João António Branquinho Caramba
06 de Abril de 1950
07 de Março de 2013
ex-1.º Cabo TRMS do PEL REC/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74
07 de Março de 2013
ex-1.º Cabo TRMS do PEL REC/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74
Falecimento do nosso camarada João Caramba
Juvenal Amado*
Quanta vezes fiz o caminho até Beja?
Era sempre com uma alegria que passava Vila Franca , reta de Pegões, avistava Grândola, Ferreira do Alentejo e quando entrava em Beja virava para o Penedo Gordo, uns poucos quilómetros percorridos apontava direito à estação. Lá estava o meu camarada Caramba mais a sua Rosa e filhos, sempre de braços abertos e o tempo deixava de contar.
Falava-se de tudo e de nada, era tal o prazer de estarmos juntos, que guardo muitas dessas conversas para sempre.
O João Caramba figura incontornável, foi meu camarada no 3872 e desde tenra idade habituado a lidar com as vicissitudes do meio rural do seu Alentejo. Habituado às grandes distâncias, muita horas sozinho no seu trabalho, sabia o valor de uma boa conversa, era por isso grande contador de estórias e sabia contá-las como ninguém.
Nos almoços da companhia juntava-se sempre uma roda de camaradas para o ouvirem.
“Uma vez em Castro Verde…
“Quando fui fazer uma carrada de melão…
“O mê pai fazia os mercados de…..
“Uma vez na feira da Cuba fui à tourada e…
“Uns tipos de Trigaches andavam roubando-me os figos mas um dia quando lá chegaram, eu estava lá esperando por deles e preguei-lhes um cagaço com uma espingarda velha. Agora por via disso tão depressa não posso lá ir, não vá algum reconhecer-me…
Quantos serões onde ele contava com imensa graça as suas andanças? Quantas gargalhadas até às lágrimas? Estar com ele em Alcobaça, Fátima ou no Penedo Gordo, era não dar pelo o tempo passar.
Com ele conheci fisicamente, pois antes já eu as conhecia de nome que ele não se cansar de as nomear, Vidigueira, Cuba, Viana do Alentejo, Évora e relíquias que são as capelas por vezes perdidas na planície
Fui ao casamento dele, conheci os filhos bebés, viu-os crescer e tornarem-se homens que eram o orgulho dele e ver o amor que eles lhe dedicavam, foi sempre inspirador.
Falar do meu camarada Caramba é ter medo de não lhe fazer justiça, é falar de um amigo muito querido, é falar de alguém insubstituível, é dizer que conhecê-lo fez mim um homem melhor e por fim, perdê-lo faz parte dos dias tristes que a vida sempre nos reserva.
Quer queiramos ou não, esse dias tristes chegam e vão-se juntado à medida que avançamos na idade. Nesses momentos pensamos, como será possível a vida continuar sem a presença física dos nossos entes que partem? Como é que continuamos a caminhar a viver e a respirar, depois do desaparecimento físico de quem foi tão importante para nós?
Sem os termos conhecido tudo teria sido diferente.
No dia 8 de Março, dia da mulher, voltei a Beja, mas desta vez foi uma viagem dolorosa onde se juntaram as lágrimas da sua mulher com as que o céu derramou todo o dia, ali me despedi para sempre do meu camarada, amigo e irmão João António Branquinho Caramba, que em vida nunca me regateou a amizade e a saudade tenho dele espero eu, que o tempo a venha atenuar.
Descansa em paz, amigo.
João Caramba
Monte Real, 21 de Abril de 2012 > VII Convívio da Tabanca Grande > João Caramba, ao centro, escuta o nosso editor Luís Graça. À direita da foto, o nosso camarada Belarmino Sardinha
2. Comentário de CV:
No passado dia 1, véspera do VII Encontro dos ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, foi o funeral do Esteves, meu colega de empresa e também nosso camarada de Guiné. Este ano foi a primeira vez que não participou no nosso Convívio.
No ano passado, no VII Convívio da Tabanca Grande, participou pela primeira vez o nosso camarada João Caramba, que se fez acompanhar da sua esposa Rosa, motivado, sabemos, pelo Juvenal Amado seu particular amigo. Quem adivinhava que nunca mais participaria daquele nosso evento?
É duro, mas muitos de nós temos alguém já na "secretaria" a preencher a nossa "guia de marcha".
Vem isto a propósito de que cada vez somos menos, e os que ainda cá estão devem desfrutar da amizade e camaradagem que une os ex-combatentes, afinal a nossa maior riqueza, já que as reinvindicações materiais se esfumaram face à actual conjuntura económica. Exijamos ao menos o respeito que nos é devido pela nossa condição, sendo que para tal temos que manter a nossa união.
À família enlutada no nosso camarada João, especialmente à sua esposa, filhos e netos, apresentamos os nossos sentidos pêsamos. Cada camarada que vemos partir é como se um irmão nosso partisse. Ficamos mais tristes, mais sós.
Uma palavra especial para o nosso amigo Juvenal, que sabemos sentiu muito fundo a partida do seu especial amigo, e compadre se não estamos enganados. Já há muito o Juvenal tinha escrito sobre o João e sobre a relação de fraternidade que os unia desde os tempos de Guiné. Um belíssimo exemplo.
Camarada João, até um destes dias.
(*) - Juvenal Amado foi 1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 2 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11179: In Memoriam (143): Soldados Domingos do Espírito Santo Moreno e João Amado, e 1.º Cabo João António Paulo, da CCAÇ 3489, mortos em combate, em Cancolim, no dia 2 de Março de 1972 (Juvenal Amado)