...)

_____________

Nota do editor:
 

Guiné 63/74 - P8890: Filhos do vento (10): Guiné, Índia, China: da prática das núpcias interraciais (António Graça de Abreu)

Guiné, Índia, China: da prática das núpcias interraciais 


por António Graça de Abreu [, foto à direita, com a esposa, de origem chinesa, a dra. Hai Yan ]


A recente abordagem no blogue - ao de leve,  mas que tantos comentários, por bem, gerou - , do tema dos filhos mestiços dos nossos homens na Guiné e das bajudas e mulheres que connosco, por variegadas razões, se deitavam (*), levou-me a alinhar meia dúzia de ideias e algumas citações que talvez nos ajudem a entender melhor quem fomos e quem somos. Aí vai:

A partir do século XV nós, portugueses, começámos a navegar por todos os mares. Tínhamos a terra portuguesa para nascer, mulheres de todas as terras para amar e como escrevia o padre António Vieira (1608 -1697) "toda a a terra para morrer."

Já Gil Vicente, o homem do nosso primeiro teatro, na sua comédia D. Duardos, fala dos portugueses "servidores de las mujeres, más que todas las naciones."

De onde nos vinha, de onde nos vem esta ausência de preconceito, esta capacidade de acasalar com raças e etnias espalhadas pelos quatro cantos do mundo?

O Prof. Almerindo Lessa (1908-1995) que ainda conheci, e de quem tive a honra  de ser  amigo, escrevia:

"Certas liberdades nos costumes e um gosto poligâmico ganho no trato peninsular com os mouros tinham preparado a nação, física e psicologicamente na carne (com raízes moçárabes) e no espírito (com impulsos universalistas), para uma prática de núpcias interraciais onde o amor por forma alguma seria necessariamente excluído." (Almerindo Lessa, in Macau, a História e os Homens da Primeira República Democrática do Oriente, Macau, Imprensa Nacional, 1974, pag. 43.)

 Ora esta predisposição para amar mulheres de terra alheia (por exemplo, não só descobrimos o Brasil, mas através de uma excelente e desabusada miscigenação, inventámos o Brasil!...) não fazia esquecer as mulheres da pátria portuguesa.

Luís de Camões, em carta a um amigo escrita em Goa em 1555, fala das saudades que sente das damas de Lisboa, não mostra grande entusiasmo pelas mulheres indianas e promete uma procissão para receber as que vierem de Portugal, embarcadas nas naus. Vale a pena ler:

 "Se das damas desta terra quereis novas (…) sabei que as que as que a terra dá (…) respondem-vos numa linguagem meada de ervilhaca que trava na garganta do entendimento, a qual vos lança água na fervura da maior quentura do mundo. Ora julgai, senhor, o que sentirá um estômago costumado a resistir às falsidades de um rostinho de tauxia de uma dama lisbonense que chia como um pucarinho novo com água, vendo-se agora entre esta carne de salé que nenhum amor dá de si. Como não chorará as memórias de in illo tempore! Por amor de mim, que às mulheres dessa terra (Portugal) digais da minha parte que, se querem absolutamente ter alçada com baraço e pregão, que eu as espero com procissão e pálio, revestido em pontifical." (In Versos e alguma Prosa de Luís de Camões, Porto, Ed. Inova, 1972, pag. 96.)

Camões, poeta, soldado, viajante, aventureiro e amante sabia como ninguém entender, sentir, escrever sobre a mulher e o amor. E depois da Índia, um ano após ter escrito esta carta, seguia viagem para o sul da China.

Fernão Mendes Pinto que conheceu a China uma dezena de anos antes de Camões, fala-nos assim das mulheres chinesas, que encontrou num banquete em Liampoo, actual Ningbo, na província de Zhejiang:

"A pessoa de António de Faria foi servida por oito moças fermosas, muito alvas e gentis mulheres (…) as quais vinham todas vestidas como sereias que a modo de dança faziam o serviço de mesa, ao som de instrumentos musicais que davam muito contentamento a quem as ouvia, com que todos os portugueses estavam assaz pasmados." (Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, Lisboa, Edições Afrodite, 1971, cap. 70, pag. 239.)

Na China do século XVI, em plena dinastia Ming, era rigorosamente verdade os homens ricos e poderosos rodearem-se de genu ou pipa chai, jovens bonitas muitas vezes compradas que tocavam, cantavam, dançavam, faziam o serviço de mesa, e outros serviços, e se vestiam, se despiam requintadamente tal e qual como as sereias. As meninas chinesas em topless, tipo playboy, eram uma prática não muito rara pelo menos desde a dinastia Tang (618-907).

E temos os portugueses de quinhentos, assaz pasmados a olhar para o seio pequeno, mas redondo, firme e bem feito das mulheres chinesas! E a querer tocar, e a querer tê-las por companheiras de exaltantes prazeres.

Era assim na China, era assim nas terras da Guiné por nós descobertas, era assim na Índia, sem esquecer as também formosas damas de Lisboa.

Recordo que, em 1972 quando qualquer "piriquito" chegava ao meu CAOP 1, em Teixeira Pinto (éramos trinta homens todos de rendição individual) era costume levá-lo ao grande lavadouro da terra onde mulheres e bajudas, manjacas quase todas, lavavam roupa e aproveitavam para também lavar o corpo, até as reentrâncias mais íntimas. Roliças, de chocolate brilhante, nada púdicas, nuinhas como Deus as deitou ao mundo, eram um regalo para os olhos. E costumávamos dizer que, acabado de chegar à Guiné, o "piriquito" as via como negras mas passado um mês, o entendimento do rapaz mudar-lhes-ia a cor e ele olhá-las-ia como esplendorosas mulheres brancas. Ou chinesas, digo agora eu.

De resto, segundo a lenda, com um fundo de verdade, Camões trazia de Macau para Porugal uma mulher filha da China, a perfeita Dinamene que, quase menina, lhe morreu no naufrágio na foz do rio Mekong, no actual Vietnam . A

                        Alma minha gentil que te partiste,
                        Tão cedo desta vida descontente,
                        Repousa lá no céu eternamente
                        e viva eu cá na terra sempre triste.

A mulher, menina, companheira e amiga, portuguesa, africana, indiana, chinesa, ninfa, senhora, fada que um homem tem, na harmoniosa exaltação da natureza. Às vezes tão breve, tão cedo envolta em névoa, feita de alvas carnes, de pele de cetim e azeviche, de pedaços de sonho, de êxtases, enlevos e silêncios.

António Graça de Abreu,
Estoril, 22 de Setembro de 2011
          
___________


Nota do editor:


(*) Vd. último poste da série >  11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8888: Filhos do vento (9): Tenho por mim que são mais as vozes que as nozes (António Costa)

Guiné 63/74 - P8889: Patronos e Padroeiros (José Martins) (22): D. Dinis - Curso de Infantaria da Escola do Exército - 1953-1956 (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2011:

Caros amigos, boa noite
Se o "D. Diniz" fosse vivo completaria no próximo Domingo, a bonita idade de 750 anos.

Nada melhor evoca-lo neste dia, escrevendo mais um tema dos Patronos.

Bom fim de semana para todos.
José Martins



PATRONOS E PADROEIROS XXII

Curso de Infantaria da Escola do Exército – 1953/1956


Genealogia de D. Diniz. Painel existente na Confeitaria El-rei D. Dinis, em Odivelas.
© Foto José Martins


D. Diniz
Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve

Filho do Rei D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela nasce em Santarém, no dia 9 de Outubro de 1261 e, bem cedo, o pai preparou-o para a governação, vindo a ser aclamado Rei em 16 de Fevereiro de 1279, com 18 anos incompletos, para um longo reinado de 46 anos, sendo o 6º Rei de Portugal e da Dinastia de Borgonha.

Cerca de três anos depois, em 11 de Fevereiro de 1282, casa por procuração com Isabel, Infanta de Aragão e com doze anos de idade, tendo a boda sido celebrada em Trancoso no dia 26 de Junho desse ano, quando entrou em Portugal. Deste casamento nasceram D. Constança de Portugal (3 de Janeiro de 1290 – 18 de Novembro de 1313) e Afonso (8 de Fevereiro de 1291 – 28 de Maio de 1357), futuro rei de Portugal.
Dada a sua longevidade, para a época, foi um monarca influente, não só no reino, mas também nas relações externas.

Ao criar um “forte sentimento de nacionalidade” foi cognominado por Duarte Nunes de Leão (n. Évora 1530 † Lisboa 1608), cronista português, como o Pai da Pátria.

À data da sua chegada ao trono, o país estava em conflito com a Igreja Católica que ele, de imediato, tentou sanar assinando um tratado com o Papa Nicolau II, jurando defender os interesses de Roma no nosso país.

Essencialmente foi um rei administrador e não guerreiro. Em 1925 entrou em confronto com Castela, mas desistiu da mesma, fazendo a paz com Castela, com a assinatura do Tratado de Alcanizes, onde foram definidas as fronteiras de Portugal, que passaram a incluir as localidades de Serpa e Moura. Por este tratado previa-se também uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas, que incluía o casamento de sua filha Constança com o rei Fernando IV, de Castela.

Tendo a cultura como um dos seus interesses, apreciador de literatura e poeta notabilíssimo, instituiu a língua portuguesa como a língua oficial do país. Lisboa foi, no seu tempo, um dos principais centros de cultura da Europa e, a Corte, um dos maiores Centros literários do Península Ibérica. Pela “Magna Charta Priveligiorum”, criou os Estudos Gerais, em Coimbra.

As Ordens Militares, que foram um esteio da nação, foram libertadas das influências estrangeiras que tinham, passando a depender do poder real. D. Diniz criou a Ordem de Cristo, que veio a herdar os bens da Ordem dos Templários em Portugal, quando esta é extinta, e ajuda a Ordem de Santiago a separar-se da tutela da mesma ordem em Espanha

Organizou o estado de forma centralizada, reduzindo, dessa forma, o poder da nobreza. Deu prioridade à organização do reino continuando a acção legislativa que já vinha do reinado de seu pai, mandando reunir no “Livro da Leis e Posturas” e nas “Ordenações Afonsinas”, a diversa documentação de direito e de leis, que se encontravam dispersas.

Dinamizou o comércio, e a circulação de bens, ao criar as feiras. Fomentou a agricultura, protegendo-a com a ampliação do pinhal de Leiria. Ordenou e fomentou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro.
Em 1308, assina o primeiro contrato comercial com a Inglaterra, abrindo as portas para o comércio internacional.

Cria o almirantado, que entrega ao genovês Manuel Pessanha, criando as bases de uma futura Marinha Portuguesa, ao serviço do reino.

Afonso, seu filho e herdeiro, temendo que D. Dinis favorecesse o seu filho bastardo Afonso Sanches, reclamou que o rei lhe aumentasse os proveitos, exigindo a convocação das Cortes, ao que o rei acedeu. Porem, a reunião do Clero da Nobreza e do Povo, não deu os resultados que D. Afonso pretendia. Então este reuniu as forças que lhe eram fiéis e tentou dar combate ao Rei.

Nos campos de Alvalade, então situados a norte de Lisboa, encontraram-se frente a frente as forças leais ao rei e as forças que apoiavam o Príncipe herdeiro, mas não chegou a haver combate. Quando as forças se preparavam para dar inicio à batalha, o campo foi atravessado pela Rainha, já venerada como Santa, montada sobre uma mula, evitando o derramamento de sangue entre portugueses.

A 7 de Janeiro de 1325, em Santarém, morre D, Diniz, que veio a ser sepultado na Igreja do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, em Odivelas, que o próprio rei mandara construir.

José Marcelino Martins
Odivelas, 7 de Outubro de 2011

Nota:
Para comemorar a efeméride, Odivelas já se encontra "em festa" desde o dia 1.
Consultar www.cm-odivelas.pt
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8765: Blogoterapia (189): ... i-guerra... (José Marcelino Martins)

Vd. último poste da série de 1 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8627: Patronos e Padroeiros (José Martins) (21): Mártir S. Sebastião, Padroeiro dos Arqueiros, da Infantaria e dos atletas (José Martins)

Guiné 63/74 - P8888: Filhos do vento (9): Tenho por mim que são mais as vozes que as nozes (António Costa)

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa* (Coronel de Art.ª na reserva, na efectividade de serviço, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74), enviada ao Blogue em 26 de Setembro de 2011:

Guiné 63/74 - P8799: (In)citações (36): Filhos do vento, ontem, brancu mpelélé, hoje (Cherno Baldé)**

Olá Camarada
Tenho para mim que são mais as vozes do que as nozes.
Nas três localidades onde estive: Cacine, Xime/Enxalé e Mansabá conheci um caso em Cacine.

Os "Portugueses Suaves" como alguns lhes chamavam eram perfeitamente reconhecíveis pela cor da pele e, às vezes, do cabelo.


O Português Suave de Cacine era o "Manel". Era bastante claro e de cabelo louro, embora encaracolado.
Tinha cerca de cinco anos - em 1968 - e era um puto muito vivo e esperto. Num ataque, julgo que, no tempo da CCaç 1620, foi ao ar com uma morteirada e ficou com a cabeça cheia de descacadelas de estilhaços pequenos que lhe deixaram marcas na cabeça. Dizia-se que era filho de um furriel enfermeiro (qual?)

Nos outros locais, nunca dei por filhos de militares.

Creio mesmo que os contactos sexuais susceptíveis de conduzir a gravidez, a dada altura, passaram a rarear, por motivos óbvios.
Julgo que as próprias mulheres se protegiam (como? não sei) pois, embora aparentemente fossem aceites, ficavam "difamadas" e as consequências para as crianças podiam ser imprevisíveis.

No fundo, toda a gente sabia que a estes "filhos da guerra" ficariam abandonados nas suas terras, no final da comissão e a partir daí... tudo poderia acontecer. E depois da guerra acabar, como seria?

Se houvesse uma estrondosa vitória das gloriosas NT, como seria? E se fosse o insidioso e ardiloso In a cobrir-se de glória? É necessário não esquecer que estamos em ambiente rural, nos anos 60/70 quando estas actividades não estavam tão despenalizadas, quer nas cidades, quer nas áreas rurais, como estão hoje.

Julgo que "a malta" também se defendia de possíveis contaminações com doenças "sexualmente transmissíveis" (como hoje se diz) e que, ao tempo eram tratadas "à bruta" e o seu detentor não era muito aplaudido. Vá lá saber-se porquê...

Aqui tens a foto do Manel
Um abraço do
António Costa
____________

Notas de CV:



Guiné 63/74 - P8887: O Nosso Livro de Visitas (120): Sold At Cav António Dias das Neves, da CCAV 2486, ferido por mina A/P no dia 18/10/1969, no decurso da Op Ostra Amarga (Marisa Neves / Virgínio Briote)

1. Mensagem de Marisa Neves, com data de hoje, em comentário ao poste P2250:

Boa tarde,

Gostaria,  se me pudessem ajudar, de saber mais sobre os feridos de 18 de outubro de  69 na Cav 2868. Pois o meu pai pisou uma mina A/P nesse dia onde atrás dele seguia o alferes Fernandes. Será que esse vídeo tem a ver com o caso do meu pai? 

Ele era o António Dias das Neves. O meu mail é bruxaisa_sapa@sapo.pt... Se me puderem ajudar.

Marisa Neves

2. Resposta do nosso co-editor Virgínio Briote [, alf mil comando, foto à direita, no Café Bento, Bissau, 1965,], em comentário ao mesmo poste:

Marisa Neves, Cara Senhora,

Boa Noite. Sou o V. Briote que, para o blogue do Luís Graça, na qualidade de editor, procedi a vários contactos para reviver essa ocorrência que nos custou, além dos feridos, duas preciosas vidas.

No post em que a Marisa faz o comentário, está inserida uma nota do Relatório da Operação que, em certo momento, refere: 

"Em 17 de Out[ubro de 1969], durante a Op Ostra Amarga, forças do BCAV 2868 accionaram uma mina A/P na região a sul de Capafa em 1545 1205 D3-86 (coordenadas) causando 2 feridos graves às NT (Pelotão Cav do  BCAV 2868)."

A minha questão, neste momento, é se pretende saber se a mina A/P que atingiu o seu Pai, António Dias das Neves, foi no decorrer dessa acção. Se é, a resposta é: Sim, foi. 

A operação das NT decorreu em vários locais, em dias e horas diferentes, embora globalmente tenha sido a mesma acção que foi designada por Op Ostra Amarga (popularmente conhecida por Op Paris Match). Só que esse facto (que atingiu o seu Pai) ocorreu no dia anterior e não nos momentos das filmagens. Os jornalistas franceses saíram no dia seguinte acompanhando a CCav (Companhia de Cavalaria) 2487 que estava a ser comandada, ocasionalmente, pelo então Cap José Sentieiro e as filmagens mostram os factos ocorridos por essa CCav 2487.

Agradeço que me diga se esta resposta a satisfaz ou se pretende saber algo mais sobre o assunto, para, neste caso, me poder informar junto dos intervenientes ainda vivos.

3. Resposta da Marisa Neves:

Boa Noite,

Sr. V. Briote, obrigado pela atenção, já lhe respondi por mail, mas já agora uma coisa que me esqueci: na caderneta militar diz mesmo que o meu pai pisou a mina A/P dia 18 de outubro de 69 e não dia 17. Ele era da Cav 2486, com especialidade atirador. Não sei como posso,  por exemplo,  mandar-lhe uma foto dele, para ver se há companheiros que se lembrem do sucedido? 

Pois infelizmente o meu pai ja faleceu há 10 anos. E eu estou a tentar reunir dados para fazer um memorial dele.

Cumprimentos,

Marisa Neves 

4. Comentário de L.G.:

Já não é o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro casos... Já são bastantes. Filhas (mas também filhos) que vêm ter ao nosso blogue porque querem saber coisas sobre a vida do pai, no TO da Guiné: como foi ferido, ou como morreu, em que circunstâncias, quem foram os seus camaradas e amigos, etc. 

A história da Marisa é mais uma história, de grandeza humana, de amor filial,  que me comove, e me reconcilia com os meus semelhantes (às vezes, não direi que me zango, ou encolarizo... mas a verdade é que fico triste com a humanidade a que pertenço: pela sua mesquinhez, cinismo, estupidez, indiferença, cupidez, intolerância, prepotência...). 

Obrigado, Virgínio, por teres-te metido nas tuas tamanquinhas e dado uma ajuda à Marisa e à nossa equipa.... LG
 __________________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8880: O Nosso Livro de Visitas (119): Notícias de familiares e amigos do nosso saudoso camarada Fur Mil Fernando Ribeiro, da CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73) (José Gaspar Fernandes Baptista / Joaquim Peixoto)

Guiné 63/74 - P8886: Parabéns a você (326): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8879: Parabéns a você (325): Manuel Resende, ex-Alf Mil da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Teixeira Pinto, 1969/71)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8885: Notas de leitura (285): Até Lá Abaixo, de Tiago Carrasco (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Setembro de 2011:

Queridos amigos,
“Até lá abaixo” é uma reportagem soberba, versa a aventura de três portugueses que viajam sem cheta pelo continente africano, três jovens que decidiram largas os seus empregos mal pagos e confrontarem-se com o continente dito exótico e dramático. É uma narrativa esplêndida, sem hiatos ou sobrecargas. Uma mensagem muito bonita para a chamada geração rasca. O livro vale a pena ser lido do princípio ao fim, tem descrições empolgantes, intensas, comoventes. Está aqui um pouco da África à procura de bússola, a começar pela nossa Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Tiago Carrasco e amigos visitam a Guiné-Bissau
Antes do Mundial da África do Sul

Beja Santos

O que consta na lombada do livro é bem sugestivo: “Em 2010, o jornalista Tiago Carrasco e dois amigos, o fotógrafo João Henrique e o cameraman João Fontes decidiram largar os seus empregos mal pagos e concretizar um velho sonho: atravessar o continente africano de automóvel. O pretexto que arranjaram foi o Mundial de Futebol. A viagem seria muito mais do que um longo passeio destinado a celebrar o desporto mais popular do mundo – seria, sim, o maior desafio da vida destes três homens. Este é o relato das emoções e das peripécias que Tiago Carrasco e os seus companheiros de estrada viveram ao longo desses 150 dias alucinantes, passados no deserto e na selva, em aldeias perdidas e bairros da lata de grandes cidades, em lugares vergados à pobreza e à violência e noutros onde a esperança subsiste apenas por milagre. "Até lá abaixo" descreve-nos esta epopeia de 30 mil quilómetros de Marrocos a África do Sul, passando por 21 países, que é também uma viagem interior aos nossos medos e à nossa capacidade de superar as maiores contrariedades”.

O livro chama-se “Até lá abaixo – três homens, um jipe e 150 dias de aventuras em África”, por Tiago Carrasco, Oficina do Livro, 2011.

O rimo da narrativa é febril, convincente, não dá tréguas à expedição da leitura. Os três jovens arriscaram tudo, viram com os seus próprios olhos gente que está disposta a tudo para levar por diante os seus sonhos, viram a miséria mais desalmada, a corrupção mais alvar, transmitem pungentemente o drama do Saara Ocidental e dos seus sarauís, percorreram desertos hostis, entraram em bairros miseráveis, conheceram gente extraordinária, chegaram subitamente à fala com portugueses. De Lisboa passaram para Marrocos, daqui para o Saara Ocidental, depois a Mauritânia, a Gâmbia e a Guiné-Bissau. Como levam um orçamento miserável, quase aquém da sobrevivência, todo o acolhimento é bem-vindo. Em Bissau ficara em casa emprestada, mesmo sem luz e a ter que transportar a água em bidões e em garrafas. Escreve o autor: “Bissau é a mais subdesenvolvida das duas dezenas de capitais por onde passámos nesta aventura. Não tem multibanco, comboio ou fábricas. Apesar de não terem nada, os guineenses são um povo afável. A criminalidade violenta é residual e a mendicidade muito menor que nos países francófonos. Não há trabalho. A nossa vizinha Natividade, de 41 anos, tirou o curso de Direito na ex-Checoslováquia mas não conseguiu ser advogada na Guiné. Emigrou para Lisboa e passou a vender peixe no mercado da Encarnação. Há dois anos foi obrigada a voltar para Bissau porque o governo lhe queria tirar a casa. Abriu uma barraca de venda de cerveja e peixe grelhado mesmo em frente à nossa casa”.

Encontraram-se com uma lenda antiga do futebol, Artur Pinhel, e ficaram a saber de que modo os atletas guineense ficaram divididos entre a guerra da independência. Visitaram o Quelelé, construído por antigos combatentes da guerra colonial. Foi aqui que visitaram uma rádio comunitária e Tiago Carrasco observa: “Como os correios mal funcionam, são as 36 rádios comunitárias do país que informam quem nasce e quem morre, notificam os moradores de quando têm de comparecer em tribunal ou dão informações sobre o pagamento de impostos e rendas. Uma renda em Quelelé pode chegar aos 40 € e o salário de um professor não excede os 60, a grande maioria dos guineenses come apenas uma refeição por dia”.

Descrevem uma Bissau reinadia, uma cidade economicamente parada onde a estátua de Amílcar Cabral parece um fantasma. Graças a amigos da AMI, foram visitar Bolama, a antiga capital da Guiné Portuguesa está ao abandono, os edifícios a ruir e as estradas intransitáveis. Toda a gente se queixa que se vive pior do que na era colonial. O palacete do antigo governador cai aos bocados, cabras, vacas e porcos, vagueiam por ali sobre um chão coberto de excrementos, lixo e sinais de fogueiras. Os mais jovens migraram para Bissau. Tiago e os amigos visitam o antigo cemitério português de Bolama, com cruzes de pedra sobre uma alcatifa de ervas secas. Campas e jazidos mostravam nomes portugueses.

Inevitavelmente, fala-se do narcotráfico, aquelas ilhas dos Bijagós têm uma pista de aterragem para os traficantes, são eles que controlam o país.

Tiago e amigos passam o carnaval em Bissau, celebram o evento em casa de Yolanda, uma funcionária da embaixada de Espanha, é nisto que aparece um vizinho de um deles no Bairro Alto. Numa viagem para o Biombo lêem no Diário de Bissau uma sucessão de acontecimentos ligados ao narcotráfico, a começar pela detenção de avioneta suspeita na praia de Gã-Tumane, detenção de dois alemães quando se preparava o descarregamento de droga na ilha de Bubaque. Escrevem: “Os cartéis mexicanos, colombianos e bolivianos aproveitaram a fragilidade da Guiné-Bissau para usar o país como plataforma de cocaína para a Europa – com avionetas que aterram em ilhas desabitadas e lanças rápidas que aportam no arquipélago dos Bijagós. A droga chega à Guiné-Bissau e é depois transportada por via marítima ou terrestre para a Europa (…) A Guiné-Bissau é o primeiro narco-estado africano. Na capital, multiplicam-se as histórias sobre a presença de traficantes sul-americanos. Contaram-me que um deles entrou num banco com sacas de dinheiro e lhe foi recusado o depósito. Num país com um dos quatro PIB mais baixos do mundo, os milhões de cocaína continuam a circular pelos bolsos dos poderosos. Só duas das apreensões feitas em 2007, superiores a 600 quilos e estimadas em 20 milhões de euros cada, representam cerca de 50 % do PIB da Guiné. As lutas entre políticos e militares fazem-se pelo controlo das redes de distribuição. Por exemplo, em 2008, um avião venezuelano aterrou no aeroporto de Bissau alegando problemas técnicos. Umas horas mais tarde chegou uma avioneta de Dakar para prestar assistência. Nenhum dos aparelhos tinha plano de voo. O exército formou um cordão em redor dos dois aviões e descarregou-os sobre as ordens de Papa Camará, Chefe da Força Aérea. A Polícia Judiciária foi afastada do local. O governo só foi informado seis dias depois. Naquele dia, 514 quilos de cocaína foram colocados na Europa a bordo da avioneta”.

Tiago e os amigos ainda visitam Bafatá e assistem a um concerto de balafon, um xilofone feito com madeira pau-de-sangue. O país é paupérrimo mas tem música muito bela. E da Guiné-Bissau os aventureiros seguiram para o Mali, o relato já não tem cabimento no nosso blogue.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8868: Notas de leitura (284): Orlando Ribeiro, Guiné, 1947, Cadernos de Campo (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8884: Ser solidário (113): Pequenos gestos que dão esperança de vida à população de Elalab (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), membro da Direcção da Tabanca Pequena, Grupo de Amigos da Guiné-Bissau (ONGD), com data de 7 de Outubro de 2011:

Caríssimos editores
A Tabanca Pequena vai fazendo alguma coisa pelo desenvolvimento da Guiné-Bissau, nomeadamente no apoio às populações.

Junto um texto que espelha o trabalho que se tem feito em Elalab.
Pena é que os combatentes se tenham esquecido, que com o seu pequeno apoio muita coisa se pode fazer em prol daquela gente que nos é tão querida.

Abraço fraterno para todos quantos vão ler este texto
Zé Teixeira


PEQUENOS GESTOS QUE DÃO ESPERANÇA DE VIDA À COMUNIDADE DE ELALAB

Por Zé Teixeira

Cercada de rios e riachos. Isolada do mundo. Com uma única saída por terra. Um estreito dique que separa as águas salgadas do Rio Cacheu, do rio de água doce que a cerca. Era esta a situação de Elalab.

O isolamento era total. O percurso a pé de Elalab para Susana, primeiro ponto de acesso à estrada para S. Domingos durava cerca de 3,5 a 4 horas a pé. Atravessando o dique, segue-se uma zona arenosa de difícil acesso que só um jeep com tracção às 4 rodas consegue vencer.

Tudo começou quando um grupo de mulheres/mães da Tabanca de Elalab sentiram que tinham a obrigação de conseguir melhores condições para que as futuras mães e seus bebés não corressem tão elevados riscos de morte e de doenças graves, durante a gravidez, no parto e depois do parto.

Apelaram para a AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense que procura no terreno ouvir e corresponder aos anseios das populações.

Pretendiam um espaço com mínimo de sanidade e segurança para as futuras mães terem os seus filhos.

Habitualmente a sua morança serve de sala de partos e a parteira é uma mulher grande, cujos conhecimentos vêm do empirismo ancestral e da prática vivida.

O Centro Materno Infantil e duas matronas – mulheres habilitadas por um hospital para procederem ao acompanhamento da maternidade, apoiaram no parto e pós-parto.

Outras necessidades foram levantadas pela população no diálogo com a AD e a Tabanca Pequena:

- Um poço de água para garantir a potabilidade da água que vai alimentar o Centro Materno Infantil, com sistema de elevação de água para o depósito através de energia solar.
- Um barco para fazer o transporte da população até Suzana, reduzindo para cerca de 45 minutos o tempo de percurso. O mesmo barco servirá para o transporte de mercadorias. Possibilita assim, um acesso rápido da população de Elalab aos mercados de Suzana, Varela, S. Domingos ou Ingoré, o que via dinamizar o comércio.

Possibilita ainda, a deslocação rápida a um hospital em caso de doenças graves ou gravidezes de risco.

Uma parceria gerida pela AD, com a colaboração com as Associações: Tabanca Pequena; Tabanka; ENDA e Viver 100fronteiras, com a colaboração activa da população – Homens, mulheres e crianças - conseguiu transformar o sonho das mulheres e população de Elalab em realidade.

O Centro Materno Infantil está construído e devidamente apetrechado com equipamento hospitalar. Vai a caminho algum equipamento de apoio directo para ser usado pelas matronas, os medicamentos, kits de parto e consumíveis.

- A construção foi financiada pela ENDA.
- O equipamento hospitalar foi oferecido pela Viver 100Fronteiras.
- Os materiais, consumíveis e medicamentos serão fornecidos pela Tabanca Pequena.
- O poço de água foi financiado pela Tabanka, estando já em pleno funcionamento
- O barco foi financiado pela Tabanca Pequena que contribuiu com os custos da construção. Tendo a Tabanka oferecido o motor.

Zé Teixeira

Reunião da AD e Tabanca Pequena com a população de Elalab.

As crianças também colaboraram na construção do Centro Materno- Infantil

O Centro em construção

O Centro pronto a receber o equipamento

Interior do Centro

As mulheres carregaram o equipamento hospitalar oferecido pela Viver 100fronteiras

O depósito de água

Aspectos da construção do barco
____________

Notas de CV:

Vd. poste de 10 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8394: Ser solidário (107): A população de Elalab tem razões para se sentir feliz (José Teixeira)

20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8581: Ser solidário (112): Torneio Uma Gota de Água Para a Guiné-Bissau (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P8883: Agenda cultural (163): A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre: Lançamento em Lisboa na LeYa na Buchholz, sábado passado


Título: A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial
Autor: 
Ana Bela Vinagre
Ano: 2011
Género: Crónica
Pág.: 192
Preço: 18,00
ISBN: 978-989-667-061-0


 1. Recebemos oportunamente, em 22 de setembro último, a seguinte mensagem do nosso leitor Carlos Castanho, com a notícia do lançamento de mais um livro sobre a inesgotável temática da guerra colonial.

A sessão de lançamento, em Lisboa, na histórica livrararia Buchholz (criada por um livreiro alemão, em 1943, e agora designada LeYa na Bulchholz) foi no sábado passado, e infelizmente nenhum dos editores pôde estar presente nem dar a notícia em tempo oportuno. (No passado dia 10 de Setembro, já sido lançado o livro em Leiria). 

Aqui fica, de qualquer modo, informação sobre o evento.  Desejamos à autora o maior sucesso editorial para o seu livro. Solicitamosl, por seu turno,  à editora o envio de um exemplar, para efeitos de recensão bibliográfica. Uma primeira nota de leitura já aqui foi publicada, da autoria de Felismina Costa, em 2 do corrente.



De: Carlos Castanho [castanhofor@gmail.com]
Data: 22 de Setembro de 2011 18:31
Assunto: Lançamento do livro "A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial"
 daguine@gmail.com




Caros Amigos e Camaradas,

Sou um Deficiente das Forças Armadas e tive oportunidade de visitar o vosso Blog, visita essa recomendada por um leitor assíduo. Achei o vosso trabalho de interesse público e até histórico. Nada fará sentido se a memória de um País não seja "contada" às gerações vindouras.

Nesse sentido, permitam-me que vos convida a estarem presentes no dia 8 de Outubro, pelas 16 horas, na livraria LEYA, na  CE BUCHHOLZ, sita na Rua Duque de Palmela, 4 em Lisboa, para o lançamento do livro "A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial",  da autoria de minha mulher Ana Bela Vinagre,  ela também nas malhas da guerra colonial .

 Palavras da Autora:  

"Quando o conflito armado eclodiu e à medida que os meses se sucediam, crescia nas mães que tinham filhos pequenos, a esperança de que, chegada a hora de os verem envergar a farda para cumprir o serviço militar, a guerra já tivesse terminado.
 
Quantas se enganaram!... Nos bastidores duma guerra colonial sem fim à vista, ficavam mães, esposas, namoradas, irmãs, que depois de um doloroso adeus, a que o Tejo já se habituara, à vista de imensos lenços brancos de despedida, na metrópole lutavam, diariamente, contra uma saudade imensurável e o medo do espectro da morte, que a qualquer momento lhes poderia bater à porta. Em silêncio, engoliam as próprias lágrimas, calavam a revolta, escondiam a sua indignação. O sofrimento era atroz.

As namoradas e esposas, povoadas de projectos e de sonhos, viram-se traídas e defraudadas na sua juventude, esperando o fim de um pesadelo, que a cada dia, parecia mais distante."
                                                                                                                                                            
Solicito ainda, caso seja possível, que este evento seja divulgado no vosso honroso Blog.
Cumprimentos


Carlos Castanho

(Formador de SHT - Segurança e Higiene do Trabalho
Contactos : 967 747 584 / 911 773 828)

 ________________

 Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8882: Convívios (380): 2º Almoço/Convívio da CCAÇ 1477, em Fátima, 14 de Agosto de 2011 (António Rama)


1. O nosso Camarada António Rama, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 1477, 1965/1967, enviou ao Luís Graça a seguinte mensagem:

Bom dia camarada da Guiné,

Agradecia a publicação da notícia deste evento, que mais uma vez reuniu a nossa companhia em S. Mamede, nos arredores de Fátima.



2º ALMOÇO/CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1477

Numa atmosfera de alegria indiscutível, realizou-se em S. Mamede/Fátima, no passado dia 14 de Agosto de 2011, o segundo convívio, dos antigos combatentes da Companhia de Caçadores 1477, que prestaram serviço militar na antiga província ultramarina da GUINÉ.

Neste dia de franca camaradagem, trocou-se a espingarda e o morteiro pela faca e o garfo e a “nossa guerra”, ao contrário de ter sido travada na agitação da selva, foi calmamente feita à volta de uma mesa bem recheada.

No final desta maravilhosa festa só nos restou agradecer, reconhecidamente, ao nosso amigo e camarada de armas Américo Jesus Nunes, pela organização de tal evento, que mais uma vez esteve a seu cargo.

Obrigado a todos pela vossa simpática presença.

António Rana
Sol Con da CCAÇ 1477
____________
Nota de M.R.:

Vd. também sobre este convívio o poste em:


Guiné 63/74 - P8881: (Ex)citações (150 ): Louvável o esforço do nosso camarada Carlos Cordeiro de pôr a Universidade dos Açores ao serviço da divulgação do conhecimento do que foi a guerra do ultramar e do seu impacto familiar, social e económico nas nossas ilhas (José Câmara)

1. Comentário,  ao poste P8858,  pelo nosso camarada José da Câmara, que vive nos EUA, e que foi Fur Mil da CCAÇ 3327 e do Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73) [, fioto à direita]

Caros amigos,

O professor Carlos Cordeiro, com a modéstia que o caracteriza, deixou-nos com imagens que valem palavras mil.

Em boa hora o fez, na medida que nos permite usufruir da nossa capacidade interpretativa para lermos a sua mensagem.

O nosso amigo não está só nesta sua iniciativa, nem nunca pretendeu estar. Bem pelo contrário, envolveu a Universidade dos Açores, o seu departamento de História e a Comissão Científica.

Desde logo, a universidade com o seu apoio colocou-se ao serviço da comunidade onde está inserida, dando exemplo daquilo que deveria ser o paradigma de todas as instituições públicas de educação escolar, independentemente das vertentes educativas para que estão dimensionadas.

Todas elas se o tivessem feito atempadamente teriam feito o nosso país economicamente mais viável, socialmente menos dividido, mais humanista, mais sensível e culturalmente muito mais bem apetrechado.

Porém é no centro, entre as imagens que abrem e fecham a conferência e o debate, que está a essência da mensagem que se pretendeu passar e que está a ser muito bem conseguida. Aliás, o mesmo aconteceu com as conferências anteriores e certamente acontecerá com aquelas que chegarão nos próximos tempos e pelas mesmas individualidades.

Todo o cuidado tem sido posto para que estas conferências não sejam um ponto de encontro de nadas, onde se contam histórias de guerras, de minas, de fome, de ataques aos superiores hierárquicos e às instituições constituídas. Bem pelo contrário, o que nelas se pretende é contar a história humana do que foi a guerra do ultramar e o impacto familiar, social e económico que ela teve, neste caso particular na vida dos açorianos.

Presentes estiveram combatentes e as esposas que ouviram pela primeira as suas cândidas confissões de amarguras, os porquês das suas reacções, dos seus sonhos destruídos, certamente de alguns construídos.

Entre os outros, a particularidade de se verem muitos jovens presentes. Para ouvirem e para aprenderem de nós que um dia também fomos jovens como eles, com as mesmas aspirações de vida um dia truncadas por uma guerra que não escolhemos combater, mas à qual fomos chamados. Era a nossa obrigação enquanto mancebos de Portugal.

Ali souberam que nós dignificamos o uniforme que envergámos e que não envergonhámos os nossos antepassados que em outras ocasiões e outras guerras se cobriram de glória e contribuíram para a rica história dos portugueses.

Também não será menos verdade que ali aprenderam quantos dos seus irmãos ilhéus deram a vida na defesa daquilo que, pelo menos ao tempo, tínhamos aprendido ser nosso: o Portugal Ultramarino.

Como lição última, aperceberam-se que nas euforias do 25 de Abril de 1974 e do findar da guerra, a sociedade portuguesa nos definiu e nos julgou na praça pública. Que nem esboçámos a nossa defesa, porque nos faltou a coragem e a dignidade que tantas vezes nos sustentaram nos confins de África.

Por tudo isso e muito mais, há que colmatar a nossa falha colectiva, aproximando-nos dos que então estavam em linha para nos substituir nas bolanhas da Guiné e nos planaltos e planícies de Angola e Moçambique.

Temos que nos dirigir aos jovens de hoje, aos nossos netos e aos seus amigos e contar-lhe apenas e só a verdade da guerra que combatemos enquanto soldados de Portugal.

Finalmente, julgo que se pode chegar à conclusão lógica da mensagem. É imperativo que nós, combatentes que fomos nas províncias ultramarinas, façamos um esforço sincero e persistente, não necessariamente reivindicativo, para nos reconciliarmos com a sociedade portuguesa e antes de a fazermos com o nosso inimigo de então, como alguns pretendem.

Obrigado,  Carlos Cordeiro por esta lição de vida.

Um abraço amigo do tamanho do oceano que nos une.

José Câmara
_______________

Nota do editor