domingo, 11 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15235: Efemérides (200): A freguesia de Guifões (no Concelho de Matosinhos) tem desde ontem um Memorial de homenagem a todos os Combatentes da Guerra do Ultramar da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões (Carlos Vinhal / Albano Costa)

Neste sábado, dia 10 de Outubro de 2015, na Freguesia de Guifões, do Concelho de Matosinhos, numa cerimónia simples mas tocante, foi descerrado um pequeno Memorial em granito, iniciativa dos Combatentes da Guiné desta localidade, que homenageia todos aqueles que, em Angola, na Guiné ou em Moçambique, participaram na Guerra do Ultramar.

A peça fica localizada em local privilegiado, junto à Igreja Matriz e à Junta de Freguesia. Cremos que um pequeno arranjo na zona envolvente lhe dará ainda mais dignidade.

Os nossos parabéns ao nosso camarada Albano Costa, um dos elementos da comissão que levou a bom termo esta iniciativa.

CV


 Momentos que antecederam a cerimónia do descerramento do Memorial.

A cerimónia começou com a actuação do Coro do Núcleo de Matosinhos que interpretou o Hino da Liga dos Combatentes...

...acompanhado pelos presentes ao acto.

O Coro do Núcleo de Matosinhos da LC, dirigido pelo Maestro SAj Luís Manuel Ribeiro.

Momento em que os representantes da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Matosinhos, juntamente com o Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, procediam ao descerramento do Memorial. 

Um aspecto da assistência

Momento em que o Presidente da União de Freguesias, senhor Pedro Miguel Almeida Gonçalves, se dirigia aos presentes.

Uma pequena Guarda de Honra composta por Combatentea de Matosinhos. Como Porta-Estandarte o nosso camarada e velho amigo João Moreira, natural de Guifões.

Este é o Memorial, iniciativa dos Combatentes da Guiné da freguesia de Guifões, que perpetua a memória de todos os guifonenses que participaram na Guerra do Ultramar.


Fotos: © Albano Costa
Legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15208: Efemérides (199): Dia do Combatente do Concelho de Gondomar, 11 de Outubro de 2015. Início das Cerimónias às 10h00 com exposição de material militar (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P15234: Libertando-me (Tony Borié) (38): A nossa farda amarela

Trigésimo oitavo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 29 de Setembro de 2015.




A Nossa Farda Amarela

A nossa vizinha, que também veio lá do norte, anda pela nossa idade, quando vem cá fora, buscar o jornal pela manhã, às vezes encontramo-nos, e ela, mostrando um “sorriso amarelo”, pois ainda não cuidou de si, fazendo a higiene matinal, levanta a mão, dizendo “Olá”.

O amarelo é a cor do ouro, da manteiga e dos limões maduros, entre outras coisas, mas no espectro de luz visível e, na roda da cor tradicional usada por pintores, a cor amarela encontra-se mais ou menos entre a cor verde e laranja. É uma cor primária, usada na impressão a cores, juntamente com a cor azul, magenta ou preto, também entre outras.
No nosso tempo de jovens, se alguma rapariga, quando frequentava aqueles bailes, ao som daquelas máquinas modernas a que chamávamos “toca-discos”, queria sobressair, bastava levar um vestido “amarelo”, pois passava logo a ser a mais popular, passava a ser “a rapariga do vestido amarelo”.

De acordo com algumas pesquisas, a cor amarela é a cor mais frequentemente associada com diversão, optimismo, bondade, espontaneidade, mas também com uma duplicidade, a inveja, o ciúme, a avareza, ou mesmo com covardia e, na cultura asiática, particularmente na China, desempenha um papel importante onde é vista como a cor da felicidade, glória, sabedoria, harmonia e cultura.
Se um casal, muito honrado e trabalhador, conhecido como “os Silvas”, construir uma casa e lhe der a pintura final na cor “amarela”, essa casa, nesse momento deixa de ser a casa dos “Silvas”, para ser a “Casa Amarela”.

Ufa..., chega de exemplos da cor “amarela”, vamos falar de nós, do nosso uniforme militar, com que fomos combater para África, que era “amarelo”, portanto, o nosso moral era triste, alegre, assim-assim, mas a certeza era que íamos “amarelos”, dentro daquela vestimenta padronizada e regulamentada, usada por alguns de nós, membros das forças armadas, contribuindo para a elevação e auto-estima, potencializada pela manifestação de força com que nos educaram no treino específico de recruta, convencidos de que éramos a força de combate mais letal do mundo, onde, além de lutar e matar o inimigo em combate, íamos transmitir a tal manifestação de força, mas talvez sem os responsáveis pelo governo de então, lá em Portugal saberem, era potencializada por um ideal de igualdade, com que fomos quase todos nós, independentemente de origem ou condição, educados no nosso lar, em nossas casas, transmitidos por nossa família.





Não sabemos quem foi o “designer” de moda popular, que projectou tanto a “farda cinzenta”, feita de pano grosso, tal qual um cobertor ou tapete, que se usava no então Continente, lá na Europa, ou a “farda amarela”, demasiado quente para climas tropicais, que na altura era usada por militares de alguns países, principalmente os envolvidos em conflitos, mas francamente, combater em África, uma região quente e húmida entre outras anomalias climatéricas, naquela “ganga amarela”, onde a princípio, antes de ser lavada, uma, duas, três, talvez só à quarta vez, largava aquela “goma”, parecia “cola” e, quando isso acontecia, pouco mais durava, começando o tecido a desfazer-se, principalmente na zona onde a transpiração mais se fazia notar.


Não sabemos ao certo, mas cremos que talvez pelos anos de 1965/66, o Exército trocou de uniforme, começou a usar um tecido de cor verde azeitona, creio que tanto na Europa como no então Ultramar, mais leve, mais aconselhado ao clima, ao combate tropical, começaram a aparecer lá por Mansoa, um tipo de uniforme, onde o militar se sentia mais confortável, onde os padrões básicos do uniforme se adaptavam melhor ao combate, com bolsos de abas largas, mais resistentes, nalgumas áreas com botões cobertos a pano, para não se agarrarem ao terreno daquelas savanas africanas, onde o Curvas, alto e refilão, do tempo da “farda amarela”, junto de seus companheiros, percorria quase todos os dias, com um uniforme roto, umas botas de lona, também rotas, sem meias, com os dedos a verem-se, atadas por um fio qualquer, só nos últimos dois buracos.

Quando esses novos uniformes chegaram, éramos, pelo menos no aquartelamento de Mansoa, uns militares com uniformes multicolores, havia a “farda amarela” e a “farda verde azeitona”, que podia ser usada com calções verdes e camisa amarela, ou camisa verde e calções amarelos, com o inconveniente de a nossa lavadeira trocar as camisas ou os calções do Curvas, alto refilão, que há muito não tinham forro nos bolsos, pelos calções dum qualquer “periquito”, que era um militar da companhia nova, que tinha chegado a Mansoa há pouco mais de um mês.

Só mais um pormenor, temos orgulho, os nossos companheiros continuam a sacrificar-se, continuam a erguer estátuas e monumentos, lembrando a maldita guerra que lá vivemos, podia, talvez, lembrando quem nos trazia mais ou menos “limpos”, quem nos tratava da “farda amarela”, tal como a “farda verde azeitona”, a um canto, em baixo, mesmo num local quase invisível, uma simples e eterna dedicatória “à nossa lavadeira”.

Tony Borie, Setembro de 2015.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15199: Libertando-me (Tony Borié) (37): Tirar férias na guerra

Guiné 63/74 - P15233: Memória dos lugares (322): Porto Gole: mulheres balantas apanhando "cacri", na bolanha, junto ao rio Geba. O "cacri" (espécie de bocas) era, também para nós, um petisco saboroso que acompanhávamos com a célebre cerveja São Jorge (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)


Foto nº 1


Foito nº 1 A

Foto nº 2


Foto nº 2 A 


Foto nº 3 


Foto nº 3 A


Foto nº 4 


Foto nº 4 A


Foto nº 4 B


Foto nº 5


Foto nº 5 A


Foto nº 6


Foto nº 6 A


Foto nº 6 B

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 54 (1966/68)  > Bajudas balantas na apanha do "cacri".

Fotos (e legendas) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem, enviada em 9 de outubro, às 22h15, José António Viegas, nosso grã-tabanqueiro, algarvio, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68):

A
ssunto: memórias de Porto Gole, 1966/68

Luís:
Em resposta ao teu pedido ("Manda mais fotos do teu álbum, com resolução 600 dpi, rapa lá bem esse baú"...), aqui vão mais umas, do meu tempo de Porto Gole: mulheres balantas na bolanha,  junto ao rio Geba,  apanhando cacri (espécie de bocas) para fazerem a bianda, (*)

Como isto era muito saboroso, servia de petisco para a cerveja da tarde, a célebre S. Jorge. (**)

Um abraço,
José António Viegas
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15218: Memórias dos lugares (321): Porto Gole, fevereiro de 1967: visita do Gen Arnaldo Schulz (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)

(**) Vd. blogue Cerveja em Portugal e Espanha / Beer in Portugal and Spain > 28 de julho de 2006 >  Cerveja S. Jorge

(...) Uma das mais emblemáticas marcas de Cerveja de Lisboa, a Cerveja S. Jorge teve o seu auge nos inicios dos anos 60. A Primeira lata "cone Top" Portuguesa foi da Cerveja S.Jorge.

Actualmente a Central de Cervejas continua a produzir a marca para exportação (Primeiro preço). É Vendida em Espanha nas versões com e Sem Álcool. (...)

Guiné 63/74 - P15232: Parabéns a você (973): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67) e Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série > 10 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15228: Parabéns a você (972): Manuel Resende, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

sábado, 10 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15231: Blogpoesia (420): Farol das Rosas (J. L. Mendes Gomes)


O poeta J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; autor de Baladas de
Berlim
 [Lisboa, Chiado Editora, 2013, 229 pp.]
Farol das rosas…

por J. L. Mendes Gomes

No ponto alto e extremo da terra,
Coberta de verde da erva,
Escarpada a pique,
Levantaram um farol,
Formoso e altivo,
Voltado para o mar.

Foi uma festa
Quando começou a rodar.
As gentes em volta vieram em cortejo,
Com flores à cabeça,
Açafates de vime.
Estralejaram foguetes.
A banda de música,
Houve um repasto,
Petiscos e vinho.

As moças dançaram travessas,
Com saias rodadas,
E mostraram as pernas.
Até o prior,
De rosto risonho e festivo,
Batina comprida,
Dançou uma volta,
Como se fosse um rapaz.

Só arredaram o pé,
Na madrugada da noite,
Quando os feixes de luz
Inundavam o mar,
Como se houvesse luar…

Farol das Rosas
Assim se chamou. (*)



Ouvindo Paco de Lúcia

Berlim, 23 de setembro de 2015, 7h30m

Joaquim Luís Mendes Gomes


(*) Segundo a intuição do editor, o poeta, a caminho de Berlim,  ter-se-á inspirado no Far des Roses (em catalão), o farol das Rosas, na Catalunha, Girona, Costa Brava, Punta de la Batería ou Punta Blancals, construído  em 1864. Desde  que chegou a Berlim, o poeta nunca mais deu notícias. Interpretamos este silêncio como sendo o de uma sabática poética criativa. Para ele vai um alfabravo fraterno.  Sei que ele, lá longe na terra dos teutões,  morre de saudades desta sua querida Pátria que é santa Mátria e e caloorosa Frátria, mas também, algumas vezes, e para alhuns dos melhores dos seus filhos, é Puta e  Madrasta. (LG)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15230: História da CART 3494 (11): Memórias entre a mobilização para a Guiné e o XXX Encontro Anual da CART 3494 [1971-2015] (Jorge Araújo)


1. O nosso Camarada Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, (Xime-Mansambo, 1972/1974), enviou-nos mais uma mensagem desta sua série. 

Camaradas,

Através deste pequeno puzzle de memórias – por grafia e por imagens – pretendi recuperar alguns dos momentos mais marcantes da nossa história, enquanto ex-combatentes pertencentes ao RAP2 [agora Regimento de Artilharia n.º 5], a começar pelos actos administrativos que tornaram pública a mobilização e consequente nomeação individual e colectiva constituída em Batalhão [3873], seguida da cerimónia solene de despedida para o CTIG em 21DEC1971, acontecimentos iniciados há quarenta e quatro anos.

Aproveitei ainda para dar conta do processo que determinou a minha inclusão no contingente da CART 3494, justificando os factos que influenciaram o calendário na chegada ao Xime com algumas semanas de atraso, e que a História do BART 3873 omite, certamente por não ser relevante, pois tratava-se de completar o seu efectivo que partira incompleto.

Com este relato procuro esclarecer a dúvida/interrogação suscitada pelo camarada Luís Graça aquando da elaboração do P13414.

O REGIMENTO DE ARTILHARIA PESADA N.º 2 [RAP2] (Serra do Pilar – Vila Nova de Gaia)

- MEMÓRIAS ENTRE A MOBILIZAÇÃO PARA A GUINÉ E O
XXX ENCONTRO ANUAL DA CART 3494 [1971-2015] - 

1. - INTRODUÇÃO

Na sequência da conclusão do 2.º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos na especialidade de Operações Especiais ocorrida em 11DEC1971, que funcionou nas instalações de Penude (Lamego) do Centro de Instrução de Operações Especiais [C.I.O.E], fui transferido para o então Regimento de Artilharia Pesada n.º 2, sito na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia [hoje Regimento de Artilharia n.º 5], em cuja Unidade Militar deveria aguardar a competente nomeação para um dos três Teatros de Operações Ultramarinos (O.S. do CIOE de 17-12-1971).

Aí chegado, tomei conhecimento que o contingente do BART 3873, nomeado para servir na Guiné em rendição do BART 2917 [1970/1972] sedeado em Bambadinca, acabara de gozar a licença de mobilização nos termos do Art.º 20.º das NNCCMU, considerando-se apto para embarcar depois de 16DEC1971, viagem que se veio a concretizar somente a 22DEC1971.

Durante a cerimónia de despedida verificada na véspera, em 21DEC1971, 3.ª feira, foi realizada uma Missa celebrada pelo Capelão da Unidade no Mosteiro da Serra do Pilar, seguida da alocução de um Oficial Superior, em representação do Exmo. Governador da Região Militar do Porto, encerrando-se o acto com o desfile das tropas em parada.


Foto 1. RAP2 (21DEC1971). As entidades oficiais presentes na cerimónia de despedida do contingente militar do BART 3873 e da Companhia Independente de Artilharia 3521.

No dia seguinte, o contingente do BART 3873 [CCS - CART 3492 - CART 3493 - CART 3494] e da CART 3521 [Companhia Independente de Artilharia] seguiram por caminho-de-ferro até à estação de Santa Apolónia (Lisboa), onde viaturas militares os transportaram para o Cais de Alcântara a fim de zarparem, a bordo do N/M «NIASSA», rumo à Guiné, facto ocorrido por volta das 12:00 horas, com a chegada a Bissau a verificar-se seis dias depois. 

2. - MEMÓRIAS PESSOAIS NO RAP2 – 1971-1972

Considerando que o embarque desta Unidade Orgânica [BART 3873], mobilizada para o CTIG pelo RAP2, ocorreu três dias antes do Natal/1971, e a concentração de novo contingente só teria lugar nas primeiras semanas de 1972, fui contemplado com quinze dias de férias natalícias, aí regressando em 03JAN72, 2.ª feira.


Foto 2. RAP2 (DEC1971). Parada da Unidade [hoje RA-5] há quarenta e quatro anos atrás, com um pequeno memorial alusivo aos seus mortos em combate.

Nesse mesmo dia, após o regresso a Gaia, recebi então a notícia mais aguardada na época… a da Mobilização para a Guerra no/do Ultramar. 

Na Ordem de Serviço constava:

«Nomeado para servir no Ultramar, na Província da Guiné, nos termos da alínea c) do Art.º 20.º do Decreto-Lei 49107 com destino à CART 3494/BART 3873/RAP2, conforme nota 6319, da RSP/DSP/ME».

Concluída a leitura desta já esperada O.S., a quantidade de adrenalina no organismo registava um aumento significativo, com os pelos dos braços a ficarem eriçados, tal foi a emoção/tensão sentida. Iria seguir, tão breve quanto possível, para a Guiné, particularmente para o Xime, para me juntar ao colectivo da CART 3494.

Como elemento histórico, tomei a iniciativa de vos dar conta da substância que fundamentou a elaboração do Decreto-Lei 49107, de 7 de Julho de 1969, aprovado pelo Conselho de Ministros, em 25JUN1969, presidido por Marcello Caetano [1906-1980], promulgado pelo Presidente da República, Américo Rodrigues Thomaz [1894-1987], e publicado, naquela data, no Diário do Governo - 1.ª série, n.º 157, pp. 798/801.

Com este Decreto-Lei pretende-se reorganizar a estrutura das forças armadas nas províncias ultramarinas onde as circunstâncias obriguem a realização de operações militares, com vista a garantir a soberania nacional sobre o território e a manter a ordem e a tranquilidade pública.

O espírito desta Lei 49107 fundamentava-se nos seguintes princípios:

«A experiência adquirida em oito anos de operações militares no ultramar aconselha a que sejam efectuadas algumas alterações nas estruturas de comando por forma a obter uma melhor adaptação do emprego dos meios militares à evolução da subversão e uma mais completa e estreita colaboração entre comandos militares e autoridades administrativas no esforço comum.

Na reorganização que é objecto do presente diploma, considera-se a plena responsabilidade operacional do comandante-chefe, em cada um dos teatros de operações, e a necessidade de o referido comandante-chefe constituir e acionar directamente comandos operacionais subordinados compreendendo forças de um ou mais ramos das forças armadas, quando a situação o aconselhe, por forma a adaptar o emprego das forças militares à evolução da situação em determinadas zonas.

O comando operacional será exercido pelo comandante-chefe sobre as forças de cada ramo das forças armadas através dos comandos terrestre, naval e aéreo ou de comandos operacionais, normalmente conjuntos, constituídos para actuação, em certas zonas ou sectores, os quais lhe ficam directamente subordinados para este efeito. […]».

Quanto ao Art.º 20.º da Lei supra, em obediência do/da qual fomos mobilizados, pode ler-se:

Art.º 20.º - 

1. O pessoal para serviço nas províncias ultramarinas pode ser nomeado por:

a) - Escolha.

b) - Oferecimento.

c) - Imposição de Serviço (o nosso caso).

2. Nas nomeações por escolha ou por imposição de serviço, a duração das comissões é, normalmente, de dois anos.

3. As comissões voluntárias serão de quatro anos, prorrogáveis por períodos de um ano, até ao máximo de dois períodos, a requerimento dos interessados.

4. Os cargos em que pode ser aplicada a nomeação por escolha serão objecto de despacho do Ministro da Defesa Nacional, ouvidos os titulares dos departamentos das forças armadas.

5. As condições em que se processam as nomeações por oferecimento ou por imposição de serviço são estabelecidas pelo titular do respectivo departamento.

Como memória pessoal, procedi à gravação de uma imagem daquele momento relacionado com a publicação/divulgação da nomeação. 


Foto 3. RAP2 (03JAN1972). Muralha do Quartel com o Porto como cenário de fundo. Espaço contiguo com o Mosteiro da Serra do Pilar.


Postal do Porto (anos 60) – Panorâmica obtida a partir do Mosteiro da Serra do Pilar/RAP2 (imagem anterior).


Foto 4. Xime (MAR1972). Entrada principal do aquartelamento por onde entrei depois da viagem Bissau-Xime, em LDG.

3. - MEMÓRIAS DA CART 3494 NO RA5 [ex-RAP2] – 13JUN2015

Por efeito da realização do XXX Almoço/Convívio Anual dos ex-combatentes da CART 3494 ter lugar, este ano [13JUN2015], no Município de Vila Nova de Gaia, no Restaurante Quinta da Paradela, sito na Freguesia de Pedroso, a Comissão Organizadora eleita tomou a iniciativa de homenagear, na sua Unidade Mobilizadora para o CTIGuiné [ex-RAP2, agora RA5], os camaradas que tombaram nos diferentes Teatros de Operações Ultramarinos, em particular, o nosso camarada Furriel Manuel Rocha Bento [vidé P14770 + P14786].


Foto 5. RA5/ex-RAP2 (13JUN2015). Guarda d’Honra na cerimónia oficial de homenagem aos militares da Unidade mortos em combate.

Nesse contexto, e no mesmo local da foto 3, aproveitei para recuperar o dia em que saiu em Ordem de Serviço a minha mobilização, “batendo umas chapas” [6 e 7], quarenta e três anos e meio depois daquela emoção forte, mas desta vez trajando, naturalmente, à civil. 



Fotos 6 e 7. RA5/ex-RAP2 (13JUN2015). Quarenta e três anos e meio depois da foto 3, para mais tarde recordar.


Foto 8. RA5/ex-RAP2 (13JUN2015). Memorial aos mortos em combate


Foto 9. RA5/ex-RAP2 (13JUN2015). Colectivo da CART 3494 presente na cerimónia

4. - O XXX ALMOÇO/CONVÍVIO ANUAL DA CART 3494 - 2015 

– MAIS ALGUMAS IMAGENS 

Ainda a propósito do nosso último Encontro Anual, eis mais algumas imagens. 


Foto 10. (13JUN2015). O tradicional bolo identificativo dos Encontros Anuais.


Foto 11. (13JUN2015). Os organizadores do XXX Encontro Anual (Domingues e Dias) à conversa com o Peixoto, organizador do Encontro do próximo ano (2016).


Foto 12. (13JUN2015). Da esqª/dtª - Luís Domingues, Benjamim Dias, Acácio Correia e Jorge Araújo, em sessão de slides relativos a encontros anteriores.


Foto 13. (13JUN2015). Momento de recuperação de muitas memórias.

Concluo esta curta narrativa enviando para todos um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.

Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P15229: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXII: o bravo soldado Faria (Armando Costa Tavares, fur mil at inf, 3º pelotão)


Guiné > Região do Óio > Fatim  > Rio Farim  > CCAÇ 2533 (1969/71) >  (Foto inserida no documentário fotográfico anexo à brochura "Histórias da CCAÇ 2533" (*)




1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Trata-se de uma  brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos). Chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. para consulta.

Hoje reproduz-se mais texto da autoria do ex-fur mil at inf, Armando Costa Tavares, do 3º pelotão, e em que ele evoca o comportamento corajoso e determinado do soldado Faria, durante uma emboscada no corredor de Lamel, já no fim da comissão.  Sob proposta do Tavares, o Faria (que foi ferido nessa ação) teve um louvor do comandnate da CCAÇ 2533, o então  cap inf Sidónio Martins Ribeiro da Silva (hoje cor inf ref).




In Histórias da CCAÇ 2533. Edição de Joaquim Lessa, tipografia Lessa, Maia, s/d, pp. 101/102.



O alf mil inf António H. F. de Carvalho Neto era o  comandante do 3º Gr Comb, a que pertencia o fur mil at inf Armando da Costa Tavares, autor desta história. Um outro  fur mil at inf aqui mencionado é o Fernando J. do Nascimento Pires. Por sua vez, o Carvalhal, ferido nesta emboscada,  é o 1º cabo radiotelegrafista Abílio de J. Alípio Carvalhal, de acordo com a lista nominal do pessoal da CCAÇ 2533, publicada no fim do livro. Lamentavelmente, o Faria não consigo identificá-lo. (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14717: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXI: um data para recordar, o dia 1 de abril de 1970, dia das mentiras... (Armando Costa Tavares, fur mil at inf, 3º pelotão)