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terça-feira, 18 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11724: Os nossos médicos (50): Os batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos, de 1 a 4... Quanto ao HM 241, era só... o melhor da África Ocidental (Carlos Silva, 1969/71)

1. Mensagem, de 15 do corrente,  de  Carlos Silva [, foto à esquerda, em março de 2008, no Saltinho. junto à morança do António Camilo], 

Amigos & Camaradas Luís e Vinhal

Aqui vai um texto sobre os nossos médicos quanto ao Sector de Farim e respostas ao questionário incluído no Post 11704 (*)

Agradeço que publiquem pois suscitam algumas questões que poderão suscitar outros desenvolvimentos
Com um abraço,

Carlos Silva

2, Respostas do Carlos Silva (*)

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?


A propósito dos post nº 11704 e 11706, aqui vão mais alguns dados que recolhi da consulta às HU[, histórias de unidade,]  que tenho do Sector de Farim.

BCav 490 - 1º Batalhão sediado em Fari, 1964/65. Pois na sua HU consta na data do embarque 4 médicos adstritos às unidades.  a saber:

CCS - 1 médico
CCav 487 - 1 médico
CCav 488 - 1 médico, Jumbembem do qual existe 1 foto no meu site
CCav 489 - 1 médico Cuntima

Nota. Não sei se os outros 2 médicos estavam em Farim, há aqui camaradas tabanqueiros desta Unidade que podem esclarecer.

BArt 733 - 2º Batalhão sediado em Farim [, 1965/67]. Na sua HU consta na data do embarque 4 médicos adstritos às unidades a saber:

CCS - 1 médico
CArt 730 - 1 médico
CArt 731 - 1 médico
CArt 732 - 1 médico

Nota: Não sei se todos permaneceram no sector e se estiveram de facto nos subsectores Jumbembem, Canjambari e Cuntima, Binta; Guidage enquanto adstritos formalmente às Companhias.

BCaç 1887 - 3º Batalhão sediado em Farim, [1966/68]. O Comandante foi o Ten Cor Agostinho Ferreira, meu Comandante no Bat Caç 2879, já o Domingos Gonçalves fala no post 11706

Há fotos de 2 médicos no meu Site.

BCaç 1932 -  4º Batalhão sediado em Farim [, 1967/68]. Não tenho elementos neste momento apesar de já ter consultado a HU no AHM várias vezes.

BCaç 2879 (1969/71) - 5º Batalhão sediado em Farim. Já referi no post anterior. Apenas 1 médico integrou o Batalhão, embora no sector pelo menos durante um ano lá estivessem estado 2, um em Farim e outro em Cuntima.

BArt 3844 (1971/73)
 - 6º Batalhão sediado em Farim, e  que nos rendeu. Integrava na data do embarque 4 médicos, segundo  a HU.  Não sei se permaneceram todos no sector e distribuídos pelos subsectores.

BCaç 4512 (1973/74) -  7º Batalhão sediado em Farim. Não tenho elementos neste momento apesar de já ter consultado a HU no AHM várias vezes. Há aqui tabanqueiros que podem esclarecer.

Das HU das Companhias independentes, que estiveram no sector e que tenho algumas, não consta no seu efectivo qualquer médico, mas sei que houve companhias que integraram médicos nos seus efectivos.

Aqui tendes o panorama do Sector de Farim que por vezes integrou Barro, Bigene (no início da luta), Binta e Guidage quase sempre, incluindo no âmbito do meu Batalhão.

Da análise exposta no comentário anterior, podemos concluir que a dotação de médicos nos batalhões era variável, pelo menos de 1 a 4;  e que nem sempre estavam colocados nos subsectores do sector do batalhão e,  mais ainda, pelo que tenho lido e observado, nem todos, para não dizer uma grande maioria, permaneceram a 100% nos locais onde estiveram as suas Unidades, pois dá para perceber que havia rotatividade consoante as necessidades, sendo deslocados para outras localidades ou para o HM 241 em Bissau.


(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

Os nomes completos dos médicos constam das HU, quem quiser saber os nomes que consulte as mesmas.

Nas HU que tenho constam os nomes deles, mas em minha opinião não devo divulga-los, pois podem não quererem e não gostarem. Acho um abuso.

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

Sim e fui bem tratado Cabe aqui dizer, que no meu tempo e no caso da minha Unidade que esteve sediada em Jumbembem de 2-01-70 a 16-06-71, onde não havia médico, não ia à consulta quem queria, e creio que assim acontecia nas outras Unidades, pois havia uma triagem feita pelo Furriel Enfermeiro que aferia da necessidade da deslocação a Farim para irem à consulta médica ou era logo encaminhado para o HM241.

Não se esqueçam que há situações e situações.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermaria do aquartelamento (se é que existia)

Creio que em todas as Unidades/subsectores havia enfermaria que estava a cargo do Fur Enfermeiro. Em Jumbembem no meu tempo havia, mas internamentos não.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

Sim. Ortopedia e tenho uma história bem engraçada contada no meu diário.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?



(viii) Tiveram alguma problema
 de saúde que o vosso médico
 ou o enfermeiro conseguiu
resolver sem evacuação?


É público e notário que milhares foram evacuados para a metrópole e milhares e milhares de situações foram resolvidas sem evacuação e mau era se assim não fosse. Isso só demonstraria que os nossos médicos eram uns analfabetos

Já se esqueceram que o HM241 que naquele tempo era o melhor de toda a Àfrica Ocidental ?

Ò Luís, por vezes fazes questionários e perguntas que não têm cabimento.

Todos nós passámos por lá e os que não passaram sabem disso, é público e notório e já faz parte da nossa História contemporânea.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

Relativamente à prestação de serviços médicos à população, claro que prestavam em todas as localidades e no caso do Sector de Farim, no subsector de Cuntima junto da fronteira, até prestavam cuidados médicos às populações transfronteiriças do Senegal que ali se deslocavam às dezenas, centenas por mês.

Presumo que assim acontecesse nas outras localidades de fronteira, isto pelo menos no Norte e basta consultar as HU.

Já não sei se assim acontecia junto das fronteiras com a Guiné Conakry, caso por exemplo, Buruntuma, Gadamael Porto, mas tenho curiosidade em saber.

Creio que há uma estimativa, se te deres ao trabalho de ir para o AHM e consultares as HU, aí saberás os dias, meses que perderás para chegares a essa estimativa.

Um abraço

Carlos Silva (**)

[ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71;

_________________

Notas do editor:


(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

(**) Último poste da série > 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11722: Os nossos médicos (49): O BART 733 tinha 4 médicos (Artur Conceição, 1965/67) ... Outros batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos (Carlos Silva, 1969/71)

Guiné 63/74 - P11722: Os nossos médicos (49): O BART 733 tinha 4 médicos (Artur Conceição, 1965/67)


Guiné > Região do Oio > CART 730 (1965/67) > Jumbembem > Missa celebrada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o (i) Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730; (ii) o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas; (iii) o médico [, ten mil  Jaime Heitor Afonso,] também está presente mas já não o identifico.

Foto (e legenda): © Artur Conceição (2013). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Artur Conceição, ex-sold trms,  CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembem (1965/67):


Data: 17 de Junho de 2013 às 19:39

Assunto: Serviço de saúde em tempo de guerra (Era bastante bom)

Caríssimos... Este é o meu contributo.

O Batalhão de Artilharia 733.

Médico da CCS/733 - Tenente, Fernando Henrique de Lemos [, que se formou em Coimbra];

Médico da Cart 730 - Tenente, Jaime Heitor Afonso

Médico da Cart 731 - Alferes, António Augusto Galvão Coelho

Médico da Cart 732 - Alferes, Manuel Guimarães da Rocha [, hoje médico ortopedista, nascido em São Pedro do Sul, em 1936; era presidente do Centro Hospitalar de Lisboa, em 2004]


Como se pode verificar, havia um médico para cada uma das quatro Companhias do Batalhão.

Havia para o Batalhão um só Capelão. Alferes, Felisberto Moreira Maia, e que era mais conhecido por Senhor Padre Maia. Penso que era natural do Distrito de Braga ou Viana do Castelo.

A seguir uma foto de uma missa realizada no refeitório de Jumbembem. Nela podemos ver o Senhor Capitão Amaro Rodrigues Garcia, cmdt da 730, o Senhor Enfermeiro Fernando Teixeira Picão, do seu lado esquerdo também em calção, e de mãos cruzadas. O médico também está presente mas já não o identifico.


Respondendo agora às questões que são colocadas (**):


(i) Quantos médicos seguiam com o vosso Batalhão no Barco?

Não posso responder a esta questão uma vez que eu só cheguei ao Batalhão em Fevereiro de 1965 e o Batalhão tinha embarcado em Outubro de 1964. Sei apenas que o Dr Afonso,  da Cart 730,  também não seguiu com o Batalhão.

Para resposta às questões  (ii) e (iii) também não tenho elementos nem me recordo de nada.


(iv)  Precisaram alguma vez de alguma consulta médica?

Por ordem do cmdt da Cart 730, face ao meu estado emocional após o ataque a Bissorã, ocorrido em 2 de Março de 1965, fui a uma consulta do Médico da Unidade que me enviou para Bissau em
consulta externa no HM 241.

Nessa consulta externa fui atendido pelo médico de Neuropsiquiatria, Dr Pimenta. O Dr Pimenta era de Coimbra e era um excelente médico dentro da sua especialidade.

Após aproximadamente dois meses, com consulta semanal, e depois me ter encontrado a dar sangue numa transfusão directa terá pensado que eu já estaria bom e deu-me alta.

Vi recentemente um documento publicado no blogue onde estava a sua assinatura.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

Nunca estive internado em nenhuma enfermaria do aquartelamento. Não existia mas pela minha parte também nunca foi necessária.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?

A cerca de 2 meses antes do regresso, e por alturas do Natal de 1966, estava nessa altura no QG. Um dia a meio da tarde,  depois de sair debaixo do chuveiro, tive um ataque de comichão na sola dos pés, que fui esfregando até onde aguentei. Quando já não aguentava mais comecei a esfregar na gravilha do chão até ficar a sangrar. Fui levado por colegas para a enfermaria e daí para o Hospital.

No hospital fizeram-me o tratamento adequado, ligaram-me os pés e mandaram-me regressar à meia noite e meia hora para fazer análises ao sangue, análises essas que só poderiam ser feitas depois da meia noite que era quando o bicharoco actuava.

O que aconteceu, quando cerca meia noite fui ter com o Senhor Oficial de Dia para lhe pedir que mandasse uma viatura levar-me ao Hospital para fazer uma análise ao sangue fica para outra ocasião. Só quando o Senhor Oficial de Dia recebeu um telefonema do Hospital dizendo que estavam à minha espera é que ficou convencido, porque até aí a minha doença era outra.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

Evacuado nunca fui. Foram 24 meses sem intervalo.

(viii) Tiveram algum problema de saúde que o médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação ?

Eu não queria chamar a este episódio um problema de saúde, embora tenha havido intervenção do enfermeiro e depois do médico, mas não houve evacuação.

Eu tinha por hábito não encher o meu cantil para levar para perto da cama, no caso de haver sede durante a noite. Uma noite acordei cheio de sede, espreitei em volta e vi uma garrafa branca que tinha dentro um liquido transparente.

Pensando que era água, bebi até ficar satisfeito, só no fim me apercebi que tinha bebido petróleo. O petróleo enviado para a Guiné não tinha corante. Fiquei aflito e fui de imediato acordar o enfermeiro que sem saber o que fazer foi chamar o médico. Eu estava aflito mas nem sequer estava mal disposto, pelo que decidiram que ia tudo dormir, se ficasse mal disposto voltava a acordá-los e pela manhã logo se fazia o ponto da situação. Tudo passou em bem mas o cabelo continuou em
queda.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população civil?

Fazia parte da [acção] psicossocial.

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

A população em Jumbembem deveria rondar entre 100 a 150 pessoas, salvo melhor opinião, e a afluência ao posto clínico era bastante. Recordo-me de uma mocinha que ensinada pelos enfermeiros fazia umas quantas tarefas mais relacionadas com a higiene intima das mulheres.

Finalmente quero deixar uma palavra de louvor para os nossos camaradas da saúde, em especial para os da Cart 730. O Pessoal da saúde na 730 era um grupo liderado por um "oficial", que era o 1º Cabo Enfermeiro Picão. Cabeleireiro de profissão na vida civil e enfermeiro militar, não se limitava a distribuir comprimidos para o paludismo e outras mazelas, mas andava atento para não haver fugas. Sempre disponível para pedir à Metrópole produtos que não sendo de primeira necessidade nos davam algum conforto.

Mesmo não havendo enfermaria não quer dizer que não havia doentes, a que o pessoal da saúde estava sempre atento para dar um conforto, e em muitas situações alguma alimentação.

Um grande abraço

Artur António da Conceição
Damaia / Amadora

_______

Notas do editor:

Último poste da série > 15 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11706: Os nossos médicos (48): O BCAÇ 1887 (1966/68) tinham três médicos, mas a minha CCAÇ 1546 não chegou a ter nenhum em permanência... Um deles era o dr.João Gomes Pedro, mais tarde ilustre pediatra no Hospital de Santa Maria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Domingos Gonçalves)

Poste anterior:

14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)

(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11721: Convívios (530): Almoço-Convívio do BART 733 (António Bastos)

1. O nosso Camarada António Bastos (ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), enviou-nos notícias do Almoço /Convívio da sua unidade.

Almoço-Convívio do BART 733

Companheiro Carlos Vinhal boa tarde. 

Companheiro por motivos alheios a minha vontade, só hoje posso enviar as fotos do almoço do B.Art.733, que se realizou em Santiago do Cacém em 4-5-2013. Sei que já vai um pouco tarde mas o problema não foi meu. 

Companheiro eu não fui militar desse Batalhão mas sou sempre convidado, porque foi quem começou a procurar os companheiros e quem fez os primeiros almoços. 

Não identifico os companheiros pois alguns nem os conheço. 






Um abraço, sempre ao dispor.
António Paulo S. Bastos
1ºCabo do Pel. Caç. 953
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em: 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11540: In Memoriam (148): Cândido Perna Tavares, o "República" (1943-2013), CART 730, Bissorã, e Grupo Vampiros, dos Comandos do CTIG, Brá, 1964/66 (João Parreira)

1. Mensagem, de 6 do corrente, do João Parreira [, foto atual à direita] 


Caros Camaradas e Amigos Editor, e co-editores, Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,


Durante o almoço anual do Batalhão de Artilharia 733, Guiné 1964/66, que se realizou ontem em Santiago do Cacém,  ao procurar por um camarada e amigo que pertenceu à minha secção,  na CArt 730 , e que optou por sair da Companhia para frequentar o 2º. curso de Comandos, findo o qual foi integrado no Grupo "Vampiros", foi com tristeza que tomei conhecimento do seu falecimento.

Amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando,,,

E assim, o nosso camarada Cândido Perna Tavares, nascido em 1943, mais conhecido pelo "República",  faleceu durante o sono no passado dia 3 de Janeiro. [, Foto à direita]

Um abraço 
do João Parreira

[ex-Fur Mil Op Esp, CART 730 / BART 733, Bissorã / Comando, Grupo de Comandos “Fantasmas”, Brá,  1964/66]
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11337: In Memoriam (147): Luís Fernandes Gonçalves Moreira (1948-2013), natural de Viana do Castelo, ex-fur mil trms, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)

sábado, 9 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11224: (Ex)citações (214): Na Operação Irã, realizada nos dias 2 e 3 de Maio de 1965, participaram as CART 566 e CART 730 (João Parreira)

1. Mensagem do nosso camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo de Comandos “Fantasmas”, Bissorã e Brá, 1964/66, com data de 4 de Março de 2013:


Guiné 63/74 - P11157: Memória dos lugares (219): Olossato, anos 60, no princípio era assim (5) (José Augusto Ribeiro)

Com agradecimento pela partilha daquele conjunto das cinco fotografias (?) que retrata o bom resultado de uma operação que foi feita em Morés em 1964 com a Companhia do Olossato e a 730 (?), provavelmente referem-se a uma 'op' realizada nos finais daquele ano, Novembro(?) Dezembro(?).

Ajudas-de-memória:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Estive recentemente a ver em Memória de Lugares, o P11157 de 26 de Fevereiro enviado pelo nosso camarada José Augusto Ribeiro, da CArt 566.

Contactei alguns camaradas da CArt 730 sobre esta operação que foi mencionada ter sido efectuada em Nov/Dez 64(?) e da qual eu não me recordava.

O meu amigo Zaupa da Silva, furriel mil. enfermeiro da 730 respondeu-me dizendo:

A data da operação a Mores foi em 2 de Maio de 1965 foi uma operação em que foi o médico e o capelão. Tu estavas nos Comandos, nessa operação sofremos uma grande emboscada numa casa de mato. Estivemos mais de uma hora debaixo de fogo mas por sorte não tivemos nem um ferido. Do pessoal que aparece nas fotos é da "566" ainda vagamente me lembro de algumas caras. 
Um abraço Zaupa

A Companhia (730) à qual pertenci, e que esteve envolvida nesta operação foi para Bissorã em 8 de Dezembro de 1964.



Foto 166 > Material capturado ao IN

Foto: © José Augusto Ribeiro (2013). Direitos reservados



Fui rever o que tinha em meu poder e assim junto envio um Relatório abreviado da Operação “Irã” efectuado pela CArt 730.

02 e 03MAI65 – A CArt 730 participou na operação “Irã” que proporcionou o maior sucesso das NT na Província e talvez mesmo em todas as outras até àquela data.

Capturou-se a maior quantidade de material de sempre, cerca de 1 tonelada, por parte da CArt 566, que executou a acção no objectivo tendo a "730" montado a segurança

A CArt 730 saíu de Bissorã em 021515, desembarcou em movimento pelas 17h30 e irradiou para outra localização onde montou estacionamento. Depois seguiu para outro local, onde montou uma rede de emboscadas em protecção à CArt 566 que executou o ataque à Base Central do Morés.

Pelas 05h50 após a execução do golpe de mão pela CArt 566 à Base Central Morés cerca de 20 elementos fugindo do objectivo caíram na zona de morte, na qual foi feito um prisioneiro que interrogado imediatamente localizou a Base de Iracunda para onde a CArt 730 seguiu para a execução do golpe de mão.

A Companhia sofreu 2 fortes acções de de fogo de várias armas sem consequências. Foram destruídas a cozinha e as casas de mato da Base que, pela constituição encontrada, denunciavam sem dúvida a presença de um numeroso grupo In.

A CArt 566 arrancou com cinco helicópteros carregados de mateiral In, além do transporte pelo pessoal e já não falando no que o incómodo e peso obrigaram a abandonar durante a marcha de regresso.

Com um abraço amigo.
João Parreira
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10909: Blogpoesia (315): Em louvor da CART 566 (Bissau, Bissorã, Olossato e Bissorã, jul 64/ out 65) (Viçoso Caetano)






Guiné > Região do Oio > Morés > 3 de maio de 1965 > Armamento capturado ao PAIGC no decurso da Op Irã. Esta operação foi realizada pelo BART 733 (Bissau e Farim, out 64/ago 66), e envolveu as subunidades orgâncias CART 730 (Bironque, Bissorã, Jumbembem, Farim, out 64/ ago 66) e CART 732 (Saliquinhedim, Mansoa, Cuntima, Bissau, out 64/ ago 66) e bem como a independente  CART 566 (Bissau, Bissorã, Olossato, Bissorã, jul 64/ ou 65).

Nesta operação, foram encontradas arrecadações de material com metralhadoras Borsig,  Bren e M52, minas A/C TM-46, granadas de RPG e granadas de mão. O Morés era um dos santuários do PAIGC. Um  dos nossos helis foi atingido pelo fogo do IN, ao descolar com parte do material capturado. (Fonte: Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra colonial, vol. 6: 1965 - Continuar a guerra. Matosinhos: QuidNovi, 2009, p. 32)

Fotos: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)


1. Com a devida vénia, e a competente autorização do "patrão" do blogue Do Mirante, A. João Soares, reproduz-se aqui uns versos, da autoria de Viçoso Caetano, sobre a CART 566 (1964/65).

Nota do editor sobre a CART 566:

(i) Foi mobilizada pelo RAP 2, 
(ii) partiu para o TO da Guiné em 28/7/1964 e regressou a 27/10/1965;
(iii) esteve em Bissau, Bissorã, Olossato, Bissorã;
(iv) Comandante: Cap Art Adriano Albuquerque Nogueira.


CART 566-RAP 2, por Viçoso Caetano

[foto à esquerda, gentileza do blogue de A. João Soares, Do Miradouro]


Dado que fui convidado
Pelo vosso Capitão,
Aqui estou muito honrado
Com tão grande distinção
Que agradeço, penhorado,
Com uma ponta de emoção.

Sou só mais um entre vós
P´ra vos dizer viva voz
Aquilo que bem sabeis
 
–P´ra que sempre recordeis –
Pois que tudo mereceis.

Militares do meu País
 
 (Porque o destino assim quis) –
Vós fostes dele a raiz.
Quando olho e vos contemplo,
Eu vejo em vós o exemplo
Da coragem e valentia
Que no vosso peito ardia
Da 566, Companhia
Da Arma d´Artilharia,
Lá da Serra do Pilar
 
 (Onde se formou um dia) –
Para depois embarcar
Cabo Verde, Ilha do Sal,
E aí se fixar.

Depois outra ordem veio
E lá fostes mar acima
 
 (Contratorpedeiro Lima) –
Arrostando a tempestade
Que vos bateu forte e feio

 – (Mesmo sem dó nem piedade) –
Mas não vos quebrou a Fé
Nem vos esmoreceu a vontade.
 
 (Só angústia de permeio) –
P´ra aportardes finalmente
Sãos e salvos na Guiné.

E aqui foi o Olossato
Onde nunca entrara gente,
Só havia Céu e mato.

“Bravos e Sempre Leais”,
Destes tudo e muito mais
Do que a Pátria vos pedia,
Em actos de heroicidade.
Grandes na simplicidade
Que a qualquer ufanaria,
Mereceis toda a honraria!

Deus sabe que isto é verdade
E na sua majestade
Vos há-de pagar um dia.

P´ra terminar faço um voto
 
 (Que me sai do coração) –
Eivado de nostalgia:
Que Deus guarde o Capitão,
Que Deus guarde a Companhia,
Como eu vou guardar p´ra sempre
A lembrança deste dia.



NOTA [, de A. João Soares]: 

Aqui fica o último poema desta remessa que o Adry me entregou. Espero mais! 

Caro Vic, ao ler estas palavras sentidas de um convidado pelo comandante, senti-me soldado desta Companhia a recordar com os companheiros e suas famílias os melhores momentos de camaradagem e bom convívio. Sim, só esses, porque os momentos de dor e sofrimento próprios dos riscos e perigos que correram,  não são para reviver na memória.

Embora não tenha sido soldado da Cart 566,  agradeço os teus belos contributos para dares brilho a este espaço humilde e discreto.

Fonte: Blogue Do Mirante > 3  de março de 2009 > CART 566-RAP 2, por Viçoso Caetano

Fundador e editor: A. João Soares . (Uma pessoa preocupada com o mal do Mundo que procura melhorar com as suas intervenções pela escrita e por contactos pessoais"). É autor de 12 blogues.

Nota de L. G.: O Viçoso Caetano, poeta de Fornos de Algodres, tem vários poemas publicados no blogue Do Mirante. Foi alf mil em Moçambique.

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10901: Blogpoesia (314): "Caserna", poema inédito de Armor Pires Mota

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Guiné 63/74 – P9757: Convívios (415): VIII Almoço de Confraternização do BART 733 (Eduardo Carmo)


 VIII ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO DO BART 733 

Camarada Luís Graça,

Junto envio o convite referente ao VIII Almoço de Confraternização do Batalhão de Artilharia 733, que se irá realizar no próximo dia Sábado, 19-05-2012, pelas 12h30, no "Monte Amarelo", sito à Estrada Nacional 125, Meia Légua - 8700 Olhão.

Peço a publicação no blogue para conhecimento dos-combatentes do BART 733.

Grato pelo V/ apoio e colaboração, subscrevo-me com muita estima e consideração;

As inscrições decorrem até ao dia 04 de Maio, ao cuidado de:

Joaquim Reinaldo do Carmo Sousa
Telm. 964 068 190 

Ou, 

Eduardo do Carmo (eduardotiuna@sapo.pt)
Telm. 968 486 280 



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Nota de MR:

Vd. último poste desta série em:


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7001: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (3): A(s) Disciplina(s): Ser ou não ser... disciplinado, eis a questão


Foto 1 – Alpendre na margem do Cacheu frente a Farim onde os passageiros aguardavam a jangada ou o autocarro. Serviu de abrigo ao meu pelotão [, da CCAÇ 675,]quando fui ali “testa de ponte” durante uma semana.

Fotos (e legendas): © Belmiro Tavares (2010). Todos os direitos reservados.


A (s) Disciplina (s): Ser ou não ser disciplinado... eis a questão!
por Belmiro Tavares

A Disciplina é dos temas mais abundantemente badalados, quer na vida civil, quer na vida militar; mas há sempre algo mais a acrescentar a este fundamental tema inesgotável.

A Disciplina encontra-se – devia encontrar-se – em todo e qualquer local onde haja seres humanos: em casa, na escola, no local de trabalho, na rua, nos transportes etc. Ela é inerente – devia sê-lo – à convivência entre os humanos; até entre os ditos irracionais ela está, em muitos casos, notoriamente presente. Ela aparece com frequência tão intimamente ligada às pessoas que por vezes se confunde, intencionalmente ou não, com autoridade, obediência, educação; é, por vezes, conotada com ditadura e similares. Pontos de vista!

Em qualquer ramo da actividade a disciplina é imprescindível; ela é a base do respeito mútuo, da união do grupo e inter-grupos; ela é, enfim, a semente do triunfo.

Não é possível progredir em direcção à qualidade (tão badalada nos nossos dias), ser bem sucedido, sem que todos os envolvidos no processo sejam devidamente ou minimamente disciplinados.

Se é assim na vida civil, na vida militar, especialmente em tempo de guerra, a disciplina é, com toda a certeza, a principal âncora para aceder à vitória. As nossas vidas estão permanentemente vigiadas, bem de perto, pelo perigo; a morte está sempre atentamente à espreita, aguardando um passo nosso mal medido ou distraidamente levado a cabo para nos "embrulhar" no seu tenebroso manto escuro.

A Disciplina é aqui tão boa companheira (ou quase) como a própria espingarda à qual os nossos briosos e corajosos soldados, mui carinhosamente, chamavam "a minha Maria".

Unidades bem equipadas, bem treinadas, não serão bem sucedidas se não forem também intensamente disciplinadas.

A Disciplina é sempre (ou quase sempre) imposta – pode também ser auto-imposta – mas só é verdadeiramente bem aceite pelos subordinados quando:

(i) Eles confiam plenamente na chefia;

(ii) Acreditam piamente no que lhes é transmitido;

(iii) O chefe sabe usar a "linguagem" dos seus subordinados ou, no mínimo, sabe fazer-se entender plenamente;

(iv) O chefe usa o próprio exemplo para ser melhor entendido e, consequentemente, obedecido.

Estes princípios são no mínimo uma boa maneira de adoçar a pílula. Todos conhecemos casos como os que aqui vamos citar:

- "É assim porque eu quero!"

- "Aqui quem manda (o chefe) sou eu!"

- "A Lei está na ponta da minha caneta"! frase célebre dum Ministro não menos celebre (badalado) do tempo da outra senhora.

- "Tens de estar a horas na formatura (ou no trabalho) porque eu quero dormir mais uns minutos!"

Isto não é disciplina nem a ela conduz; é arrogância; é uma forma de ditadura implícita, talvez camuflada... a caminho do terror.

Vou citar alguns exemplos; juro que só transmitirei puras verdades:

1 – Em fins de Abril 1966 uma companhia é enviada de Bissau para Farim (através do Oio) totalmente desarmada! Seguia em viaturas da Intendência e só os condutores dessas viaturas levavam as suas espingardas.

De notar que esta estrada (Bissau/Farim) esteve "interdita ao Turismo" (trânsito de viaturas) durante aproximadamente dois anos, especialmente Mansabá/Farim.

É certo que havia Tropa nossa ao longo da estrada; o inimigo, porém, podia colocar-se a escassos metros da berma e disparar livremente sobre a coluna desarmada provocando os costumeiros estragos.

Que aventura! Que falta de respeito pelas vidas dos outros!

2 – Um alferes estava "agarrado" a uma nativa; minutos volvidos dá uns tabefes a um soldado que, a poucos metros, também "massajava" uma negra!

3 – Um alferes pede a outro que o substitua no comando do seu pelotão numa batida em zona perigosa, porque "estava muito mal disposto". Quem não estaria mal disposto sabendo que ia participar num petisco daqueles?!

Alguns soldados seguiram o exemplo do chefe, não comparecendo na formatura. O alferes "substituto" entendeu não dever sair para o mato com apenas oito ou dez soldados e três ou quatro furriéis.

O alferes mal disposto procurou logo os faltosos e obrigou-os a comparecer na formatura. Dois soldados, porém, não foram encontrados e ficaram no aquartelamento.

O alferes mal disposto agrediu-os fisicamente várias vezes durante a madrugada e participou deles: embrulhou-os numa folha de papel azul de 25 linhas.

O comandante de companhia (interino) nem pestanejou e, sem qualquer averiguação, castigou os faltosos com a pena máxima da sua competência; o comandante de batalhão também aplicou o máximo e o comandante do Agrupamento (16?) seguiu os exemplos anteriores: cada soldado "levou" trinta dias de prisão disciplinar agravada sem ter direito a ser ouvido para poder defender... o indefensável (?)

O capitão voltou à sua companhia e, ao ler o texto da participação, comentou:
- Está tudo doido! Só em Conselho de Guerra estes soldados podiam ser castigados!

Estes soldados foram severamente castigados (em parte injustamente), porque... seguiram o exemplo do seu alferes.

Os castigos existem... e devem ser aplicados quando tal se torne imperioso, mas é fundamental (obrigatório) averiguar os porquês de qualquer acto. Soldado também é gente!

Foto 2 – O autor deste texto e o seu guarda-costas, Gregório, em plena selva.


Parte II > Uso do Capacete no "mato"

A nossa comissão arrastava-se penosamente para o seu fim com uma lentidão bovina insuportável (quase) que enervava e exasperava toda gente e tirava do sério o mais (e o menos) pintado.

Alguns soldados começaram a entregar (fazer espólio) parte dos artigos que lhes haviam sido distribuídos, especialmente o capacete por o considerarem já dispensável.

Perante esta situação, e porque eu entendia que o capacete devia ser sempre usado, transmiti aos meus soldados que o capacete continuava a ser obrigatório em todas as saídas - era parte integrante do equipamento. Seria uma boa protecção para a "tola" principalmente contra estilhaços de granadas que na Guiné eram abundantemente utilizadas pelos independentistas..., e não só:
- Façam como eu!,  nas zonas que considero menos perigosas, penduro o capacete nas cartucheiras; nas zonas menos seguras, coloco-o na cabeça; em caso de dúvida... vai sempre na cabeça!

Como qualquer Lei deve conter em si a punição pelo seu não cumprimento, estipulei que seriam aplicados três "reforços" de castigo aos infractores.

[Nota: Quero deixar aqui registado que em quase nove anos de serviço militar, como oficial, só castiguei um soldado à Ordem – no Colégio Militar – porque violou a minha correspondência, assenhoreando-se dumas magras notas cujo montante – ele sabia – se destinava a custear lápides para as sepulturas dos nossos 3 mortos em combate e dum que entretanto morreu cá num acidente. Castigos não à ordem... foi o que calhou!].

O tempo ia rolando mansamente! Um dia, em pleno mato, detecto sem capacete o meu guarda-costas, de seu nome António da Silva Gregório, soldado nº 1887, nado e criado em Marinhais, Salvaterra de Magos, onde ainda reside.
- Onde está o capacete? - perguntei.
- Já o entreguei! - respondeu o soldado com quem eu repartia sempre a ração de combate e que tomava a seu cargo a limpeza da minha espingarda.
- Já sabes qual é o castigo!

A pena foi cumprida!

Volvidos perto de trinta anos o Gregório almoçou mais uma vez em minha casa no Porto Alto. Depois do almoço, estava ele, a cavaquear com um dos meus amigos ali presentes. Eu estava "com um olho no burro e outro no cigano", e ouvi o Gregório dizer:
- O nosso alferes era um "gajo porreiro" mas castigou-me e eu era seu guarda-costas!

Interferi logo na conversa convidando-o a relatar como tudo tinha acontecido. Ouvido o relato completo e cabal dos acontecimentos, retorqui:
- Não sei se sabes que dessa vez eu fui... injusto!

O Gregório, com ar malandro, sorriu de orelha a orelha e eu continuei:
- Se eu soubesse o que vim a saber uns dias mais tarde, tu terias levado não apenas três... mas pelo menos seis "reforços" de castigo. Tu eras o meu guarda-costas e sendo o soldado da minha inteira confiança, tu traíste essa confiança; além disso agiste premeditadamente: quiseste experimentar se eu te castigava e até fizeste apostas com alguns elementos do nosso pelotão. Eu fui injusto... por defeito e a ti saiu o tiro pela culatra!

Há dias telefonei-lhe a informar que ia escrever sobre este assunto ao que ele, rindo, perguntou:
- Ainda te lembras disso?!

Foto 3 – Coluna militar em movimento.


Parte III > Salvo pelo capacete

O que atrás foi relatado sobre o uso obrigatório do capacete dizia respeito apenas ao meu pelotão e a quem, por qualquer motivo, saísse comigo para o mato.

Os nossos grupos de combate não incluíam telegrafistas, telefonistas, condutores nem enfermeiros. Sempre que havia uma saída, o oficial "requisitava" aos chefes daquelas especialidades o pessoal e o equipamento tidos por necessários.

Na madrugada do dia 3 de Dezembro de 1965, dois Gr Comb iam tentar localizar e destruir um acampamento inimigo existente (segundo informações) na zona da companhia de Farim a qual fazia parte do BArt 733. Um Tenente/Capitão/Major (nesta data comandava interinamente o batalhão) "colocou" com os seus galões o dito acampamento na zona da minha companhia; pelo "peso dos galões" fomos "persuadidos" a atacar e destruir o dito e os "donos" da zona ficaram no bem bom. Nada mau!

De nada valeram os nossos argumentos fundamentados que o acampamento estava fora da nossa zona. Até ouve ameaça de prisão! Nós éramos adidos (e mal pagos), éramos os filhos bastardos do batalhão 733!

Só a muito custo conseguimos o direito de escolher a data da actuação e seguir o percurso que considerássemos mais conveniente.

No dia aprazado íamos partir para a zona de Sanjalo no cumprimento da missão. A coluna estava pronta. A poucos minutos da partida apercebi-me que o 1º Cabo R.T. condutor-auto nº 2681, José Miranda Pereira, um minhoto puro, não tinha capacete, porque... já havia efectuado a sua entrega.

Falei-lhe com certa rispidez, ordenando:
- Nem tu sais sem capacete... nem eu atraso a saída por tua causa! Desanda!

O telefonista saiu em corrida; voltou dentro do horário e devidamente equipado. Partimos. As viaturas largaram-nos em Temanto (cerca de 10km do quartel) e seguiram para Farim onde aguardavam ordens para ir ao nosso encontro. Pretendíamos assim demonstrar ao comando do BArt 733 que o dito acampamento se localizava mais perto de Farim que do nosso aquartelamento... e na zona deles.

Umas horas depois de largar as viaturas fizemos uma "visita de cortesia" ao inimigo e fomos mal recebidos (a ferro e fogo) no tal acampamento clandestino (mais de 500m fora da nossa zona). Tivemos três feridos,  um dos quais, o fur Rodrigues, foi transportado em maca improvisada durante cerca de 5km, através da mata muito densa, até à estrada Dungal/Farim, onde o heli podia aterrar.

O heli partiu com o ferido a bordo em direcção ao HMP 241 em Bissau. Nós tomámos lugar nas viaturas que entretanto haviam chegado.

Iniciado o regresso, como habitualmente, tirei do bolso o meu pão que não comi ao pequeno almoço (meio casqueiro) e comecei a comer. Como de costume logo os meus soldados me pediram uma "bucha" que ajudaria a engolir um gole de água (se ainda restava!) para aguentar melhor o percurso (perto de 30 km) até aos nossos aposentos.

O 1º cabo Miranda Pereira dirigiu-se-me nos seguintes termos:
- Oh meu alferes, hoje também tenho direito a uma naco do seu pão!
- Enquanto houver, dá sempre para mais um, mas ninguém tem direito ao meu pão!
- Veja isto, meu alferes!

E mostrou-me o capacete todo "arranhado" no cocoruto; havia um sulco com cerca de 4cm de comprimento e 1mm de fundo além de outros mais pequenos. O tecido envolvente tinha desaparecido daquela zona – cerca de 10cm de diâmetro.
- Que foi isto?!
- Quando entrávamos no acampamento vi uma granada no ar e lancei-me ao solo; ela embateu no capacete e explodiu estrondosamente; fiquei um pouco atordoado mas... nada de grave... já passou!
- Vejam isto! - disse eu mostrando o capacete aos meus soldados:
- Este bom malandro se não tivesse sido obrigado a usar o capacete, a esta hora, estaria já a bater à porta de S. Pedro!

Este telegrafista nunca compareceu às nossas reuniões anuais, porque... emigrou para França onde viveu cerca de 40 anos.

Falámos ao telefone muitas vezes. Em meados de 2004 disse-me que havia construído numa vivenda em Mindelo, Vila do Conde; que nesse ano vinha viver definidamente em Portugal e que nunca mais faltaria às reuniões da nossa companhia. Faleceu em fins de Abril do ano seguinte, 2005... por acaso no dia do meu aniversário.

Como escreveu o poeta: "Vejam agora os sábios na escritura/ que segredos são estes da natura!"

P.S.: Em Dezembro 2009, o Jero, o Moreira e eu, acompanhados pela viúva do Miranda Pereira, colocámos na sua sepultura numa lápide em nome da CCaç 675. Nesse mesmo dia colocámos mais cinco lápides noutras tantas sepulturas de companheiros nossos de entre o Douro e o Minho. Destes só um morreu na Guiné.

Quem mais procederá como nós?!

Será só a CCaç 675?! Haverá outros casos idênticos?! Gostaria de saber se somos caso único! Digam de vossa justiça!

Agosto de 2010

Belmiro Tavares
Ten Mil Inf

[Revisão / fixação de texto: L.G.]
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Nota do Editor

Vd. último poste de 25 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5709: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (2): A(s) guerra(s) e a(s) maneira(s) de a(s) fazer

sábado, 24 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6241: Tabanca Grande (215): Luís F. Camolas, Sold Mec Auto da CCS do BART 733 - Bissau/Farim -, 1964/66

1. No poste P6186 havíamos publicado um apelo do nosso Camarada Luis F. Camolas, Sold Mec Auto da CCS do BART 733 - Bissau/Farim, 1964/66, à procura de notícias dos seus Camaradas da Companhia.

Convidamos então o Camolas a aderir à tertúlia tabanquense, solicitando-lhe as fotos e o texto da praxe. Recebemos de imediato a sua resposta afirmativa, em 19 de Abril de 2010, e assim passamos apresentá-lo:




Camaradas,
Sou o Luís F. Camolas, fui Soldado Mecânico Auto da CCS do Batalhão de Artilharia 733 - Bissau/Farim, 1964/66.

Vivo em Setúbal, trabalhei como engenheiro nos EUA, 43 anos, e encontro-me actualmente na situação de reforma.

Terão de desculpar o meu Português, pois estive ausente muito tempo e esqueci muito o nosso vocabulário.
No entanto farei o possível para reaprender a comunicar na nossa língua, em especial com a boa causa, a de tentar reencontrar os amigos e camaradas dos tempos antigos, quando nas Forcas Armadas, particularmente os da Guiné.
Saudades, muitas!
Fiquei feliz de saber que existe esta organização, para assim poder reviver os momentos, bons e maus, com os amigos e camaradas, dos quais não mais soube mais nada deles.

Parti para a Guiné em 08OUT1964, com o posto militar mais baixo possível - soldado raso Nº 625, mas como dizia o nosso Comandante Glória Alves: "Um bom Soldado é o que tem castigos e louvores, etc."
Foi assim, não quis ter responsabilidades e fui sempre feliz como Soldado Raso.
A minha Companhia, a CCS, foi destacada para Farim, e sempre ficamos lá, até ao fim da comissão.
A minha especialidade era mecânico de manutenção de viaturas e do que fosse preciso.
Também tive algumas saídas nas colunas e outras rotinas habituais numa CCS.

Seria um grande prazer poder reencontrar alguns camaradas e muito amigos, dos quais somente lembro alguns nomes, como os 1º Cabos 689 - José Fernando Moço, 597 Fernando Rodrigues Duarte, 596 Aníbal Pereira Santos, 518 Carlos Araújo (Setúbal), Fur Mil Fernando Gonçalves Carvalho de Oliveira, José Jorge Macedo e… enfim uma lista imensa.

Estou deveras ansioso por participar no almoço do batalhão, dia 15 de Maio, juntamente com a minha esposa.

Vou encontrar alguns camaradas e já sei que vai ser super emocionante.

Já recebi por correio o convite enviado pelo António José, com quem vou entrar em contacto no próximo domingo.

Aproveito para repetir o meu apelo de desejo de encontrar Camaradas e Amigos da minha CCS, que podem contactar-me para:
Telemóvel: 912641039
Telefone: 265 404 143

Além das fotos que agora envio, tenho outras, que enviarei oportunamente.

Um abraco,
Luís Camolas
Sold Mec Auto da CCS do BART 733
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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

19 de Abril de 2010 >
Guiné 63/74 - P6189: Tabanca Grande (214): Sílvio Fagundes de Abrantes, de alcunha o Hoss, CCP 121 / BCP 12, 1970

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6207: Convívios (221): Almoço de Confraternização do BART 733, dia 15 de Maio em Cuba (João Parreira)

1. O nosso Camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissourã e Brá, 1964/66, enviou-nos uma mensagem, solicitando-nos a divulgação da notícia da próxima festa do BART 733:

BART 733
Almoço de Confraternização

Camaradas,

Vai-se efectuar no próximo dia 15 de Maio vai-se celebrar mais um Almoço de Confraternização do BART 733.

Segue-se o Convite, para conhecimento e efeitos a todos eventuais interessados.

Abraço amigo,
João Parreira
Fur Mil Op Esp/RANGER/COMANDO da CART 730 /BART 733 e do Grupo “Fantasmas”

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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6186: Em busca de... (127): Localização de Camaradas do BART 733 (Luís F. Camolas)


1. O nosso Camarada Luis F. Camolas, Sold Mec Auto da CCS do BART 733 - Bissau/Farim, 1964/66, enviou-nos, em 18 de Abril de 2010, a solicitação de publicação da seguinte mensagem:

BART 733
Localização de Camaradas


Camaradas,

Sou o Luís F. Camolas, fui Soldado Mecânico Auto e desejo encontrar Camaradas e Amigos da CCS do Batalhão de Artilharia 733 - Bissau/Farim, 1964/66.

Vivo em Setúbal, trabalhei como engenheiro nos EUA, muitos anos, e encontro-me actualmente na situação de reforma.

Podem contactar-me para:

Telemóvel: 912641039
Telefone: 265 404 143
Ou e-mail: ginger7460@gmail.com
Um abraço,
Luís Camolas
Sold Mec Auto da CCS do BART 733

2. Camarada Camolas, numa “viagem” pelo blogue foi possível encontrar referências a 2 Camaradas deste teu batalhão:

- O Fur Mil OpEsp/RANGER João Parreira que fez a sua comissão na Guiné de 8 Outubro de 1964 a 14 Agosto 1966, primeiro na CART 730/BART 733, onde foi ferido em 9 Janeiro 1965 numa operação à base de Bafantandem, na zona de Cancongo e depois transitou para os Comandos.

- O Soldado de Transmissões de Infantaria, também da CART 730/BART 733, Artur Conceição. Era Soldado de Transmissões de Infantaria, mas foi colocado nesta Companhia de Artilharia.

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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6184: Em busca de... (126): Localização de Camaradas da CCAÇ 2382 (José M. M. Cancela)

domingo, 13 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2756: Dia 14 de Abril de 1965, Domingo de Páscoa em Farim (Valentim Oliveira)

Mensagem do Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490:

Caro amigo Virgínio


Hoje, dia 13 de Abril, e amanhã, dia 14, se a memória não me falha, vai fazer 43 anos que foi Domingo de Páscoa do ano 1965.

Foi um Domingo cheio de sol e também de rancho melhorado. Tenho a lembrança firme de que foi batata frita com BIFES EM LETRA GRANDE. Porque era muito raro aparecer uma coisa destas.
Estava nesta época em Farim, precisamente no local que servia de base à CCav 487 onde me instalei num canto da caserna juntamente com os meus colegas, Horácio, condutor 777, e o 783, o Pacheco.

Tudo correu na normalidade durante o dia. Claro que á noite não houve distribuição de rancho, mas como no rancho do meio-dia tudo foi avantajado, todos levaram um pouco mais para á noite continuar a festa. E a festa continuou.

Só de uma maneira diferente daquela que esperávamos. Precisamente já com o sol escondido a algumas horas, estávamos nós a saborear o resto dos bifes, quando fomos sobressaltados com explosões de granadas de morteiro 82, que neste caso o IN estava mais avançado, porque nós só tínhamos o 81.

O IN estava na outra margem do rio Cacheu. Felizmente as granadas começaram a cair uns 50 m à frente da caserna, mas houve duas que com a apontaria afinada rebentaram, uma em cima do posto de socorros e outra precisamente no canto esquerdo onde eu me encontrava, junto dos meus colegas Horácio e Pacheco.

Claro, todas as telhas a caírem e um grande estilhaço a passar entre nós e a fazer um grande furo numa mala que se encontrava encostada à parede. A que caiu no posto de socorros feriu um Furriel que agora não me lembra o nome e foi evacuado no outro dia para Bissau.

Responderam ao ataque o pelotão de morteiros que estava sediado a alguns 100m da margem do rio, juntamente com uma fragata de guerra estacionada no mesmo local.



Farim, edifício do comando do BCaç 2879 e anteriormente, entre outros, do BArt 733 e do BCav 490.
Fotos: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.

Antes da reacção das nossas tropas diversos locais foram atingidos, um deles o local onde estava instalado o comando do Comandante Ten Cor Fernando Cavaleiro. Valeu-lhe uma grande mangueira, que estava na frente do edifício onde rebentaram as granadas.
Esta é uma das passagens tristes que vivi na Guiné, mas muitas outras tenho para escrever.

Também quero dizer ao nosso amigo e camarada Teixeira, que a parte romanesca como ele terminou com a Fanta Baldé é de louvar, porque só pessoas com civismo e respeito pelos Valores Humanos, assim o fazem. UM ABRAÇO, TEIXEIRA!

Virgínio, já me pronunciei, que não estive em Cuntima, mas passei por diversos lugares da região de Farim.

Eu era soldado condutor 784/63 da CCav 489/BCav 490 e passei para a CCS, para condutor do Oficial de transmissões, Alferes Pires. Se alguém souber o contacto deste camarada, agradecia que mo dessem.

Um abraço para o comandante Luís, para ti e para o Vinhal e todos os que fazem parte da TABANCA GRANDE.

Até breve,

Valentim Oliveira

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Nota de vb: artigo relacionado em
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Apresenta-se o Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

1. Mensagem do Valentim Oliveira, de 8 de Abril de 2008


Camarada Luís Graça:

É com muita admiração que leio todas as Histórias escritas por ti e por todos os outros camaradas que participaram na GUERRA DA GUINÉ.

Também sou veterano da mesma Odisseia: era da CCAV 489 do BCAV 490. Participei na grande Operação Tridente, na Ilha do Como.

Segui para Farim, onde por toda aquela zona muitas coisas boas e más se passaram. Também passei no inferno de Guidaje. Como tal também tenho muitas Histórias boas e más para escrever.

Peço permissão para entrar como membro da equipa dos Camaradas da Guiné.

Um grande abraço,
Valentim Flor Oliveira

PS - Por favor coloca esta minha mensagem no blogue.


2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Caro Valentim,

Chamo-me Briote e fui Alf Mil da CCAV 489. Fui substituir um Camarada (do 3º Pel?) que foi evacuado para Lisboa.

O Cmdt da CCAV 489 era o Cap Pato Anselmo até ser substituído pelo Cap Mil Tavares Martins, que esteve convosco até ao fim da vossa comissão.

Estive poucos meses em Cuntima. Cheguei lá em finais de Janeiro de 1965 e saí em Maio.

Infelizmente muitas das minhas fotos de Cuntima extraviaram-se, restam-me pouco mais de meia dúzia. Envio-te uma dos alferes da Companhia. O único que não está na foto é o Ferreira (o que tinha aspecto de indiano), que talvez estivesse de férias.



Na estrada que vinha do Senegal e atravessava a povoação de Cuntima (mais tarde conhecida pela Avenida do Senegal), a fotografia dos oficiais da CCAV 489. Da esq para a dir, o Adilson, o médico Dr. Lourenço (açoreano da Terceira), o Cap Pato Anselmo (mais tarde tornado famoso por se ter rendido em 25/4 ao Cap Salgueiro Maia, com os carros na Baixa lisboeta), eu e o outro alferes maçarico (que era assim que se chamavam na altura os recém-chegados), chamado Carvalho.
Foto: © Tantas Vidas, Blogue de Virgínio Briote, Lisboa (2008). Direitos reservados.


Há distância de 43 anos, alguma destas figuras não te devem dizer muito. Eu e o meu pelotão dormíamos no celeiro, em frente à casa do capitão, do rádio e do posto de socorros.

Ficamos à espera das tuas histórias, das boas e más e das fotos que talvez ainda guardes. Sê bem vindo a à nossa tertúlia, em meu nome e dos restantes editores, Luís Graça e Carlos Vinhal, e dos demais amigos e camaradas da Guiné que formam este blogue.

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Notas de vb:

1. Estive há duas semanas com o Cor Cavaleiro, está com 91 ou 92 anos e com a cabeça em muito bom estado.

2. Batalhão de Cavalaria nº 490:

Sob o comando do Ten Cor Fernando Cavaleiro, o Batalhão integrava a CCS e as CCAV 487, 488 e 489. Arrancou de Estremoz, do RC 3, com a divisa "Sempre em Frente".

A estadia na Guiné iniciou-se em Julho de 1963 e a comissão foi dada como finda em Agosto de 1965.

Da actividade operacional, destaca-se a participação na Op Tridente (Ilha do Como/Komo), uma das maiores operações militares efectuadas pelas tropas portuguesas em territórios então designados como ultramarinos.

Mas a acção do Batalhão não se resumiu a essa operação. Após o desembarque, com base em Bissau, desenvolveu várias acções na zona do Oio. Partiu para as Ilhas do Como, Caiar e Catunco em 14 de Janeiro de 1964 e só de lá saiu quando a acção foi dada por terminada, em 24 de Março de 1964.

Passou então à quadrícula. Em 31 de Maio do mesmo ano assumiu a responsabilidade do sector de Farim, que compreendia os subsectores de Cuntima, Jumbembem, Bigene e Farim e a partir de 29 de Junho o de Binta.

Em 25 de Março de 1965 preparou-se para ocupar Canjambari (que estava dentro do sector à sua responsabilidade e que na altura estava totalmente nas mãos da guerrilha). Foi uma acção violenta, com flagelações contínuas e a ocupação, apesar da vasta experiência das tropas do Batalhão, só se deu por concluída em 31 de Maio de 1964.

Entre outras, nas operações Jocoso, Vouga e Invento foram capturados não só guerrilheiros e subtraída população ao IN, como também apreendidas significativas (na altura) quantidades de material de guerra (1 ML, 19 PMs, 36 Espingardas Simonov e outras, 10 minas e cerca de 10.000 munições), numa época em que o PAIGC estava a fazer todos os esforços para o introduzir na zona Norte, em particular o Oio, utilizando para isso todo o chamado corredor de Sitató, que partia do Senegal, atravessava Canjambari e ia até Morés, donde irradiava para toda a zona limítrofe.

Em 15 de Junho foi substituído no sector pelo BART 733 (Cmdt Ten Cor Glória Alves), tendo recolhido a Brá, onde ficou alojado até à data de regresso à metrópole.

Fonte: Extracto da História do Batalhão de Cavalaria 490

sábado, 8 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2335: A trágica morte do Cap Rui Romero: 10 de Julho de 1966, dia de correio (Artur Conceição)

1. Em meados deste ano, apresentou-se o soldado de Transmissões de Infantaria da CART 730/BART 733, Artur Conceição. Soldado de Transmissões de Infantaria numa Companhia de Artilharia ? Interrogou-se o nosso editor Carlos Vinhal.

Recordemos a resposta do Artur:

Caros Luís Graça e Carlos Vinhal,

Sou o Artur António da Conceição. Estive na Guiné de 65 a 67. O Carlos Vinhal perguntava-me no mail de boas vindas “o que fazia um militar que tinha duas especialidades: ser condutor e ainda exercer a especialidade de transmissões, devia ser complicado.”

Aqui vai a minha resposta: O que fazia um soldado de Transmissões de Infantaria Condutor Auto, numa Companhia de Artilharia, na Guiné nos anos de 65/67?

Fui incorporado no CICA4 em Coimbra em 21 de Outubro de 1963. Em 1963 começava a Guerra na Guiné, em Angola já ia com dois anos e em Moçambique ainda não tinha começado.

Quem nesta fase tinha conhecimentos práticos da guerra que nos esperava ? É nesta época que aparecem umas especialidades meio esquisitas, ou seja, faziam moda sem se pensar na sua utilidade prática.

Eu nunca vi nenhum condutor a conduzir com um AN/PRC-10 às costas!!!...Tal como muitas modas também esta não pegou!!! Mas no 4º turno de 63 e no primeiro de 64, penso que não houve mais, saíram: Transmissões Inf Condutor Auto, Radiotelegrafista Condutor Auto, Ponteneiro Condutor Auto e Auxiliar de Serviço Religioso Condutor Auto.

As duas últimas ainda teriam alguma razão de existir, agora as duas primeiras não me parece que fizessem muito sentido. Deveria ser muito interessante ir a conduzir com uma mão e com uma chave de Morse na outra, ou debaixo de fogo a tremer como varas verdes e a comunicar em Morse. Havia de sair uma coisa jeitosa!...

Na Guiné tanto eu como os restantes Transmissões Condutor Auto fazíamos parte da Secção de Transmissões, que era composta por um Furriel, um 1º Cabo Cripto, dois 1ºs Cabos Radiotelegrafistas, dois 1ºs Cabos Radiotelegrafistas condutor auto, um 1º Cabo de Transmissões, um soldado de Transmissões, e dois soldados de Transmissões condutor auto.

Em termos de funções, fazíamos todos a mesma coisa, inclusive cripto quando era necessário. Como eu era de 1963, e todos os restantes eram de 1964, ainda me calhou em sorte fazer a escala e tomar conta do material. Prémio de especialidade, era só para os radiotelegrafistas.

A minha Companhia chegou à Guiné em Outubro de 64, eu só cheguei em Fevereiro de 65, e fui logo direitinho a Bissorã em coluna militar com os primeiros tiros pelo caminho, entre Mansoa e Bissorã.

Depois de algumas operações com emboscadas e alguns ataques durante dois meses, fomos parar a Jumbembem. Em Jumbembem a estadia não foi muito má em termos de operações com emboscadas ou ataques ao aquartelamento.

Nessa altura a zona Norte era calma, dado que fazia fronteira com o Senegal. Quando em coluna para ir a Farim gastar uns pesos, ou ficar a manter a segurança junto ao rio Lamel, ou ir a Canjambari, utilizava-se um AN/GRC-9 instalado num Unimog com fundo em sacos de areia e paredes de chapas de bidon recheadas de areia; mas o condutor ia no lugar do morto.

Em Agosto de 1966 a minha Companhia regressou com 22 meses de comissão, e até essa data quem tivesse 16 meses de Guiné vinha também embora. Acontece que nesta data chegou directiva no sentido de que quem não tivesse ido de início teria de ficar até completar 24 meses. Como eu era um rapaz cheio de sorte e como ainda tinha pouco tempo de tropa, tive de gramar mais 6 meses.

Fiquei dois meses no QG (Quartel General) onde tinha como tarefa uma vez por dia e cerca das 18 horas, apanhar a Press Lusitana. Todos os dias ouvia sermão do então Capitão Garcia dos Santos (2) porque só apanhava as notícias desportivas e pouco mais.

Eu estava demasiado cansado e depois de 18 meses de mato não era o mais indicado para aquela tarefa, e fui substituído por um fresquinho acabado de chegar de Lisboa.

Os últimos quatro meses fiz serviço na PIDE em Bissau. Nessa altura os postos da PIDE estavam equipados com Emissores/Receptores de capacidade muito superior aos das NT, que eram na altura o AN/GRC-9.

Se acontecesse um ataque numa unidade do mato que precisasse de pedir socorro e o seu rádio não fosse suficiente, recorria ao posto da PIDE para comunicar com Bissau. Era minha missão fazer a ponte para o QG. Nunca aconteceu...

Como tinha de estar oito horas de serviço por dia em sistema de turnos, com uma folga no final, tinha de ter qualquer coisa para entreter. Quando o turno era de dia batia-se à máquina tudo o que era dito pela Rádio Argel e pela Rádio Moscovo, que tinha sido previamente gravado numa fita magnética. Quando era de noite, fazia o meu trabalho e o do operador da PIDE, e ainda dava para passar pelas brasas.

Como era minha intenção não voltar para a mesma actividade que tinha antes do serviço militar, fui-me valorizando profissionalmente, e no fim de quatro meses utilizava bem uma máquina de escrever e uma chave de Morse, porque protegido como estava a mão não me tremia.

Fui convidado para ficar, mas eu agradeci muito e fugi a sete pés. Também não eram esses os meus planos. Em Jumbembem utilizava-se só Fonia, porque para transmitir grafia não se pode tremer, e eu tremia em permanência. O meu amigo Saramago chamava-me o gelatina.
E era mais ou menos isto o que fazia um soldado de Transmissões Condutor Auto.

2. O Artur Conceição esteve num Batalhão que, como muitos outros, passou por Brá numa primeira fase. Dispersou as companhias pela intervenção, até lhe ser atribuída a zona de Farim e distribuiu-as por Farim (sede do Batalhão), Jumbembem e Cuntima (Colina do Norte).
Foi um Batalhão que deixou história, com muito para contar. E o Artur voltou, estes meses depois, a enviar-nos nova mensagem.

Meus Caros Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote

Se entenderem que o conteúdo possa ter implicações, de ordem afectiva ou outras por parte dos familiares, não incluam no blogue.

Um abraço,
Artur Conceição

Era domingo, dia 10 de Julho de 1966, um dia como tantos outros
por Artur Conceição

Pela manhã realizou-se a habitual ida a Farim para levar o correio com destino à Metrópole. Já se encontrava em Jumbembem a Companhia que iria render a CART 730, e cujo número não me recordo.

O correio com destino à CART 730 havia sido entregue como habitual, dois dias antes, a partir de uma avioneta que largava os sacos, mas como a Companhia de rendição ainda não tinha assentado arraiais, o seu correio tinha ficado em Farim, onde era preciso ir buscá-lo para distribuição.

A Companhia que ia render a CART 730 tinha chegado cerca de uma semana antes e foi recebida sem qualquer euforia, que seria mais do que natural, mas talvez tivesse havido um grande respeito por quem chegava e que tinha ainda 2 anos de Guiné pela frente. Pairava no ambiente um certo desalento face ao comando da Companhia entre os homens que nos iam render.

Eu próprio tive uma situação bem complicada, ao ser advertido por estar a colocar água nas baterias que alimentavam o posto de rádio e que se encontravam ligadas em série e depois em paralelo de modo a garantirem 12 volts no terminal, que era a voltagem a que trabalhavam os AN/GRC-9. No entender de quem me dirigia tal advertência o que deveria ser colocado nas baterias seria petróleo e não água, para não enferrujar as baterias. Pelo que estaria a danificar o material intencionalmente.

Era habitual na distribuição de correio ser feita uma separação prévia por classes. O correio dos Oficiais ia para um lado, o dos Sargentos para o outro e finalmente o das praças era distribuído através de chamada pelo 1º Cabo escriturário ou pelo Sargento dia.

A distribuição do correio ocorria na parada quando, subitamente, se ouviu um disparo. Eu estava de serviço no posto de rádio e, a dois metros do local do disparo, que havia acontecido no gabinete mesmo ao lado.

O Capitão Rui António Nuno Romero tinha sido vítima de acidente mortal com arma de fogo. No chão estavam espalhadas várias cartas e também muitas fotos.

Perante o cenário, a minha reacção foi de fuga. Não me perguntem porquê. Porque ainda hoje não consigo explicar. Como estava de serviço tive de regressar rapidamente ao meu posto para enviar o pedido de evacuação. Foi a única vez que enviei uma mensagem com grau de urgência Zulu.
A foto recorda o momento da evacuação, onde se pode ver uma das nossas enfermeiras páraquedistas, e que, nesse tempo na Guiné, não seriam uma dezena. Foto de Artur Conceição. Direitos reservados.
4. No mesmo dia respondemos:

Artur, Caro Camarada,

Compreende-se o cuidado que pões na tua mensagem. E, no entanto, o facto ocorreu, estavas lá, foste testemunha. Também ouvi falar do caso, embora as minhas memórias já não sejam muito precisas. Que não foi caso único.

Os nossos Camaradas têm estado calados sobre casos idênticos, mas enquanto lá estive, tive conhecimento de um ou outro acidente desse género. Tinha-se-me varrido o caso do Cap Rui Romero e, ao ler a tua mensagem, num instante, veio-me à memória.(...)
Se pertenceste ao BART 733 tens muito para contar. O vosso Batalhão andou por quase toda a Guiné, esteve uns tempos baseado em Brá, com as companhias em intervenção, até renderem o BCAV 490 (o do Como) em Farim, Jumbembem e Cuntima. As minhas memórias estão correctas?
Quanto á publicação do sucedido com o nosso infeliz Camarada Rui Romero e, tal com tem acontecido com tantos outros casos (a guerra também foi feita de casos desses), não vejo impedimento em apresentar um testemunho público. E a família teve certamente conhecimento da forma como ocorreu.
Um abraço, Camarada Artur. Se quiseres tens muito para contar, porque o teu Batalhão foi um actor muito interveniente naqueles tempos.
vb

5. Na volta, responde o Artur Conceição

Caro Camarada V. Briote

Todas as tuas memórias estão correctas. Já lá vai tanto tempo que por vezes até nos interrogamos se terá sido mesmo assim.

O BART 733 havia partido para a Guiné em Outubro de 1964, e era comandado pelo Tenente-Coronel Glória Alves, que já tinha sido meu comandante no RI 11 em Setúbal, tendo sido substituído pelo então Major Carvalho Fernandes e que era o segundo comandante.
Só cheguei à Guiné no dia 17 de Fevereiro de 1965, e nesse mesmo dia fui levado para Brá onde se encontrava a CCS do BART 733.
O Artur com o Capelão que celebrou a missa, em Brá no dia 18 de Abril de 1965, Domingo de Páscoa

Três dias depois 20 de Fevereiro (sábado) passava por cima de Brá a caminho do Hospital um helicóptero que transportava o Baleizão (Manuel Graça Bexiga Troncão, era o seu nome), atingido mortalmente, e mais dois camaradas feridos, pertencentes à CArt 730 que nesse dia andava em intervenção na zona do Olossato.
Dois dias depois, segunda-feira segui em coluna para Bissorã onde se encontrava a minha companhia e que partilhava as instalações locais com uma Companhia do BCAV 645 (*), Águias Negras, comandado pelo Tenente-Coronel Henrique Calado.
No sábado a seguir, quando já tudo se preparava para ir dormir, houve ordem para preparar para uma saída para o mato. Foi toda a noite a andar sem saber muito bem por onde, uma vez fomos enganados pelos guias, e acabámos por envolver ao amanhecer um objectivo que não era o desejado. O João Parreira não achou piada nenhuma...

Fomos esperados no caminho de regresso onde levamos porrada e cerca das duas da manhã foram fazer-nos uma visita a Bissorã. Este ataque a Bissorã aconteceu de Domingo de Carnaval, dia 28 de Fevereiro, para segunda-feira.
Depois de participar em mais algumas operações de risco descontrolei o sistema nervoso e entrei em estado de hipotermia. Quem diria... Com um calor daqueles!...

O Dr. Afonso perante tal situação mandou-me em consulta externa para o Hospital de Bissau. Durante algum tempo estive em Brá onde se encontrava a CCS do Bart 733.
Lembro-me muito bem dos três grupos de Comandos que partilhavam o mesmo refeitório, em horários diferentes, e que ficava do lado direito quando se entrava no aquartelamento. Era um luxo…! Até comíamos em pratos….!
Também me lembro de um protesto dos Comandos por causa da alimentação que pôs tudo em sentido. Já lá estarias nesta altura? Deve ter acontecido em Abril de 1965. De camaradas dos Comandos, só me lembro do Furriel Joaquim Carlos Morais, que namorava uma enfermeira pára-quedista, vitimado numa sexta-feira pela manhã, no dia 7 de Maio de 1965, e do Vila Franca, por ter assistido a um episódio com ele que me deixou incrédulo.
Na consulta externa era assistido por um psiquiatra de seu nome Pimenta, natural de Coimbra, e que foi de facto extraordinário.

Num dia em que tinha consulta, quando cheguei ao Hospital estavam a chegar feridos graves, e um deles necessitava de uma transfusão directa porque os médicos iam ter de lhe cortar uma das pernas. Aceitei o desafio com coragem embora não tivesse sido fácil.
Não sei o seu nome nem o seu posto porque nunca mais voltei a entrar no Hospital, mas sei que era um camarada nosso que estava muito pior do que eu.
Estava na maca quando o Dr Pimenta deu por mim. Deu-me alguma coragem e disse que depois me esperava quando eu saísse do bloco.
Tivemos uma conversa prolongada e ele perguntou-me se eu já me sentia em condições de voltar para o mato sem ter problemas.
Entretanto a CCS já tinha ido para Farim, e em Brá só tinham ficado dois quarteleiros para tomar conta de algum material, e deixaram-me órfão. A CART 730 tinha partido de Bissorã rumo a Jumbembem. As alternativas eram poucas, e nestas condições aceitei ir-me embora.
Dois ou três dias depois enfiaram-me num caixote voador rumo a Farim. Fiquei alguns dias em Farim, e quando pedi alojamento mandaram-me para um grande armazém que nem portas tinha, onde havia umas camas e uns colchões empilhados. Montei uma cama com um colchão em cima, e tentei dormir. Não tinha lençóis, nem manta nem mosquiteiro e durante a noite acordava para matar os percevejos com uma tábua de uma caixa de batatas, antes que me furassem a roupa que tinha vestida.
Quando veio coluna da CART 730 a Farim, lá fui rumo a Jumbembem onde estive durante cerca de 15 meses sem problemas de maior.



Missa celebrada pelo Capelão do 733, no refeitório da CART 730, em Jumbembem

Em Jumbembem em cima de um barracão que serviu de caserna nos primeiros tempos, que ficava logo a seguir ao aquartelamento do lado direito, na estrada que dava para Cuntima. Eu sou o que está de boina e camuflado, do meu lado direito está o Norberto que era do Pelotão de Camjambari e que tinham vindo para Jumbembem por troca de um pelotão da CART 730, para recuperar fôlego. Do meu lado esquerdo está o Cabo cripto Florival Fernandes Pires, natural de Portalegre e que era Sabatista. Mais ao lado o Morais Castela que era natural de Viseu. Na queda o meu grande amigo Guilherme Augusto LEAL Chagas que é natural de Elvas.

Menciono aqui o nome do Major Carvalho Fernandes, e quero deixar a promessa de que um dia falarei deste grande amigo, porque entre os militares do Q.P. também havia homens muito bons, que não podemos nem devemos esquecer.

O dia hoje não está famoso, mas prometo que na próxima contarei coisas mais divertidas.

Um grande abraço,
Artur António da Conceição
__________
Nota de vb: vd posts:

(1) Sobre o Artur Conceição vd. posts.
Guiné 63/74 - P2291: Convívios (36): XII Convívio dos combatentes da Freguesia de Campia, no dia 10 de Novembro de 2007 (Artur Conceição)
Guiné 63/74 - P1989: Homenagem ao António da Silva Batista (Artur Conceição, CART 730, Jumbembem, 1965/67)
Guiné 63/74 - P1824: O Aeroporto de Jumbembem e os ecologistas 'avant la lettre' (Artur Conceição)
Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (5): Também quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página (Artur Conceição, CART 730, 1965/67)

(2) Tenente coronel na altura do 25 de Abrild e 1974, fez parte, com Otelo Saraiva de Carvalho, do Estdao Maior do MFA (Movimento das Forças Armadas), sendo o responsável pelo plano de transmissões. Hoje é general na reforma. É o presidente da Assembleia Geral da Associação 25 de Abril.
(*) Deve ler-se: "...com a Cart 643, comandada pelo Cap Ricardo Lopes da Silveira, e que pertencia ao BART 645 'Águias Negras'."Agradecemos ao Abreu dos Santos a correcção.