quinta-feira, 12 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13275: (In)citações (66): Sobre o 10 de Junho, Dia da Raça (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 11 de Junho de 2014:


Sobre o 10 de Junho, dia da Raça

Comemora-se hoje o dia da raça. Durante o período colonial, designadamente durante a guerra de África, a RTP dedicava importante espaço de emissão à grande sala de cerimónias no Terreiro do Paço, onde as tropas formavam, onde se juntavam deficientes e familiares de falecidos durante a missão africana, e alguns combatentes que eram publicamente homenageados (todas as nações elegem os seus heróis), e apresentados como exemplos a seguir. Havia, claro, um período para discursos, que continham mensagens de patriotismo e devoção nacional, como símbolo do sentido militar. Lembro que o juramento de bandeira, abrangia a dádiva da vida pela defesa nacional. Era grande o sentimento de comunhão e solenidade entre civis e militares. Se os milicianos juravam a defesa da nação até às últimas consequências, os militares profissionais, por maioria de razão e opção de vida, também o faziam. Aliás, entroncava nessa vertente o chamado estatuto militar, que contemplava a especial condição de contagem de tempo para reforma, e a excepcional melhoria de vencimento enquanto deslocados em África, entre outras situações distintivas da condição militar.

Hoje recordei a clivagem gerada pelo MFA. Aquele movimento veio justificar o golpe que levou a cabo, pela conclusão de que a guerra só poderia ter uma solução política. Tal conclusão, por parte dos profissionais militares que, em princípio, estariam de posse dos elementos conclusivos naquela direcção, deveria ter dado sinais claros dessa preocupação, depois de o tentarem pela via hierárquica, fazendo chegar ao Governo relatórios suficientemente estruturados, e demonstrativos das novas razões que se impunha ponderar. Estas coisas não acontecem com a facilidade de premir o interruptor, pelo que deviam estar preparados para um período de debate governativo, depois de estabelecidos canais de comunicação adequados, e que garantissem o necessário segredo sobre as "démarches". A união em torno de argumentos sérios e inequívocos, daria aos capitães a garantia de não haver vítimas disciplinares, ou outras que se mostrassem ostensivas.

Tudo parecia correr com "normalidade": os profissionais eram mobilizados com parcial regularidade para comissões no ultramar. Alguns integravam unidades de combate. Os restantes exerciam as suas actividades, em princípio, a recato dos perigos da guerra e chegavam a fazer-se acompanhar pelas famílias. Daqueles que integravam, como comandantes ou sub-comandantes, as unidades de combate, alguns assumiam o risco, outros refugiavam-se nas sedes das unidades, e renunciavam às suas obrigações de líderes de combatentes. Esta situação era conhecida e tolerada. Os comandantes de unidades de combate que se refugiavam de riscos, nem sequer eram instigados a mudar de atitude. Nessa medida poderiam influenciar a maior ou menor eficácia dos seus comandados que, em geral, ficavam sob a tutela dos jovens milicianos comandantes de pelotões, que praticavam e intuíam a guerra conforme as suas experiências e capacidades. Este, poderemos considerar um primeiro paradoxo.

O livro do General Spínola, "Portugal e o Futuro", desencadeou uma espécie de debate público entre apoiantes e oponentes do Governo. Mas, se o livro propunha uma solução política que não contemplava a independência do ultramar, e limitava implicitamente as negociações com os movimentos de libertação, parece ter inspirado definitivamente as insondáveis angústias dos militares, que viriam a desencadear o golpe, sem que tivessem acautelado alguma responsabilidade perante a nação, tendo em conta que os seus argumentos poderiam ser óbvios na defesa do interesse nacional. Em vez de um golpe, poderiam ter tido a força para, ponderada e decisivamente, ajudar o país a descobrir novos rumos políticos e estratégicos, que garantissem uma regular passagem de uma situação a outra, incluindo qualquer das formas de autodeterminação. Ora, o que aconteceu, nos termos em que aconteceu, de abandono acelerado de territórios e gentes, pode exprimir novo paradoxo.

Entretanto, já havia mostras de vontade negocial por parte dos movimentos, nomeadamente, na Guiné e em Moçambique, que envolviam nações do grupo dos afro-asiáticos como o Senegal, o Malawi e a Zâmbia, para além de outras nações ocidentais. Em Angola, vivia-se um clima de grande tranquilidade, com a guerra praticamente em banho-maria. Mas Angola era um caso especial de progresso e desenvolvimento económico e social, onde todos poderiam ser integrados na vida profissional, e havia estruturas que, se não fossem exemplares, davam mostras claras de um estado organizado. Em todas as parcelas podemos dizer, que os movimentos não tinham apoio regular das populações, o que contrariava um dos princípios fundamentais da guerrilha, pelo que não eram representativos de nenhuma parte específica de cada uma das chamadas "províncias", além de lhes faltar homogeneidade ideológica. Outro paradoxo.

Esta situação ilustra que a guerra era alimentada do exterior por países satélites de interesses ou ideologias (USA, URSS e China). Na Guiné, o PAIGC não tinha identidade ideológica com o Senegal, pelo contrário, conflituavam frequentemente. Em Moçambique também a Frelimo não mantinha identidade com os países vizinhos, apesar da guarida dispensada por dois de entre seis, embora reflectisse algum perigo político-económico relativamente a alguns deles.

Desencadeado o golpe veio a verificar-se, porém, que nenhuma das razões apontadas como justificativas, correspondia a um espírito de grupo coeso e identificado com o Programa. Na verdade, logo aconteceram as diatribes provocadas por inúmeras diferenças de objectivos e comportamentos, entretanto influenciados pela política, tornando clara a impreparação de um golpe que se pretendia representativo do sentir das Forças Armadas. A desorientação espelhou-se na procura de civis mais ou menos credenciados, com oportunismos à mistura, no sentido de oferecerem alguma espécie de garantia e desapego do poder, tanto interna, como internacionalmente. O que atrapalhava esse objectivo, era a constante confrontação e definição de grupos de pressão. Disso viria a reflectir-se a sucessão de asneiras sobre o ultramar. Inventou-se a "descolonização exemplar", que não foi além da entrega ostensiva, imoral, incompetente e criminosa, dos destinos das colónias aos movimentos que, além de não serem representativos, não eram manifestamente capazes de assegurar o normal funcionamento das nações onde passaram a governar, porque o MFA e os políticos cooptados, todos sem legitimidade democrática, em nome de uma pretensa superioridade moral e democracia de satisfação a interesses externos, capitulavam surpreendentemente nas negociações com os movimentos, e com isso condenaram todos os que, pretos, mulatos ou brancos que se acolhiam sob a cultura, bandeira e nacionalidade portuguesa, a situações vexatórias de violação dos direitos mais sagrados, ao arrepio de uma tutela internacional consagrada na Carta da Nações Unidas, e fica manchado como atitude de desprezo dos militares pelas obrigações que juraram assumir, o que constitui outro paradoxo.

O Programa do MFA, segundo um contemporâneo, foi redigido em termos de congregar as vontades que ainda se encontrassem dispersas, de obter a adesão de todas as correntes políticas e, mesmo, a contemporização das camadas conservadoras da sociedade portuguesa, o que constituía evidente ardil e novo paradoxo. Muitos portugueses optaram pela comemoração emotiva do evento, sem que o tivessem apreciado na essência, e priveligiaram exuberantemente a exultação da contradição com o regime autoritário deposto. Deram gestação ao Estado liberal (travestido de socialista, que ia do CDS à UDP), incongruente e deficitário que persiste.

Último paradoxo: toda a gente sabe, e está consignado na lei, que qualquer individuo com ligações laborais fica vinculado a princípios de lealdade e disciplina, pelo que no caso dos aderentes ao MFA, empregados do Estado, tendo em vista a desgraça de consequências daquele acto colectivo, só por terem sido rebeldes vencedores, é que não respondem pelas indignas consequências do que levaram a cabo, assim como, também se evidencia a cumplicidade nas relações entre políticos (poder constituído) e militares, prova provada, do atraso social da comunidade onde ocorreram as situações descritas, numa comunhão e protecção de interesses semelhante à que perdurava durante o regime derrubado.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13212: (In)citações (65): Salvemos o elefante africano que 40 anos depois do fim guerra volta a percorrer o corredor de migração de Gandembel, Balana, Cumbijã e Colibuía na época das chuvas!

Guiné 63/74 - P13274: Artistas de variedades no mato (3): Cachil, ao tempo da CCAÇ 557 (1963/65): a prata da casa, para levantar o moral ao pessoal... (José Colaço)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (,Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Foto nº 24  > Junho de 1964: secção de milícias adida à CCAÇ  557, executando um batuque



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (,Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Foto nº 23 >  Junho de 1964: o grupo de teatro que veio de Catió



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (,Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)  > Foto nº 16 > A LDM 300, encalhado em terra, à espera da maré-cheia. Fotos do álbum do José Colaço (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65).

Fotos (e legendas): © José Colaço (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 5 do corrente,  do nosso camarada José Colaço, respondendo a desafio dos nossos editores (*)

Camaradas: Quem se tembra de espetáculo de variedades no mato ? E com que artistas ? E em que épocas ? Podiam ser iniciativas do Programa das Forças Armadas ou o Movimento Nacional Feminino... Se sim, mandem histórias e fotos... Obrigado. Luís Graça


Caro amigo Luís Graça:

Podia ser  copy & paste do poste do Gabriel Gonçalves, já que muitos  espectáculos de variedades no mato durante os treze anos da guerra da Guiné terão sido feitos... com a "prata da casa" (*)

Quanto à questão que pões), lembro-me que no tempo do BCAÇ 2852 (ambadinca, 1968/70), os espectáculos eram feitos com a prata da casa, [Gabriel Gonçalves].

Recuando no tempo... Vivia-se o ano de 1964,  princípio do mês de Junho no quartel do Cachil . que aqui alguém baptizou como quartel do fim do mundo. O moral dos militares portugueses estava de facto a bater no fundo. Para os católicos praticantes o comando de Catió emanou uma ordem para o capelão da unidade quando possível dar a missa no Cachil e fazer uma homilia  de conforto.

Mas havia os católicos não praticantes, nos quais me incluo... Então o comando de Catió resolve enviar um grupo de artistas militares de teatro de Catió para darem um espectáculo no Cachil. Monta-se o palco, a plateia tudo genuíno como podem ver pelas fotos em anexo. Estas é que de genuíno não têm quase nada, estão fartas de serem clonadas de imagens que  passaram que de CD a DVD e de DVD a fotos.

Agora o espectáculo: como tínhamos na companhia uma secção de milícias,  eles abriram o espectáculo com uma dança de batuque. A seguir, vieram os artistas de teatro de Catió com a representação de uma  peça de teatro que, passados 49 anos, não consigo recordar o nome.

Como de noite não havia meio fluvial de transporte para Catió,  passou a haver mais uns quantos que,   puderam contar aos filhos e netos que também frequentaram e gozaram, embora só por uma noite,  as  suites do Cachil  (Ilha do Como).

Um abraço.

Colaço.

PS - Como sempre, se te parecer que tem sumo para publicar após as devidas correcções, utiliza.

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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série > 

4 dce junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13235: Artistas de variedades no mato (1): Rui Mascarenhas... em Bafatá, anunciado para o dia 27/2/1973... Ou uma história com moral: voluntário na tropa nem para comer... (António Santos, ex-sold trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74)

Guiné 63/74 - P13273: Efemérides (163): O 10 de junho de 2014 em Belém, Lisboa... Um dos fotógrafos da Tabanca Grande estava lá (Jorge Canhão)


 Foto nº 1



Foto nº 2


 Foto nº 3


Foto nº 4


 Foto nº 5

Lisboa > Belém > 10 de junho de 2014 > Alguns dos nossos camaradas  marcaram presença em mais um encontro dos combatentes... que parece ter sido algo bisonho como o tempo... À esquerda, na última foto os grã-tabanqueiros Jorge Canhão e Miguel Pessoa. As fotos do Jorge Canhão vieram com legendas mínimas, não permitindo, nomeadamente, identificar os restanrtes camaradas...


Uma pequena ajuda na identificação das fotos, por parte  do  nosso grã-tabanqueiro José Colaço: "a que tem por fundo o Mural (foto nº3), o do chapéu é o tenente coronel Marcelino da Mata ; a outra a seguir (Foto nº 4), o da direita é o José Colaço, Miguel Pessoa e o Arménio Estorninho os outros dois camaradas não fixei os nomes; e a última (foto nº 5), o da direita o Jorge Canhão, seguido fo do Pessoa e do Estorninho".

Fotos: © Jorge Canhão (2014). Todos os direitos reservados.

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Guiné 63/74 - P13272: Efemérides (162): Homenagem aos Combatentes no dia 10 de Junho de 2014 em Leça da Palmeira-Matosinhos (Carlos Vinhal)

1. Por que este ano o Dia de Portugal coincidiu com o Feriado Municipal do Senhor de Matosinhos, as comemorações do 10 de Junho, em Leça da Palmeira, foram divididas em dois períodos, sendo o da manhã preenchido com o hastear da Bandeira Nacional no edifício de Junta de Freguesia, cerca das 10 horas.

Ao acto estiveram presentes o Presidente da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, Dr. Pedro Sousa; a Presidente da Assembleia de Freguesia, Dra. Noémia Pires; Presidente da Direcção e Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, respectivamente, TCor Armando Santos e combatente Ribeiro Agostinho.

Dois elementos dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça executaram brilhantemente os toques de continência à nossa Bandeira.

O hastear da Bandeira Nacional a cargo da Dra. Noémia Pires

Foto de família deste 10 de Junho de 2014


Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - Talhão em Memória dos Combatentes da Grande Guerra e da Guerra do Ultramar

Da parte da tarde, junto ao Talhão dos Combatentes sito no Cemitério n.º 1, cerca das 15h30, iniciou-se a cerimónia de homenagem aos combatentes de Leça da Palmeira caídos em campanha.

Estiveram presentes as individualidades que de manhã haviam presidido à cerimónia do hastear da Bandeira Nacional, mais o Guião do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes e o, recentemente criado, Coro do mesmo Núcleo.
A parte religiosa foi presidida pelo senhor Padre Marcelino.

O nosso Coro, superiormente dirigido pelo Sarg Ajud Luís Ribeiro, interpretou duas orações e, no final da Cerimónia, o Hino Nacional.

O senhor Padre Marcelino lembrando e rezando pela memória dos nossos camaradas que não voltaram

Autoridades oficiais, Guarda de Honra composta por combatentes e algum público que compareceu apesar da concorrência da Romaria do Senhor de Matosinhos

Recolhimento para um minuto de silêncio após a deposição de uma coroa de flores na base do Talhão.

O combatente Daniel Folha lê um poema, de sua autoria, dedicado a sua mãe na hora do embarque para Angola

O Presidente da Mesa da AG do Núcleo de Matosinhos da LC, combatente Ribeiro Agostinho, dirigindo-se aos presentes

O combatente Carlos Vinhal na condição de porta-Guião do Núcleo de Matosinhos da LC

O senhor Presidente da União de Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira, Dr. Pedro Sousa, no uso da palavra

A Presidente da Assembleia de Freguesia, Dra. Noémia Pires, quis homenagear todas as mães, esposas, irmãs e namoradas, que, como ela própria, sofreram a ausência e temeram pela morte dos seus entes queridos que lutavam em terras de África.

No fim de cerimónia foi interpretado o Hino Nacional pelo Coro e pelos presentes

O Executivo da Junta de Freguesia teve a gentileza de nos receber depois no seu Salão Nobre, onde foi servido um Porto de Honra. Aproveitou-se o momento para conviver e lembrar o passado que não podemos nem devemos esquecer. Que Portugal nunca mais tenha de enfrentar qualquer tipo de guerra.

Fotos: Dina Vinhal
Legendas das fotos e texto: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13250: Efemérides (161): Lisboa / Belém, 10 de Junho de 2014 - Homenagem Nacional aos Combatentes, integrada no Dia de Portugal

Guiné 63/74 - P13271: Manuscrito(s) (Luís Graça) (32): Estavam lindos os jacarandás quando deixei Lisboa... (Luís Graça)








Lisboa > Parque Eduardo VII, junto à praça Marquês de Pombal e à av Joaquim António de Aguiar > 7 de junho de 2014 > Os jacarandás em flor


Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



Os jacarandás de Lisboa 
ou o puro azul do desejo

por Luís Graça


Estavam lindos os jacarandás
quando deixei Lisboa
e o Tejo, ao fundo.
Eram o puro azul do desejo,
o azul do lápis lazúli.
o azul mais inebriante do mundo.

Para trás, ficava o sulco de uma canoa
e o cheiro a alfazema de Alfama.
No teu quarto,  
de hotel barato,
o sofá-cama desfeito
era um certo jeito 
de dizer adeus,
um jeito tão português, tão nosso, 

o nosso fado, dirás,
ora batido ou chorado,
ora dançado ou cantado.

Falar da saudade de quem fica,
não posso,
nem devo dizer do desejo de quem parte,
que o amor é ciência e é arte.
Subo aos céus,
em avião a jacto
que corta o planeta
em duas metades laranja ao pôr do sol.

Não sei se é amor, de jure et de facto,

ou apenas sorte o arco-íris da tua paleta
com que pinto Lisboa de jacarandás.
Mas que pode a imaginação do poeta,
quando o coração, mais forte,
pensa que manda ?

Em Lisboa, cidade aberta,

eram os teus lábios de girafa
que eu em vão procurava
nas folhas das acácias vermelhas
com que imaginava, coberta, 
... a ilha de Luanda!


Portugal, Lisboa, Parque Eduardo VII;
Angola, Luanda, Ilha de Luanda, Clínica da Sagrada Esperança, junho de 2012.

Guiné 63/74 - P13270: Ser solidário (160): Petição: Parem imediatamente o tráfico ilegal de madeira na Guiné-Bissau!... (Patrício Ribeiro / Luís Graça)


1. De  Bissau,  com data de 6 do corrente, o nosso camarada e amigo Patrício Ribeiro manda-nos a seguinte mensagem:

As más noticias...

Todos os dias a bicha dos contentores a tardinha, chega em duas filas,  desde o Palácio, até aos portões do porto de Bissau,  contornado a Amura e estrada à volta de Bissau, por de trás da Alfandega.

São muitas dezenas de contentores por dia, há quem diga que são mais de 100 que diariamente a entrar no porto...

Um abraço

Patricio Ribeiro

2.  PETIÇÃO | Parem imediatamente o tráfico ilegal de madeira na Guiné-Bissau!

Caros/as amigos/as e camaradas da Guiné:

A exploração e tráfico ilegal de madeira na Guiné-Bissau está a  tomar proporções assustadoras,  colocando em perigo os ecossistemas do país e as comunidades que dele dependem. É importante que todos/as nos mobilizemos no sentido de apelar às autoridades nacionais e internacionais a agirem, rapida e prontamente. 


  Leiam, divulguem e assinem  esta petição, disponível, aqui, no síto da AVAAZ.org - Community Petitions [, inmagem acima,]  em português, francês e inglês. Reproduz-se a seguir a versão em português.

Nós já a subscrevemos, a título individual. Basta indicar o nome, o endereço de email e o país. Esta petição foi lançada em 4 do corrente, pelo grupo Acção C., da Guiné-Bissau, e destina-se a aer entregue a: (i) Presidente da República e primeiro ministro da Guiné-Bissau; (ii) Presidente da República Popular da China; (iii) Secretário Geral das Nações Unidas e União Europeia.,

A publicação no blogue desta petição em nada viola, no nosso entender, o princípio, nº 7,  da "não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da atual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo)".(Ver O Nosso Livro de Estilo). Escusado será recordar, mais uma vez, que as opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, (LG).

Manifesto
Os recursos florestais da Guiné-Bissau estão a ser brutalmente extirpados,  ameaçando a manutenção da sua diversidade genética, a conservação da biodiversidade no país e colocando em perigo as comunidades locais que dependem dos ecossistemas.

Estudos da Organização Internacional das Madeiras Tropicais indicam que apenas 1% da exloração madeireira nos trópicos é sustentável.

A licença anual de exploração está fixada em 20.000 m3,  embora este valor tenha sido afixado sem qualquer tipo de avaliação prévia ou estudo sobre a capacidade de exploração sustentável no país.

A madeira é na maior parte das vezes arrumada em contentores nas matas, e não nas madeireiras como a lei obriga, fugindo totalmente ao controlo da quantidade cortada e processada.

A primeira denúncia e revolta popular ocorreu em Quínara em Outubro de 2012, quando jovens do setor de Fulacunda identificaram cidadãos chineses usando uma licença de exploração da madeireira Folbi que lhes permitia explorar diariamente dois contentores de madeira (aproximadamente 34 m3/dia).

Esta denúncia, assim como as restantes que se seguiram, nunca obtiveram resposta ou tomada de posição do anterior Governo de Transição.

Atualmente das 8 regiões do país as que estão a ser alvo de tráfico ilegal de madeira são todas aquelas onde ainda existem manchas florestais, nomeadamente: 


  • Cacheu (setor de Cantchungo); 
  • Oio (setores de Farim, Mansabá e Bissorã); 
  • Bafatá (Setores de Contuboel, Bambadinca, Galomaro, Ganadu e Xitole), 
  • Gabú (setores de Pitche, Mansabá e Bissorã);
  • Tombali (Quebo e Catió);
  • Quínara (setores de Buba, Fulacunda e Tite).

Nestas regiões o corte de madeira foi realizado também em áreas protegidas onde o corte massivo de qualquer madeira está interdito!

No corredor ecológico de Salifo por exemplo, no Parque Nacional do Dulombi cuja criação, funcionamento e financiamento está a cargo das Nações Unidas, foram retirados 300 contentores (5.100 m3) entre Janeiro e Março de 2014 sob pressão militar.
No Parque Natural das Lagoas de Cufada, na aldeia de Bacar Conté, foram cortadas 116 árvores só no mês de Janeiro de 2014.

Ameaças e agressões aos camponeses são feitas por militares sempre que há resistência em qualquer parte do país em cooperar, colocando frequentemente os seus direitos humanos em causa,  aliada a uma completa inação das forças policiais.

Os relatos e as denúncias aumentam a cada dia que passa. Neste ritmo de exploração ilegal de madeira os ecossistemas da Guiné-Bissau entrarão num irreversível colapso!
Nós,  cidadãos nacionais e internacionais, plenos cidadãos de direito, exigimos uma tomada de posição imediata.

Ao Presidente da Républica e Governo recém eleitos na Guiné-Bissau:
  • suspensão imediata da concessão de novas licenças e revogação das licenças concedidas a empresas infratoras.
  • avaliação do impacto ecológico, social e económico do desmatamento ilegal;
  • abertura de um inquérito ao trafico ilegal de pau-de-sangue e outras árvores exóticas no país, em particular nas áreas protegidas, florestas comunitárias e florestas sagradas;
  • reflorestação das áreas afetadas;
  • expulsão do país das pessoas estrangeiras condenadas e envolvidos no tráfico de madeira e julgamento e condenação dos nacionais diretamente envolvidos;
  • aplicação de uma moratória à exploração de pau-de-sangue por 10 anos.
Ao Presidente da República Popular da China:
  • que a China assuma a sua responsabilidade na destruição das florestas dos países em desenvolvimento onde tem estabelecido parcerias de cooperação;
  • que a China reveja o seu conceito de cooperação ajudando na mitigação do problema;
Ao Secretário Geral das Nações Unidas e à União Europeia:
  • se pronuncie sobre o formato de cooperação da China com os países em desenvolvimento, fornecendo um relatório público sobre essas relações de cooperação e seus impactos para os últimos, lembrando que as Nações Unidas encontram-se engajadas em ajudar os países como a Guiné-Bissau a atingir os objectivos do milénio;
  • apoie a sociedade civil Guineense no reforço de capacidades em matéria de advocacia através de facultação de ferramentas operacionais que permitam a esta participar nas tomadas de decisão referentes ao desenvolvimento do país em matéria de exploração de recursos naturais.
Para assinar a petição, clicar aqui. [Revisão e fixação do texto, incluindo negritos, da responsabilidade do editor LG].

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Nota do editor:

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13269: Agenda cultural (323): II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais “A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsaariana no Século XX (1914-1974)”: Universidade de Coimbra, Departamento das Ciências da Vida, Antropologia, amanhã e depois, 12-13/6/2014






1. Com pedido de divulgação, reproduz-se mensagem, de 7 do corrente,  do nosso leitor  José Matos [e investigador, especialista em aviação militar, filho de uma camarada nosso, já há muito falecido, fur mil José Matos, da CCAV 677 / BCAV 5499, 1964/66]

Boa noite

No final da próxima semana decorre em Coimbra um colóquio sobre “Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais” promovido pelo Grupo “História e Memória” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20). 

Já está disponível no site do colóquio o programa e a ficha de inscrição. Agradecia a divulgação deste evento no vosso site.

José Matos



II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais
“A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsaariana no Século XX (1914-1974)”



Em Fevereiro 2008, integrado na “X Semana Cultural da Universidade de Coimbra” e organizado pela linha de investigação “Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais” do Grupo “História e Memória” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século (CEIS20), teve lugar o Colóquio Internacional “Comunidades Imaginadas. Nação e Nacionalismos em África”.

O livro (parcialmente homónimo) de Benedict Anderson foi o ponto de partida, pretendendo-se teorizar, documentar e ilustrar as múltiplas faces da complexa questão nacionalista e as peculiares tonalidades que estas assumiram no cenário africano. Ao longo de dois dias, especialistas consagrados, jovens investigadores, assim como personalidades de formação diversa, enquadraram a problemática e analisaram, em especial, os países nascidos no rescaldo do fim do colonialismo português.

Sendo intenção dar continuidade a iniciativas similares, os investigadores da mencionada linha pretendem organizar o II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais, subordinado ao tema “A Guerra e as Guerras Coloniais em África no Século XX (1914-1974)”.

Com o objectivo de assinalar o centenário do início da I Guerra Mundial e os 40 anos do fim da Guerra Colonial/de Libertação, propõe-se que todos os investigadores interessados dêem o seu contributo com o envio de propostas no âmbito das seguintes temáticas:

1) Das Campanhas de Pacificação” à “Grande Guerra”

2) Cultura, representações e memórias da guerra

3) Demografia, Migrações e Refugiados de guerra

4) A Guerra Colonial/de libertação

5) Psicopatologias em contexto de (pós) guerra



Chamada de Trabalhos : datas importantes

(i) até 31 de Março era  prazo limite para a submissão das propostas;  até 15 de Abril – Comunicação dos resultados; até finais de Abril – Publicitação do programa

(ii) 12 e 13 de Junho – Realização do Colóquio [vd. programa,  em detalhe, em baixo] ;

(iii) 20 de Junho – Data para o envio do texto final para publicação

Data limite para o pagamento da inscrição: 25 de Maio de 2014: (i) Participante com comunicação – 10€; Participante sem comunicação (com certificado e materiais) – 5€

O colóquio terá lugar na:  Universidade de Coimbra, Deprartamento das Ciências da Vida, Antropologia

 Comissão Científica:

Ângela Coutinho | Daniel Gomes | Fernando Pimenta | Joana Damasceno  José Lima Garcia | Julião Soares Sousa |  Sérgio Neto

Comissão Organizadora:

 Alexandre Ramires | Ângela Coutinho | Clara Serrano | Daniel Gomes | Joana Damasceno | José Lima Garcia | Julião Soares Sousa | Marlene Taveira | Sérgio Neto

Programa:

 [, entre outras, chama-se a atenção das comunicação a apresentar, no dia 13, no painel IV - Guerras Coloniais, às 10h00, por José A. Matos  e Matthew M. Hurley, "A arma que mudou a guerra", referência ao Strela; bem como pelo nosso amigo, o historiador guineense Julião Soares Sousa, "A 'guerra de fronteira': Guileje e o corredor de Guileje"; de destacar ainda  a apresentação de testemunhos orais de antigos combatentes da guerra colonial, na tarde do dia 13 ]





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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13244: Agenda cultural (322): Lançamento do livro "Guiné-Bissau, um país adiado - Crónicas na pátria de Cabral", de Manuel Vitorino, dia 12 de Junho de 2014, pelas 18h00 na Biblioteca Florbela Espanca, em Matosinhos.

Guiné 63/74 - P13268: In Memoriam (190): António Rebelo (1950-2014), ex-fur mil, 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)... Estava inscrito no nosso IX Encontro Nacional, a realizar em Monte Real, no próximo dia 14... Faleceu ontem, de morte súbita... O seu corpo será velado na igreja de Massamá e cremado amanhã em Barcarena... Vamos recordá-lo, doravante, sob o poilão da nossa Tabanca Grande (Jorge Pinto / Luís Graça)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Cerimónia do içar a Bandeira Nacional. O fur mil António Rebelo é o  do meio,  que está de calções.

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Pinto [, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; foto à esquerda]:


Data: 10 de Junho de 2014 às 22:24
Assunto: Falecimento do camarada António Rebelo (*)


Luís, meu amigo, acabo de receber a triste notícia do falecimento do nosso querido camarada António Rebelo, que este ano nos iria acompanhar pela primeira vez, no nosso Encontro Nacional da Tabanca Grande. (**)

O seu corpo ainda se encontra no hospital Amadora Sintra. Segundo a esposa dele,  que me deu a triste notícia,  presume-se que a causa da morte tenha sido um enfarte, mas aguarda autópsia. O corpo virá para a igreja de Massamá e será cremado no crematório de Barcarena, possivelmente na 5ª feira. 

Embora ele não fosse ainda membro da Tabanca Grande,  sei que estava entusiasmado em confraternizar connosco e começar a enviar fotos e outras memórias de Fulacunda, onde esteve entre 1972/74, pertencente à 3ª Cart do Bart/6520-72, como Furriel Miliciano.

Envio uma foto em que ele está a participar na cerimónia do içar a Bandeira Nacional. É o elemento do meio que está de calções.

Tinha  63 anos em Setembro.

Recebe o meu abraço e a minha grande pena de não te poder apresentar, no próximo sábado, este nosso querido amigo, pois estou convicto que irias simpatizar muito com a pessoa que ele era.

JPinto

2. Comentário de LG:

Querido amigo e camarada Jorge: Este blogue também é o blogue das emoções fortes, das alegrias e das tristezas... Estava eu tão entusiasmado com a perspetiva de  vos receber de braços abertos, no próximo sábado, em Monte Real, a vocês três, bravos representantes da 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), a ti, ao José Miguel Louro  e ao António Rebelo,  quando o mensageiro da morte me dá a notícia, brutal, de que o Rebelo já  não pertence ao mundo dos vivos!... Nós, que lidámnos com a morte aos 20 anos, não estamos prontos para falar com ela, cara a cara, aos 60, aos 70... Aliás, quem está ?... Nenhum de nós, humanos, mortais, finitos...

Jorge, os poetas, os escritores, os filósofos, os teólogos, os cientistas, os comuns mortais já esgotaram as palavras dos dicionários falando de (ou escrevenedo sobre) a morte, o mistério da morte, e a nossa ilusão de imortalidade.

Transmite à viúva e demais família do nosso camarada António Rebelo (1950-2014) os nossos sentimentos de dor e de solidariedade na dor. Quando um camarada da Guiné morre, há também algo de nós que morre.

Ainda sei pouco sobre o Rebelo, para além da idade (63 anos, feitos em setembro de 2013) e o facto de se ter licenciado em sociologia, tal como eu, depois, da passagem à disponibilidade, no pós-25 de abril. Uma singela homenagem que lhe podemos fazer é, desde já, celebrar a vida, e recordar alguns  momentos da passagem do António Rebelo por este mundo, nomeadamente quando os nossos destinos se cruzaram, aqui e na Guiné.

Vou pedir ao Jorge Pinto que nos ajude a resgatar essa memória, que ajude o nosso malogrado camarada a cumprir  provavelmente uma das suas últimas  vontades, que era a de se sentar sob o poilão da nossa Tabanca Grande e partilhar, com os seus camaradas, pedaços das suas memórias daquela terra verde e vermelha onde ele e nós passámos 2 anos decisivos da nossa juventude.

Jorge, através da família, com tempo e vagar, faz-nos chegar alguns registos, e nomeadamente imagens digitalizadas, da vossa vida em comum em Fulacunda.

Em homenagem ao António Rebelo, e aos demais camaradas da 3ª CART / BART 6520/72, o seu nome passa a figurar, desde já, no nosso mural, o  dos grã-tabanqueiros que "da lei da morte se foram libertando". Passa a ser também o nosso grã-tabanqueiro nº 659 (***). Para que, quando alguém perguntar pelo seu nome, haja sempre um camarada que responda, por ele: "António Rebelo ? Sim,  presente!"...
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13129: In Memoriam (189): José Henriques Mateus (1944-1966): uma singela e tocante homenagem das gentes da sua terra, Areia Branca, Lourinhã, na manhã de domingo, 11 de maio... Um exemplo a ser seguido por outras terras deste país.

(**)  Vd. poste de 28 de maio de 2014 >  Guiné 63/74 - P13203: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): Um exemplo a aplaudir e a seguir: Jorge Pinto, "régulo" de Fulacunda, traz mais dois camaradas com ele, até Monte Real, no dia 14 de junho: José Miguel Louro e António Rebelo, da 3ª CCART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)

(...) Mensagem do nosso leitor e camarada António Rebelo [, 3ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/1974]:

Data: 27 de Maio de 2014 às 16:08

Assunto: Pedido de inscrição no almoço de 14 de Junho p.f.

Boa tarde, Luís Graça:

Julgo que não nos conhecemos pessoalmemte. No entanto, temos amigos comuns: Jorge Pinto, José Miguel Louro, etc... e foi o José Miguel Louro, primeiro, e o Jorge Pinto, depois, quem hoje me deu a boa nova: Vai-se realizar um almoço dos ex-combatentes da Guiné. Queres vir?

Foram-me facultadas as coordenadas e os elementos mais que suficientes para chegar a Monte Real [,por lapso, escreveu Vila Real].

Depois, no contacto telefónico foi-me facultado o nome do blog e aqui estou eu a tentar marcar presença no próximo evento.

Um abraço.

António Rebelo
Massamá

Fulacunda:
3ª CART/BART 6520/72 (1972/1974).


(***) Vd. último poste da série > 8 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13257: Tabanca Grande (438): António Correia Rodrigues, ex-Fur Mil Cav da CCAV 766 (Fulacunda, S. João e Tite, 1964/66)

terça-feira, 10 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13267: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte X: (i) o galo que teve o nosso primeiro Pinheiro; e (ii) o pobre do porco que, morto por doença e enterrado, não se livrou da faca e do fogo... (Avelino Pereira)

1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte X (Fur mil at inf, 4º pelotão, Avelino Pereira)


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos às mãos,  em suporte digital,  através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). 

Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo  pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Desta vez vamos  publicar dois episódios, contados pelo fur mil Avelino Pereira, do 4º pelotão, e que correspondem às pp. 50/53; (i) o galo que teve o 1º sargento Pinheiro; e (ii) o porco que, morto por doença e enterrado, não se livrou da faca e do lume.  

Nas duas fotos que se publicam também, a seguir, reconheço o nosso camarada, ex-1º cripto Luís Nascimento. Não preciso de dizer que o Avelino Pereira passa a estar automaticamente convidado a integrar a nossa Tabanca Grande. Basta-lhe, para o efeito,   manifestar esse desejo e mandar-nos as duas "chapas" da ordem: uma foto atual, e outra do tempo da tropa ou da guerra,,, (LG).












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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de junho de  2014 >  Guiné 63/74 - P13231: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte IX: (i) um dia diferente: quando o cantor Horácio Reinaldo veio atuar a Canjambari, no âmbito do Programa das Forças Armadas (PFA); e (ii) um dia inesquecível: aquela mina A/P que estava montada para o fur Fernando Pires...

Guiné 63/74 - P13266: Ser solidário (159): É verdade, é tristemente verdade, Isabel, por aí, por essa terra madrasta, pode bem dizer-se: "... E a morte continua"!... No dia em que foi a enterrar a Alicinha do Cantanhez (2010-2014).

A Alicinha e a mãe, nalu, Cadi Indjai (1985-2013)
1. Mensagem da Isabel Levy Ribeiro, em Bissau, chegada hoje por volta das 11h55

Assunto - Alicinha

Olá, Alice e Luis. Acabei de receber agora a noticia da Alicinha. A vossa [menina] morreu ontem e está a decorrer agora o seu funeral  lá no sul.

Não sei o que aconteceu! Apenas que se foi.

Há pouco deram mais uma notícia da morte de um rapaz que trabalhava na TV de S. domingos. Por aqui, pode-se dizer ..."e a morte continua", ao contrário de "a vida continua".

Um abraço
Isabel

2. Resposta de Luís Graça:

Obrigado, Isabel, pela grandeza do teu gesto. Registo e não esqueço. Os amigos são também para estas ocasiões dolorosas. 

A minha Alice ficou num pranto quando, incrédula,  leu a notícia. Acabávamos de chegar da casa do Nuno Rubim, na noutra banda, onde fomos buscar uns livros. 

Telefonámos de imediato ao António  Baldé, pai da Alicinha, que mora aqui perto de nós, em Alfragide [, foto  à esquerda]. Estava triste por ter recebido, da Guiné-Bissau,  a notícia de que a menina, ontem,  estava muito doente. Demos-lhe a então a notícia do brutal desfecho.(*)

A Alicinha do Cantanhez, a filha da Cadi e do Baldé, a mana do Nuninho (**), não chegava aos 5 anos, a mítica fronteira da sobrevivência na Guiné-Bissau. A morte levou-a com ela, depois da mãe Cadi, depois do mano Nuninho. Fica um pai (e um irmão, adolescente, de 15 anos), desctroçado. Ele que tanto queria conhecer (e viver ao lado de) a sua filhota  mais nova... Tinha planos para voltar para a Guiné, para a sua casa em Caboxanque, no próximo ano, e dedicar-se à apicultura...

É uma dor de alma. A Guiné é  uma terra madrasta para as crianças... E tanto que a Alice e o Baldé sonharam em trazê-la para cá!.... De alguma maneira, a Alice também se sente culpada por não  ter conseguido vencer, em tempo útil, a burocracia e trazê-la para Portugal, para o pé do pai e do irmão... A Alicinha, que ela já tratava como a "sua menina"... 

É verdade, é tristemente verdade, Isabel, por aí, na Guiné,  pode-se dizer: "... E a morte continua!"...

Obrigado, amiga. Espero que as coisas melhorem para ti e a  tua família. Um xicoração apertado. Luis (e Alice).
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12776: Ser solidário (158): Gente amiga da ONGD Ajuda Amiga: o cor comando ref Hélder Vaz Pereira, presidente do conselho Fiscal, que viveu desde os 4 anos em Bissau... (Armando Pires)

(**) Vd. Luís Graça > Blogpoesia > 24 de setembro de 2008 > Blogantologia(s) (II) - (72) Nasceu e morreu um pretinho da Guiné

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Setor de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma jovem, da região, que estava grávida, e que tinha o marido em Bissau. Caíu nas boas graças das nossas senhoras, sempre muito maternais: a Júlia [, esposa do Nuno Rubim], a Alice [, esposa do Luís Graça], a Isabel [, esposa do Pepito]... 

Cadi era o seu nome. Vivia em Farim do Cantanhez. Esteve recentemente às portas da morte. E perdeu o seu primeiro e único filho, o Nuninho, de 4 meses. Por paludismo. Por abandono. Por falta de tudo (ou quase tudo). Por falta de cuidados de saúde (primários e secundários). Por falência dos serviços públicos de saúde. Por falta de médicos que vêm estudar para Portugal e não voltam.... Por ser guineense, por ter nascido num dos piores países do mundo no que diz respeito a indicadores de saúde materno-infantil... "Que raiva, que mundo, que desgraça de país" - é a primeira reacção que nos ocorre, a nós, que estamos num país que tem um dos baixos indicadores de mortalidade infantil do mundo... Sofremos, e muito, com estas notícias tristes que nos chegam da nossa querida Guiné... e que nos envergonham a todos (LG).


Nasceu e morreu um pretinho da Guiné

Cadi, de seu nome.
Amorosa.
Uma ternura.
Uma jóia de miúda.
Tinha a graça de uma gazela
apascentando na orla da bolanha.
Era nalu.
Vivia em Farim do Cantanhez.
Filha de um velho combatente da liberdade da pátria,
com direito a pensão
ao fim do mês.
Estava grávida de muitas luas.
Atrelou-se à Júlia e à Alice
em Iemberém,
no início de Março de 2008.
Com aquela candura, doçura, espanto e maravilhamento
das crianças africanas,
quando vêem uma Mulher Grande, branca.