quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15149: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XIV Parte): Fuzileiros, Páras e Felupes; O que se terá passado em Catió; Casamento com data marcada e Ponto da situação em Brá

1. Parte XIV de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 21 de Setembro de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - XIV

Fuzileiros, páras e felupes

A acabar de chegar a Brá, uma carta em cima da cama.

“Caro Alferes
Já antes da sua partida para a zona de Cuntima estava prevista uma operação na área do Ingoré, base de Campada. A ideia é o seu grupo embarcar nos helis até Teixeira Pinto, onde aguardará indicações para intervir.

Não será um golpe de mão clássico, visto que as notícias não definem bem a localização. Como as forças empenhadas são numerosas procurar-se-á o IN de dia, no caso de não se encontrar de noite. Pormenores da operação ser-lhe-ão dados pelo Tenente-Coronel H. Calado. A data prevista é de 3 para 4. Felicidades, um abraço, cap. Leandro.”


Cena do filme. Um descampado enorme, palmeiras desgarradas aqui e além, a mancha de militares a surgir ao longe numa nuvem de pó, a lembrar-lhe a cavalaria dos filmes de coubóis no cinema Batalha do Porto, só não bateu palmas porque as trazia ocupadas, a G3 numa mão, a Sudayev1, apanhada momentos antes, na outra.

Um pelotão de páras junto aos helis, mais as forças do batalhão do Tenente-Coronel Calado, dispersas aqui e além, e Felupes2 com a pila à mostra, conhecidos antropófagos locais, armados de arcos e setas envenenadas. As palmeiras, o fumo e os pós no ar, cheiros de pólvora e as cores da Guiné numa tarde a aproximar-se do fim.

Tinham saído do aeroporto de Bissalanca às 6h00 montados nos helis e cerca de uma hora depois estavam em Susana, no norte, mesmo junto à fronteira. Depois ficaram ali à espera que os outros destacamentos envolvidos fizessem saltar a caça. Pelo rádio foi acompanhando a guerra em directo. Houve tempo para meterem uma bucha, para passarem pelas brasas, e chegaram até a pensar que regressariam sem chegarem a entrar em acção até o atento Dornier confirmar que o IN estava a retirar, disperso em pequenos grupos, por locais diferentes.


É agora, dêem-lhes caça! Ordem para embarcarem já passava das 13. Dez ou quinze minutos depois, dispostos aos pares, os helis largaram-nos numa bolanha em Cassum.

Mal puseram os pés no chão foram recebidos com fogo muito alto, algumas rajadas de PPSHs e Kalashs.

Dirigiram-se para norte, a caminho da fronteira, junto a um carreiro pisado de fresco, até que os dois homens da frente fizeram alto e deram indicações para o pessoal se ajoelhar. O chefe do grupo, que seguia logo a seguir, chegou-se ao Jamanca e ao Kássimo e viu um guerrilheiro atrás de uma palmeira, aflito, a olhar para todos os lados, arma a brilhar nas mãos, para camarada fazer fogo no tuga danado, só podia ser.

A equipa da frente dividiu-se em duas parelhas, rodearam-no, o olhar dele não parava e não os via, um apareceu-lhe de frente, o outro do lado direito, o guerrilheiro não atirou a arma para o chão como lhe mandaram, uma voz algures deve tê-lo distraído, hesitou, o Kássimo, a 20 metros para aí, atirou. Deram uma volta pela zona, o PCA montado no Dornier em contacto a dizer-lhes que os avistaram, que estavam em cima da fronteira, que retirassem pelo mesmo caminho, o rádio a ouvir-se melhor agora, e que mais, que mais apanharam? Mais nada?
A voz do cavaleiro do ar a achar que era pouco resultado para tanta gente.
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Notas:
1 - Pistola-Metralhadora “Sudayev” cal. 7,62 mm M-943
2 - Grupo étnico que compreende as populações existentes no Sul de Casamance e São Domingos na Guiné, entre os rios Casamance e o Cacheu. Os felupes dedicam-se à pesca, à cultura do arroz, da mandioca e da batata-doce.

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O que se terá passado em Catió? 

Esgueiraram-se pelo caminho, a olhar para um lado e para o outro, as sombras da lua atrás deles, o barulho do gerador a ajudá-los. Encostaram-se ao pré-fabricado, colados à parede, ficaram assim um bocado, a luz acesa no quarto, janela com cortinado pequeno. 
Deve estar lá dentro, sussurra um para o outro. Este a espreitar entre os cortinados, a rir-se, mão na boca. Olhó o filho da puta! 

Deixa ver, diz o outro, mete os olhos e vê os óculos, a pele muito branca, em pelota, gordinho, barriga em cima da cama, as nádegas redondas, salientes, para o ar. 
Qué que o filho da puta tá a fazer, todo nu, de cu pró ar? Tá a jogar às cartas? 
São cartas com gajas nuas, tão todas espalhadas na cama! 
Ai o cabrão! E agora? 
Agora, pá, deita-se qualquer merda pró chão, para fazer barulho. Esse vaso, isso, esse serve, ali junto à porta pró gajo sair. 
Estrondo lá fora, cacos a partirem-se. Não está vento, o que será? Põe-se a pé, enfia as calças, as botas. Coração aos saltos, vai abrir a porta, volta a fechar, que esquecimento! Pistola na mão, abre outra vez a porta, espreita para um lado, para o outro. Um barulho na esquina, pareceu-lhe, pé ante pé, aí foi ele, o militar destemido em direcção à esquina.

No hospital em Bissau o tenente-coronel lembrava-se de pouco. Estrelas, muitas na cabeça entrapada e não se lembrava de muito mais, não. O major do QG insistia, mas meu tenente-coronel há-de se lembrar de mais alguma coisa. 

Houve algum problema com alguém lá do Batalhão em Catió? Não houve? Não desconfia de ninguém? E em Teixeira Pinto, recorda-se de alguma coisa? Houve alguns casos disciplinares não houve, meu tenente-coronel? 

Problemas, sim, um ou outro, todos temos, mão na cabeça dorida. 

Meu coronel, tem que haver qualquer antecedente, qualquer história para trás, qualquer coisa, veja se se lembra! 

Eu estava em cima da cama com o mapa da zona de Catió, estava a analisá-lo, a ver as referências, a assinalar a disposição inimiga, pareceu-me ouvir o barulho de qualquer coisa a partir, um ruído de passos na esquina, não, não me lembro de mais nada, a cabeça dói-me muito. 

Na rede suspensa nas duas árvores do jardim, Teresa tinha posto o livro de lado, estendeu os olhos para longe, para a rua com pouco movimento àquela hora. Viu um jipe dos comandos, um soldado ao volante, pareceu-lhe o Alegre, deixa lá ver quem é que está na Ultramarina. Pôs-se a pé, olhos para a rua, portão aberto, rua abaixo a correr. 

Então! Estava ali a estudar e tu aqui! 
Pareceu-lhe uma menina, mais pequena. Olá, Teresa! Fica-te bem essa saia branca, os ténis brancos também. 
Nem disseste que ias nem que chegaste, nunca mais apareceste! 
A Dora faz anos no sábado, queres ir? 
O Alegre a apontar para o relógio, está na hora, meu alferes. 

Foi então ao QG tratar de um assunto qualquer. E quando passava junto à secção de Justiça um camarada, em jeito de brincadeira, claro, perguntou-lhe quando tinha sido a última vez que estivera em Catió. Catió? Porquê? Porque o teu nome foi falado a respeito do caso de Catió! Qual caso? 

No jeep, de regresso a Brá, a cabeça não parou. Não escondia o gozo que lhe dava imaginar como tudo teria sido e intrigava-o alguém ter pensado que ele seria capaz de tal safadeza. 

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Casamento com data marcada

O alferes adjunto do capitão para os assuntos administrativos, tinha assumido o comando do grupo “Vampiros”. O Vilaça andava com o moral apagado, há meses que não saía. Vou sair na próxima, dizia alto, chegava-se à véspera e não, não consigo, pá, não estou em condições. Passou a ser tema de conversa entre os outros chefes de grupo, que combinaram colocar a questão ao capitão. 

O que é que nós podemos fazer se ele não quiser? A psiquiatria não é bem assim, não podemos empurrá-lo para lá se não for da vontade dele. É melhor mantê-lo debaixo de olho, ocupá-lo com trabalhos aqui dentro, que há muito para fazer, enquanto o tempo vai passando e a evolução dele também nos dá tempo para arranjar a melhor solução. E vejam se ele bebe só água. 

O Vilaça levantava-se quando calhava, à tarde ia para Bissau, regressava quase de manhã ou mais cedo se alguém o trouxesse. De início, os outros não atribuíram grande importância, o quadro a agravar-se alertou-os para medidas imediatas que o capitão encarava agora. 

Agora o Luís, também? Num dos primeiros dias de Abril entrou-lhe no quarto, sem mais nada, desembaraçado como de costume, é pá, olha, estás convidado para o meu casamento. É pá, ouviste o que te disse ou não? 

Que dependia, se a data coincidisse com a estadia dele na metrópole, teria muito gosto. 
Que não era na metrópole mas na Guiné. Não é brincadeira nenhuma não senhor, vou-me casar com a Lurdes. 
Lurdes? Que Lurdes? 


À entrada da messe, em Brá, com o Luís 

O Luís era oriundo de famílias bem colocadas, o pai, médico com nome numa cidade do litoral, era uma pessoa muito respeitada, bem relacionado, até com as irmãs do Dr. Salazar, a quem media as tensões quando elas iam passar o mês de Agosto à Figueira. 

Medrara no enorme areal com as ondas a rebentarem lá ao fundo, sempre junto da namorada, cresceram e estudaram no liceu local até se separarem com promessas, ela a terminar o curso, ele a caminho da Guiné. Mantiveram-se em contacto o tempo todo, numa fúria de cartas para lá e para cá. 

No regresso de férias viera encantado, saudoso, morto por regressar de vez à metrópole e consumar o que tinha deixado a meio. Agora, a dois meses do fim da comissão, mudara de ideias? 

A Lurdes. A Lurdes era uma moça nascida em Bissau, aí dos seus 23 anos mais ou menos um, com raízes familiares em Cabo Verde, tu cá tu lá com as autoridades locais, as colonialistas e as outras. Tinham ou dizia-se que tinham propriedades no Gabú, em Bafatá, arrozais inteiros no leste e no sul, agora ao abandono ou nas mãos da guerrilha, plantações de abacaxi, mato, comércio em várias localidades, uma das famílias com mais teres que havia naquela zona da Guiné. 

Morena, um metro e setenta para aí, alta para os padrões locais, cabelos loiros, olhos irrequietos, esverdeados, figura atraente, foi um ai mal se viram. O Luís entrou logo em casa, lá nisso ele fazia jus à imagem que tinha de não recuar perante nada, inimigo ou amigo, tanto se lhe dava. 
Até àquela altura, ao que se sabia até então, sempre mantivera alguma distância em relação às beldades locais, o eterno noivo da que lá na metrópole, pacientemente aguardava a chegada do seu mais que tudo. 

Nunca se souberam grandes pormenores de como evoluiu a relação, mas não é difícil a gente imaginar, o Luís a acabar a comissão, as forças a irem-se, as fraquezas a virem, e não se sabe mais porque o Luís não era de grandes falares sobre assuntos dessa natureza. 

Ia marcar a data, logo diria. Seria em Bissau, os pais dela iam tratar de tudo, falar ao Bispo, o Governador ou um representante deveria estar presente, outras autoridades do pró e do contra também, iria ser certamente o acontecimento social mais importante do ano na capital da Guiné. 
E os camaradas a olhar para ele, a magicar, isto é a sério? Uma coisa tão repentina, o tipo não estará embrulhado? Não será melhor a gente ver o que se passa? 

Juntaram-se cá fora na cidade, trocaram impressões, estabeleceram o plano principal e outro alternativo, o objectivo assente logo desde o início, todos de acordo que aquele casamento só se faria com o conhecimento antecipado dos pais do Luís, a não ser que o fizessem por cima dos outros dois alferes, que o Vilaça estava fora dos campeonatos todos. 

Abordaram com tacto o capitão. Desconfiado, olhos dentro dos óculos castanhos, não mostrou grande interesse no caso, que se tratava de um assunto particular e, em assuntos destes era partidário da não ingerência. 

Cá fora os dois, parecendo-lhes que do capitão não viria grande ajuda decidiram pôr a família ao par, os pais, claro. Jogaram à porra, calhou a um o cumprimento da missão, telefonar ao pai do Luís. 

Não queria acreditar, devia ser brincadeira deles. 
É verdade, doutor, sou eu que estou a falar. 
Senhor alferes, esse casamento não se faz, não se pode fazer, compreendeu? 
Tem que ser o senhor doutor a tratar do assunto, não podemos ser nós. 
Poucos dias depois soube-se que o capitão tinha chamado o noivo ao gabinete, que preparasse o grupo para uma estadia de uma a duas semanas, pelo menos, para a zona sul. 
Mas ainda agora regressámos de Farim e já vamos sair outra vez, meu capitão? 
E quem lhe disse que agora é o alferes que escala as saídas? 
Uma semana muito comprida para o Luís, quase até ao fim da comissão. E quando pôs os pés em Brá, não o perderam de vista, só o largaram quando o viram embarcar de regresso a Lisboa. 

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Ponto da situação em Brá

Os primeiros grupos, os 'Fantasmas', 'Camaleões' e 'Panteras', percorreram a Guiné de uma ponta a outra. Com o entusiasmo inicial, superaram tudo o que fossem dificuldades, empregaram-se a fundo, os resultados ultrapassaram as expectativas e eram vistos com muito apreço pelo Comandante Militar e pelo próprio Governador-Geral. 

Olha vão ali os gajos dos Comandos, a maralha a olhar para eles. Sabe-se como é, ganharam fama e respeito pelo trabalho que fizeram e por aquilo que contaram também. As comissões individuais e as baixas em combate ou por doença, começaram a fazer estragos, os grupos ficaram mais pequenos, era necessário começar novo curso de quadros, aproveitar os resistentes e formar novos grupos. 

O Major Dinis fora entretanto promovido e regressou a Lisboa.  Depois o Capitão Rubim tomara conta do Centro e foi o que se sabe. Não por incompetência militar, operacionalmente até era bem competente. Talvez uma certa dificuldade ou falta de paciência no jogo diplomático dos corredores do QG. As questões prendiam-se com a logística e com o emprego operacional dos grupos. 

Promessas e mais promessas. Resolveu bater com a porta, sem estrondo como era da sua maneira. Não se entenderam também uns com os outros, a história da Associação Comercial, os problemas disciplinares e os alferes também não ajudaram muito, a verdade tem que se dizer. 
De baixa estatura, o corpo maciço escondia uma robustez física incomum. Espantava num tipo daqueles, o jeito que tinha para o desenho, para as pinturas, para tudo que metesse mãos. O tempo vago passava-o a montar modelos de peças de artilharia, carros de combate, aviões de sonho, militares e civis, navios de guerra, desde patrulhas a porta-aviões. Tudo pintado nas cores dos originais, os nomes e tudo. Na saída, deixou-lhe ficar um porta-aviões, as outras maravilhas levou-as todas. 

Dois meses depois de ter tomado posse, o novo comandante de companhia estava a ver a história toda para trás, relatórios e actas nas mãos. 

Analisara a organização, o quadro orgânico, os efectivos, o sistema de recrutamento, as instalações, a alimentação, a administração, fardamentos, cargas. O estado moral, físico e disciplinar do pessoal. Os oficiais, sargentos e praças, os materiais, a instrução durante e depois do curso, as operações em que intervieram, antes e depois da sua tomada de posse, a forma como os grupos estavam a ser utilizados, tudo a pente fino. 

Apesar de ter poucos anos ainda como oficial, achava que, atendendo às circunstâncias próprias do povo português, o pessoal, entenda-se cabos e soldados, era quase sempre bom. Quando surgiam problemas, normalmente deviam-se à organização, frequentemente mal montada ou aos graduados, algumas vezes as duas coisas juntas. Neste caso dos Comandos da Guiné, os oficiais eram cruciais na organização, não se cansava de insistir. 

Saía com eles para o mato, acompanhava-os na instrução, fazia-lhes ver a importância do papel deles na organização, moralizava-os, até os tempos livres aproveitava para os acompanhar. 
Os alferes tinham colaborado e também neles sentiu a necessidade de falarem com ele. A agressividade incrível com que tinham sido formados e treinados, jovens de 20 e poucos! Como é possível que possam ter dois comportamentos tão distintos, no mato em contacto com o IN e umas horas depois com a PM e a população civil na cidade? 

E seria mesmo adequado que estivessem tão próximos de Bissau? Não seria mais sensato, e mais proveitoso até, que estivessem em Mansabá, em Nova Lamego, em Buba, ou num sítio desses? De quem fora a ideia, tê-los a meia dúzia de passos da cidade? 

Em alguns casos, não tinha dúvidas, tinham sido mal orientados, deixados ao sabor da intuição de cada um, sem a mínima directiva. Até achava que o produto final era positivo e, se tivessem tido orientação, os problemas disciplinares que ocorreram não teriam existido. 

Dos cinco alferes a que a companhia tinha direito, quatro comandantes de grupo e um adjunto, restavam-lhe agora dois, o sobrevivente dos chefes de grupo iniciais e o adjunto, o Caldeira, até então com mais experiência administrativa que operacional. E, pelo que tinha visto deles até agora, achava-os competentes, mereciam-lhe confiança, esperava que continuassem como até aqui na parte operacional, e se integrassem no seu estilo de comando. Contava com eles, eram as pedras base do edifício a reconstruir, dissera-lhes mais que uma vez. 

No relatório inicial que fizera para o Comandante Militar, adiantara várias propostas, pensara até que com tantas dificuldades, de tanto lado, se calhar não seria má ideia extinguir os grupos. O Brigadeiro refutou com o argumento de que, apesar de todas as dificuldades, os grupos até então existentes eram os que mais contactos tinham tido com o IN e com mais material capturado até à data. Vira os resultados das tropas especiais que a 3.ª Repartição tinha preparado para o brigadeiro, comparou-os com os fuzos, os páras e com os anteriores grupos de comandos.

 Contacto efectivo com o IN em mais de 80% das saídas para o mato. Ouvira o Brigadeiro dizer que não se podia esquecer que os Comandos, a maior parte das vezes, actuavam em áreas densas de IN, em grupos de 20 a 25 homens e às vezes menos, enquanto as outras forças não se metiam lá com efectivos inferiores a meia centena de homens. 

Nem um por cento do efectivo total das NT na Guiné, quase 10% das baixas totais causadas ao IN. Extingui-los? Não, a saída deve ser outra, o Brigadeiro a decidir-se por outra solução, para aproveitar o pessoal que restava. 

Concluíram a reunião assentando que deveria ser feito o recompletamento para manter o quadro orgânico, isolá-los em Brá, resolver a questão alimentar, ministrar o próximo curso e utilizar os grupos em operações específicas para Comandos e não para reforçar algumas guarnições em sector. 

O capitão regressara encorajado, sentira o apoio que andava a reclamar.  Depois mudou quase toda a organização administrativa, conseguiu mais praças para o recompletamento, arranjou cozinheiros, alimentação própria, obrigou-os a almoçar todos juntos, disciplinou as saídas, arranjou novas viaturas, melhorou as instalações, e conseguiu, o que não fora nada fácil, fazer aprovar as orientações e normas para o emprego dos grupos. 

Agora, todo este tempo passado, achava que valera a pena, que tinha feito bom trabalho. 
Os grupos melhoraram os resultados, os conflitos com a PM deixaram praticamente de ocorrer, nem um castigo fora necessário.

(Continua)

Texto e fotos: © Virgínio Briote
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Nota do editor

Poste anterior da série de 10 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15098: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XIII Parte): Conversa em Brá e Nunca digas adeus a Cuntima

Guiné 63/74 - P15148: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte VI - A resistência à colonização na Guiné Portuguesa

1. Fim da primeira parte do trabalho "Como Tudo Aconteceu", da autoria do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviado ao nosso Blogue em 15 de Setembro de 2015:


COMO TUDO ACONTECEU

PARTE VI

A RESISTÊNCIA À COLONIZAÇÃO NA GUINÉ PORTUGUESA


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Nota do editor

Postes anteriores da série de:

16 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14884: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte I - Do povoamento do ocidente africano até à luta armada do PAIGC

30 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14949: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte II - A costa da Guiné

18 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15017: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte III - A Guiné do Século XV e meados do Século XVI

27 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15045: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte IV - A Guiné: O Parente pobre da Colonização Portuguesa
e
11 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15105: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte V - A Guiné a ferro e fogo

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15147: Inquérito online: resultados preliminares, num total de 110 votos, 1 em cada 5 nunca teve férias; 3 em cada 4 veio à metrópole, uma ou mais vezes... Encerramento das "urnas": 2ª feira, 28/9/2015, 14h05


Guiné > Bissau > Bissalanca > Transportes Aéreos Portugueses  > Avião Super Constellation. Foto do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), o primeiro à direita... Cortesia do seu blogue JERO > 10 de dezembro de 2009 > Lisboa-Bissau em nove horas. (Foto editada e reproduzida por LG, com a devida vénia).

A. Resultados preliminares da nossa sondagem desta semana, quando faltam 4 dias para fechar as "urnas"... Nº de votos apurados (até às 14h00): 110


SONDAGEM: "DURANTE A COMISSÃO, NUNCA VIM DE FÉRIAS À METRÓPOLE"


1. Vim uma vez  > 37 (33,6%)


2. Vim duas vezes  > 39 (35,5%)



3. Vim três vezes  > 6 (5,4%)



4. Fiz férias em Bissau  > 6 (5,4%)


5. Fiz férias nos Bijagós > 0 (0%)

6. Fiz férias no interior > 0 (0%)

7. Nunca tive férias  > 22 (20,0%)



Votos apurados: 110
Dias que restam para votar: 4 (até 28/9/2015, às 14h05)

Comentário do editor: mais uma vez se comprova que os leitores deste blogue (ou, pelo menos, os que votam neste tipo de sondagem digital) não representam (nem têm a veleidade de representar) o universo dos nossos combatentes que passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974...

Os resultados finais deste tipo de  "sondagem" dependem sempre da oportunidade e vontade do leitor (ou visitante) em responder... Por outro lado, nunca sabemos quem responde (e quem não responde): por exemplo, posto, arma, especialidade, ano em que foi mobilizado, etc.   Nem podemos garantir que não haja duplicações, ou até votações feitas com má fé (por ex., leitores ou visitantes que não foram combatentes no TO da Guiné, durante a guerra colonial).

No caso da licença de férias, no TO da Guiné, podemos partir de uma hipótese (meramente teórica): só 1 em cada 5 muito provavelmente estava em condições (nomeadamente financeiras) de ir passar férias à metrópole... Não esquecer que as passagens áereas custavam, na época, 4 contos, o que era o pré de 4 meses para os nossos soldados...

Numa companhia (grosso modo, 150 homens), estamos a falar de um máximo de  20% de elegíveis (ou sejam, 30, incluindo 1 capitão, 4 alferes, 15 furrieis e sargentos, e mais uns tantos cabos)... Ora esta sondagem sugere um resultado inverso: 3 em cada 4 de nós (75%) fomos de férias à metrópole... A explicação só pode ser esta: a amostra dos "graduados" (oficiais e sargentos) está sobrerrepresentada em relação às "praças" (soldados e cabos)...

Posso estar a "ver mal" o problema,. já que a minha companhia (CCAÇ 2590/ CCAÇ 12) só tinha um máximo de 60 quadros e especialistas metropolitanos, sendo os restantes (uma centena) soldados do recrutamento local,,, Não sei se a totalidade (ou a grande maioria) dos meus camaradas metropolitanos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 vieram de férias à metrópole em 1970...

Desafiamos os nossos leitores a comentar os resultados preliminares desta "sondaem" que, à partida, estarão "enviesados"...  LG


B. Comentários dos nossos camaradas (*):



21 set 2015 14:44 

Nunca tive férias e nunca pensei vir à Metrópole.
Mas tive conhecimento de camaradas que vieram cá e já não voltaram à Guiné.

21 set 2015 16:16

Lamentando muito, sinceramente, quem não pôde vir e,
como já contei numa das minhas estórias no blogue (P4675),
vim à metrópole 3 vezes (30 + 5 dias cada).

21 set 2015 16:24

Fui para a Guiné em fins de Outubro de 1971 e vim de férias à Metrópole no dia dos meus anos, 21 de Maio de 72. Em Fevereiro de 73 voltei novamente de férias, na altura do carnaval. Sabendo o que me esperava na Guiné, foi preciso ter alguma coragem para voltar ao "local do crime", mas nunca me passou pela cabeça em dar à sola. Vim duas vezes de férias em avião da força aérea, beneficiando do facto de ser furriel paraquedista. Os soldados mais valorosos geralmente vinham uma vez de férias pela força aérea. Neste aspecto éramos uns privilegiados,mas também se pode dizer que éramos os mais sacrificados, não acham?

21 set 21015 16:26

Camaradas, esta pergunta para mim torna-se amarga, vim cá à metrópole uma vez, por morte do meu pai, faleceu em Novembro de 1967. Estava eu há sete meses na Guiné, como tinha direito à viagem gratuita pela força aérea, concorri e foi abrangido para vir cá em Março de 1968, estive cá um mês, de formas que foram uma férias amargas que nunca mais esquecem.

21 set 2015 16:29
Vim de Férias Em Outubro de 1971 para o casamento do meu irmão de quem fui padrinho.
Foi na TAP num Boeing 727 que vim e que regressei.
Penso que já existiam ou estarei enganado?
De Bafatá para Bissau vim nessa altura num JU.

21 set 2015 16:34

Vim 2 vezes, em Janeiro de 1970 e Janeiro de 1971.
O curioso é que, só agora me lembrei,
me falta pagar metade da segunda viagem...  

21 set 2015 19:23 

Não vim nenhuma vez, por motivos de ter sido ferido
e também por não ter disponibilidade financeira.

Carlos Vinhal
 21 set 2015 19:56 

Não sei se era norma oficial, mas na minha Companhia só se podia vir de férias após completados 6 meses de comissão, uma vez em cada ano civil, e toda a gente tinha que estar presente na época do Natal e Ano Novo.  Como chegamos à Guiné em 17 Abr 70, só depois de 17 de Outubro é que a malta pôde começar a vir à Metrópole. Como eu era o furriel mais novo (NM 19551569) só me tocavam 15 dias em Dezembro. Optei por vir só em Fev 71 (mais ou menos a meio da comissão), não tendo possibilidade de vir mais vezes, já que a nossa comissão acabava oficialmente em 17 Jan 72. Regressámos a 19 Mar 72.

Luís Graça
21 set 2015 21:45

Dá para perceber, pela tendência de voto, ao fim de quase meia centena de votações, que passar férias no interior (na tabanca, no quartel, no destacamento onde se estava colocado...) é uma hipótese meramente teórica... Mesmo Bubaque, nos Bijagós, devia ser um luxo, já nessa época...
Mas também havia, sim, senhor, quem fizesse férias [, de páscoa, por exemplo, ] em Bubaque...
A malta que estava em Bissau, podia tirar uns dias e dar um salto aos Bijagós...
Quem estava no mato, queria mas era ir a casa..

21 set 2015 23:19 

Vim duas vezes de férias.

22 set 2015 00:56

Vim uma vez, no mês de Maio de 1962,
um ano após a minha chegada.


Luís Graça
22 set 2015 06:02

Vim de férias em meados de 1970, uma ano depois do início da comissão, se a memória me não falha... Lembro-me de o avião da TAP fazer escala na ilha do Sal... Uma a duas horas... A TAP não podia, por razões "políticas", sobrevoar o continente africano...  O avião ia por "nossa" conta... Ver as pernas às hospedeiras de bordo estava "incluído" no preço... E tenho ideia que o consumo de bebidas a bordo era "generoso"... Começávamos as férias na "desbunda"... De Lisboa até casa (70 km) fui de táxi... Vir de férias, da guerra, era um luxo que não tinha preço!...

Carlos Silva
carlospintazevedo@gmail.com
22 set 2015 07:43

Férias,  nunca as tive ! ... Mas passei bons momentos em Bedanda, e outros menos bons como tudo na vida, nunca me arrependi do tempo que passei lá,  conheci nova gente com outra maneira de vida. Gente Humilde e tambem com sabedoria, sempre aprendi algo . Direi sempre não à guerra.

Vasco Pires [Brasil]
22 set 2015 13:13  

Vim duas vezes de férias. No GAC 7 permitiam um mês de férias por ano.  Lembrei-me que nas primeiras férias encontrei [ o ...], aliás, ele me procurou. A companhia dele embarcou, ele conseguiu uma licença pois havia o nascimento iminente de um filho; como soube que eu conhecia o quartel onde estava a companhia dele, queria saber como eram as coisas por lá.  Procurei fazer um relato realista,  não sei se foi pelo meu relato, mas ele resolveu cumprir a comissão
nas "bolanhas"... de Paris. 

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15137: Sondagem: "Durante a comissão nunca vim de férias à metrópole"... A responder até ao dia 28

Vd. também:

Guiné 63/74 - P15146: Os nossos seres, saberes e lazeres (116): Un viaggio nel sud Italia (7): Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Assis ultrapassou todas as minhas expetativas. A cidade histórica posiciona-se inclinada para a Basílica do Santo, nesse longo e precioso declive há monumentos, museus e atrações que completam o sentido da peregrinação. Tudo ali converge, no entanto, para a santidade ímpar desse Francisco que em plena Idade Média fez da paz, da assistência e da solicitude o centro da sua vida e o seu legado espiritual. Correndo o risco de falta de pudor e de olhar vesgo para o que há de melhor na arte religiosa, penso que a basílica franciscana é o lugar de oração e de contemplação do divino mais espantoso da cristandade.
Aqui passei dois dias inesquecíveis e não hesito em dizer que estes lugares são inultrapassáveis.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (7)

Beja Santos

Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível




Era um encontro há muito aprazado, sem conexão direta com a eleição, em Março de 2013, do papa Francisco. Sempre ouvi dizer que Assis tem uma atmosfera muito especial, que tudo o que ali se respira é paz e amenidade e depois há Cimabue e Giotto, que nos fazem comover até às lágrimas. Cheguei a Assis mais como peregrino de que como turista, mas enfrentei os dois estatutos. Coisa rara, consegui dormitório frente à Basílica Papal de S. Francisco, abri as portadas, apanhei toda a limpidez do ar e o acolhimento da singela fachada medieval. Empolgado, percorri a Basílica horas a fio, as duas basílicas, a superior e inferior, a terceira imagem a esta se reporta. Francisco foi canonizado em 16 de Julho de 1228, as basílicas foram edificadas entre 1230 e 1239. Cerca de 1330 ficaram completamente decoradas por frescos dos pintores mais importantes do seu tempo, Cimabue e Giotto. Correndo o risco de parecer pesporrente, prefiro a basílica superior à Capela Sistina, esta religiosidade de Assis é-me mais tangível. Alguém lhe chamou “a mais bela casa de oração do mundo”, perfilam-se na nave histórias da vida do santo além de temas bíblicos da criação do mundo, Adão e Eva, factos evangélicos da infância e da vida pública de Cristo, é uma ternura irreprimível, as abóbadas azuladas agigantando as dimensões da igreja, tudo exalta Francisco o homem da paz, o companheiro dos pobres, o amigo da natureza, o irmão universal. E enquanto por ali se deambula é-se levado a pensar que o mundo medieval de Francisco muito pouco tinha a ver com as cruzadas, as guerras feudais, a intolerância religiosa. Estes grandes pintores cativam-nos com o Francisco que dialoga com Deus, com os homens, e que procurou viver em harmonia com todas as criaturas, até se é levado a pensar que esta era a visão querida por Deus na Criação.




Assim foi esta a primeira visita aos domínios que a cristandade reservou para glorificar a vida e obra de Francisco de Assis. Não há termo de comparação para a força que se levanta neste tempo com duas basílicas e a cripta onde estão os seus restos mortais. Não sei mesmo se está aqui o melhor de Cimabue e de Giotto, mas estes frescos têm um vigor intemporal, espelham o sentimento da paz perene. E agora vamos conhecer Assis fora da basílica.




Passeei-me pela Catedral de S. Rufino, um belíssimo espécime do românico da Úmbria, subo e desço ruas íngremes da Assis antiga, recheada de atrações, museus e exposições, detenho-me face ao edifício camarário, com o normal aproveitamento de um templo romano ali ao lado e não resisto a entrar numa farmácia dos velhos tempos, muito bem preservada, a menina prontamente consentiu que captasse esta imagem. Tem sido longa a viagem desde que sai de Tivoli, agora vou estirar os pés, ler um livro num café com esplanada, ouvir vozes, as badaladas que se evolam das torres sineiras. E encontrar um jantar condizente, apetece-me risoto, uma sopa minestra, talvez um esparguete com tomate. E dormir bem, para enfrentar um novo dia de peregrinação.



Fatal como o destino, dirijo-me à Basílica, revejo a parte inferior e subo para uma zona de claustro onde está o museu opulento e as lojas de vendas. Não perdi o museu nem a mostra fotográfica que se espalha pelos corredores dedicada aos arménios e à Arménia, bem gostaria de lá ir, procura nestas imagens entender a piedade cristã deste povo que vive numa área do tamanho do Piamonte, por ali passa o corredor caucasiano da Ásia Central onde se têm confrontado grandes impérios: Hititas e Babilónios, Gregos e Persas, Romanos e Cartagineses, Bizantinos e Seljúcidas, Russos e Otomanos, estão aqui imagens de monumentos únicos na Europa, uma mescla da arte romana, persa, grega e árabe, de arquitetura gótica singular, restos de mosteiros, paisagens, rostos da gente. Um povo que preservou miraculosamente a sua identidade.



Reservei a tarde para percorrer outros lugares que têm a ver com a vida de Francisco e da Ordem dos Franciscanos. Fui primeiro à Igreja de Santa Clara, depois ao estábulo onde nasceu Francisco, ao ermitério onde ele viveu e por fim a um lugar de extrema veneração, a Porziuncola, sob a qual se construiu uma basílica barroca, de gosto muito discutível, Santa Maria dos Anjos. Para termo de viagem, e antes de apanhar o autocarro que me trouxe a Assis, a Porziuncola, onde viveu Francisco quase até morrer, é um espaço de grande beleza e ternura, aqui apetece ficar em meditação horas a fio. E regresso a Assis, ao fim do dia viajo para Roma, amanhã será a despedida deste passeio que me deu tantas alegrias.

(Continua)

Texto e fotos: © Mário Beja Santos
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Nota do editor

Poste anterior da série de 16 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15117: Os nossos seres, saberes e lazeres (115): Un viaggio nel sud Italia (6): Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15145: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte I)













Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Festival Todos , 7ª  edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 >  Visita guiada, pelo cor art Vitor Lourenço, professor da Academia Militar >

Painéis de azulejos, no "hall" de entrada do palácio, representando as várias armas (c. 1918). Autoria do  pintor português Jorge Colaço (Tânger, 1868 — Caxias, 1942), mais conhecido por ser autor  dos azulejos da estação de São Bento no Porto (1903), entre muitos outros paineis de azulejos espalhados por diversos edifícios e lugares, em Portugal e lá fora. (*)



Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Fachado do palácio.


Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Busto, no exterior, a Catarina de Bragança (1638-1705), rainha consorte de Inglaterra (1662-1685), pelo seu casamento Carlos II, da casa dos Stuart. Foi ela que mandou constrfuir o palácio da Bemposta.


Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Espaço interior



Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  >  Palestra do cor art ref Vítor Lourenço sobre o palácio, a sua fundadora e os azulejos de Jorge Colaço.




Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Festival Todos , 7ª  edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 >  Visita guiada, pelo cor art ref Vitor Marçal Lourenço, professor da Academia Militar.

É aqui a sede da Academia Militar (,  antiga Escola do Exército,  fundada en 1837), que  tem como patrono o general Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira. Há também  um polo na Amadora.

O seu lema é: "Dulce et decorum est pro Patria mori"  (É doce e honroso morrer pela Pátria). Na escadaria de acesso ao piso superior (biblioteca. museu, galeria de comandantes...) estão inscritos os nomes dos antigos alunos mortos durante a guerra colonial (1961/74), nos vários teatros de operações. Publica-se abaixo a lista dos "filhos da Escola do Exército e da Academia Militar", falecidos na "campanha do ultramar, 1961-74)(**)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15132: Memória dos lugares (319): Cais do Xime no tempo da CART 2520 (José Nascimento, ex-Fur Mil)


(**) Mortos na Campanha do Ultramar . 1961 - 1974 (alguns dos quais no TO da Guiné, e com "marcador" próprio no nosso blogue):

Cap. Inf. Abílio Eurico Castelo da Silva

Ten. Inf. Jofre Ferreira dos Prazeres

Alf. Pqd. Manuel Jorge Mota da Costa

Ten. Cav. Jorge Manuel Cabeleira Filipe

Ten. Pil. Av. António Seabra Dias

Ten. Inf. Casimiro Augusto Teixeira

Ten. Pil. Av. Carlos António Alves

Ten Pqd. Luís Ramos Labescat da Silva

Alf. Inf. Helder Luciano de Jesus Roldão

Cap. Inf. Óscar Fernando Monteiro Lopes

Cap. Cav. António Lopo Machado do Carmo

Cap. Inf. Isidoro de Azevedo Gomes Coelho

Cap. Inf. António Afonso da Silva Vigário

Cap. Inf. Cirilo de Bismarck Freitas Soares

Cap.Inf. Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meireles

Ten. Inf. Manuel Bernardino da Silva Carvalho Araújo

Cap. Pqd. Luís António Sampaio Tinoco de Faria

Alf. Inf. José Manuel Ribeiro Baptista

Cap. Inf. José Jerónimo da Silva Cravidão

Ten. Pil. Av. Manuel Malaquias de Oliveira

Alf. Inf. Augusto Manuel Casimiro Gamboa

Alf. Cav. Estevão Ferreira de Carvalho

Cap. Inf. Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes

Alf. Art. Henrique Ferreira de Almeida

Cap. Inf. Adelino Oliveira Nunes Duarte

Cap. Cav. Luís Filipe Rei Vilar

Maj. C.E.M. Raúl Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos

Maj. Inf. Alberto Fernando de Magalhães Sousa Osório

Maj. Art. Joaquim Pereira da Silva

Cap. Cav. Jaime Anselmo Alvim Faria Afonso

Cap. Inf. Fernando Assunção Silva

Cap. Art. Pedro Rodrigo Branco de Morais Santos

Ten. pil. Av. Cláudio Santos Pereira Ascenção

Ten. Pil. Av. Rui Fernando Movilla de Matos André

Ten. Cor. Pil. Av. José Fernando de Almeida Brito

Maj. Pil. Av. Fernando José dos Santos Castelo

Maj. Pqd. Manuel António Casmarrinho Lopes Morais

Cap. Pil. Av. António Caetano Abrantes

Cap. Pil. Av. Custódio Janeiro Santana

Cap. Pil.Av. António Figueiredo Rodrigues

Cap. inf. António Alberto Rita Bexiga

Cap. Pil. Av. Herminio da Silva Baptista

Maj. Inf. Jaime Frederico Mariz Alves Martins

Cap. Pil. Av. Hugo de Assunção Ventura

Ten. Cor. Art. Nuno Álvares Pereira

Ten. Pil. Av. Emilio José Alves Lourenço

Cap. Pqd. João Manuel da Costa Cordeiro

Cap. Pil. Av. Fernando Fernandes

Alf. Cav. Luís António Andrade Âmbar

Guiné 63/74 - P15144: Parabéns a você (965): Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15134: Parabéns a você (964): Coutinho e Lima, Coronel Art Reformado (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira (Liga dos Combatentes) e Raul Albino, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15143: O nosso querido mês de férias (2): os testemunhos de Henrique Cerqueira ("Em Bissau, dormia com o bilhete dentro da fronha do travesseiro"), José Carlos Gabriel ("A minha filha, de 5 meses, teve um choque muito grande ao ver-me no aeroporto, de bigode") e João Silva ("Foi ótimo vir no inverno, a saudade era do frio")

1. Henrique Cerqueira  [, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74; vive no Porto]:


Eu vim de férias na Metrópole uma só vez (*). Esperei um longo ano para o fazer e de tal modo que coincidisse com o meu aniversário, pois que o meu embarque para a Guiné tinha sido precisamente no dia dos meus anos. Assim , foi uma vingançazinha pelo "castigo"inicial.

Mas o meu comentário vai mais no sentido de contar como vivi os dias antes de embarcar de férias no avião da TAP rumo às almejadas férias na Metrópole.

Como todos calculam, vir do mato para Bissau uns dias antes da partida trouxe-me algumas alegrias e grande preocupação. É que havia o apelo a passar esses dias numas boas petiscadas e passeatas por Bissau, pois que era a primeira vês que estava em Bissau em descontracção total e com algum tempo. Mas havia um "tesouro" alojado no meu bolso que eu tinha um medo terrível de perder, que era o famoso bilhete de avião que me iria permitir ter o meu mês de férias junto da família,  em especial meu filho, minha mulher e meus pais. 

A minha preocupação era tão grande que dormia com o bilhete dentro da fronha do travesseiro e passava a noite a acordar porque tinha medo de estragar o bilhete com o suor. 

Este comentário poderá nada valer mas considero uma situação típica daquilo que nós passamos em termos afectivos provocada pela separação.

Já agora,  as segundas férias passei parte delas em Bissau com a minha mulher e filho, pois que nessa altura já os tinha junto de mim.

Um abraço, Henrique Cerqueira.


2. José Carlos Gabriel [ex-1.º Cabo Cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74]


Fui dos que vieram á metrópole por 3 vezes (*). E se a memória me não falha já contei neste Blogue o quanto me custou vir a primeira vez. 

As despedidas foram sempre muito difíceis mas a primeira chegada (passados pouco mais de 6 meses de ter embarcado) foi na verdade a mais marcante.  Quando embarquei para a Guiné tinha a minha filha 5 meses e claro pouco ou mesmo nada se lembraria de mim. Embora lhe fossem mostrando as fotos que ia enviando,  o choque ao me ver no aeroporto da Lisboa fui muito grande. Já perto de fazer um ano chorava ao colo da mãe agarrada ao seu pescoço e sempre que lhe viravam a cara para mim era uma gritaria infernal. Só no carro a caminho de casa é que se calou um pouco mais mas demorou umas boas horas a interagir comigo. Pensamos sempre que seria por eu vir bastante queimado e trazer bigode (o qual só deixei crescer na Guiné e nunca mais o cortei na sua totalidade até hoje). 

Vim sempre pela TAP e juntava o máximo possível para pagar as viagens. 

A segunda viagem nada teve de especial mas a terceira foi aquela que já não teve retorno. Fui informado por um camarada de que o nosso BCAC 4513 entretanto tinha chegado à Metrópole. Já não regressei e fui fazer o espólio ao Campo Grande,  conforme sua indicação. Oficialmente nunca fui informado do regresso do batalhão mas o mesmo se passou com outros camaradas que na altura também se encontravam de férias por cá.

José Carlos Gabriel


3. João Silva [ex- fur mil at inf, CCAV 3404, Cabuca, e CCaç 12, Bambadinca e Xime, 1971/73) (e de quem não continuamos a não ter nenhuma foto; apesar do convite, não integra a nossa Tabanca Grande)]


Vim uma vez em Novembro de 1972 e ao fim de cerca de 9 meses de permanência na província (*). Vim pela TAP, não havia alternativa civil.  

O bilhete, pelo que recordo, era bastante em conta tendo em consideração o ordenado de furriel mil e o facto de no mato - Cabuca - não ter onde gastar o patacão. Se adicionar a poupança forçada que tive que fazer, pois só passados 4 meses de estar na província recebi o primeiro pré,  ainda se tornou mais fácil pagar. Isto aconteceu,talvez, por ter ido em RI [, rendição individual]. 

Foi ótimo vir no inverno,  a saudade era do frio. O chato foi embarcar perto do natal e passagem de ano, pelo que acabei por os passar em Bissau e a aguardar ligação aérea ao Gabu. 

Tanto na ida como no regresso fizemos escala no Sal. No regresso fui em primeira classe porque um camarada e amigo namorava na época uma hospedeira da TAP que nos proporcionou aos dois essa fineza. Embarcamos pela cauda do avião. Acabei por em 73 não vir por opção própria. 

Uma curiosidade, a bordo e na viagem para Lisboa vendiam coca-cola e tabaco estrangeiro, o que comprei. Na ida não era permitido a coca-cola e o tabaco já não recordo.

João Silva, nesta altura na CCav 3404 em Cabuca e a caminho da  CCaç 12 onde cheguei nos primeiros dias de janeiro de 1973.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15138: O nosso querido mês de férias (1): Maio de 1969: nessa altura o bilhete de ida e volta, na TAP, custava 4 mil escudos (Paulo Raposo, ex-alf mil Inf, MA, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

Guiné 63/74 - P15142: Convívios (710): XVII Encontro do pessoal da CCAÇ 4544, levado a efeito no passado dia 13 de Setembro de 2015, em Alcobaça (António Agreira)



1. Mensagem do nosso camarada António Agreira (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73, Cafal, 1973/74), com data de 18 de Setembro de 2015:

Caros Camaradas
Mais uma vez os ex-combatentes da CCaç 4544 se reuniram em convívio. Desta vez o repasto foi na Quinta das Carrascas, restaurante Zé da Génia em Alcobaça.
Graças ao trabalho de alguns camaradas conseguimos reunir este ano dez camaradas que se juntaram a nós pela primeira vez. Esperamos que no próximo ano o número de participantes volte a aumentar.

Com os meus cumprimentos fica a informação.
Em anexo a foto do grupo dos ex-combatentes presentes.

Forte Abraço
António Agreira
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15130: Convívios (709): XX Encontro de ex-Combatentes na Guiné, da Vila de Guifões, dia 11 de Outubro de 2015, em Baião (Albano Costa)

Guiné 63/74 - P15141: Ao fim de 40 anos foi-me imposta a Medalha Comemorativa das Campanhas, dia 17 de Setembro de 2015, no Regimento de Transportes (António Branco)

 
 1. Mensagem do nosso camarada António Branco (ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74), com data de 18 de Setembro de 2015:

Após quarenta anos do regresso da comissão cumprida na Guiné, na CCAÇ 16, foi-me atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas, numa breve mas simbólica cerimónia realizada ontem no Regimento de Transportes.




Descrição:
Anverso: emblema nacional rodeado de um listel circular com a legenda «CAMPANHAS E COMISSÕES ESPECIAIS DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, a legenda cercada de duas vergônteas de louro, frutadas e atadas nos topos proximais com um laço largo; encimando este conjunto, uma coroa mural de cinco torres.
Reverso: disco tendo, na parte superior, uma Bandeira Nacional; sobrepostas a ela, e medindo quase todo o diâmetro, as figuras de um soldado do Exército, à dextra, um soldado da Força Aérea, ao centro, e um marinheiro da Armada, à sinistra, de pé e firmados num pedestal; o disco rodeado da legenda «ESTE REINO É OBRA DE SOLDADOS», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, num listel circular, rematado inferiormente por um laço largo; encimando este conjunto, uma coroa mural idêntica à do anverso.

António Branco
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