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terça-feira, 9 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça



O soberbo Rio Geba, junto a Porto Gole. Do outro lado, a margem esquerda. Mais à frente, para leste, o Rio Corubal vai desaguar no Rio Geba. No tempo do Jorge Rosales (1964/66), os fuzileiros deitavam a bóia e prendiam a LDG - Lancha de Desembarque Grande, que vinha de Bissau... No Geba era eles que impunham a ordem e a lei... Mas em Ponta Ponta Varela, na marge eswuerda, entre a Ponta do Inglês e o Xime, já havia ataques, do PAIGC, à navegação de cabotagem. Na foto, encoberto pelo capim, o marco comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946). Porto Gole foca na na margem direita do Rio, na estrada Bissau - Nhacra - Mansoa - Porto Gole - Bafatá (No tempo do Jorge Rosales, já estava interdito o troço Mansoa- Porto Gole). (LG) 

 Foto: © Jorge Rosmaninho, autor do blogue Africanidades (2009). Direitos reservados 


1. Texto de L.G.: 

LIgou-me estar tarde, por telefone, mais um camarada, o Jorge Rosales, de 69 anos, residente em Monte Estoril / Cascais, e que esteve em Porto Gole (1964/66)... Tem falado ao telefone com o Henrique Matos (*), que esteve a seguir a ele em Porto Gole (1966/68). 

Falei-lhe do Abel Rei (1967/68), que é mais novo, e que ele naturalmente não conhece... O seu objectivo era, muito simplesmente, o de poder ainda inscrever-se , a tempo, no nosso IV Encontro, em Ortigosa, o que eu assegurei automaticamente. É o nosso participante nº 96.

 É pai da Doutora Marta Rosales, minha colega (ISCTE e FCSH/UNL). Aqui vai, muito sumariamente, uma primeira apresentação do nosso novo camarada, que tem muitas fotografias do seu tempo de comissão e que vai levá-las, consigo, para o IV Encontro. 

Diz-me que era muito amigo do mítico Capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”. 

O seu prestígio, a sua influência e e o seu carisma eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC). Jovem (teria hoje 72/73 anos se fosse vivo), era um homem imponente, nos seus 120 kg. 

Schulz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços … Mais tarde, será morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole… Nesse dia o destacamento é abandonado pelas NT: “ um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário (Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70) (**)… 

O Jorge Rosales pertencia à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim. (Havia mais duas, uma Bedanda e outra em Nova Lamego, acrescenta ele.) Ficou lá pouco tempo, em Farim, talvez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos. 

Tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. Possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era amarela. Ficou 18 meses em Porto Gole. Ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina. 

Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). Podiam deslocar-se num raio de 10 km…. Mas a ligação com Mansoa já se perdera. O troço já não era seguro. Em Mansoa estavam os respeitados Águias Negras (BART 645, que dominavam o triângulo do Óio: Olossato, Bissorâ e Mansabá) . Do lado do Geba, eram os fuzileiros que impunham a lei e o respeito. Lançavam uma bóia e fundeavam a LDG em frente a Porto Gole. 

Vinha quase tudo por rio: os frescos, a bianda, os cunhetes de munições… (excepto o correio, que era lançado do ar, de DO 27, e às vezes ir cair no tarrafo; em contrapartida, o correio expedido ia de LDG... Singuralidades de Porto Gole que não tinha uma simples pista de terra batida, para as aeronaves). 

Tem vários amigos fuzos, desse tempo, incluindo o comandante Castanho Pais. Do outro lado, a nascente estava a CCAÇ 556, no Enxalé… Também conhece dois furrieís do Enxalé, de quem se tornou amigo. Também passou por Fá. E no final da comissão, esteve em Bolama, por onde passavam os periquitos… Conviveu com algumas companhias que, de Bolama, partiam para operações no continente… 

No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o Alf Mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolam… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que é preciso contar com tempo e vagar. O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época.  Esta morte abalou muito o Jorge Rosales, seu amigo. 

Voltando ao nosso IV Encontro, o Jorge está entusiasmadíssimo com a ideia de poder encontrar malta de Bambadinca, Xime, Enxalé, Porto Gole, Fá... Queixa-se de estar isolado, de não ter ninguém do seu tempo, até pelo facto de ter sido de rendição individua. Está reformado de uma dessas empresas que faziam o reabastecimento de combustível aos aviões, no aeroporto de Lisboa. Alguma malta da TAP e da ANA deve reconhecê-lo. Falei-lhe do Humberto Reis, do José Brás, do Alberto Branquinho, do Mário Fitas… Mas no aeroporto há milhares de pessoas a atrabalhar. 

Tem uma segunda habitação, no Couço, Coruche… Há muita rapaziada que passou pela Guiné. Anda com ideias de lá voltar, à Guiné, com mais malta do seu tempo… Quer fazer parte do nosso blogue, que acompanha diariamente (***). Já lhe dei as boas vindas à nossa Tabanca Grande, já o inscrevi na lista de participantes no nosso IV Encontro. Vai lá ter, não leva a esposa... Já actualizei o blogue. Abraço. Luís

 _________ 

Notas de L.G.:



sexta-feira, 13 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos, primeiro cmdt do Pel Caç Nat 52, 1966/68)

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 3 > "Posto Administrativo onde eu dormia. A porta de saída do meu quarto ficava do lado direito, vendo-se os sacos de areia que faziam protecção ao morteiro 60 que era a minha arma naquela posição. É visível no beiral os efeitos duma morteirada".

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68) > Foto nº 2 > Ao centro, o cavalo-de frisa são visível; à esqueda e à direita, os 4 edifícios do aquartelamento. À esquerda o Posto Administrativo que estava desactivado e ao fundo a cozinha, messe e dormitório de graduados. À direita a camarata dos soldados e ao fundo o edificio onde funcionava a enfermaria e o posto de rádio.


 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 1 > Foi tirada na estrada que dá acesso a Porto Gole, podendo ver-se à direita a loja da Casa Gouveia.

 


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 4 > Estamos sentado em frente à messe, sendo eu de camisola branca, ao meio o Fur Mil Altino e à dta o FurMil Vaz.


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 5 > Temos uma vista da messe para o Geba com Posto de Sentinela e Padrão.

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 6 > O tal Padrão... Trata-se do um marco comemorativo do V Centenário da chegada do primeiro explorador à Guiné, em Porto Gole, fotografado em 1966. Dizeres, gravados na pedra: "Aqui chegou Diogo Gomes, primeiro explorador da Guiné, no ano de 1456".

 

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Porto Gole > Pel Caç Nat 52 (1966/68)> Foto nº 7 > A foto mostra um desembarque de tropas já em plena maré vazia.

Fotos (e legendas): © Henrique Matos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Porto Gole e Enxalé, 1966/68), Henrique Matos, com o Queta Baldé.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68), açoriano de São Jorge, que vive hoje em Olhão (*):

Caro Luís e co-editores (espero que o Briote já esteja em forma)

Andava a pesquisar na blogosfera a biografia de Nino Vieira quando me deparei com várias coisas interessantes e entre elas uma que me chamou particularmente a atenção.

No jornal do PAIGC Nô Pintcha de 29/11/1980 escreve-se: "Em seis anos de independência total da nossa terra, 500 pessoas foram fuziladas sem julgamento e enterradas em valas comuns nas matas de Cumeré, Porto Gole e Mansabá". (**)

Neste jornal tenta-se imputar a responsabilidade pelos massacres a Luís Cabral, o ex-presidente que já estava preso na Fortaleza da Amura, e a António Alcântara Buscardini que tinha sido responsável pelos Serviços de Segurança e que fora assassinado uns dias antes, ou seja, a 14 do mesmo mês, dia em que Nino Vieira levou a cabo o golpe de Estado que fracturou definitivamente o PAIGC.

Omite-se porém que, quando ocorreram os massacres, Nino Vieira era o responsável pelas forças armadas na qualidade de Comissário de Estado.

Mas não venho aqui analisar a personalidade de Nino Vieira e o que me levou a escrever este apontamento foi que estava longe de imaginar que o Porto Gole que conheci, seria mais tarde o inferno para muita gente que andou ao meu lado. E a pergunta que fica é: porquê Porto Gole?

No meu tempo esta povoação era apenas constituída por 4 edifícios ocupados pela tropa, 2 casas comerciais (uma delas da Casa Gouveia) e uma tabanca maioritariamente habitada por elementos da polícia administrativa comandada pelo Cap de 2ª linha Abna Na Onça.

Em termos militares era um destacamento da companhia baseada no Enxalé, constituído pelo meu pelotão reforçado com uma esquadra de morteiro 81 e a referida polícia administrativa com cerca de 20 elementos.

Por outro lado pode-se dizer que estava estrategicamente bem localizado pois ficava à beira do Geba, com facilidades de embarque/desembarque, e tinha logo a norte a célebre mata do Oio(***). Por isso mesmo ali se concentravam as tropas para operações de maior envergadura naquela mata.

Anexo 7 fotografias de Porto Gole que existiu antes, muito antes, das valas comuns...

A 1ª foi tirada na estrada que lhe dá acesso podendo ver-se à direita a loja da Casa Gouveia;

Na 2ª do cavalo-de frisa são visíveis os 4 edifícios do aquartelamento. À esquerda o Posto Administrativo que estava desactivado e ao fundo a cozinha, messe e dormitório de graduados. À direita a camarata dos soldados e ao fundo o edificio onde funcionava a enfermaria e o posto de rádio;

A 3ª é do Posto Administrativo onde eu dormia. A porta de saída do meu quarto ficava do lado direito, vendo-se os sacos de areia que faziam protecção ao morteiro 60 que era a minha arma naquela posição. É visível no beiral os efeitos duma morteirada;

Na 4ª estamos sentado em frente à messe, sendo eu de camisola branca, ao meio o Fur Mil Altino e à dta o FurMil Vaz.

Na 5ª temos uma vista da messe para o Geba com Posto de Sentinela e Padrão.

Na 6ª o tal Padrão.

A 7ª mostra um desembarque de tropas já em plena maré vazia.

Nota: Poderá haver nesta descrição algum pequeno lapso. Passaram-se 42 anos e não tenho memória de elefante.

Aos nossos queridos editores fica como sempre a liberdade de fazerem disto o que bem entenderem.

Abraços a todo o pessoal da tabanca Henrique Matos
____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes do Henrique Matos:

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

11 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2173: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (4): O capitão de 2ª linha Abna Na Onça, régulo de Porto Gole

(...) Capitão de 2ª linha Abna Na Onça (...) era régulo de Porto Gole (não do Enxalé) e comandava a Polícia Administrativa, um grupo de pouco mais de 20 elementos que tinha uma farda esverdeada e estava armada com Mauser. Era um homem muito respeitado, não me esqueço que os soldados do [Pel Caç Nat ] 52 o tratavam por pai. Morreu em Bissá (ele e muitos outros), um chão balanta dominado pelo IN, onde alguém se lembrou de montar um destacamento sem o mínimo de condições (...).


Vd. post de 1 Maio de 2005 > Guiné 69/71 - X: Memórias de Fá, Xime, Enxalé, Porto Gole, Bissá, Mansoa (Abel Rei)

18 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé

23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2392: Memórias dos Lugares (3): Porto Gole (Henrique Matos, Pel Caç Nat 52, 1966/68)

Vd. também poste de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)(...)

Em 10 de Agosto de 1966 (recordo-me por ter sido 4 dias após a inauguração da Ponte sobre o Tejo, então Salazar) embarquei para a Guiné no Rita Maria, na chamada rendição individual. Depois Bolama, que foi o meu curto IAO, onde já me esperava o Pel Caç Nat 52, composto por pessoal metropolitano (Furriéis Milicianos Vaz, Altino e Monteiro e 1ºs Cabos Cunha, Castanheira e Pires) e o restante pessoal do recrutamento local englobando três 2ºs Cabos (um era caboverdiano, penso que se chamava Félix).Passados alguns dias, saímos numa LDM para o Enxalé, ficando em reforço à CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, adstrita ao BCAÇ 1888, sediado em Bambadinca (...).

(**) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)

(***) Vd. também poste de 31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2392: Memórias dos Lugares (3): Porto Gole (Henrique Matos, Pel Caç Nat 52, 1966/68)