terça-feira, 16 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11404: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (8): Resposta nº 16: Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART do BART 6520/72 (Tite,  1972/74)  > Aspeto parcial do aquartelamento. Foto " tirada da torre em direção ao posto de enfermagem". 

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2012). Todos os direitos reservados


A. Continuação da publicação de respostas ao nosso "questionário aos leitores do blogue" (*). A resposta nº 16 cabe ao nosso amigo e camarada Jorge Pinto [ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74),membro da nossa Tabnaca Grande desde 17/4/2012]:

Camarada e amigo Luís Graça

Acabo de ler o teu mail e vou tentar responder, já... Devo-te uma resposta e receio que envolvido com os netos e a vida intensa que ainda levo, o tempo vá passando e ...

Tive conhecimento do Blogue, através do nosso conhecido amigo e tabanqueiro Luís Moreira, há cerca de um ano e meio. Depois de ler, verificar que a temática "me tocava diretamente" e a organização/funcionamento me agradava, resolvi pedir para também pertencer como membro da Tabanca Grande. [1, 2, 3]

Contudo, durante este último ano, devido à vida ocupadíssima que tenho tido, não tenho tido tempo para participar no Blogue como inicialmente planeava e me propus (**). [4]

Tenho muitas fotos, principalmente de Fulacunda, mas pelo que verifico são muito idênticas a outras, de aquartelamentos similares, já publicadas no Blogue... [5]

Quero, no entanto, afirmar que para mim este Blogue faz sentido e tem utilidade.É um forum excecional, de exposição de ideias, opiniões, experiências e sobretudo de "noticia", sobre factos importantes para a compreensão da Nação Portuguesa e Guineense que, hoje, somos.

É igualmente um espaço de leitura no qual nos embrenhamos não dando pelo tempo passar. É igualmente um óptimo local de encontro de amigos especiais. [8, 11] 

[ Foto à esquerda: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> A Joana Graça e o Jorge Pinto] 


Estive no último Grande Encontro Nacional e espero estar também presente no próximo, dia 8 de Junho, em Monte Real. [12, 13]

Recebe o meu forte alfa bravo e minha admiração pela dedicação a este projecto.

Jorge Pinto (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 15 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11397: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (7): Resposta nº 15: José Martins, ex- fur mil trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1968/1970) e nosso colaborador permanente


(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

(**) (...) "Meu nome completo é Joaquim Jorge Loureiro Pinto, sendo mais conhecido por Jorge Pinto ou Alferes Pinto. Depois de ter passado por EPI (Mafra), EPA (Vendas Novas), EPA (Tancos) e RAL 5 (Penafiel) voei para a Guiné a 23 de Junho de 1972, integrado na 3.ª CART do BART 6520/72, sediado em Tite.

"Sou natural de Alcobaça e vivo actualmente em Sintra. Após o meu regresso da Guiné, completei a licenciatura em História, dedicando-me, a par de outras ocupações, ao ensino secundário, gestão escolar e formação pedagógica de professores" (...)

(...) A sede do Batalhão em Tite, a 1.ª CART em Jabadá, 2.ª CART em Nova Sintra e a 3.ª CART em Fulacunda, onde fomos render os Capicuas (1970/72). Mais tarde (1973), a minha companhia (3.ª CART) passou a pertencer ao comando do COP 7.

Embarquei numa LDM e lá fui pelos braços de mar em período de maré cheia até próximo de Fulacunda. Daí segui numa GMC (cerca de 2 Km), até ao quartel onde acabei por permanecer durante 26 meses. É sobre esse período que irei tentar redigir alguns artigos, abordando várias vertentes: Usos e costumes da população Beafada ali residente, Guerra e os seus feridos (não tivemos felizmente mortos), o quotidiano no quartel, o 25 de Abril em Fulacunda, vinda de representantes do PAIGC a Fulacunda, em Julho de 1974, conversas com a população africana sobre a “mudança” que o “25 Abril” iria provocar… Enviarei igualmente fotos “desse tempo” relacionadas com a respectiva matéria. (...)

Guiné 63/74 - P11403: Tabanca Grande (393): Carlos Fraga, ex-alf mil, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1973) e ex-cap mil (Moçambique, 1974), nosso grã-tabanqueiro nº 611



Carlos Fraga, hoje... Vive em Faro





Foto nº 79 > O Carlos Fraga, ex-alf mil, 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1973)78 > "Numa operação de patrulha. Creio que foi numa picada que ia de Mansabá em direcção ao Sara-Changalena, picada que não era utilizada há anos e que pretendiam reabrir para reabrir o acesso directo a uma localidade que não me lembro o nome, picada essa que atravessava o Sara-ChangalenaDurante Intervalo para almoço. O calor era tanto que tirei o dolmen para o torcer encharcado de humidade. Outro pormenor. Tínhamos sempre as armas prontas. Almoçava-se ou descansava-se com elas ao colo ou mesmo à mão."





Foto nº 85 > Trincheiras reforçadas com bidões cheios de terra no quartel de Mansabá

Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados



1. Mensagens enviadas pelo  Carlos Fraga, que passa hoje a integrar a  nossa Tabanca Grande, sob o nº de ordem  611.


(i) 6 de abril de 2013

Caro Luís

Terei muito prazer em fazer parte da Tabanca Grande e em partilhar as minhas experiências da Guiné. O tempo que passei por lá é inesquecível e os convívios periódicos da 3ª Comp a que tenho ido (não todos) são óptimos.

Envio-lhe mais umas fotos da Guiné tiradas por mim. Há algumas que faltam mas terei que rever os slides todos e os negativos para detectar exactamente quais.

Mando-lhe uma listagem em anexo de legenda dos slides do DVD que o nosso comum amigo Jorge lhe enviou partindo do principio que a ordem é idêntica à do CD que também me enviou.

Não tenho nenhum obstáculo a que utilize no seu blogue as fotos desde que mencione a origem. Quanto às que adquiri e, como referi no mail, idem, desde que mencione que foram cedidas por mim sendo de autores desconhecidos.

A mim preocupava-me documentar a guerra na Guiné, como vivíamos, o que se passava etc. Daí os slides e fotos que tirei. Levava as máquinas fotográficas comigo para o mato. Pena terem-se estragado 2 rolos ( ou já estariam estragados) pelo que muitas das fotos que tirei foram à vida. Para além desses comprei a militares as fotos que consegui.

O Jorge [Canhão] já o informou do meu percurso militar. Como curiosidade digo-lhe que tomei conhecimento do MFA e aderi a ele logo mesmo quando começou. Como já se sabe, teve início na Guiné em 1973 a partir de uma reunião de oficiais em Bissau. Nesse mesmo dia em Mansoa soube do que se passava e aderi.

De regresso a Mafra, e aí já como tenente, o meu superior dentro do MFA era o Ten Marques Júnior. Posteriormente fui formar batalhão em Penafiel onde o meu superior hierárquico dentro do MFA era o famoso Cap Dinis de Almeida (fala um pouco de mim nessa altura no seu livro «Origem e evolução do movimento dos capitães»).

No dia 25 de Abril com várias vicissitudes fui para o Porto fazer o pronunciamento militar.

Posteriormente fui como Capitão Miliciano para Moçambique, comandando uma companhia durante a descolonização. Acabei nos Açores nos resquícios do Verão quente nos Açores. Ainda apanhei, também, o PREC, o 25 de Novembro. Sou me escapou o 11 de Março, em que estava de licença.

Cumprimentos

C. Fraga

(ii) 9 de abril de 2013

Caro Doutro Luís Graça

Tenho estado a ver o blog e creio que ainda não o vi todo.

A experiência da Guiné é inesquecível para quem por lá tenha passado sobretudo aqueles que estiveram em zonas de combate. Quando cheguei à Guiném  Guileje acabara de cair e também por essa altura houve a questão de Guidage. Havia muita apreensão entre as NT. Tentei documentar o que por lá se passava, o que tínhamos, como vivíamos, transmitir a dureza da guerra em que estávamos envolvidos e, se possível, até imagens de combate. Daí a série de fotografias que tirei de alguns sítios por onde ia andando. Outras, dado o meu interesse, adquiri-as. Mandei-lhas separadas e com indicação expressa de umas e outras.

 O vosso Blog é bem vindo e creio que partilhar as experiências e as imagens da Guiné é óptimo tanto para informação como para manter o espírito da geração que por lá passou. Assim dá-me muito prazer partilhar. Qual o vosso critério de publicação de experiências, de fotos etc. Terei gosto em participar no vosso blog dentro das orientações do mesmo, em que sejam publicadas as fotos para que não fiquem apenas em arquivo individual. Cumprimentos e um abraço C. Fraga

 PS. Irei ao almoço do dia 27 em Faro


2. Comentário de L.G., com data de 10 do corrente:

Meu caro camarada Carlos Fraga;

Temos um livro de estilo, donde constam basicamente 10 regras que orientam a nossa política editorial (e que já vêm da I Série do Blogue):

Por outro lado, e como antigos camaradas de armas que fomos, tratamo-nos por tu. Carlos, vou-te apresentar à Tabanca Grande. Tenho muito apreço pelo teu CV. Estiveste, ao serviço da pátria, numa época charneira da nossa história. Foste ator social e testemunha privilegiada. A tua presença muito me/nos honra. Manda uma foto tua, atual, se possível. Um Alfa Bravo. Luís

3. Resposta do C.F., com data de 11 do corrente:

Obrigado pelas respostas.

Agora que entrei nisto que me agrada,  dir-me-ás como mentor do Blog e editor como pensas que se podem publicar as minhas fotos e, eventualmente, inseri-las num contexto.

Como solicitaste,  envio-te uma foto minha (a mesma que está no perfil do facebook). Tem para aí 3 anos
Abraço
C. Fraga

4. Novo comentário de L.G., com data de 11 do corrente:

Grande Carlos:

Obrigado. Vou-te apresentar à Tabanca Grande, se possível ainda hoje.. Serás o grã-tabanqueiro nº 611. As tuas fotos (e as respetivas legendas) terão direito a uma série própria...A numeração das fotos do teu CD não bate certo com as que me mandou o Jorge Canhão (via Agostinho Gaspar)... Em caso de dúvida, peço a tua ajuda... Tens documentos do teu tempo de Guiné que julgues de interesse divulgar ? E histórias ? Já percebi que tens jeito para a escrita...

Aí vai um Alfa Bravo. Luis

5. Nova mensagem do Carlos Fraga, com data de 12 do corrente:

Agradeço a minha inclusão na Tabanca Grande.

Tudo bem, fazeres uma sére com as minhas fotos. Obrigado. Talvez escreva umas curtas histórias dizendo o que significam e os porquês. Tenho jeito para a escrita mas de livros e artigos científicos. Para romance, contos etc. já não tenho esse jeito com muita pena minha. Já me pediram para escrever um livreco sobre o meu tempo de Guiné e o de Moçambique mas para isso não tenho muito jeito: Escrevi a pedido do Jorge Canhão uma curta história sobre o combate no Choquemone que, creio, o Jorge divulgou pela malta que lá estava a ver se alguém queria acrescentar algo para se poder contar a história o mais completa e verídico possível.

Talvez vá encontrando em caixotes alguma coisa escrita do tempo da Guiné mas será muito pouco. A correspondência enviada à minha ex-mulher e à minha filha, creio que se perdeu toda numa inundação que houve em casa dos meus ex-sogros. Quanto à enviada aos meus pais assaltaram-nos uma casa onde tínhamos a papelada e levaram tudo. De forma que é muito pouco provável que se encontre muita coisa. Mas irei vendo.

Para ficares mais informado sobre mim fui juiz durante mais de 20 anos, fiz o Mestrado e o Doutoramento (Direito Constitucional-Direitos Fundamentais) e sou investigador integrado do CAPP, ISCSP, Universidade Técnica de Lisboa (UTL).

Abraço
C. Fraga


6. Comentário final de L.G.:

Carlos, vejo que para além da guerra colonial, da Guiné e do 25 de Abril, temos mais afinidades... Conheço o ISCSP, fiz lá o 1º ano em 1975/76, o Salgueiro Maia foi meu colega (ele andava em antropologia e eu em ciências sociais). Depois passei pelo ISEG (2º ano) e acabei no ISCTE (3º 4º e 5º) onde me licenciei em sociologia (a primeira fornada de sociólogos; não havia sociologia antes do 25 de abril). Sou doutorado em saúde pública. Obrigado por estas informações adicionais que vou integrar na tua apresentação. Um Alfa Bravo. Luis Graça
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P11402: Memória dos lugares (229): Bafatá dos anos cinquenta (Leopoldo Correia)

1. Em mensagem do dia 17 de Março de 2013, o nosso camarada Leopoldo Correia (ex-Fur Mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65), enviou-nos para publicação algumas fotos de Bafatá do ano de 1959.


1. Fotos de Bafatá, de 1959, tiradas por um familiar ligado ao comércio local (Casa Marques Silva), casado com uma senhora libanesa filha do senhor Faraha Heneni


Foto nº 1 > Cheias de Bafatá, 1959



Foto nº 2 > Cheias de Bafatá, 1959. O mercado local.


Foto nº 3 > Cheias de Bafatá, 1959


Foto nº 4 > Bafatá, 1959. "A fonte pública de Bafatá, 1948".



Foto nº 5 > Bafatá, 1959. O jardim, junto ao Rio Geba. Estátua de Oliveira Muzanty


Foto nº 6 > Bafatá, 1959.  Um estabelecimento comercial [Presume-se que seja a Casa Marques da Silva]



Foto nº 7 > A família Marques da  Silva em Bafatá, em 1959. O rapaz ao centro da foto era o Xico, filho de uma Balanta e do Marques da Silva, ambos já faleceram. Talvez alguns dos nossos camaradas desse tempo ainda se recordem deles.
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Nota do editor:

Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11401: Memória dos lugares (228): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Fernando Gouveia)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11401: Memória dos lugares (228): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Fernando Gouveia)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 25 de Março de 2013, com mais umas belas fotos com vistas aéreas da bonita Bafatá:

Luís e Carlos:
Depois de falar com o Carlos sobre este assunto, aí vão mais algumas fotos de Bafata.
Farão delas o que entenderem. Tenho muitas mais.

Abraços.
Fernando Gouveia


Foto 001 - Bafatá - Vista geral da parte "colonial", vendo-se em primeiro plano o quarteirão ocupado pelo Batalhão com um abrigo de morteiro bem visível.

Foto 002 - Outra vista de Bafata onde em baixo e à esquerda sevê bem o cinema em construção e uma pequena parte do ringue de patinagem onde funcionava o cinema, pelo menos até 1970.

Foto 003 - Parte da Tabanca da Rocha vendo-se ao fundo os quartéis do Agrupamento e do Esquadrão de Cavalaria. Ligeiramente à esquerda vê-se o depósito de água que abastecia a povoação, situado perto da mãe d`água.

Foto 004 - Outra vista semelhante à anterior.

Foto 005 - Outra vista da Tabanca da Rocha em que se vê a Av. principal, o depósito, a igreja e julgo que o bataclã.

Foto 006 - A Mesquita, na Tabanca da Rocha.

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série de 25 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11310: Memória dos lugares (227): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte II)

Guiné 63/74 - P11400: Relatório do início da actividade do CAOP em Teixeira Pinto (3) (Manuel Carvalho)




1. Na sua mensagem de 16 de Março de 2013, o nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) enviou-nos o Relatório da Operação Aquiles, coincidente com os primeiros tempos do CAOP em Teixeira Pinto. Publicam-se as últimas páginas de 193 a 199.




O CAOP EM TEIXEIRA PINTO (3/3)



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Nota do editor

Vd. postes da série de:

13 DE ABRIL DE 2013 >Guiné 63/74 - P11384: Relatório do início da actividade do CAOP em Teixeira Pinto (1) (Manuel Carvalho)
e
14 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11392: Relatório do início da actividade do CAOP em Teixeira Pinto (2) (Manuel Carvalho)

Guiné 63/74 - P11399: Notas de leitura (472): Vem Comigo à Guerra do Ultramar, pelo Coronel António Luís Monteiro da Graça (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
Não, não é uma revelação literária que aqui vos trago, é um tocante quadro de memórias do então comandante da CCAV 677, que operou em Tite e arredores.
Trata-se de uma coletânea de recordações por vezes bem espirituosas, é uma prosa sincera de alguém que vem agradecer aos seus soldados o seu esforço e a elevada qualidade da camaradagem.
Temos aqui operações bem mal sucedidas, momentos de tristeza, relatos de desenrascanço e não falta a gargalhada hilariante. Acaba-se o relato e fica a saber a pouco, já se sabe que a sinceridade toca aos combatentes como fogo inextinguível.

Um abraço do
Mário


Vem comigo à guerra do Ultramar,
pelo coronel António Luís Monteiro da Graça

Beja Santos

O coronel António Luís Monteiro da Graça fez uma edição caseira das suas memórias referentes às suas quatro comissões, duas em Moçambique, uma na Guiné e outra em Angola. Dedica a edição à mulher e à CCAV 677 “por tudo o que sofremos juntos, na Guiné, evidenciando o valor de todos os seus elementos”.

O Coronel Monteiro da Graça que combateu na Guiné entre 1964 e 1966, no setor de Tite, proporciona-nos uma leitura absorvente pois escreve de modo faceto, traz recordações avulsas dos seus subordinados, tira partido das peripécias mais duras de modo positivo, é divertido e sobretudo guardou uma imagem de profunda humanidade dos seus soldados.

E explica porque é que dedica estes apontamentos à CCAV 677: foi ele que os formou, combateu a seu lado nas horas mais duras. “Logo que chegámos à Guiné, ficámos sem um pelotão, dos quatro que levávamos, por isso fomos reforçar Fulacunda. Dos três pelotões restantes, muito cedo ficámos na prática, reduzidos a dois: baixas por doença e ferimentos em combate. Tive a felicidade de comandar homens que iam suportando todas as contingências da guerra com grande espírito de sacrifício mas eivado de humor e boa disposição que se prolongaram até aos dias de hoje em que não faltam aos anuais almoços de confraternização. E o elogio é extensivo aos nativos que iam connosco e que sempre foram elementos de grande valor e lealdade, honrando os compromissos assumidos”. O batismo de fogo foi em 11 de Junho de 1964, foram flagelados enquanto atravessavam a bolanha entre Gamalã e Jabadá Beafada. Um apontador de morteiro feriu-se seriamente, o prato base saltou com a explosão, levou-lhe um pouco da rótula direita. Cheio de bonomia fala do médico da companhia, o Dr. Pereira: “Não tinha qualquer preparação física. Foi mobilizado, teve duas ou três semanas de instrução em Mafra e lá vai ele para o mato. Era bom técnico em princípio de vida e tinha uma tarefa espinhosa. Na primeira operação, um pouco puxada, o Dr. Pereira não aguentou. E dali não saía mesmo depois de algum descanso. Houve que fazer um desvio para evacuar o Dr. Daí nasceu uma guerra entre mim e o comandante. Este obrigava-me a levar o médico para as operações. Eu não o levava pois já tinha a experiência, chatices tinha eu que de sobra. E analisando bem que fazia lá o médico em caso de ferimento grave?”.

Em 20 de Junho, lá vão eles para nova operação, desembarcam em Gã-Chiquinho, não muito longe de Bissássema, era uma operação à base de Sancorlá, quando atacaram, já a base estava abandonada, destruíram cerca de 100 camas, caminharam depois em direção à tabanca de Dodoco, surpreenderam uma formação inimiga, houve troca de tiros. Depois, houve complicações na passagem de riachos, o que os salvou foi terem levado cordas de sapadores; e mal chegaram a terra firme foram flagelados. A partir daí, sentiram sempre a presença do inimigo. Penosamente, e graças ao apoio dos T6 fizeram o caminho até Jabadá.

É um comandante que reteve as picardias, os azares que acabaram em bem, as histórias hilariantes, as tais situações inacreditáveis que polvilham as guerras dentro da mata, caso da operação “Crato” realizada em 18 e 19 de Julho de 1964, envolveu várias companhias e destacamentos de fuzileiros, houve complicações com as marés e tiveram que recorrer aos botes de borracha dos fuzileiros para desembarcar na península de Buduco, descobriram um acampamento, recentemente abandonado, ainda com a comida ao lume, depois levaram com umas morteiradas, felizmente sem consequências, logo de seguida, chovia torrencialmente, deram caras com uma patrulha inimiga, reagiram e outros fugiram.

Chegou a hora das perdas, das perdas irreparáveis, o soldado José Zoio foi atingido por uma bala na cabeça, teve morte instantânea. Morreu também o Ferreira, que era corneteiro. Escreve com orgulho: “Propus-lhes as medalhas de Valor Militar, e foram-lhes concedidas”. As peripécias seguem-se umas às outras, metem abelhas, dificuldades de abastecimento, soldados a dançar o “vira do Minho”, uma miúda a chorar no meio de descampado que foi entregue aos cuidados de uma velhota, igualmente abandonada no mato pelos guerrilheiros e que disse conhecer os pais da miúda. Discreteia sobre tudo: o serviço religioso, a eterna falta de material e munições, o coronel Laranjeira que fazia o chá das 5 bebendo um Grão Vasco, explica-nos o que é o fanado e as etnias do setor de Tite (Balantas, Beafadas e Brames). E aproveita para nos falar do “Penalty”, soldado muito conhecido na Guiné, guarda-redes suplente do Sporting de Bissau. Foi uma operação e deram-no como morto. Quando ele soube da notícia foi queixar-se à 1ª Rep., temendo que a mãe tivesse um choque, exigiu que lhe dessem licença para vir a Lisboa. Apanhando-se em Lisboa, o Penalty nunca mais, corrécio como era, se lembrou que ainda pertencia à guerra da Guiné. Lá o aconselharam a ir bater à porta de um protetor, um médico que o deu como doente, um dia foi ao cais despedir-se de tropa que ia para a Guiné, meteu-se no barco e voltou à guerra.

O rol de peripécias conclui com uma história hilariante, a jiboia “empernadeira”, tal como ele escreve: “No quartel de Tite, na Guiné, havia quatro postos de sentinela, um em cada canto. Eram postos rentes ao solo, com cobertura em cibe, com bancos no interior e seteiras em toda a volta. Os quatro postos tinham um projetor com que quase permanentemente se inspecionava o arame farpado que envolvia o quartel reforçado por armadilhas. A rendição do pessoal de guarda era feita dentro do abrigo onde se alojavam seis praças e um cabo, comandante do posto. Certa noite o cabo não gostou que a praça, no banco onde dormiam, estivesse com a perna encostada à sua e lá o alertou pois não gostava de empernanços. O ambiente ficou trovado por causa da chamada de atenção e porque todos sentiam que havia qualquer coisa de estranho com as pernas a serem roçadas. Ao alvorecer, saíram todos aos gritos: era uma jiboia de cinco metros, meio adormecida, que se arrastara para dentro do abrigo e provocara toda aquela história de pernas encostadas. Aparecido o “500”, um soldado mandinga que estava sempre em tudo o que era sítio, de catana afiada cortou a cabeça à jiboia, vendendo mais tarde a pele por uma bela maquia”.

Esta edição caseira é de grande elevo e ternura. Devo esta agradável leitura do comandante da CCAV 677 à Teresa Almeida, da Biblioteca da Liga dos Combatentes, que anda sempre à cata destes tesouros que não circulam no comércio de livros, edições policopiadas, ingénuas, às vezes de um grafismo enviesado, mas em que subjaz um inquestionável dever de memória e uma incomensurável gratidão aos soldados.
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Nota do editor:

Último poste da série de 12 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11380: Notas de leitura (471): Honório Barreto, Português da Guiné, por Joaquim Duarte Silva e A. Teixeira da Mota (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11398: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (8): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XV/ XVI): Setembro de 1969... (i) Tragédia (para a 15ª CCmds)... (ii) Condição feminina ('Fermero, ká na tem patacão pra paga, fica ku minha mudjer')



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > 1969 > Viatura destruída por mina anticarro. Resultado: dois mortos.



1.  Continuação da publicação de O Meu Diário, de José Teixeira (1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70), Partes XV e XVI (*) [Originalmente publicado na I Série, em 2006]



Buba, 1 de Setembro de 1969

Empada continua a ser a preferida do IN para brincar às guerrinhas. Ontem, pelas 4.30 h da madrugada, sofreu novo ataque. Foi chamada a aviação que não chegou a intervir.

Empada, 9 de Setembro de 1969

Desde ontem que estou por estas bandas, após dois meses em Buba sem novidade de maior. O ataque do dia 31 não foi tão perigoso como constou em Buba. Atacaram de Morteiro 60, LGFog e bazuka  sem causarem prejuízo. Não caiu nenhuma dentro do quartel.

Na estrada de Fulacunda, mais 8 Comandos e 3 soldados ficaram sem vida. Houve ainda sete feridos graves, entre os quais o meu amigo Zé João, enfermeiro comando. Uma mina anticarro de grande potência atirou com a viatura cheia de militares, que estiveram comigo em Buba (15ª Companhia de Comandos) contra um tronco de árvore que se debruçava sobre a estrada, matando uma série deles instantaneamente. No buraco feito pela bomba pode-se esconder uma viatura, tal era a sua potência...

A Companhia de Comandos tinha vinda a fazer uma série de operações no Setor e dirigia-se para o Cais no Rio Grande, perto de S.João, para se retirar para Bissau.

Tem tido muito azar esta Companhia de Comandos. O Zé João sempre que sai com a Companhia faz ronco, mas no regresso tem tido sempre problemas graves. Ainda há pouco tempo, quando estavam em Buba comigo, saíram para uma operação em Saredivane, fizeram um ronco de 15 mortos, apanharam 21 armas, apenas com dois feridos ligeiros, mas no regresso cairam num campo de minas e uma bailarina matou um Furriel e um soldado ficou sem uma perna...

Nesse dia o Zé João foi buscar o morto e ferido ao campo de minas tendo recebido o prémio Governador, que não chegou a gozar devido a este brutal acidente que o afastou da guerra definitivamente.





Guiné-Bissau > Refgião de Bafatá > Saltinho > 2005 > O Zé Teixeira com um antigo milícia, o Braima de Mampatá, e uma bajuda, num antigo aquartelamento das NT, agora transformado em unidade  hoteleira.


Empada, 11 de Setembro de 1969

Conheci a Mariama no primeiro dia que aqui cheguei. A sua alegria contagiante, as suas brincadeiras e a maneira como sabia fazer-se respeitada, tudo isso fez com que simpatizasse logo com ela. De manhã vinha acordar-me:
- Tissera, corpo stá bom ?

Ao fim da tarde de hoje, passou pela enfermaria, como sempre, mas vinha diferente; olhos inchados, cabelo muito arranjado, a alegria habitual tinha desaparecido.
- Mariama, corpo di bó ?
- Ká stá bom, hodje manga di chátisse.
- Porquê? Qui passa ?
- Meu pai diz a minha Mãe: 'Põe Mariama bonito. Hodje ela vai cása cum alfaiate'. Mim ká na sibi qui vai cása. Mim ká miste alfaiate.
E acrescentou:
- Eu fui trabalhar na bolanha , manhã cedo, muito trabalho. Vem, lava roupa de Catarino [, o Jorge Catarin, meu companheiro nas artes de seringa e grande amigo,] e passo tua roupa a ferro. Chega a minha mãe e conta a verdade. Eu não sabia que ia casar...

As lágrimas escorriam-lhe para o regaço. Não gosta do Sanhá e parece que nem sabia que o pai a tinha vendido como se faz com os animais. Sabia o que a esperava mais dia menos dia, mas nunca com um velho.

Nos Beafadas a cerimónia de casamento é diferente dos Fulas. Ao fim da tarde a bajuda segue para a morança do futuro marido, acompanhada por outras bajudas em festa: aí espera-a um jantar.





Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 2005 > O Zé deixou amigos que ele reencontrou trinta e cinco anos depois... Como, por exemplo, a mulher do filho do Régulo Shambel, de Contabane.


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: L.G.]


Em tempos apreciei um casamento fula em Mampatá. O casamento foi programado com antecedência. A festa durou dois dias com muita animação e até batuque. Este foi controlado pelo Sargento da Milícia, que a determinada altura mandou parar a batucada e vingou o silêncio. A noiva seguiu para casa do noivo às costas de um ancião coberto com um lençol de modo a ficar escondida dos olhares dos curiosos e, segundo me disseram, no dia seguinte tinha de pôr à porta o lençol com manchas de sangue para demonstrar que estava virgem.

A conversa com Mariama prolongou-se. Apresentou-me a Fanta, minha nova lavandera e deixou-me a dar largas aos meus pensamentos… Vieram-me à memória os jovens de Nápoles, e os da Ribeira . . . A Fármara de Mampatá que gostava do Amadu e era feliz; da Jubae, e da Yeró.

Esta última casada à força, presa fácil da tropa, que o marido me ofereceu como pagamento por lhe ter salvo o pai de uma doença (#), da Fatinha (siriana), cujo marido não se cansava de lhe bater. . . e era tão bonita !... Da Suade … das suas lágrimas, quando à sua volta toda agente dançava ao som do batuque.

Pergunto a mim mesmo, como é possível em pleno século XX, ainda haver este tipo de escravidão. Como é possível um pai vender sua filha por uma vaca e três carneiros !

(Continua)

_____________

Nota de JT:

(#) Quando cheguei a Mampatá, veio ter comigo pedir quinino para o pai que estava com muitas dores. O Furriel enfermeiro que fui substituir disse-me:
- Este gajo tem o pai a morrer, eu estou a dar-lhe um comprimido por dia de X medicamento. Não lhe dês mais que um por dia, pois só tens esta caixa e em Aldeia Formosa não há.

Assim fiz e no dia seguinte, já sozinho, fui ver o doente. Velho de cabelos brancos, amarelo como cera, há mais de um mês de cama, sem forças etc,etc.

Reuni com o Alferes comandante do Destacamento e decidimos pedir a evacuação, à revelia das ordens que havia, o que gerou ameaças solenes para o Alferes do Comandante de Quebo, o qual teve como resposta:
- Sr. Major, eu não sou médico nem enfermeiro, o meu enfermeiro diz-me que não se responsabiliza pela saúde do homem. O Sr. Major responsabiliza-se ?

Assim o velho, foi evacuado. Esteve cerca de dois meses internado, fez uma operação ao intestino e regressou, para alegria dos familiares, muito melhor. Quando deixei Mampatá estava vivinho da costa.

Como prémio ou pagamento do meu trabalho, o filho, disse-me:
- Fermero, ká na tem patacão pra paga. Fica ku minha mudjer.

Este gesto gerou outra conversa que, como esta história,  não coube no meu diário
.
_________

Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11363: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (7): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XIII / XIV): Julho / agosto de 1969: a angústia do cristão ante a dúvida "De que lado estará Deus ?"

Guiné 63/74 - P11397: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (7): Resposta nº 15: José Martins, ex- fur mil trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1968/1970) e nosso colaborador permanente



Infografia:  © Miguel Pessoa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados


A. Continuação da publicação de respostas ao nosso "questionário aos leitores do blogue" (*).  resposta nº 15 acbe ao  José Martins, ex- fur mil trms,  CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1968/1970, nosso grã-tabanqueiro (ou tertuliano) desde janeiro de 2006, e nosso colaborador permanente, sempre generoso, prestável e afável.


(1) Quando é que descobriste o blogue?

Acidentalmente, ao navegar na Net e encontrar algo sobre o desastre do Cheche, ocorrido em 6 de Fevereiro de 1969. Falava-se do número de vítimas e fiz o meu comentário, como “interveniente quase activo” do mesmo. (**)

(2) Como e através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

O convite surgiu por parte do Editor/administrador, na sequência da minha “intervenção/comentário”.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)... Desde quando?

É um facto que não foi apurado. O facto é que o meu nome consta da I série.

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente, e mais que uma vez.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

Tenho colaborado na medida do possível. Ultimamente, menos.



Guiné > Zona Leste > Gabu > Canjadude > 1969 > CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos (1968/70) > O Fur Mil Transmissões Martins com o seu amigo srgt mil enf Cipriano Mendes Pereira, que viria a falecer num ataque a Nova Lamego a 16 de Novembro de 1970, durante a flagelação a Nova Lamego. Tinha sido transferido em 10 de outubro de 1970, da CCAÇ 5, parao HM 241 (Bissau).
Foto: © José Martins (2006). Todos os direitos reservados.



(6) Conheces também a nossa página no Facebook? (Tabanca Grande Luís Graça)

Claro, e costume intervir publicando e/ou comentando.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
Blogue, sem dúvida.

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?

São duas “redes” completamente diferente, até pela colaboração possível. O blogue, por haver editores, tem um maior controle dos textos apresentados, não só pelos textos como pela escrita.

O Facebook é mais “terra a terra”. Tem uma intervenção directa e imediata, não há cuidado nos textos e/ou comentários e, rapidamente, se alastram “as ideias” publicadas.

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?

No blogue, alguns “comentários” que são postados mas, como existem editores e colaboradores, esse “inconveniente é solucionável. No facebook, algum exagero na linguagem e “gravuras”, em que se usa e abusa. Mas são páginas livres, e quem quiser pode “continuar ou desistir” de acordo com a sua vontade.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não, isso não tem acontecido.

(11) O que é o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?


O abrir uma “janela” para a realidade de todos e cada um. Até aí apenas tinha a minha opinião ou a opinião veiculada pelos livros e/ou artigos de jornais. Com o blogue passou a haver o contraditório que, muitas vezes, representava apenas “lapsos de memória” causados pelo tempo que já decorreu desde a nossa passagem pela Guiné.

(12/13) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais? Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real?

Até agora só não estive presente num encontro, por motivos de saúde. A presença, este ano, ainda não está assegurada.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?

As adesões constantes têm mostrado que deve continuar. Há séries incontornáveis que merecem o interesse de camaradas e visitantes, De continuar.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer:

Sugestão: continuar. Sugestão: Nunca baixar os braços.

José Martins

________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 14 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11390: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (6): Resposta nº 13: Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec Inf (Guiné, 1968/70); Resposta nº 14: Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74)

(**) Vd. psote da I Série > 8 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins) 

(...) 1. Caro Afonso Sousa

Obrigado pelo facto de, sem nos conhecermos e apenas tendo em comum o facto de sermos combatentes, como se não fosse "qualidade" mais do que suficiente, me pedires a opinião sobre a retirada de Madina do Boé.

A minha "ligação" a Madina é pequena mas muito intensa. 
Por agora apenas envio um texto escrito em 2000 (trinta anos após o meu regresso)de um livro, não editado, que escrevi e escrevo, pois que todos os dias surgem histórias e estórias que faz desta compilação de emoções um livro nunca acabado.

Um abraço do camarada

José Martins (...)

Guiné 63/74 - P11396: Memórias de Mansabá (27): Naquele Domingo de Páscoa de 1971, festejei os meus 34 anos (Jorge Picado)

Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 13 de Abril de 2013:

Caríssimo Carlos Vinhal
Aproveitando o facto de estares na secretaria do Comando, aí vai trabalho.
Envio este meu texto que, servindo ao mesmo tempo de agradecimento pelo meu Aniversário*, aproveito para enviar “os retratos de alguns figurantes que penaram em MANSABÁ” nos Idos de 71 do Século passado. Assim até parece que fazem parte da História Antiga!
Abraços para todo o pessoal da Tabanca Grande
JPicado


Quero agradecer a todos, e não vou aqui citar nomes para que não cometa o erro de me esquecer de algum, quantos se lembraram de me enviar os parabéns, no dia em que iniciei mais um ano desde que a minha saudosa Mãe me entregou a este Mundo dos vivos no tão distante Ano da Graça de 1937.

Sinceramente agradeço mais os desejos de saúde para ir enfrentando as “agruras desta vida que agora nos oferecem”, do que parabéns por mais um ano que tenho de “suportá-los”…

Aproveito para desejar aos “meus irmãos aniversariantes, Jorge Félix e Manuel Marinho” muita saúde para que venham a durar mais uns anitos, já que são mais novos do que eu, e que cheguem a esta minha “bonita idade”, se não for com melhor saúde, pelo menos com a mesma que tenho tido, que tem sido bem razoável.

Quando o amigo e camarada de MANSABÁ, Carlos Vinhal me telefonou, estava eu às voltas com umas fotos tiradas 42 anos antes! Já podem calcular pela antiguidade de onde eram.

Pois claro que se referiam ao dia 11ABR71, um Domingo de Páscoa, quando comemorei o 34.º Aniversário precisamente naquela localidade do OIO, juntamente com pessoal da CART 2732.

Para verem como o tempo passa aí seguem algumas dessas fotos.

Na 1.ª o ainda “jovem Cap Mil”, aguardando a chegada do almoço. [Em cima à direita]

Nesta, no meio de dois brilhantes Alf Mil da CART, Casal à minha direita e Rodrigues do meu lado esquerdo.

Nesta, eu estou na ponta direita, seguindo-se os Alf Casal e julgo que Meneres, ambos da CART; Figueiredo (se a memória não me trai) que era do Pel Art e está na cabeceira da mesa; depois um 1.º Sarg que o Carlos diz ser o Santos da CART, mas não sei, seguindo-se o Alf Capelão (confirma Carlos) e de camisa branca o Alf Vassalo do Pel Rec.

Nesta, o outro lado da mesa. Começa com o Alf Casal, a minha pessoa e os Alf Bento, Rodrigues e Rolando (Médico, que foi apanhado parcialmente e de copo na boca), todos da CART. É pena não apanhar o resto.

Nesta foto, já tirada no Bar, não sei se durante a tarde ou já de noite. A partir da esquerda: os Alf Bento, Rolando, Capelão, o “Boss”, o tal 1.º Sarg Santos e o Rodrigues que parece fugir, mas devia antes ir abastecer-se de “combustível líquido”!

Fotos e legendas de Jorge Picado


Nota de CV:

Caro Jorge, meu capitão, o teu furriel confirma que aquele sargento que aparece nas fotos é o ex-1.º Sargento António da Piedade dos Santos, actualmente Major Reformado.

O Dr. Rolando não estaria adstrito à CART 2732 mas ao COP 6. Estivemos na mesma mesa na festa do batisado da filha do senhor José Leal, onde também estiveste. Nos meus apontamentos tenho como se tivesse sido no dia 13 de Abril o que acho estranho. Terá sido no dia 11, Dia de Páscoa e dos teus anos?

Nesta foto: eu, à civil; Alf Mil Bento; Alf Mil Médico Dr. Rolando; Fur Mil Enf.º Marques, à civil, e Alf Mil Rodrigues
Foto e legenda: Carlos Vinhal

Quanto ao alferes Meneres, mal chegou a Mansabá, em Janeiro de 1971, disse logo que não estaria muito tempo connosco. Na verdade, segundo a HU da CART, em Setembro, o Alf Mil Batista foi colocado na 2732 em substituição do alferes Meneres que tinha sido transferido para o Comando Chefe. Curiosamente não me lembro das caras de um e de outro.

Dos alferes Figueiredo e Vassalo não me lembro nem um bocadinho.

E pronto, amigo Jorge, nesta memória de Mansabá recuamos ao tempo dos teus 34 e meus 23 anos. Há séculos, literalmente.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11372: Parabéns a você (561): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil do BCAÇ 2885 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo do BCAÇ 4512/72 (Guiné, 1972/74)

Último poste da série de 27 DE NOVEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10731: Memórias de Mansabá (26): Os meus 45 dias em Mansabá (José António Viegas)

Guiné 63/74 - P11395: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11 / CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte XI): O fur mil op esp Pechincha, era do meu pelotão e um grande artista...


Foto s/ nº > "Os operacionais da CART 11: o Pechincha está entre mim e o Macias,. ma primeira fila, da esquerda para a direita". [E,s e não me engano, o último da direita, da terceira fila - meio agachado - é o meu amigo Renato Monteiro, o "homem da piroga"]..


Foto s/ nº > Lisboa > 1969 > Furrieis da CART 2479 > "Jantar de despedida antes do embarque para a Guiné, com o nosso 1º sargento, Ferreira, que chegou a major e já falecido". [O camarada que, no último plano, está a nível acima dos outros, parece ser o mesmo que aparece em igual posição na foto de cima... À sua direita, parece-me ser o Pechincha. E à sua esquerda estaria o Renato Monteiro].



Foto s/ nº > No T/T Tinmor, o Pechincha, o Queiroz e eu (da esquerda para a direita)


Foto s/ nº > Eu, na nossa messe em Nova Lamego, decorada pelo Pechincha


Foto s/ nº > Os desenhos (humorísticos) do Pechincha, na nossa messe (1)


Foto s/nº > Os desenhos (humorísticos)  do Pechincha, na nossa messe (2)


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (*) [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (*).

O Pechincha já aqui foi magistralmente evocado pelo Hélder de Sousa (**),  Sabemos que era de Moscavide, vizinho e conhecido do Humberto Reis {[, o nosso "cartógrafo", ] e que, antes da tropa, era desenhador na Câmara Municipal de Lisboa...Ele, Hélder de Soura, "pira", conheceu-o Em Bissau, "apanhado do clima", como ficávamos (quase) todos nós na última parte da comissão... Depois, perdeu-se-lhe o rasto.

O Abílio Duarte acrescentou mais os seguintes elementos, para esclarecimento  do Hélder de Sousa e nosso:

(i) O Pechincha Furriel de Operações Especiais, da Escola de Lamego;

(ii) Éramos os dois do mesmo pelotão, desde Penafiel até Nova Lamego [CART 2479 / CART 11]

(iii) Só que o malandro era desenhador, e quando chegamos ao Gabú, deram-nos o Quartel de Baixo, Como era conhecido na altura. Como aquilo estava abandonado, e não tinha muitas condições, o nosso Capitão desafiou-o a fazer uns desenhos para as casas de banho e outras, para quando fosse a Bissau ir ter com o padrinho dele, que era o Cor Robin de Andrade, para arranjar uma cunha e ter materiais de construção para nós fazermos as obras;

(iv) O que aconteceu foi que os desenhos eram tão bons que o Pechinchja foi para Bissau, e nunca mais voltou. Mas os materiais vieram;

(v) A seguir souberam que o meu Alf cmdt de pelotão era Eng Civil, e foi também para os reordenamentos, e também nunca mais voltou. Nem foram substituídos;

(vi) O mais giro desta foto, mas não se consegue ver, é que o Pechincha nos seus desenhos punha os bonecos com frases do Spinola, e a nossa preocupação era, se aparecesse o Spinola, termos sempre uma brigada pronta para apagar as bocas do Pato Donaldo e companheiros.

(vi) É esse Pechincha que conheceste em Bissau, e garanto-te que era um artista, aí lá se era.

____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 5 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11346: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11 / CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte X): Xime, Canquelifá, Bissau...

(**) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)

Como vos disse cheguei a 9 de Novembro [de 1970], quase na véspera do S. Martinho, e o desembarque deu-se um dia antes de todos aqueles que foram no Carvalho Araújo.

Fiquei alojado num quarto das instalações de Sargentos em Santa Luzia, em Bissau, num espaço cedido para colocar uma cama articulada facultada pelos meus amigos, colegas e conterrâneos vilafranquenses, Furriéis José Augusto Gonçalves (o Bate-Orelhas, como carinhosamente lhe chamávamos na Escola Industrial de Vila Franca de Xira por causa da sua (dele) habilidade de movimentar as orelhas como um abano com um simples esticar de queixo) e Vitor Ferreira, os quais compartilhavam o quarto também com o Furriel Pechincha (só me lembro do apelido), que estava em comissão no QG e tinha estado durante meses numa Companhia nativa, também não me lembro o nome (naqueles dias iniciais os nomes não assumiam personalidade, como já vos disse antes) mas que creio que me pareceu que alguns camaradas presentes durante a apresentação do filme As duas faces da guerra se referiram a ele como tendo estado na zona de Bambadinca.

Pois este amigo Pechincha, que era, salvo erro, de Moscavide e trabalhava como desenhador na Câmara Municipal de Lisboa, tinha fama de estar um bocado apanhado e com uma pancada enorme, mas acho que aquilo era mais para ganhar fama e beneficiar dela.

Digo isto porque tive com ele algumas conversas, muito interessante e educativas, que me elucidaram bastante sobre a situação que se vivia e como ele pensava que se iria desenvolver, o que, no essencial, não divergiam muito do que eu pensava.

Mas também não deixava a sua fama por mãos alheias e logo na noite de 11 para 12 de Dezembro fui testemunha privilegiada duma dessas situações.

Nessa noita comemorava-se o S. Martinho. Eu fui portador para os amigos vilafranquenses de alguns quilos de castanhas e de um garrafão de água-pé (por sinal, bem forte!), além de outros mimos. Com um bidão, em frente às camaratas onde os quartos se encontravam, fez-se o assador e então vá de comer chouriços assados, salsichas e castanhas, tudo bem regado com a dita água-pé e outras bebidas estranhas, em grandes misturadas (cerveja, uísque, coca-cola, etc.), tudo a animar uma simulação de uma emissão de rádio protagonizada pelos camaradas das Transmissões com jeito para a coisa, como por exemplo o Furriel Roque.

Com o avançar das horas era tempo de serenar, descansar os corpos e retomar forças para o dia seguinte. Acontece é que, como sempre sucede em situações semelhantes, nem todos estavam pelos ajustes e com a previsão para breve da viagem de regresso do Carvalho Araújo havia alguns, cujos nomes não ficaram registados na minha memória, que integrariam essa viagem final para a peluda, como diziam, e estavam dispostos a prolongar a sua festa, até com atitudes menos próprias e profundamente negativas, principalmente para quem tinha fortes experiências no mato, como seja arremessar as garrafas vazias para cima dos telhados de zinco dos quartos o que, como calculam, a mim ainda não produzia efeito mas para quem já tinha reflexos condicionados era bastante aborrecido.

Ora o nosso bom Pechincha avisou solenemente os meninos que ou paravam imediatamente a graçola ou tinham que se haver com ele à sua maneira. Dada a fama que tinha, que não regulava lá muito bem e que era bem capaz de usar arma, os ânimos serenaram quase de imediato e na generalidade mas, também como sempre sucede, há sempre alguém que procura forçar a sorte e um deles, que também me disseram que estava apanhado (afinal, quem é que não estava?, acho que dependia do grau) resolveu irromper no nosso quarto com uma panela na cabeça e a bater com duas tampas como se fossem pratos duma banda de música.

Entrou, com ar de quem estava muito contente da vida e satisfeito por desafiar as ordens, mas o que eu vi de imediato foi o nosso amigo Pechincha, que estava estendido sobre a sua cama e que era logo a primeira à entrada, estender o braço sobre a cabeceira da cama, agarrar numa espécie de um dos dois machados nativos que estavam lá a enfeitar e sem mais explicações nem argumentos arremessou-o para o intruso, acertando-o na panela que estava na cabeça, deixando-o com o ar mais aparvalhado de perplexidade que vi até hoje, deixar o quarto a tremer e a balbuciar "este gajo está de facto mais apanhado do que eu!".

Uma outra vez, estava com o Pechincha na zona da baixa de Bissau, passámos junto ao Taufik Saad que, naquela ocasião, tinha tido a boa iniciativa de efectuar uma promoção de um artigo qualquer que já não me lembro, mas a infeliz ideia de dizer que era "uma autêntica pechincha". Estão a ver a cena? O Pechincha resolve entrar de rompante na loja, cartão de identificação na mão, onde se podia confirmar que Pechincha autêntico era ele, portanto a "falsificação" teria que ser imediatamente retirada da montra!

E não é que foi mesmo!?

Era assim o Pechincha! Para muitos foi mais uma demonstração do seu apanhanço mas eu, que estava com ele, e éramos só nós os dois naquela ocasião, percebi muito bem que foi tudo encenado.... Ah, ganda Pechincha! se por acaso nos visitares e leres isto, junta-te a nós!

Uma outra recordação dos meus contactos com ele tem a ver com o que se chamou Operação Mar Verde. Cheguei à Guiné cerca de duas semanas antes da sua ocorrência mas bem em tempo da sua preparação em fase avançada. Nas longas conversas que tinha com o Pechincha, fosse pela minha habilidade em saber coisas, fosse pela habilidade dele em me transmitir coisas, pela necessidade de desabafar e aliviar a pressão a que estava submetido ou por ter percebido algum do meu posicionamento em relação à guerra e à participação nela, a verdade é que fiquei a saber algumas coisas (que pude confirmar depois quando li o livro que relata aquela operação) as quais, com alguma prudência e alguma imaginação, relatei em inocente aerograma para uma amiga vilafranquense, do género fazendo todas as afirmações que queria fazer mas dizendo para não acreditarem nelas, pois certamente as iriam ouvir dos inimigos da nação mas tudo não passariam de atoardas....

E foi tudo com o Pechincha. No início de Dezembro fui para o mato, para Piche, voltando em Junho de 1971 para Bissau para integrar o Centro de Escuta mas nessa altura já o Pechincha tinha voltado e nunca mais soube nada dele. (...)

Guiné 63/74 - P11394: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/7) (7): Hotel Santa Maria, servindo de Hospital militar, no Caramulo



1. Textos enviados em 9 e março último, pelo nosso camarada Ricardo Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim,Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (*).


Recorde-se que a sua guerra também foi travada contra a tuberculose pulmonar (no HM 241, em Bissau, e depois no sanatório do Caramulo). É hoje DFA. Estes dois poemas são dessa época em que esteve em tratamento no Caramulo.


Quem me leva o agasalho
Que me deixa a tiritar,
Será a morte com seu orvalho
Que comigo vem brincar?

E meu coração arrefece,
Já não tem amor p'ra dar.
Porque já não sei quem sou!
E, para o lugar que vou,
Haverá lugar para amar?


Sinto-me fugir da terra
E já não sei quem eu era;
Estou numa onda diferente,
Minha vida está acabar
E do meu corpo voar
Para longe, firmemente.

E, para o lugar que vou,
Porque já não sei quem sou,
Haverá lugar para amar?
Meu coração arrefece
Já não tem amor para dar.
 
Hotel Santa Maria,
servindo de Hospital militar no Caramulo
s/d

Hoje foi mais uma festa, meu amor!

Foi a festa do reencontro:
Que alegria foi ver as lágrimas nos olhos,
Nos meus olhos.

Nos olhos dos vivos,
Que, pelos outros que tombaram, 
As lágrimas vertidas,
Não são suficientes para apagar
Da memória,
A sua imagem.

E, meu amor, estou feliz por me sentires vivo,
Por encontrares no meu ombro,
O aconchego
Que apesar de frio
Me sussurras ao ouvido.

Que abençoados fomos nesta eternidade...
Mesmo que eu não tivesse tempo,
De te dar amor inteiro.
Porque o meu coração
Pula de emoção em emoção,
Sabendo que se aproxima de novo
O dia do reencontro...


Hotel Santa Maria,
servindo de Hospital militar, no Caramulo
s/d

Marques de Almeida
CCAÇ 2548 


[Revisão /fixação de texto: LG]

______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de ab ril de 2013 > Guiné 63/74 - P11344: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (6): Em Farim... Dei-lhe o título de sonho