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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16896: Memória dos lugares (354): Matosinhos é uma terra de gente laboriosa, que merece uma visita com tempo e vagar e que tem a sua importante quota-parte na nossa história trágico-marítima...É também sede da famosa e hospitaleira Tabanca Pequena (Fotos de Luís Graça)







Matosinhos > 27 de dezembro de 2016 > "Tragédia do mar" (grupo escultórico de José João Brito, evocando uma série de naufrágios de embarcações de pesca, na noite de 1 para 2 de dezembro de 1947, que vitimaram, 152 pescadores, deixando na então vila piscatória 72 viúvas e 154 órfãos). (*)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]


1. Matosinhos é uma terra de gente laboriosa, que merece uma visita com tempo e vagar. A cidade tem cerca de 30 mil habitantes e o concelho 175 mil, segundo o último censo. 

A autarquia é dinâmica, tem forte sentido de responsabilidade social  e tem vindo a valorizar os nossos grandes arquitetos da Escola Porto, através de obras, públicas e privadas,  onde estão representados dois Prémios Pritzker da arquitetura, o equivalente ao Nobel (Siza Vieira, 1992; Eduardo Souto Moura, 2011)... 

Em 2017 Matosinhos vai inaugurar um centro de referência, a Casa da Arquitectura: Centro Português de Arquitectura.

Para além da gastronomia, ligada aos produtos do mar, Matosinhos é também terra com história, lendas, narrativas, tragédia e magia... Faz parte integrante da nossa história trágico-marítima e está ligada ao culto de Santiago.

Sem esquecer que é aqui, na cidade de Matosinhos, que tem também sede a famosa, amiga, hospitaleira e solidária  Tabanca Pequena, ou simplesmente Tabanca de Matosinhos. Desde há largos anos que os nossos camaradas desta Tabanca (a primeira a surgir, oriunda do universo da Tabanca Grande) se reúnem todas as quartas-feiras, no restaurante Milho Rei (R Heróis de França 721, 4450-159 Matosinhos,  telef 22 938 5685), para almoçar, conviver e angariar fundos para ações de solidariedade para com os nossos amigos e irmãos da Guiné-Bissau.


Matosinhos > 27 de dezembro de 2016 > Porto de Leixões > Terminal de Cruzeiros, visto do passeio marítimo.
Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]

Estive aqui num fim de tarde de 27 de dezembro de 2016, vinha com ideia de conhecer de perto o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões... Ainda meti uma "cunha" ao Carlos Vinhal... mas ele disse-me que agora, reformado ou aposentado, já não manda nada, o que não é verdade, ele manda no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

O Carlos, como é sabido, trabalhou uma vida inteira na Administração dos Portos do Douro e Leixões... Há um dia por ano, o Dia do Porto de Leixões, em que se organizam visitas guiadas ao belíssimo terminal de cruzeiros... Este ano que está a terminar foi a 16 de setembro...

No dia seguinte, 28 de dezembro, 4ª feira, fui almoçar à Tabanca de Matosinhos, que é ali mesmo, a escassos 200 metros da praia, do posto de turismo e do grupo escultórico a que nos referimos acima, "Tragédia do Mar"... Obrigado ao Zé Teixeira e ao Eduardo Moutinho pela hospitalidade... Obrigado aos novos camaradas que conheci como o António Vale (ex-alf mil, CCAÇ 2464 (Biambe, Encheia, Bula, Binar, Nhala, Nhamate,  Mangá, 1969/70): é de Vila Real e trabalhou no Banco de Portugal. Convidei-o  a integrar a nossa Tabanca Grande. Tivemos uma longa conversa sobre o seu/nosso tempo de Guiné. Desta companhia é o nosso grã-tabanqueiro António Nobre.

Obrigado pelos vossos comentários, Carlos, Henrique e Felismina...
Boas saídas, e melhores entradas (*)...
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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15414: Fotos à procura de... uma legenda (65): Os que deram, não a vida, mas uma parte do seu corpo (um pé, uma perna, uma mão, um braço, ou os olhos) pela Pátria (José Maria Claro / Francisco Baptista)


Foto nº 1 B > HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa, c. 1969/70 > Cinco camaradas amputados por efeito de minas na guerra do ultramar / guerra colonial



Foto nº 1 A > Foto nº 1 C > HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa, c. 1969/70. O José Maria Claro é o segundo a contar da esquerda.


Foto nº 1 > No HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa > O José Maria Claro é o segundo a partir da esquerda.


 

Foto nº 2 > CCAÇ 2464, Biambe, 1969 > O José Maria Claro, na brincadeira, "com um camarada do rolo de peso", o cilindro manual que se usava na construção e manutenção dos arruamentos dos nossos aquartelamentos...


Foto nº 3 > CCAÇ 2464, Biambe, 1969. O José Maria Claro, cheio de energia, vida e otimismo, no campo de futebol (improvisado) do quartel, antes da maldita mina A/P o ter mandado para Lisboa, para o HMP... É hoje DFA. Recorde-se, por outro lado, que a ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas comemora este ano o seu 40º aniversário.


 Fotos (e legendas): © José Maria Claro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]



1. O nosso grã tabanqueiro José Maria Claro foi soldado radiotelegrafista de engenharia, da CCAÇ 2464 / BCAÇ 2861, esteve em Biambe, setor de Bula, em 1969...

Foi curta a sua estadia no  TO da Guiné. Vitimado por uma mina antipessoal, que lhe causou a perda de um dos membros inferiores.  foi evacuado para a Metrópole, para o Hospital Militar Principa (HMP), em Lisboa. (*) 


.2. Comentário do nosso camarada Francisco Baptista [,ex-alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]


Amigo e camarada José Maria Claro,  salta à vista a alegria com que te moves e te divertes, só tu ou com outros camaradas,  antes da maldita mina te ter roubado uma perna.

A tua última fotografia [, no HMP, em Lisboa,] depois de toda a sequência anterior,  é de um homem corajoso que não está disposto a desistir de viver seja qual for a contrariedade. O que nos ensinas é que a vida é um caminho a percorrer sejam quais forem as dificuldades do percurso.

O teu poste fotográfico diz mais do que mil palavras. (**)

Muita saúde e felicidades que bem mereces e muito obrigado pela lição de optimismo que me deste.

Um abraço. Francisco Baptista

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Notas do editor:


(*) 25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464


(**) Último poste da série > 8 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15220: Fotos à procura de... uma legenda (64): visita do gen Arnaldo Schulz e do brig Reimão Nogueira a Porto Gole, em fevereiro de 1967... O insólito: (i) duas caixas de cerveja (Cristal e Sagres) no banco traseiro do helicóptero; (ii) um comandante-chefe, de máquina fotográfica a tiracolo, com ar de turista...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464

 

1. Fotos enviadas ao Blogue pelo nosso camarada José Maria Claro, DFA, (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969) referentes à sua curta estadia na Guiné. 
Lembremos que o José foi evacuado para a Metrópole por ter sido vitimado por uma mina antipessoal, que lhe causou a perda de um dos membros inferiores. Vd. última foto.



Biambe, 1969 - À entrada da Tabanca

Na fonte do Biambe

Biambe, 1969 - No campo de futebol

Biambe, 1969 - Com camaradas

Biambe, 1969 - Junto à pista dos aviões

Na parada do Biambe

 Biambe, 1969 - Com um camarada do rolo de peso


Biambe, 1969 - Com o Xico

Biambe, 1969 - Na bananeira

Biambe, 1969 - A ler a correspondência

Biambe, 1969 - Ao "telemóvel"

Biambe, 1969 - Na parada com o portátil

Parada do Biambe

No HMP de Lisboa (Claro, o segundo a partir da esquerda)
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 11 de setembro de 2014 Guiné 63/74 - P13601: Tabanca Grande (444): José Maria Pinto Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista de Eng.ª da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Biambe, 1969)

Último poste da série de 11 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15233: Memória dos lugares (322): Porto Gole: mulheres balantas apanhando "cacri", na bolanha, junto ao rio Geba. O "cacri" (espécie de bocas) era, também para nós, um petisco saboroso que acompanhávamos com a célebre cerveja São Jorge (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)

terça-feira, 14 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14876: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VI Parte): A nossa causa é uma causa justa

1. Parte VI de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 10 de Julho de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima), e Comando do 2.º curso de Comandos do CTIG (Brá), CMDT do Grupo Diabólicos (1965/67).


GUINÉ, IR E VOLTAR - VI

A nossa causa é uma causa justa

"Esta é a voz do comando, a voz que ireis ouvir ao longo do curso e durante a vossa permanência neste Centro de Instrução.
Numa guerra clássica, a moral tradicional militar defende a ideia de que a luta se trava exclusivamente entre os contendores, os que pegaram em armas para disputar a posse de um território, não sendo as populações envolvidas no combate. A guerra seria sobretudo uma luta entre os militares de ambas as partes.
A guerra que travamos é diferente. Em primeiro lugar, é uma luta pelo domínio das populações e estará em vantagem aquele que as tiver do seu lado.

A água e o lodo são os nossos campos de batalha. O terreno é plano e alagadiço, há muitos rios, pântanos e bolanhas, que são as terras alagadiças, que tu já conheces, e que servem para as populações cultivarem o arroz. Há grandes alterações das marés. Vais palmilhar matas e florestas densas.
Aqui, na Guiné, não existem mais de 60 quilómetros de estradas pavimentadas, o resto são cerca de 1500 quilómetros de terra batida. Os outros meios de comunicação são picadas e caminhos sujeitos às marés, às vezes intransitáveis.

A população é constituída por etnias das mais variadas origens. Têm hábitos próprios e cada uma tem as suas características, às vezes muito diferentes umas das outras.
Os mais numerosos são os Balantas, depois os Fulas, os Manjacos, os Mandingas e os Papéis. Depois há outros: os Brames, também chamados Mancanhas, os Beafadas, os Bijagós. Os outros, com menos gente, são os Felupes, os Baiotes, os Nalus e os Sossos.

Nem sempre tem sido fácil ganhar estas populações. Muita desta boa gente tem sofrido forte mentalização do IN e albergam guerrilheiros, a quem fornecem apoio alimentar.
Esta população mantém grande discrição sobre a presença da guerrilha, que a obriga a colaborar, escondendo as armas.
O IN tem-se aproveitado destas populações. Bem armado, tem um forte espírito guerrilheiro e exerce acção psicológica sobre elas, apoiado em emissões radiofónicas diárias, a partir de Conacri.

Relembremos o que aconteceu aqui, na Guiné. A vida decorria normalmente, o ambiente era de paz e só este é propício ao trabalho, ao bem-estar e à riqueza. Nem tudo estaria feito, nem tudo seria perfeito, mas existia bom ambiente social. O inimigo que hoje nos combate em Angola e aqui na Guiné, vem desde há muito procurando convencer os povos africanos portugueses de que só com a saída dos brancos a vida dos negros poderá melhorar. Seria essa a maneira mais eficaz e mais rápida de conseguir melhoria de nível para os africanos. O branco ao mar!
Deram início à luta armada, apoiados por potências com pretensões à posse destas terras com quem mantemos ligações há séculos. Foram elas que lhes forneceram armamento e foram elas ainda que treinaram os primeiros chefes guerrilheiros no combate. A guerra foi assim imposta por um IN comum, em Angola e aqui na Guiné, e obrigou-nos a pegar em armas para defender as nossas gentes, o nosso património.

Nem toda a população aderiu prontamente ao IN. Talvez que a grande maioria do povo preferisse a paz e dentro dela trabalhar para um futuro melhor. Isto não interessou ao IN que, aterrorizando as gentes, matando, levando-as a fugir e a fixar-se em novas zonas de mata onde facilmente as pudesse controlar e obrigar a trabalhar para si, ficou em posição de melhor poder resistir ao nosso esforço armado para restabelecer a ordem e a paz.
Todos conhecemos casos concretos aqui, exemplificativos do terror que o IN lançou nas populações. Foi este o sistema de mentalização adoptado por eles e do mesmo modo continuam. Quem lhe não obedece, sofre represálias, morre!

Como é sabido, o guerrilheiro não pode combater um exército sem o apoio da população. É ela que lhe dá o dinheiro, comida, informações a nosso respeito e o refúgio de que ele necessita. O guerrilheiro infiltra-se nas tabancas consideradas pacíficas. Abandonada e escondida a arma, ele aparece novamente aos nossos olhos como um elemento simpatizante e acolhedor porque saúda a tropa afavelmente e procura mostrar-se prestável. E mais, sabendo que como militares somos levados apenas a ver um terrorista no homem emboscado que contra nós dispara e, por conseguinte, a não desconfiar das mulheres, dos velhos, dos rapazes novos.
Utiliza precisamente estes como agentes de ligação, de informação e como cadeia de reabastecimento de víveres, medicamentos e munições. Esta é a situação actual. O que deveremos fazer?
Poderemos ver apenas o IN que contra nós dispara? Deveremos tratar como soldado prisioneiro um homem sem farda que não nos combate francamente e ataca sempre pelas costas? Ou tratá-lo como desordeiro e assassino, responsável por tantas desgraças? O que é que pensas? Qual a tua opinião?

É preciso controlar a população! Convencê-la a abandonar as áreas onde o ambiente é mais propício à guerrilha e fixá-la em zonas em que lhe possamos garantir protecção e segurança. Há que dar a possibilidade àqueles que não quiserem a guerra de se acolherem à paz. Assim o guerrilheiro ficará isolado, identificado e sem o apoio de que necessita. Quem não vier, é porque não quer! Pertence ao bloco IN que nos combate da mata.

A guerra é um mal, mas não fomos nós que a começámos. Uma vez começada, temos que a ganhar. Não viemos cá passar dois anos de comissão, viemos para ganhar a guerra. A nossa missão é conquistar a população e destruir o IN, para que em todo o mundo português se possa viver em paz, trabalhando para um futuro melhor. A nossa causa é uma causa justa!

Comando!

A tua guerra vai começar!
O resultado da acção do grupo depende de ti!
Finalmente estás pronto para combater!
O curso foi útil, violento e cansativo. Podes pensar que a tua tarefa terminou.
Não! Até agora nada fizeste, ainda nada provaste!
A ocasião está aí. O teu contributo vai ser notado!
Comando! Confia em ti, não esperes pela sorte!
Vai, cumpre a tua missão.”

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O Grupo

Ainda durante o curso de instrutores, os futuros comandantes dos grupos com alguns sargentos, reservaram uma semana para conhecerem os futuros instruendos, dispersaram-se pela Guiné, um para Bula, outro para Farim, outro para Tite, num ou noutro caso viram soldados e graduados em acção no mato, ouviram comandantes de companhia e de pelotão, falaram-lhes de uma forma diferente de fazer a guerra, puseram-nos a pensar no assunto, que se quisessem concorrer o podiam fazer, um ou outro comandante da companhia a empurrarem-lhes asmáticos e problemáticos, este gajo é que é bom para vocês, é rápido no gatilho, quando está de sentinela passa as noites aos tiros.
Juntaram-nos todos em Brá, recambiaram logo três ao fim de dois dias. Em Julho deram início ao Curso de Comandos para praças que durou até 3 de Setembro de 1965.

Bom atirador, ouvido e olhos apurados, pisteiro experiente, sentido de orientação, experiência de sapadores, desconfiado até de si próprio, há aqui alguém de cá, com estas condições? Para todo o lado, olha para o chão, para a frente, para a esquerda e para a direita. Quem é que havia de ser o primeiro homem da 1.ª equipa? Cabo Marcelino da Mata, claro, já vem com a experiência toda, tem sido sempre o primeiro homem da 1.ª equipa.
Quem é o amigo do Marcelino que é canhoto? És canhoto mas não és amigo dele, tu também és canhoto, não és amigo dele também? Para a direita, o teu espaço de visão é a direita, fazes parelha com o Marcelino, não podes ir para todo o lado com ele, porquê? Tem três mulheres? Melhor para os dois, primeira parelha arrumada.
O terceiro homem do grupo1 sou eu, comandante do grupo e da equipa, a esquerda está por minha conta também. Quem é o melhor em rádios, o melhor lançador de granadas, para mais longe e sobretudo mais certeiro nos lançamentos, afinal quem é o mais diferente de todos? Como sabes que não há cá disso? Para as árvores que estão lá em cima a olhar para ti, para quem haviam de olhar?
O quinto tem que ser o melhor especialista em primeiros socorros, estás a olhar para mim porquê, tu claro, olhas para a esquerda, nunca percas a ligação com a equipa de trás! És canhoto, essa agora? Mas és voluntário, ou não? Ah, o "Ligaduras" não é canhoto. Fechado! Ora bem, a 1.ª equipa do grupo, a equipa de comando está feita, prá frente!
A 2.ª, a 3.ª e a 4.ª são equipas de manobra. Bons atiradores e bons referenciadores de tiro, o quarto homem de cada uma delas tem que ser bom sapador, vamos para a frente que se está a fazer tarde. Furriel Azevedo, faça a 2.ª equipa!
3.ª Equipa. O número 4 é o Albino, apontador da MG-42, tu és a parelha dele, fazes também de municiador. Como fica a sua equipa então, sargento Valente?
Black com a 4.ª Equipa, o quarto homem protege...
5.ª equipa, a apoiar....

Cinco carregadores, granadas, os números 5 de cada equipa, excepto da última, levam duas incendiárias, rádios Nationals para os números 4 de cada equipa, toda gente leva punhal, os números 5 de cada equipa, excepto o maqueiro, são portadores de filtros individuais, o número 4 da 4.ª equipa leva o lança-roquetes Vacci2, os dois primeiros homens levam nylon, todos de mangas arregaçadas, excepto o primeiro, a lanterna eléctrica quem é que a deve levar, o maqueiro, claro! Duas bússolas, uma carta junto ao comandante do grupo, e pronto, alguma dúvida? Então, vamos lá ouvir!
Equipas lá para fora, para a fotografia enquanto está sol, em coluna por um como se fôssemos para o Oio.

Um grupo na fotografia

Click, click, formar o grupo agora, sentido, Caeeeirooo, mãos fechadas, que lindo, Albino endireita-me essa corcunda, peito para fora, direita volver, em frente marche, Silva para onde vais com os braços, à altura do ombro só, que não é preciso mais. O pé, porra, assenta pelo calcanhar, assim, todos a olhar para ver como é, perna estendida.

Comandante do grupo e chefes de equipa com o 1.º homem do grupo, 1.º Cabo Marcelino da Mata

“Nas conversas com os teus amigos nunca digas para onde vais, um comando é para ser admirado por toda a gente, o comando deve tratar a sua espingarda com todo o jeitinho, deve escrever semanalmente à sua família, à bajuda também, os comandos não choram os seus mortos, vingam-nos, para onde quer que olhe para lá tem virada a arma, comandos ao ataque, ó da guarda, vivam os comandos da Guiné, um comando não é melhor nem pior, é diferente, ó meu sargento, temos tão pouco que fazer, queremos mais instrução, estou mortinho para ir para a porrada, plano de refeições, ao pequeno-almoço, granadas fritas em trotil, um petardo P4 com molho de plástico, para o almoço, para o jantar cartuchos 12,7 salteados com pólvora de caril, uma ceia em Morés, meninas não saiam de casa, o Benfica e os comandos estão sempre na final, não há pai para eles, o Eusébio com a taça na mão, um comando com um morteiro 82 made in URSS.”
Viam-se dísticos por todo o lado, no edifício do comando, no refeitório, na sala de luta, nas camaratas. E durante a noite, também nos altifalantes ligados aos quartos e às camaratas.

“Repara em ti próprio, comando, faz um exame de consciência e diz francamente se já não te sentes outro, se já não estás tão diferente daquele maçarico que aqui entrou há 5 semanas? Nessa ocasião só tinhas vontade, só tinhas o querer de seres um comando, tudo o resto te faltava, a energia, a decisão, o espírito de sacrifício, a certeza de seres um bom combatente. E só passaram 4 semanas de instrução, 4 semanas em que aprendeste unicamente os princípios básicos de um bom combatente. Mas, nestas semanas aprendeste bastante e, muito especialmente, formaste sobre ti próprio uma ideia bem diferente daquela que inicialmente tinhas.
Ganhaste um apreciável espírito de sacrifício e a atestá-lo estão as noites mal dormidas, a fadiga física pronta a vencer-te, mas sempre a ser dobrada pela tua força de vontade. Depois destas semanas, já tens espírito de sacrifício. Mas tens mais, ganhaste decisão, tens energia e especialmente, tens o orgulho de vires a ser um comando! Atingiste metade do caminho, e se esta metade não for mais dura, mais leve não vai ser! Continuarão a pedir-te tudo, a tua vontade, o teu interesse, a tua atenção e a instrução continuará, quer chova impiedosamente quer faça um calor escaldante. Tudo com uma finalidade: fazer de ti um combatente decidido, consciente, sabedor e capaz de sozinho sobreviver às dificuldades. Mas tu nunca estarás sozinho, terás sempre o apoio da tua equipa. Por isso vive com a tua equipa e para a tua equipa, porque ela representa para ti a condição da tua sobrevivência.
Estás a viver perigosamente, mas todo o perigo, por maior que pareça, poderá ser reduzido se o enfrentares com consciência. E é essa consciência que neste Centro de Instrução, os teus instrutores procuram que tu obtenhas. Então sim, então serás um comando!
Dedica-te, corrige as tuas deficiências, repete cada exercício, tantas vezes quantas as necessárias, para atingires automatismos. Não te esqueças que muitos dos teus camaradas, por não terem as tuas qualidades, ficaram pelo caminho. Tu continuas e basta isso, para teres a certeza que virás a ser um bom comando. Ouviste a Voz do comando".
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Notas:
1 - Quando havia efectivos disponíveis, o que só aconteceu nas primeiras operações, os GrsCmds eram constituídos por 5 equipas com 5 homens cada: 1 equipa de Comando (Cmdt do GrCmds, 1 operador de rádio, 1 socorrista e 2 atiradores); 3 equipas de Manobra (cada uma constituída por 1 Sargento/Furriel/Cabo, 1 apontador de ML, 1 municiador de ML e 2 atiradores) e 1 Equipa de Apoio (1 Sargento/Furriel/Cabo, 1 apontador de LGF, normalmente o Lança-rockets "Dante Vacci", 1 municiador de LGF e 2 atiradores).
2 - Dante Vacchi, Jornalista e fotógrafo da revista francesa Paris-Match, que dizia ter experiência em conflitos militares, terá estado de alguma forma envolvido no modelo de treino das tropas Comandos, criadas nos princípios dos anos 1960, para combater a guerrilha, inicialmente em Angola. Cesare Dante Vacchi, antigo sargento da Legião Estrangeiro, "afirmava ter uma grande experiência de guerra, porque tinha vivido alguns conflitos. Nunca cheguei a perceber muito bem se todos como jornalista ou alguns como combatente. Ele também não era muito claro nisso", lembra o então tenente Caçorino Dias, instrutor dos dois grupos de operacionais que deram origem (em 1963/64) às tropas Comandos.

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Tambores, cornetas, caixão

A companhia de comandos estava pronta. Tinham vindo de todo o lado, até da banda de música do QG, dos cerca de 200 que começaram terminaram cerca de 100, entre sargentos e praças.
Com elementos dos grupos antigos, já bem experimentados, formaram quatro grupos a que deram os nomes Apaches, Centuriões, Diabólicos e Vampiros.
Os grupos eram constituídos por 5 equipas de 5 elementos, a primeira comandada pelo chefe do grupo, cada uma das outras por um furriel ou sargento, e as equipas eram formadas por duas parelhas, escolhidos entre eles, pelas afinidades. Durante o curso, sempre que um dos elementos da parelha se deslocava fosse para onde fosse, o outro teria que o acompanhar.
A arma que usavam era a G3, num caso ou noutro a FN. Nalgumas operações mais tarde, usaram Kalashs3 capturadas ao IN. Cada grupo levava um lança-rockets “Dante Vachi”4, com 10 rockets, as mesmas munições dos T6 e uma MG-42 de fita, a tal com que o Albino desenhava figuras com os impactos, uma cadência de tiro até aos 1300 por minuto, pena é que as culatras davam o estouro com alguma facilidade. Era a arma mais pesada que levavam, um pouco mais de 10 kg. O camuflado era a farda de trabalho, o uniforme de caqui amarelo esverdeado, pago por eles, reservavam-no para as saídas.

Os grupos a prepararam-se para a cerimónia da imposição dos crachás.


No final do curso, numa cerimónia em Brá, receberam em mão os crachás dos comandos, o escudo nacional sobressaindo com um punhal envolto numa ramo de oliveira e os dizeres “Audaces Fortuna Juvat”5 . No ombro esquerdo, a insígnia do grupo, bordada em pano, encimada por um dístico “comandos”.

Capitão Saraiva apresenta a Companhia de Comandos do CTIG ao Governador-Geral

General Schulz rodeado do Comandante Militar e de Chefes de Repartições do QG.

O único ronco que lhes era permitido era o lenço que usavam ao pescoço, cada grupo com cor diferente. Os Apaches punham lenço amarelo, os Centuriões lenço vermelho, os Diabólicos lenço negro e os Vampiros usavam um azul claro.

O General Arnaldo Schulz, passando revista à Companhia de “Comandos”

Desfile da Companhia Comandos do CTIG finaliza a cerimónia

Todos os grupos tinham chefes de equipa experimentados. Nos Diabólicos, a 2.ª equipa era chefiada pelo Furriel Mil. Azevedo, o Sargento Mil. Valente, casado com uma senhora libanesa da Guiné, e já na segunda comissão, comandava a 3.ª, o Furriel Mil. Marques de Matos a 4.ª e o Cabo Faria, conhecido por “Black”, que no recrutamento declarara a 4.ª classe como habilitações, a 5.ª e última.
Numa manhã apresentaram-se ao General Schulz, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Comandos fazem guarda de honra ao Palácio do Governador

Formaram na Praça do Império, frente ao Palácio. Cerimónia militar, tambores, Hino, bandeiras, populares e o inevitável desfile. Estavam oficialmente prontos os Grupos de Comandos totalmente formados no Centro de Instrução da Guiné, agora sob o comando do Capitão Rubim.
Depois almoçaram bacalhau à Brá6, a quantidade que quiseram, até os panelões ficarem rapados, e vinho tinto a acompanhar, com cheiro a cânfora, uma garrafa para cada parelha.

Durante os últimos dias do curso, os alferes comandantes dos grupos passaram a vida a correr para o QG, às vezes mais que uma vez por dia, para a 2.ª e 3.ª Rep, indagando sobre acampamentos referenciados, localização, número de guerrilheiros previstos, armamento, existência de guia, acessos. Estudaram as indicações da Repartição de Operações, escolheram os objectivos para o golpe de mão, que era o que mais os atraía, ouviram os guias recentemente capturados ao IN e começaram a tratar dos meios de transporte, aéreos nalguns casos, marítimos noutros.

Em Brá, J. Parreira, Cap. Saraiva, V. Briote e Marques de Matos. Setembro de 1965.

Os grupos arrancaram, um em cada semana. O Capitão Saraiva fez questão de participar em todas as saídas. Os Apaches foram para a zona de Bula, encontraram-se com o IN no mesmo trilho, houve ligeiro contacto que não passou disso, a guerrilha perseguida retirou. Na semana seguinte os Centuriões, os Diabólicos na outra.
Os Vampiros fecharam o primeiro mês de operações, com a primeira baixa dos novos Comandos. Um trilho na zona de Cutia, Oio, tinha uma bailarina preparada para dançar com o Soldado Florêncio.
Com a perna arrancada, foi-se em minutos, não sem antes se ter voltado para o Alferes Vilaça, comandante de Grupo que colaborava nos primeiros socorros, e lhe dizer com a voz já muito fraca, não há problemas, meu alferes, prá semana já devo estar operacional.

O Comandante Militar entrega os crachás ao 1.º Cabo Tudela e ao Soldado Florêncio Terêncio

Só tiveste uma oportunidade, Florêncio, disse um.
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Notas:
3 - Espingarda Automática AK 47 usada pela guerrilha.
4 - Nome de um jornalista estrangeiro dado a uma arma, depois desenvolvida pelas forças portuguesas. Leve e causando grande efeito psicológico no inimigo foi fabricada nas OGMA até 1975.
5 - Locução latina que significa "a sorte protege os audazes”. Fonte: Virgílio, Eneida, X, 284.
6 - Bacalhau à Brás

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Iusse, Oio

Final de tarde em Mansoa, o Grupo pronto para a estreia. Dentro das Mercedes tapadas com as lonas, aguardaram que o Capitão Saraiva e o comandante do Grupo acertassem os pormenores com o comandante e o oficial de operações do Batalhão. Para matar a espera, meteram-lhes lá dentro pão, queijo, marmelada e água. As viaturas da coluna para Bissorã já se tinham posto em movimento quando as deles arrancaram rápidas até se chegarem às outras.
Andaram uns quilómetros, poucos, até receberem a indicação para se aprontarem para saltar. Teria que ser muito rápido, as viaturas em que iam abrandariam só, as da frente continuariam no sentido de Bissorã.
Internados no mato esperaram o reagrupamento, a noite a fechar-se não lhes prometia tempo seco. Puseram-se em movimento, como lhes ensinaram.
O capitão, uma vez ou outra, saía do trilho, ficava-se a vê-los passar, surgia-lhes por trás, G3 apontada, era uma vez um comando, assim não vais longe, pá, vai antes para a manutenção. À frente o Marcelino segurava o guia, um guerrilheiro apanhado há mais de um mês, rédea curta nos pés, braços esticados nas costas, bem atados com uma corda preta de nylon, lenço preto entre os dentes, que todos os cuidados eram poucos.
O pelotão de apoio seguiu atrás até o trilho bifurcar, emboscou-se aí a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. No caso de lhe ser pedido, veria a melhor maneira de os recolher. O grupo deveria progredir até Biambe, procurar as casas de mato, tentar apanhar uma sentinela, explorar rápido e retirar a seguir.
Noite escura, sempre a chover, progressão lenta, paragens e mais paragens, guia a dizer que é lá, onde, ali já, nunca mais era.

Dois tiros. Detectados num trilho, mesmo junto à tabanca de Iusse.
Responderam à voz do Saraiva, atiraram e atiraram-se lá para dentro. No meio da escuridão esbarraram com 2 barracas, ninguém lá dentro.
O capitão não queria sair da zona, nem a tiro. A primeira operação a seco, nem pensar. Vamos aguentar aqui, dentro da mata, até o dia clarear. Os gajos sabem que nós estamos cá, nós sabemos que eles estão na mata aqui à volta. Vão acabar por se mostrar.

Não foi preciso esperarem que fosse dia. De um momento para o outro, começaram a ser alvejados. Fogo alto, a bater nas copas das árvores.
Uns minutos depois, começaram a ser flagelados com fogo de morteiro, do lado de onde tinham vindo. Das matas em redor, flagelavam-nos com tiros de armas automáticas e, para "compensar", recebiam morteiradas, do lado da bolanha.
Ao AN PRC/107, o Capitão Saraiva queria saber o que era feito do pelotão de apoio, mas este não dava sinal.

Esquadrilha de T6. Imagem da net.

Chegou uma parelha de T68. Um espectáculo seguido com expectativa. Pelo AVF9 ficaram a saber que era verdade o que julgavam. Do pelotão de apoio subiam granadas, viam o fumo atrás, confirmava um dos pilotos, a trajectória delas quase a pique, o estardalhaço a cair-lhes quase em cima, com a chuva. Estavam bem abrigados, dali não sairiam tão cedo a não ser que o morteiro da tropa amiga se calasse. A parelha dos T6 despejava rockets e rajadas de metralhadora sempre que via fumos a sair da mata. O fogo IN abrandou e o morteiro do pelotão calou-se.
O apoio aéreo ajudou-os, pareceu-lhes mais demorado que o que deveria ser, mas, por fim, retiraram em ordem, com o fogo inimigo, disperso mas mais ajustado, a dar-lhes algum trabalho, obrigando-os a percorrer, bem colados à água, as duas centenas de metros da bolanha, largamente distanciados uns dos outros10.
Respiraram fundo quando alcançaram a mata. E depois, nem bom dia nem boa tarde, quando passaram pelo pelotão, deixado para trás como se tivesse lepra, que regressassem sozinhos, connosco não, que temos pressa. A esgalhar, no goss-goss11, como diziam os guineenses, pelas margens do trilho.
A paragem era para descansarem um pouco, recuperavam a respiração, sentados, costas com costas. Ouviram-se palavras em crioulo, ásperas de um, suaves as do guia, que afinal não fora grande camarada para a tropa. Amarrado com cordas a uma árvore, olhos misteriosos, indefinidos, uma frase, duas ou três palavras, sempre baixas e doces.
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Notas:
7 - Rádio normalmente usado para comunicações terra-terra. O AN/PRC-10 estreou-se, em Março de 1951, na guerra da Coreia, ao serviço do Exército Norte-Americano. Fez parte da família de rádios AN/PRC-8 e AN/PRC-9, diferindo apenas na frequência e dos componentes que a determinavam.
8 - Aviões monomotores de hélice utilizados pela FAP no ataque ao solo, dispondo de suportes debaixo das asas para bombas, metralhadoras e ninhos de foguetes.
9 - Rádio para comunicação terra-ar.
10 - Do relatório da acção: "8/09/65, sector O3, Op. 'Flecha', Oio. Objectivo: golpe de mão a um acampamento a oeste de Cambajo Dando, chefiado por Augusto Pequim, segundo informação de um guia capturado. Avistado um elemento IN em fuga. Encontradas 2 barracas. Ataque e reacção do IN com rajadas de armas automáticas. Escuridão completa, retirada do grupo para um local a cerca de 200 metros, aguardando o clarear do dia. Por volta das 5 da manhã, nova entrada no acampamento, com vista à limpeza das barracas. O IN abriu fogo para dentro do acampamento. Encontrado um cunhete com granadas de mão, guias de marcha, documentos e peças de roupa. Destruídas cerca de 15 casas de mato."
11 - Andar rápido, depressa.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14857: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (V Parte): Brá, SPM 0418

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14477: Em busca de... (256): Raul Rodrigues Ferreira que foi chefe do Posto Estagiário do Quadro Administrativo da Colónia da Guiné (Alexandre Cardoso)

1. O nosso Camarada Alexandre Alberto Correia Cardoso, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969/70, enviou-nos o seguinte apelo.



Camaradas, 

Envio os dados de uma pessoa de que gostava de saber o que é feito dela neste momento.

O seu nome é Raul Rodrigues Ferreira e, segundo documento que mantenho na minha posse, era chefe do Posto Estagiário do Quadro Administrativo da Colónia, nos termos do artigo 126, nº 2 alínea b) da carta orgânica do Império Colonial de 06/01/1948, visto do tribunal administrativo. 

Boletim oficial nº 19/950, folha 177, chefe do Posto do Quadro Administrativo, recebeu guia em 19/6/1951 para se apresentar no Distrito de Recrutamento e Mobilização do Comando Militar da Província da Guiné, por ter sido convocado para o serviço militar como alferes miliciano e nomeado para desempenhar em comissão de serviço civil e dependente do ministério do ultramar como ajudante de campo de sua excelência, o governador da província de Bissau, 21/06/51, boletim oficial 25 folhas 309 e 321... 

Assim, agradeço toda e qualquer informação possível que me possa ser prestada.

Um abraço,
Alexandre Cardoso
Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 



terça-feira, 14 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14470: Tabanca Grande (457): Alexandre Alberto Correia Cardoso, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969/70

1. Hoje apresenta-se nesta nossa Tabanca Grande o nosso Camarada Alexandre Alberto Correia Cardoso, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969/70.


Camaradas, Fui mobilizado no R.I.10, em Fevereiro de 1969,com destino aos Adidos, tendo seguido para Encheia e, posteriormente, para Biambi.

Mais tarde tomamos o rumo a Buba onde fizemos escolta e segurança à capinagem.
Finda esta missão, seguimos para Inhala.
Eu era conhecido pelo “Cardoso Metralha”.

Um abraço,
Alexandre Cardoso

Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464






2. Camarada Alexandre Cardoso, em nome do Luís Graça de demais Camaradas integrantes desta nossa Tabanca Grande.  quero dar-te as boas-vindas. 

Com a tua prestação são já 4 os elementos do teu batalhão de que temos aqui notícias.

Os outros 3 Camaradas são, como podes constatar no link: 


- José Maria Claro, DFA, (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia) da CCAÇ 2464;

- António Nobre (ex-Fur Mil) da CCAÇ 2464;

- Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º) da CCS.

Resta-me desejar que se te lembrares de alguma(s) história(s) nos as envies bem com mais fotos que possuas no teu álbum de memórias.

Um abraço Amigo do MR.

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorã-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)


Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A  vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Recentemente,  na Guiné-Bissau, a 26 de setembro último, à noite, no troço da estrada que liga as povoaçoes Bissorã-Encheia [, v d. mapa, a tracejado, a vermelho], um miniautocarro (vulgo, "toca-toca") pisou um engenho explosivo abandonado, provocando a morte de 23 pessoas e diversos feridos.

Especulou-se de imediato se o referido engenho, descrito  como uma "mina antitanque" (, possivelmente uma mina A/C,  reforçada, ) remontaria ao tempo da "luta de libertação/guerra colonial", se à guerra civil iniciada a 7 de junho de 1998 (*)...

De qualquer modo, e para além do trágico balanço em mortos e feridos, para nós, antigos combatentes,  este brutal acidente veio-nos trazer logo, à memória, mais uma vez, o pesadelo das minas, e suscitar a inevitável pergunta: Encheia, Bissorã, onde é que isso fica no mapa ?

Com a devida vénia, fomos à página do nosso querido amigo e camarada, grã-tabanqueiro da primeira hora,  Carlos Fortunato (ex-fur mil trms,  CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71), e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga), "desenterrar" esta pequena crónica, já velhinha, sobre "a estrada do Biambe - 15/03/1970".  Estamos-lhe gratos e mandamos-lhe, daqui, uma alfabravo fraterno,

Reparo, entretanto, que a CCAÇ 2531 não está representada por ninguém na Tabanca Grande,  o que é uma pena...

Sempre solidários, e lutando contra ventos e marés, o Carlos Fortunato e demais amigos da ONGD Ajuda Amiga (de que fazem parte vários membros da nossa Tabanca Grande) prepararam já o próximo Contentor de Ajuda 2015, como se pode ler aqui, em notícia de 16 de julho último:

(...) A ONGD Ajuda Amiga,  depois de ter enviado e distribuído 2 contentores em 2014, prepara agora o envio do próximo contentor em 2015, o qual está planeado para ocorrer em Janeiro de 2015, 2/3 dos bens estão já em caixas etiquetadas e prontos a seguir. (...)

Está também em marcha a campanha contra o ébola:

(...) A Ajuda Amiga juntou-se aos que combatem o ébola e iniciou este mês [outubro de 2014]  a campanha de recolha de apoios e preparação para o combate preventivo contra o ébola, com o objectivo de evitar a sua disseminação à Guiné-Bissau, o que a acontecer será uma catástrofe para a Guiné-Bissau face ao pobre sistema de saúde existente, e será também uma porta que se abre para facilitar a sua entrada em Portugal. (...)

Contactos da Ajuda Amiga: telemóvel >  937 149 143;  Email: jcfortunato@yahoo.com

(LG)

2. Memória dos lugares > A estrada do Biambe - 15/03/1970 (**)
por Carlos Fortunato  [, foto atual à esquerda]

Numa das confraternizações realizadas no bar do aquartelamento do Biambe, entre a recém chegada CCAÇ 13, e a CCAÇ 2531, o capitão Goulão ofereceu um whisky ao alferes Pimenta, e este aceitou pedindo um whisky com gelo, mas o Goulão disse-lhe que gelo era coisa que não havia.
–  Não há aqui gelo, mas em Bissorã há. –  retorquiu o Pimenta.
–  Mas não há estrada, pois esta foi cortada, quando as pontes foram destruídas. –  explicou o Goulão.
–  Abre-se uma estrada. –  insistiu o Pimenta.

A estrada de Biambe para Bissorã estava efectivamente cortada, pois tinha sido destruída a ponte que fazia essa ligação; de igual modo estava cortada a ligação de Encheia para Bissorã, pois tinha sido também destruída essa ponte; assim apenas a estrada do Biambe para Encheia estava operacional.

A CCAÇ 2531 tinha feito recentemente um reconhecimento da zona e havia ficado com uma ideia por onde esta poderia passar, que era seguir pela estrada do Biambe para Bissorã, atravessar uma pequena zona de mato, abrindo uma ligação para a estrada Bissorã-Encheia, pois a partir desse ponto, não existiam pontes e poderia chegar a Bissorã facilmente.

As boas regras mandavam que a estrada fosse picada previamente, pois poderia estar minada, e que existissem grupos a fazer segurança ao longo da mesma, dada a sua proximidade da base do Queré, mas o alferes Pimenta era um homem dos rangers, e trazia consigo uma certa dose de loucura, e o capitão Goulão, era conhecido como o "maluco do Biambe", ou seja,  foi o mesmo que juntar gasolina com fogo, e lá se partiu para Bissorã para ir buscar gelo, com uma GMC à frente a servir de rebenta minas.

Loucuras que se cometem quando se é jovem...

A guerrilha alertada esperou o regresso da coluna, e flagelou a mesma, mas foi rapidamente colocada em fuga face à resposta dada.

Esta estrada serviria mais tarde para a CCAÇ 13 regressar a Bissorã.

A história da CCAÇ 2531 narra assim esta acção, a 15 de Março de 1970:

"Acção 'Borla'

Coluna auto Biambe-Bissorã com a finalidade de abrir o itinerário entre as duas localidades.

Forças empenhada - 03 G. Comb.

A acção teve início às 14h00, durou 04 horas.

Às 17h40 quando as NT regressavam ao Biambe, 01 grupo In com cerca de 40 elementos emboscou-as, utilizando morteiro 60 e armas automáticas, durante 15 minutos na região de Mansoa 2A8 (estrada) causando 02 feridos ligeiros (01 oficial e 01 sargento)."



Publicado em 29/02/2003, por Carlos Fortunato

[Portal CCAÇ 13 - Leões Negros]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13705: (In)citações (69): Quando a rotina é traiçoeira ou o flagelo das minas que continuam a vitimar civis na Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

(**) Último poste da série > 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13620: Memória dos lugares (273): Ganjola, destacamento de Catió, na margem direita do Rio Ganjola, vista pelo saudoso Victor Condeço (1943-2010), ex-fur mil mec armamento, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)...Foi também lá que tombou, em combate, em 23/1/1965, o lourinhanense José António Canoa Nogueira (sold, Pel Mort 942 / BCAÇ 619, Catió, 1964/66)