quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17740: Em busca de... (279): Arq. Luís Vassalo Rosa, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1661 (Henrique Matos e João Crisóstomo)



1. Mensagem de Henrique Matos, (ex-Alf Mil, 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52 Enxalé, 1966/68), com data de 10 de Agosto de 2017, dirigida ao Mário Beja Santos a propósito do Poste de 12 de Agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos):

Meu caro Beja Santos,
Aqui vai a resposta ao teu pedido.

Estive pouco tempo com o Cap. Mil. Vassalo Rosa no Enxalé porque fui transferido para o Comando Chefe em Bissau. Penso que o [João]  Crisóstomo nem o conheceu. Tenho 3 fotografias que anexo, tiradas no campo de jogos do mesmo Enxalé durante uma evacuação mas por azar o Capitão em todas está de costas.

Talvez por eu ser o mais velho naquela tropa, descarregou comigo as suas mágoas. Casado e com filhos, arquitecto de profissão, sentia-se completamente desamparado. O Cap Mil Rosa era o oposto do Cap Mil Pires da antecessora CCaç 1439; este era um homem destemido no mato.

Com as alterações do Spinola,  a companhia [, a CART 1661,] mudou a base para Porto Gole, onde terminou a comissão. Não sei se ainda lá está o memorial da companhia. (anexo)

Vi-o em Lisboa de passagem em 1968, acho que tinha um carro Triumph verde Nunca fui aos encontros da CArt 1661 porque são sempre no Norte. Penso que este ano foi em Chaves, vê lá o esticão que era para mim.

O Abel Rei publicou um livrinho interessante com as peripécias desta companhia. (anexo)

Abraço,
Henrique





"Entre o Paraíso e o Inferno - (De Fá a Bissá) - Memórias da Guiné 1967/1968", de Abel de Jesus Carreira Rei

Porto Gole - Memorial que assinala a passagem ali da CART 1661
Foto: © Abel Rei (2002). Direitos reservados

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2. Sobre o mesmo assunto, mensagem de João Crisóstomo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):

Caro Beja,
Por mim não te posso adiantar nada sobre o Capitão Luís Vassalo Rosa. Talvez o Henrique Matos possa ajudar mais do que eu.
Estive algum tempo (duas vezes, um ou dois nesse de cada vez, “destacado" em Porto Gole (foi nos meus tempos lá, sob a minha orientação, que se fez com a ajuda do Cap/Régulo Amena na Onça a “descapinagem" e , assim mesmo muito por alto, a primeira “limpeza" do terreno para a futura pista de aterragem que só foi utilizada depois de eu já estar em Portugal); mas depois voltei a Enxalé meses antes do regresso a Portugal.
E a verdade é que depois de ter chegado a Portugal por muitos anos deixei de ter contactos com ninguém sobre assuntos da tropa e da Guiné. Estava a organizar a minha vida em Inglaterra, França, etc e o que eu queria era mesmo esquecer... nem quando me contactavam (vários anos seguidos) para me convidarem para eu receber uma medalha (Cruz de Guerra de 4.ª classe) eu respondia que não podia ir (a não ser que essa medalha fosse dada a todos os que faziam parte do grupo que eu comandava nesse momento; desses, na minha opinião, alguns mais do que eu mereciam essa medalha; e se assim fosse eu faria um esforço para ir a Portugal para a receber com eles. Mas a minha sugestão nunca mereceu uma resposta sequer e a medalha acabou por ficar por lá em qualquer gaveta…
Nem sabia sequer que havia encontros da CC1439 (como eles não tinham o meu endereço eu não recebia o convite; não sei se era enviado para a casa dos meus pais, que já velhinhos não teriam lembrança de me reenviarem esse correio!
O meu reatar com os meus colegas da CC 1439 deve-se a simples acaso: uma das minhas irmãs fez uma excursão qualquer na qual o Arantes também ia e ao falar com ele, que ia sentado ao lado dela, vieram a falar da Guiné… ; tempos depois o Capitão Pires falecia e o Arantes telefonou para Nova Iorque; mas eu não estava e vi a mensagem que me foi deixada escrita num pedaço de papel; mas só bastantes anos mais tarde tive oportunidade de ir a Portugal e reatar (em momentos de tremenda emoção que não esqueço) com alguns dos meus colegas da Guiné!; na altura ainda ninguém sabia do paradeiro do Zagalo nem do Lopes que viríamos a encontrar mais tarde.
Nem sei do nome do capitão que nos substituiu, nem da companhia… nada… estou a ficar velho...

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3. Nota do editor:

Sobre o Cap Mil Luís Vassalo Rosa, vd. também o Poste de 1 de Setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17720: (De) Caras (97): Luís Vassalo Rosa e Sousa Dias Figueiredo, ex-comandante da CART 1661 (Fá, Enxalé, Porto Gole, 1967/68), juntos pela primeira vez, 2010, em São Pedro de Moel (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de agosto de 7 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17739: Em busca de... (278): informação sobre uma senhora cabo-verdiana, Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que teve 3 filhas: (i) Ana Gracia Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, de uma união com o sr. Edmond Malaval; e (ii) Judite e Linda Vieira, em Bissau, de uma outra união com um sr. português ou cabo-verdiano, de apelido Vieira (Ludmila A. Ferreira)

Guiné 61/74 - P17739: Em busca de... (278): informação sobre uma senhora cabo-verdiana, Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que teve 3 filhas: (i) Ana Gracia Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, de uma união com o sr. Edmond Malaval; e (ii) Judite e Linda Vieira, em Bissau, de uma outra união com um sr. português ou cabo-verdiano, de apelido Vieira (Ludmila A. Ferreira)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto: © Ludmila Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem da nossa leitora Ludmila A. Ferreira [que julgamos ser guineense, ou de origem guineense]:

De: Ludmila A. Ferreira

Data: 5 de setembro de 2017 às 08:36

Assunto: Pedid de informação sobre família cabo-verdiana que viveu em Bafatá [entre 1900 e 1980]

Bom dia,  Senhores

Encontrei um blogue na Net, com o vosso email, sobre a Guiné- Bissau.

Estou à procura de uma família que viveu em Bafatá  entre 1910 e o golpe [de Estado] de 14 de Novembro [de 1980, liderado por 'Nino' Vieira] .

Vou enviar as descrição agora:

Maria da Graça de Pina Monteiro (sozinha na foto nº1), nascida no ano de 1900, é uma senhora cabo-verdiana que "casou" com um senhor cujo apelido era Vieira, em Bissau. Achamos que esse Vieira era um português ou cabo-verdiano e não um guineense. Teve duas filhas com um esse senhor: Judite e Linda Vieira [foto nº 2].

Por isso agradeceria caso souberem de alguma informação sobre algum português ou cabo-verdiano com esse apelido.

Mas antes de ter essas filhas com o Vieira, essa senhora,  a Maria da Graça de Pina Monteiro,  viveu antes em Bafatá e teve uma filha com um senhor que se chamava Edmond Malaval, da Maison Gurnier.  Essa filha se chamava Ana Gracia Malaval (nascida em 2/4/1918).

Portanto: o que eu queria saber é quem era o Vieira que se casou e teve filhas com Maria da Graça de Pina Monteiro. E se por acaso já ouviu falar das duas filhas, Judite e Linda Vieira.

Ludmila Ferreira

2. Resposta do editor:

Ludmila, obrigado pelo  seu contacto. Se a nossa intuição está certa, a Ludmila é guineense ou de origem guineense, a viver neste momeno no Brasil, segundo a  informação que encontrámos no Facebook.

Fizemos questão de publicar o seu pedido, na esperança de que alguém tenha uma informação útil para si. O nosso blogue é essencialmente lido e feito por homens (e algumas mulheres) que participaram na guerra colonial, no período de 1961/74.  Temos também gente da Guiné-Bissau. Temos centenas de fotos de Bafatá e de Bissau e muitos textos sobre estas duas cidades, incluindo referências a famílias (portuguesas, cabo-verdianas, sírio-libanesas e outras) que conhecemos... Só pelo apelido "Vieira" vai ser difícil localizar o pai da Judite e da Linda, que poderão ter nascido nos anos 20/30 do século passado. Quando ao senhor, Edmond Malaval,  de nacionalidade possivelmente francesa e empregado da "Maison Gurnier", não temos qualquer pista... Mas pergunto-lhe: não seria antes "Maison Garnier" ? Pode haver aqui um erro ortográfico... "Gurnier" não nos parece que seja um apelido francês...

Em todo o caso vamos contactar um camarada, o Leopoldo Correia, que conviveu, de mais perto, com famílias de Bafatá, dos anos 50/60... Pode ser que ele nos dê alguma "pista"...

Peço à Ludmila para manter o contacto connosco.

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17698: Em busca de... (277): Júlio Rodrigues, natural de Viseu, engenheiro formado no Porto, divorciado, com dois filhos e vivendo actualmente em São Tomé e Príncipe grande parte do ano... Ex-combatente, conhecemo-nos nas ilhas, e deveríamo-nos encontrar neste período de férias em Portugal mas não tenho o seu contacto telefónico... Será que a Tabanca Grande me poderia ajudar a localizá-lo? (Renata Monteiro Marques)

Guiné 61/74 - P17738: Agenda cultural (581): "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade", de José Saúde (Chiado Editora, 2017, 184 pp.): sessão de lançamento no dia 10, domingo, às 17h30, com apresentação do nosso editor, prof Luís Graça; e hoje, dia 7, o autor vai estar no programa de Fátima Lopes, na TVI, " A Tarde é Sua", às 16h30, para falar do seu livro e da sua história clínica extraordinária

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade 


O mundo é um imenso planeta onde se cruzam imagens de seres humanos que a certa altura das suas vidas se deparam com crueldades que a mãe Natureza, infelizmente, a espaços determina. Porém, ninguém se julgue imune a presumíveis doenças que porventura nos tocam e logo inesperadamente. Mas acontece, nada a opor. Há que aceitar.


Camaradas, sou mais um dos inúmeros portadores de um Acidente Vascular Cerebral, vulgo AVC. Fui apanhado numa feroz e traiçoeira emboscada montada pelo IN (AVC) que me atirou para uma resma de incertezas, chegando mesmo a duvidar do dia de amanhã, aliás, do momento seguinte, para ser mais preciso.

Entre uma limitadíssima linha que separa o ser humano entre a vida e a morte, lá fui conduzido para um universo de incapacitados cujo futuro era marcado por uma constante incerteza. Todavia, num ténue lobrigar ao meu estado físico, conclui que o fim, a meu ver, ainda parecia distante.

A afazia, observada no seu início, limitava toda a minha inquietação face à situação emocional. Mas, lá surgiram os primeiros sinais de alerta e eis-me a caminhar seguramente no trilho do reativar competências que entretanto pareciam perdidas.

A minha hemiparesia direita trouxe-me irreversíveis marcas que o tempo jamais ousará remediar. O braço direito ficou esquecido, sendo que o membro inferior deu-me sinais de vitalidade que me proporciona um caminhar pausado, mas seguro.

A luta titânica que travamos quotidianamente no mundo

Capa do 1º livro, editado em 2009
dos silêncios, levou-me a escrever um segundo livro sobre o AVC (*). Entendi, como oportuno, incentivar todos os companheiros apanhados nesta “armadilha”, assim como os potencias portadores de uma doença contextualizada no universo de informações existentes.

E é neste contexto de realidades adquiridas, que me fixei na construção de uma outra obra que nos permite mergulhar no saber sobre as circunstâncias em como lidar com o “mal” que por vezes parece um fim, mas que afinal nem sempre a meta é a derradeira solução.

A obra, 184 páginas, tem a chancela da Chiado Editora e será, inicialmente, lançada em Portugal e no Brasil e, posteriormente, traduzida em inglês para os Estados Unidos da América, Inglaterra, Irlanda do Norte, assim como em castelhano para Espanha, após a venda dos primeiros 3.000 exemplares. (**)

Para trás ficaram momentos áureos em que a nossa irreverente juventude proporcionou instantes de felicidade e apreensão. Reconheço que o meu passado como antigo futebolista, sustentado num serviço militar obrigatório onde a especialidade de Operações Especiais/Ranger, a que acresce uma comissão no Guiné, me trouxe um novo alento e deu incontestáveis forças no debelar deste sinistro “mal”.

Espelhando, humildemente, o que me vai na alma, convido todos os camaradas que residem na grande Lisboa que no próximo dia 10 de setembro, domingo, 17h30, na Chiado Café Concerto, Avenida da Liberdade, nº 180, marquem presença no evento. De resto fica o respetivo Cartaz e, naturalmente, o Convite. 

Estou a contar com a presença do nosso editor, Luís Graça, que é professor de saúde pública, jubilado, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.

Abraço,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Notas de M.R.:

(*) Vd. poste de 11 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12574: Blogoterapia (246): Uma história de vida contada na primeira pessoa (José Saúde)

Vd. também postes de:

12 de outubro de 2011 Guiné 63/74 - P8898: História de uma vida (José Saúde Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 - Nova Lamego e Gabú -, 1973/74)

1 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12664: História de vida (37): O AVC é uma doença subtil que chega sem avisar (José Saúde)

(**) Vd. último poste desta série em: 

1 DE SETEMBRO DE 2017 > Guiné 61/74 - P17721: Agenda cultural (580): Lourinhã, Ribamar, sábado, dia 2, às 17h00, inauguração da exposição do nosso amigo e camarada Estêvão Alexandre Henriques, "Navegar no passado"... O nosso próximo grã-tabanqueiro foi fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858 (Catió, 1965/67)Lourinhã, Ribamar, sábado, dia 2, às 17h00, inauguração da exposição do nosso amigo e camarada Estêvão Alexandre Henriques, "Navegar no passado"... O nosso próximo grã-tabanqueiro foi fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858 (Catió, 1965/67)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17737: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XII: EUA, Califórnia: Los Angeles (30/9 e 1/10/2016) e San Francisco (3 e 4/10/2016)


EUA, Califórnia, San Francisco > 4 de outubro de 2016


Parte XII (Segundo volume, pp. 5-11)


Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE,CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, de sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017).

2. Na II etapa da "viagem de volta ao mundo", com um mês de viagem (a primeira parte terá sido "a menos interessante", segundo o escritor), o "Costa Luminosa" chega os EUA, à costa da Califórnia: San Diego  e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016),  Los Angeles  (30/9/2016) e São Francisco. Ainda segundo informação do António, estas crónicas estão em vias de ser publicadas em livro, com novas fotos e textos mais elaborados.

















Parte XII (Segundo volume, pp. 5-11)

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Nota do editor:

Último poste da série> 21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17494: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XI: EUA:, Califórnia: San Diego, San Pedro e Long Beach, a sul de Los Angeles: 30/9 e 1/10/2016

Guiné 61/74 - P17736: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (12): O enfermeiro (Costa), o atirador (Nascimento) e o armas pesadas (Soares): uma partida... de Carnaval



Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) >  José do Nascimento em Madina Colhido (à esquerda) e o fur mil enf Costa (à direita) [Augusto Tavares Ribeiro Costa]



Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > Saída  para o mato, o fur mil at José Nascimento (à esquerda) e o fur mil enf Costa (à direita) [Augusto Tavares Ribeiro Costa, de seu nome completo, já falecido].



Guiné > Região de Biombo > Quinhamel  > CART 2520 >   José do Nascimento como Costa à direita


Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > Hora do jantar


Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > No cais em construção, o José Nascimento (à direita) e o Costa (à esquerda)



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > 1º srgt Vaz à direita, furriéis Soares e Nascimento à esquerda. [O Manuel Soares era fur mil armas pesadas.]



Fotos (e legendas): © José Nascimento (2017). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data 17 de junho último:


Aos camaradas da Tabanca Grande, ao Carlos Vinhal e em especial ao Luis Graça.

Muitos dos combatentes esquecem ou ignoram os especialistas que também estiveram no Ultramar Português, como é o caso dos mecânicos, condutores, transmissões e enfermeiros. Alguns foram autênticos heróis no desempenho das sua missão, como é o caso do furriel enfermeiro Costa, de seu nome completo Augusto Tavares Ribeiro Costa, infelizmente já não pertencendo ao mundo dos vivos, a quem dedico esta pequena história, embora noutro contexto. Estávamos com três ou quatro meses de comissão e os intervenientes são: O Costa. o Nascimento e o Soares.


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Uma agradável surpresa:  Manuel Viçoso Soares (hoje empresário, no Porto), ex-fur mil armas pesadas, ma mesa com o  Fernando Sousa (exº cabo aux enf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) (e que vive  na Trofa)... O Manuel Soares ia ter o encontro da sua companhia, CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/71) em 20 de maio, em Almeirim. Na mesma mesa, ficou o nosso editor, Luís Graça.  O Manuel Soares ficou convidado para integrar formalmente a nossa Tabanca Grande.

Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



2.  Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (12) >O Costa, o Nascimento e o Soares.




À memória de Augusto Tavares Ribeiro Costa, ex-fur mil enf


Augusto Costa era o furriel responsável pela equipa de enfermeiros da CART 2520. Além de cuidarem do estado de saúde do pessoal da Companhia, também faziam tratamentos à população do Xime, tais como pensos e injecções. Um médico não faria melhor.

Quando chegou à Guiné este especialista já tinha mais de dois anos de experiência como enfermeiro em Hospital Militar.

Uma divisão de uma antiga quinta de um ex-fazendeiro alemão acolhia a enfermaria de que era responsável, sempre apetrechada com os equipamentos possíveis e os armários com os medicamentos necessários, por isso clientela não lhe faltava, a seringa manejava com perícia, com as agulhas suturava as feridas. Todos foram tratados com grande desvelo e cuidado.

Numa outra divisão mesmo em frente à enfermaria habitava o José Nascimento, furriel. A sua especialidade era de atirador, pertencia ao 3º. pelotão da CART 2520, quando chegou à Guiné já tinha quase ano e meio de serviço militar. Preferia ter que correr para um abrigo em caso de ataque inimigo e residir com mais algum conforto e privacidade neste compartimento.

No abrigo virado para a bolanha do Xime e para a estrada de acesso ao rio Geba, morava o Manuel Soares, furriel e operacional de armas pesadas. Pertencia ao 3º. pelotão da CART 2520, também com vários meses de serviço militar cumprido antes de chegar à Guiné e desde sempre granjeando da amizade dos outros camaradas. Jogava à defesa e, como o seguro morreu de velho e cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, dava preferência a um abrigo em caso do inimigo resolver atirar com algumas ameixas.

Com alguma frequência o Nascimento enfiava-se na enfermaria, conversava e assistia a alguns tratamentos. Outras vezes era o Costa que procurava dialogar e deixar correr o tempo. Devido a esta proximidade não foi difícil estabelecer uma grande amizade e também alguma cumplicidade.

Uma noite, já tinha escurecido havia algumas horas, o silêncio do quartel era apenas cortado pelo roncar do gerador eléctrico, quando em serviços diferentes e por mero acaso os dois se encontram. Depois de uma troca de palavras lembraram-se de fazer uma "partida" a um camarada, apesar do Carnaval ainda demorar a chegar.

A "vítima" foi escolhida. Dirigidos à enfermaria foram preparados os adereços, seguiram depois para o objectivo. Sob a luz ténue do abrigo e resguardado pelo mosquiteiro o sacrificado dormitava a ganhar forças para combater as agruras do dia e da semana seguintes.

Quando é levantado o mosquiteiro, o Soares vê na sua frente o seu camarada de pelotão, de braço ao peito e a cabeça envolta em ligaduras tintas de sangue, (na realidade não passava de mercurocromo). De olhos escancarados, completamente surpreendido pergunta:
- O que aconteceu?
- Fui passar ronda e caí numa vala, amanhã vais sozinho com o pelotão para a ponte -foi a resposta, (o pelotão iria sem alferes e sem o outro furriel para o rio Udunduma no dia seguinte.)

À entrada do abrigo ficou um expectador atento ao desenrolar dos acontecimentos. A cena saíra perfeita, o Costa mijava-se a rir.

Na manhã do dia seguinte o Soares dá de caras com o Nascimento completamente são que nem um pero e pronto para seguir viagem, mas quem pagou pela brincadeira foi a sua mãe, que a milhas na Metrópole pedia a Deus a protecção para o seu filho ausente na Guiné. Ao percebar que tinha caído que nem um passarinho, em tom áspero o Soares, furriel, solta um impropério:
- Ah filho da puta e eu que não dormi nada a noite inteira!

Para todos os camaradas da Tabanca Grande, um grande abraço

José Nascimento

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17111: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (11): Enxalé, a outra margem do Geba

Postes anteriores:

19 de novembro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

23 de setembro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16518: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (9): "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520

17 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

13 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira

27 de julho de 2015 Guiné 63/74 - P14936: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (5): Idas a Bafatá para comprar vacas

24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14517: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (4): Primeiro dia no Xime

31 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14422: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (3): Eu e o malogrado fur mil mec auto Joaquim Araújo Cunha, da CART 2715, em Amedalai, em junho de 1970, de bicicleta a pedal

14 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14362: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (2): Viagem até Mansambo

10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14341: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (1): Os Cabos também faziam Planos de Operações

Guiné 61/74 - P17735: Os nossos seres, saberes e lazeres (228): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (8) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 11 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Tudo se conjugou para que depois de uma férias em Malta houvesse um retorno a Bruxelas, três dias apressados, que se saldaram em encontros amigos e programas admiráveis.
Primeiro, o enamoramento por uma arquitetura invejável de Arte Nova, Arte Deco e período seguinte, a economia belga estava pujante e as casas e monumentos refletiam tal prosperidade.
De Namur seguiu-se para Mariemont, tarde mais aprazível não podia ter acontecido, com a visita a um museu de um colecionador que podia ter sido um rival de Gulbenkian. E à despedida mostram-se cerejeiras ornamentais, nunca o viandante entendeu porque é que estas árvores não abundam nas nossas cidades, já que temos os faiscantes jacarandás, de grande porte, podíamos espalhar pelas ruas estas cores tão risonhas.

Um abraço do
Mário


De Valeta para Bruxelas: 
Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (8)

Beja Santos

Qualquer turista que arribe a Bruxelas e que circule pelos bairros mais centrais não pode deixar de ficar surpreendido com a quantidade e qualidade de edifícios Arte Nova e Arte Deco. Há mesmo programas específicos para visitar algum do património mais valioso, caso do museu Horta, que foi residência e ateliê do arquiteto Victor Horta, um os expoentes máximos da Arte Nova, somos surpreendidos por mosaico, vitrais, pinturas murais, artes decorativas, mobiliário da época, há outros museus como Alice e David Van Buuren e há visitas guiadas pelas ruas. Surpreende depois a majestade de certa arquitetura do início dos anos 1950, a Bélgica ainda é então uma importantíssima potência económica, dispõe do Congo, a cidade enxameia-se de galerias, vistosas como templos. Veja-se esta entrada da Galeria Ravenstein, que já conheceu melhores dias, é uma peça de grande beleza, cercada de escritórios em série.


Sempre que o viandante percorre o centro histórico dá uma saltada à Catedral de Santa Gudula, um colosso de pedra de gótico triunfal, que foi alvo de muitas intervenções, é impressionante pela sua harmonia, por uma construção que lhe facilita a luminosidade, e toca ainda mais pela cuidada sobriedade dos seus eixos, mostra-se o seu órgão, aqui mesmo, não há muito tempo, o viandante viu e ouviu o mágico Trevor Pinnock, cravista sem rival, a executar obras-primas de Bach.


O viandante detém-se junto da imagem ícone da catedral, há muito que promete a si mesmo procurar saber algo sobre Santa Gudula, o que não o faz, neste caso não importa, a imagem é muito bela e dá mesmo para interrogar como é que transcende tão forte espiritualidade sendo tão ofuscante a folha de ouro, que devia constituir um sério obstáculo, já que este espaço é comedido no luxo e na ostentação. Prossigamos.


Foi-se primeiro a Namur, o viandante tem ali uma amiga há muito mais de 30 anos, depois de ter servido um rico almoço avisou que íamos até Mariemont, o viandante andou perto, já esteve em La Louvière, no tempo da Europália Rússia, foi ali que se deslumbrou com os cartazes da propaganda soviética no tempo do culto de Estaline, vai feliz e contente, sabe que a sua amiga é useira e vezeira em bons programas. O parque circundante do museu real de Mariemont é espaçoso, por ali anda gente de todas as idades, há sombras acolhedoras, o elemento floral está sempre presente, como se ilustra.




Mas que museu é este? Um rico industrial de nome Raoul Warocqué deu em colecionador apaixonado, um tanto eclético: arte egípcia, Grécia e Roma antigas, uma manifesta devoção pela história e arqueologia da região, muito fascínio pelo Extremo Oriente, pela porcelana de Tournai, um grande bibliófilo. Quando aqui se entra logo nos alertam que este domínio de Mariemont tem história ilustre, foi fundado no século XVI por Maria da Hungria, servia de residência a governadores, aqui se deu acolhimento a Carlos V ou Luís XIV. E apontam para as ruínas do castelo, que era ponto alto destes 45 hectares de domínio. O museu foi inaugurado em 1975, desenhado cuidadosamente para nos encaminhar para a contemplação de todas estas jóias de arte, ver-se à légua que o senhor Warocqué se sentia deslumbrado pela arte egípcia, pelo classicismo, pelos primores da arte oriental.



O viandante tem de vez em quando que recordar que usa uma câmara modesta, o seu flash é proibido em telas e peças sensíveis, daí, na hora da despedida deste tão belo museu se ter registado um busto que qualquer museu não se importaria de acolher.


E assim acabou o penúltimo dia em Bruxelas. Não há melhor despedida do que mostrar as cerejeiras ornamentais que pululam em Watermael-Boisfort, onde o viandante tem um ponto de partida e de chegada, é de uma enorme impressão este colorido de feição orientalizante, pois são cerejeiras japónicas, cercadas de construções com quase um século de existência. Amanhã, último dia, haverá ainda uma deambulação pedestre dentro de bosques e a visita à exposição de Pierre e Gilles, no Museu de Ixelles, e depois ala morena que se faz tarde, pega-se na bagagem e vai-se até Zaventem. Até á próxima.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17713: Os nossos seres, saberes e lazeres (227): De Valeta para Bruxelas: Para participar na Primavera, visitar uma cidade muito amada (7) (Mário Beja Santos)