sexta-feira, 12 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11378: Em busca de ... (221): Camaradas do ex-1.º Cabo Pedro José Gonçalves da 1.ª Secção/3.ª Esquadra do Pelotão de Canhões S/R 1154 (José Martins)

EM BUSCA DE CAMARADAS DE PEDRO JOSÉ GONÇALVES
PELOTÃO DE CANHÕES S/R 1154


1. Mensagem chegada ao nosso Blogue no dia 5 de Abril de 2013, enviada por Vítor Pinheiral, Agente da PSP da Disão da Amadora - Esquadra de Trânsito:

Boa tarde.
Venho por este meio solicitar informação acerca do seguinte:
Na qualidade de Agente da PSP, hoje tive uma ocorrência com um ex-combatente, pertencente ao Pelotão de Canhões sem Recuo 66/68 - Guiné.
A minha questão prende-se com o estado em que encontrei o vosso camarada, o facto de se sentir "perdido" e sem vontade de viver, o gosto e esperança que encontrar os colegas. Perante tal facto, questiono se existe alguma forma de o ajudar!?

Um optimo dia de trabalho!
Com os melhores cumprimentos.
Vitor Pinheiral


2. No mesmo dia o editor de serviço reencaminhou a mensagem ao camarada José Martins, com conhecimento ao Agente Vítor Pinheira:

Caro José Martins
O senhor Agente da PSP, Vítor Pinheiral, fez chegar ao Blogue a situação de um camarada nosso pertencente a um Pelotão de Canhões S/R que esteve na Guiné entre 1966 e 1968.
De acordo com a tua listagem apenas dois Pelotões estiveram lá nesse período, o 1154 e o 1155. Na página do Jorge Santos não há nenhum pedido de contacto destes Pelotões, nem nós temos qualquer referência a eles.
Pergunto-te, já que geograficamente estás mais perto do acontecimento, se poderás fazer alguma pesquisa no sentido de ajudar este nosso camarada.
Eu posso lançar um poste na série "Em busca de..." para ver se aparece alguém que tenha pertencido a algum daqueles Pelotões.

Permita-me senhor Agente Vítor Pinheiral que o cumprimente de modo especial por esta sua iniciativa que poderá ser uma pequeno passo no sentido de ajudar mais um combatente, dos muitos, infelizmente, entregues à sua sorte.
Serviram-se de nós, esqueceram-nos e querem-nos ver mortos, o mais rápido possível, para (tentar) apagar um passado que existiu mesmo e que é parte integrante da História de Portugal. Quer se queira, quer não.
A Guerra Colonial existiu e não foi por os ex-combatentes quererem, foi por causa de uma opção política, discutível como muitas que se tomam hoje em dia.
É meu desejo pessoal que tenha ânimo suficiente para cumprir a sua espinhosa missão em favor da sociedade. Bem haja.

Com os melhores cumprimentos
Carlos Vinhal


3. No dia 6 de Abril obtivemos do nosso camarada José Martins resposta:

Bom dia Carlos
As sub-unidades de nivel inferior a companhia, porque dependentes de um batalhão, normalmente não têm elementos no Arquivo Histórico.
De qualquer forma e como habitualmente, vou iniciar as pesquisas, para ver o que se pode fazer.

Bom fim de semana.
Zé Martins

E para conhecimento esta mensagem envida ao Agente Vítor Pinheiral:

Sr. Agente Vitor Pinheiral
Agradecia, se possível, nos informasse o nome do nosso camarada, para servir de "ancora" nas pesquisa que irei fazer, assim que possível, nas histórias das unidades, no Arquivo Histórico Militar.

Saúdo-o pela iniciativa que teve em nos transmitir o seu sentir perante o quadro que nos apresentou.

Renovo o agradecimento, já feito pelo camarada de armas Carlos Vinhal, e espero que se consiga encontrar, brevemente, uma solução para este (s) caso(s).

Melhores cumprimentos
José Martins


4. Trabalho elaborado pelo nosso camarada José Martins a propósito deste assunto:

Boa tarde.
Venho por este meio solicitar informação acerca do seguinte:
Na qualidade de Agente da PSP, hoje tive uma ocorrência com um ex-combatente, pertencente ao Pelotão de Canhões sem Recuo 66/68 - Guiné.

A minha questão prende-se com o estado em que encontrei o vosso camarada, o facto de se sentir "perdido" e sem vontade de viver, o gosto e esperança de encontrar os colegas.

Perante tal facto, questiono se existe alguma forma de o ajudar!?

Um óptimo dia de trabalho!
Com os melhores cumprimentos.

Vitor Pinheiral
Agente nº 7612/151759
PSP - Divisão da Amadora


Este mail foi recebido pelo editor da Tabanca Grande Carlos Vinhal que, de imediato, não só agradeceu o alerta do Agente da PSP, como nos enviou o mesmo para procurarmos saber de quem se trata.

Já sabemos de quem se trata. É o nosso camarada PEDRO JOSÉ GONÇALVES, nascido em 29 de Junho de 1944, a quem foi atribuído o NM 06046965.

Não dispomos de mais elementos sobre este nosso camarada, além dos que nos foram revelados pelo Agente Pinheiral.
Esperamos que este texto chegue ao conhecimento dos seus camaradas de pelotão, ou de qualquer unidade que com ele tenha contactado, ou ainda de qualquer instituição ou a própria autarquia, no sentido de se pensar e tentar encontrar apoio que traga de novo a “vontade de viver” deste nosso camarada.

Será que este apelo vai ser atendido?

Vista aérea de Cufar
Foto: © Jorge Simão (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

História do Pelotão de Canhões sem Recuo nº 1154

Esta subunidade foi constituída no Regimento de Infantaria nº 2 em Abrantes, com destino a prestar a sua comissão de serviço no Comando Territorial Independente da Guiné.
Embarca cerca das 16H30 do dia 10 de Setembro de 1966, no “Rita Maria”, tendo desembarcado em 20 de Setembro.
Foi deslocada para Cufar, no Sector “S3”, onde chegou em 1 de Outubro de 1966, para efectuar o Treino Operacional sob a orientação da Companhia de Caçadores nº 763, no período de 2 a 18 de Outubro de 1966, que consistiu patrulhamentos apeados e em meios auto, nomeadamente entre Cufar e Catió, assim como a tabancas do sector. A sua acção, apesar de ser uma Pequena Unidade de Armas Pesadas efectuava, além do serviço respeitante à sua especialidade, serviço de reforço às unidades em operação, como atiradores.

Do que consta da história da unidade (cota 2/4/70/10, do Arquivo Histórico Militar), e tendo em conta que o mês de Abril de 1968 não menciona qualquer actividade operacional, pode resumir-se a sua actividade operacional a:

a) Reforço do aquartelamento de Bedanda, onde se encontrava a 4ª Companhia de Caçadores Indígenas, até 31 de Março de 1967, tendo alterado a sua designação para Companhia de Caçadores n º 6, em 1 de Abril de 1967, com uma esquadra, que rodava mensalmente, desde Julho de 1967;

b) Ano de 1966:
23 Patrulhamentos
18 Segurança a itinerários
02 Operações;

c) Ano de 1967:
69 Patrulhamentos
77 Segurança a itinerários
13 Operações;

d) Ano de 1968:
14 Patrulhamentos
16 Segurança a itinerários
02 Operações;

O Pelotão de Canhões sem Recuo nº 1154, apoiou em actividades operacionais as seguintes subunidades:

* Companhia de Cavalaria nºs 1484 (Regimento de Cavalaria nº 7, Lisboa) e 1615, 1616, e 1617 (Regimento de Cavalaria nº 3, Estremoz);

* Companhias de Caçadores nº763 (Regimento de Infantaria nº 1, Amadora), 1621 e 1624 (Regimento de Infantaria nº 2, Abrantes), e 4 e 6 (CTIGuiné);

* Companhia de Artilharia nº 1687 (Regimento de Artilharia Pesada nº 2, Vila Nova de Gaia).

Durante o tempo em que prestou serviço no CTIGuiné, dependeu organicamente do Batalhão de Artilharia nº 1914 (Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, Lisboa) e Batalhões de Caçadores nºs 1860 (Regimento de Infantaria nº 15, Tomar) e 1912 (Regimento de Infantaria nº 16, Évora).


Elementos que constituíram o Pelotão:

Comandante
Alferes Miliciano de Artilharia Rogério Caetano Fortunato Valério
* Louvado pelo comandante do Batalhão de Artilharia nº 1913, publicado na Ordem de Serviço nº 78 de 1 de Março de 1968.

Esquadra de Comando
1º Cabo Manuel Raul Milho Leon
Soldado Estafeta Miguel de Sousa Pedroso
Soldado Radiotelefonista Higino Serra Cruz
Soldado Condutor Auto António Carlos Ramires da Cruz

1ª Secção - Comando
Furriel Miliciano de Artilharia Jorge Alberto Áspera Moniz
Soldado Estafeta Manuel Pinheiro Monteiro
Soldado Condutor Auto Manuel Ruivo da Silva

1ª Secção – 1ª Esquadra
Soldado Apontador Adérito da Costa Pereira
Soldado Municiador Artur Simões Duarte
Soldado Remuniciador David Correia da Silva
* Louvado pelo comandante da Companhia de Caçadores nº 6, publicado na Ordem de Serviço nº 8 de 25 de Fevereiro de 1968.
Soldado Remuniciador António dos Santos Tente

1ª Secção – 2ª Esquadra
1º Cabo Albino Garcia de Freitas
Soldado Apontador José Manuel da Costa Santos
Soldado Municiador João Batista da Costa
Soldado Remuniciador Manuel da Rocha Barreto
Soldado Remuniciador Augusto António Pinela

1ª Secção – 3ª Esquadra
1º Cabo Pedro José Gonçalves
* Louvado pelo comandante da Companhia de Caçadores nº 6, publicado na Ordem de Serviço nº 8 de 25 de Fevereiro de 1968.
Soldado Apontador David Oliveira e Silva
* Louvado pelo comandante da Companhia de Caçadores nº 6, publicado na Ordem de Serviço nº 8 de 25 de Fevereiro de 1968.
Soldado Municiador Artur Moreira da Costa Abrantes
Soldado Remuniciador Abraão Israel da Silva Conceição
Soldado Remuniciador Fernando da Silva Coelho

2ª Secção – Comando
Furriel Miliciano de Artilharia António Rego Simões Pinto
Soldado Estafeta Antero da Silva Pinto
Soldado Condutor Auto Alberto Francisco Lima Tinoco

2ª Secção – 1ª Esquadra
Soldado Apontador Albino Teixeira da Rocha
* Louvado pelo comandante do Batalhão de Artilharia nº 1913, publicado na Ordem de Serviço nº 52 de 1 de Março de 1968.
Soldado Municiador Anastácio Macedo
Soldado Remuniciador Emilio Conduto Carreira
Soldado Remuniciador Joaquim Coelho Morais

2ª Secção – 2ª Esquadra
1º Cabo Manuel Fernando de Sousa
Soldado Apontador António José Alves
* Ferido em combate
Soldado Municiador António Alberto Batista Neves
* Ferido em combate
Soldado Remuniciador Agostinho da Silva e Sousa
* Ferido em combate
Soldado Remuniciador António José Valente

2ª Secção – 3ª Esquadra
Soldado Apontador Manuel Pinto de Oliveira
Soldado Municiador Gabriel Paulino Vicente Peniche
* Louvado pelo comandante do Batalhão de Artilharia nº 1913, publicado na Ordem de Serviço nº 52 de 1 de Março de 1968.
Soldado Remuniciador António Albino Rodrigues Domingues
Soldado Remuniciador José Pereira Barreiro

Extra Quadro Orgânico
Soldado Apontador Abel Gonçalves da Costa
* Integrado no Pelotão em 2 de Novembro de 1967
* Louvado pelo comandante da Companhia de Caçadores nº 6, publicado na Ordem de Serviço nº 8 de 25 de Fevereiro de 1968.

O Pelotão regressou à metrópole em Junho de 1968, finda a sua comissão.

José Marcelino Martins
11 de Abril de 2013


5. Comentário do editor:

Sem entre os nossos leitores houver quem nos possa fornecer elementos que levem a descobrir algum companheiro do nosso camarada Pedro José Gonçalves, ex-1.º Cabo da 1.ª Secção/3.ª Esquadra do Pelotão de Canhões S/R 1154, façam-nos chegar até nós.


Em tempo:
De acordo com comunicação do nosso camarada José Martins, a Unidade a que perteceu o camarada Pedro José Gonçalves é o Pel Canh S/R 1154 e não 1155 como por engano foi indicado.
Carlos Vinhal
13ABR13
____________

Nota do editor:

Último poste da série de 2 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11334: Em busca de ... (220): Pessoal do Hospital Militar de Bissau, do tempo do meu pai, 1º cabo enf Vitorino Dores Pereira, HM 241, 1965/67 (João Rodrigo Pereira)

Guiné 63/74 - P11377: (Ex)citações (218): Sexo em tempo de guerra... e brancos mpelelé no pós-independência (Cherno Baldé / José Teixeira / António Rosinha)



Uma das belíssimas fotos da série temática "A Mulher, menina, bajuda de Bedanda", da autoria do nosso nosso camarada António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 -Bedanda, 1971/73).
Foto: © António Teixeira  (2011). Todos os direitos reservados
1.  Seleção de comentários ao poste P11360 (*)


(i) Cherno Baldé

A sexualidade é, desde sempre, um tema sensível, em particular se tivermos em conta a carga moral ou moralista de cariz cultural ou religioso que o acompanha nas nossas sociedades.

Falando de relações sexuais entre a tropa e as nossas mulheres (locais) que não podem ser confundidas com prostituição, sendo esta uma dimensão distinta dentro do mesmo e grande campo sociológico, a minha opinião é que no decurso da guerra e em função do aumento do numero do contigente militar no TO, da fixação mais prolongada, da diminuição da frequencia das operações e saidas ao mato em determinados sitios, da aclimatização e perda relativa do medo da diferença e do outro, do estranho, etc..etc, terá havido maiores espaços sociais de convivialidade e de aproximação entre as partes que, por sua vez, favoreceram e facilitaram as relações de intimidade.

No caso concreto de Fajonquito, uma tabanca grande para a época que recebera numerosas familias fugidas da guerra a volta e habitada por uma população Fula e Mandinga, coexistiram lado a lado uma espécie de prostituição semi-profissional, protagonizada por algumas mulheres viuvas ou solteiras sem esperanças de voltar a casar, quase sempre de outras etnias não muçulmanas e que, por isso, eram imunes a pressão comunitária local. Mas, também, algumas bajudas Fulas cairam no charme dos jovens brancos e pasmem-se, era por amor, pela curiosidade e gosto da aventura ou simplesmente por violação as vezes consentida e fraqueza pessoal ou humana.

Os casos da prostituição eram bem controlados porque eram feitos por profissionais do sexo que não raras vezes alugavam os serviços de pessoas terceiras dentro de um grande sigilo profissional.

Paradoxalmente, a maior parte dos filhos "mestiços" que resultaram dessas relações fortuitas aconteceu com as nossas bajudas Fulas ainda jovens e inexperientes, quase crianças sem contar com os casos de aborto ou de infanticídio.

Os primeiros casos conhecidos e que resultaram em filhos de carne, osso e cabelos ondulados ou de capim seco, são de meados de 1969, mas a maior parte aconteceu depois de 1970 tempo que coincide com as duas últimas companhias.

Conheci muita bajuda fula ingenua e doidamente apaixonada por soldados metropolitanos, mas infelizmente, parece que não havia recíprocidade de sentimentos. Aos soldados apeteciam-lhes fazer sexo e descarregar suas baterias com as nativas e mais nada, pois a mentalidade colonial de superioridade racial debaixo dos seus camuflados não lhes permitia ter outra forma de ver as coisas e de se relacionar com o nativo, "indígena" logo inferior.

É evidente que hoje, todos nós temos uma forma diferente de ver as coisas e de justificá-las.

(ii) José Teixeira:

Obrigado Cherno pelo ponto de vista que expressas e que é o resultado de uma visão atenta dos acontecimentos in loco.

Tu, melhor que qualquer um de nós podes explicar bem este fenómeno. Creio que na realidade a visão ou concepção de ser "superior" do militar branco só em poucos casos lhe permitia um apaixonamento real, mas da outra parte também se colocavam reservas a meu ver naturais, porquanto um militar branco não ficaria na Guiné, após a passagem à "peluda".

Muitos de nós tínhamos assumido compromissos de namoro, noivado e casamento em Portugal.
No entanto conheci camaradas que se apaixonaram por jovens africanas e não eram correspondidos, pois já estavam prometidas em casamento na maior parte dos casos. Também conheci jovens africanas apaixonadas por camaradas meus.

Eu ainda hoje trago na mente a imagem da minha lavadeira, como a mais linda mulher que conheci, a qual estava prometida a um filho do chefe de tabanca, pelo que se distanciava de nós. Nas vezes que voltei à Guiné, tive a oportunidade e a alegria de me reencontrar e conviver com ela e com o marido
As intimidades partilhadas, eram em muitos casos resultantes de um aproveitamento por parte do militar branco do seu poder económico e o poder das armas, aliados às necessidades hormonais como diz o C. Martins, de uma juventude afastada do seu modus vivendi.

(iii) Cherno Baldé:

A minha visão deste fenómeno em particular não pretende ser completa, nem neutra e muito menos deve ser vista como imparcial, é simplesmente uma opinião de quem (con)viveu a época com as suas naturais limitações de análise, viu e sofreu juntamente com os seus irmãos "mulatos" as difíceis experiências e as mil e uma interrogações sem respostas de crianças que estavam a crescer num mundo que à partida não devia ser deles e eram tratados em conformidade.

Acontece que o fenómeno dos filhos mestiços entre nós não era de todo inédito, pois já os comerciantes lusos, em tempos anteriores, tinham feito filhos num contexto diferente e com comportamentos diferentes.

Os da primeira vaga (comerciantes) eram mais responsáveis e assumiam sempre a sua progenitura, muitos dos quais eram enviados para estudar em colégios na metrópole e não havia problemas de maior.

Os filhos da tropa, abandonados, quase todos, viraram brancos "mpelelé" no período após independência.

As promessas de casamento entre familias eram de facto uma realidade, particularmente no seio dos grupos islamizados, mas também não se pode apresentar nenhum caso em que um soldado "tuga" fosse apresentar-se aos pais de uma bajuda com uma proposta séria de casamento, nenhum.

Posso garantir-vos que a maior parte das mulheres casadas com soldados nativos ou milicias daquela época já estavam prometidas a outras familias ou pessoas, mas sempre que foram colocadas perante factos reais (por força do estatuto militar, capacidade financeira ou decisão firme das filhas e pretendentes), os anciões guineenses souberam sempre decidir pela razão, pela bondade e bom senso que caracteriza a mentalidade primitiva dos africanos da época.

Reconheço e aceito o meu etnocentrismo, obrigado e mais não digo,

PS - E, por sinal, são estes filhos de comerciantes lusos, caboverdianos e sãotomenses que, mais tarde, bem instruídos e conhecedores do mundo e da realidade portuguesa, vão formar a nata da elite politica que vai reivindicar o direito a emancipacao e a independência dos territórios do ultramar.

(iv) Antº Rosinha

Não se deve confundir uma simples queca de um soldado ou de qualquer jovem numa breve passagem (2 anos) pela África colonial, com o fenómeno da mestiçagem luso-africana ou luso-brasileira.

Toda a secular colonização portuguesa foi baseada num ambiente mestiço.

Os últimos anos (13) de guerra do Ultramar colonial, que representam o fim do império, não são representativos do ambiente colonial.

O ambiente mestiço das colónias portuguesas (antes da guerra) era muito respeitável, e foi pena que se extinguiu ou esteja em vias de extinção porque era um modelo digno de ser preservado e imitado.

O PAIGC guineense eliminou esse ambiente mestiço com o 14 de Novembro de 1980.

Penso que se está mantendo e desenvolvendo esse fenómeno em São Tomé, Caboverde e Portugal.

O "bulyling" sobre estudantes mestiços no liceu de Bissau, após o 14 de Novembro era perigoso e muito difícil.

Colega meu sãotomense teve que reenviar os filhos para Portugal, nesses tempos.

Pessoalmente penso que era naquele bem-estar mestiço que sonhavam os fundadores do MPLA. PAIGC e FRELIMO, quando resolveram partir para a independência.

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Nota do editor:


(*) Último poste da série > 8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11360: (Ex)citações (217): Lavadeiras... e favores sexuais na Empada do meu tempo (José Teixeira / Arménio Estorninho, "maiorais" da CCAÇ 2381, 1968/70)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11376: Humor de caserna (33): Estou a deixar voar o meu pensamento (Tony Borié) (6): Fado ou balada?

1. Em mensagem do dia 22 de Março de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador... vale mais uma boa foto do que mil palavras.





Seguindo o ditado que diz: vale mais uma boa foto do que mil palavras,  o Cifra não vai começar com todo aquele blá, blá, blá, que já conhecem, e pedindo antecipadamente desculpas às digníssimas leitoras, que sempre têm a amabilidade de abriram a página do Luís Graça & Camaradas da Guiné, ao Luís Graça, Carlos Vinhal e demais editores, que por certo, estão a ficar “irritados” com todas estas conversas de caserna, hoje vai dirigir-se directa e somente aos amigos antigos combatentes, porque foram guerreiros, estiveram lá, no fogo, nos tiros, seguraram a G-3, coisas que as novas gerações só vêm nos filmes e nos jogos de computador.

Como se explicou no princípio, vale mais uma boa foto do que mil palavras, portanto vamos primeiro “falar mentira”, que é todo aquele blá, blá, blá, onde diz que, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão dizer, com toda a certeza:
- I’m not sure if this is a fate or a ballad!

No mundo onde se fala francês, dizem:
- Je ne suis pas sûr si c’est un sort ou une ballade!

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Ich bin mir nicht sicher, ob dies ein Schicksal oder eine Ballade ist!

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- No estoy seguro si esto es una suerte o una balada!

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:


Perceberam? Não? Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu, pois tem alguma dificuldade em pronunciar, os pontos e as vírgulas!.

E nós portugueses, dizemos:
- Não sei bem se isso é um fado ou uma balada.

Sim é verdade, o Cifra também não, mas estes jovens, que se mostra na foto em baixo, possívelmente estão envolvidos em qualquer conflito, ou talvez não, será talvez um concerto de rua, como aqueles se se vêm nas grandes cidades, mas com a diferença é que este conjunto musical, o seu acompanhamento é o som de tiros que pode ser rajada, ou simples tiro a tiro!


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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 21 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11290: Humor de caserna (32): Estou a deixar voar o meu pensamento (Tony Borié) (5): A Família Mauser K98 (2)

Guiné 63/74 - P11375: Convívios (513): 15º Almoço/Convívio da CCAV 2748/BCAV, 41º ano da saída das tabancas CANQUELIFÁ / DUNANE, dia 25 de Maio em Caldas da Rainha (Francisco Palma)


1. O nosso Camarada Francisco Palma (, ex-Sol Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72, )   mandou-nos em 31 de março a seguinte mensagem:


Estimados Camaradas e Amigos
Luis Graça e Carlos Vinhal

Primeiro que tudo votos de Boa Saude e de Feliz Páscoa , extensivo a toda a família combatente .

Venho mais uma vez solicitar a divulgação no nosso Blogue  do evento do Convívio que anexo,  em que vamos celebrar os 41 Anos do regresso da nossa CCAV 2748, vinda de Canquelifá, no decorrer das Campanhas do TO da Guine onde esteve de Julho 1970 a Junho 1972.

Apesar dos tempos difíceis da crise económica que correm o Mundo , creio que são estes convívios e lembranças das dificuldades passadas que em conjunto nos ajudam a levantar um pouco a moral , e aliviar a depressão que vem entristecendo o aproximar da velhice dos combatentes daquelas Campanhas de Guerra. Pelo venho pedir, a todos que se queiram juntar a nós,   que  o façam pois serão bem vindos.


Um bem hajam e forte abraço a todos

Francisco A. Palma
Conductor Auto Rodas
Canquelifá CCAV 2748- 1970/72



15º ALMOÇO CONVÍVIO DA COMPANHIA CAVALARIA 2748

41º ANO DA SAIDA DAS TABANCAS CANQUELIFÁ / DUNANE


25 MAIO 2013

Estimados Camaradas e amigos,  mais um ano se passou e aqui estamos para solicitar a vossa IMPRESCINDÍVEL comparência neste 15º Convívio dos ex-Combatentes da CCAV 2748.

Já se passaram quase 43 ANOS que embarcámos e 41 que regressámos da GUINÉ.

OPERAÇÃO E PROGRAMA DESTA CONCENTRAÇÃO

12h00 - Concentração no Parque estacionamento do Restaurante,

RESTAURANTE O CORTIÇO = Estrada Nacional nº 89 
TORNADA, 
CALDAS DA RAINHA

13h00 - Almoço

EMENTA:

ENTRADAS: Salgadinhos, pasteis de Bacalhau, Douradinhos e Rissóis,
COUVERT: Pão, Manteiga e Azeitonas
QUENTES: Sopa de Peixe ou Sopa de Legumes
PEIXE: Bacalhau á Cortiço

CARNE: Cabrito Assado no Forno c/ guarnição
SOBREMESA: Semi - Frio ou Salada de Frutas
BEBIDAS: Vermute, Aguas, Sumos, vinhos Verde, Branco e Tinto, Porto, Whisky, Brandy e Café,
Bolo Comemorativo e espumante estão incluídos

PREÇO ADULTO = 16,50 Euros- Crianças dos 4 aos 10 pagam 50%, de 1 a 3 anos não Pagam.

Os interessados devem confirmar a reserva por carta ou para e-mail acima mencionados, ou telefones abaixo.

PAGAMENTO POR MULTIBANCO - NIB: 003300004531255507205
ou TRANSFERÊNCIA PARA A CONTA MILLENNIUM bcp Nº: 45312555072
(Agência de S. João do Estoril).

NOTA: O Restaurante exige uma confirmação do número de participantes até 2 dias antes
Apesar da crise,  e tendo em conta que cada vez somos menos, queremos juntar o máximo de Camaradas da CCAV 2748 esteja presente neste Almoço já que se celebram 41 anos no dia 28 de Maio, que a CCAV 2748 saiu de Canquelifá para o Comuré (Bissau) para o regresso.

NÂO FALTES!

Os organizadores:

Francisco Palma Tlm 919457954, e-mail: fapalmaster@gmail.com
Luís Encarnação Tlm 914483184, e-mail : luis.encarnacao@hotmail.com
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11371: Convívios (512): XXVI Encontro do pessoal da CCAÇ 2382, dia 4 de Maio de 2013 em Vila de Rei e XX Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2912, dia 1 de Junho de 2013 em Esposende (José Manuel Cancela / António Tavares)

Guiné 63/74 - P11374: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (2): Respostas de José Ferraz (EUA), Tony Borié (EUA), Eduardo Estrela e Manuel Reis

1. Continuação da publicação das respostas ao "questionário aos leitores" do blogue (*),l no âmbito das comemorações do nosso 9º aniversário. Aqui fica, a seguir,  o guião com as "15 perguntinhas ao leitor" que foram enviadas a todo o pessoal que se senta debaixo do poilão da Tabanca Grande.  A mensagem, por nós enviada, sempre em BCC (como manda as boas regras de segurança na Net), foi devolvida nos seguintes (por desatualização do endereço de email): Henrique Castro, Joaquim Fernandes, José Belo, Nuno Rubim, Ricardo Figueiredo, Rogério Ferreira e Sérgio Pereira.


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer

Obrigado pela tua resposta, que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça.






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Meninos no banho... Foto do álbum do Arlindo T. Roda ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb da CCAÇ 12.

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados.



2.4. José Ferraz  [de Carvalho]ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70)]

(1/2) Se bem me lembro descobri o "nosso" blogue por acidente quando, navegando a Internet sobre assuntos relacionados com a guerra colonial, acabei convosco, desde ai visito-o diariamente porque me ajuda a desenferrujar as armadilhas da minha mente.

(3) Sou a membro 527 (salvo erro), tendo "assentado praça" na Tabanca Grande em Novembro de 2011.
(4) Visito o blogue diariamente.

(5) Infelizmente através de todos estes anos, nas minhas andanças pelos "States",  perdi todas as recordações que tinha do meu tempo na Guiné.

(6) Conheço a página no Facebook mas não a utilizo.

(7) Blogue,  maiormente.

(8/9) Nã posso responder por falta de opinião sobre a página no Facebook. No blogue o que gosto mais e ler as impressõees dos demais camaradas quer concorde ou discorde delas, porque como me dizia um professor de filosofia: "A troca de impressões entre pessoas de diversas idades e diversos pontos de vista eé intelectualmente um estimulante". O que lamento no blogue é a pontificação de alguns dos autores nos seus postes que o utilizam para dissertar em assuntos que não têm nada que ver com o espírito e palavra do blogue. Por vezes não posso evitar pensar que alguns participantes aparentemente esgotaram as suas memórias sobre o que é pertinente para o espirito deste e escrevem postes que a meu ver são supérfulos e como tal perdem valor nesta tribuna.

(10) Até hoje nunca tive dificuldade em entrar no blogue.

(11) O blogue representa para mim essencialmente uma viagem espiritual através da minha vida e como certos efeitos impactarão o que me considero ser hoje, bem ou mal e uma conclusão muito pessoal.

(12/13) Infelizmente com com muita pena pessoal nunca tive a oportunidade de assistir a nenhum dos encontros da Tabanca.

(14) Como tudo na vida eventualmente o blogue perderá a sua, por mil e uma justificações, mas até lá, força e para a frente. Com certa audácia,  se me é permitido comentar nesta pergunta o mero facto que é proposta,  poderá ser um sinal do inevitável princípio do fim. O que me dará muitíssima pena.

(15) Sugestões serão como fazer ver a audiência do blogue a importância de relacionarem os seus postes com o tema da nossa presença na Guiné e não em outros temas, de modo a que as novas geraçõees deixem de cometer os mesmos erros da nossa. Como diz George Santyanna, " aqueles que se esquecem dos erros cometidas no passado serão obrigados a repeti-los no futuro"

2.5. Tony Borié [ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66),

(1) Quando é que descobri o blogue ? Talvez há ano e meio.

(2) Como e através de quem ?  Pesquisando no Google sobre coisas da Guiné.

(3) Sou membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) há talvez um ano.

(4)  Visito o blogue  diriamente, mesmo em viagem.

(5)  Tenho mandado material para o blogue , e está tudo OK comigo.

(6/7) Não, não conheço a nossa página no Facebook.

 (8) O que gosto mais do Blogue...são as istórias passadas por antigos combatentes, contando a vida que levaram em zona de guerra.

(9) O que gosto menos do Blogue... Fotos mostrando guerrilheiros ou militares feridos ou mortos em combate.

(10) Não tenho dificuldades em aceder ao blogue.

(11) Para mim, o blogue representa preciosa informação, lembrando factos verdadeiros.

(12/13)  Nunca participei em anteriores encontros, e como estou um pouco distante, talvez não seja possível ir, mas continuo na expectativa.

(14)  Com certeza que sim, por muitos e longos anos, os meus netos, ainda vão escrever no blogue.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários: Delegações do blogue nos cinco continentes, mostrando histórias e factos de descendentes de antigos combatentes da Guiné, que agora servem as forças armadas de outros países, e em outros continentes.


2.6. Eduardo Estrela [ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

Amigo, companheiro e camarada Luís Graça!

Há alguns anos atrás sentei-me ao computador e coloquei CCaç 14 no Google. Foi dessa forma que descobri o Blogue.

Sou efectivamente membro da Tabanca Grande desde o início de 2012.

Duas a três vezes por mês vou ao Blogue e, verdade se diga, gostava de participar com mais frequência. Não o faço porque o computador é de secretária, está em Faro e nos últimos tempos tenho estado entretido a conviver com a natureza, em Cacela, onde a minha mulher tem uma casa velha que herdou da avó. 
Não tenho Facebook, pelo que é no Blogue que contacto com os textos dos meus camaradas de infortúnio.

Claro que o Blogue tem garra e força anímica para continuar, até porque há,  pela certa, [ainda]muitas histórias para serem contadas.

Ultimamente tenho notado alguma lentidão no acesso ao Blogue.

Em ti personifico o abraço a todos os companheiros da luta que travámos e que continuamos a travar, nesta sociedade cada vez mais esquecida das palavras que são ou deveriam ser a essência da convivência humana. Solidariedade, Amizade, Respeito, Fraternidade e Amor.


2.7. Manuel [Augusto] Reis  [, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]

Julgo ter descoberto o Blogue em 2006 ou 2008, não consigo precisar.Tive conhecimento através do Coronel Coutinho e Lima que referiu que ele e a CCAV 8350 estavam a ser alvo de críticas contundentes, sem correspondência com a realidade ocorrida.

Sou membro da Tabanca Grande desde o momento em que tive conhecimento da sua existência.

Procuro visitar a página diariamente, muitas vezes só para verificar se é dia de aniversário de algum camarada e felicitá-lo pelo evento. O tempo nem sempre dá para mais.

A ida ao Facebook é idêntica à ida ao Blogue, em termos de tempo de intervenção/ocupação.

Gostaria de ser mais interveniente no Blogue, mas neste momento evito a controvérsia e a abordagem de assuntos melindrosos,  estão fora de hipótese. Em dois anos de guerra, no contexto em que foi vivida, obrigaram-me a ter contactos com imensos camaradas, em diversos locais, enriquecendo-me em termos de conhecimento sobre o evoluir, quase diário, da guerra na Guiné. Agora limito-me a emitir alguns comentários.

As vivências dos camaradas, quer em situação de guerra, quer em ocorrências de diversão e o aparecimento de vários camaradas, cuja localização desconhecia, prendem a minha curiosidade. No Facebook limito-me a emitir a minha opinião sobre algum assunto que considere interessante e oportuno.

Não sinto qualquer dificuldade em aceder ao Blogue, neste portátil, mas já me apercebi que em alguns portáteis isso não é fácil.

O que mais me desagrada no Blogue são as discussões estéreis, por vezes insultuosas, sem argumentação consistente, utilizando uma linguagem agressiva, sem respeito por camaradas que também vivenciaram a guerra. A discussão podia fazer-se a outro nível, sem perda de qualidade. Nem sempre fui um exemplo daquilo que refiro, também ia na onda, principalmente nas minhas primeiras intervenções. Aprendi com o tempo a gerir este tipo de situações e a moderar as minhas intervenções.

Só por impossibilidade, como vai suceder este ano, é que não estive presente no convívio da Tabanca Grande. Lamento o facto, porque é uma boa oportunidade para encontrarmos camaradas que só de ano a ano vemos.

A nossa página no Facebook é uma óptima divulgação da existência de uma guerra, que muitas gerações desconhecem, em muitos países. Ocorre-me a intervenção de um cidadão brasileiro, escandalizado pelo seu desconhecimento da guerra colonial.

O Blogue, com o esgotar de muitos temas, perdeu um pouco de fôlego, mas continua com pernas para andar, enquanto a equipa editorial se mostrar empenhada.

Um abraço para toda a equipa do Blogue de modo especial para o Luís e o Carlos.

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Guiné 63/74 - P11373: Blogpoesia (332): Guiné... Voltarei lá um dia? (Magalhães Ribeiro)




Guiné-Bissau > Cumeré > Antigo quartel > Parada > 11/1/2012 > "Visita relâmpago, com uns amigos, da parte da manhã, ao quartel do Cumeré com passagem por Nhacra, onde fomos muito bem recebidos pelo senhor comandante que nos mostrou a unidade e que me autorizou a tirar algumas fotografias. O Cumeré é um local conhecido de muitos camaradas nossos, porque era ali que geralmente o senhor general Spínola dava as boas vindas às tropas que chegavam à Guiné e fazia as suas habituais exortações patrióticas! Da parte da tarde foram feitas as despedidas, arrumar a mala, descansar um pouco, porque o voo de regresso saiu de Bissau pelas 02h30 da madrugada, aterrando em Lisboa cerca das 06h30 do dia 12 de Janeiro". Foto (e legenda) do nosso camarada José Francisco Robalo Borrego, ten cor ref que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 (BAC 7) de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72),

Foto (e legenda): © José Francisco Robalo Borrego (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

Cancioneiro de Mansoa: Guiné, do Cumeré a Brá (*)


por Eduardo Magalhães Ribeiro,
fur mil op esp, 
CCS/BCAÇ  4612/74
(Mansoa, 1974)


Cartoon: © Mário Miguéis da Silva (2010). 

Todos os direitos reservados







Os perigos eram muitos mas… lá os íamos dobrando…
O maior inimigo era o tempo... interminável...
Cada dia parecia-nos um longo ano bissexto…
Mas o pior, eram as saudades, algo inenarrável .



O avião aterra lentamente,
Lá fora vejo... uma tabanca?
Não!, aquilo, ali, era Bissau,
O aeroporto de Bissalanca!

Desci os degraus e olhei em volta,
Terra estranha de tom encarnado,
Paisagem monótona e agreste,
Céu cinzento, todo enevoado.

O ar quente e muito húmido
Estava sereno e agradável,
Era julho de setenta e quatro,
O ambiente turvo, insondável.

Embarcamos rumo ao Cumeré
Numa coluna de viaturas,
E, pelo caminho, tudo igual!
Diferentes, só as criaturas…

Pretos e pretas com o peito ao léu,
Trouxas à cabeça e filhos em redor;
Aqui, e além, malta fardada
Ao longe, o rufar de um tambor.

Encravado na ruidosa Berliet,
Observei curioso aquela terra
E imaginei os sacrifícios
Daqueles onze anos de guerra.

Os múltiplos cursos de água,
A vegetação densa e rasteira,
E a bolanha, negra e insalubre!
Qual deles a maior ratoeira?

Futa-fulas, balantas, mandingas…
Como diferenciar o inimigo?
Papéis, futas, manjacos, bijagós…
Serão os fulas, o maior perigo?


Mas se confusas eram as etnias,
Maior era a divisão com as religiões
E, assim, uns milhares de negros
Pareciam-me demasiados milhões.

Animistas, muçulmanos e cristãos,
Dos quais alguns eram senegaleses;
Pelo meio, muitos cabo-verdianos,
Além de sírios e libaneses!

Os abutres a esvoaçar por cima,
Os mosquitos na pele a picar, e…
Os répteis por ali à nossa volta,
Não aliviavam o mal-estar.

As temíveis doenças tropicais,
O paludismo tão debilitante,
As disenterias e as hepatites,
Qual delas a mais fulminante?

Enfim, surge um aglomerado
De pavilhões pré-fabricados,
Cumeré, dizia uma placa,
Havia mato por todos os lados.

Após alojado e alimentado,
Acerquei-me da cerca de arame
E, pelo que vi, constatei arrepiado:
Isto aqui era o nosso Vietname.

Dei umas voltas pelas tabancas
Naqueles dias de aclimatação,
Os velhinhos gozavam e diziam:
- Viv’à liberdade de circulação!

E, continuavam com as bocas:
- Ó periquitos, que por aí andais.
Aí fora, há umas semanas atrás,
O turra comia-vos, tal com’estais!


Aqueles velhinhos enrugados,
Tez enegrecida e voz de bagaço,
De idade, vinte e poucos anos,
Pareciam talhados de puro aço.

Um dia, novo destino: Mansoa!
Era a hora de rendermos o Batalhão.
Depois... entregar tudo ao PAIGC,
Foi a nossa derradeira missão!

Sacos às costas, novo local: Brá!
Pr’ó Batalhão de Engenharia,
Lá se passaram mais uns dias, e…
O regresso, breve,  acontecia.

Já a bordo do Uíge medito:

África atrai de modo anormal.
Aventura?... Novos horizontes?…
Julguei que, saudades, só de Portugal!


O povo, os seus costumes, a terra ?
A mística atracção africana?
Tanto se fala dela, ninguém a vê!
Descrevê-la? Talvez p’ra semana!

Caramba! Mas se era assim tão mau!

Para quê, falar tanto, naquela Guiné?
Porquê saudades?... Voltarei ali um dia?!
Doença, tara... ou que raio isto é?!


[Fixação de texto: L.G.: O autor, MR, escreve segundo a ortografia antiga]

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Notas do editor:

(*) Capa dos Cadernos do Magalhães Ribeiro, o "ranger" mais conhecido da Guiné... O nosso querido "pira de Mansoa"... E nosso coeditor...

Pode ler-se: (i): Em Lamego... ser ranger; (ii) Em Tomar... participar no 25 de Abril; (iii) Em Mansoa, Guiné... arriar a última Bandeira.

Foto: © Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados.


Nestes cadernos, de 47 páginas, onde o Eduardo conta, em verso, as peripécias da sua atribulada vida militar. Foram já publicados na I Série do nosso Blogue, sob a série Cancioneiro de Mansoa, por analogia com o Cancioneiro do Niassa.  

Destes versos singelos, em jeito de romance popular, se pode dizer, em traços breves, que estão  imbuídos da ideologia ou da mística ranger, não são uma obra colectiva, são escritos por um dos últimos guerreiros do Império e, para mais, ao longo dos anos que se sucederam ao 25 de Abril de 1974 em que o autor também participou...  

Enfim, são versos ditados pela nostalgia do império perdido e pela afirmação do valor e do patriotismo do soldado português,  mas também exaltam os valores da camaradagem que cultivámos no TO da Guiné e que procuramos cultivar no nosso blogue. Daí também fazer sentido reeditar alguns destes versos, já esquecidos,  no contexto das comemorações do 9º aniversário do nosso blogue.  O Eduardo, de resto, merece. E é de lembrar que ele ainda está no ativo, na EDP, calcorreando as barragens deste país, de norte a sul...

(**) Último poste da série > 31 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11332: Blogpoesia (332): Santa Páscoa (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P11372: Parabéns a você (561): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil do BCAÇ 2885 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo do BCAÇ 4512/72 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor:

Último poste da série de 9 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11362: Parabéns a você (560): Jorge Canhão, ex-Fur Mil do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Ten Pilav (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11371: Convívios (512): XXVI Encontro do pessoal da CCAÇ 2382, dia 4 de Maio de 2013 em Vila de Rei e XX Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2912, dia 1 de Junho de 2013 em Esposende (José Manuel Cancela / António Tavares)



A pedido do nosso camarada José Manuel Cancela (ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) estamos a dar conhecimento do XXVI Encontro/Convívio do pessoal da sua Unidade no dia 4 de Maio de 2013 em Vila de Rei, conforme programa abaixo:





************

 

2. A pedido do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), estamos a dar notícia do XX Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no dia 1 de Junho de 2013 em Esposende conforme Convite abaixo.





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Nota do editor:

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11354: Convívios (511): Divulgação do Almoço/Convívio da CCAV 1483, 1965/1967, dia 25 de Maio de 2013, em Palmela (Albino Santos)

Guiné 63/74 - P11370: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (1): As primeiras respostas: José Colaço, Jorge Teixeira (Portojo) e Mário Pinto



Crachá da nossa Tabanca Grande... Infografia: © Miguel Pessoa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2013)


1. Dirigimos anteontem, dia 9, através do correio interno da Tabanca Grande, um pedido que é também desafio aos nossos amigos e camaradas: a resposta a algumas questões sobre o nosso blogue, que vai fazer 9 anos de existência, em 23 deste mês. Responder é uma forma (bonita e motivadora, para nós, editores e colaboradores) de associar os nossos grã-tabanqueiros às... "comemorações". Aqui vão as perguntinhas... (O questionário também pode ser respondido pelos  amigos e camaradas que nos leem mas que não estão formalmente registados na Tabanca Grande.

15 perguntinhas ao leitor:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer

Obrigado pela tua resposta,. que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça


2. Publicamos as primeiras respostas que nos chegaram


2.1. José Colaço [, ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]

Caro amigo Luís Graça.

Modéstia à parte vou tentar dar o meu contributo porque tu, o Carlos e agora o Eduardo sem esquecer o nosso (jubilado) Briote merecem tudo o que lhes possa dispensar em atenção e posto isto passamos ao questionário.

(i) Em 2008.

(2) Como a Guiné tem sido fértil em noticias desde os anos em que nós saímos de lá,  primeiro devido à guerra,  depois com os assassínios sem culpa formada, a seguir os golpes de estado e como há sempre qualquer coisa que fica e vai daí o meu interesse comecei a pesquisar no Google frases com a palavra Guiné e quando dei por mim estava a ler o blogueforanadaevaotres do Luís Graça.

 (3) Desde 1 de Junho de 2008.

 (4) Quando não estou impedido por motivos de força maior,  diariamente e por vezes mais que uma vez.

(5) Ultimamente tenho ficado mais pelo pequeno comentário e assim comunico que vou teimando em estar vivo.

(6) Sim [, também conheço a página do Facebook].

(7) Não. Vou muito mais vezes ao blogue.

(8) Do blogue,  as histórias vividas que os camaradas contam por exemplo a tragédia no rio Corubal, a retirada de Guileje e tantas mais que se não fosse o que os nossos camaradas escreveram e o blogue publicou nunca fariam parte dos nossos conhecimentos porque seriam enterradas, cremadas com o seu narrador. Do Facebook,  visito-o porque é um espaço onde o pessoal dá largas à sua imaginação mas para mim quanto a crédito fica a milhas do blogue.

(9) No blogue: Dos ataques verbais por vezes um pouco agressivos, no que ultimamente se tem notado uma grande sensibilidade para melhor em toda a tertúlia. No facebook é mais público e como nunca fui de me exibir (passe a expressão) daí a razão da minha simpatia pelo blogue.

 (10) Não, [não tenho sentido dificuldades d aceder ao blogue]

 (11) O blogue para mim foi aquela lufada de ar fresco sobre aqueles anos desde 1963 até aos dias de hoje. A página do Facebook é mais um espaço de diversão.

(12/13)  A resposta a esta questão,  uma vez que me é difícil responder,  fica para encerrar o questionário.

(14)  Acho. Sei que enquanto esses dois timoneiros,  tu e o Carlos,  se mantiverem ao leme da piroga o blogue continuará por tempo indeterminado.

(15) Outras criticas, sugestões, comentários:

Se já participei ? Não. Se estou a pensar ir ? Não. Com estes dois nãos,  que razão me assiste para fazer criticas, sugestões ou comentários?!

2.2. Jorge Teixeira (Portojo)  [ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70]
(1) Nan Net, já não me lembro onde enconteri a referência

(2) Não me responderam na primeira inscriç~
ao. Talvez um ano depois, o amigo Victor Condeço falçou-me dele e contei-lhe a história. A partir daí ele meteu a cunha e entrei de serviço.

(3) Não me lem,bro. Talvez há uns 6 anos.

(4) [Visito o blogue] de tempos a tempos.

(5) Ultimamente não tenho mandado nada a não ser uns comentários de vez em quando.

(6) [A nossa página no Facebook] descobri-a há dias.

 (7) [Vou mais vezes ao] blogue

(8) [O que gosto mais do Blogue:] De histórias bem contadas. Isto é, pdoem ser romanceadas, tipo Zé Ferreira, mas não com mentiras como algumas que li.  E do Facebook ?

(9) [O que gosto menos do Blogue:] Mentiras e histórias mal contadas.

(10) [Dificuldades no acesso:] DE vez em quando.

(11)  O blogue representou coisas boas, até reencontrar amigos e conhecer outros. Isso foi o mais importante.

(12/13) Não. E não penso ir a esse [o VIII Encontro nacuional].

(14) Claro [, que o blogue ainda têm fôlego... para continuar]

(15) Outras críticas, sugestões, comentários:  Nenhumas.

2.3. Mário [Gualter Rodrigues]  Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519,  "Os Morcegos de Mampatá"(Buba, Aldeia Formosa eMampatá - 1969/71)]

Caro Luís Graça

Dentro das possibilidades vou tentar responder o mais correcto possível ao teu questionário.


(1)  Descobri o Blogue há cerca de 3 anos e picos......

(2) Através de pesquisa, aquando das declarações controversas do General Almeida Bruno, escrevi um comentário e ainda não era membro depois fui convidado pelo nosso editor Magalhães Ribeiro.

(3)  Creio que desde Outubro de 2009.

(4) Já houve tempos que via diariamente e ás vezes que uma vez, agora vejo dia sim dia não.......

(5) Atualmente creio ter esgotado todo o material que tinha para postar no Blogue pois já lá vão 40 e tal histórias.

(6) Conheço bem [o Facebook,]  vou lá regularmente.

(7) Exacto, estou muitas horas ligado á Net e como tenho várias páginas no Facebook é natural que vá lá mais vezes do que à  página da Tabanca Grande........

(8)  Creio ser comum a todos, são as histórias e fotos do nosso tempo na Guiné e [é bom] recordá-las,  ás vezes com saudade.

(9) Comentários despropositados, artigos sem interesse objectivo que nada tem a ver com a Guiné e que ultimamente tem sido muito comum no Blogue.

(10) [Acesso:] Não, tem sido tudo dentro da normalidade

(11) Representa a amizade e a irmandade que só quem esteve na Guiné conhece.

(12) Já, participei em 2011 no VI encontro em Monte Real.

(13) Ainda não decidi,  está pendente do calendário de eventos que tenho para fazer que só sai no fim de Abril, princípios de Maio.

(14) Na minha modesta opinião, tem necessidade de novos camaradas que tragam novas histórias e temas de modo a despertar o pessoal da apatia existente.

(15) Caro Luís, quem sou eu para criticar o Blogue!...

Guiné 63/74 - P11369: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (11): Poema

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima primeira "Carta de Amor e Guerra". 


CARTAS DE AMOR E GUERRA

11 - POEMA

Não tenho a mínima ideia de ter feito este “NÓS”, a que chamei poema livre, até porque vejo nele alguma qualidade e beleza.
É que a minha expressão poética nunca passou da “cepa torta”. Adoro poesia mas não sou poeta no sentido de a criar.

Na carta para a namorada, ter-me-ia “armado ao pingarelho” escrevendo “Sou eu o autor”?
Não sei, talvez me tivesse expressado mal, talvez quisesse dizer que era o autor, sim, mas daquela compilação de diversas expressões literárias e da sua ordenação em jeito de poema. Vou mais por aqui.

Já naquela altura conhecia bem o método de fazer este tipo de composições “poéticas”, tinha tido formação nesse sentido e já me tinha servido dela, com algum sucesso, na iniciação à expressão poética dos meus alunos. E tenho uma vaga ideia de experimentar fazer o mesmo com os camaradas de quarto, em Bissorã.

É um método simples. Escolhe-se um tema e pede-se a cada aluno da turma que crie, livremente, uma curta frase ou expressão sobre esse tema. Depois analisam-se as diversas frases/expressões, retiram-se palavras supérfluas, escolhem-se e ordenam-se as ideias expressas transformadas em versos e faz-se assim um “poema”. É, neste caso, um trabalho colectivo de composição escrita e do qual não é raro saírem coisas lindas. Creio mesmo que em muitos dos meus alunos se instalou, assim, o bichinho do gosto pela poesia.


Bissorã, 7DEZ65

Um quarto de militares tem uma decoração “sui generis”: [fotos de] mulheres mais ou menos despidas, quadros pictóricos, frases célebres ou com um sentido mais ou menos relacionado com as actividades dos ocupantes. A decoração do meu quarto (meu e de mais três moços) tem um cunho intelectual que o torna um pouco diferente. No desejo de te dar a conhecer o ambiente em que vivo, vou transcrever-te o que, em grande plano, domina a decoração das paredes do quarto. Sou eu o autor. Aqui está, minha querida, o poema livre “NÓS”:

Igual pobreza duma vida limitada
Onde as palavras são o reflexo
E as lágrimas também
Da força perdida
Da força sonhada
O medo e a coragem de viver e de morrer
A morte tão difícil e tão fácil
Homens para quem a vida foi cantada
Homens para quem a vida foi negada
Homens reais para quem o desespero
Alimenta o fogo devorador da esperança.

Saudosamente, o abraço de sempre com todo o Amor do teu
M.

Cipriano Oquiniame: “Caos em Guiné-Bissau” 
Retirado, com a devida vénia, de “Artistas plásticos, pintores e escultores da Guiné-Bissau” em www.didinho.org
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Nota do editor:

Último poste da série de 20 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11282: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (10): À volta de uma fotografia

Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 8 de Abril de 2013 a propósito do seu aniversário festejado no passado dia 6:

Pois, não estamos a ficar mais novos!

Ontem, passada a “ressaca” do aniversário, pensava cá comigo que a vida tem coisas engraçadas.
Quando somos novos, assim no tempo de crianças e adolescentes, valorizamos muito os amigos, é até o tempo da afirmação dos “melhores amigos”, confidentes, com quem trocamos as nossas confidências mais intimas, sobretudo no campo das namoradas, etc., etc.

Depois vivemos um tempo em que os amigos são importantes mas já não ocupam tanto o nosso pensamento. Vivemos o tempo de afirmação como homens, a família, o trabalho, etc., vão-nos ocupando. Não nos fazem esquecer os amigos, mas colocam-nos, digamos assim, mais longe do nosso dia-a-dia, das nossas prioridades.

E depois chegamos aos tais 60 e daí para a frente!
Regressam então em força as amizades, os grandes amigos, aqueles com quem vamos estando cada vez mais e com quem voltamos a confidenciar a nossa vida.

Então para nós, combatentes, esta “verdade” que acima refiro torna-se uma realidade bem presente, e para confirmar isso mesmo, basta ver a quantidade de razões e argumentos que arranjamos para nos juntarmos, abraçarmos e trocarmos experiências, às vezes retidas até à exaustão, mas que ouvimos como se fosse a primeira vez, para que a seguir possamos também contar a nossa história, porque somos os melhores ouvintes das nossas histórias da guerra, até porque os outros apenas as querem ouvir para delas se servirem, em livros, jornais e até com fins políticos.

Monte Real, Abril de 2013 > Joaquim Mexia Alves com alguns camaradas do Pel Caç Nat 52 (?)
Foto de Rui Silva

E agora não parava de escrever, e isto ia tornar-se chato e pouco legível!

Por isso, toda esta lenga-lenga, (que para mim é verdadeira), serve para vos agradecer as mensagens de parabéns, mas sobretudo a amizade que me quiseram demonstrar no dia dos meus 64 anos.

Obrigado!
Tenho-vos a todos no coração, acreditem!

Um grande e amigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alferes Miliciano de Operações Especiais, da CART 3492, do Pel Caç Nat 52, da CCaç 15, isto apenas porque o Carlos Vinhal me quis reduzir à minha mais ínfima expressão “guerreira” … eheheh
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11341: Blogoterapia (225): Agradecimento à tertúlia deste grande Blogue (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11367: Agenda cultural (259): Lançamento do livro "Grades de papel: Caxias 1975, condomínio fechado", de Joaquim Evónio de Vasconcelos (1938-2012) e Manuel Amaro Bernardo, dia 17, 4ª feira, às 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa



1. Mensagem do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo, com data de 2 do corrente:

Agradeço, se possível, a postagem do convite para a sessão de lançamento do livro, escrito,  em co-autoria,  com o ex-capitão DFA Joaquim Evónio de Vasconcelos, [Funchal, 1938-Lisboa, 2012], que fez duas comissões na Guiné [, como cap Inf da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69), ].

Título do livro:
Grades de papel: Caxias 1975, condomínio fechado. 
Autores: Joaquim Evónio de Vasconcelos  e Manuel Amaro Bernardo,
Editora: Versbrava, Porto, 2013

Apresentação do gen Loureiro dos Santos.
Data e local da sessão: 17 de abril, 4ª feira, 17h00, Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa
Largo São Domingos 11, 1150-320 Lisboa
Telefone:213 241 470
Transportes públicos: Rossio

Ob. Ab
Manuel Bernardo
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Guiné 63/74 - P11366: Agenda cultural (258): Tertúlia Fim do Império no Porto: 5ª feira, dia 11 de abril, às 16h, na Messe da Batalha: apresentação do romance "As hienas também choram" (Papiro Editora, 2006), de João Carlos Sarabando, ex-alf mil em Moçambique (1972/74), e hoje arquiteto




1. Através do nosso coeditor Magalhães Ribeiro, recebemos este convite e pedido de divulgação, remetido  pelo nosso camarada de armas e escritor Manuel Barão da Cunha, animador da Tertúlia Fim do Império:

Assunto - Tertúlia

Caros camaradas e amigos da Tabanca e outros, espero que estejais bem e possais participar no próximo e 6.º encontro da nossa tertúlia «Fim do Império», na Invicta, desta vez sobre o livro do arquitecto João Carlos Sarabando, ex-alferes miliciano ["As hienas também choram", Porto: Papiro Editora, 2006, romance, 456 pp].(*)

Será dia 11, 5ª feira, na Messe da Batalha, com início às 16h00, presidido, como habitualmente, pelo nosso general Luís Medeiros, oriundo de Cavalaria.


A vossa presença é importante. Quem puder traga um amigo, serão bem-vindos. Desta vez espero também poder participar. Aliás nas 64 sessões até agora realizadas em vários locais de Portugal, só falhei uma.


Abraços de M. Barão da Cunha, coordenador em regime de voluntariado. (**)
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Notas do editor

(*) Sinopse da editora: "O livro ficciona as vivências de um punhado de soldados que entre 1972 e 1974 participou na guerra colonial, no Norte de Moçambique. Numa linguagem crua, quase de caserna, e sempre na perspectiva do homem ainda em formação e do soldado miliciano carne para canhão regista um universo de histórias/contradições/conflitos, quase sempre marginais à história."

terça-feira, 9 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11365: Tabanca Grande (392): Camaradas da CCAÇ 14: António Bartolomeu (Contuboel, Aldeia Formosa e Cuntima, 1969/71) e Eduardo Estrela (Bolama e Cuntima, 1969/71)




Guiné > Região do Oio > Cuntima > Outubro de 1970, com a macaca Xica  ao colo

1. Mensagem de Eduardo Francisco da Cruz Estrela, nosso grã-tabanqueiro desde 29/2/2012 (*)

De: Eduardo Francisco da Cruz Estrela

Data: 19 de Fevereiro de 2013, 18:44

Luis!

Localizei a mensagem de 6 de Março de 2012, onde enviava as duas fotos que me tinhas pedido. Há momentos mandei uma e agora repito o envio de 2012, de modo a que publiques a outra fotografia.

Um abraço, 

Eduardo Estrela
(ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71) (*)
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Eduardo Estrela Date: Tue, 6 Mar 2012 13:13:49 -0100
Luis!

Em anexo remeto duas fotos conforme pedido feito. Uma actual e outra tirada em Outubro de 1970 em Cuntima, tendo ao colo a Xica

Um grande abraço
Eduardo Estrela

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2. Comentário de L.G.:

Camarada Eduardo, afinal  já tínhamos as fotos. A duplicação, às vezes, não tem mal. A tua mensagem acaba por ser um ensejo para a gente falar da nossa viagem comum (partimos de Lisboa, no mesmo dia, e no mesmo navio, as CCAÇ 2590, 2591 e 2592, independentes, que deram depois origem às CCAÇ 12, 13 e 14) e das nossas peripécias no CTIG. Mas também de amigos e camaradas comuns, como é o caso do Joaquim Fernandes. Afinal, contigo, tudo começou porque andavas à procura dele. Tinha  estado no CISMI, em Tavira, na mesma altura que tu... (e julgo que também na mesma altura em que eu lá estive, embora a minha especialidade fosse a de armas pesadas). Dei-te alguns contactos do Joaquim, mas não me chegaste a dizer se o encontraste depois disso.

Gostava, por outro lado, de te pedir mais fotos da tua passagem pela Guiné, por Bolama e por Cuntima, integrado na CCAÇ 14. Não me arranjas fotos tuas, com boa resolução e com as respetivas legendas ? Como sabes, eu tenho um especial carinho pelas companhias africanas. Das 3 companhias acima citadas, a tua é a que tem menos informação no nosso blogue. E representantes só tem dois, se não me engano: tu e o António Bartolomeu, que entrou para a Tabanca Grande, o nosso blogue, em 31/5/2007.

Aproveito para saudar os dois e pedir-lhes para nos arranjarem  mais rapaziada da CCAÇ 2592/ CCAÇ 14 para engrossar as nossas fileiras e alimentar este bicho "alarve e sedento" que o nosso blogue (**)... Olhem, era uma bela prenda de aniversário: vamos fazer 9 anos, no próximo dia 23 de abril... Penso que, tru, Estrela,  continuas a viver no Algarve, é isso ? E o Bartolomeu na Cova da Piedade, Almada. Um grande Alfa Bravo para os dois. Luís Graça.

PS - Podem ver, na página do Carlos Silva, Guerra na Guiné 63/74, informação mais completa e detalhada (e fotos diversas do pessoal) da vossa companhia, a CCAÇ 2592 / CCAÇ 12. [Há lá fotos cedidas pelo António Bartolomeu].

Guiné > Zona Leste > Contuboel > CCAÇ 2592/CCAÇ 14 (1969/71) > O Fur Mil António Bartolomeu, que esteve a dar instrução de especialidade a um pelotão de mandingas, na mesma altura (Junho/Julho de 1969) em que estávamos (a CCAÇ 2590) a formar a CCAÇ 12, uma das unidades da nova força africana.  Este pelotão, o 4º esteve depois em Aldeia Formosa, quarto meses, reunindo-se mais tarde à companhia, em Bolama,. e seguindo depois para  Cuntima. Viemos no mesmo, o Niassa, tendo partido de Lisboa em 24/5/1969.
Esta companhia tinha uma composição heterogénea: mandingas, manjacos e felupes, além de quadros  e especialistas metropolitanos. (LG)



Foto: © António Bartolomeu (2007). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 29 de fevereiro de 2012 Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)

(...) Sou o ex-Fur Mil Eduardo Estrela e enquadrei o início da CCaç 14, originalmente CCaç 2592.
Embarcámos para a Guiné em 24 de maio de 1969 , no T/T Niassa, juntamente como outras companhias independentes como a 2590 e 2591 [, futuras CCAÇ 12 e 13], e depois de termos dado instrução aos militares africanos que compunham a Companhia (dado e recebido, pois muitos deles já tinham experiência de combate), partimos em 3 de novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, Cuntima, junto à linha de fronteira do Senegal.

Ainda em Bolama, onde a instrução foi dada e recebida e depois de uma operação mal programada para a zona de S. João, onde as CCaç 13 e CCaç 14 podiam ter sofrido sério revés, face ao local de desembarque escolhido, extremamente lodoso e onde vi camaradas atolados até à cintura, ainda em Bolama dizia, sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma.

Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente 2 ou mais grupos de combate, por períodos de 48 horas. A guarnição de Cuntima normalmente composta por 2 Companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escolta às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.

Aquando do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. O meu grupo de combate foi o primeiro a transitar para Farim, no início de dezembro de 1970 e não no fim de dezembro como já vi indicado, e durante um mês estivemos a reforçar a CCaç 2549 estacionada em Nema, a qual tinha estado anteriormente connosco em Cuntima.

Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do Batalhão 2879 sofreu na zona de Lamel 14 mortos, uns em combate e outros por acidente resultante de actividade operacional. Para além dos camaradas falecidos, também houve muitos feridos.

No final de 1970, o meu grupo de combate regressou a Cuntima e só no início de fevereiro de 1971 a CCAÇ 14 foi para Farim, tendo o meu grupo ficado em Cuntima para dar sobreposição à Cart 3331, até ao fim de fevereiro. (...)

(**) Último poste da série > 25 de março de 2013 >  Guiné 63/74 - P11312: Tabanca Grande (391): António Baldé, fula, natural de Contuboel, português, apicultor, pai do Umaro e da Alicinha, ex-1º cabo, CIM, Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71), grã-tabanqueiro nº 610

Guiné 63/74 - P11364: Bom ou mau tempo na bolanha (1): Uma foto que fala por si (Tony Borié)

1. Primeiro episódio da nova série do nosso camarada Tony Borié* (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), a que ele deu o título de Bom ou mau tempo na bolanha.



Nesta segunda série de textos, que se chamará “BOM OU MAU TEMPO NA BOLANHA”, será consoante os temas, se forem agradáveis “Bom Tempo..., e se não forem agradáveis, “Mau Tempo...!

Agora vou falar de temas do conflito que vivemos na Guiné e não só, pois às vezes também falarei de assuntos de hoje, embora relacionados com a nossa vivência na Guiné, em outras palavras estarei mais livre, podendo viajar do interior de uma bolanha, onde andei junto daquelas bajudas, que afinal eram guerrilheiras, atolado em lama até ao joelho, há cinquenta anos, para o dia de hoje, onde continuo atolado, neste mundo de consumo onde quase nada se faz, sem a ajuda de um computador.

Para começar, contando mais uma vez com a vossa compreensão para o título desta série, que não é lá muito sugestivo, mas foi o que o Cifra, depois de passar noites e noites acordado, caminhando de um lado para o outro, e num momento em que ouviu um som de chuva no telhado, veio à janela e viu mesmo que estava mau tempo, e então logo pensou, é isto mesmo, “Mau Tempo”. Ao outro dia indo a caminho do mar para mais um dia de pesca, passou por diversas terras alagadiças, parecendo tal qual as nossas conhecidas bolanhas da Guiné, tornou a pensar, está perfeito, “mau tempo na bolanha!”, portanto já sabem a origem do título.
Agora sim, vamos começar.



1 -  Mau tempo na bolanha

O Cifra tem esta foto, das poucas que conseguiu recuperar, e que lhe veio parar às mãos, em Mansoa, em 1964, pouco depois de lá chegar. Esta foto estava entre uns papeis, com uma cobertura em papel branco, que dizia “Olossato”, estava no edifício do comando do Agrupamento, que ainda estava em construção, portanto um pouco desarrumado.


Andou por lá algum tempo, e o Cifra, depois que presenciou a cena dos dois guerrilheiros mortos que sempre acreditou que foram queimados com gasolina e enterrados numa vala, andava revoltado com a situação e de uma vez, vendo lá o dossier “Olossato”, única e simplesmente tirou a foto do local e guardou-a. O Cifra acredita que foi tirada nas imediações de Olossato, talvez alguém da polícia do estado, ou alguém do Agrupamento 16 estacionado em Mansoa, que a tirou, alguém com graduação superior, que de vez enquando lá se deslocava para inspecção. Esta foto sempre lhe colocou muita interrogação, e os antigos combatentes, por favor percam uns segundos, analizem a foto e depois tentem compreendê-la, tem um homem africano, com farda, boina, possivelmente as mãos amarradas atrás nas costas, uma corda em volta de uma árvore, o seu rosto demonstra alguma aflição, na sua frente está o “típico” africano tradutor, com um cigarro dado pelo militar branco na orelha, e atrás de si pode ver-se um pouquinho da face de um homem branco sentado, que possívelmente será um polícia do estado, a tirar apontamentos, muitas crianças demonstrando interesse pela situação, algumas já crescidas e uma até usa uma boina militar, portanto já tinham algum fascínio pela farda, mas nenhuma mostra um simples sorriso, pelo contrário, os seus rostos estão sérios demonstrando preocupação. Um militar armado e outro com interesse na conversa entre, o talvez prisioneiro e o interrogador, não se vêm mais militares, que com toda a certeza estavam em redor, no local onde a pessoa tirou a foto.

O Cifra acredita que o mais provável, era ser um primeiro interrogatório, e na frente de todas aquelas crianças, que deviam de ter ficado traumatizadas com a violência daquela cena, e que no futuro, por mais “psico-social” que houvesse, com toda a certeza não iriam ser agricultores, artesões, alfaiates, carpinteiros ou saber assentar tijolos, mas sim, iriam ser guerrilheiros, ou militares, pois outro meio de vida com toda a certeza não iriam ter.

Este título, como já verificaram, seria “MAU TEMPO NA BOLANHA”.

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Nota do editor:

Vd. poste de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11299: Do Ninho D'Águia até África (60): O regresso a Portugal (Tony Borié)