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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12234: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (20): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VII: Homenagem sentida ao Francesinho, o sold at António de Sousa Oliveira, natural de Lamelas, Ribas, Celorico de Basto, e emigrante em França, que morreu heroicamente em combate em 28/12/1967


Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Ao centro, o Francesinho, alcunha do sold at António de Sousa Oliveira,  transbordando de energia e de alegria.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Foto da placa de homenagem ao Soldado António Lopes (de alcunha, o Sargento, "devido aos seus modos bruscos" ) e ao Soldado António de Sousa Oliveira (de alcunha, o Francesinho, por ser franzino e emigrante em França). Os dois morreram em combate em 28/12/1967, juntamente com o alf mil Nuno da Costa Tavares Machado. Eram ambos, aqueles dois soldados, naturais de Celorico de Basto, embora de freguesias diferentes: o Lopes era de Bouça, Fervença; o Oliveira, era de Lamelas, Ribas.
Fotos: © José Neto (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011).

[José Neto: Foto, à esquerda, de 2006]


VII parte das memórias do primeiro-sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), o então 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (e hoje, capitão reformado) > O Francesinho 


O Zé Neto, que foi,  enquanto vivo, o patriarca da nossa tertúlia, quis partillhar connosco uma parte "muito significativa" das memórias da sua vida militar. Enviou-nos "trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265" que foi escrevendo,  "ao correr da pena" para responder a milhentas perguntas do seu neto Afonso, um jovem de 17 anos, "que pensava que o avô materno andou em África só a matar pretos enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo)"... "Coisas de família", comentava o Zé com o seu proverbial sentido de humor... Infeliezmente, ele já não está cá, entre nós, há 6 anos... Ficam as suas memórias, passadas a computador, e já publicadas, na I Série do nosso blogue. 


Com pouco mais de metro e meio de altura, franzino, quase imberbe, era um poço de força, energia e boa disposição que a todos espantava.

Geralmente, quando o pessoal regressava das duras caminhadas pelas matas e bolanhas vinha estafado e atirava-se para cima do catre para descansar. Essa não era a prática do Francesinho. Tomava um duche, ficava como novo e, com a sua concertina algo desafinada, espalhava alegria por toda a tabanca e arredores.

Era emigrante em França, para onde foi com os pais ainda criança e pela nossa Lei não estava sujeito ao serviço militar, mas quando atingiu a idade própria veio apresentar-se e foi incorporado.

Constava nos seus documentos que era analfabeto e agricultor e, no entanto, falava correctamente francês e era operário especializado da indústria metalomecânica.

O mais surpreendente, se é que o Francesinho não fosse ele uma permanente surpresa, era a correcção com que falava português com a pronúncia e os ditos da sua região, as terras do Basto.

A sua única preocupação era a de que, quando acabasse a tropa, as nossas autoridades lhe passassem um papel para apresentar no birú da fábrica onde trabalhava, justificando que esteve ao serviço da sua Pátria.

Desgraçadamente não foi preciso o papel, mas julgo que o tal birú bureau, escritório] da fábrica decerto deu por falta do portuguesinho, alegre e diligente, nascido na freguesia de Ribas, concelho de Celorico de Basto e falecido heroicamente em combate na Guiné Portuguesa.(**)

As últimas mãos que afagaram aquele rosto de menino, antes de se soldar a urna de chumbo que o trouxe de volta, foram as do Capitão Corvacho e a minha. Não é vergonha dizer que não contivemos as lágrimas que nos correram pela cara abaixo.

Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português, eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.
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Notas do editor:

(*)  Último poste da série > 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967

(*ª) António de Sousa Oliveira, sold at, nº mec. 06399965, natural de Lamelas, Ribas, Celorico de Basto, morreu em 28/12/1967, em combate. Está sepultado em Vale de Bouro.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Fotos do álbum do Zé Neto (1929-2007) Grupo 4 > Fotos diversas de instalações e atividade operacional... Não sei (porque as legendas são insuficientes) se nalgumas destas imagens aparece o malogrado alf mil Tavares Machado ou alguém do seu grupo de combate especial, Os Lordes. O Zé Neto, que exercia entºão as funções de 1º sargento da companhia, não era um operacional, pelo que as fotos que tirou (e que nos disponibilizoui em vida) foram todas tiradas dentro do quartel. Trata-se de um coleção de "slides", que foram posteriormente digitalizados.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné > Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Salancaur, a noroeste de Guileje e de Mejo, por onde passava o corredor de Guileje.

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011):


Quanto às operações no terreno, as nossas principalmente patrulhas de reconhecimento e nomadizações destinadas a manter o controle possível no itinerário de Gadamael Porto  decorriam sem sobressalto de maior, porque, era mais que evidente, o IN evitava o contacto para não denunciar os trilhos que utilizava nas suas infiltrações para o interior do território.

Mas, como já referi, era a partir de Guileje que se lançavam as operações conjuntas e de maior envergadura sobre o corredor de penetração dos turras. Para executar as ordens do Comando do Batalhão ou até do Sector (sediado em Bolama),  as unidades empenhadas deslocavam-se até Guileje, onde permaneciam o tempo necessário para a planificação, um, dois dias, e na hora H iniciavam a marcha para o alvo previamente referenciado.

Geralmente os resultados destas operações eram nulos ou pouco compensadores. Nós tínhamos um serviço de informações razoável, com a ajuda dos reconhecimentos aéreos, mas não éramos tão ingénuos que não soubéssemos que nesse aspecto o IN nos levava a vantagem da sua maior mobilidade, conhecimento do terreno e algumas cumplicidades de elementos das populações.

Além disso, o planeamento das operações era feito com as regras copiadas à pressa dos manuais clássicos e algumas leituras dos teóricos da guerrilha e, como tal, se não causavam autênticos descalabros nas nossas tropas isso se devia à bravura dos nossos soldados e ao discernimento dos seus comandantes que sabiam avaliar o momento em que deviam mandar às malvas o rigor dos papéis e actuarem em conformidade com o que deparavam no terreno.

Um pequeno exemplo: as cartas topográficas assinalam correctamente todas as características do terreno, ponto final. Ponto final,  no Alentejo ou nas Beiras. Na Guiné nem sequer chega a ser vírgula, porque quando a maré sobe o mar engole uma parte considerável da área total do território.

Por outro lado, as bolanhas são assinaladas como terreno alagado e vistas de avião até têm o aspecto de solo enlameado com farta vegetação, facilmente transponível. A realidade é bem diferente. Extensas zonas que, com os seus socalcos, tinham sido férteis campos de arroz, eram agora, quase abandonadas, autênticas armadilhas onde à mínima distracção um homem se afogava ou ficava atolado até ao pescoço.

Ganhou alguma notoriedade o diálogo entre o Celestino (1) e o Capitão Cadete. Numa operação em que as nossas tropas pretendiam desmantelar a fortificação que os turras tinham implantado em Salancaúr, o Celestino comandava comodamente instalado num avião Dornier. A companhia do Capitão Cadete estava, a pouco mais de duzentos metros do objectivo, a ser fustigada por fogo de canhão sem recuo do IN e o Celestino berrava pela rádio:
─ Avance! Organize o assalto pelo flanco esquerdo!!!

O Capitão, homem experiente, sabia que era de todo impossível dar mais um passo em direcção ao objectivo, estrategicamente defendido pelos lodaçais e, perante a insistência, gritou pelo microfone:
─ Venha cá abaixo e enterre o seu focinho na bolanha, seu…

Isto foi ouvido em todo a rede de transmissões das unidades da zona que, em sintonia, seguiam o desenrolar da operação e… nunca constou que o Capitão Cadete tivesse sido punido.

A zona de Salancaur, que era uma pequena península quando a maré subia, foi durante muito tempo um espinho cravado na nossa garganta. As informações diziam que os turras tinham ali instalado vinte e quatro canhões sem recuo (talvez um exagero), ao mesmo tempo que o reconhecimento aéreo dava conta de actividade rural por parte da população da tabanca nas redondezas,  o que punha fora de hipótese a destruição por bombardeamento da aviação.

Os comandos não desistiam de eliminar aquele importante ponto de apoio do corredor de Guileje e as surtidas das nossas tropas sucediam-se sem resultados palpáveis. Numa dessas operações, poucos dias depois do Natal desse ano de 1967 (sei a data precisa, mas não a quero referir) [28/12/1967, L.G.] , tivemos mais três baixas estúpidas, a juntar à de São João.

As nossas tropas saíram ao alvorecer e, excepcionalmente, os Lordes (2), do Alferes Tavares Machado, ficaram no quartel, constituindo a segurança das instalações. Menos de uma hora depois,  ouvimos um tiroteio aceso. Os turras tinham emboscado a frente da nossa coluna. Pelo rádio o Capitão Corvacho disse que não havia novidade, que estavam a reagir à emboscada e que o IN estava a retirar.

Em resposta o Alferes Tavares Machado disse que sabia por onde os turras iam fugir e que lhes ia dar uma coça. O Capitão mandou-o ficar onde estava pois a situação estava controlada. Qual quê? Reuniu os seus homens rapidamente e, ele de calças de ganga e camisola branca, embrenharam-se na mata em direcção ao sítio onde deflagrara o tiroteio.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Mais um "achado  arqueológico", descoberto recentemente... A placa com o nome do alf Tavares Machado que estava na parada do aquartelamento...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


 Pouco tempo depois, talvez meia hora, ouvimos novo arraial e não tivemos dúvidas de que agora eram os Lordes que estavam sob o fogo bem conhecido das Kalash. Posto ao corrente do sucedido, o Capitão retrocedeu ainda a tempo de enfrentar os turras e evitar uma chacina completa. Só não conseguiu evitar as mortes dos  (i) Alferes Nuno da Costa Tavares Machado,  (ii) Soldado António Lopes (cuja alcunha era o Sargento, devido aos seus modos bruscos) e (iii) Soldado António de Sousa Oliveira (o Francesinho).

Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português,  eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.

José Neto (2006)

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Notas do autor:

(1) Celestino era o nome com que depreciativamente tratávamos o comandante do BART 1896, sediado em Buba, personagem muito sombria da minha memória pois ameaçou-me com cinco punições, nunca concretizadas. Algumas vezes o trato por besta nesta narrativa, com alguma propriedade.

(2) Os Lordes era a designação dum Grupo de Combate formado por voluntários da companhia que recebeu instrução especial em Bissau com o fim de constituir o primeiro escalão de progressão e assalto, dado que a CART 1613 foi, inicialmente, companhia de intervenção à ordem do Comando Chefe e actuou em vários pontos do território.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12124: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (22): Onde e como estava afixada, na parada, a placa toponímica com o nome do Alf Tavares Machado [, da CART 1613, morto em combate, em 28/12/1967] ? (Pepito)




Foto: © AD - Acção para ao Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 25 de setembro último

Amigo Luís

O nosso "arqueólogo" de serviço, Domingos Fonseca, acaba de descobrir em Guiledje, nas suas prospeções, mais um achado.

Trata-se de uma tabuleta que diz "PRACETA ALFERES TAVARES MACHADO".

Para a colocarmos de pé, gostaríamos de saber qual era a sua localização, se estava fixada a alguma parede ou se tinha um pedestal. (*)

Abraço
pepito


2. Comentário de L.G.:

Segundo o poste P3182 (**), assinado pelo nosso colaborador José Martins, e com data de 7/9/2008, trata-se do nosso camarada...

(i) NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art, com o Nº Mecanográfico  07349365, pertencente à CART 1613  /BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia. [Guileje, 1967/68];

(ii) O Machado era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova, concelho de Coimbra;

(iii) Foi vítima de ferimentos em combate,  ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje; faleceu em 28 de Dezembro de 1967; foi inumado no Cemitério de Agramonte,  no Porto.

Se algum camarada tiver mais dados sobre  o malogrado  alf mil Machado e a localização da placa toponímica (, na parada, afixada a alguma parede ou colocada em pedestal), acima publicada, que nos contacte, por favor, por mail ou através da caixa de comentários deste poste.

A CART 1613 era a companhia do Zé Neto (1929-2007) e do Eurico Corvacho (, ex-cap., falecido em 2011).

O Alf Tavares Macahdo é um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné (por todas as causas) (***).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11425: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (21): Vamos reconstruir o edifício mais representativo do antigo aquartelamento de Gadamael Porto (Pepito)

Vd. também: 


(***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

Nome (de A a Z ) / Data / Causa (C=Combate; D=Doença;  A=Acidente)

1. Abílio Rodrigues Ferreira > 22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte > 23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão > 5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio > 21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado > 22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló > 16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel S. L. Almeida > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias > 6/10/66  C

28. Delfim Anjos Borges > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá > 20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida > 14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto > 6/1070 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo > 15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno da Costa Tavares  Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço > 5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). Causas de morte: A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); C=Combate; D=Doença. Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate. Os restantes morreram devido a acidente (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (1,3%).

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12055: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (18): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2o07) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (III): O Ramadão. Fotos.















Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 >  Cerimónia do Ramadão, a que assistiram, em respeitoso silêncio, os militares locais. Em 1967, o Ramadão começou a 2 de dezembro (este ano, 2013, começou a 9 de jukho e terminiou a 7 de agosto). Recorde-se que o  Ramadão é o nono mês do calendário islâmico, durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual, o quarto dos cinco pilares do Islão.

(...) "A palavra Ramadão encontra-se relacionada com a palavra árabe ramida, 'ser ardente', possivelmente pelo facto do Islão ter celebrado este jejum pela primeira vez no período mais quente do ano. É um tempo de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade, e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar. Neste período pede-se ao crente maior proximidade dos valores sagrados, leitura mais assídua do Alcorão, frequência à mesquita, correção pessoal e autodomínio. É o único mês mencionado pelo nome, por Deus, no Alcorão" (...) (Fonte: Wikipédia).

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).


2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (III). A cerimónia do Ramadão. Fotos


(...) Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.

As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse. Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo. (...)


Observação do editor: Não sei se a quarta foto, a contar de cima, a das mulheres, tem a ver com a cerimónia do Ramadão ou com a do fanado. Segui a ordem de numeração das imagens do ficheiro (, oriundas de "slides" digitalizados), ordem essa que pode ter sido trocada. (LG)
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Nota do editor:

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12051: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (18): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2o07) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado (feminino). Fotos.








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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 >  Festa do fanado (feminino), a que se associaram os militares.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).


2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado. Fotos

(...) Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti. (*)


3. Comentário, de 17 do corrente,  de Cherno Baldé, nosso amigo e irmão guineense [, foto à direita]:

(...) A guerra colonial travada num meio essencialmente rural/tradicional tinha, também, o condão de provocar efeitos secundários ou colaterais de âmbito sócio-cultural. Só algumas raras pessoas podiam perceber o alcance e a profundidade das transformações sociais que se operavam no seio dessas mesmas sociedades.

Neste caso concreto das imagens [do Zé Neto], o que salta a vista é o facto de as mulheres, no uso da liberdade pontual que a cerimónia [do fanado] autorizava nos idos anos 60, desafiarem a tradição e quebrarem o velho tabu do uso de roupas do sexo oposto e, sobretudo, de homens de guerra. 

No caso da Guiné, o facto não é meramente fortuito, pois tratava-se de uma fase de viragem histórica e que viria a ser bem aproveitado e vulgarizado pelo PAIGC no período pós-independência (...)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11909: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (16): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte IV : Os azarados sargentos...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 15 > Acácia em flor


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 14 > Aspeto parcial da tabanca e quartel


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 28 > Espigueiros


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto nº 29 > Espigueiros



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 30 > Espigueiros



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto nº 31 > Espigueiros


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do primeiro-sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), o então 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado) (*).

O Zé Neto,. como era conhecido entre nós,  é um dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa, incluindo as valiosas fotos do seu álbum . Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Por outr lado, fez 40 anos, a 22 de maio de 1973, que retirámos de Guileje.

2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte IV

O abrigo subterrâneo que nós, os sargentos, mais utilizávamos,  situava-se a meia dúzia de passos do coberto da messe, dado que parecia que os turras esperavam que acabássemos de jantar para abrir fogo [vd. planta do quartel de Guileje, 1966].

O acesso ao amplo salão enterrado era feito através dum pequeno poço para onde saltavam os que não tinham posto de combate definido e dali para o dito salão. A abertura era estreita e, se havia muita afluência, tornava-se necessário esperar vez para entrar, o que não deixava de provocar alguma confusão. Foi numa dessas confusões que levei com um furriel em cima do meu pé esquerdo. Andei mais de um mês com a perna engessada.

Doutra vez, nós ouvimos a orquestra a fazer o seu barulho para os lados do Mejo [a noroeste de Guileje] e as nossas transmissões entraram em acção a fazer as perguntas habituais à companhia de lá. Ao mesmo tempo eles faziam o mesmo para nós.

No reconhecimento veio a verificar-se que o ataque foi para despachar e chefe ouvir, porque os impactos eram bem visíveis num descampado a meio caminho entre as duas localidades. Não havia possibilidades de engano porque os quartéis estavam toda a noite iluminados.

Um dos ataques deu-se quando já lá se encontrava a CCAÇ 2317 que, em princípio, nos ia substituir. Nós, como é natural, transmitimos aos novatos a experiência acumulada de como safar o pêlo quando havia festivais. Só que o manual não previa a situação caricata que se passou.

Desencadeou-se a saraivada de morteiros e,  quando já todos estávamos recolhidos no abrigo, ouvimos alguém gritar:
─ Acudem-me!!! Salvem-me!!!.

Um furriel que estava mais perto da entrada do abrigo conseguiu entabular conversa com o aflito e disse-nos que era o 1º sargento da companhia nova [CCAÇ 2317] que foi apanhado na retrete quando o ataque começou e que não conseguia sair de lá.

Convém esclarecer que a latrina era daquelas em que o utilizador se põe de cócoras e defeca a poucos centímetros dos calcanhares. Para o sossegar,  dissemos-lhe que o cubículo estava protegido por um tecto de cibos e paredes fortes e que portanto não tivesse receio. O homem lá se aquietou, mas no nosso espírito subsistia a dúvida de qual seria o motivo que o impedia de dar uma pequena corrida e saltar para junto de nós. Quando a coisa acabou e as luzes se reacenderam,  fomos encontrar o 1º Sargento Martins preso por um pé no sifão da latrina.

Ao primeiro estrondo ergueu-se e, com a atrapalhação, escorregou no serviço que estava a fazer e calçou a cagadeira. Não pudemos conter as gargalhadas, pois o senhor continuava a tentar tirar o pé e não conseguia. Com calma, acabou por ser fácil. Bastou flectir a perna, ajoelhar-se e o calcanhar escorregou no bem lubrificado tubo do sifão.

Um dos efeitos mais aborrecidos das flagelações, a partir da altura em que eles tinham a pontaria mais afinada, era a destruição do forno da padaria. Ficávamos a pão duro, ou sem ele, uns três ou quatro dias até que se reconstruísse. Nunca foi atingido directamente, mas qualquer granada que rebentasse nas redondezas provocava o efeito de sopro suficiente para mandar com a frágil abóbada abaixo.

Durante uma das reconstruções eu estava por ali a dar os meus palpites quando o Soldado Fernandes se aproximou e me disse:
─ Estes gajos não percebem nada disto.
─ Então percebe você?
─ Eu já da primeira vez disse que punha isso em pé e só se lhe acertassem em cima é que desabava, mas eles é que acham que são os mestres ─ respondeu o Fernandes, cujos registos indicavam a profissão de estucador.
─ Ora bem, então você vai dizer o que entende que se deve fazer ─ ripostei.
─ Assim não. O meu sargento manda-os sair daqui, eu escolho um servente e enquanto eu estiver a trabalhar, esses (os pedreiros) não põem aqui o cu. Já tentei ensiná-los, mas correram comigo. Agora também não quero que eles aprendam a técnica, está bem?
─ Vamos a isso ─ Concordei.

Isto foi por volta das oito da manhã e à hora do almoço estava o forno erguido. O Fernandes pediu para que lhe levassem lá a refeição, pois queria guardar a obra dos olhares dos espiões, dado que só da parte da tarde é que rebocava com barro o exterior da cúpula. Antes do jantar a lenha já ardia dentro do novo forno e nunca mais desabou… Segredos do ofício.

Para concluir a descrição desta faceta da luta, as flagelações, resta-me acrescentar que durante o ano que estivemos em Guilege tivemos duas baixas mortais: uma criança, atingida pelos estilhaços duma granada; e um adulto, irmão do Régulo,  que, possivelmente, foi atingido pelo nosso fogo. Na investigação que foi feita, em que tomou parte o próprio irmão, conclui-se que ele, a vítima, devia estar no espigueiro, fora do perímetro fortificado, quando estalou o ataque e, ao querer saltar o talude, foi baleado por um dos elementos da Autometralhadora Fox que guarnecia aquele flanco.

Entre o pessoal militar e militarizado (os milícias) fui eu o mais castigado pelas flagelações, pois, como já referi, andei uns tempos com a perna engessada.

(Continua)
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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11654: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (15): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte III : O Dauda (filho do vento e mascote da companhia), o 1º cabo escriturário Cardoso, o faxina Rochinha, e...o batismo de fogo, no final das chuvas, em outubro de 1967



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O quarto do Zé Neto... Na mesinha de cabeceira, uma foto da esposa Júlia, de quem tem três filhas. A Júlia é nossa tabanqueira.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A secretaria... [ O Zé Neto deixou-nos o seu álbum fotográfico (, obtido a partir dos seus diapositivos), organizado por temas, mas as fotos, individualmente, não estão legendadas. Não sei se o 1º cabo Cardoso, escriturário, aparece aqui na foto. Também não nos parece que o Cap Corvacho esteja neste grupo, segundo informação do cor art ref  (e nosso tabanqueiro) Nuno Rubim, que é do curso a seguir ao dele. O Corvacho também já morreu].



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O 2º sargento José Neto (que exercia as funções de 1º sargento da compnhia) junto a um abrigo e a uma viatura do Pel Rec Fox 1165, que era comandado pelo alf mil cav Michael Winston Schnitzer da Silva.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O obús 8.8 (1)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O obús 8.8 (2)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) >  O Dauda, a "mascote da companhia" (1), com outros meninos da Tabanca, a brincar numa poça de água, junto à capelinha...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda,  a "mascote da companhia" (2)... Vivia praticamente com os militares...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O Dauda, a "mascote da companhia" (3)... Dizia-se, na caserna, que era cara chapada do pai... O Dauda terá morrido há 4 anos atrás, com cerca de 45 anos... Era casado e pai de duas filhas. A família vivia em Bissau.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Dauda era filho de Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. O pai biológico  de Dauda, dizia-se,  era um militar português que passara por Cacine, em 1965/66.  O Dauda teve no Zé Neto um protetor. E, história espantosa, em janeiro de 2010, a Júlia Neto, viúva do cap ref José Neto (1929-2007), foi conhecer a esposa e as duas filhas do Dauda (, entretanto falecido ainda há pouco tempo), em Bissau.

Sobre este reencontro, escreveria o Pepito mais tarde, no nosso blogue: "Quando o Capitão começou a colaborar com a Iniciativa de Recuperação de Guiledje, a única coisa que pediu foi: 'Procurem e encontrem-me o Dauda, filho abandonado por um militar que tinha estado neste quartel e que sempre tratei como um filho e que gostaria de voltar a ver'. Para ele, Capitão Neto, com aquele coração enorme que tinha, nunca conseguiu perceber como se pode abandonar uma criança pequena e desinteressar-se definitivamente dela. A sua mulher Júlia Neto veio a Guiledje e encontrou a mulher e as filhas do Dauda e … perfilhou-as imediatamente. A família Neto, toda ela, tem um coração de ouro".

E com o Dauda que começa a III parte das memórias de Guileje, da autoria do Zé Neto, e que já publicámos na I Série do nosso blogue, em janeiro de 2005. O Zé Neto úm dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa. Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Faz há 40 anos, a 22 de maio de 1973, que retirámos de Guileje.



2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte III


(i) Dauda,  filho vento e mascote da companhia


Como já escrevi, eram todos de etnia fula, de raça negra, com excepção de um menino mestiço.
Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa.

Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas…

Foi pela minha mão que o miúdo deu os primeiros passos. E foi por ele que, suponho, arrisquei a vida quando, num ataque bem apontado, as morteiradas atingiram a zona da cozinha, lenheiro e depósito de géneros.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 >  Uma dos dos abrigos enterrados... Na foto vê-se uma bazuca pendurada e, do lado direito, a máquina de costura do alfaiate da tabanca...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Ao correr para o abrigo ouvi o choro duma criança. O Viegas tinha jantado connosco, como de costume, e tive a quase certeza de que era ele. Retrocedi e apanhei-o junto ao coberto que servia de messe de sargentos. Arrastei-o até à entrada do abrigo e, uns instantes depois, uma granada explodiu no monte de lenha a menos de quatro metros de distância, projectando cavacas em todas as direcções.

Dos meus troféus faz parte a empenagem que sobrou dessa granada, que nunca limpei, e que a minha mulher resmunga que só serve para sujar o móvel onde está. Não é que suje, mas também nunca me apeteceu contar-lhe a história desse bocado de ferro com alhetas e terra empastada.

Quanto à actividade militar, a das tropas operacionais era intensa e da minha parte não o era menos. O Capitão Corvacho, ainda em Brá, dividiu o comando da companhia em duas partes distintas: a parte operacional era dirigida por ele e a administrativa por mim. Basta referir que o meu Registo Geral (caderno mensal em que são escriturados todos os homens e as suas mais diversas situações) tinha muito perto de trezentos títulos.


(ii) O meu escriturário, o 1º cabo Cardoso, empregado de sapataria em Viseu, e meu braço direito

Creio que é a terceira vez que o trago a esta história, mas não posso deixar de salientar a enorme ajuda do meu escriturário, o 1º Cabo Ramiro Pais Cardoso, um jovem que antes da tropa era empregado duma sapataria em Viseu, sua terra natal, cuja dedicação e competência me levaram a decidir e recomendar ao nosso Capitão que, durante a minha licença na Metrópole, ele ficasse a exercer as minhas funções, prescindindo da regulamentar substituição pelo 2º Sargento C... P..., que só constou no papel e nos actos imprescindíveis… tais como dispensa de serviço de escala.

(iii) O Rochinha, meu fidelíssimo faxina, manufactor de calçado na vida civil, básico na tropa por ter os pés chatos...

E aproveito também para prestar o meu profundo apreço pelo meu ultra zeloso faxina pessoal, o Rochinha, de seu nome completo António Casimiro da Rocha, natural de Passais, freguesia de Fiães, concelho de Vila da Feira. Dizia-se mal classificado pela tropa, pois era manufactor de calçado e não sapateiro como constava nos seus documentos e roía-se todo por ter sido privado de especialidade, ficando portanto básico, só pelo facto de ter os pés chatos.

Cuidava de mim e dos meus pertences com uma dedicação extrema. Um dos seus cuidados era fazer-me o café às horas certas de acordo com a nossa combinação. Ficou histórica a sua presteza quando, durante os dois dias de viagem marítima de Buba para Gadamael, às horas marcadas me aparecia o Rochinha com o cafezinho fumegante.

E o único convidado para a bica que ele admitia era o nosso Capitão e o Dr. Oliveira Martins quando estava connosco. Fartou-se de me pedir para o deixar ir a uma operação, mas sempre lhe neguei a vontade, porque, se por um lado lhe estava vedada essa actividade, por outro eu não podia prescindir da sua colaboração.

De parceria com o Ramiro, que o ensinou a escrever à máquina, dava volta à papelada mais trivial com segurança e a contento de todos, pois nunca abusou da sua relativa proximidade com o comando da companhia. Antes pelo contrário. Algumas vezes ajudava um ou outro camarada menos expedito a trazer-me este ou aquele problema que necessitava da minha intervenção.


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Mais um dos abrigos enterrados... e local de brincadeira da criançada...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

(iv) O nosso batismo de fogo já no final das chuvas, em outubro de 1967

O resto da estação das chuvas, de Junho a Setembro [de 1967], foi passada na expectativa das tradicionais boas vindas que os turras costumavam dar às guarnições novas.

Havia informações de que o IN tinha deslocado para aquela zona dois bigrupos (*) e possivelmente, tal como nós, andavam a adaptar-se ao terreno. Até que, em meados de Outubro, tivemos o primeiro ataque, muito mal realizado, graças a Deus.

Primeiro, já tínhamos conhecimento dos seus movimentos e da hora provável da flagelação e segundo, acercaram-se demasiado do perímetro fortificado e ficaram expostos ao fogo das nossas armas ligeiras, principalmente dilagramas (1) e bazucas. Além disso as suas granadas de morteiro, embora tivessem o alvo constituído pelas coberturas de zinco das nossas instalações iluminado pelo luar, caíram todas longe da tabanca, sem causar o mínimo estrago.

Em contrapartida, deixaram no terreno algum armamento, peças de roupa ensanguentada e sinais de uma retirada pouco organizada. Soube-se depois que esta acção foi o baptismo de fogo da maior parte dos atacantes, uma espécie de exercícios finais de recrutas, mas a sério. E para mim também o foi, já que a campanha do Lap Sap, de 1952, em Macau (2), não conta, porque não cheguei a sentir o calafrio provocado pela incerteza de onde irá cair a próxima?

Tínhamos acabado de jantar e cada qual foi para o seu buraco, porque, como já referi, estávamos à espera do ataque. No meu quarto-abrigo a segurança era mais que suficiente e dispus-me a escrever um aerograma para a minha mulher a mentir-lhe, como sempre fiz em relação aos perigos que corria, dizendo-lhe que estava tudo bem comigo, que estivesse descansada e por aí fora.

Ao estrondo da primeira granada de morteiro que caiu lá para o fundo da pista seguiu-se o corte da electricidade, já programado. Acendi a minha lanterna de pilhas e fiz um leve risco no alto da folha para assinalar o acontecimento. Com o continuar dos rebentamentos, começou a ouvir-se o som característico das costureirinhas e das Kalash, o que pressupunha a intenção de flagelação seguida de tentativa de assalto.

Até essa altura eu tinha a convicção de que a história de medo de pôr os cabelos em pé não passava disso mesmo, um rifão como outro qualquer. Mas a veracidade estava bem presente. Por momentos senti um arrepio de frio na espinha e os cabelos, e pêlos dos braços, a eriçarem-se.

Compreendi rapidamente que estar ali sozinho não me era emocionalmente favorável e arrastei-me até ao abrigo fortificado que ficava por trás do meu quarto onde encontrei os elementos da guarnição muito calmos a fazerem uns disparos tiro-a-tiro pelas seteiras ao mesmo tempo que comentavam:
- Estes gajos são loucos. Se avançam para cá das árvores caiem todos como tordos.

Ao fim de muitas horas, quando o silêncio se consolidou, fiquei pasmado ao olhar para o meu relógio e constatar que a coisa tinha durado menos de quarenta minutos. Acompanhei o Capitão na volta pelos abrigos e palhotas da tabanca e certificámo-nos de que o ataque nem uma beliscadura causou.

Em conversa sobre o acontecido eu disse-lhe que me tinha arrepiado com medo, embora sabendo que estava em local seguro. Respondeu-me que também ele já tinha passado por isso, mas que, com a continuação, uma pessoa se habitua.

Entramos assim num ciclo de duas campanhas: eles executavam a sua de noite e nós a nossa de dia. Quanto aos ataques que sofremos daí para o futuro, e foram muitos, apenas quero salientar, para além do que descrevi sobre o Viegas, dois ou três pormenores:

Na gíria das transmissões essas acções do IN eram alcunhadas de festival o que se estendeu ao dia-a-dia do pessoal. Muitas vezes as nossas sentinelas detectavam o som da saída das granadas do tubo e disparavam uma rajada ao mesmo tempo que gritavam:
-Festival!!!

Quando a primeira granada chegava já estava quase tudo abrigado. Uma ocasião tal não sucedeu e se alguém pode acreditar em milagres, esses são o Capitão Corvacho e o Alferes Michael (3). Ao correrem para junto da posição do Morteiro de 81 mm, seu posto de combate na circunstância, por pouco não foram atingidos por qualquer coisa que não identificaram de imediato. Quando acabou a flagelação constatou-se que essa coisa era uma granada de morteiro que não explodiu e estava semi-enterrada no solo.

Tomaram-se as precauções necessárias e no dia seguinte a granada foi puxada por um extenso cabo de aço. Mas antes, como bom artilheiro, o Capitão mediu o ângulo de chegada do projéctil com o qual calculou a direcção e a distância de onde tinha sido disparado, para futuras retribuições (4).

Providencialmente o turra tinha-se esquecido de sacar a cavilha de segurança da espoleta antes de meter a granada no tubo!!!

(Continua)

[Subtítulos da responsabilidade do editor]
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Notas do autor


(1) Dispositivo de Lançamento de Granadas de Mão, um engenho português que se adaptava ao cano da espingarda automática G3. Com uma munição especial, facultava o lançamento de granadas de mão a distâncias consideráveis em tiro curvo. Era terrivelmente eficaz quando lançado sobre as copas das árvores, pois as granadas explodiam e fragmentavam-se em direcção ao solo.

O seu uso exigia do atirador muita perícia e, principalmente, concentração, pois se na confusão fosse utilizada munição normal a granada explodia imediatamente. Deu-se um percalço destes com um atirador da CART 1612 que matou dois soldados.

(2) Incidentes das Portas do Cerco que isolaram Macau durante três semanas, nos quais os chineses mataram o Soldado Moçambicano Jacinto Mundau.

(3) Michael Winston Schnitzer da Silva [, alf mil cav, comandante do Pelotão de Reconhecimento Fox nº 1165, ou Pel Rec Fox 1165]


(4) O Morteiro é uma arma de tiro curvo, mas diferente dos obuses ou canhões. Grosso modo pode dizer-se que o projéctil descreve uma trajectória parecida com um V invertido. O alcance da arma (distância para o alvo) é obtido pelas tabelas de inclinação do tubo de lançamento e variação das cargas propulsoras. Assim, identificado o projéctil descobre-se com facilidade a arma que o lançou. Com uma arma igual, ou outra com os ajustes calculados, há muitas probabilidades de fazer um disparo inverso e atingir as redondezas da posição da arma inimiga.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11635: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (14): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Partes I/II: Formação e mobilização da companhia, que foi render a CCAÇ 1477