terça-feira, 10 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13265: Consultório militar, de José Martins (4): Unidades que passaram por Fá Mandinga, no leste (1964 / 1974)



Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


1. E a propósito de Fá Mandinga ter sido (ou não) uma "terra importante" no TO da Guiné (*)... Aparentemente teve um papel discreto na guerra... E,. durante muito tempo esteve associada ao nome do engº agrónomo Amílcar. De facto, a estação agrária experimental de Fá tinha boas instalações, entretanto desafetadas com o início da guerra. Mas Amílcar Cabral nunca ali trabalhou, e muito menos viveu. Ele e a sua primeira esposa, portuguesa, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, viveram e trabalharam na estação agrária experimental de Pessubé, nas imediações de Bissau, entre setembro de 1952 e março de 1955 (Vd. planta da cidade de Bissau, em baixo).

Mas foi lá, em Fá Mandinga.  que se formou a 1ª Companhia de Comandos Africanos e de lá partiu para a aquela que viria a ser mais tarde, em 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde (, invasão anfíbia de Conacri). E a seguir à 1ª, vieram lá formar-se a 2ª e 3ª CCmds Africanos. com as quais se  constituiu  mais tarde o Batalhão de Comandos Africanos. Sem esquecer o Pel Caç Nat 63, comandado pelo nosso "glorioso alfero Cabral"...

Para tirar as dúvidas, o nosso assessor militar, José Martins [, foto atual à direita ], mandou-nos esta lista, a seguir publicada,  de unidades que passaram por Fá Mandinga,...

Curiosamente parece haver um lapso em relação ao Pel Caç Nat 63, que de facto esteve em Fá Mandinga pelo menos desde o 2º semestre de 1969 até meados do 1º semestre de 1970 (ou mais), indo depois para Missirá em substituição  do Pel Caç Nat 52 (que era comandado pelo Beja Santos). O Pel Caç Nat 63 voltaria a Fá entre novembro de 1972 e agosto de 1974 (quando foi extinto).

O primeiro batalhão (, ou respetiva CCS,)  a estacionar em Fá Mandinga terá sido o BCAÇ 607 (julho de 1964/abril de 1966). O BCAÇ 1888 também lá esteve, a partir de abril de 1966, indo depois para Bambadinca em novembro desse ano. Também passaram por Fá, a CCAÇ 1589 (entre dezembro de 1966 e abril de 1967, seguindo depois para Madina do Boé (**).  Igualmente lá estiveram, cerca de 3 meses,  antes de irem construir Mansambo,  os "Viriatos", a companhia do Carlos Marques dos Santos e do Torcato Mendonça, a CART 2339 (***). E muitas mais... (LG)


Unidade
Origem
Chegada
Saida
Destino
BCaç  697 -   CCS
RI 15
Jul 64
Abr 66
Fim comissão
CCaç   674
RI 16
Jul 64
Jul 64
Fajonquito
CCav    678
RC 7
Set 64
Jan 65
Ponta do Inglês
Pel Rec  Daimler 809
RC 6
Nov 64
Jan 66
Dulombi
BCaç 1856 - CCaç 1417
RI 1
Set 65
Mai 66
Bajocunda
Pel Mort 1028
RI 2
Set 65
Nov 66
Bambadinca
BCaç 1888 -  CCS
RI 1
Abr 66
Nov 66
Bambadinca
BCav  705 - CCav   702
RC 7
Abr 66
Mai 66
Fim comissão
BCaç 1887 - CCaç 1547
RI 1
Mai 66
Set 66
Bula
Pel Rec Daimler 1133
RC 6
Ago 66
Out 66
Bambadinca
BCaç 1887 - CCaç 1546
RI 1
Out 66
Dez 66
Bissau
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 66
Jan 67
Xitole
BCaç  1894 - CCaç 1589
RI 15
Dez 66
Abr 67
Madina do Boé
CCaç   817
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CCaç   818
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CArt  1661
RAC
Fev 67
Abr 67
Enxalé
BCaç 1912 – Ccaç 1685
RI 16
Abr 67
Out 67
Fajonquito
CCaç 1426
RI 16
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
CCaç 1439
BII 19
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
BArt 1913 - CArt 1689
RAP 2
Mai 67
Jul 67
Catió
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Ago 67
Jan 68
Xitole
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Set 67
Out 69
Fim comissão
BCaç 1933 - CCaç 1790
RI 15
Out 67
Jan 68
Madina do Boé
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 67
Jan 68
Fim comissão
CArt  2338
RAL 3
Jan 68
Abr 68
Nova Lamego
CArt  2339
RAL 3
Fev 68
Mai 68
Mansambo
CCaç 2383
RI 2
Mai 68
Jul 68
Nova Lamego
CArt  2413
RAP 2
Ago 68
Set 68
Xitole
BCaç 2852 - CCaç 2405
RI 2
Dez 68
Dez 68
Galomaro
BCaç 2851 – Ccaç 2403
RI 1
Fev 69
Abr 69
Mansabá
1ª CCmds Africana
CTIG
Jul 69
Jul 69
Bajocunda
1ª  CCmds Africana
CTIG
Set 70
Jul 71
Brá
Pel Caç Nat  52
CTIG
Jan 71
Jul 71
Missirá
2ª CCmds Africana
CTIG
Abr71
Out 71
Brá
3ª CCmds Africana
CTIG
Abr 72
Set 74
Extinção  Unidade
Pel Caç Nat   52
CTIG
Abr 72
Jul 72
Ponte R Unduma
Pel Caç Nat 63
CTIG
Nov 72
Ago 74
Desativada
BArt 3873 - CArt 3493
RAP 2
Dez 73
Jan 74
Bissau

Undiades que passarm por Fá Mandinga 

Fonte: José Martins (2014) (****)



Planta da cidade de Bisssau (c. 1975) > Posição relativa de Pessubé que, no início dos anos 50, ficava já bastante longe do centro de cidade de Bissau.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  9 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13263: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): 14 mesas, de 10 lugares cada uma, com os nomes das localidades que foram sedes de batalhão ao longo da guerra... Mas cada participante (camaradas e seus acompanhantes) senta-se onde muito bem lhe aprouver...Não há lugares marcados à sombra do poilão da Tabanca Grande ...

(**) Vd. poste de 11 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

(...) Sobre o Aquartelamento de Fá Mandinga, ainda recordo que:

Em Dezembro de 1966, a minha CCAÇ 1589, recebeu Guia de Marcha para Fá Mandinga.  Embarcamos em Bissau numa LDG em direcção a Bambadinca e daí seguimos em viaturas, pela estrada em terra batida, que estava a ser aberta pelo Batalhão de Engenharia, em direcção a Bafatá [, mais tarde alargada e asfaltada, no 2º semestre de 1967].

A certa altura viramos à esquerda e entramos na picada que nos ia levar a Fá. Era tão estreita que mal lá cabiam uma GMC ou uma Mercedes. Passamos o Aquartelamento de Fá de Cima e começámos uma íngreme descida até Fá de Baixo.
O Aquartelamento era constituído por 4 grandes barracões, dois de cada lado, com uma grande parada no meio. À volta era só capim, que era preciso desbastar para podermos ver mais longe e evitar surpresas “desagradáveis”, embora o pessoal de Fá de Cima nos protegesse pois, devido á sua posição no cimo da colina, viam muito mais longe.  Mas, pelo que eu sei, Fá nunca foi atacada.

A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.
 
 (...) Pouco tempo depois recebemos guia de marcha para Madina do Boé.

Quanto ao quartel de Fá, lembro-me que o 1º barracão se situava do lado direito de quem entrava no quartel e servia de caserna dos praças e quartos dos sargentos, e o 2º destinava-se aos Comandantes e, creio que também, a camarata dos oficiais.

Nas traseiras do 1º barracão estava instalado o “meu” Posto de Socorros e o reboque com o material de Campanha do SS, que nunca foi usado.  O 2º pavilhão, do lado esquerdo, só estava meio ocupado por nós, pois a outra metade estava vedada com rede e tinha guardado o material, para a fazenda do Amílcar Cabral [, informação errónea, já que o eng agr Amilcar Cabral nunca trabalhou aqui, mas sim na Granja de Pessubé (LG)].

Não me lembro onde ficavam a cozinha nem as oficinas auto. (...) Armandino Alves, 1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589 (1966/68) (...) 

(***) 11 de agosto de  2009 >  Guiné 63/74 - P4809: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): Fá Mandinga, o único sítio onde tive direito ao luxo de um quarto

Guiné 63/74 - P13264: Parabéns a você (748): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador do BART 1913 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13260: Parabéns a você (747): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 19665/67)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13263: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): 14 mesas, de 10 lugares cada uma, com os nomes das localidades que foram sedes de batalhão ao longo da guerra... Mas cada participante (camaradas e seus acompanhantes) senta-se onde muito bem lhe aprouver...Não há lugares marcados à sombra do poilão da Tabanca Grande ...

I. A comissão organizadora teve a ideia de dar nomes às mesas. Nomes da toponímica da Guiné do nosso tempo.  O Joaquim Mexia Alves foi mais longe: "Já agora, e se for adoptada a ideia dos nomes das mesas, sugeria, para não haver susceptibilidades, que a ser feito, fossem nomes de sedes de batalhão. assim já não se mediam 'mportâncias', digo eu..."

O nosso assessor militar, José Martins, é que nos forneceu a lista de localidades (28) onde estiveram sediados Batalhões, durante toda a campanha:

Aldeia Formosa
Bafatá Bambadinca Bigene Bissalanca Bissau Bissorã Bolama Brá Buba Bula
Cadique Catió Cumbijã Cumeré
Fá Mandinga Farim
Gadamael Galomaro
Ingoré
Mansabá Mansoa
Nova Lamego
Pelundo Piche
S. Domingos
Teixeira Pinto e Tite

Se optarem por nomes de unidades do recrutamento geral, são menos (13 do exército), não incluindo o Batalhão e 3 companhias de Comandos Africanos:


1ª CCaç Indígena > CCaç 3
3ª CCaç Indígena > C. Caç 5
4ª CCaç Indígena > CCaç 6
CCaç 11 < CArt. 11
CCaç. 12 < CCaç 2590
CCaç 13 < CCaç 2591
CCaç 14 < CCaç 2592
CCaç  15 < CCaç Balanta
CCaç 16
CCaç 17
CCaç 18
CCaç 20
CCaç 21

Votos de uma óptima "campanha" de amizade e convivio.

Ab Zé Martins

II. Agrupadas por afinidades geográficas, chegámos à seguinte lista, com 14 grupos, correspondentes a outras tantas mesas (Atenção: não há lugares reservados, com exceção talvez do António Santos que leva com ele toda a família, num total de 9 pessoas; cada mesa tem 10 lugares; cada participante senta-se onde muito bem entender; dar um nome às mesas, ajuda-nos depois a facilitar o pagamento das inscrições e é também,  uma forma de homenagear algumas das principais povoações daquela terra verde e vermelha onde passámos dois anos da nossa juventude; a impressão dos  14 cartões para identificação das mesas foi uma gentileza da empresa Noprodigital, com sede em Odivelas, a que estão ligados o António Santos e respetiva família):


1. Bissau / Brá / Bissalanca / Cumeré

2. Fá Mandinga / Bambadinca

3. Bafatá / Galomaro

4. Nova Lamego / Piche

5. São Domingos / Ingoré / Bigene

6. Farim / Bissorã. 

7. Bula

8. Teixeira Pinto / Pelundo

9. Mansoa / Mansabá

10. Tite

Guiné 63/74 - P13262: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (17): O poeta Josema, o último a inscrever-se, por mail, às 7 da manhã....Foi o 131... Mas na hora do fecho, chegámos aos 136 inscritos, o que ultrapassa todas as nossas melhores expetativas...

1. Foi o último a inscrever-se,  por mail, já quase na 25ª hora... O nosso "Josema", o Zé Manel da Régua... 

Quem não o conhece, na nossa Tabanca Grande ? Os piras não o conhecem, por que ele ultimamente  não tem aparecido... É um mouro de trabalho, vitivinicultor, duriense, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, mais conhecido na região de Tombali pelo seu pseudónimo literário Josema...e por escrever um poema todos os dias... Queimou mais de 2/3 da sua produção poética do tempo de guerra, num ataque de fúria, daqueles s que  costuam dar aos ex-combatenets da ... 

Conseguimos "salvar" e publicar no blogue algumas dezenas dos seus escritos poéticos... É um homem de grande sensibilidade, produtor de grandes vinhos e acima de tudo um camarigo dos quatro costados... Não resisto a republicar dois poemas dele...Bom viagem, Josema, até Monte Real. E um beijinho para a  Luisa [ que é uma "mulher de armas"!]... LG



José Manuel de Melo Alves Lopes

9 jun 2014 07:22

Bom dia, Luis: Só agora me inscrevo no almoço, pois estava à espera duma encomenda para Coimbra. A Luisa, não pode ir, pois tem cá em casa uns hóspedes do Brasil. Como sempre aproveito e levo algum vinho para quem estiver interessado.
Um abraço


Nota - Provavelmente já não haverá livros do Nuno Rubim disponíveis. Com tudo aqui fica manifestado o meu interesse.

[Foto acima, o Josema "a reler o que havia escrito, numa pausa durante a proteção a uma coluna de Buba para Aldeia Formosa".  Foto: © José Manuel Lopes (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.]


2. Dois poemas do poeta da Quinta da Graça... ou melhor de Bolama, Mampatá, Nhacobá, Colibuía, Salancaur, Uane, Nhala...


É tempo de regressar
às minhas parras coloridas
e ver a água a gelar,
esquecer mágoas e feridas
e a todos abraçar,
olho por cima dos ombros,
vejo a mata, lembro Amadú,
e nem tudo são escombros,
há a ilha de Bolama,
há Susana, há Varela,
as ilhas de Bijagós
e a vida pode ser bela,
se nunca estivermos sós;
houve prazer e amor
em terras de Mampatá,
senti a raiva e a dor,
saudades do lado de lá,
a distância e tanto mar,
mas não há ódio ou rancor
e um dia...vou voltar.

Bissau 1974
josema (*)




Gostava de vos falar
dos esquecidos,
dos heróis que a história
não narra,
que as viúvas choraram
mas já não recordam,
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem,
descendentes
que os lembrassem,
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai,
vítimas de guerras
que não inventaram,
em tempo que já lá vai;
falar deles é prevenir,
se bem que de nada lhes valha,
de guerras que possam vir
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.

josema, s/l, s/d (**)
__________________



3. LISTA FINAL (OU QUASE...) DOS 136 CAMARADAS E AMIGOS INSCRITOS NO NOSSO CONVÍVIO ANUAL, MONTE REAL, DIA 14 (***)... ULTRAPASSÁMOS, EM UMA, AS 135 INSCRIÇÕES DO ANO PASSADO

Agostinho Gaspar (Leiria)
Alcídio Marinho e Rosa (Porto)
Alexandre Coutinho e Lima (Lisboa)
Almiro Gonçalves e Amélia (Vieira de Leiria / Marinha Grande)
António Faneco e Tina (Montijo / Setúbal)
António Fernando Marques e Gina (Cascais)
António Garcez Costa (Lisboa)
António José Brito da Silva (Madalena / Vila Nova de Gaia)
António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António Manuel Sucena Rodrigues + Rosa Pato, António e Ana Brandão (Oliveira do Bairo)
António Maria Silva (Cacém / Sintra)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Rebelo (Massamá / Lisboa)
António Ribeiro e Norberto (Amarante)
António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos)
António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas)
António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho)
Arlindo Farinha (Almoster / Alvaiázere)
Armando Pires (Algés / Oeiras)
Arménio Santos (Lisboa)
Augusto Pacheco (Maia)
C. Martins (Penamacor)
Carlos Alberto Pinto e Maria Rosa (Reboleira / Amadora)
Carlos Coropos e Ricardina (Carcavelos / Cascais)
Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)
David Guimarães & Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)
Diamantino Varrasquinho e Manuel (Ervidel / Aljustrel)
Eduardo Campos (Maia)
Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã)
Eduardo Moutinho Santos (Porto)
Ernestino Caniço (Tomar)
Fernandino Leite (Maia)
Fernando Roque (Sesimbra)
Fernando Súcio (Campeã / Vila Real)
Francisco (Xico) Allen (Vila Nova de Gaia)
Francisco Baptista e Fátima Anjos (Aldoar / Porto)
Francisco Palma (Estoril / Cascais)
Francisco Silva e Elisabete (Porto Salvo / Oeiras)
Helder Sousa (Setúbal)
Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora)
Idálio Reis (Sete-Fontes / Cantanhede)
Joao Alves Martins (Lisboa)
Joao Moura (S. Martinho do Porto / Alcobaça)
Joaquim Almeida (Maia)
Joaquim Carlos Peixoto (Penafiel)
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura (Porto)
Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Joaquim Nunes Sequeira e Mariete (Colares / Sintra)
Joaquim da Silva Jorge (Ferrel / Peniche)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão & Maria de Lurdes (Oeiras)
Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra)
Jorge Pícado (Ílhavo)
Jorge Rosales (Monte Estoril / Cascais)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Louro (Algueirão / Sintra)
José Manuel Cancela e Carminda (Penafiel)
José Manuel Lopes (Régua)
José Ramos Romão e Emília (Alcobaça)
José Saúde (Beja)
Julio Costa Abreu e Richard (Holanda)
Juvenal Amado (Fátima / Ourém)
Luís Encarnação (Cascais)
Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora)
Luís Moreira (Mem Martins / Sintra)
Manuel António (Maia)
Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Joaquim (Agualva / Sintra)
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima (Viseu)
Manuel Luís Lomba (Faria / Barcelos)
Manuel Resende, Isaura e Palmira Serra (Cascais)
Manuel Traquina e Fátima (Abrantes)
Manuel da Conceição Neves e Maria da Estrela (França)
Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Carcavelos / Cascais)
Mateus Mendes (Figueira da Foz)
Mateus Oliveira e Florinda (Boston / EUA)
Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa)
Mário Gaspar (Lisboa)
Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal)
Ricardo Figueiredo (Porto)
Rogé Guerreiro (Fontainhas / Cascais)
Rui Pedro Silva (Lisboa)
Rui Silva e Regina Teresa (Sta. Maria da Feira)
Simeão Ferreira (Guia / Monte Real / Leiria(
Vasco Ferreira (Vila Nova de Gaia)
Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz)
Virgínio Briote e Irene (Lisboa)
Vítor Caseiro (Leiria)
Vítor Manuel Rocha Abreu (Lisboa)
______________

Notas editor:

(*) Vd. poste de 19 de março de 2008 >  Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

(**) Vd. poste de 14 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8416: Blogpoesia (151): Gostava de vos falar dos esquecidos... (Josema)

(***) Último poste da série > 8 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13255: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (16): Até Monte Real, dia 14, camaradas e amigos/as (Hélder Sousa / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P13261: Notas de leitura (599): Relendo um dos escritores obrigatórios da década de 1960: Álvaro Guerra e a Guiné (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Dezembro de 2013:

Queridos amigos,
Álvaro Guerra revelou inicialmente uma atração pelo neorrealismo e logo a seguir mergulhou no nouveau roman, foi uma corrente literária que ele seguramente referenciou em Paris, onde estudou após o regresso da guerra da Guiné, foi dos primeiros, de lá veio ferido.
“O Disfarce” em si é um livro menor, não passará à história da literatura, mas há nele parágrafos rutilantes, uma linguagem arrancada das vísceras, a autobiografia não se esconde, parece dizer-nos. E Álvaro Guerra é um daqueles escritores que nos leva a pensar que chegou a hora, tal o numerário de boa prosa em volta da guerra da Guiné, de fazer-se uma obra antológica com algumas das páginas de que os nossos vindouros sentiram júbilo pelo dito e pelo feito.

Um abraço do
Mário


Relendo um dos escritores obrigatórios da década de 1960: Álvaro Guerra e a Guiné

Beja Santos

Tenho-me interrogado vezes sem conta quanto à premência em se fazer um levantamento dos mais belos trechos literários em torno da guerra da Guiné.
É evidente que há hoje um suporte correspondente à identificação dos escritores e das respetivas obras, é meio caminho andado, tenho a maior satisfação em ter e andar a contribuir para essa pesquisa que se tem revelado quase inesgotável e deveras surpreendente.
Há páginas extraordinárias, e procurarei, neste exercício avulso, mostrar a partir de um dos primeiros livros de Álvaro Guerra, nosso camarada da Guiné, destacar algumas dessas páginas que nos merecem orgulho genuíno, são páginas com que nos identificamos, que muitas vezes falam por nós, são um incomensurável legado que deixamos para os nossos vindouros.

O romance chama-se “O Disfarce”, a sua primeira edição saiu na Prelo, em 1969, a segunda nas Publicações Dom Quixote, a terceira nas Edições “O Jornal”. Insisto que os parágrafos que se seguem são por minha conta e risco, tivesse eu o mister de andar à cata do que melhor se escreveu e de “O Disfarce”, este era o meu Álvaro Guerra eleito:



Capítulo primeiro

De narizes no ar, farejavam o céu, o motor do avião muito perto, mesmo sobre as suas cabeças mas para além do nevoeiro cerrado, um grande inseto matreiro, invisível, irritantemente só nos ouvidos dos homens de narizes no ar, as armas na mão, empoleirados nos camiões estacionados no extremo da pista rodeada de pequenos grupos, para cada um sua metralhadora, as ligaduras brancas dos feridos quase brilhando entre os verdes e castanhos dos homens, da terra e das plantas, as ligaduras dos feridos deitados nas macas, sentados nos jipes, ou de pé, narizes no ar como os outros, ou ansiosos ou ciumentos, mas todos impacientes, e, enfim, uma sombra sobre a pista, por um momento, logo dissolvida naquele nevoeiro tão denso que molhava e, dentro dele, o besoiro de prata que zumbia cada vez mais fraco, mais longe, até definitivamente se extinguir.
– Vai-se embora – disseram.

Voltará, pensou aquele homem novo, olhando a mancha vermelha na ligadura que lhe envolvia o braço imobilizado. Vinte e duas horas antes, um pedaço de ferro louco e escaldante atravessara-o, a bala da sorte, um pequeno cilindro de metal com endereço incerto na cabeça pontiaguda, igual à bala do azar que levava na ponta a morte para o companheiro do lado – a mesma explosão, o mesmo projétil, a mesma carne, o mesmo sangue, talvez apenas uma vontade de tal modo mais forte, um amor de tal modo mais apaixonado, um instinto de tal modo mais lúcido que nessa tão discutível, cruel e aguda diferença a morte se decidira pelo mais fácil. Por ali, raramente se falava da morte mas quando tal acontecia a sua tradução era destino, dias contados, fatalidade, e o medo era, também, como se não existisse como se não fosse evidente no próprio corpo e na memória, demência, angústia e raiva (o 118 a andar oito quilómetros pelo seu pé, sem ajudas, com um buraco que começava na clavícula e acabava nas costas um pouco acima da cintura, a andar oito quilómetros, após o que e apenas ao avistar a coluna de socorro, desmaiara.


Capítulo terceiro

Estava sentado no meio daquela escuridão carregada de odores gordurosos, a “mulher grande” tinha-o deixado ali sozinho, no meio da cubata, e fora buscar a rapariga, algures na aldeia adormecida, no silêncio, no silêncio habitado de ameaças, no halo humano da noite cujo centro era ele ali sentado, atento mas abandonado ao que viesse, tateando a pistola com um gesto impreciso, sem fumar para poder sentir-se inlocalizável, escondido dos outros e de si próprio, imóvel, numa breve existência uterina, paradoxalmente tocada de angústias e temores. A “mulher grande” fora em busca de Safi, dobrara fleumaticamente a nota de cinquenta pesos e guardara-a sobre o pano que trazia enrolado à volta dos quadris e fizera saber que aquele era o dinheiro para Safi, após o que se deixara ficar, maliciosa e muito digna, à espera que ele entendesse que faltava alguma coisa mais – o seu dinheiro. Só depois abalara, não sem primeiro superar a paupérrima chama do candeeiro pelo que o cheiro a petróleo se tornou mais intenso e se misturou com os odores gordurosos e mornos da escuridão absoluta da cubata onde ele estava (…) A “mulher grande” entrou e, depois dela, Safi. Ficaram as duas a discutir animadamente na língua quente e sincopada dos Fulas, sem o olhar, sem mesmo reconhecerem a sua presença, defendidas pela ininteligibilidade do que diziam mas ele adivinhava como o auge da sua humildade, o fundo sem fundo da queda da natureza que lhe era própria, ele sentado, imóvel no escuro, e duas mulheres negras decidindo a sua sorte, no outro canto das trevas.

Finalmente, a “mulher grande” reacendeu o candeeiro e ele tornou a ver o interior da cubata, as cabaças, os panos coloridos, o arroz, as duas tábuas com versículos do Corão, a chaleira de esmalte, o bidão da tropa, as esteiras, o chão de terra, as paredes de adobe, a cama. Era aquele o escuro que o rodeava. Não, não era. Agora, encolhida no canto mais longe da luz, estava Safi, Safi falsamente inexpugnável, com seu olhar feroz de bicho acossado, longe, longe. Tão longe que ele suspeitou jamais pudesse lá chegar. E a sua suspeita bastou para que, num último alarde de orgulho, se levantasse e saísse.


Capítulo nono

Foi logo a seguir. Caiu em cima deles a surpresa, uma chuva de ferro, estampidos e silvos de ar vergastado e quedas e ramos partidos e pragas e explosões e o gargalhar fantasmagórico das rajadas matadoras e o homem ao lado dele com o sangue no ventre e nas mãos que disse “Ai, mãe!” e morreu. Atrás da sua árvore, levou a mão ao bolso e tirou-a, a reluzente granada com quem os seus dedos andavam calhados de amor e vício, puxou a argola amarela num repente de furor e ficou um momento a mirá-la, a cavilha apenas presa pelos dedos brancos de força enquanto, desfocado, o cadáver do ventre sangrento o olhava fixa e friamente; jogou-se para a luz, para lá do escudo eleito, e atirou-a para de onde vinha a morte sonora e a invisível que semeava surpresas de sangue. Por um momento foi a rainha da metralha e da luz ondulante de calor e do inacessível outro lado da estrada e foi a esperança também, soturna esperança subindo numa nuvem de pó castanho após deflagrar e se desfazer como um velho astro em meteoritos escaldantes. Mas já não estava sobre o coração, nem à cintura, nem no bolso, e ele ficou terrivelmente tranquilo, monstruosamente tranquilo e sozinho, a pensar na mulher de quem gostava, na adolescência provinciana e em certos lugares seus preferidos e em como eles seriam se e quando lá voltasse, enquanto, tranquilamente, disparava a metralhadora. Tudo estava adiado. Até o esquecimento.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74- P13245: Notas de leitura (598): "Quem Semeia o Vento Colhe Tempestade!", publicação da Direção-Geral da Cultura da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)