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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16503: Notas de leitura (881): “Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,

Tenho vindo a acumular provas de que a guerrilha se manifestou de forma acesa e contundente pelo menos a partir do segundo semestre de 1962. Destruir vias de comunicação, incendiar tabancas, o recurso ao assassínio de comerciantes, passou a ser moeda corrente no Sul da Guiné. Os sublevados ainda vêm mal equipados mas o seu poder intimidador irá revelar-se tão forte que as populações ou fogem para o mato ou para pontos do litoral, onde julgam encontrar defesa.
O relato de José Leiras é nesse aspeto eloquente: o que ele viu em Fulacunda, enquanto Cabo da CCAÇ 153, enquanto Chefe de Posto em Encheia, de 1963 a 1964.
Os historiadores não podem prescindir de consultar as histórias destas unidades para preencher as lacunas existentes. Fala-se sempre em 20 de Janeiro de 1963 como o início da guerra de guerrilhas, hoje sabe-se que não é verdade. Valia a pena pôr branco no preto.

Um abraço do
Mário


De Cabo do Exército a Chefe de Posto: na Guiné, entre 1961 e 1964

Beja Santos

“Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003, é um contributo precioso para conhecer melhor a Guiné a fermentar a luta armada, e sentir os sinais da primeira fase da guerrilha. (*)

José Leiras, do Alto Minho, escreve memórias da sua vida, vamos cingirmo-nos aos preparativos para a Guiné, o durante e o logo depois. Assentou praça em Março de 1960 na RAP 2 na Serra do Pilar, dali saiu imediatamente para o antigo Metralhadoras 3, segue para Coimbra, para o RI 12 e daqui arrancou para o Depósito Geral de Adidos, no Largo da Graça, em Lisboa. Anda muito à boleia entre Lisboa e o Porto, o namorico assim o obriga. Em 27 de Maio de 1961 chega a Bissau, vem num contingente de três aviões militares. O comandante de companhia é o Capitão Curto. Vão para Santa Luzia, a caserna ainda tem o chão em terra, as janelas ainda não tinham vidros, nem porta havia. De Bissau seguem para Fulacunda, que ele vai apresentado conforme sabe. A viagem que fazem é demonstrativa da paz existente. Vão por terra de Bissau para Fulacunda em viatura, passam pelo Biombo, prosseguem por Mansabá, depois Bafatá, Saltinho, Xitole e Bambadinca, e daqui a Fulacunda, região de Beafadas, mas onde não faltam Balantas, Mandingas, Mancanhas e alguns cabo-verdianos. Começam a desmatar em volta do acampamento para fazer um quartel novo. Escreve:

“Passámos 15 dias com machado e serra na mão a cortar árvores e a limpar cerca de 1500 cajueiros e mangueiros. Uma vez o terreno limpo, começámos a fabricar os blocos de terra amassada com palha brava, e que depois de secar ao sol umas semanas são maus duros que betão armado. Tempos depois, o capitão empregou alguns pretos e começou-se a construir uma caserna nova, entretanto já tínhamos ocupado o celeiro da vila e mais três pequenas casas de telha à europeia e aí instalámos dormitórios, enfermaria e depósito de munições. Para a cozinha montámos um grande barracão em troncos e ramos de palmeira e assim ficou para sempre em provisório”.
Tentou fazer negócios com a criação de porcos. Tudo correu mal.

Nem tudo é o sétimo céu, começam a chegar notícias de que a subversão passara a rondar Fulacunda. Pela primeira vez refere a sua unidade, a CCAÇ 153 (**), acabara-se o sossego, todos os dias e todas as noites saíam patrulhas de reconhecimento. Declara que houve uma emboscada quando iam buscar água, morreu o soldado 224/60, António Vilares. Vão à tabanca de Dada e trazem alguns prisioneiros, terá havido represália do PAIGC que incendiou e destruiu completamente a tabanca levando para o mato toda a população válida. A seguir é dinamitada uma ponte que atravessava um pequeno afluente do rio Fulacunda, ficaram cortadas as comunicações com Buba, onde se encontrava a CCAÇ 152.
Refere que Buba era muito bonita e airosa, tinha bom clima e boa água, e um importante cruzamento de estradas para Empada, Catió e a fronteira da Guiné-Conacri. Reconstruiu-se a ponte que dois meses mais tarde foi novamente destruída, o que levou a enviar um pelotão para Empada e uma Secção para Aldeia Formosa. O desassossego continua, foi descoberta uma casa de mato cerca de Buba-Tambó, montou-se emboscada, houve mortos, feridos e prisioneiros, o Soldado António Ribas morreu em combate. Com a tropa desmoralizada, o Capitão Curto manda-os descansar em Bolama, um pelotão de cada vez. E observa, acerca de Bolama:

“Apesar de pequena e desprezada é ainda hoje a cidade da Guiné mais tipicamente portuguesa, com as suas ruas estreitas e calcetadas em pedra ou paralelos”.~

Estavam em férias e tiveram que ir a S. João, os guerrilheiros tinham incendiado e destruído aquele ponto de passagem no ponto extremo do Setor de Fulacunda. Sucederam-se combates em Nova Sintra, as populações dispersam-se. O pelotão é destacado para Catió, os ataques são constantes. Começam a aparecer também comerciantes assassinados. Em Março de 1962, casa-se por procuração. Em 1963, já está em Bissau, a mulher acompanha-o. Logo a seguir a CCAÇ 153 embarca para Lisboa, José Leiras foi ao palácio falar com o Governador Peixoto Correia que já lhe tinha destinado o comando do Posto Administrativo de Encheia. Aplica-se ao trabalho e faz o recenseamento das 30 tabancas existentes, cobrou impostos, mandou efetuar a plantação de dezenas de mangueiros à beira da estrada principal, reparou-se o posto sanitário. E escreve:

“Com a mão-de-obra negra, orientei os trabalhos e então construiu-se uma pequena pista para que lá pudesse ir uma avioneta levar correio. Pelos trabalhos efetuados, éramos muito queridos lá na terra só que o terrorismo naquela zona começava também a dar sinal de vida e em pouco tempo alastrou”.

A mulher está grávida e a sofrer de paludismo, tem de regressar a Portugal. Na coluna para Bissau, entre Encheia e Binar há uma emboscada, um camião civil carregado de arroz e mancarra saltou pelos ares com o rebentamento de uma mina. Mais um soldado morto. No regresso a Encheia, e pela estrada de Bissorã, via Mansoa, depara-se um camião civil a arder. 10 quilómetros à frente, duas árvores atravessadas e mais adiante uma grande vala cortando por completo a estrada.

A guerra é indisfarçável, os fuzileiros chegam a Encheia. José Leiras vai a Bissorã falar com o administrador e pedir reforços, tudo lhe é recusado. No regresso, escapa por um triz a uma saraivada de balas. Em Encheia, há alvoroço todos os dias, gente a fugir para o mato. É nisto que se dá um ataque à povoação, muitas moranças destruídas pelo fogo, o comércio saqueado, todo o gado roubado e pessoas levadas para o mato. O comerciante Francisco Beira Mar é assassinado. José Leiras consegue chegar ao posto e resiste ao fogo dos guerrilheiros, apesar de ferido, pois no jipe foi atingido por várias balas numa perna. Na manhã seguinte, toca-se o clarim para a formatura e hasteia-se a bandeira portuguesa. A situação de Encheia é de uma enorme desolação. José Leiras arranja um voluntário para ir a Bissorã avisar a tropa, esta levou cinco horas para fazer 24 km pois na estrada havia dezenas de árvores atravessadas para além das valas. Ferido, é levado para o hospital, nessa altura as cuidadoras são religiosas. São-lhe extraídas as balas e dias depois vai de avioneta até Bissorã. Passa a noite de Natal de 1963 em Bissorã, no dia seguinte parte para Encheia, já lá está um pelotão. Caminhamos para o fim das vicissitudes do Chefe de Posto em Encheia. No fim do mês de Março de 1964, é mandado apresentar ao novo Governador, Contra-Almirante Vasco Rodrigues. Põe-se ao caminho e apresenta-se ao Governador. Vinha coberto de poeira vermelha, apresentou-se de arma às costas e duas granadas no bolso da camisa. O Governador não escondeu a sua indignação, repreende-o com aspereza, pois devia apresentar-se de farda branca e boné de pala. Convocara-o para lhe dar um louvor, como já não merecia, ia transferi-lo de castigo para o Posto de Cacine. E ele escreve:

“Senhor Governador, o meu louvor pode guardá-lo para V. Exa. como recordação minha, eu queria era aumento de salário e com respeito a ir para Cacine de castigo, vá para lá você que tem tiroteio de dia e de noite para se distrair mas não leve o fato branco porque está sujeito a manchá-lo de sangue e desde já apresento a minha demissão”.

Demorou alguns meses a regressar, os transportes vêm pejados de gente em retirada para a metrópole, andou alguns meses a trabalhar como motorista de camião da Tecnil, em Bissalanca. Em Junho desse ano chega a Lisboa.

Como é evidente, é indispensável ler a história da CCAÇ 153 (**) para procurar averiguar o que há de fidedigno nestes episódios. Parece mais que demonstrado que houve guerrilha acesa a partir de 1962, a data ícone de 20 de Janeiro de 1963 só pode significar que é o ponto de partida para flagelações, mas durante largos meses de 1962 acumulam-se as provas de fugas e raptos de população, assassinatos de comerciantes, atos de destruição de pontes e telégrafos, as comunicações foram sendo anuladas e os civis aproximando-se das povoações do litoral. Isto no Sul. O testemunho parte de Fulacunda. Em Encheia, assistimos, já em 1963 a formas de destruição coincidentes com as que se perpetraram no Sul. E em 1964 disseminara-se a luta armada. Testemunhos como o de José Leiras abonam a intensidade de uma guerrilha que foi recrudescendo até encontrar formas de contenção com nomes próprios: o terror do helicóptero lobo-mau, as operações das forças especiais, os bombardeamentos intensos no interior das matas de difícil acesso. Curioso seria perceber o que é que José Leiras esperava, depois de ter experimentado a guerra no Sul, de seguir em terreno tão atribulado, uma carreira de funcionário colonial.
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Notas do editor

(*) Último poste da série de 16 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16495: Notas de leitura (880): Os Cus de Judas, por António Lobo Antunes (2) (Mário Beja Santos)

(**) Sobre a CCAÇ 153, temos no nosso blogue dezena e meia de referencias. Clicar aqui. Temos também meia dúzia de referências ao cap Curto, José Curto ou José Carreto Curto, hoje tenente general reformado. As suas memórias escritas seriam importantes para se perceber melhor este período de terror e contra-terror dos anos de 1962/63.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Guime 63/74 - P16246: (De)Caras (43): Domingos Ramos, o "incendiário do leste": (i) João Cá, de seu nome de guerra; (ii) antigo 1º cabo miliciano das NT; (iii) amigo e camarada do Mário Dias (, do 1º CSM, Bissau, 1959): (iv) reconhecido em Bafatá, no bairro da Nema, por volta de maio de 1963, por Alcídio Marinho e Mamadu Baldé; (v) volta a encontrar o amigo e antigo camarada "tuga" nas matas do Corubal, em 1965: e (vi) "tem a felicidade de morrer em combate", em Madina do Boé, em 10/11/1966, ao lado do 'internacionalista' cubano Ulises Estrada...


Guiné > 1964 > PAIGC > Cassacá > I Congresso.do PAIGC, Quinta, 13 de fevereiro de 1964 - Segunda, 17 de fevereiro de 1964, Da esquerda para a direita,  Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek durante o I Congresso.do PAIGC, em Cassacá",

Fonte: Portal Casa Comum / Fundação Mário Soares, Consult em 28 de junho de 2016. Disponível em http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05224.000.056  (Reprodução parcial, com a devdia vénia)


1. Dois comentários ao poste P16226 (*): 




(i) Alcídio [José Gonçalves] Marinho [, foto à esquerda, da sua página no Facebook, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65); vive no Porto; é membro da nossa Tabanaca Gradne desde 23/9/2011]


Conheci de relance o Domingos Ramos (**) em Bafatá. Assim, a CCaç 412 chegou a Bafatá a 9 de abril de 1963.. Já havia passado cerca de três semanas e um fim de tarde resolvi ir conhecer o bairro da Nema, que ficava a Leste da cidade,pois os outros bairros já os conhecia bem (Rocha e Ponte Nova).

Estava destacado na Companhia um cabo Mamadu Baldé (fula-forro) e pedi-lhe para me acompanhar, tendo ele correspondido ao meu pedido. Seguimos pela Rua, passamos a casa da D.Rosa [,. a libanesa,] , em frente das instalações  do Batalhão 238 e entramos na Nema.

Ao virarmos para uma rua transversal vimos um indivíduo alto,  que passou por nós, o cabo estremeceu e disse "Domingos Ramos!". Então fixei outra vez o individuo e vi distintamente que era exactamente igual à fotografia, existente na secretaria da Companhia.

Viramos para trás e corremos para apanhá-lo, mas ele já havia desaparecido.

Entretanto, já tinha tirado a pistola Walter que levava presa no cós traseiro das calças por baixo da camisa e esta fora das calças.

Depois viemos a correr à companhia, demos o alarme e foram deslocados diversos pelotões para cercar a Nema e outros para patrulhar a cidade.

Na altura foram capturados uns tipos suspeitos que acabaram por confirmar que o Domingos Ramos havia estado dois dias em Bafatá-Também se veio a saber que ele escapou,  atravessando o rio Colufe para oN regulado de Badora, em direcção ao sul.



(ii) Manuel Luís Lomba [ex-fur mil, CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; autor do livro "Guerra da Guiné: a batalha de Cufar Nalu". Faria, Barcelos, Terras de Faria, Lda: 2012, 314 pp.]


Os militares adquirem uma especial sensibilidade face à injustiça. Tive essa experiência própria.

Invoco o então capitão Vasco Lourenço, de boa idade e recomenda-se, a quem as injustiças do general Bethencourt Rodrigues, então ministro do Exército, em 1969, referidas à sua mobilização para a Guiné, do general Spínola, no seu escrutínio da responsabilidade da morte do régulo de Cuntima, terão sido a causa remota da sua transformação no motor com turbo do MFA/25 de Abril/25 de Novembro.

O herói nacional bissau-guineense Domingos Ramos, o Kant de seu nome de guerra [, ou melhor, João Cá], foi aliciado por Amílcar Cabral para o PAIGC, através do seu irmão Luís [Cabral], de quem era colega quando era balconista da Casa Gouveia, tendo sido preterido como funcionário das Finanças, após estágio na respectiva Repartição, talvez por efeito da aludida "porrada" sofrida no CIM [de Bolama].

À data em que o Alcídio o viu junto ao quartel [, ou melhor, no bairro da Nema, em Bafatá], era o comandante da Frente Leste, que havia rendido o comandante Pascoal Costa  [ou melhor,  Vitorino Costa, 1937-1962] - despromovido, transferido por fracassar e que morrerá no contexto do cerco e assalto à tabanca de S. João (Fulacunda), executado pela CCaç 153  [em julho de 1962]-, sendo suposto a fazer o reconhecimento  [do quartel de Bafatá] para o atacar, como a cidade natal do Amílcar e a segunda cidade da Guiné´, objectivo que, a par de Bissau, será deferido no tempo.

Quanto aos seus rendimentos (*)- haverá no mundo algum militar profissional que não perceba ordenado ou soldo?  Pela regra do Exército Português, 80 contos corresponderia ao rendimento anual e, como se tratava de "progressistas", talvez incluísse os subsídios de férias e de Natal...


2. Domingos Ramos, o "incendiário do leste", que teve a "felicidade de morrer em combate", ou seja, como "herói":


Como aqui temos dito, Domingos Ramos é um dos nomes míticos da fase inicial da guerrilha do PAIGC que teve a "felicidade de morrer" como herói,  no campo de batalha, muito antes de chegar ao poder, portanto em "estado de graça". Sobre ele não pesam as suspeitas, as sombras e as acusações de traição, nepotismo e corrupção que mancham a memória de muitos outros "filhos" de Amílcal Cabral como Osvaldo Vieira ou 'Nino' Veira...O próprio Amílcar Cabnral, o "pai da Pátria", não chegou a conhecer a autora da liberdade... E a maior parte dos seus camaradas de luta já morreram. A última foi a Carmen Pereira, desaparecida aos 79 anos, em 4 do corrente.

Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado, expressão "politicamemnte correta"  usada na época pelas autoridades portuguesas, para distinguir os guineenses "civilizados" e "não-civilizados".

Fez, juntamente com o nosso camarada Mário Dias, o 1º curso de sargentos milicianos (CSM), em 1959, em Bissau. Infelizmentye, este curso iria ser um autêntico viveiro de quadros político-militares para o o PAIGC. Não sabemos em que data precisa o Domingos Ramos aderiu a (ou foi aliciado para) a "causa nacionalista". Mas terá sido no ano de 1960...

Sabemos que a 8 de maio de 1959  inicia a recruta, juntamente com Mário Dias, no quartel da Bateria de Artilharia de Campanha em Bissau, Santa Luzia, defronte ao que viria a ser mais tarde o Quartel Genera (QG). O português e o guineense ficam paar sempre amigos, embora depois siagm caminhos diferentes: a guerra vai polos em campos opostos...

Em 10 de agosto foi o juramento de bandeira. Quatro dias depois, a 14, inicia-se o   1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM) que houve na Guiné, e para a frequência do qual se exigia já, como escolaridade,  pelo menos o 2º ano do liceu, na época chamado 1º ciclo liceal.

Em 29 de novembro  de 1959 tanto o Domingos Ramos como  Mário Dias são promovidos a primeiros cabos milicianos.  Ao que sugere o Mário Dias, o Domingos Ramos ter-se-á alistado nas fileiras do PAIGC, um ano depois, em novembro de 1960, depois de ter sido vítima de uma grave injustiça (***) enquanto 1º cabo miliciano, no CIM de Bolama, por parte de um oficial português cuja identidade está por descobrir (*), 



Guiné > Bissau > 1959 > 1ºs cabos milicianos Mário Dias (à direita, na segunda fila, de pé), Domingos Ramos (à esquerda, na priemria fila) e outros...

"De cócoras, a partir da esquerda: Domingos Ramos; um outro cujo nome não me lembro mas que também foi para a guerrilha; e depois o Laurentino Pedro Gomes. De pé: não me recordo o nome mas também foi para a guerrilha; Garcia, filho do administrador Garcia, muito conhecido e estimado em Bissau; mais um de cujo nome não me recordo; eu [, Mário Dias]; e mais outro futuro guerrilheiro."

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006). Todos os direitos reservados



Logo em janeiro de 1961, ele é enviado por Amílcar Cabral para a Academia Militar de Nanquim, na China,  frequentando o primeiro curso de comandantes do PAIGC, juntamente com João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes [ou Francisco Tê], Constantino Teixeira, Pedro Ramos ( irmão de Domingos), Manuel Saturnino,  Rui Djassi, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa (, irmão mais velho de Manuel Saturnino) e Hilário Gomes,  (Manuel Saturnino Costa, nascido em 1942, é o único deste grupo que ainda está vivo).

Em 1962, Domingos Ramos organiza, na região de Xitole (que abarcava Bambadinca e Bafatá), as primeiras ações de sabotagem e aliciamento da população [, vd. documento abaixo, do Arquivo Amílcar Cabral]. 

Em 1964, participa no I Congresso do PAIGC, em Cassacá. na região de Quitafine.

O Domingos haveria de encontrar-se com o seu amigo e ex-camarada de armas, do 1º CSM, o furriel mil comando Mário Dias, pela última vez, em 1965... Em circunstâncias insólitas, em pleno mato,... É uma das histórias mais fantásticas que já lemos sobre a guerra e a grandeza humana que pode haver mesmo numa situação de guerra (****)....

Foi na região do Xitole, na zona entre Amedalai e os rápidos de Cussilinta, perto da estrada Xitole-Aldeia Formosa-Mampatá... Vale a pena reler o segredo que o Mário guardou durante toda uma vida e revelou, em primeira mão, em 2006,. aos seus amigos e camaradas da Tabanca c Gradne, Foi um dos momentos altos da história do nosso blogue. (*****).

Um ano depois, morreu prematuramente em combate, a 10 de novembro de 1966, em Madina do Boé, ao lado do "internacionalista" cubano Ulises Estrada, tendo-se tornado num dos heróis da luta de libertação nacional.

Os seus restos mortais  repousam agora no panteão nacional da Guiné-Bissau,m na antiga Fortaleza da Amura,
__________________


Portal: Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04609.056.033 [Clicar aqui para aceder ao original]
Título: Comunicado - Zona 7, 8 e 11

Assunto: Transcrição de um comunicado em código, assinada por João Cá (Domingos Ramos), sobre as operações de sabotagem nas áreas de Xitole / Bambadinca, bem como sobre a acção militar portuguesa na mesma zona. O comunicado solicita o envio de "camaradas" e de armamento e refere-se à situação das zonas 7, 8 e 11 como um inferno.

Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Citação:
(s.d.), "Comunicado - Zona 7, 8 e 11", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40543 (2016-6-28)







[ Este documento manuscrito deve ser de junho de 1962, uma vez que nele se faz referência a um dos nossos T-6 (T6-G #1677) que se despenhou, no rio Corubal, em 29 de maio de 1962,  na região de Mina / Fiofioli,  roubando a vida a dois camaradas nossos da FAP. o fur mil pil Manuel Soares de Matos, natural de Arrifana, Santa Maria da Feira,  e o ten pilav  José Cabaço Neves, Embora tenham sido comsideradas  mortes "em combate", o T 6 deve ter-se despenhado, não por ter sido atingido por fogo IN,  mas em resultado de uma manobra, aquando do reconhecimento de  uma piroga suspeita, no  rio, perto da tabanca de Mina, na maregm direita do rio Corubal. Na época poucos militantes do PAIGC teriam armas, a não ser gentílicas, e  quando muito pistolas para defesa pessoal. A pistola P38 aqui citada seria uma Walther, roubada ao exército português... Segundo o nosso especialista em, armamento, o Luís Dias, "a pistola usada pelas forças de guerrilha do PAIGC era, principalmente, a Tokarev TT-33"]




Domingos Ramos, "herói nacional": ilustração do Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72). 

Lição nº 23: Um grande patriota... [Destaque para a frase: "Ele gostava muito dos seus soldados e não gostava de maltratar os prisioneiros".]




Portal: Casa Comum

Instituição:
Fundação Mário Soares

Pasta: 05360.000.084 [Clicar aqui para ampliar a imagem]

Título: Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China

Assunto: Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China, para iniciarem treino militar na Academia Militar de Nanquim: João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Manuel Saturnino, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa e Hilário Gomes.

Data: 1961

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Fotografias

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Arquivo Amílcar Cabral > 11. Fotografias > 3.PAIGC > Exterior

Citação: (1961), "Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43247 (2016-6-27)

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Notas do editor:


Comentário de um leitor (guineense):

(...) Chamo me Adilson Adolfo Mendes Ramos... tanto pesquisei sobre histórias da minha família, e este blog é certamente o que mais me ajudou. Obrigado por o ter criado... Grande abraço

6 de agosto de 2013 às 15:40  (...) 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15807: Inquérito 'on line' (36): Os muitos problemas com que nos defrontávamos no início da guerra, em 1963 (Paulo Salgado / João Martins / Mário Serra de Oliveira)



Vila Real > Agosto de 1963 > CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/63) > O regresso a casa... Na foto, o 1º pelotão... Repare-se no fardamento, o caqui amarelo... O cmdt era o então cap inf José dos Santos Carreto Curto, hoje ten gen reformado, natural de Castelo Branco.

Foto: João Baptista (1938-2010), autor do blogue Fulacunda.  [Edição: LG]

Comentários ao poste P15802 (*):



I. Paulo Salgado


1. Os problemas ou assuntos colocados pelo Com-chefe Louro de Sousa traduzem de forma excelente o que se vivia nessa época - 1963.

No entanto, outras circunstâncias ocorriam, já então, e ocorreriam posteriormente, que porventura não seria expectável que fossem denunciados: 

(i) o facto de o IN já se ir preparando para a guerra de forma segura, psicológica e belicamente segura;

(ii) a manifesta incoerência de uma guerra, mal explicada e fora dos contextos internacionais que, já em 1958, a França experimentara na Argélia de que nós, amargamente, não colhemos lição - o que veio depois a confirmar-se no Congo belga, em Angola e, antes, na Índia.

2. No que respeita ao historiador José Matos que aborda muito bem a sublevação das gentes da Guiné, recordo que, historicamente, as sublevações foram constantes ao longo dos séculos - basta compulsar diversas obras (algumas eu tenho na minha posse e delas faço uso em diversas reflexões) para se confirmarem estes factos históricos.



Opção Resposta 8:

(i) falta conhecimento das necessidades das populações e falta de apoio no desenvolvimento económico e social;

(ii) falta de aproveitamento e de promoção social dos quadros mais qualificados (ex: Amílcar Cabral);

(iii) falta de aproveitamento político das estrutras tradicionais do poder (ex: régulos);

(v) militares de carreira com formação em guerra clássica, mas, sem preparação e conhecimentos em guerras de guerrilhas, que têm cariz muito mais político do que militar, sobretudo, ao mais alto nível das forças armada;

(v) poder político sem visão e sem carisma suficiente para enfrentar uma guerra com carácter mais político do que militar. Era fundamental encetarem-se conversações com muito mais acutilância e determinação:

(vi) falta de suficiente capacidade de esclarecimento político e mobilizadora das tropas para enfrentarem e sofrerem grande desgaste psíquico.


III. Mário Serra de Oliveira

Concordo:

1. Deficiente instrução das tropas e quadros

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno 

5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar dos guineenses 

6. Instalações inadequadas

7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole

Concordo, com atenuante somente no meio de transporte, porque fartura existia:

4. Abastecimento (material, munições, víveres e água) -

Discordo:

3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos

Outros problemas:

8. Outros problemas não referidos acima - Aproximação pedagógica mais respeitàvel, junto das populações.

_________________

Nota do editor:

(*)Vd. poste de 27 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15802: Inquérito 'on line' (35): Lista de problemas no CTIG em setembro de 1963, segundo o Com-Chefe Louro de Sousa...Camarada, vota nos que concordares (Resposta múltipla)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15780: Consultório militar do José Martins (18): Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada

1. Em mensagem do dia 8 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a propósito da consulta feita ao Blogue pelo nosso leitor Umaru Sambu, que deu origem ao P15720, enviou-nos a relação das Unidade Militares que passaram por Empada.


Dizia-nos Umaru Sambu na sua mensagem de 6 de Fevereiro:

Sou guineense, natural de Empada, maior de 60 anos de idade, vivo em Portugal desde 1986, filho de Bacar Sambu, antigo Soldado Miliciano em Empada, e sobrinho do antigo Comandante Miliciano Bajo Sambu, falecido em combate em 1963.

Este meu tio, Bajo Sambu, passado algum tempo depois da sua morte, como tinha deixado dois filhos menores, entre cinco e seis anos de idade, por qualquer motivo, foi-nos comunicado, na altura, que dentro da companhia de militares portugueses que tinham estado em Empada na altura da morte trágica dele, estavam Bissau, na capital, de partida para a metrópole e que tinham requerido para trazerem um dos filhos deste meu tio, nomeadamente o filho mais velho que tinha na altura 6 anos de idade, cujo nome era Infamara Buli Sambu, que assim foi.

Na altura o pedido foi aceite do imediato, porque como sabe naquela altura era mesmo perigoso viver naquela aldeia de Empada por causa dos ataques dos rebeldes. Não sei como foi feito o processo da vinda dele mas de facto foi trazido por uma companhia que antecedeu a companhia de Cap. Borges, Os Maiorais.
[...]

************

Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Parque da Oficina Auto e no exterior as moranças.
Foto: © Arménio Estorninho


2. Comentário do nosso camarada José Martins:

Parece haver nesta solicitação, alguma confusão de datas.
Trata-se de factos com quase 50 anos e passado com rapazes/crianças muito novas na altura.
Fala-se de ocorrências de 1963 e outras que poderão ter acontecido, pelos factos evidenciados, entre 1966 e 1968.

Segue listagem das unidades e subunidades presentes em Empada, com a origem das mesmas, período em que guarneceram aquele destacamento e os oficiais que exerceram o comando das mesmas.
Exceptuam-se os Pelotões de Morteiro cujo comando só se poderá obter em consulta ao Arquivo Histórico-Militar, caso haja História da Unidade.


Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada: 

Companhia de Caçadores n.º 153 (RI 13 – Vila Real), destacou um pelotão que esteve entre Julho de 1961 e Fevereiro de 1963. A companhia foi comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreiro Curto.

Companhia de Caçadores n.º 84 (RI 1 – Amadora), destacou um pelotão que esteve entre Fevereiro de 1962 e Abril de 1963. A companhia foi comandada pelos: Capitão de Infantaria Manuel da Cunha Sardinha e Capitão Miliciano de Infantaria Jorge Saraiva Parracho.

Companhia de Caçadores n.º 417 (RI 15 – Tomar), ocupou o aquartelamento entre Abril de 1963 e Julho de 1964, quando terminou a comissão. Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Carlos Figueiredo Delfino.

Companhia de Caçadores n.º 616 (RI 1 – Amadora), ocupou o aquartelamento entre Abril de 1964 e Janeiro de 1966, quando acabou a comissão. Foi comandada pelo Alferes Miliciano de Infantaria Joaquim da Silva Jorge, Capitão Miliciano de Infantaria António Francisco do Vale, Capitão de Infantaria José Pedro Mendes Franco do Carmo, de novo Alferes Miliciano de Infantaria Joaquim da Silva Jorge e Capitão de Cavalaria Germano Miquelina Cardoso Simões. Ostentou como Divisa “Super Omnia”.

Companhia de Milícias n.º 6, (Recrutamento local), ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1965 e Dezembro de 1971, até à extinção da força

Companhia de Caçadores n.º 1423 (RI 15 – Tomar), ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1966 e Dezembro do mesmo amo, seguindo depois para o Cachil. Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves, Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, Capitão de Cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca, de novo Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, e de novo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves. Ostentou como Divisa “Firmes e Constantes”.

Companhia de Caçadores n.º 1587 (RI 2 - Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Novembro de 1966 e Janeiro de 1968, seguindo para Bissau. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Pedro Eurico Galvão dos Reis Borges.

Companhia de Caçadores n.º 2381 (RI 2 - Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1969 e Fevereiro de 1970, seguindo para Bissau. Foi comandada pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Eduardo Moutinho Ferreira Santos. Ostentou como Divisas “Os Maiorais” e “Pela Lei. Pela Grei”.

Companhia de Artilharia n.º 2673 (GACA 2 – Torres Novas), ocupou o aquartelamento entre Fevereiro de 1970 e Maio de 1971, seguindo para Bissau. Foi comandada pelo Capitão de Artilharia Adolfo Pereira Marques e Capitão Miliciano José Vieira Pedro. Ostentou como Divisa “Leões de Empada”.

Companhia de Caçadores n.º 3373 (RI 1 - Amadora), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1971 e Maio de 1972. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Artilharia Adérito Assis Cadório. Ostentou como Divisa “Os Catedráticos” e “Por Uma Guiné Melhor”.

Pelotão de Morteiros n.º 3020 (RI 2 – Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1971 e Março de 1973.

Companhia de Caçadores n.º 3566 (BC 10 - Chaves), ocupou o aquartelamento entre Maio de 1972 e Abril de 1974, terminando a comissão. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria João Rocheta Guerreiro Rua, Capitão de Infantaria Herberto Amaro Vieira Nascimento e Capitão Miliciano de Infantaria Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro.

Pelotão de Morteiros n.º 4277/72 (RI 2 – Abrantes), ocupou o aquartelamento entre Janeiro e Agosto de 1973, seguindo para Aldeia Formosa.

Companhia de Caçadores n.º 4944/73 (BII 19 – Funchal), ocupou o aquartelamento entre Junho de 1974 e Setembro de 1974, aquando da retracção das nossas tropas. Foi comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Mário José de Oliveira Pinheiro. Ostentou como Divisa “Os Galos do Cantanhez”.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15739: Consultório militar do José Martins (17): Arquivos, Bibliotecas e Centros de Documentação - Arquivo Histórico Militar

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Guin é 63/74 - P11005: Efemérides (119): A morte do comandante Vitorino Costa, um revés para o partido de Amílcar Cabral, em 1962, ainda antes do início oficial da guerra


(1962), Sem Título, CasaComum.org, Fundação Mário Soares, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04604.039.127 (2013-1-25)



Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta:  04604.039.127
Remetente:  Gil Fernandes
Destinatário:  Amílcar [Cabral]
Assunto:  Morte de Vitorino Costa. Curso de "Liberal Arts". Actividades de alguns traidores em Boston.
Data:  Sábado, 1 de Dezembro de 1962
Observações:  Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna PAIGC, MPLA, FRELIMO, UGEAN, CONCP).Fundo:
DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondencia

(Reprodução com a devida vénia...Sublinhados, a vermelho, da nossa responsabilidade)

1. Carta do futuro diplomata do PAIGC e da República da Guiné-Bissau, Gil Fernandes, a estudar em Boston, datada de 1/12/1962, dirigida a Amílcar Cabral. Começa nestes termos:

"Caro Amílcar: Foi com grande consternação que recebi a sua última carta relatando a morte de Vitorino Costa. Eu e ele fomos grandes amigos e fui por algum tempo seu explicador. A sensação de choque  que se recebe perante acontecimentos desta natureza é absolutamente  indescritível, este é mais um crime que mais tarde os portugueses terão que dar conta. Imagino em que estado é que o Amílcar se deve encontrar, mas confio inteiramente na sua perseverança, agora é que é preciso mais coragem" .(...)

Já aqui falámos de Vi(c)torino Costa, Victorino Domingos Costa, irmão de Manuel Saturnino da Costa (, futuro primeiro ministro da República da Guiné-Bissau), que foi morto, numa emboscada em 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153, comandado pelo Cap Inf José Curto, na região de Quínara, nas proximidades de Darsalame.

Sobre esta época, de 1962, em que o PAIGC começou a fazer trabalho de formação político-militar, sobretudo nas regiões de Quínara e de Tombali, sabemos ainda muito pouco. Faltam os testemunhos, orais e escritos. Faltam os relatórios. Faltam as fotos. De resto, era ainda escassa a presença do exército português. Por tudo isso, é um período que se presta à especulação. O filme do George Freire ainda  mostra uma Guiné relativamente idílica, calma, tranquila, onde se pode viver e viajar tranquilamente, em segurança, nomeadamente no leste, no chão fula. Mas por quanto tempo ? Quando deixa Nova Lamego e é colocado em Bedanda, em novembro de 1962, com a sua 4ª CCAÇ, o cap Jorge Freire ainda leva consigo a esposa. Mas em dezembro ela é obrigada a regressar a Portugal, por razões de segurança. O que se terá passado ?

Tudo indica que o comandante Vitorino Costa terá morrido  na sequência de uma "acção punitiva" do nosso exército, depois de um conhecido comerciante de Empada ter sido assassinado barbaramente na estrada, no regresso de Darsalame para Empada.

Vitorino e Manuel Saturnino são dois dos históricos militantes enviados para a China para receber treino político-militar, juntamente com João Bernardo Vieira (Nino), Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira e Hilário Gomes, tendo sido recebidos pelo "grande timoneiro", Mao Zedong, em 1961.

Da leitura da carta que acima reproduzimos, dá para entender que Vitorino Costa era um homem muito próximo de Amílcar Cabral e que a sua morte foi sentida como um sério revés para a guerrilha, em preparação. Também Bobo Keita se refere ao seu nome, na sua biografia "De campo em campo", escrita por Norberto Tavares de Carvalho, ed. autor, 2011 É um dos seus vinte camaradas que morreram de morte violenta, e que ele evoca, no final do seu livro (p. 237):

(...) "Victorino Costa era responsável pela mobilização da zona de Quínara, Fulacunda, Tite, S. João.  Em plena campanha de recrutamento, foi pernoitar numa tabanca cujo chefe colaborava com os portugueses. (...) foi denunciado. (...)"

Não encontrei fotos de Vitorino Costa no Arquivo Amilcar Cabral que, em boa hora, passou a estar disponível, para consulta, a partir de 20 de janeiro de 2013.

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Nota do editor:

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10996: Efemérides (117): O início da guerra no CTIG há 50 anos: Nova Lamego, Bissau, Bedanda... O paraíso... perdido (set 62/mai 63): filme de George Freire, ex-cap inf QP, a viver nos EUA há meio século (Virgínio Briote / Luís Graça)




Vídeo (9' 58'') > Alojados no You Tube / bra6567  © George Freire (2009). Todos os direitos reservados. (Clicar no link, como alternativa, para visionar o filme).

Guiné > Nova Lamego (Gabu) e Bissau, set 62 / nov 62. Vídeo 1/3 (com mais de 1 milhão de visualizações no You Tube, desde junho de 1969). Primeira parte de um vídeo (de cerca de 30') de George Freire, abarcando o o período de set 1962 a mai de 1963, em que  comandou a 4ª CCAÇ, primeiro em Nova Lamego (set a nov 1962) e depois em Bedanda (nov 62 a mai 63), onde teve o seu batismo de fogo (mar 63).


1. Sinopse dos vídeos [ Virgínio Briote / Luís Graça]:

No primeiro vídeo (1/3) vemos  Nova Lamego (Gabu), o aquartelamento, os oficiais subalternos da 4ª CCAÇ, a avenida principal, um domingo à tarde com as famílias  dos oficiais, os esquilos amestrados, a esposa do Jorge Freire, Edite,  com a filha do 1º sargento da companhia, mulheres nativas à pesca de camarão, a operação de lavagem das roupas (ou como bater bem com as peças de roupa nas pedras!), as lindas bajudas do Gabu mais os djubis  a brincar na água, os cães boxer do médico da  companhia, a piscina, a fonte de água, a Edite à pesca, o grande régulo Fula do Gabu, a mulher mais nova e a mais velha (aparentemente amigas uma com a outra) do régulo, os netos, os trajes de cerimónia, o alfaiate da terra, um passeio domingo à tarde (a Edite e o Jorge), o pôr do sol, a o campo de aviação do Gabu e, por fim,  a viagem de avioneta (Dornier ou Austin ?) até Bissau, o leste visto "by air".

Já em Bissau, vê-se  o render da guarda ao Palácio com a população a assistir. Há companhia, de soldados metropolitanos, já com camuflado e G3 (estamos no úlimo trimestre de 1962). AEdite e uma amiga num jardim em Bissau. Depois, de novo,  o regresso ao Gabu, em avioneta  dos TAGP.

No segundo vídeo (2/3), o cap Jorge Freire, ainda no Gabu,  vai visitar, de jipe, acompanhado da esposa Edite, os pelotões destacados. Eram viagens ainda "sem perigo". O macaco-cão, mascote de um dos pelotões. Um alferes,em calções, farda amarela e chapeu colonia. Vemos depois a Edite a caminhar para a fronteira. O marco da fronteira com a Guiné-Conacri, na zona leste, em Buruntuma com os dizeres ainda frescos "República Porguesa, Província da Guiné"). O capitão leva apenas uma pistola Walther. Regresso.  A estrada Buruntuma-Piche-Nova Lamego, "um das melhores da região". Paragem  na ponte  sobre o Rio Caium [, ou ponte Malã Dalassi, e não Mule Balassi, como vem, com erro, na legenda; Malã Dalassi ou Temanco, era a aldeia fula mais próxima].

Entretanto, acabada a missão no Gabu, a 4ª CCAÇ é colocada em Bedanda, em novembro de 1962. O  capitão e a esposa regressam a Bissau. E vão de barco comercial, para o sul. Imagens do barco, do rio  e da viagem (não é claro de é no Rio Geba, até Bissau,  ou já do Rio Cacine). Paragem em Cacine.   Por fim,  Bedanda, o aquartelamento [ainda em construção], as pirogas no Rio Cumbijã, a construção de novas instalações para o pessoal, os alferes da companhia (um dos quais viria a morrer em combate, dias depois), imagens filmadas antes da saída de uma patrulha, um prisioneiro amarrado que terá, durante uma emboscada, morto um dos soldados da companhia (, ao que parece, em 2/3/1963), um mês e picos depois do início "oficial" da guerra... ( A Edite deixa de aparecer:  ainda passou quase um mês em Bednda, mas "nos fins de Dezembro [de 1962] tive que a mandar de volta a Portugal pois as coisas começaram a aquecer demais"...].

E continuando: a fauna local (hiena, crocodilo, gazela), pirogas no Rio Cumbijã, patrulhas no Cumbijã em siny«tex, os tarrafos ao lado, os tarrafos dos nossos descontentamentos, soldados da 4ª CCAÇ ainda com mausers, visita a uma secção destacada em Chugué, a transferência para Bedanda da população Ffula de Imberém, no Cantanhez, para as festas que se seguiram, batque, as bajudas com as belezas à mostra…

No terceiro e útimo vídeo (nº 3/3),  ainda as bajudas fulas (em "imagens não censuradas")... E depois, terminada a comissão em maio de 1963, o capitão  regressa a Bissau....Ouve-se o  “eu vou chamar-te Pátria minha”, na voz do Carlos do Carmo (, música de Zé Niza e letra de Manuel Alegre), enquanto os olhos se espraiam lá do alto pelos rios e ribeiros, as margens, as florestas, as lalas. Imagens que era costume, alguns de nós, registarem, quem sabe com o receio de nunca mais nos lembrarmos… 

Em Bissalanca [, ou não seria antes Brá, o  aeródromo de Brá, antes da construção da BA 12, em Bissalanca ?], um MG branco ou creme rodeado de especialistas da FAP, a torre de controlo, a visita à Guiné de dois adidos norte-americanos, o adido comercial e o adido militar, o coronel Jeffries, e as últimas vistas de Bissau no último fim de semana, antes do regresso à pátria, no T/T Ana Mafalda.

A fortaleza da Amura, o porto de Bissau, o desembarque no cais e o desfile de um pelotão de caçadores nativos, o capitão Simões, tão falado pelo Amadu Bailo Djaló nos seus escritos e, no dia do embarque, no Ana Mafalda, em 26 de Maio de 1963, o movimento em dias de movimento de navios, o cais de embarque nº 2, o navio em manobras, a afastar-se, com a Amura e Bissau a recortarem-se, cada vez mais pequenos.

Depois, o Atlântico, as Canárias no horizonte, até, finalmente, começarem a ver a costa, com Lisboa cada vez maior, no Tejo de tantas entradas e saídas, a volta ao Bugio, o jovem capitão Jorge Matias Freire, à civil, de fato à anos 60 e Lisboa ali tão perto que já se via gente à espera deles, de lenços no ar, a Torre de Belém, o Monumento aos Descobrimentos, e, como um agradecimento, as últimas imagens são do capitão, do imediato e do médico do Ana Mafalda.

A guerra na Guiné ainda estava muito, mesmo muito, no princípio. Mas para os quatro soldados, um sargento e um alferes da companhia do capitão Jorge Freire, em Bedanda, a guerra tinha acabado. É, com a lembrança deles, que o Jorge Freire termina este pequeno filme. Que é um ternura. Uma homenagem às suas gentes, às suas belas mulheres, à sua esposa, à sua filha,. aos seus camaradas. É também a evocação de um... paraíso perdido.

Já em tempos tínhamos chamado a atenção para a grande importância documental deste filme, que é absolutamente uma raridade... E a "nostalgia" que ele nos desperta!... Não a "nostalgia da perda do império"... mas dos nossos verdes anos!... Poucos de nós, militares,  tinham, na época, meios técnicos para reproduzir, em som e/ou imagem, aspectos do seu quotidiano, da vida nos aquartelamentos, das paisagens, das gentes  e até da atividade operacional... Uma câmara de filmar super 8 era um luxo...  (VB /LG) (*)


2. O nosso grã-tabanqueiro (, desde finais de dezembro de 2008) (**),  George Freire, é um dos primeiríssimos combatentes da guerra da Guiné. Mas ainda conheceu o "paraíso perdido", do leste (Gabu) à região de Tombali (Bedanda). Foi tenente (na CCAÇ 153) e depois capitão (na 4ª CCAÇ). Era do curso da Escola do Exército a seguir ao do cap inf José Curto. Era provavelmente do curso do meu capitão, Carlos Brito, o comandante da CCAÇ 2590/CCAÇ 12. Tinha um máquina de filmar de 8 mm, e tem este  belíssimo filme de quase 30' sobre o seu tempo de Guiné (1961/63).

 Esse velho filme de 8 mm foi convertido por ele para digital. Foi publicado no You Tube, na conta do Virgínio Briote, e depois no nosso blogue,  sob a forma de 3 vídeos (*). O George Freire mandou em 14 de junho de 2009 uma mensagem aos seus amigos americanos, com conhecimento aos editores do blogue que voltamos a reproduzir (tradução do inglês para português, pelo nosso camarada Miguel Pessoa):

Assunto - Blogue português "Camaradas da Guiné"

Alguns de vocês sabem que, antes de a Edith e eu termos vindo para os Estados Unidos em Outubro de 1963, eu servi no Exército Português em África, na Guiné Portuguesa, (agora chamada Guiné-Bissau), por um período de dois anos.

Existe um blogue muito interessante, em português, chamado "Luís Graça & Camaradas da Guiné", onde milhares de soldados portugueses que ali combateram, escrevem histórias de guerra, memórias, etc.

No final do ano passado deparei casualmente com este blogue e, como podem adivinhar, interessei-me bastante em ler todo o material que foi e ainda continua a ser publicado neste Blogue, onde, até agora, já foram registadas quase 1.100.000 visitas.

Na época eu tinha escrito um diário cobrindo o período compreendido entre Outubro de 1962 e Maio de 1963, que entretanto lhes enviei... e que já foi publicado.

Tinha também um velho filme de 8 milímetros feito naquele período em que lá estive e decidi fazer uma versão atualizada, com som e legendas, com a ajuda do Windows Movie Maker.

Resolvi enviar-lhes o DVD e... adivinhem!, publicaram-no hoje no Blog, e também no You Tube.

O filme é bastante interessante (a Edith aparece em várias passagens), e peço-vos a todos, se tiverem uma oportunidade e tempo disponível, que visitem o blogue e vejam o filme. Ele foi subdividido em três partes, devido ao tempo limite para cada secção, de acordo com as normas do You Tube.

O link para o blogue é: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Se clicarem no endereço acima, entram logo para o Blogue. Porque diariamente são publicados novos Postes (já houve várias entradas depois de o meu filme ter sido publicado), vocês terão que descer duas ou três páginas para ver os filmes. O título do Poste é:

Guiné 63/74 - P4525: Um filme de George Freire (CCAC 153 e 4 ª CCAC, 1962/63): Gabu, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa ... (V. Briote)

George e Edith, quando éramos jovens. A Edith manteve-se por lá por três ou quatro meses, antes de os combates começarem, tendo depois regressado rapidamente a Portugal.
Espero que gostem do filme.

Obrigado,
George Freire

3. Comentário de L.G.:

Voltamos a reproduzir este documento por ocasião da efeméride (***) dos 50 anos do início da guerra na Guiné. É também uma homenagem  a este nosso camarada, e grande português da diáspora,  que vive nos EUA e a quem desejamos muita saúde e longa vida.

Entretanto, para melhor contextualizar o surpreendente filme com que o  George Freire nos presenteiou em junho de 2009 e que o Virgínio Briote pôs no You Tube (*), vamos recuperar alguns dados biográficos do nosso camarada:

(i) "A [CCaç 153] de que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu era ainda tenente, segundo comandante, e o capitão [José] Curto, comandante, (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizar a companhia";

(ii) "De Vila Real todo o pessoal viajou para Lisboa de comboio e passados talvez uma ou duas semanas, partimos de avião, (dois aviões de transportes da FA), do aeroporto de Lisboa para Bissau, onde chegámos no mesmo dia ao anoitecer";

(iii)  "De Bissau, onde passámos a noite, seguimos logo para Fulacunda, onde permaneci à volta de dois meses, após os quais chegou a minha promoção a capitão";

[A CCAÇ 153 foi mobilizada pelo RI 13 de Vila Real e comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreto Curto. Embarcou para Bissau em 27Mai61 (via aérea) e regressou em 24Jul63. A 26Jul61 foi colocada em Fulacunda destacando forças para Empada, Cufar, Catió e Bolama, por periodos variáveis. A 7Fev62 foi rendida pela CCAÇ 274 e foi colocada em Bissau. A 11Fev62 rendeu a CCAÇ 74 em Bissau. A 21Jul63 foi substituida pela CCAÇ 510, ficando a aguardar embarque.];

(iv) "De Fulacunda fui transferido para Bissau para comandar uma companhia de nativos [, a 4ª CCAÇ, ] e render o capitão Helder Reis. Passei 4 ou 5 meses em Bissau, daí para o Gabu (outros 6 meses) e daí, [em novembro de 1962,]  para Bedanda onde passei o resto da minha comissão";.

(v) " Durante o Natal de 1961 a minha mulher [, Edite,] veio passar um mês a Bissau onde eu estava na altura a comandar uma companhia de nativos [, a 4ª CCAÇ]";

(vi) "Em Julho de 1962 a minha mulher voltou para a Guiné e passou quase 3 meses no Gabu (Nova Lamego), onde eu comandei uma companhia mista. [Vd. vídeo nº 2, ou parte 2/3]




Vídeo (0' 56'') George Freire > Nov 62 / mar 63 > Vídeo 2/3 > Nova Lamego, Buruntuma, Bissau, Cacine, Bedanda, Chugué... Os primeiros sinais da guerra, no sul da Guiné, em março de 1963: O primeiro morto, o primeiro prisioneiro, as primeiras transferências de população, ...  A farda marela, a mauser...Fauna local: a hiena, o crocodilo... O Rio Cumbijã...

Inserido na conta do Virgínio Briote  no You Tube / bra6567 (,Clicar aqui, como alternativa, para visionar o filme)


(vii) "Do Gabu fui transferido [, em Novembro de 1962,] para Bedanda [, no sul, Região de Tombali,] onde ela [, a esposa Edite,]  ainda passou quase um mês, mas nos fins de Dezembro tive que a mandar de volta a Portugal pois as coisas começaram a aquecer demais[... Em maio de 1963 chegou o fim da comissão e o regresso a Portugal] (Vd. vídeo nº 3, parte 3/3];

(viii) "No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau. Aí estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF, ".Ana Mafalda";

(ix)  "Nos fins de Agosto [de 1963] pedi a minha demissão e parti com a minha família - mulher e duas filhas de 3 e 2 anos [ uma delas, a Isabelinha, que aparece no filme, hoje com 49 anos - ] para os EUA onde me encontro faz este ano 45 anos;


(x) "Desde então tirei um curso de engenharia mecânica, trabalhei para outras duas companhias e, em 1989, formei a minha própria companhia de consultaria de projectos relacionados com energia de gás, co-geração, etc."..







Vídeo (9' 59''): George Freire (2009).Vídeo 3/3  Inserido na conta do Virgínio Briote  no You Tube / bra6567 (, Clicar aqui, como alternativa, para visionar o filme).

Início da guerra na Guiné. Fim da comissão, regresso a Bissau, aeródromo de Brá (que antecedeu a BA 12, em Bissalana), o último fim de semana em Bissau, a Amura, o Palácio do Governador, a chegada a companhai de nativos a Bisssau, adidos americanos em Bissau (o do comércio, o militar...), a partida no T/T"Ana Mafalda" e o regresso, com passagem pelas Canárias, chegada a Lisbioa, o Bugio, a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, o cais de Alcântara, a fmília, a Isabelinha ("que hoje tem 49 anos")...Comentário do autor, no final: ainda a guerra estava no final... Balanço das baixas /mortais) da 4ª CCAÇ: 1 alferes, 1 sargento, 4 praças


Notas do  diário de George Freire, ex-cap inf

1/3/63: 

Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos [ a 4ª CCAÇ] um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite  [?] foi destruída na primeira emboscada.

Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas.Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir.

2/3/63: 

Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais.

O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda. O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão [BCAÇ 356] para ser interrogado.

6/3/63:

Fizemos um reconhecimento à zona de Emberem [Iemberém]. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Emberem [Iemberém] e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula.

Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos.

7/3/63:

Começámos o transporte da população Fula de Emberem [Iemberém]. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes. [Vd. vídeo 2, ou parte 2/3]. (...)

4. Nota do nosso colaborador José Martins:

O George Freire (Cap. Inf. Renato Jorge Cardoso Matias Freire) foi o segundo capitão a comandar a 3ª CCI (do Gabu e antecessora da CCaç 5 - Gatos Pretos), de onde foi transferido para a 4ª CCI em Bedanda, sendo o quarto capitão a comandá-la.

(Nota tirada do 7º Volume CECA)

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Notas do editor:

(*) Vd., poste de 14 de junho de 2009>  Guiné 63/74 - P4525: Um filme de George Freire (CCaç 153 e 4ª CCaç, 1962/63): Gabu, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... (V. Briote) 

(**) Vd. poste 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

Hoje com 80 anos, está reformado, George Freir foi empresário na área da engenharia. Vive em Chapin, South Carolina, Estados Unidos... Vem frequentemente a Portugal. Gosta de conviver e de viajar, do golfe, da pesca e da vela.

Tem um blogue relacionado com a informática e a electrónica: http://whatisyourquestionblog.blogspot.com/
Título do blogue: "COMPUTER AND ELECTRONICS WORLD SHARING AND LOTS OF OTHER GOOD STUFF NOT RELATED TO COMPUTERS"...

É um homem do seu tempo que se descreve-se a si próprio como "a retired engineer deeply interested and involved in the solving of problems and frustrations of the computer and electronics world that surround us all"...

Outros postes:

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

(...) De Bissau, onde passámos a noite, seguimos [,.a CCAÇ 153,] logo para Fulacunda, onde permaneci à volta de dois meses, após os quais chegou a minha promoção a capitão. De Fulacunda fui transferido para Bissau para comandar uma companhia de nativos e render o capitão Helder Reis. Passei 4 ou 5 meses em Bissau, daí para o Gabu (outros 6 meses) e daí para Bedanda onde passei o resto da minha comissão.

Voltei para Portugal e fui novamente colocado na Academia Militar, (nesse tempo ainda chamada Escola do Exército), onde tinha sido instrutor desde 1957 até à minha ida para a Guiné.

Durante os anos de 1958 até 1961, tive a oportunidade de trabalhar (nas horas livres) com um tio direito, que tinha uma firma de serviços de engenharia e caldeiras industriais. Durante as férias de verão todos esses anos viajei aos EUA duas ou três semanas para ajudar o meu tio em assuntos relativos aos seus negócios com duas companhias no estada da Pensilvânia.

Quando voltei da Guiné, uma dessas companhias ofereceu-me uma posição, (com o título de gerente de operações internacionais), e com uma remuneração muito difícil de recusar.

Nos fins de Agosto [de 1963]  pedi a minha demissão e parti com a minha família, (mulher e duas filhas de 3 e 2 anos), para os EUA onde me encontro faz este ano 45 anos. Desde então tirei um curso de engenharia mecânica, trabalhei para outras duas companhias e, em 1989, formei a minha própria companhia de consultaria de projectos relacionados com energia de gás, co-geração, etc.

Em 2001 parei de trabalhar full time, e estou basicamente reformado. Felizmente de boa saúde, vou a Portugal todos os anos onde me encontro com um bom grupo de antigos camaradas de curso e família. Tenho 3 filhas, a mais nova nasceu aqui, embora todas casadas, somente tenho um neto e uma neta da filha mais velha. A filha do meio e a mais nova não têm descendentes.(...).

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10990: Efemérides (116): 50 anos anos da guerra colonial no CTIG ? 23 de janeiro de 1963, o fim do princípio ou o princípio do fim (José Martins / Carlos Silva)


Guiné > 1964 > PAIGC > Cassacá > I Congresso.do PAIGC, Quinta, 13 de Fevereiro de 1964 - Segunda, 17 de Fevereiro de 1964, Da esquerda para a direita,Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek.


Fonte: (1964-1964), "Abdulai Barry, Arafam Mané, Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Lai Sek durante o I Congresso.do PAIGC, em Cassacá", CasaComum.org, Fundação Mário Soares, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05224.000.056 (2013-1-22)


1. Passam hoje 50 anos sobre o "início da guerra colonial" na Guiné, segundo uma certa historiografia (por ex., a do PAIGC e seus "simpatizantes"). Alguma imprensa portuguesa (Correio da Manhã, por exemplo) vai dar algum destaque à efeméride. A questão não é pacífica, nem este dossiê está fechado: a guerra (colonial) na Guiné começou, de facto, em 23/1/1963, com o ataque ao quartel de Tite, liderado pelo Arafan Mané (versão do PAIGC) ou ainda antes (1961, 1962) ? 

Em 1962, por exemplo, o exército, a  par da PIDE e da polícia administrativa,  está já envolvido em operações de repressão mais de natureza policial do que militar. Destacados dirigentes da guerrilha, ainda em organização, são aprisionados ou abatidos em 1962. [ Por exemplo, Vitorino Costa, irmão de Manuel Saturnino da Costa  é morto, numa emboscada em 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153, comandado pelo Cap Inf José Curto, na região de Darsalame; Vitorino e Manuel Saturnino são dois dos históricos militantes enviados para a China para receber treino político-militar, juntamente com João Bernardo Vieira (Nino), Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira  e Hilário Gomes, tendo sido recebidos pelo "grande timoneiro", Mao Zedong, em 1961]

Enfim, já demos para este "peditório". O nosso camarada Carlos Silva sobre esta questão (o ataque a Tite, descrito pelo seu amigo Gabriel Moura,) já deu, aqui, em tempos um valiosíssimo contributo (*). Não temos entretanto  dados novos. Não fazemos de investigação de arquivo, não somos historiógrafos, publicamos de preferência os materiais que nos chegam às mãos, inéditos, da autoria dos nossos camaradas, ex-combatentes da Guiné. Isso não nos impediu de pedir ao José Martins, nosso colaborador permanente, bem como ao Carlos Silva, um pequeno apontamento sobre esta data. Aqui vão duas pequenas notas.

2. Mensagem de José Martins [ foto à esquerda]: 

23 de Janeiro de 1963: o Fim do Principio ou o Principio do Fim

50 anos depois... O ataque ao aquartelamento de Tite é considerado quer pelo PAIGC quer pela Comissão de Estudos das Campanhas de África 1961-1974, como o inicio da “guerra na Guiné”, pelo que esta data marcará, na nossa opinião, o “Principio do Fim”, dado que a partir dela as acções, de parte a parte, só vieram a terminar após o 25 de Abril de 1974.

Ainda apareceram “teses” de que o inicio das confrontações se reportavam a 3 de Agosto de 1959, o massacre de Pidjiguiti, ou ao ataque ao aquartelamento de São Domingos, na noite de 20 para 21 de Julho de 1961.

À época a localidade de Tite estava guarnecida com o Batalhão de Caçadores nº 237, apenas com comando reduzido, pelo Pelotão de Morteiro nº 19, pelo Destacamento de Manutenção de Material nº 245 e, provavelmente, um pelotão da Companhia de Caçadores nº 275.

No cinquentenário deste combate, lembremos três homens que ficarão ligados a este acontecimento: (i) Arafan Mané (,comandante do PAIGC, vd. foto acima); e os militares portugueses (ii) Gabriel Moura, e (iii) Veríssimo Godinho Ramos.

Arafan Mané (nome de guerra, "Ndajamba"), militante do PAIGC, destacado Combatente da Liberdade da Pátria, é considerado o “responsável” pelo inicio das hostilidades na Guiné, ao ter disparado a primeira rajada de metralhadora e comandado a ofensiva.  Teria na altura menos de 20 anos. Veio a falecer em 2004, em Espanha, de doença prolongada, com o posto de coronel.



Guiné > Região de Quinara > Setor de Tite >  1961/63 >  Gabriel Moura, do pel Mort 19, junto a um cavalo de frisa.

Foto: ©  Gabriel Moura / Carlos Silva (2008). Todos os direitos reservados.


Gabriel Moura, natural de Gondomar (tal como o Carlos Silva, seu amigo, ) foi mobilizado pelo Regimento de Infantaria nº 6, do Porto, para o Pelotão de Morteiros nº 19. Foi o primeiro militar português, quando se encontrava de guarda ao aquartemanento, a responder ao fogo da força que atacou as instalações de Tite. Na reacção ao fogo de que foi alvo, consumiu todas as munições de que dispunha, provavelmente três carragadores, assim como utilizou as duas granadas que lhe estavam distribuídas para o serviço. Faleceu em 2004,  dois anos após ter editado as suas impressões sobre o acontecimento, e por coincidência no mesmo ano da morte de Arafan Mané.

Veríssimo Godinho Ramos [na foto, à esquerda, é o do meio], Soldado Condutor Auto Rodas nº 834/59, da Batalhão de Caçadores nº 237, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 6, no Porto,  era solteiro, Filho de Joaquim Ramos e Ricardina Joaquim Godinho. Natural da freguesia de Vale de Cavalos, concelho de Chamusca, faleceu no dia 23 de Janeiro de 1963 durante o ataque a Tite, vitima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério de Vale de Cavalos. Há ainda dúvidas dúvida se a causa dos ferimentos foram ou não de “fogo amigo”, dada a surpresa do ataque e a forma da reação das NT.

Por falta de mais elementos  novos sobre o acontecimento de 23 de Janeiro, "imaginei" criar um texto que se apresentasse uma visão mais global, ainda que resumidamente, do que se passou desde 1446 [, descoberta da Guiné pro Tristão da Cunha,] até Janeiro de 1963.

Quando li ou reli o texto do Moura, senti-me "muito pequeno", pelo que estava a ler. É um texto que emociona qualquer um. quer tenha ou não experiência de combate. É realista e, para mim, muito credível. Proponho que o seu nome passe a figurar, entre os "grã-tabanqueiros que da lei da morte se foram libertando". Seria uma forma de honrar a sua memória.

Pelo exposto, e pensando "com os meus botões", achei oportuno lembrar os que se tinham distinguido, para o bem ou para o mal, o facto de que se vai ao perfazer os 50 anos: Quem atacou, quem reagiu e quem tombou. Daí a sugestão de (re)leitura dos  postes do Carlos Silva/Gabriel Moura (*).

 José Marcelino Martins

19 de Janeiro de 2013 (**)

3. Mensagem do Carlos Silva [, foto à esquerda,com o António Camilo, no Saltinho, 2008]:

A brochura que o meu falecido amigo e conterrâneo [Gabriel Moura,]  escreveu com textos também do meu diário e fotos minhas, fala de algo mais.

Já li dezenas de livros e tenho mais dezenas para ler, que já não leio nem na cova e não há absolutamente nada escrito sobre o tema tão desenvolvido como o Gabriel fez.

Eu acompanhei-o pessoalmente nessa tarefa em busca de camaradas do pelotão dele quer em Lisboa quer em Porto de Mós e falámos pessoalmente com eles para ele escrever a história que tanto ansiava e praticamente nada ouvi da boca deles. Não se lembravam de nada.

Aliás, até um Ten Cor creio que do BCaç 237, do qual não existe História da Unidade, não se lembra de nada ao responder a uma pergunta sobre o tema ao AHM.

Do lado do PAIGC nada, apenas umas alusões ao início da guerra

O jornalista José Carlos Marques, do Correio da Manhã (companheiro de route no Simpósio de Guiledje) vai publicar um artigo, falou comigo ao telefone, e eu  enviei-lhe as fotos que tinha. Ele disse-me que iria publicar o artigo invocando o meu site, disse-lhe para não publicar tretas, pois já tenho visto muita coisa com a ganância de publicar (...).

Poucas testemunhas deve haver relativamente a tais factos, mas devem estar um quanto chés-chés, pois segundo  me contava o Gabriel que bem se esforçou porque tinha formação académica (, era economista,) e tem outros escritos, eles diziam que não sabiam, não se lembravam etc etc. O costume.

Zé, quanto a idade do Arafan (...), não se sabe que idade tinha, nem os do PAIGC sabem e basta ler vários (poucos) livros que se contam pelos dedos de malta do PAIGC que nada sabem, nem o Aristides Pereira, tal como ele revela nos 2 livros, apenas o Amilcar Cabral era o detentor da informação, isto afirmado por ele Aristides, irmão Luís e mais um ou outro.

Portanto, meus amigos, nada se sabe e estou curioso por ver o artigo do Zé Carlos, que admito possa acrescentar algumas lérias se encontrou alguém dessa altura do pelotão do Gabriel, o BCaç 237 [ Pel 237 + Pel Mort 19 ] mas que não vejo que tenha a desenvoltura que o Gabriel tinha e a forma como escreveu a brochura, parte em minha casa de Porto de Mós e de elementos que recolheu em minha casa e meus. Agora, só se falarem pelo que escreveu o Gabriel.

O resto para mim, são tretas, a menos que veja alguma coisa escrita com credibilidade o que não vi até agora. Como sabem, nem os nossos amigos Leopoldo Amado o Julião, historiadores, nada falam sobre o assunto apesar das suas investigações em numerosos arquivos, apenas abordam levemente a data 23-01-1963, cujo trabalho já fiz e publiquei no blogue.

Recebam um abraço amigo

Carlos Silva
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Notas do editor

(*) Vd. postes de:

11 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

13 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

(**) Último poste da série > 13 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10936: Efemérides (115): Nhabijões, 13 de Janeiro de 1971, morte na picada (Luís Rodrigues Moreira)