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domingo, 16 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10810: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (2): Bula, 1972/74





1. Segunda série de fotos do álbum do nosso camarada Fernando Súcio (ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275,Bula, 1972/74), estas já referentes à sua estadia na Guiné.





Bula, 1972/74 > BCAV 8320 > Viatura de piquete

Bula, 1972/74 > Francisco, de Lamego, e Súcio

Bula, 1972/74 > O Batatinha da dança do Nhirren e o seu protector Súcio

 Bula, 1972/74 > Fortim dos Fulas > Brincadeira parva

Bula, 1972/74 > Fortim dos Fulas > Fátima e Súcio

Bula, 1972/74 > Súcio e Honório > Caçada de um burro do mato

Ao "bandido" do Fernando com um um pio dos amigos Olhero e Herculano

Bula, 1972/74 > Carregamento de granadas para o 11,4

Bula, 1972/74 > Armamento do PAIGC

Bula, 1972/74 > Tabanca dos Fulas > Estrada de Binar

Bula, 1972/74 > Súcio e Grou
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10800: Álbum fotográfico de Fernando Súcio (1): Elvas, Figueira da Foz e Bula

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10656: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (1): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

 

1. Damos início uma série de 4 postes com fotografias enviadas pelo nosso camarada e tertuliano Fernando Súcio (foto à esquerda), ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275, Bula, 1972/74, fotos estas pertencentes ao seu conterrâneo, o outro nosso camarada Leonel Olhero (foto à direita), ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard), 1971/73, ambos contemporâneos naquele aquartelamento.




Bula > BCAÇ 8320 (1972/74) > Casa dos geradores > O Fur Mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil

Bula > Fortim da pista > Pelotão de Morteiros

Estrada de Bissorã

Rio Mansoa > Jangada civil

João Landim > Três transmontanos: Fernando Súcio, Leonel Olhero e Cipriano.

Rio Mansoa > Jangada civil

Bula

Bula > Leonel Olhero junto a um obus 14

Bula > Fonte

Bula > Esquadrão de Panhard

Fotos: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por CV]

sábado, 16 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10039: Tabanca Grande (344): José Alberto Leal Pinto, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74 (Luís Gonçalves Vaz)



1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a apresentação oficial nesta Tabanca Grande do nosso Camarada José Alberto Leal Pinto (foto do lado esquerdo), que foi 1º Cabo Escriturário na CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74. 



Regresso à Metrópole do Batalhão de cavalaria 8320/72 



Como responsável por alguma da indignação de alguns antigos ex-combatentes pertencentes a este Batalhão, já que fui eu que “libertei” algumas notas do último CEM/CTIG, que relatam parte das reivindicações do Batalhão 8230, em vésperas do regresso à Metrópole, resolvi conhecer pessoalmente e entrevistar, aquele que mais se tem manifestado no blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné em defesa da honra do referido Batalhão, o ex-combatente José Alberto Miranda Leal Pinto, ex-cabo escriturário, que esteve nas fileiras do Exército Português, entre o ano de 1971 e 1974, passando na metrópole pelos Regimentos R.I.8, R.A.L. 4, R.L.2 e R.C. 3. Na Guiné Portuguesa esteve em Bula e no Cumeré. José Alberto Leal Pinto, meu conterrâneo, nasceu em Barcelos (Arcozelo) em 28 de Fevereiro de 1950. Atualmente mora na cidade de Barcelos, e é reformado de afinador de máquinas, casado e com quatro filhos, dois deles gémeos. 



Aquando da sua integração nas fileiras do Exército, numa altura em que eram necessários muitos soldados para podermos manter com sucesso os 3 teatros de operações, o 1º cabo José Pinto, já com um irmão a combater no TO de Angola, e único amparo de sua mãe, solicita então, o “Processo de Amparo”, que infelizmente lhe é indeferido. Não satisfeito com a decisão, solicita superiormente a “revisão da decisão”, e aguardou serenamente pelo desfecho, na Escola Militar de Eletromecânica (EMEL) em Passos de Arcos, onde se encontrava na altura. Entretanto e segundo me contou, um tio seu que conhecia o então CEM da Região Militar do Porto, escreveu-lhe uma “Carta”, dirigida ao na altura Chefe do Estado Maior da Região Militar do Porto (meu falecido pai), coronel de cavalaria e do CEM Henrique Gonçalves Vaz, para que intercedesse numa “eventual reapreciação do processo de amparo”, que por ironia do destino, viria a ser este o oficial do Estado Maior, como adiante veremos, que no TO da Guiné em Agosto de 1974, a negociar com o Batalhão 8320, do 1º cabo José Pinto, bem como coordenar, com o comandante do CTIG, a sua “Retirada” do Cumeré para regressarem finalmente à Metrópole. O nosso 1º cabo José Pinto, pensando que este oficial do CEM, e seu conterrâneo, já estaria no TO da Guiné (ainda não estava nessa altura…), decidiu “aceitar a decisão”, conformar-se com a mesma e seguir do campo militar de Stª Margarida com o seu Batalhão 8320, para o Comando Territorial da Guiné (CTIG), em 21 de Julho de 72, desembarcando na Guiné nesse mesmo dia, já que essa viagem foi de avião dos TAM. 




O 1º cabo José Alberto Pinto, junto de um obus do seu aquartelamento em Bula em 1973. 

O seu currículo no Exército, pautou-se por um comportamento exemplar ao ponto de ter recebido dois Públicos Louvores, como tal é merecedor de ser ouvido neste canal de comunicação, com todo o cuidado e atenção, já que o seu objetivo principal é “repor o Bom Nome do seu Batalhão”, já que considera ter havido “razões especiais”, para se perceber o comportamento naquele dia 22 de Agosto de 1974. Este ex-combatente, ainda na Metrópole frequentou a Escola de Recrutas e Instrução Completar, o que fez com êxito. Mais tarde virá a ser “Escolhido para a promoção a cabo” nos termos da circular nº1020/IPP 010.0/61 de 11/03/61. Como tal em 24 de Abril de 72 é promovido a 1º cabo nos termos do nº123 do RGIE. Fazendo parte da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do Batalhão 8320, embarca em Lisboa, por via aérea, em 21 de Julho de 1972, com destino ao CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné). Neste Teatro de Operações estará quase sempre sediado em Bula, onde durante mais de dois anos (2 anos e 35 dias), servirá o Exército Português, da melhor forma que soube, adotando sempre a máxima, “prefiro a disciplina à indisciplina”, ao ponto do seu Comandante, o Tenente-coronel Ferreira da Cunha (como comandante do Batalhão de cavalaria 8320), o ter Louvado neste TO (Teatro de Operações) duas vezes, a primeira em 11 de Abril de 74, pelo “… seu gesto, sentimentos e humanidade dignos de apreço…” (O.S. nº86 do Bat. Cav. 8320), e em 6 de Agosto de 1974 “…porque ao longo de quase 25 meses de Comissão no T.O. da Guiné, ir desempenhando as suas funções com muito zelo e aptidão. Escriturário da Secção de Reabastecimentos e Tesouraria, tem desempenhado idênticas funções junto do Exmo segundo comandante deste Batalhão. Na ausência do Furriel encarregado da secretaria anexa ao gabinete do Exmo 2º comandante, o primeiro cabo Pinto soube sempre manter, com eficiência notável os serviços de entrada de correspondência e arquivo da mesma, em acumulação com as tarefas que desempenhava. Espírito voluntarioso, sempre deu a sua total e desinteressada colaboração à organização das atividades desportivas e culturais havidas. …”(O.S. nº183 do Bat. Cav. 8320). Como condecoração, teve direito, como todos os ex-combatentes neste TO, à Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné, com a legenda “1972/74 (Ordem de Serviço nº138 do Batalhão de Cavalaria 8320). 

 O 1º cabo Pinto no Mato, preparado para mais uma missão. 

José Alberto Pinto com miúdos de um Tabanca local, na zona de Bula (1973). 

Após o Golpe Militar do 25 de Abril, e depois dos primeiros acordos com o PAIGC, iniciam-se por toda a Guiné, os primeiros contactos com o IN, e nesse sentido, o comandante militar de Bula, juntamente com o comandante de Có, reuniram em 16 de Junho de 74, com o Comando (comissário) Político de Biambe (PAIGC). Estes contactos continuam, e em 13 de Julho o Comandante de Bula reúne com o comando do “8 El PAIGC”. Segundo os “Relatórios” por mim consultados, excetuando os casos de Buruntuma e Jemberem, a retracção do dispositivo das Nossas Forças Militares decorreram normalmente, tendo as FARP (PAIGC) recebido o Aquartelamento de Bula, das nossas forças, em 8 de Setembro de 1974. O nosso 1º cabo José Pinto, segue então com o seu Batalhão de Cavalaria 8320/72, para o Centro de Instrução militar do Cumeré, local onde ficarão sediados, até o dia 25 de Agosto desse ano, dia em que embarca para regressar à Metrópole, com o seu Batalhão. Durante estes dois anos, mas corretamente, durante 26 meses, muitas histórias este ex-combatente terá para contar, e que brevemente o fará aqui neste nosso blogue. Passando agora à abordagem do “episódio em causa”, e segundo o nosso protagonista, “…o referido Batalhão [, BCAV 8320/72,] do qual eu fazia parte, não se pode dizer que era indisciplinado, pois não o era... Mas com 26 meses e companhias com apenas 13 e 14 meses a virem embora e nós a ficarmos por lá não se sabia a fazer o quê... foi essa a razão da indignação, não revolta. …”. Estas são algumas das suas explicações para justificar a “caminhada/revindicação” durante a noite de 22 de Agosto para 23 de Agosto. Em virtude do referido, a maioria dos militares do Batalhão de cavalaria 8320/72, indignados por não chegar a sua vez de regressar à Metrópole, vendo-se ultrapassados por outros contingentes com menos tempo no TO da Guiné, insurgem-se contra tal, e resolvem (a grande maioria do batalhão), dar conhecimento ao seu comandante, o Sr. Tenente-coronel de cavalaria, Ferreira da Cunha, um oficial que segundo o José Pinto, colhia respeito e admiração, das suas “reivindicações”. Na noite de 23 de Agosto, a esmagadora maioria dos militares do Batalhão pediu a presença do seu comandante e expôs-lhe a sua decisão, de “marcharem sobre Bissau” e exigirem que os Comandos do CTIG, os embarquem, de preferência de avião, para regressarem finalmente à Metrópole. Esse encontro não teria sido muito pacífico, mas não houve lugar a muitas explicações e discussões, pois a decisão já estava tomada! Eram momentos difíceis, em que a “liberdade conquistada” pelo golpe militar do 25 de Abril, bem como “a força dada a todos os militares, pelos comissários políticos do novo regime” a instalar-se no nosso país, os jovens oficiais do MFA, legitimavam que “reivindicações no seio das Forças Armadas Portuguesas” se afirmassem de uma forma “nunca dantes permitida”, sem que na altura fosse considerado “um verdadeiro ato de indisciplina”, no sentido de violar o RDM da instituição militar (Regulamento Disciplinar Militar). 

Imagem retirada do Google, onde se pode perceber a localização de Safim e o referido cruzamento para Bula, relativamente à distancia de Bissau, zona apontada por alguns ex-combatentes do Batalhão 8320/72, como aquela onde o Batalhão 8320/72 teria sido “barrado 

É claro que esta é uma opinião pessoal, mas que não descarta, que esta decisão de “um grande grupo de militares”, poderia eventualmente, perigar a segurança e integridade de muitos outros camaradas, já que estávamos em plena implementação do “Dispositivo de Retracção das nossas Forças”, com o IN por perto e a “cercar” e tomar conta da maioria dos aquartelamentos das nossas forças, como tal, alguns comandantes do PAIGC, não só eram “exigentes”, como revelavam agressividade e ameaças, impondo unilateralmente condicionalismos na circulação das nossas forças. Nesse sentido, o PAIGC poderia “aproveitar” a nossa retirada “apressada e sem cuidados de segurança” e tentar infligir uma ofensiva neste ou noutro local, o que felizmente não aconteceu com eventuais consequências graves para as nossas forças, que mantiveram sempre uma “testa de ferro”, seguindo princípios gerais táctico-militares de implementação de uma Retirada de um grande dispositivo militar, e foi no cumprimento estrito da aplicação desse princípio, retirar “de fora para dentro”, ou da frente de combate para a retaguarda, as forças que estavam no terreno em contacto com o IN, que assim se realizou na generalidade a nossa retirada, para que tudo corresse de feição e com segurança para as NF. Mas este “princípio táctico-militar”, da nossa “Retirada Final”, possibilitou que Companhias ou Batalhões mais antigos no TO da Guiné fossem ultrapassados, por outros menos antigos e mais “maçaricos”, mas tudo em prole de uma “Retirada Segura” e ordenada da nossa parte, esta é a minha análise destes incidentes, bem como parte da explicação para que alguns contingentes fossem “ultrapassados” relativamente à sua antiguidade. No entanto não quero de forma alguma, com estas minhas palavras criticar quem quer que seja, apenas relatar com o máximo de rigor este cruciais momentos, que foram sem dúvida momentos difíceis para todos os nossos compatriotas que se encontravam naquele que foi sem sombra de dúvida o PIOR TEATRO DE OPERAÇÕES, dos três Teatros que tínhamos na altura. 

Cruzamento em Safim, onde na noite do dia 22 de Agosto de 1974, o então Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, coronel Gonçalves Vaz, interrompeu a marcha sobre Bissau e tentou “negociar” no sentido de evitar que o Batalhão 8320/72 chegasse a Bissau sem autorização superior e sem o seu comandante.  

Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, coronel Gonçalves Vaz. 

Como já disse aqui no blogue, o editor Luís Graça, “… a cadeia hierárquica começou a fragilizar-se, a metrópole estava em polvorosa, ninguém queria ser o último a fechar a porta...”, e então é neste contexto que no final da 3ª refeição do dia 22 de Agosto de 1974, o Batalhão 8320, no Cumeré, pede a presença do seu comandante, o tenente-coronel Ferreira da Cunha, e lhe comunicam a decisão de “marchar sobre Bissau”, já que sentiam “… indignação, pelo facto de haver tropa muito mais nova do que nós e que vinham nos TAM, nos aviões militares, e nós por lá estávamos...! ...”. A esta tomada de posição por parte da grande maioria, o Comandante do Batalhão retorquiu sem rodeios: “… só por cima do meu cadáver!...”, e segundo o ex-1º cabo José Pinto, o Batalhão deixou mesmo o seu comandante ali a falar sozinho, e encetou a viagem para Bissau, mas desarmados e sem bagagens de qualquer espécie, conforme me relatou o ex-combatente Pinto, e se pode perceber pelas suas palavras “… nós é que fomos, pois ele não nos queria deixar sair, mas nós desobedecemos e deu-se até um episódio que podia resultar em tragédia, pois nós caminhávamos em fila indiana, uns de cada lado da estrada, e uma Mercedes do tipo das dimensões de uma Berliet, virou-se (numa curva antes de Safim) e por sorte, não apanhou ninguém, e fomos nós que a colocamos novamente na estrada a pulso….”. Será fácil perceber por este episódio, que o número de militares teria de ser mesmo muito grande… para poderem “endireitar” uma viatura pesada como a do relato. Entretanto pelo início da noite desse mesmo dia, comunicam do Cumeré para Bissau, à pessoa do então Chefe do Estado-Maior do QG unificado, o coronel de cavalaria e do CEM, Henrique Gonçalves Vaz (meu falecido pai), no sentido de o informarem do que se estava a passar. O coronel Henrique Gonçalves Vaz, para que fique registado, agiu de acordo com as suas funções na altura, (CEM do comando unificado), pois não competia aos “comissários políticos” do MFA, os jovens capitães a que devemos, sem dúvida, o Regime Democrático em que hoje vivemos, implementar com o “Máximo de segurança”, a nossa retirada, já que por despacho do Brigadeiro Fabião, era ele o responsável, entre muitas outras competências (ler Nota1), elaborar o “Plano de Entrega dos Aquartelamentos”, como tal tomou imediatamente providências, e deu ordens para que o Batalhão fosse interditado na localidade de Safim, para ter tempo de lá chegar e “convencer” os militares a regressarem ao Cumeré. Segundo me confirmou pessoalmente, o ex-1º cabo José Pinto, nessa zona, mais propriamente no cruzamento para Bula em Safim, surge um companhia armada e barra a progressão do Batalhão de cavalaria, ao ponto dos militares de Safim, preocupados com a integridade física do Batalhão “desarmado”, prometeram aliarem-se ao mesmo, se a “força armada” lhe fizesse mal… Pelo que me contou o José Pinto, não houve confrontos e passado pouco tempo chega de Bissau, um oficial do Estado Maior, sem grande comitiva (apenas com um condutor auto… ), o seu conterrâneo, coronel Henrique Gonçalves Vaz, que não identificou na altura, pois não o conhecia pessoalmente, e só se lembra que era um oficial superior e do Estado Maior de Bissau! Eu depois de ler todas as notas pessoais do último CEM/CTIG, posso aqui adiantar que esse oficial do Estado Maior, era o então Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, que esteve até às 3 horas da madrugada a tentar resolver este “incidente da retirada das nossas forças”, e foi nesse sentido que mal chegou a Safim, saltou para cima de um jipe, conforme me contou José Leal Pinto, e iniciou um diálogo com os militares do referido Batalhão 8320, prometendo a todos que se voltassem imediatamente para o Cumeré, comprometia-se a resolver o assunto do seu regresso à Metrópole, o mais breve possível, e que teriam um regresso, quando possível, de avião dos TAM, o que na altura imediata não seria possível, só de barco! Os elementos do Batalhão retorquiram que: “…já que estamos mais perto de Bissau, o melhor é continuar na sentido de Bissau, pois o Cumeré estava mais distante!...”, a este comentário e vontade, o coronel Henrique Vaz respondeu, “… se esse é o problema, eu mando vir já de Bissau viaturas em número suficiente para vos transportar até ao Cumeré…!”. E segundo me contou pessoalmente, o ex-combatente José Pinto, o CEM/CTIG mandou mesmo, durante essa mesma madrugada, que dos “Adidos de Bissau” viessem viaturas que transportassem todos os militares novamente para o Cumeré, o que aconteceu. Na manhã do dia seguinte, quando o coronel Henrique Gonçalves Vaz comunicou ao Brigadeiro comandante do CTIG, toda a situação, bem como o pôs ao corrente da sua actuação, informando-o de que teve de fazer algumas concessões, no sentido de evitar que grande número de militares chegassem a Bissau, com todas as consequências nefastas que daí poderiam advir! Pelo que pude constatar nas notas pessoais do então CEM/CTIG, o mesmo brigadeiro comandante não só não concordou, como censurou o chefe do Estado Maior pela iniciativa tida…, daí o brigadeiro comandante do CTIG (Galvão de Figueiredo), teve de ceder às reivindicações dos militares e no dia seguinte, autorizar mesmo que o Batalhão 8320/72 embarcasse finalmente, não de avião, mas de barco, no navio Uíge, o que aconteceu no início da madrugada do dia 25 de Agosto, ao contrário do que previa o coronel Henrique Gonçalves Vaz, nas “suas negociações”, naquela noite atribulada de Agosto do longínquo ano de 1974. 



Encontro do Batalhão de cavalaria 8320/72 no ano de 1987, em Massamá/Queluz, que contou com a presença do seu antigo comandante, o Sr. Coronel de cavalaria Ferreira da Cunha, o segundo do meio, a contar da direita de fato e de cabelo todo branco. 


Como nota final deste relato que em minha opinião, se impunha relatar, poderemos presumir (apenas como reflexão, nada mais…), que se os militares deste Batalhão, tivessem conseguido “controlar um pouco” as suas exigências, teriam talvez regressado mesmo nos aviões dos TAM, aliás como muitos outros militares regressaram, tudo em voos “planeados atempadamente” pelo comando militar do CTIG, durante esta “Retirada Final”, onde o último Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG, o coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz, teve muitas e “complexas” responsabilidades. Para que não fique dúvida nenhuma sobre a posição do então CEM, no sentido de “Honrar a palavra tida com o Batalhão 8320/72”, termino este artigo com duas das muitas notas pessoais do coronel Henrique Vaz, já aqui publicadas, a saber: 

Bissau, 22 de Agosto de 1974 

"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320 do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação ..." 

Bissau, 23 de Agosto de 1974: 

"Como na noite anterior me deitei muito após as 2h, talvez 3 da manhã, levantei-me um pouco depois das 7.30H. A minha "actuação" foi criticada pelo Brigadeiro Comandante nestes termos: "quem o mandou lá? Fazer concessões em meu nome?!" Lá lhe expliquei os motivos do meu procedimento. Em vez de me felicitar, eis o que deu! Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima ... (reticências do próprio) e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...] ceder!, fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre à atenção para a gravidade da situação. ...". 

Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG) 

Tropas portuguesas em viagem no Paquete Uíge (Foto retirada de: 

O 1º cabo José Pinto, finalmente no navio Uíje 

Resta-me agradecer aqui publicamente, ao nosso camarigo e ex-combatente, José Alberto Leal Pinto, a frontalidade das suas posições, o nobre sentido de defender a honra do seu Batalhão, bem como a sua amabilidade em se encontrar comigo, o interesse em me conhecer e contar é claro a sua versão, em quem confio plenamente. Dedico este meu artigo a todos os militares protagonistas destes últimos meses difíceis neste TO da Guiné, especialmente ao meu falecido pai e a todos aqueles que direta ou indiretamente estiveram envolvidos neste episódio, um dos muitos que existiram, durante a Retirada das NF, do TO da antiga Província Ultramarina da Guiné Portuguesa. 

Nota (1): Sobre os “Planos de Evacuação da Guiné” (Abril/Outubro de 1974) 

“… Noutro documento, sem data, que surge aparentemente anexo a este “Plano de Evacuação” são listadas um total de 77 unidades. O extenso documento inclui várias páginas com uma grelha onde estão listadas, da esquerda para a direita o nome da unidade, o trajecto (localidade onde está, percurso e destino, Bissau), e outros pormenores, como data de saída da localidade, chegada a Bissau, aquartelamento, partida para Lisboa, etc. etc. Este segundo documento tem, no final, o nome do Comandante Militar, Brigadeiro Galvão de Figueiredo, mas não está assinado por este. Está, sim, autenticado pelo Chefe de Estado-Maior, Henrique Manuel Gonçalves Vaz, Coronel do CEM. … “ 

Paulo Reis (Jornalista) in: 


Fotografia do encontro do José Alberto Pinto com Luís Vaz.



Luís Gonçalves Vaz

(Tabanqueiro 530)  

Fotos © José Alberto Pinto (2012). Direitos reservados.

___________ 

Notas de M.R.: 



Em meu nome, dos demais editores e Camaradas da Tabanca Grande apresento as boas-vindas a esta cada vez maior tertúlia virtual ao José Alberto Pinto, convidando-o a sentar-se à vontade debaixo deste frondoso e fresco poilão. 


Contamos contigo para refrescar as nossas memórias (boas e más) da Guiné. Um Alfa Bravo para ti e outro com agradecimento por este trabalho ao Luís Vaz. 

Vd. último poste desta série em: 



quarta-feira, 30 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9965: (Ex)citações (180): Defendendo a honra do BCAV 8320/72, Bula, 1972/74, que foi acusado de rebelião, em agosto de 74, e cujo pessoal vai fazer sábado, dia 2 de junho, na Trofa, o seu XXVI Encontro anual (Zeca Pinto)

1. Comentários, de 29 do corrente, do nosso leitor (e camarada) Zeca [Pinto], que tem entre outros o blogue zecapinto:

(i) Muita coisa que aqui é dita (*), não é verdadeira. É mentira que se tenha hasteado qualquer bandeira, com foice e martelo. É verdade que na viagem para o cais,  vindos do Cumeré, muitos vinham com panos vermelhos e lenços da mesma cor. 


Que o comandante do batalhão[, ten cor cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha,]  tenha negociado, nunca tivemos conhecimento disso, manifestávamos a nossa indignação, pelo facto de [haver tropa] muito mais nova do que nós e que vinha nos TAM, nos aviões militares, e nós por lá estávamos...

Quando fomos para a Guiné,  fomos uma companhia de cada vez, e o regresso tinha que ser de barco, daí não aceito que nos considerem indisciplinados. Por vezes é fácil falar, eu por mim, em minha defesa, fazia o que necessário fosse, mas não reconheço autoridade a ninguém para nos classificarem como o fazem, para mim injustamente. A História, o Exército pode fazer a que quiser, eu digo a verdade e só a verdade.
Como já disse noutro comentário, a tal História não diz que militares regressados da Guiné desembarcaram como civis, certamente não interessava para a História que o Exército quer contar. Eu sei que o Comandante era o Spínola, que foi substituído aquando da publicação do famigerado livro [Portugal e o Futuro,], pelo Bettencourt Rodrigues, e este por sua vez pelo Carlos Fabião. 

Esta é uma de muitas situações vividas na Guiné, no próximo [sábado, dia 2, em Santiago do Bougado, Trofa], devamos festejar o XXVI encontro do tão falado batalhão, rei da insubordinação, muitos colegas meus já faleceram e por isso peço respeito pelo que lá sofremos

(iI) Não é verdade que tenhamos embarcado de madrugada, pois foi à meia noite, por isso não nos viram, certamente contaram mais essa história de muitas outras. O [ten-cor] Cunha, depois da 3ª refeição,  não foi para Bissau, nós é que fomos, pois ele não nos queria deixar sair, mas nós desobedecemos e deu-se até um episódio que podia resultar em tragédia, pois nós caminhávamos em fila indiana, uns de cada lado da estrada, e uma Mercedes do tipo das Berliet, virou-se e, por sorte, não apanhou ninguém, e fomos nós que a colocamos novamente na estrada a pulso. 

Mais uma vez digo que podia ter sido uma tragédia o que felizmente não aconteceu, esta é uma de muitas histórias pelas quais passei. 

Abraços a todos e muita saúde mas não se diga BATALHÃO da indisciplina, haja respeito.

(iii) O referido Batalhão [, BCAV 8320/72,] do qual eu fazia parte, não se pode dizer que era indisciplinado, pois não o era... Mas com 26 meses e companhias com 13 e 14 meses a virem embora e nós a ficarmos por lá não se sabia a fazer o quê... foi essa a razão da indignação,  não revolta. 

O comandante não teve nada a ver com a tal indignação, pois ele tentou impedir a nossa saída, do quartel, sem êxito. Ele quando teve conhecimento da nossa intenção disse que só saíamos por cima do seu cadáver, e nós respondemos que,  se isso fosse o motivo para nos virmos embora, então passávamos. 

E foi quando caminhamos para Bissau, e fomos parados por uma força militar, já não me lembro se foi em João Landim, sei que era um cruzamento para Bula, e estava uma companhia aí instalada que se solidarizou connosco, e disseram que se algo nos fizessem teriam que se haver com eles, pois nós tínhamos razão.

Depois de conversações vieram os carros dos Adidos, para nos levarem de regresso com a promessa de embarque, o que veio a acontecer. Nós fomos colocados dentro do barco e,  como tinha sido uma semana muito chuvosa, quiseram reter-nos no cais em Bissau. Foi quando nós ameaçamos que tudo que estava no cais ia para a água, e o Carlos Fabião deu ordens, para partir. 

Podem dizer que isto era indisciplina, eu digo INDIGNAÇÃO. 

Quanto às ditas bandeiras, foi no transporte do Cumuré até ao cais de embarque. E falta dizer que em Lisboa desembarcámos à civil, pois o espólio foi feito ao largo de Lisboa dentro do barco.

Muitas mais estórias tenho para contar, mas fico-me por aqui com a certeza que esclareci uma estória que está (ou estava)  mal contada. 

Abraços a todos quantos por lá passaram. 

2. Comentário do editor:

A honra e o bom nome dos nossos camaradas estão acima de todas as considerações. Uma coisa são os factos e outra a sua leitura ou interpretação. O nosso blogue não é tribunal de nada nem de ninguém. Interessa-nos apenas a partilha de histórias e memórias da guerra colonial na Guiné. O vosso embarque foi notícia. Até agora só tínhamos uma pequena versão dos acontecimentos. Obrigado pelos teus esclarecimentos. Gostaríamos de saber mais coisas sobre ti e sobre os teus camaradas. Fica aberta a porta da nossa Tabanca Grande (e do nosso blogue) para esse efeito.  Desejamos  a todos os camaradas do BCAV 8320 um feliz e alegre convívio no próximo sábado. Volta sempre.

_____________

Notas do editor:

(...) Bissau, 22 de Agosto de 1974

"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320  do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

(...) Bissau, 23 de Agosto de 1974

"... Durante o dia, as 'resistências' do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima [...] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...] ceder!, fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre à atenção para a gravidade da situação. ..."

(...) Bissau, 24 de Agosto de 1974

"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive atento no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..." (...).


(...) BCAV 8320/72: Mobilizado pelo RC 3, partiu para a Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve sediado em Bula. Comandante: Ten Cor Cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Constituído por 1ª Companhia (Bula, Pete, Nhamate, Bissau), 2ª Companhia (Bula, Nhamate) e 3ª Companhia (Bula, Bissorã, Catió, Pete). Todos os comandantes de companhia eram capitães milicianos. (...)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9317: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte IV): Agosto de 1974: ainda o caso do BCAV 8320/72 (Bula, 1972/74) (Luís Gonçalves Vaz)

1. Do Luís Gonçalves Vaz em comentário ao poste P9190 (*), em resposta a um comentário (infelizmente anónimo, e que por essa razão foi eliminado, não só por ser anónimo como por pôr em causa a honorabilidade do Cor CEM Henrique Gonçalves Vaz, infelizmente já desaparecido):

Para que não fique nenhuma dúvida:

1º) Muitas das "..." [aspas e reticências] são originais e do próprio punho do já falecido, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, Chefe do Estado-Maior do CTIG na altura;

2º) O estive é mesmo "ESTIVE", não duvide ...

3º) É claro que o coronel Henrique Vaz esteve "em contacto" com os elementos do Batalhão em questão, ao ponto de o Comandante do CTIG ter criticado a sua actuação, conforme se pode inferir pela nota pessoal (in: Agenda do Chefe do Estado-Maior do CTIG) do dia 23 de Agosto de 1974 (ainda inédita neste Blogue);

4º) Todas as Notas que existem, sobre este episódio, são as seguintes; como tal os caros leitores que tirem daí as suas conclusões;

Bissau, 22 de Agosto de 1974


"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320  do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 23 de Agosto de 1974


"Como na noite anterior me deitei muito após as 2h, talvez 3 da manhã, levantei-me um pouco depois das 7.30H. A minha "actuação" foi criticada pelo Brigadeiro Cmdt nestes termos: "quem o mandou lá? Fazer concessões em meu nome?!"

Lá lhe expliquei os motivos do meu procedimento. Em vez de me felicitar, eis o que deu! Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima ... [reticências do próprio] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...] ceder!, fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre à atenção para a gravidade da situação. ..."

"... Reuni com a comissão que veio de Lisboa sobre os 'Planos de Retirada': Hipótese A e B. Mandei fazer a lista uma a uma para [...]."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 24 de Agosto de 1974


"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive [algum tempo ou atento?] no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
___________

Nota1:


Espero ter esclarecido mais um pouco este episódio, mais não poderei dizer, pois já não estava na Guiné, na altura destes acontecimentos.

Nota2: 


O brigadeiro Comandante na altura, penso que seria o Brig Galvão de Figueiredo...

Nota3:

Não consigo ler bem,  na Nota do dia 24, a palavra a seguir a "Estive": será "algum tempo" ou "atento", já que na sua escrita o coronel Henrique Vaz utilizava muito as abreviaturas.

Nota final:


A análise crítica de causas e consequências deste episódio só poderá ser realizada pelos próprios intervenientes, e ainda vivos. Como tal fica aqui o desafio, mas serão importantes para "Memória Futura" e para a História da Descolonização, se o fizerem de uma forma "franca, transparente e construtiva", e sempre que possível de uma forma "não emocional"…

Abraços deste Tabanqueiro

Luís Gonçalves Vaz
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)



Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.



1. Continuação da publicação de alguns excertos dos registos pessoais, manuscritos, do Coronel do CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz (1922-2001), no ano de 1974, no TO da Guiné.

Recolha e transcrição do seu filho Luís Gonçalves Vaz (LGV) que estava, nesta época (1973/74), com a sua família, em Bissau. É professor de matemática e ciências da natureza numa escola da zona de Braga. Aceitou, com muito gosto, o nosso convite para integrar a Tabanca Grande.


Nota do LGV:

"Peço desculpa, se ao transcrever algumas notas pessoais do meu falecido pai, Coronel Henrique Gonçalves Vaz ,troquei ou alterei o nome de algum militar português, interveniente nestes últimos meses, no Teatro de Operações da Guiné, pois foi sem intenção e devido à dificuldade de ler algumas passagens nos seus registos pessoais" (...)





 
Bissau, 2 de Abril de 1974
“…Visita do Brigadeiro Sales Grade (Director da Arma de Transmissões) e jantar ás 20h30…”
“… Às 08h14m levantamos voo, em avião do TAGP para a Aldeia Formosa, com o nosso Brigadeiro Comandante, o Tenente-Coronel Maia e Costa, Cmdt do Bat Eng, o Major Marques, [...] o Tenente Abrantes, adjunto do Nosso Brigadeiro e eu. Chegamos e o Ten Coronel Ramalheira, Cmdt de Batalhão, e o 2º Cmdt, Major Lopes, fizeram um Briefing, rápido [...] e depois de darmos uma volta ao aquartelamento, fomos pela estrada com uma escolta. [...]

Alferes Campos: Verdadeiro espírito de missão, entusiasmo e eficiência. Estivemos em 2 Pedreiras… De regresso paramos em Manpatá (Saltinho, no extremo sul do território) e vi a árvore que dá o nome à Povoação. Regressamos às 12h 00 e não aterramos em Buba. [...]"

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 3 de Agosto de 1974

"... Estamos de prevenção, pois hoje é o Aniversário do Massacre do Pigiguiti [, 3 de Agosto de 1959]. Tropas Europeias [...] nas Unidades. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 12 de Agosto de 1974


"...Reunião exploratória, dirigida pelo Comandante Militar com novas orientações do planeamento pela 4ª Repartição. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 16 de Agosto de 1974


"... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade! Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 20 de Agosto de 1974


"... Despediram-se o Major Barreto Fernandes e o Tenente Abrantes, respectivamente, chefe da Secção de MM e Adjunto do Brig Comandante. Desde 17 que oficialmente se constitui o QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG . Publicado em Ordem de Serviço do Comando Chefe.

Soube-se hoje após o almoço que irá vigorar o esquema:
- Totalidade de pessoal (-6000) evacuado até 20 de Setembro de 1974 [...]
- Restantes até Dezembro (?)
- Entretanto vai-se “evacuando” o material  ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
Bissau, 22 de Agosto de 1974
"... História do Batalhão de Cavalaria nº 8320 (**) do Tenente-Coronel Ferreira da Cunha, que se pôs a andar do CUMERÉ, depois da 3ª refeição, em direcção a Bissau, a pé, sob chuva inclemente. Minha actuação [...]. "

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)


Bissau, 23 de Agosto de 1974

"... Durante o dia, as "resistências" do Batalhão indisciplinado vieram ao de cima [...] e não teve remédio (o Comandante Militar) senão [...]  ceder!,  fazendo embarcar o pessoal amanhã à tarde! Eu não desisti e chamei sempre  à atenção para a gravidade da situação. ..."

"... Reuni com a comissão que veio de Lisboa sobre os 'Planos de Retirada': Hipótese A e B. Mandei  fazer a lista uma a uma para [...]."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 24 de Agosto de 1974


"... O UIGE com o Batalhão do Cunha, o 'famigerado' Batalhão de Cavalaria nº 8320 de Bula, partiu a princípio da madrugada para Lisboa. Estive atento no Cais a vê-los partir! Disseram-me que até hastearam uma bandeira vermelha com a foice e o martelo!..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Bissau, 26 de Agosto de 1974


"... Hoje à tarde, soube-se que sairíamos da Guiné até 31 de Outubro de 74 e em 10 de Setembro será proclamada a Independência da Guiné! FIM de uma triste aventura, muito Inglória a que nos levaram os [...]."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)
Bissau, 30 de Agosto de 1974

"... Reunião no Palácio do Governador às 18 00 h, de acordo com os acontecimentos na Metrópole, de apoio ao General Costa Gomes e repúdio das manobras reaccionárias ..."
Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

[Continua]

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Notas do editor



(**) BCAV 8320/72:  Mobilizado pelo RC 3, partiu para a Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve sediadoe m Bula. Comandante: Ten Cor Xav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Constituído por 1ª Companhia (Bula, Pete, Nhamate, Bissau), 2ª Companhia (Bula, Nhamate) e 3ª Companhia  (Bula, Bissorã, Captió, Pete). Todos os comandantes de conmpanhia eram capitães milicianos.

Fonte: GOMES, C.M.; AFONSO, A. - Os anos guerra colonial: volume 13: 1972: negar uma solução política para a guerra. Matosinhos: QuidNovi, 2009, p. 116.