Mostrar mensagens com a etiqueta CART 2340. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CART 2340. Mostrar todas as mensagens

sábado, 1 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga



Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69)




Actividade inimiga

Fevereiro – 1968

Dia 11 – Às 09h50, um grupo IN, estimado em 15 elementos, emboscou com M60, LGF e armas automáticas, um grupo de combate da CART, no itinerário Jumbembem - Farim, durante 10 minutos, causando 6 feridos ligeiros.
O IN retirou para sul, devido à reacção das NT, com baixas prováveis.

Dia 14 – Às 12h40, um grupo IN não estimado, flagelou com M82, M60, LGF, PM e armas automáticas, o destacamento de Jumbembem, durante 15 minutos, sem consequências.
Durante a operação Amigo Bom, elementos IN a Oeste da Bolanha de Sinchã Mansaroto, pressentindo as forças da CART a Leste da mesma bolanha, por motivo do PCV as sobrevoar, fez fogo de reconhecimento, não tendo as NT respondido.

Dia 15 – Durante a operação Amigo Bom, o IN pressentido a aproximação dos 2 grupos de combate da CART, que tomavam parte na operação, abandonou o seu acampamento de Sinchã Mansaroto, e emboscou as NT com LGF, MP, ML e armas automáticas, quando as forças da CART, se encontravam dentro do acampamento destruindo as casas de mato, meios de sobrevivência, munições e armamento.
Desta acção, resultou para as NT, 1 morto, 4 feridos (2 soldados nativos e 2 carregadores). O IN continuou a bater com fogo intenso o seu acampamento, pelo que as NT, retiraram desarticuladas, abandonando o morto e os feridos. O IN só se reduziu ao silêncio perante a acção do APAR.

Março – 1968

Dia 26 - Às 22h20, no deslocamento para a Operação Onça Parda, foi accionada uma mina A/C, pela última viatura, no itinerário Jumbembem ­Cuntima, tendo causado 1 morto (condutor), e 12 feridos ( 3 graves) à CART.


Unimog da CART 2340 destruído por mina A/C


Abril – 1968

Dia 7 -1 grupo de combate, picou e patrulhou a estrada Canjambari-Jumbembem, tendo detectado e levantado cerca das 14h30, uma mina A/C TMD­ - URSS e cerca das 17h00, a 500 metros da primeira, outra mina idêntica.


Acção de picagem na estrada de Jumbembem


Facto importante:

Visita do General Spínola.

De surpresa como de costume, apareceu e disse-me: - Vamos lá ver o seu mapa. E lá estivemos, tendo que lhe relatar toda a actividade das NT e IN.
Segundo fontes o capitão Almeida Bruno, teria desabafado:
- Nunca sabemos onde ele vai, só quando o helicóptero está no ar é que ele diz.
Antes da referida notícia, tinha recebido via rádio uma mensagem do Comando do Batalhão fazendo uma pergunta meio velada. Só depois da referida visita, deduzi que a mensagem recebida se destinava a saber se alguém importante tinha visitado a Companhia.
Era norma do Governador visitar as sedes das companhias e só depois ir à sede do batalhão. Este procedimento custou as carreiras a muitos oficiais superiores.
O seu optimismo não coincidia com a realidade.

Julho – 1968

A CART detectou e levantou uma mina A/C TMD-URSS, no itinerário Jumbembem-Farim, perto da ponte sobre o Rio Lamel.

Agosto – 1968

Dia 15 - Durante a operação Caldo (reabastecimento), 1 grupo de combate detectou uma mina A/C TMD-URSS, no itinerário Jumbembem-Farim, perto do rio Lamel.

Janeiro – 1969

Dia 14 - Às 23h 15, grupo IN não estimado, atacou o aquartelamento de Canjambari, durante 45 minutos, com canhões s/recuo, morteiros 82, morteiros 60, metralhadoras pesadas, metralhadoras ligeiras, lança granadas, foguetes e armas automáticas, tendo causado às NT, 1 ferido grave, 3 feridos ligeiros e danos materiais.
O IN retirou com baixas prováveis sendo-lhe capturado o seguinte material:

11 Granadas M82
4 Granadas LGF P27
1 Granada LGF 8,9
1 Granada LGF RPG2
1 Carabina Simonov
1 Mina A/P PMD6
4 Granadas de mão defensivas Fl
2 Carregadores PM M25
2 Carregadores PM SUDAYEV
1 Rolado de NP GORYONOV


Material capturado ao IN pela CART 2340

Fotos: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.
Comentário:
Cerca de 11 meses de paz podre no que se refere a acções IN, ao nosso aquartelamento, tivemos este primeiro feio e forte. Iniciou-se ao início da noite e prolongou-se até madrugada.
O único soldado ferido gravemente com consequente evacuação para a Metrópole, teve o tendão de Aquiles cortado por um estilhaço, quando se levantava da cama. Fim de comissão. Era o soldado mais baixo em estatura da CART.

Cenas:
Um soldado nativo quase a chorar dirigiu-se ao alferes, porque o seu morteiro 61, se tinha enterrado no solo, devido a não ter utilizado a base do mesmo. A arma encontra-se de tal forma enterrada, com cerca de 3 cm visível. Não há dúvida que se ela estivesse bem apontada o estaria sempre.

No abrigo em que eu me encontrava, aconteceu que uma granada de canhão sem recuo entrou pela seteira e bateu no cibe que a enquadrava, os estilhaços varreram toda a largura do abrigo, furando um cantil e produziram vários furos nos bidões de protecção da entrada.
Instantes antes o alferes Silva e o furriel de transmissões tinham-se abaixado para carregarem as G3. O alferes passou por mim e só dizia repetidas vezes: - Onde é a saída? Lá o conduzi pela mão, nem sei porquê.
Os tímpanos dos intervenientes estiveram inoperacionais por uns dias.

Cinco granadas de 82, caíram junto aos barris de gasolina sem estourarem. Sorte a nossa.

Um dos soldados em plena parada fazia uso do seu morteiro, quando ele aqueceu e se tornou insuportável para ser seguro, o soldado despiu os seus calções, única peça do seu vestuário e com eles a servir de protecção continuou a disparar.

A iluminação do aquartelamento ficou reduzida a um quarto. No dia seguinte nunca pensei que os fios eléctricos estivessem cortados em dezenas de lugares.

Fevereiro – 1969

Dia 26 - Às 09h30 o IN reagiu a uma emboscada montada por forças da CART, em Dando Mandinga, sem consequências para as NT, o IN sofreu 1 morto e outras baixas prováveis e a apreensão de documentos e uma carabina Simonov.
Enquanto as NT batiam a área o IN emboscou por duas vezes sem consequências e foi posto em fuga perante a reacção das NT.
Quando as NT regressavam ao quartel foram emboscadas nas imediações mesmo com M60, LGF, ML e armas automáticas, causando 5 feridos graves e 2 ligeiros.

Comentários:
Um mau e detestável hábito, consistia em cortar as orelhas aos elementos IN abatidos e exibi-las, tal como no Oeste americano os índios escalpavam os brancos colonizadores.
Um cabo atirador assim procedeu, e como castigo divino ou de quem superintende estas coisas (Deus), na emboscada sofrida pelas nossas tropas, viu o seu dedo polegar e indicador serem ceifados por uma bala inimiga.

Nesta mesma emboscada um dos nossos soldados recebeu o impacto de um estilhaço no seu carregador, outra intervenção divina que o poupou. São coisas…

Acontecia que numa altura em que com êxito tínhamos conseguido algo em relação ao IN, tínhamos em contrapartida sofrido duas emboscadas.
Tínhamos a moral muito em baixo.
À hora da refeição da noite (para mim ceia, para outros jantar), juntamente com os alferes e a fim de moralizar as tropas, decidi deslocar-me a Jumbembem, para saber da nossa situação de Companhia diminuída, perante o COP 3, comandado pelo major Correia de Campos.
Propus aos alferes em regime de voluntariado, deslocar-me à referida localidade nessa noite e sem picar o caminho. Todos foram voluntários. Evidentemente que um dos oficiais teria que ficar em Canjambari, pelo que nomeei o que tinha de ficar. Insisti que o regime tinha de ser de voluntariado e que tal procedimento se tinha de aplicar aos furriéis e soldados.
Eu tinha consciência, de que se algo de mau acontecesse eu seria o culpado. Porquanto a ordem não vinha de cima.
Antes do embarque nas viaturas, surpreendi um dos furriéis, considerado o melhor operacional da Companhia, a incentivar os soldados a não se oferecerem.
Tal furriel de nome Pável Valente, já estava de saída da Companhia devido a punição do CTG, pelo que acrescentei: - Se não se cala sou eu que lhe acrescento outra porrada.

Outra cena:
Quando entrava na viatura Mercedes, ouvi lamúrias, era outro furriel que se queixava nos seguintes termos: - E logo hoje que faz um ano que uma das nossas viaturas foi pelos ares com uma mina, é que o nosso capitão se propôs a isto. Ele não se apercebeu da minha presença (era noite), pelo que eu disse: Furriel (não cito o nome), isto é só para voluntários pelo que está dispensado.

Outra atitude do meu furriel açoriano Leonardo (valente rapaz): - Meu capitão, um soldado meu não quer ir mas em rebento-lhe as trombas, todos os meus são voluntários.

A viatura que me transportava, uma das Mercedes antigas tinha o hábito de enviar uns rateres (estampidos do motor provocados por deficiências de ignição/ combustão) de vez em quando.
Antes de iniciarmos o percurso, disse ao radiotelegrafista para avisar Jumbembem da nossa ida.

Assim iniciamos o percurso, eu, vestido de camisa e calções, todo fresco.
Quase a chegar ao nosso destino, fomos atacados, atirei-me da viatura para o chão sentindo um soldado a aterrar por cima, e logo me dei conta que algo estava errado. Mandei suspender o fogo, e verifiquei que não me enganava, era a companhia periquita de Jumbembem que atirava sobre nós.
Desfeito o engano eu com um sorriso amarelo, perguntei se era forma de receber os amigos.
Pensavam que eram turras. E eu perguntei apenas, se os turras atacavam de viaturas com os faróis acesos. Outra coisa que os fez proceder assim foi que a minha viatura, a tal Mercedes, aquando na proximidade da ponte sobre o rio Jumbembem, decidiu emitir um rater que se assemelhava à saída de um morteiro.

Fui recebido pelo major Correia de Campos, visivelmente satisfeito com a nossa valentia, que me informou ter enviado para o CTG, a situação da minha Companhia que considerava inoperacional, e pedir a sua substituição. (Que só se verificaria em Junho).
Toda esta confusão foi originada por as transmissões terem falhado, como já era apanágio.

Em todas as operações eu tinha o cuidado de as experimentar antes, e quase sempre em pleno campo de batalha elas falharem, como já foi relatado na Operação Amigo Bom
Esta acção teve um aspecto positivo nas nossas relações com o COP 3.

Abril – 1969

Dia 9 - Elementos IN em número não estimado, reagiram a forças da CART e Pelotões Nativos 53 e 65, emboscados na região de Dando Mandinga, sem consequências.
As NT prenderam um elemento IN com documentos.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil CART 2340
____________________

Nota do co-editor CV

Vd. o primeiro post da série de 30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alterações ao Dispositivo


Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69)







Emblema da CART 2340 de autoria do Cap Mil Ferreira Neto


História da CART 2340
Mobilização

Em 3 de Maio de 1967 começaram as Mobilizações Individuais dos quadros que constituiriam Unidades com destino ao Ultramar, entre as quais, a CART 2340.

Em 27 de Setembro de 1967, o pessoal destinado à CART 2340, fez a sua apresentação no GACA 2, indicado como Unidade Mobilizadora. Aí teve a sua instrução a CART, que foi concluída em 3 de Outubro de 1967.

A 6 de Novembro de 1967 a Unidade completou-se com os elementos especializados, iniciando a IAO que terminou em 17 de Dezembro de 1967.

Deslocamento para o CTIG

Cerca das 02h00 do dia 10 de Janeiro de 1968, o pessoal foi transportado de viatura até à Estação de Torres Novas - Golegã, e daí via Férrea em Combóio Especial até ao Cais da Rocha de Conde de Óbidos, onde chegou cerca da 07h00. Às 10h00 iniciou-se o embarque da Companhia no T/T "UIGE".

Cerca das 12h00 o navio largou rumo à Guiné onde chegou no dia 15, pelas 06h00.



Navio Uige > Transportou a CART 2340 para a Guiné e, por coincidência, trouxe-a de regresso à Metrópole terminada a sua comissão de serviço.

A CART, em virtude de não ter alojamento em Bissau, embarcou num navio, cerca das 18h00, com destino a Bolama, onde se manteve durante 6 dias, findos os quais foi transportada via marítima para Bissau. Nesta cidade permaneceu aquartelada em Brá, durante 24 horas.

No dia 23, pelas 02h00, deslocou-se via auto para o cais de Bissau, onde embarcou na LDG "Alfange", com destino a Farim.
A partida efectuou-se às 07h00, tendo chegado a Farim às 08h00 do dia 25 de Janeiro de 1969. Aí, após refeição ligeira (RC), partiu às 15h00 via coluna auto para Jumbembem, destacamento onde deixou a guarnecer dois grupos de combate. O restante pessoal, seguiu para Canjambari, aquartelamento destinado à sede da Companhia, onde chegou às 19h00.
Nesta localidade, encontrou como reforço um grupo de combate da CCAÇ 3, que já existia do antecedente.

Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340

Foto: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.

Alterações ao Dispositivo

Em 24 de Janeiro de 1968, a CART encontrava-se distribuída da seguinte forma:

Canjambari:
2 Grupos de Combate da CART
1 Grupo de Combate da CCAÇ 3

Jumbembem:
2 Grupos de Combate da CART
2 Secções de Soldados Nativos

Em 21 de Junho de 1968:

Canjambari:
2 Grupos de Combate da CART

Jumbembem:
2 Grupos de Combate da CART
2 Secções de Soldados Nativos
O Pelotão da CCAÇ 3 recolheu à sua companhia.

Em 10 de Setembro de 1968:

Canjambari:
2 Grupos de Combate da CART

Jumbembem:
Grupo de Combate da CART
15ª Companhia de Comandos

Cuntima:
1 grupo de Combate de CART
1 grupo de combate da CART, marchou para Cuntima como Reforço à guarnição daquela localidade.
A 15ª Companhia de Comandos reforçou Jumbembem.

Em 7 de Outubro de 1968:

Canjambari:
1 Grupo de Combate da CART

Jumbembem:
2 Grupos de Combate da CART
15ª Companhia de Comandos

Cuntima:
1 Grupo de Combate da CART
Um grupo de combate marchou de Canjambari para Jumbembem, em virtude da 15ª Companhia de Comandos ser considerada inoperacional.

Em 18 de Outubro de 1968:

Canjambari:
2 Grupos de Combate da CART

Jumbembem:
1 Grupo de Combate da CART
Companhia de Artilharia 1691 (-)

Cuntima:
1 Grupo de Combate da CART
A CART 1691, reforçou Jumbembem, por troca com a 15ª Companhia de Comandos.
Um grupo de combate da CART regressou a Canjambari.

Em 2 de Novembro de 1968:

Canjambari:
2 Grupos de Combate da CART

Jumbembem:
1 Grupo de Combate da CART
16ª Companhia de Comandos

Cuntima:
1 Grupo de Combate da CART
A 16ª Companhia de Comandos reforçou Jumbembem por troca com a CART 1691.

Em 24 de Dezembro de 1968:

Canjambari:
CART 2340
Um grupo de combate regressou de Cuntima para Canjambari. Um grupo de combate regressou de Jumbembem para Canjambari.
A CART, a partir do dia 25 de Dezembro de 1968, passou a ter todo o seu efectivo em
Canjambari.

Em 7 de Abril de 1969:

Canjambari:
CART 2340
Pel. Caç Nat. 58
Pel. Caç Nat. 61
Pel. Caç Nat. 53
Pel. Caç Nat. 65
3 Secções de Soldados Nativos.

Os pelotões de caçadores nativos, foram reforçar Canjambari, assim como três secções constituídas por soldados nativos da CART 2412, CART 1745, CCAV 1748 e CCAÇ 3, em virtude do pessoal da CART ter sido evacuado em massa, para o Hospital Militar 241, devido a ter contraído uma doença chamada Schitosomíase, tendo ficado em Canjambari apenas o comando da CART.

Em 19 de Junho de 1969:

A CART, tomou posse do sector de Nhacra, embora a grande maioria do pessoal, já se encontrar neste sector, porque à medida que iam sendo recuperados no HM 241, recolhiam a Nhacra, aguardando que o comando da CART chegasse.

A CART, passou a ter assim o seu pessoal distribuído:

Nhacra:
2 Grupos de Combate (-) da CART
1 Grupo de Combate da CCAÇ 1792
Pelotão de Morteiros 2006 (-)
1 Secção de Milícia

Dugal:
1 Grupo de Combate da CART
1 Secção de Milícia

Safim:
1 Grupo de Combate (-) da CART
1 Secção de Milícia

Ensalmá :
2 Secções (-) da CART
1 Secção de Milícia

João Landim:
1 Secção da CART
1 Secção de Milícia

Cumeré :
2 Secções da CCS do BCaç 2884

Bupe:
2 Secções de Milícias

Chugué:
2 Secções de Milícias

Fanhe:
2 Secções de Milícias
A CART foi reforçada com um grupo de combate da CCaç 1792, em virtude de estar desfalcada devido à evacuações de pessoal para Metrópole.

Em 20 de Agosto de 1969, o Pelotão da CCaç 1792, recolheu à sua Unidade.

Ferreira Neto
ex-Cap Mil
CART 2340
_______________________

Nota do co-editor CV:

Vd. Post de 14 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2046: Tabanca Grande (31): Apresenta-se Joaquim Lúcio Ferreira Neto, ex-Cap Mil (CART 2340, Canjambari, Jumbembem, Nhacra, 1968/69)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2046: Tabanca Grande (31): Joaquim Lúcio Ferreira Neto, ex-Cap Mil (CART 2340, Canjambari, Jumbembem, Nhacra, 1968/69)

1. Em 5 de Agosto, Ferreira Neto dizia em mail dirigido ao editor do Blogue:


Só hoje tive oportunidade de ver o blogue sobre a Guiné.´

Fiz a minha comissão entre 8 de Janeiro de 1968 e 3 de Novembro de 1969.

Estive em Canjambari com um destacamento em Jumbembem, sector de Farim .

A maior parte da minha Companhia foi evacuada por doença em Abril de 1969, devido ao xistosoma mansoni (1), idêntica à bilharsiose (2) de Moçambique.

Permaneci em Canjambari somente com cerca de 25 elementos, reforçados com 4 pelotões nativos.

Em Julho, fomos juntar-nos ao pessoal evacuado, ocupando Nhacra e os seus seis destacamentos.

Espero que as fotografias que envio sejam bem recebidas.

Com os melhores cumprimentos
F.Neto



Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340
Foto: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.


2. O co-editor CV dirigiu uma mensagem ao camarada Ferreira Neto nos seguintes termos:
Camarada Ferreira Neto:

As tuas fotos chegaram bem. Já que mostraste interesse no nosso Blogue ao ponto de quereres contribuir com as tuas fotos, quero-te convidar a aderires à nossa Tabanca Grande, como é mais conhecido o Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Para formalizares a tua adesão deves mandar uma fotografia do teu tempo de Guiné e outra actual. Contar-nos algo de ti, como por exemplo o teu antigo posto, por onde andaste, onde moras, etc. A partir daí ficaremos à espera do envio das tuas estórias e fotografias.

Deves ter reparado que temos um espólio enorme de prosa e fotografias de todos os tertulianos, que representa já um registo histórico importante. Como diz o nosso Comandante Luís Graça, não devemos deixar que outros contem as nossas estórias, teremos que ser nós mesmos a fazê-lo.

Na nossa Tabanca tratamo-nos todos por tu, independentemente do posto que se teve então. Preservamos o direito de propriedade intelectual de tudo o que se publica e não discutimos ideais políticos ou religiosos.

Respeitamos os povos que se libertaram e consideramos nossos camaradas os nossos antigos antagonistas.

Na página sobre a nossa tertúlia, poderás encontrar resposta às tuas perguntas quanto à nossa conduta.

Caro camarada, ficamos a aguardar a tua resposta.

Um abraço de Carlos Vinhal, co-editor



3. Em resposta ao convite do co-editor para aderir à nossa Tabanca Grande, em 10 de Agosto Ferreira Neto dizia:

Respondendo às questões postas:

Envio as fotografias.

Joaquim Lúcio Ferreira Neto, licenciado em Engenharia Mecânica, Bacharel em Engenharia Electromecânica e professor de Matemática do Ensino Secundário. Actualmente aposentado.

Fui convocado em Dezembro de 1966, para o curso de capitães em Mafra. (1.º Curso de Oficiais Milicianos a ser convocado para tal - Classe de 1958).

Em Janeiro de 1968, parti para a Guiné, comandando a CART 2340, onde depois de uma semana em Bolama , segui para Canjambari, sector de Farim, ficando a minha Companhia repartida por Canjambari ( dois pelotões mais um pelotão nativo) e Jumbembem, situada a 13 km (dois pelotões).

Em Março de 1969, o pessoal na quase totalidade, foi evacuado por doença para Bissau. Ficando eu com cerca de 25 homens não contagiados e reforçados por 4 pelotões de soldados nativos em Canjambari.

O pessoal de Jumbembem foi substituido pelo COP 3 comandado pelo Major Correia de Campos (homem valente), considerado juntamente com o major Azeredo (era comandante do RC 6 no Porto e já foi candidato à autarquia portuense) como os puros sangue do General Spínola.

Em Julho fui ocupar Nhacra, juntando-me ao pessoal evacuado, onde permaneci até ao meu regresso à metrópole em Novembro de 1969.

Oportunamente envarei mais fotografias após fazer as buscas necessárias.

Obrigado pelo convite.

Saudações guerreiras
F. Neto

4. Comentário de CV:

Ontem, tive oportunidade de falar ao telefone com o nosso novo camarada, a propósito de um pedido de esclarecimento que lhe tinha feito. Para surpresa minha, constatei que o conhecia de longa data, pois o ex-capitão Ferreira Neto foi professor na antiga Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, onde fiz o meu Curso de Montador Electricista.

Nunca foi meu professor, pois leccionava no horário nocturno para trabalhadores-estudantes, mas o engenheiro Neto faz parte do meu imaginário como estudante.

Caro professor Neto, é para mim uma honra dar-lhe as boas vindas ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, em nome do Comandante que está ausente da Tabanca por motivo de férias.

Caro camarada Ferreira Neto esperamos de ti, as tuas histórias (tens razão, o termo estória não faz parte do léxico da Língua Portuguesa) e as tuas fotos. As que enviaste estão na forja para serem publicadas brevemente.
________

Notas de CV:

(1) Xistossomose - doença provocada por vermes parasitas.

(2) Bilharziose - doença provocada por um verme parasita, a bilhárzia. (3)

(3) Bilhárzia - verme da família dos distomídeos que se aloja nas veias do intestino, do baço, da bexiga e do fígado provocando a bilharziose.