sexta-feira, 17 de março de 2017

Guiné 63/74 - P17151: Notas de leitura (938): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XIII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [IV]: o fim de uma odisseia



Guiné- Conacri > Boké > Hospital do PAIGC em Boké > 1968 >  Médico cubano observando um ferido > Por aqui também o médico cubano  dr. Virgílio Camacho Duverger (1934-2003).


Guiné > Alegadamente Região do Boé  > 1968 > Amílcar Cabral desenhando a giz, num quadro preto, o mapa da Guiné: a região do Boé aparece como "libertada"


Guiné > Alegadamente Região do Boé  > 1968 > Amílcar Cabral revistando as suas tropas

Fotogramas do filme "Madina Boe" (Cuba, 1968, 38'), do realizador José Massip (1926-2014), obtidas a partir da função "print screening" do teclado do PC e da visualização de um resumo, em vídeo (28' 22'') , disponibilizado no You Tube, na conta "José Massip Isalgué". O documentário foi carregado no You Tube no dia da morte do cineasta (ocorrida em Havana, em 9/2/2014). O documentário chama-se "Amílcar Cabral" (e pode ser aqui visualizado) (Imagens reproduzidas com a devida vénia).


Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; grã-tabanqueiro e nosso colaborador permanente.

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17150: Notas de leitura (937): "Portugal Afrique Pacifique", por René Pélissier, edição de autor, 2015 (2) (Mário Beja Santos)

Poste anterior desta subsérie > 15 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P17150: Notas de leitura (937): "Portugal Afrique Pacifique", por René Pélissier, edição de autor, 2015 (2) (Mário Beja Santos)


Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Janeiro de 2016:

Queridos amigos,
Não conheço historiador mais atento a tudo quanto se publica sobre África Lusófona do que René Pélissier. É bem possível que ele todo os dias ande a vasculhar em blogues como o nosso e em todas as casas editoriais europeias. O certo é que ele lê e comenta o que se publica e ajuda-nos a conhecer o pouco que se vai editando sobre a Guiné. Ele pede aos antigos combatentes que façam as suas edições de autor que não se esqueçam de lhe enviar os seus trabalhos para: Editions Pélissier, 20 Rue des Alluets, 78630 Orgeval, França.
Temos depois, o autor terá a grata surpresa de ver os seus comentários publicados numa imprensa especializada já que, como é do domínio público, os grandes gigantes da edição permanecem indiferentes a todo o tipo de literatura e estudos científicos sobre a guerra colonial, aquele espaço de martírio e onde houve tanta esperança revolucionária deixou de estar na moda.

Um abraço do
Mário


As leituras de René Pélissier acerca da Guiné (2)

Beja Santos

René Pélissier tem o dom de escavar e encontrar pepitas de ouro, e no que tange à Guiné a sua voracidade bibliográfica surpreende sempre. Continuamos a respigar o que ele sobre a Guiné plasma em "Portugal Afrique Pacifique", edição de autor, 2015 (para os interessados: Editions Pélissier, 20 Rue des Alluets, 78630 Orgeval, França; email do autor viapelbooks@wanadoo.fr).
Já aqui se falou no precioso álbum organizado por Mário Matos e Lemos sobre “O primeiro fotógrafo de guerra português José Henriques de Mello. Guiné: Campanhas de 1907-1908”. Obra que me provocou emoção, referia-se a território que percorri palmo, o Cuor. Quando o régulo Infali Soncó decidiu fechar o trânsito do Geba, os políticos de Lisboa aperceberam-se que a questão era mesmo grave, aquela rebelião podia levar ao colapso do comércio da colónia. Por isso o governo deliberou enviar tropa europeia e macuas de Moçambique. José Henriques de Mello fotografou as tropas em Bissau e depois no Cuor, onde houve combates e o régulo fugiu. São imagens impressionantes. É pena este álbum editado em 2009 pela Imprensa da Universidade de Coimbra estar completamente esgotado.

Outra preciosidade é um guia turístico espanhol, “Rumo à Guiné-Bissau” de José Luis Aznar Ferrández, Barcelona, 2010. Pélissier comenta que consagrar mais de 200 páginas a um país que não acolherá muitos visitantes hispanófobos por ano é uma intenção louvável de editor e de autor, por aqui pululam traficantes colombianos que mais não leem que banda desenhada e livros de contabilidade com droga transacionada. Pélissier considera este autor imbatível nas suas descrições minuciosas dos principais locais merecedores de visita. É um autor que não deixa de elogiar a hospitalidade, a xenofilia dos guineenses. E na mesma recensão, o autor fala-nos de uma obra merecedora da nossa atenção, “Mami Wata, Mãe das Águas, Natureza e Comunidades do Litoral Oeste-Africano”, por Pierre Campredon, França, 2010. O autor é um ecologista naturalista fascinado pelas zonas costeiras oeste-africanas e das populações que vivem na Mauritânia, no Senegal e na Guiné-Bissau. Disserta sobre a vida económica do arquipélago dos Bijagós e chama a atenção para a necessidade de preservar as espécies faunísticas do arquipélago, ameaçadas pela pesca industrial. Pélissier espera que a criação da reserva de biosfera do arquipélago Bolama-Bijagós não chegue demasiado tarde.

Recorda Gérard Chaliand e o seu La pointe du coteau, Robert Laffont, 2011, de já se fez aqui recensão. Em Maio de 1966, Chaliand entrou no território da Guiné através do Casamansa, fez-se prontamente amigo e admirador de Cabral. Pélissier passa de Chaliand para um livro de Rui Jorge Semedo, ponto de vista, Pedro e João Editores, Brasil, 2009, e pergunta o que é que diria Cabral se lesse este livro. Rui Semedo faz uma verificação desesperada da situação da sua pátria, a Guiné-Bissau, cerca de 40 anos depois da morte de Cabral. E cita-o: “As principais atividades económicas da Guiné são: tornar-se ministro, traficante de droga, entrar em revoltas militares ou na corrupção, no peculato e no desvio de bens públicos”. Um geólogo à procura de diamantes, pôs-se ao caminho em países africanos como a Costa do Marfim, o Gabão, o Mali e entrou na Guiné-Bissau em 1978. Essas memórias parecem publicadas com o título Reflets de Brousse, por Jean-Louis Marroncle, Editions Edilivre, Paris, 2010. Outra surpresa: as memórias do padre Abel Gonçalves, missionário na Guiné cerca de 20 anos, o título da obra é Catarse (Ordem da Trindade, Rua da Trindade, 115, Porto, 2007. Descreve o seu ministério religioso primeiro como padre capelão junto de tropas do Exército, entre Maio de 1967 e Maio de 1969, e depois no Hospital Militar de Bissau.

Tem agora a precedência um livro de Lourenço da Silva intitulado Les Héros de la Guinée-Bissau, L’Harmattan, Paris, 2012, cidadão da Guiné, alto funcionário. O seu livro não é nem de história nem de ciência política, é uma espécie de biografia apologética e ditirâmbica de Nino Vieira. Pélissier leu atentamente o relato de Idálio Reis a CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné. Gandembel/Ponto Balana, uma revisitação a um pesadelo para o qual nunca ninguém deu uma explicação: montar um quartel longe da população e no corredor da morte, é de facto um dos documentos mais arrasadores da estratégia montada pelo Estado-Maior de Schulz. O pesadelo acabou em 28 de Janeiro de 1969 com a evacuação de Gandembel, uma posição fustigada centenas de vezes, em que a reação, pela força das coisas teria sempre que ser meramente defensiva. Uma palavra para Guinée, 22 Novembre, 1970. Opération Mar Verde, de Bilguissa Diallo, L’Harttman, 2014, um livro que Pélissier considera útil para completar tudo o que tem sido publicado em Portugal sobre o assunto. A autora é filha de um antigo oficial guineense que esteve envolvido na tentativa de golpe de Estado. Na obra procura-se reabilitar muitas figuras do FLNG – Frente de Libertação Nacional da Guiné.

Um comentário final para este maratonismo de René Pélissier que abarca toda a África Lusófona, é um esforço incansável para repertoriar tudo o que se publica pelo mundo fora. Bem entendido, há obras que aqui não se referem escritas em línguas não acessíveis ao leitor comum, caso de Branco Pelele, publicado por um finlandês na Alemanha, mas inteiramente redigido em Finlandês e consagrado às experiências e à vida quotidiana de uma voluntária humanitária na Guiné-Bissau. Enfim, quem quiser estar atualizado sobre este vasto caleidoscópio de edições tem mesmo que ter na mão estas mais de 500 páginas de Portugal Afrique Pacifique.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de março de 2017 Guiné 61/74 - P17131: Notas de leitura (936): "Portugal Afrique Pacifique", por René Pélissier, edição de autor, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17149: Parabéns a você (1224): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17143: Parabéns a você (1223): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 16 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17148: Convívios (785): Magnífica Tabanca da Linha, hoje, em Cascais, Alvide, a 30ª edição (Manuel Resende)


Cascais > Alvide > 16 de março de 2017 > 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha >  Foto de grupo


Cascais > Alvide > 16 de março de 2017 > 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha >  T-shirt original do António Alves (RC 3, Estremoz)

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados. [Seleção, edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Manuel Resende, com data de hoje, às 19h00:

Amigos, hoje. 16-03-2017, realizou-se mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, o 30º. No restaurante  “O Nosso Cantinho". (*)

Tivemos a presença de 39 convivas e até tivemos oportunidade de tirar uma foto de grupo, já inserida como foto de capa da nossa página no Facebook.

Desta vez não tivemos “piras”, mas tivémos a presença do Luís Encarnação, que reactivou a sua presença,  interrompida já desde os tempos do restaurante Adega Camponesa.

Seguem as fotos que tirei... espero que gostem e que ficarão para recordar.

Obrigado a todos os que estiveram presentes e um grande abraço aos que não puderam vir. Oportunidades não faltarão. (**)

Manuel Resende"

PS - Se acharem que tem interesse, publiquem. As caras são sempre as mesmas. Agradeço também a publicação feita do anúncio para este convívio, ainda não tinha agradecido.

Um abraço aos bons amigos Luís e Vinhal.
Manuel Resende
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17116: Convívios (781): 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha: 16 de março de 2017, 5ª feira, restaurante "O Nosso Cantinho", rua das Tojas, nº 192 A, Carrascal de Alvide, Cascais. Inscrições até dia 13... (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P17147: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VII: Quando o Onze foi castigado, por portaria de 26/6/1941, por alegada falta de galhardia e aprumo na marcha para o embarque, ficando inibido de poder ostentar a bandeira do exército...


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(Continua)

1. Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à esquerda].(*)

José Rebelo, capitão SGE reformado, foi em plena II Guerra Mundial um dos jovens expedicionários do RI I1, que partiu para Cabo Verde, em missão de soberania então com o posto de furriel (1º batalhão, RI 11, Ilha de São Vicente, ilha do Sal e ilha de Santo Antão, junho de 1941/ dezembro de 1943).

Não sabemos se ainda hoje será vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão. E, se já morreu, estamos a honrar a sua memória e a dos seus camaradas, onde se incluiram os pais de alguns de nós.

O nosso camarada Manuel Amaro diz do José Rebelo: (...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e, após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)

A brochura, de grande interesse documental, e que estamos a reproduzir, é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

[Foto á direita: o então furriel José Rebelo, expedicionário do 1º batalhão

do RI 11]

Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.

O batalhão expedicionário do Onze [RI 11, Setúbal] partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

Era comandante do RI 11, na altura, o coronel  inf Florentino Coelho Martins, combatente da I Guerra Mundial, e que, ao que parece, não escondia as suas simpatias republicanas, o que na época pagava-se caro.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17133: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VI: 16 mortos, devido a doença e desnutrição, ficaram no cemitério da vila de Santa Maria

(**) Vd. também poste de 23 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17076: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte IV: por castigo ("falta de brio e aprumo" de alguns militares no desfile de embarque!...) , o 1.º Batalhão do Onze é impedido de ostentar a Bandeira do Exército Português... (O cmdt do Onze era o cor inf Florentino Coelho Martins, um português da "escola de Mouzinho")... Na ilha do Sal, "a vida e a morte lá iam decorrendo"...

Guiné 61/74 - P17146: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (27): Controlo sanitário



1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 5 de Março de 2017 enviou-nos mais uma das suas outras memórias da guerra. Esta bem divertida.


Outras memórias da minha guerra

26 - Controlo sanitário

Todos os rapazes do meu tempo sabem bem do perigo que se corria quando se procurava uma relação sexual com uma das “badalhocas” que proliferavam nos arrabaldes do Porto e de Gaia. Dizia-se, até, que as prostitutas “mais limpas” eram as “meninas” da baixa do Porto, porque eram submetidas a um rigoroso controlo sanitário, uma “modernice” imposta pelo regime de Salazar.
É claro que as relações amorosas surgiam por todo o lado. Não havia santa terrinha que não exibisse (ou ocultasse) enredos dignos da pena de um Camilo Castelo Branco. Ora, os resultados apareciam como cogumelos no pinhal, umas vezes com as gravidezes involuntárias e outras com os inesperados “esquentamentos”. Tudo fruta da época. Enfim, tudo normal. Porém, por vezes, surgiam alguns rumores de que o Senhor Fulano de Tal, também andava “esquentado”, devido a descuidos da sua bela e fidelíssima amante. Mas isso era abafado e rapidamente esquecido, por falta de testemunhos credíveis e por alguns receios de represália. Quando muito, e para se salvaguardar situação social tão melindrosa, fazia-se a alusão aos lugares públicos, onde possivelmente se sentara, sem a protecção do lencinho estendido debaixo do rabo.

Esta juventude foi mobilizada para defender patrioticamente as nossas Províncias Ultramarinas. Influenciada pelos princípios patrióticos incutidos desde a instrução primária, ela aparece, assim, repentinamente, relacionada com os nativos. Os “turras”, no interior, que, em termos de guerra subversiva, dominavam as populações, levavam as jovens e deixavam as crianças e as velhas para as proteger. Raramente ficava alguma mulher adulta para apoio a essas pessoas mais fragilizadas. As mulheres que mais se viam, eram as da tropa Milícia, que combatia ao nosso lado.

Isto quer dizer simplesmente que a actividade de prostituição, fora de Bissau, era quase nula, apesar dos apetites sexuais de tanta e tão potente clientela.

Pergunta-se:
- E como é que a malta se “safava”?

Joan Collins [n. 1933]

Os portugueses sempre foram conhecidos pelo seu primor no desenrascanço. Aqui, como manda a sua educação católica, cada um teria que se confessar dos seus pecados contra a castidade e de um ou outro caso de relação furtiva, por vezes não muito correcta. Estou a lembrar-me do caso do Fafe que apareceu na enfermaria “à rasca da piça”, porque uma jovem adolescente o havia masturbado, não tendo lavado as mãos, que estavam impregnadas de piripiri.


Raquel Welch [n. 1940]


Por altura dos princípios dos anos 70, com a evolução da guerra, foram aumentados os contingentes militares, a par de outras consequentes movimentações. Uma delas, foi o aparecimento de prostitutas brancas, na cidade de Bissau. No bar Mon Ami já “trabalhavam” regularmente. Tal como no Texas, nos tempos da corrida ao ouro, essas profissionais carregadas de ambição, tudo arriscavam pelo dinheiro fácil obtido no “negócio das carnes”. Agora, na procura de clientes do interior, deslocavam-se de táxi e de outros meios de transporte (até onde as novas e poucas estradas alcatroadas o permitiam), saindo, assim, de Bissau, rumo a norte… com regressos rápidos e seguros.

Fora de Bissau, elas passavam por controlos militares. Na zona de Nhacra, esse movimento era cada vez mais notório. Perante essa situação, os militares locais viam-nas passar, a caminho da satisfação dos outros camaradas, deixando-os chateados porque também queriam usufruir desse “serviço”. Foi então que o Maia, mais o Seixas,  assumiram a liderança reivindicativa dos “justos direitos”e foram interpelar o comandante do destacamento, o Alferes Bastos:
- Meu Alferes, nós também queremos foder. Estamos a deixá-las passar e …ficamos “a ver navios”. E quando lhes dizemos qualquer coisa, elas mandam-nos ir a Bissau, que é perto. Aqui o Seixas, há dias, ainda conseguiu, disfarçadamente, dar-lhes umas apalpadelas, com o pretexto de ter que fazer “controlo de armas”, mas uma mulata quis “assapar-lhe” o pelo.

O Alferes, que também já se apercebera dessa movimentação, e que até já fora mimoseado por reconhecimento dessa sua autoridade local, em visita ao Mon Ami, acalmou-os e disse que ia pensar no assunto.

À noite, com os Furriéis, enquanto bebiam umas cervejas, a conversa versava o assunto da prostituição versus “necessidades fisiológicas” da nossa tropa. O Furriel Moura aproveitou para demonstrar os seus conhecimentos nessa matéria, dando como exemplo o que se se passava no Vietname. Falou do grande número de prostitutas que quase chegava a rivalizar com os 500 mil militares. Ao contrário da nossa situação na Guiné, aos americanos “não faltava onde despejar os tomates”. Mesmo assim, lembrou o facto de grandes artistas americanos visitarem periodicamente as tropas, moralizando-as e mantendo-as racionalmente ligadas ao seu mundo de origem. Lembrou a Raquel Welch e a Joan Collins (*). Esta, que sendo capa da Playboy, foi pessoalmente entregar exemplares da tiragem dos 7 milhões dessa edição recorde. A Playboy subira de tiragem desmesuradamente, graças à sua procura no seio das forças armadas.

Por sua vez, o Alferes Bastos referiu um facto curioso, também relacionado com o Vietname. Dizia que numa determinada zona, ocupada por cerca de 20.000 militares, se haviam desenvolvido doenças venéreas com tal gravidade que, por precaução sanitária, os militares foram impedidos de se deslocarem à cidade mais próxima, o que provocou nocivos reflexos psicológicos, sociológicos e económicos. Então, o chefe dessa região teve uma ideia brilhante. Em parceria com as autoridades militares, fundou um enorme bordel, conhecido por “Disneyland Oriental”, que consistia essencialmente numa zona de 10 hectares, devidamente cercada, implantada com 40 quartos/casa dispersos, para satisfação sexual dos visitantes. E, em simultâneo, foram admitidas, identificadas e controladas as prostitutas, bem como o desenvolvimento de condições de tratamento aos infectados, tudo integrado num adequado serviço de controlo e apoio sanitário.

Porém, é sabido que, apesar do grande esforço médico, apoiado em carradas de “Penicilina” e “Penisulfadê”, o drama causado pelas doenças venéreas foi dos piores inimigos enfrentados pelos militares. Fala-se muito de suicídios de militares, incapacitados sexualmente, na hora do regresso do Vietname,  mas, nós sabemos que isso também acontecia entre os nossos combatentes da Guiné. E muitos dos afectados optaram por ficar por lá.

Da conversa, voltou-se à análise da nossa situação e à nossa real dimensão. Momentaneamente, o que mais preocupava estes graduados era o aproveitamento do movimento “putéfio” para resolver a satisfação sexual da tropa do seu destacamento. E foi assim que com mais cerveja ou menos conversa, o Alferes determinou democraticamente, sem qualquer votação, contestação ou parecer superior,  que ali também seria criado um serviço contínuo de Controlo Sanitário. A partir de agora, todas as mulheres, supostamente prostitutas, que ali passassem para exercício do seu métier em outras zonas, teriam que ser submetidas a exame prévio. Desta forma, se daria a oportunidade dos nossos militares, agora habilitados ao uso de bata branca,  poderem, alternadamente, usufruir de (e cobrar)  contactos seguramente mais agradáveis.

Uns dias depois, perante as novas valências do Controlo Militar e o enorme entusiasmo criado, o Alferes Bastos foi obrigado a aprovar uma rigorosa escala de serviço na Enfermaria, por via do Controlo Sanitário de mulheres, em trânsito, a caminho do norte.

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(*) Nota: - Apenas para referir que a única artista que eu avistei na Guiné, foi a Sara Montiel [1928-2013]  Sim, a Sarita,  do filme “La Violetera” [1958].  Foi durante uma exibição cinéfila, ao ar livre, acompanhado pelas fervorosas melgas da Guiné.

Destaco ainda o entusiasmo da tropa, sempre que o Operador da projecção parava a imagem, pondo em evidência os lábios carnudos e sensuais da artista, enquanto cantava:

Besame, besame mucho
Como si fuera esta noche
La ultima vez

Besame, besame mucho
Que tengo miedo a perderte
Perderte después

Quierote verte muy cerca
Mirarme en tus ojos
Verte junto a mi
Piensa que talvez mañana
Yo ya estaré lejo
Muy lejo de aquí

Besame, besame mucho
Como si…

(https://www.youtube.com/watch?v=xyOMyXTI3O0)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17069: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (26): Sonhos em perigo

Guiné 61/74 - P17145: O ten cor cav António Valadares Correia de Campos que eu conheci (1): José Manuel Pechorro (ex-1.º cabo cripto, CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73); Manuel Oliveira Pereira (ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, Bafatá, 1972/74)


Coronel de cavalaria reformado António Valadares Correia de Campos, que faleceu em 2006, foi um dos bravos de Guidaje e vai-lhe ser prestada homenagem, em documentário televisivo, assinado pelo realizador António Pedro de Vasconcelos, pelo seu papel no 25 de Abril. Imagem, de origem desconhecida, enviada pelo nosso camarada José Manuel Pechorro, um dos bravos de Guidaje (ex-1.º
cabo cripto,  CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73).


Estandarte do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74). Cortesia de Manuel Oliveira Pereira: Este batalhão ("Velozes e agressivos", era o seu lema), esteve na Guiné entre Março de 1972 e Julho de 1974, e dele faziam parte, além da Companhia de Comando e Serviços (CCS), sediada em Bafatá, as companhias de quadrícula estacionadas em Contuboel (CCAÇ 3547), Geba (3548)  e Fajonquito (CCAÇ 3549).

O batalhão teve 6 comandantes: (i)  ten cor inf Mário da Cunha Torres; (ii) ten cor inf Artur Baptista Beirão; (iii) ten cor cav António Valadares Correia de Campos; (iv) ten cor cav  Henrique Augusto Teixeira  de Sousa Sanches; (v) maj art Óscar José Castelo da Silva; e (vi) maj inf Mário José Vargas Cardoso.


1. Mensagem do José Pechorro [, foto à esquerda], com data de hoje, às 00:46

Olá , Luís Graça,

Sobre a solicitação de fotos do Ex. Cmdt do Cop 3 – Bigene – Guiné Bissau, Sr. Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos, “Águia”, posso acrescentar, para já, que faleceu em Lisboa em 3-6-2006, com o posto de Coronel.

Entrou em Guidage em 10 de Maio de 1973 e deixou esta povoação e quartel em 13 de Junho de 1973, Terça-feira.

Infelizmente não disponho de fotografia do nosso ex Cmdt Sr. Ten Cor Correira de Campos, o que disponho é uma foto que anexo, e que extraí de um artigo, numa revista sobre este militar e o seu papel na defesa de Guidage. Não recordo o nome da revista, nem a data (terão passados 15 a 20 anos...). Poderá ter sido um anexo do jornal o Século...

O ex. 1º Cabo Radiotelegrafista Janeiro, ficou de verificar, mas em princípio não tem.

Um abraço,
José Pechorro


2. Comentário de Manuel Pereira (*):

Caros amigos/camaradas, S
ó agora vi o "nosso" blogue que procura "ajudar" na obtenção de fotografias do Ten Cor Correia de Campos. Este militar, de quem guardo as melhoras lembranças e amizade, foi meu comandante de batalhão (BCaç 3884 - Bafatá).

Vou procurar nos meus arquivos se tenho alguma fotografia - ele era avesso a este tipo de registo - ou se eventualmente alguém do conjunto do Batalhão. Logo que tenha informação, voltarei a este espaço.

Saudações,
Manuel Oliveira Pereira,
ex-Fur Mil da CCaç 3547 (72-74) 
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17140: Em busca de... (274): uma foto do tenente-coronel de cavalaria António Valadares Correia de Campos, comandante do COP 3 e um dos bravos de Guidaje... Precisa-se, com urgência,  para documentário sobre o 25 de Abrilm, a realizar pelo cineasta António Pedro Vasconcelos

(..) A Just Up, produtora de audiovisuais, encontra-se na fase final de produção do documentário sobre o 25 de Abril, "A Vox e os Ouvidos do MFA". O documentário será exibido na RTP1 e é realizado por António Pedro Vasconcelos

Retrata as duas noites anteriores ao 25 de Abril, quando um grupo de 20 soldados fizeram a instalação de um cabo telefónico desde Benfica até à Pontinha, que veio permitir ao Posto de Comando do MFA ter acesso às escutas dos telefones do governo.

Para além de entrevistas aos militares envolvidos nesta operação, necessitamos também de algumas
imagens de arquivo. Durante a pesquisa para o documentário, chegamos até ao vosso blogue sobre as campanhas na Guiné onde fazem referência ao tenente coronel Correia de Campos. Neste contexto venho saber se têm na vossa posse algumas fotos com o sr. tenente coronel Correia de Campos que possamos usar no nosso documentário. (...)

(...) Tem sido uma aventura encontrar uma foto do tenente coronel Correia de Campos! Nem Centro de Documentação 25 de Abril nem Associação 25 de Abril... só uma, do Arquivo do Exército, mas péssima. Estou a tentar encontrar alguém que tenha convivido com o senhor e que talvez possa ter 1 foto da época. (...)

Guiné 61/74 - P17144: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte IV: Caraíbas: Santa Lúcia: gente que há séculos também veio da Guiné, nos navios negreiros











Parte IV (pp. 11-13)


Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo" do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 175 referências. É casado com a médica chinesa Haiyuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Partida do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Sobre o pequeno país das Caraíbas, Santa Lúcia, ver aqui para saber mais...  Tem   539 km2 (72% do território da nossa Madeira)  e pouco mais de 160 mil habitantes. 90% da população é afro-americana (leia-se: descendente de escravos, oriundos do continente africano).

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17120: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte III: Gilbraltar, Santa Cruz de Tenerife, oceano Atântico, a caminho das Caraíbas, no navio cruzeiro "Costa Luminosa" (17 pisos, 93 mil toneladas, 2800 passageiros, 950 tripulantes)...

Guiné 61/74 - P17143: Parabéns a você (1223): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17135: Parabéns a você (1222): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)